UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATERIAIS PARA ENGENHARIA INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA NAS PROPRIEDADES FÍSICOQUÍMICAS E MECÂNICAS DE FIBRAS DE BANANEIRA: UM MÉTODO ALTERNATIVO DE TRATAMENTO FOTOQUÍMICO RICARDO MELLO DI BENEDETTO Itajubá, Fevereiro de 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATERIAIS PARA ENGENHARIA RICARDO MELLO DI BENEDETTO INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA NAS PROPRIEDADES FÍSICOQUÍMICAS E MECÂNICAS DE FIBRAS DE BANANEIRA: UM MÉTODO ALTERNATIVO DE TRATAMENTO FOTOQUÍMICO Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Materiais para Engenharia como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Ciências em Materiais para Engenharia. Área de Concentração: Não metais Orientadora: Profª. Drª. Maria Virginia Gelfuso Co-orientador: Prof. Dr. Daniel Thomazini Itajubá, Fevereiro de 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATERIAIS PARA ENGENHARIA RICARDO MELLO DI BENEDETTO INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA NAS PROPRIEDADES FÍSICOQUÍMICAS E MECÂNICAS DE FIBRAS DE BANANEIRA: UM MÉTODO ALTERNATIVO DE TRATAMENTO FOTOQUÍMICO Dissertação aprovada por banca examinadora em 13 de fevereiro de 2015, conferindo ao autor o título de Mestre em Ciências em Materiais para Engenharia. Banca Examinadora: Profª. Drª. Maria Virgínia Gelfuso (Orientadora) Prof. Dr. Daniel Thomazini (Co-orientador) Profª. Drª Maria Elena Leyva González Prof. Dr. Baltus Cornelius Bonse Itajubá, Fevereiro de 2015 iv Dedico este trabalho à minha família e à minha namorada Laís Lopes de Freitas. v Agradecimentos À orientadora Profa. Dra. Maria Virginia Gelfuso e ao co-orientador Prof. Dr. Daniel Thomazini pela dedicação e auxílio neste trabalho. À Companhia Energética do Ceará – COELCE, pelo apoio financeiro na infraestrutura necessária para a realização deste trabalho. Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e à FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) pelo apoio financeiro. À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa de mestrado. Agradecimentos aos técnicos do Instituto de Engenharia Mecânica da UNIFEI e aos colegas de trabalho do GEMaF. Agradecimentos aos técnicos e responsáveis do Núcleo de Tecnologia do Plástico da Escola SENAI Mario Amato pelos serviços prestados. vi “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” Albert Einstein vii RESUMO A utilização de metodologias de química verde é uma necessidade atual e requer novos estudos baseados em processos e fenômenos fotoquímicos. Trata-se de um tema de extrema importância para a ciência, pois envolve princípios morais e de responsabilidade social e ambiental. A luz é um reagente ecológico, barato e de fácil obtenção, por isso assume um papel de destaque na química orgânica, permitindo novas e promissoras transformações físico-químicas e estruturais em fibras lignocelulósicas. Por esse motivo, a utilização de radiação como reagente alternativo, que confronta os métodos clássicos de tratamento com reagentes químicos, torna-se alvo de nova investigação científica. O objetivo deste trabalho é avaliar as propriedades físico-químicas e mecânicas das fibras de bananeira da espécie Prata, In Natura e tratadas por diferentes procedimentos. A extração das fibras foi realizada em meio aquoso sob pressão de 1,2 atm, a 120 ± 5°C, durante 4h, seguido de processo mecânico de laminação. Para efeitos de verificação da influência do processo de extração adotado, um lote de fibras foi tratado sob as mesmas condições, porém, durante um tempo maior, 60 h. As fibras foram submetidas à irradiação ultravioleta (UV - λmáx = 400 ) em câmara de fotodegradação, por 7 e por 15 dias. Além disso, foi avaliado o comportamento das fibras extraídas de diferentes regiões, internas e externas, do pseudocaule da bananeira. O ensaio de tração em fios, seguindo a norma ASTM C1557-03, foi utilizado para avaliar a resistência mecânica das fibras de bananeira, internas e externas, nas condições In Natura, irradiadas com UV por 7 e por 15 dias, e das fibras tratadas sob pressão a 120 ± 5°C por 60h. Para a caracterização das propriedades físico-químicas do material, as fibras foram submetidas à análise térmica diferencial e gravimétrica (TG/ATD) e caracterização por espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FT-IR). Foi também realizado o estudo cinético de decomposição térmica das fibras de bananeira por meio do método de Flynn-Wall-Ozawa (FWO) com o objetivo de determinar a energia de ativação para a degradação da celulose. O estudo da superfície das fibras foi realizado por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). Os resultados de caracterização das propriedades mecânicas das fibras revelam não haver diferença significativa de resistência à tração entre as fibras de regiões internas e externas do pseudocaule. Porém apontaram uma melhoria significativa de resistência das fibras submetidas a 7 dias de radiação UV. As análises de TG/ATD indicam a formação de uma nova fase estrutural proveniente da exposição das fibras à irradiação UV. Por meio do FT-IR foi possível comprovar que esta mudança estrutural é decorrente da formação de um viii novo grupo funcional, de caráter cíclico, devido ao processo fotoquímico ocorrido nas fibras de bananeiras irradiadas com UV e que o aumento da resistência mecânica das fibras pode ser associado a esta nova estrutura. A análise da superfície das fibras irradiadas com UV, realizada por meio do MEV, revelou que essa radiação causa degradação, desfibrilação e escamação das microfibrilas superficiais à fibra. Visando verificar a eficácia da radiação UV na melhoria da resistência ao impacto de compósitos reforçados com as FBs, o ensaio de impacto Izod foi aplicado em compósitos de resina de poliéster reforçados com 6% (em massa) de fibras In Natura e irradiadas. Os resultados destes ensaios revelaram que as alterações provocadas pela radiação UV nas fibras aumentaram a resistência ao impacto da resina poliéster. Os compósitos reforçados com fibras de bananeira irradiadas por 7 e 15 dias apresentaram resultados de resistência ao impacto semelhantes, ou seja, valores de 44,47 e 43,38 , respectivamente. A radiação UV pode ser considerada benéfica para as propriedades mecânicas do compósito, sendo assim, um método muito promissor para ser inserido na indústria de produção de compósitos baseados na fibra de bananeira. Palavras Chave: Fibra de bananeira, Compósitos, Ultravioleta, Caracterização físico-química. ix ABSTRACT Green chemistry methodologies usage is a current issue and requires further studies of photochemical processes, which is a topic of extreme importance to science because it involves moral, social and environmental principles. The light is a clean reagent, inexpensive and easy to obtain, becoming highlighted in organic chemistry, enabling promising new chemical transformations in lignocellulosic fibers. For this reason, the use of radiation as an alternative reagent that confronts the classical methods of treatment with chemical becomes a new scientific research target. The objective of this study is to evaluate the physicochemical and mechanical properties of banana fiber – the Silver species. This research work extracted the fibers in aqueous medium under a pressure of 1.2 atm at 120 ± 5 ° C for 4h, followed by mechanical rolling process. For verification of the influence of the adopted extraction process, this study treated fiber’s samples under the same conditions, however, for a longer time, 60 h. Our group submitted the fibers to UV irradiation (λmáx = 400 ) in photodegradation chamber for 7 and 15 days. In addition, this study evaluated the behavior of fibers from different regions, internal and external, pseudostem of banana; and performed the wires tensile test, according to ASTM C1557-03, to evaluate the mechanical resistance of banana fibers, internal and external, under the conditions In Natura UV-irradiated for 7 and 15 days and the treated fibers under pressure for 60h. In order to characterize the physicochemical properties of the material, this study