DESTILADOS RUM ASDO AVENTURAS 00 po r FAB RÍC IO MARQUES Assim como a cerveja e o vinho, os destila- miam: em porções diárias, era diluído em água (para dos têm uma indústria vibrante. Nesta primeira render) e misturado ao limão (para combater o escorbu- edição, falaremos de uma bebida pouco conheci- to). Esta mistura foi chamada de Grog, em homenagem da entre nós: o rum. Sua importância histórica vai a um capitão da marinha apelidado de “ye old grogg”. além de uma simples bebida. Falar de rum é ex- A elaboração do rum varia segundo as zonas pro- plorar geografia e tradição, aventurar-se por guer- dutoras, que determinam seu estilo. A mais impor- ras com escravos e piratas, descobrir drinques. tante abrange as colônias espanholas — Cuba, Vene- As origens do rum estão associadas às da cana- zuela e República Dominicana —, que produzem o -de-açúcar e, por isso, ele é um dos destilados mais chamado “rum leve” ou “industrial”, feito a partir do antigos do mundo. Acredita-se que a cana-de-açúcar melaço e geralmente destilado em colunas, proporcio- veio da Ásia e propagou-se pela China e pela Índia, nando um destilado leve, com sabor da caramelização onde foi “descoberta” por Alexandre, o Grande. Pelas do carvalho no qual envelhece. O segundo estilo são mãos dos árabes, no século 11, a planta foi levada os runs “pesados”, feitos nas colônias inglesas (Barba- para a África e a Europa (especialmente Portugal e Es- dos, Jamaica e Nova Inglaterra). Elaborados a partir panha). Em 1493, chegou com Cristovão Colombo à do melaço, têm fermentação lenta, na qual se utiliza o ilha de Espanyola (futura República Dominicana). Ao dunder — resíduo da destilação que fica no alambique redor de 1520, os portugueses a trouxeram ao Brasil. e contém substâncias que fornecem aroma e sabor — O açúcar produzido nas colônias era enviado ao ou o liming — espuma ou película fina que se forma Reino Unido, que o trocava por armas. Estas, por na superfície do melaço durante a extração do açúcar sua vez, eram levadas para a África e trocadas por e que contém leveduras naturais. Essas bebidas, geral- escravos, que eram levados para o Caribe em troca mente destiladas em alambique de cobre, têm aroma de açúcar. O mel residual da cristalização do açúcar e sabor mais intensos. O terceiro estilo é parecido com (o melaço) permanecia nas ilhas, e os escravos desco- a cachaça, pois é feito a partir do caldo da cana. Os briram que este melaço, deixado em tanques aber- runs “agricole” são elaborados nas colônias francesas tos, fermentava, originando uma bebida alcoólica. (Martinica, Haiti, Guadalupe), e geralmente destila- A primeira referência ao rum data do século 16, dos em alambiques de cobre. Na época de Napoleão, em Barbados. Era chamado de “mata diabo” (kill- os franceses produziam açúcar a partir da beterraba, -devil) e “rumbullion”. Posteriormente, nas ilhas sem importá-lo das colônias. Uma lei francesa (e atu- francesas, ganhou o nome de “guildive”, “tafia” e, almente, a lei da União Europeia) permitiu a criação finalmente, rum. Alguns crêem que a palavra venha de uma Appellation d’Origine Contrôlée — a AOC de Saccharum officinarum, o nome da cana em latim. Martinique — para runs “agricole” da Ilha de Marti- Outros acreditam que deriva de rumbullion, que sig- nica com certos padrões de produção. nifica “grande tumulto” — numa referência à alegria que o seu consumo proporcionava. No século Fabricio Marques é embaixador de marcas da Diageo 17, era a bebida mais consumida no Novo Mundo. no Brasil. Formado em hotelaria pela Swiss Hotel O rum também está associado aos piratas, que navegavam as costas do Caribe. Ter um barril de Mount Gay, a destilaria mais antiga de rum, era sinal de mérito entre piratas. Os oficiais ingleses também o consu- Association, trabalhou como diretor em redes de hotéis de luxo, como Mandarin Oriental, Conrad e Orient-Express. 00