Chá-verde Turbina Terapia Contra Câncer Experimento em Cingapura usa composto da bebida para encapsular remédios contra câncer de mama, reduzindo toxicidade do tratamento e ajudando a diminuir o tumor. O excesso de benefícios faz do chá-verde uma bebida conhecida pelo mundo. Tradicional da Ásia, ele ganhou espaço entre os ocidentais preocupados com a saúde e/ou em busca de relaxamento. Estudos indicam que compostos presentes nele, como as catequinas, têm efeitos antioxidantes, úteis para a prevenção e o tratamento do câncer, por exemplo. Agora, pesquisadores de Cingapura utilizaram o chá-verde para criar um material que encapsula e transporta medicamentos usuais contra tumores, eliminando, assim, os efeitos colaterais. Os cientistas do Instituto de Bioengenharia e Nanotecnologia (IBN) da Agência para Pesquisa, Tecnologia e Saúde de Cingapura descreveram na revista Nature Nanotechnology, como otimizar ainda mais os benefícios da planta. Os polifenóis presentes no chá são os principais constituintes bioativos com propriedades anticancerígenas. A base molecular desses compostos, entretanto, ainda está sob investigação. Já se sabe, porém, que eles mantêm uma boa relação com as terapias tradicionais contra tumores. Os pesquisadores do IBN aproveitaram esse conhecimento para criar uma espécie de míssil teleguiado que detecta a célula doente e a elimina com precisão. O desenvolvimento de fármacos com essa tecnologia resolveria alguns dos problemas relacionados às terapias usuais. Atualmente, a eficiência delas depende de diversos fatores, incluindo a forma com que a terapia prescrita ataca o tumor. Isso depende, em grande parte, do meio de transporte usado pela substância ativa para alcançar as células doentes. Se ele não é eficiente, o medicamento se perde pelo corpo, obrigando o aumento da dosagem. Consequentemente causa uma espécie de envenenamento no já debilitado organismo do paciente. "Os inúmeros benefícios de saúde do chá-verde nos inspiraram para utilizá-lo no transporte das drogas. Esta é a primeira vez que esse chá é usado com esse fim. O nosso método não apenas leva o remédio de forma mais eficiente às células cancerosas, como também reduz dramaticamente o crescimento do tumor em comparação com o fármaco utilizado sozinho. Esse é um avanço emocionante na nanomedicina", avalia Jackie Y. Ying, diretor-executivo do IBN e autor sênior do estudo. O professor explica que o novo transportador à base de chá-verde poderia evitar que a quimioterapia danificasse os órgãos saudáveis ao redor do tumor. Esses mísseis, quando injetados no corpo do paciente, aumentam o foco do medicamento em direção às estruturas doentes. Além disso, os veículos atuais não têm nenhuma ação terapêutica contra o câncer, ao contrário do chá-verde, e podem causar efeitos secundários se usados em grandes quantidades. Para resolver esse problema, a equipe projetou um nanocarro terapêutico que levou as drogas utilizando compostos derivados de epigalocatequina galato (EGCG), um composto-chave do chá-verde. O núcleo desse transportador é feito com um material que pode encapsular os fármacos e proteínas, como a trastuzumab, substância ativa de um medicamento usado atualmente para tratar o câncer de mama. O nanocarro ainda é formado por uma molécula que o camufla, impedindo que seja detectado e filtrado para fora do corpo pelo sistema imune antes que chegue ao tumor. Para avaliar o desempenho do sistema proposto, a equipe de pesquisa conduziu estudos com ratos modificados para apresentar células de câncer de mama humano. O nanocarro de cháverde carregado com trastuzumab reduziu o crescimento do tumor de forma muito mais eficiente do que quando o medicamento foi administrado sozinho. Ao mesmo tempo, o acúmulo da toxicidade de substâncias derivadas do tratamento em órgãos vitais caiu substancialmente: no fígado e nos rins, em 70%; no pulmão, em 40%. "Desenvolvemos um transportador que, ele próprio, tem efeito anticancerígeno, podendo aumentar o tratamento do tumor quando utilizado em conjunto com o fármaco", comemora Motoichi Kurisawa, principal autor do estudo. "Essa invenção poderia pavimentar o caminho para um melhor sistema de transporte de drogas para combater câncer." Márcio Roberto Pinho Pereira, biólogo da Universidade de Fortaleza, é otimista com os resultados. Com outras professoras da instituição, a farmacêutica Sílvia Fernandes e a médica Sônia Leite da Silva, ele estudou como o chá-verde atua no corpo humano. "Foi naquela época em que ele estourou, virou um sucesso comercial nas caixinhas, nos sucos e tudo mais. Queríamos entender melhor os efeitos anticancerígenos e anti-inflamatórios da planta como um todo", diz o biólogo. Os resultados demonstraram que a bebida realmente é capaz de vencer o câncer. Entretanto, podia ser altamente tóxica quando consumida em excesso. "Observamos uma atividade prejudicial nos rins. O que esses pesquisadores fizeram de novo foi descobrir uma forma de isolar um componente importante do chá de forma que eles possam, um dia, tratar o câncer sem causar a toxicidade renal, por exemplo", analisa Pereira, alertando, em seguida, que mais de 1l da bebida por dia pode ser um veneno. "O ideal, pelo menos para os ratos, foi de 250ml", conta. Pereira acredita que vai demorar um pouco para que o medicamento proposto pelos cientistas de Cingapura chegue aos hospitais e às farmácias. "São necessários muitos testes sobre a toxicologia do produto. Entretanto, como muitos estudos estão sendo desenvolvidos, é possível que demore um pouco menos do que uma década."