submitted the fibers to thermal analysis, TG/DTA and characterization by Fourier transform infrared spectroscopy (FT-IR). Our group evaluated the fiber surface by Scanning Electron Microscopy (SEM). The results of the characterization of the mechanical properties of the fibers showed no significant difference in tensile strength between the fibers of internal and external regions of the pseudostem. However, the results showed a significant improvement in strength of the fibers subjected to 7 days of UV radiation. The analysis TG/DTA indicated the formation of a new structural layer from exposure the fibers to UV irradiation fibers. Through the FT-IR, this research work can prove that this structural change is due to the formation of an atypical functional group of aromatic character, due to the photochemical process occurred in banana fibers irradiated with UV and this new structure may be associated with the increase of mechanical resistance of the fibers. The analysis of the surface of the irradiated fibers with UV, performed by scanning electron microscopy (SEM), revealed that irradiation causes degradation, defibrillation and scaling of surface microfibrils to the fiber. In order to verify the effectiveness of UV irradiation in x improving the mechanical strength of composites reinforced with these fibers, this study tested, by Izod impact method, the polyester resin composites reinforced with 15% (by weight) of fresh and irradiated fibers, showing that the changes caused by UV radiation in the fibers increased impact resistance, being beneficial to the mechanical properties of the composite. Therefore, the technique applied in this research study is a very promising method to be inserted in the composite manufacturing industry based on banana fiber. Key-words: Banana fiber, composites, ultraviolet, physical-chemical characterization. xi Participação em Eventos e Publicações FIBRAS DE COCO TRATADAS PELO PROCESSO HIDROTERMAL ASSISTIDO POR MICRO-ONDAS UTILIZADAS NA PRODUÇÃO DE COMPÓSITOS DE POLIÉSTER. 12º Congresso Brasileiro de Polímeros (CBPoL), Florianópois – SC, 2013. INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO UV NAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E MECÂNICAS DE FIBRAS DE BANANEIRA EXTRAÍDAS EM AUTOCLAVE. 21º Congresso Brasileiro de Materiais (CBECIMat), Cuiabá – MT, 2014. INFLUENCE OF UV RADIATION ON THE PHYSICAL-CHEMICAL AND MECHANICAL PROPERTIES OF BANANA FIBER. Artigo submetido para revista Materials Research (2014). MECHANICAL CHARACTERIZATION OF REINFORCED COMPOSITES WITH UVIRRADIATED BANANA FIBERS. Resumo aprovado para 18th International Conference on Composites Structures, Lisboa – Portugal (Jun/2015). xii Lista de Símbolos e Abreviaturas ANOVA: Análise de variância ATD: Análise térmica diferencial ATR: Refletância total atenuada c: velocidade da luz (2,98. 10-8 m.s-1) CEABRA: Central de Associações de Brasópolis CIE: Comissão Internacional de Iluminação Cp: Índice de capabilidade potencial (processo centrado na média das especificações) CPI: Especificação unilateral inferior Cpk: Índice de capabilidade real (processo não centrado na média das especificações) Cpm: Índice de capabilidade em relação à meta CPS: Especificação unilateral superior DTG: Termogravimetria derivada E: Módulo de elasticidade Ea: Energia de ativação : Energia do fóton de luz FB: Fibra da bananeira FT-IR: Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier FV: Fibra vegetal FWO: Método de Flynn-Wall-Ozawa h: constante de Plank (6,626.10-34 m2.kg. s-1) IC: Intervalo de confiança IMA: Instituto Mineiro de Agropecuária LIE: limite inferior de especificação LSE: limite superior de especificação MEV: Microscopia eletrônica de varredura MO: Microscópio óptico MP: Matriz polimérica N: Número de Amostras Pp: Índices de desempenho ou performance potencial (processo centrado na média das especificações) Ppi: Índice unilateral inferior xiii Ppk: Índice de desempenho ou performance real (processo não centrado na média dos dados) Pps: Índice unilateral superior R: Constante dos gases (8,3144621 J/mol) TG: Termogravimetria UV: Radiação ultravioleta UV15: Fibras irradiadas com UV por 15 dias UV7: Fibras irradiadas com UV por 7 dias σesc: Tensão de escoamento *: Representação de pontos fora da distribuição (outlines) : Valor médio de tensão : Diagrama de boxplot - representação linear da distribuição dos dados indicando a mediana e os intervalos em que se encontram os quadrantes da distribuição xiv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................16 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..........................................................................................18 2.1. O cenário da bananicultura no Brasil e no Município de Brasópolis-MG ...................18 2.2. Resíduos da produção de banana ..................................................................................21 2.3. A fibra do pseudocaule da bananeira ............................................................................23 2.3.1. Carboidratos presentes nas FBs ....................................................................................27 2.3.1.1. Celulose...............................................................................................................28 2.3.1.2. Hemicelulose (poliose) ........................................................................................30 2.3.1.3. Lignina ................................................................................................................32 2.4. FB como reforço em compósitos de Engenharia ...........................................................32 2.5. Tratamentos superficiais em FV ....................................................................................36 2.6. Avaliação da degradação térmica das FBs ....................................................................37 2.6.1. Estudo cinético de decomposição térmica das FBs ........................................................38 2.6.1.1. 2.7. 3. Avaliação estatística de dados por meio do teste de hipóteses ......................................39 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................................41 3.1. Extração das FBs ............................................................................................................41 3.2. Seleção das FBs ..............................................................................................................42 3.3. Tratamentos alternativos para a superfície das FBs .....................................................43 3.3.1. Fibras tratadas sob pressão ...........................................................................................44 3.3.2. FBs submetidas à radiação UV .....................................................................................44 3.4. Análise térmica diferencial e gravimétrica (TG/ATD) ..................................................45 3.5. Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FT-IR) ....................46 3.6. Ensaio de tração nas FBs ...............................................................................................46 3.6.1. 4. Cálculo da energia de ativação .............................................................................39 Estudo estatístico baseado no teste t-Student e ANOVA ...............................................48 3.7. Microscopia eletrônica de varredura (MEV) ................................................................48 3.8. Ensaio de impacto Izod ..................................................................................................48 RESULTADOS E DISCUSSÕES...........................................................................................50 xv 4.1. Análise térmica TG/ATD ...............................................................................................50 4.1.1. Fibras In Natura...........................................................................................................50 4.1.1.1. Taxa de aquecimento de 5°C/min .........................................................................50 4.1.1.2. Taxa de aquecimento de 10°C/min .......................................................................53 4.1.1.3. Taxa de aquecimento de 15°C/min .......................................................................56 4.1.1.4. Determinação da do primeiro pico exotérmico ...............................................58 4.1.2. Fibras tratadas sob pressão por 60h ..............................................................................62 4.1.3. Fibras irradiadas UV7 ..................................................................................................64 4.1.4. Fibras irradiadas UV15 ................................................................................................65 4.2. Espectroscopia por FT-IR ..............................................................................................69 4.3. Ensaio de tração nas FBs ...............................................................................................72 4.3.1. 4.3.1.1. Fibras externas In Natura.....................................................................................72 4.3.1.2. Fibras externas tratadas sob pressão por 60h ........................................................74 4.3.1.3. Fibras externas irradiadas com UV: 7 e 15 dias ....................................................76 4.3.2. Fibras das camadas internas .........................................................................................82 4.3.2.1. Fibras internas In Natura .....................................................................................82 4.3.2.2. Fibras internas tratadas sob pressão por 60h .........................................................82 4.3.2.3. Fibras internas irradiadas com UV: 7 e 15 dias .....................................................83 4.3.3. 4.4. Fibras das camadas externas .........................................................................................72 Avaliação do comportamento mecânico das FBs - teste t-Student .................................87 4.3.3.1. Comparação estatística das propriedades das fibras externas ................................87 4.3.3.2. Comparação estatística das propriedades das fibras internas .................................89 4.3.3.3. Comparação estatística das médias de tensão de ruptura .......................................90 Análise da superfície das FBs .........................................................................................93 4.4.1. MEV das Fibras In Natura ...........................................................................................93 4.4.2. MEV das fibras tratadas sob pressão por 60h ................................................................94 4.4.3. MEV das Fibras irradiadas UV7 ...................................................................................95 4.4.4. MEV das fibras irradiadas UV15 ..................................................................................96 4.5. Ensaio de Impacto Izod nos compósitos ........................................................................97 5. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 100 6. TRABALHOS FUTUROS.................................................................................................... 102 7. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 103 ANEXO A...................................................................................................................................... 112 16 1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento de novos materiais tecnológicos é uma realidade cada vez mais frequente no cenário nacional e internacional. A necessidade técnica científica, a responsabilidade ambiental e o impacto socioeconômico são fatores que motivam estudos e projetos de novos produtos e processos, com base na utilização e tratamentos de resíduos lignocelulósicos para obtenção de compósitos cada vez mais sofisticados. As pesquisas científicas com foco em tratamentos de beneficiamento de fibras naturais retratam uma possibilidade de novas tecnologias para indústrias e empresas de diversos setores da Engenharia. Nas tecnologias atualmente empregadas para tratamento de resíduos e nas tecnologias desejáveis, baseadas na sustentabilidade, ainda existe um grande abismo científico e tecnológico [1]. A conscientização pelas questões relacionadas ao meio ambiental e ao desenvolvimento sustentável tem conduzido ao desenvolvimento de novos produtos e processos, atrelado a introdução de novas matérias-primas não derivadas de combustíveis fósseis [2]. A incorporação de fibras vegetais (FV) como agente de reforço em compósitos é considerada por muitos autores um modo de minimizar o acúmulo de resíduos. As FVs também apresentam boas propriedades mecânicas e térmicas, além dos atributos de serem renováveis, biodegradáveis e de baixo custo. Cita-se também que as FVs apresentam baixa abrasividade, logo causam menos desgaste nos equipamentos de processamento, facilitando a moldagem [3]. Novas tendências na modificação de propriedades dos materiais plásticos têm sido observadas devido à crescente preocupação com o meio ambiente e a constante busca pela utilização de cargas em matrizes poliméricas (MP) [4]. O estudo da estrutura molecular dos componentes da FV permite o conhecimento de sua estrutura química e, consequentemente, implica em sua melhor utilização como carga em uma MP, dando origem aos compósitos com melhores propriedades mecânicas [5]. Segundo Kuruvilla et al. [6], os polímeros, termofixos e termoplásticos, possuem diferentes níveis de interação com as fibras lignocelulósicas, devido às diferenças entre suas estruturas químicas. De acordo com Guimarães et al. [7], a existência de ligação química interfacial pode ser considerada como principal fator que promove molhabilidade e compatibilidade, aumentando a adesão entre a matriz e as fibras. 17 Neste sentido, a busca por tratamentos alternativos e limpos, de baixo custo e viáveis para inserção no setor industrial tem sido imprescindível. Tais métodos confrontam os processos químicos atualmente empregados, como tratamentos alcalinos, que geram grandes quantidades de substâncias nocivas ainda sem finalidade posterior. Ao mesmo tempo em que para a inserção neste setor industrial é vital otimizar processos de extração das fibras de bananeira (FB), ainda muito incipientes frente às demais FVs. O estudo das reações fotoquímicas em polímeros, ainda hoje, se constitui uma área de intensa investigação científica. Apesar de sua relevância, os mecanismos de degradação induzidos por fótons em polímeros, que desencadeiam modificações em suas propriedades físicas e químicas, ainda não estão completamente elucidados [8]. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar se há diferenças entre as propriedades mecânicas das FBs em função de sua posição no pseudocaule (fibras internas e externas) buscando otimizar os processos de extração. Dentro da proposta de aplicar tratamentos limpos nas FBs, foi também objeto de estudo, determinar as mudanças físico-químicas ocorridas na estrutura molecular das FBs irradiadas com ultravioleta (UV) e relacionar tais mudanças ao comportamento mecânico e térmico observado para as fibras. As alterações provocadas pela radiação UV foram relacionadas à qualidade da adesão interfacial FB/MP por meio da avaliação da resistência ao impacto de compósitos de poliéster reforçados com FBs. Esta avaliação realizada nos compósitos verificaram se as alterações provocadas pela radiação UV são benéficas ao material. 18 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. O cenário da bananicultura no Brasil e no Município de Brasópolis-MG As frutas tropicais e subtropicais possuem um elevado potencial de consumo, no entanto, apenas a banana tem presença significativa no comércio internacional. O Brasil ocupa o terceiro lugar na produção de banana atrás apenas da Índia e China [9], sendo que a banana é fruta mais produzida no mundo com 138,4 milhões de toneladas colhidas em 2010 [10]. A banana é uma das frutas mais importantes do mundo, tanto no que se refere à produção quanto à comercialização. Para muitos países, além de ser um alimento complementar da dieta da população, a banana apresenta grande relevância social e econômica, servindo como fonte de renda para muitas famílias de agricultores, gerando postos de trabalho no campo e na cidade, contribuindo para o desenvolvimento das regiões envolvidas em sua produção. Para outros países, a banana é um produto de exportação responsável por uma parte muito significativa dos ingressos relativos à exportação agrícola [11]. A Tabela 1 revela os principais países produtores de frutas do mundo em ordem crescente e, respectivamente, a área de cultivo em hectares e a produção em toneladas. Tabela 1 – Principais países produtores de frutas em 2010. Fonte: [10]. 19 De acordo com a Figura 1, o Brasil apresenta um quadro favorável de crescimento das áreas produtivas e da quantidade média anual de produção de frutas. Percebe-se, por meio do gráfico, que de 2001 a 2011, o País apresentou uma tendência de crescimento na produção de frutas. Figura 1 – Produção de frutas no Brasil de 2001 a 2011. Fonte: [10]. A Tabela 2 apresenta as principais frutas produzidas no mundo em 2010. De acordo com as informações da Tabela 2, a banana é a fruta mais produzida e atinge 19% de total a produção de frutas no mundo. Tabela 2 – Principais frutas produzidas no mundo em 2010. Fonte: [10]. A Figura 2 é um gráfico relativo à quantidade de banana exportada pela África, Ásia e dos países da América, em milhões de toneladas. Os países americanos lideram as exportações mundiais de banana com grande vantagem das demais localidades avaliadas. 20 Figura 2 – As exportações de banana por região em milhões de toneladas entre 2008 e 2012. Fonte: [12]. O Estado de Minas Gerais é o quinto maior produtor de banana do Brasil com uma produção média de 14 toneladas de banana por hectare ao ano [10]. O Município de Brasópolis localizado ao sul do Estado também é rico na produção de banana. De acordo com a Central de Associações de Brasópolis (CEABRA) e o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), a região produziu nos três últimos anos (2012, 2013 e 2014) uma média anual aproximada de 22.000 toneladas de banana. Sabendo que cada bananeira produz apenas um cacho e após a coleta do fruto a planta é cortada pela base, tem-se uma quantidade de aproximadamente 66.000 toneladas de resíduos lignocelulósicos, que é resultado da soma em peso de folhagens, engaços e pseudocaules de acordo com estudos recentes. Especificamente, o bairro de Bom Sucesso, localizado no Pico dos Dias, produz anualmente uma média de 6.000 toneladas de banana gerando aproximadamente 18.000 toneladas de pseudocaules descartados. A bananeira é um vegetal herbáceo completo que pertence à divisão Angiopermae, classe Monocotyledoneae e família Musaceae [13]. Essa família é constituída por dois gêneros: o que apresenta bananas comestíveis denominado de Musa, com trinta e cinco espécies, e o que apresenta bananas silvestres, não comestíveis, denominado de Ensete, com sete espécies [14]. A Tabela 3 refere-se às espécies populares de bananeiras com frutos comestíveis produzidas no Brasil. Na Tabela, estão contidos os grupos genômicos, os subgrupos e a variedade dessas bananeiras. 21 Tabela 3 – Algumas espécies populares de bananeiras com frutos comestíveis no Brasil.3 Grupo Genômico Subgrupo Cultivar (variedade) AA Ouro AAA Caipira AAA Cavendish Nanica AAA Gros Michel Gros Michel AAB Maça AAB Prata Prata, Branca, Pacovan AAB Terra Terra, Pacovan, D`Angola AAB Figo Figo Vermelha ou Cinza AAAB Ouro da Mata Fonte: Adaptado de [15]. Dentre os cultivos agrícolas predominantes na região de Brasópolis-MG, a produção de banana “Prata” se destaca, tanto na qualidade da fruta quanto no seu valor de mercado mais elevado. Desta forma, o estudo com as fibras oriundas do pseudocaule da Musa AAB subgrupo Prata é inédito e promissor, uma vez que a qualidade do solo e as condições climáticas e geológicas, como altitude e alta umidade relativa do ar, da região sul mineira podem influenciar diretamente nas propriedades físico-químicas das fibras, logo, provendo reforços de compósitos com melhores propriedades mecânicas e térmicas. Outra vantagem desta espécie é o maior comprimento e volume dos pseudocaules, que podem gerar fibras mais extensas e em maior quantidade. 2.2. Resíduos da produção de banana O pseudocaule da bananeira, depois que lhe é extraído o fruto, não apresenta valor econômico sendo, portanto, descartado como resíduo [16] segundo a norma brasileira ABNT NBR 10004:2004. Esta norma define resíduos sólidos como: resíduos nos estados sólido e semi-sólidos que resultam de atividades da comunidade, de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição [17]. Um desenho esquemático de uma bananeira adulta está representado na Figura 3, revelando as partes que a constitui. 22 Figura 3 – Esquema geral das partes constituintes da bananeira. Fonte: Adaptado de [18]. Após o desbaste da bananeira, os resíduos abandonados na plantação contribuem para a propagação de doenças típicas da bananeira, dentre elas a Sigatoga. Esta é uma das mais importantes doenças da bananeira, sendo também conhecida como cercosporiose ou mal-de-Sigatoka [19]. Esses fatores impulsionam a necessidade de se procurar um destino nobre para o resíduo que não seja seu descarte no campo à luz do desenvolvimento sustentável. Ao se espalhar material orgânico no campo, é favorecida a geração de gás metano e dióxido de carbono pela degradação das matérias orgânicas através da ação de bactérias específicas, normalmente encontradas na natureza, podendo causar problemas ambientais [20]. A fabricação de materiais alternativos de fontes renováveis, além de gerar renda extra para o produtor, pode empregar mão-de-obra local na extração das fibras, eliminando o risco ambiental da degradação do material orgânico no meio [21]. Um bananal conduzido de maneira convencional pode fornecer 200 toneladas por hectare por ano de restos de cultura, compreendendo pseudocaules, engaços e folhas [22]. Em especial, na região do sul de Minas Gerais, muitas espécies do gênero Musa têm sido exploradas para comercialização em pequenas áreas rurais envolvendo simples processos de extração, que utiliza o manejo artesanal dos pseudocaules e são processos pouco difundidos entre as zonas rurais da própria região. 23 2.3. A fibra do pseudocaule da bananeira O pseudocaule é um estripe em formato de um cilindro irregular, formado por bainhas foliares sobrepostas, tendo em seu interior o palmito ou coração central [23]. A fibra do pseudocaule da bananeira é extraída das bainhas foliares [24] e é possível retirar até cinco tipos diferentes de fibras, desde a mais áspera até a mais fina [25]. Levando-se em consideração o consumo mundial, além do fato de que o pseudocaule da bananeira na fase adulta chega a atingir 8,0 metros de altura com um peso de até 100 kg, verifica-se que os resíduos da bananeira, principalmente as folhas e o pseudocaule, tendem a ser desperdiçados ou utilizados apenas na adubação do solo [25]. A fibra do pseudocaule da bananeira é uma fibra natural celulósica que desperta grande interesse por apresentar altos valores de módulo de elasticidade ( ), quando comparados a outras FVs e poliméricas, pois seu alto conteúdo de lignina proporciona um incremento de resistência à tração, logo altos valores de tensão de escoamento (σ esc) [26]. Embora estas propriedades sejam muito expressivas, não se encontra na literatura estudos sobre as características das FBs em função de suas disposições no pseudocaule. A Figura 4 ilustra a secção transversal de um pseudocaule da bananeira e revela organização das bainhas foliares. Já a Figura 5 revela as regiões de interesse no estudo das propriedades mecânicas das FBs. Figura 4 – Secção do pseudocaule da bananeira. Fonte: Adaptado de [27]. 24 Figura 5 – Regiões de interesse para investigação. Fonte: Adaptado de [27]. A investigação da resistência mecânica das FBs extraídas de bainhas mais internas (camadas internas) e de bainhas mais periféricas (camadas externas) pode constatar se existe diferença significativa nas propriedades mecânicas das fibras, uma vez que as bainhas internas são mais recentes àquelas mais externas. O resultado da avaliação do comportamento mecânico das FBs de diferentes regiões do pseudocaule poderá auxiliar futuros processos de extração e processamento, visto a necessidade da seleção das FBs mais resistentes para incorporação em compósitos de Engenharia. A biomassa lignocelulósica constitui a maior fonte de carboidratos naturais do mundo. A dificuldade de converter a biomassa lignocelulósica em insumos químicos é atribuída às suas características químicas e morfológicas. Esses materiais lignocelulósicos são constituídos de fibras de celulose envolvidas em uma matriz amorfa de hemiceluloses (polioses) e lignina. Essa matriz amorfa age como uma barreira natural ao ataque de microorganismos e/ou enzimas e torna esses materiais estruturalmente rígidos e pouco reativos [28]. Exemplos de pseudocaules coletados e utilizados neste trabalho podem ser observados na Figura 6. 25 Figura 6 – Pseudocaules coletados na região de Brasópolis-MG. Fonte: Autor. As FBs são constituídas basicamente de celulose, hemicelulose (poliose) e lignina [28], conforme representado na Figura 7. Percebe-se que a celulose é envolta por hemiceluloses e lignina na forma de hastes alongadas. A composição química da FB foi obtida por análise composicional de acordo com [29] e pode ser observada na Tabela 4. Tabela 4 – Composição estrutural da FB. Constituintes Celulose Hemicelulose Lignina Extrativos Umidade Cinzas Fonte: Adaptado de [29]. Percentual em massa 31,27 ± 3,61 14,98 ± 2,03 15,07 ± 0,66 4,46 ± 0,11 9,74 ± 1,42 8,65 ± 0,10 26 Figura 7 – Componentes da parede celular das FBs. Fonte: Adaptado de [30]. A Figura 8 apresenta um esquema da estrutura das células de uma fibra lignocelulósica. Nota-se que a estrutura de uma fibra lignocelulósica é constituída por um lúmen central envolto por camadas da parede secundária. Por fim, a parede primária reveste todo esse conjunto de camadas. 27 Figura 8 – Esquema da estrutura das células de fibra celulósica. Fonte: [31]. 2.3.1. Carboidratos presentes nas FBs Os carboidratos são definidos como aldeídos e cetonas poli-hidroxilados e são conhecidos, em sua forma simples, como açucares ou sacarídeos constituídos principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio. Segundo Solomon [32], os carboidratos são os constituintes orgânicos mais abundantes nas plantas e atuam como fonte de energia química e nos componentes dos tecidos de sustentação dos vegetais. Conforme o tamanho da molécula, os carboidratos são definidos como monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos [33]. A diferenciação entre eles é dada pela unidade monomérica, comprimento e ramificação das cadeias. Quando os polissacarídeos contém apenas um tipo de monossacarídeo, ele é denominado homopolissacarídeo. Se estiverem presentes dois ou mais tipos de monossacarídeos, o resultado é um heteropolissacarídeo [34]. Os polissacarídeos diferem-se na unidade com cinco (furanosídeo) ou seis (piranosídeo) átomos de carbono, no grau de ramificação, no tipo de ligações e no comprimento de suas cadeias, apresentando diferentes composições e funções. O processo de formação das longas cadeias poliméricas ocorre através da policondensação das unidades e a 28 formação da ligação glicosídica é formada após a eliminação de uma molécula de água entre duas moléculas adjacentes [35]. 2.3.1.1. Celulose A celulose é o polissacarídeo linear estrutural mais abundante na natureza, sendo o principal constituinte das paredes celulares [36]. Ela é composta por unidades de Dglicopiranose unidas através de ligações β entre o carbono 1 (C-1) de uma unidade e o carbono 4 (C-4) da próxima (ligação β-1→4) [37]. Múltiplas unidades de celobiose ligadas entre si por ligações β-1→4 formam a celulase [38]. Pode-se observar na Figura 9 que as cadeias de celulose possuem terminações diferentes em sua cadeia, uma terminação não redutora, na qual o carbono C-4 possui sua hidroxila original, uma terminação redutora, na qual o carbono C-1 se apresenta em estrutura de hemiacetal. A estrutura hemiacetal da unidade redutora, em solução aquosa, está em equilíbrio com a correspondente estrutura de ressonância na qual o carbono C-1 é um aldeído [28]. Figura 9 – Unidades de celobiose (unidade repetitiva da celulose). Fonte: Adaptada de [38]. A celulose, portanto, é um polissacarídeo regular que forma longas cadeias chamadas fibras elementares, com ligações intermoleculares por pontes de hidrogênio e forças de Van der Walls, envoltas em uma matriz de hemicelulose e lignina que impedem as moléculas de sofrerem ataques químicos [39]. O termo celulase refere-se a um grupo de enzimas que, atuando em conjunto, hidrolisam a celulose, fornecendo exclusivamente, quando por completo, D-glicose [40]. Quando a hidrólise não ocorre por completo, a celobiose é o único dissacarídeo produzido [37]. A celulose consiste, portanto, de uma cadeia linear com muitas unidades de celobiose, que apresentam tendência de estabelecer ligações de hidrogênio intramolecular e 29 intermolecular [41]. A cristalinidade da celulose provém do estabelecimento de ligações hidrogênio entre as cadeias celulósicas, embora ligações hidrogênio também ocorram na fase não cristalina, com baixo nível de organização [42]. Os três grupos hidroxilas (OH) formam fortes ligações secundárias entre as cadeias, impedindo a fusão da celulose. Para se obter capacidade do fluxo, estes grupos devem ser eliminados, ou reduzidos em número, por meio do ataque por diversos reagentes produzindo diferentes derivados da celulose [43]. A Figura 10 representa as interações e processos de polimerização da celulose. Figura 10 – Interações decorrentes da polimerização da celulose. Fonte: Adaptado de [28]. A Figura 11 apresenta os tipos de ligações intramoleculares e intermoleculares presentes na estrutura da celulose. Figura 11 - Representação das ligações de Hidrogênio intramolecular e intermolecular da celulose. Fonte: Adaptado de [28]. 30 A Figura 12 revela os planos de organização da estrutura da celulose e como esses planos interagem entre si. Figura 12 – Estrutura da celulose. Fonte: Adaptado de [44]. Em termos estruturais, a celulose é o componente que se apresenta em maior quantidade das paredes celulares, e devido ao seu aspecto fibrilar fornece resistência à estrutura. Desta maneira, a celulose pode ser considerada como “esqueleto” principal da planta, rodeada e incrustada pelas frações de hemiceluloses e lignina [45]. A celulose apresenta-se como um material renovável e biodegradável, de baixo custo e com excelentes propriedades físico-mecânicas [46]. 2.3.1.2. Hemicelulose (poliose) As hemiceluloses são heteropolissacarídeos complexos compostos por sacarídeos como D-glucose, D-galactose, D-manose, D-xilose, L-arabinose, ácido D-glucurônico e ácido 4-O-metil-glucurônico. São estruturalmente mais semelhantes à celulose do que a lignina. Sua estrutura apresenta ramificações que interagem facilmente com a celulose, dando estabilidade e flexibilidade ao agregado [47]. Sua estrutura é definida como amorfa[48]. O termo hemiceluloses (ou poliose) refere-se ao grupo de polissacarídeos de cadeia ramificada e baixa massa molecular, que atua como agente de ligação entre a celulose e a lignina nas paredes das plantas. A principal diferença com a celulose é que a hemicelulose tem ramificações com cadeias curtas laterais constituídas por diferentes açúcares. Em 31 contraste com a celulose, são polímeros facilmente hidrolisáveis. Eles não formam agregados [49] e apresentam maior suscetibilidade à hidrólise ácida [28]. A hemicelulose tem uma configuração irregular e ausência de cristalinidade, motivo pelo qual absorve água facilmente, contribuindo para o aumento de flexibilidade das fibras assim como para o aumento da área especifica ou de ligação das fibras [50]. As polioses diferem da celulose analiticamente pela sua solubilidade em álcali. Uma parte das polioses solúveis em álcali podem adicionalmente tornar-se solúveis durante extração com água quente [50]. Um procedimento padrão para isolamento e determinação das polioses é a extração com 5% e 24% de hidróxido de potássio (KOH) sucessivamente. As soluções alcalinas de polioses são neutralizadas com ácido acético e tratadas com excesso de etanol. A fração que precipita é chamada Poliose A (do extrato de 5% de KOH), e Poliose B (do extrato de 24% KOH) [50]. Atualmente o resíduo remanescente destes tratamentos é disposto no meio ambiente sem controle adequado. A Figura 13 apresenta a estrutura química dos sacarídeos presentes na hemicelulose. Figura 13 – Estrutura química dos sacarídeos das hemiceluloses. Fonte: Adaptado de [50]. 32 2.3.1.3. Lignina A palavra lignina vem do latim lignum, que significa madeira. Trata-se de um dos principais componentes dos tecidos de gimnospermas e angiospermas. Sabe-se que a lignina tem um importante papel no transporte de água, nutrientes e metabólitos [28]. A lignina, de importância maior na aplicação de compósitos, exerce a função de proteção sobre os componentes polissacarídeos da parede celular promovendo, portanto, a rigidez e a resistência física que tanto se procura nos novos materiais tecnológicos. Ela atua como uma parede hidrofóbica impermeável. O teor de lignina em plantas jovens é geralmente menor que 5%, enquanto plantas maduras podem conter até 15%. A taxa de decomposição da lignina é comparada com a de celulose e hemiceluloses [51]. Em estudos realizados há aproximadamente 150 anos, foi possível verificar o interesse científico e econômico sobre a lignina, concluindo-se que a lignina é uma substância amorfa, de natureza aromática e muito complexa, e faz parte da parede celular e da lamela média dos vegetais [52]. A lignina ainda pode ser dividida em duas classes de materiais, ambas com menor proporção de P-hidroxifenila: a lignina guaiacila e a lignina guaiacilasiringila [53], como mostrado na Figura 14. Figura 14 – Unidades presentes na lignina. Fonte: Adaptado de [53]. 2.4. FB como reforço em compósitos de Engenharia As inovações na engenharia de superfície/interface são consideradas, por muitos autores, como promissoras no mercado de materiais compósitos. Seguindo ainda uma notória tendência de sustentabilidade, as empresas e indústrias investem intensamente em pesquisas de novas matérias-primas provenientes de fontes naturais e, principalmente, fontes 33 renováveis. A FB apresenta grande potencial de pesquisa, com um propósito de utilização como reforço em MP destinada às aplicações de engenharia. A presença de grupos polares nos componentes, características das fibras lignocelulósicas, principalmente de hidroxilas, resulta em uma interação interfacial fraca com a MP, quando estas são apolares. Esse fator tem limitado o desenvolvimento da área de compósitos reforçados com FVs, pois em condições de grande umidade ocorre a delaminação do material, devido às fracas interações na interface fibra/matriz [54]. A adesão fibra/matriz nesses materiais compósitos pode ocorrer por: encaixe mecânico das cadeias da MP em rugosidades existentes na superfície da fibra, atração eletrostática, forças de van der Waals ou formação de ligações químicas mais fortes [55]. O grau de polimerização da celulose sofre algumas alterações de acordo com o tipo de FV, o que pode influir em suas propriedades mecânicas [28]. Diferentemente das fibras convencionais utilizadas para o reforço de MP, como fibras de vidro e de carbono, que podem ser produzidas com um intervalo específico de propriedades, as fibras lignocelulósica variam consideravelmente suas propriedades mecânicas, pois dependem de diferentes fatores como: proporção dos três componentes (celulose, hemicelulose e lignina), do diâmetro da fibra, orientação molecular (proporção de regiões cristalinas e não cristalinas), vazios em sua morfologia (porosidade, rugosidade e imperfeições), as quais são dependentes das condições climáticas, do plantio e do tempo que leva para produzir a fibra [56], [57]. Uma forte ligação na interface fibra/matriz é importante para uma eficiente transferência da carga aplicada sobre a matriz para as fibras, o que acarreta em um aumento da resistência do material compósito. As fibras, responsáveis por suportarem a maior parte da carga aplicada, são mais resistentes que a matriz. A força de adesão existente em uma interface é dada pelo trabalho termodinâmico de adesão que está relacionado à energia de superfície da fibra e da matriz [58], e sob a aplicação de uma tensão, a ligação fibra-matriz cessa nas extremidades da fibra [59]. A adesão das FVs com a MP pode ser melhorada através de diferentes tratamentos químicos ou físicos da superfície das fibras que causam mudanças na morfologia superficial e aumento do número de grupos reacionais que poderão reagir com a matriz [60]. O aumento da acessibilidade de grupos hidroxilas na superfície da fibra de bananeira pode gerar maior número de ligações covalentes entre a fibra e a matriz, aumentando, portanto, a adesão interfacial que resulta no incremento na resistência à tração dos compósitos com fibras tratadas [61]. Em geral, as fibras são os principais membros de transporte de cargas, enquanto a 34 cercania da matriz as mantém na localização e direção desejada, agindo como um transportador médio de carga e protegendo as fibras de danos externos [62]. As propriedades mecânicas do reforço fibroso em compósitos poliméricos dependem, principalmente, de três fatores: módulo de resistência da fibra, estrutura química da MP e ligação efetiva entre matriz e reforço na transferência de forças através da interface. Portanto, as propriedades de materiais compósitos fibrosos também serão fortemente dependentes de parâmetros como o diâmetro, comprimento, fração volumétrica, orientação e modo de dispersão da fibra [63]. Um dos fatores que governa as propriedades dos compósitos é o modo de dispersão das fibras no mesmo. A mistura de fibra polar e higroscópica com uma matriz não polar e hidrofóbica pode resultar em dificuldade de dispersão da fibra na matriz. Agrupamentos e aglomerações de fibras impossibilitam a produção de compósitos com boas propriedades [64]. A eficiência de um compósito também depende da transferência de forças entre matriz e a fibra. Isto pode ser maximizado intensificando-se a interação e adesão entre as duas fases e também pela maximização do comprimento da fibra no compósito. O uso de filamentos longos pode resultar em uma melhor distribuição. Entretanto, fibras longas algumas vezes causam o aumento na quantidade de agrupamentos, que resultam em áreas com alta concentração de fibras e área com excesso de matriz, o que reduz a eficiência do compósito [65]. A descontinuidade da fibra natural, quando usada como reforço, exerce uma forte influência na resistência à tensão e resistência nos compósitos. Fatores como comprimento e orientação das fibras são determinantes na melhoria das propriedades dos mesmos. Um exemplo é a resistência à tração de compósitos com fibras descontínuas que é menor quando comparada aos compósitos com fibras contínuas [66]. Um dos maiores desafios de se trabalhar com as FBs é a definição do método apropriado de extração, seja ela por processos químicos ou mecânicos. Os métodos químicos apresentam boa processabilidade e aceleram o processo de extração, porém geram uma quantidade significativa de resíduos tóxicos e provocam alterações na estrutura das fibras. Já os processos mecânicos apresentam algumas vantagens peculiares como melhor desempenho e rendimento, redução de custos com agentes químicos e fácil operação, contribuindo também para a preservação do meio ambiente. Estes processos mecânicos também geram resíduos orgânicos, que ainda podem servir como fonte de pesquisa para desenvolvimento de novos materiais, energia (biomassa) ou para adubação. 35 A extração das FBs em grande escala ainda é incipiente, sobretudo é muito promissora no sentido de alavancar o setor de cultivo de bananeiras, o qual é de extrema relevância para os estados produtores de banana, como Minas Gerais. De acordo com a Figura 15, a fratura de compósitos reforçados com fibras curtas ocorre por etapas. Figura 15 – Mecanismo de fratura em compósitos reforçados com fibras curtas. Fonte: Adaptado de [67]. A Figura 16 retrata como as propriedades mecânicas de um compósito são afetadas por determinados fatores. Figura 16 – Fatores de influência nas propriedades mecânicas dos compósitos. Fonte: Adaptado de [68]. 36 2.5. Tratamentos superficiais em FV Como já estabelecido na literatura [42,56], a adesão MP-FV é primordial para a obtenção de compósitos de alto desempenho mecânico. A mercerização em FVs tem sido amplamente reportada na literatura [69] e até mesmo vem sendo aplicada à pequena produção de compósitos baseados em FVs. O método consiste em tratamentos com H2O2, NaOCl, NaOCl/ NaOH que isolam as estruturas cristalinas de fibras celulósicas por meio de hidrólise ácida [70], gerando mudanças expressivas em algumas propriedades importantes dos materiais [71]. Entretanto, estes reagentes e compatibilizantes são tóxicos, agressivos ao meio ambiente e caros, o que dificulta um tratamento ecologicamente apropriado e industrialmente viável. A radiação por UV foi proposta neste trabalho como um método alternativo, altamente eficiente e ecologicamente correto, uma vez que a radiação ultravioleta (UV) pode ser gerada tanto a partir de fontes naturais quanto artificiais. A radiação UV compreende uma faixa de comprimentos de onda que vai desde 100 a 400 , podendo ser classificada, segundo a Comissão Internacional de Iluminação (CIE), em três regiões: UVA (315-400 UVB (280–315 ) e UVC (100–280 ), ) [72]. Sob ação da radiação UV, os materiais orgânicos, incluindo polímeros e as FVs, sofrem uma série de reações químicas oxidativas que podem causar falhas prematuras em serviço. Entre as razões para a baixa performance de polímeros degradados estão a cisão de emaranhados moleculares e cadeias atadas, além de danos na superfície [73], [74]. As reações químicas desencadeadas pela radiação eletromagnética são denominadas reações fotoquímicas. O mecanismo de fotodegradação é um tipo de reação fotoquímica que envolve, basicamente, a absorção de radiação ultravioleta e subsequentes reações oxidativas em processos autocatalíticos, provocando redução no peso molecular e alteração na estrutura química do material irradiado [75]. A durabilidade de compostos naturais e orgânicos como FVs e polímeros, depende, não apenas da quantidade de degradação, mas também de aspectos como a espessura da camada degradada, do tamanho dos cristais e a deterioração superficial [76]. Enquanto muitos estudos têm sido feitos sobre a cinética de fotodegradação de compostos orgânicos, o mecanismo de reação destes processos é ainda pouco compreendido. Na literatura [77] existem duas vertentes com relação à identificação da espécie iniciadora do 37 processo de oxidação, ou seja, se a etapa inicial ocorre através da lacuna fotogerada ou via radical hidroxila (OH). Publicações mais recentes têm proposto a possibilidade de outros grupos funcionais como oxigênio singlete ou ânion superóxido serem os iniciadores dos processos fotocatalíticos [78]. 2.6. Avaliação da degradação térmica das FBs Embora a utilização dos compósitos reforçados com FVs tenha aumentado significativamente nos últimos anos, o uso dessa tecnologia ainda apresenta algumas limitações como a baixa resistência à degradação térmica dos materiais lignocelulósicos e a alta absorção de umidade [79]. Estes fatores limitam a produção dos compósitos, principalmente daqueles que são processados a elevadas temperaturas, implicando na ocorrência de processos termo degradativos que inutilizam o reforço, gerando propriedades indesejáveis, como a perda de resistência mecânica. O estudo da cinética de degradação térmica de materiais de origem natural facilita a seleção de possíveis aplicações como reforço de polímeros sintéticos, uma vez que avalia a sua estabilidade térmica. De acordo com White et al. [80], a degradação térmica de materiais orgânicos pode ser representada como a soma das reações térmicas da degradação dos componentes individuais, tais como, celulose, hemicelulose e lignina. A análise térmica proposta neste trabalho é útil para a identificação de reações de decomposição e também na avaliação da estabilidade térmica das FBs. As perdas de massa podem ser analisadas por unidade de tempo, no caso de experimentos isotérmicos, ou através do uso de um gradiente constante de temperatura, também chamado de experimento não isotérmico. Tal método, normalmente, é utilizado para avaliar as perdas de massa em função da temperatura [81]. O conhecimento das propriedades térmicas dos materiais fibrosos é importante para o aprimoramento e aperfeiçoamento de processos de moldagem e de transporte de carga. As técnicas de análise térmica podem revelar as faixas de temperatura em que ocorre a degradação do material fibroso e também são capazes de fornecer informações a respeito das reações envolvidas no processo térmico, sejam elas exotérmicas ou endotérmicas. 38 2.6.1. Estudo cinético de decomposição térmica das FBs Os métodos de determinação de parâmetros cinéticos utilizam análises termogravimétricas e taxas de aquecimento constante, o que requer menor tempo dos ensaios. O método de Flynn-Wall-Ozawa (FWO) [82] requer, no mínimo, três análises termogravimétricas em diferentes taxas de aquecimento. O método é representado por uma equação de Arrhenius que considera que a energia de ativação ( ), envolvida na perda de massa de um determinado material é proporcional ao coeficiente linear determinado entre o inverso da temperatura absoluta, em relação ao logaritmo da razão de aquecimento aplicada [83] como descrito na Equação 1. ( ) (1) ( ) é uma constante de velocidade de reação [84], Onde frequência, é um fator de é a energia de ativação no processo de degradação térmica, a qual indica a energia necessária para quebra de ligações da estrutura da fibra, e representam a constante dos gases e a temperatura absoluta, respectivamente. Aplicando-se o logaritmo neperiano em ambos os lados, tem-se a Equação 2 [85]. (2) Na termogravimetria não-isotérmica, os dados de perda de massa são função da temperatura e do gradiente empregado no experimento. Em uma reação no estado sólido, caracterizado neste caso pela degradação térmica da celulose, o grau de conversão (α), que indica uma relação quantitativa entre a massa no meio reacional e a massa que efetivamente reage, em um experimento não-isotérmico pode ser dado pela Equação 3 [81]. (3) Em que, é a massa em cada instante a uma temperatura , a massa final do experimento. é a massa inicial e 39 A equação geral que descreve a taxa de conversão ( ) em uma reação cinética em estado sólido é representada pela Equação 4 [81]. ( ) ( ) (4) No qual ( ) representa uma função que descreve a conversão da reação. 2.6.1.1. Cálculo da energia de ativação Substituindo a Equação de Arrhenius (Equação 1) na Equação 4 obtém-se a Equação 5 [85]. ( ) (5) Os parâmetros como e o fator de frequência podem ser estimados através da relação de Arrhenius. Como a temperatura da amostra pode ser controlada mediante determinada razão de aquecimento constante ( ), o grau de conversão pode ser analisado como uma função da temperatura. Nesse caso, existe uma dependência da temperatura e do tempo de aquecimento em relação à razão de aquecimento utilizada no experimento. O gráfico de por ( ) gera uma curva com os pontos discretos obtidos pelos diferentes k. A regressão linear fornecerá o melhor ajuste entre os pontos discretos e a reta gerada pela linearização fornece o coeficiente angular, que se iguala à razão ( constante dos gases 2.7. é 8,3144621 ). O valor da [86]. Avaliação estatística de dados por meio do teste de hipóteses O teste de hipóteses é considerado pelos estatísticos como um procedimento baseado na análise de uma amostra, através da teoria de probabilidades, usado para avaliar determinados parâmetros que são desconhecidos em uma população [87]. O teste de hipóteses é, então, um método de inferência estatística usando dados obtidos em um estudo científico. 40 As hipóteses são assumidas de modo a constituir as alternativas a serem testadas e revelam se existem evidências suficientes para assumir determinadas condições e, portanto, auxiliar na tomada de decisão. O teste t-Student é um teste de hipótese amplamente usado pelas Engenharias e tratase de uma ferramenta capaz de verificar se as alterações em processos, produtos ou serviços são, de fato, relevantes nas propostas de inovação. No ambiente atual de melhoria contínua, pode-se associar o teste t-Student como um método de confirmação da eficácia das medidas de melhoria adotadas ou avaliadas. No caso deste trabalho, especificamente, o estudo das resistências à tração das FBs se torna mais preciso e revelador quando se utiliza o teste tStudent como meio de avaliação estatística. Com esta análise foi possível garantir, com uma confiabilidade numericamente conhecida, estabelecer as diferenças significativas entre as resistências das FBs em relação a sua posição no pseudocaule (internas e externas), e fazer a distinção entre o real incremento da resistência mecânica em função dos tratamentos superficiais. Para cumprir mais adequadamente com a função de predizer quanto dos produtos do processo vão satisfazer às especificações foi criado o índice Cp, denominado índice de capabilidade potencial do processo, capaz de relacionar a variabilidade inerente ao processo com suas especificações [88]. Em situações onde somente é possível quantificar, além de causas comuns, as causas especiais de variação, são utilizados os índices de performance do processo (Pp) [89]. Se o processo está estável, os índices Cp e Pp estarão muito próximos entre si. Porém, uma diferença grande entre capabilidade e performance indica a existência de instabilidade no processo, ou seja, causas especiais estão agindo [90]. A ferramenta estatística de análise de variância (ANOVA) também é um teste de hipóteses de comparação de médias, e tem a vantagem de realizar estudos envolvendo médias e fatores que exercem influência nas variáveis dependentes de forma simultânea. 41 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Extração das FBs Neste trabalho, optou-se por um método limpo de extração, isento de agentes químicos, de modo a manter a integridade física e estrutural das FBs. A esterilização pelo vapor saturado sob pressão, realizado em autoclaves, destrói microrganismos pela ação combinada da temperatura, pressão e umidade, que promovem a termocoagulação e a desnaturação das proteínas [91]. A norma brasileira ABNT NBR ISO 17665-1 (2010) especifica requisitos para o uso do calor úmido no desenvolvimento de esterilização, na validação e no controle da rotina deste processo [92]. A norma regulamenta também todos os processos por calor úmido, incluindo vapor saturado e mistura ar-vapor. Os pseudocaules foram extraídos na região de Brasópolis-MG, no Pico do Dias, em uma altitude de aproximadamente 1500 m. É um local bastante úmido, rodeado de pequenos rios e com solo muito rico e fértil. A região concentra cultivos de banana, café e apresenta área de proteção permanente (APP), devido à presença de Mata Atlântica nativa e de grandes quantidades de nascentes. Todos esses fatores elevam a qualidade das plantas e frutas produzidas. A extração das FBs foi realizada em meio aquoso sob pressão de 1,2 atm, temperatura de 120 ± 5°C a qual foi mantida por uma chama alimentada por GLP, durante 4h. As FBs, ainda umedecidas, foram laminadas em rolos lisos paralelos de modo a retirar excessos de massa orgânica e água. Por fim, as FBs foram secas em estufa a 40°C por 40 min. As condições aplicadas estão resumidas na Tabela 5. Tabela 5 – Condições de operação da extração das FBs sob pressão. Condições de Operação Valores Abastecimento de água (l) 6 Massa média de pseudocaule (kg) 1,20 Tempo de estabilização para pressão máxima (min) 50 Taxa de vazão de vapor (ml/min) 5 Consumo de Gás-GLP (kgf/min) 0,0024 Pressão (atm) 1,2 Temperatura (°C) 120 Tempo de Autoclave (h) 4 Fonte: Autor. 42 A Figura 17 apresenta o gráfico da massa de GLP gasta em função do tempo. A taxa de consumo de gás foi determinada por meio da inclinação da reta linearizada, a qual está associada à perda de massa de gás em função do tempo. Essa determinação é importante para um futuro estudo de viabilidade econômica do processo de extração sob pressão. Figura 17 – Determinação da taxa de consumo de gás. 27,42 . Y = -0,0024x + 27,41685 R² (ajustado) = 0,98038 Massa (kg) 27,41 . 27,40 27,39 .. 27,38 . 27,37 0 5 10 15 . . 20 Tempo (min) Fonte: Autor. 3.2. Seleção das FBs As amostras de FBs foram selecionadas levando-se em consideração a disposição física das fibras no pseudocaule, de modo a investigar possíveis variações de propriedades mecânicas entre as fibras das diferentes regiões do pseudocaule. Esta informação adianta estudos que serão necessários para a implementação da extração das fibras mais resistentes, vislumbrando a utilização destas fibras em escala de produção industrial de compósitos. Primeiramente, foram selecionadas bainhas foliares de regiões internas e externas (camadas internas e externas) de um mesmo pseudocaule adulto e pronto para coleta do fruto, ou seja, logo após o desbaste da planta. As bainhas foliares foram cortadas em comprimentos de 250 mm, eliminando-se as extremidades laterais, restando apenas sua parte central, como mostrado na Figura 18. 43 Figura 18 – Bainhas do pseudocaule de bananeira. Fonte: Autor. A quantidade de amostras para cada tratamento foi determinada pela norma ASTM C1557-03: “Standard Test Method for Tensile Strenght and Young´s Modulus of Fibers” visando o ensaio de tração das FBs. De acordo com a norma, são necessárias 30 amostras de fios para que o resultado seja confiável. Assim, o estudo dos resultados de ensaio de tração das FBs ocorreu sempre para conjuntos de amostras contendo 30 fibras. Elas foram classificadas como: In Natura (sem quaisquer processamentos industriais) ou tratadas de camada externa ou interna. 3.3. Tratamentos alternativos para a superfície das FBs No trabalho desenvolvido, foram avaliadas as modificações estruturais e do comportamento mecânico das FBs, quando expostas à irradiação UV. Trata-se de uma alternativa limpa para alteração das características estruturais e de superfície da FB, de baixo custo e sem geração de resíduos tóxicos, com possibilidade de adaptação de novos processos industriais e de desenvolvimento de novos materiais, tais como compósitos para indústria aeronáutica ou para construção civil. O comportamento mecânico das fibras In Natura será considerado como referencial de comparação com as FBs submetidas aos tratamentos alternativos. 44 3.3.1. Fibras tratadas sob pressão O tratamento das amostras sob pressão, sem adição de reagentes (ácidos e reagentes alcalinos), foi realizado com o objetivo de avaliar o comportamento térmico e mecânico das fibras, e possíveis alterações em sua estrutura molecular. O tratamento foi realizado sob pressão de 1,2 atm a temperatura de 120°C constante durante o intervalo de 60h, e sua importância está relacionada com o método de extração adotado. Esta avaliação garante se tal etapa afeta ou não a estrutura ou comportamento mecânico das FBs extraídas segundo o método apresentado no tópico 3.1. 3.3.2. FBs submetidas à radiação UV Para que as FBs fossem submetidas à radiação UV foi desenvolvido um suporte metálico (Figura 19) cuja função é manter as fibras alinhadas para que haja irradiação homogênea sobre sua superfície. As fibras foram irradiadas em uma câmara de fotodegradação pelo período de 7 e 15 dias, e a nomenclatura utilizada para identificação das amostras foi fibras UV7 e UV15. A cada intervalo de 3,5 dias, o suporte foi invertido para atingir a superfície das FBs igualmente. Figura 19 – Suporte utilizado no tratamento de irradiação por UV das FBs. Fonte: Autor. 45 A câmara de fotodegradação (Figura 20) é constituída de 4 lâmpadas de UV PHILIPS TL80W/10R, um ventilador do tipo cooler e por um relógio termo-higrômetro. Estas lâmpadas apresentam um espectro de radiância de UVA 340, a qual simula os comprimentos de onda curtos e médios da região UV do espectro solar. O ventilador atua como um homogeneizador e controlador da temperatura no interior da câmara, que não ultrapassa 28°C em dias mais frios e 30°C em dias quentes. A montagem da câmara e as condições do tratamento sob radiação UV foram definidos com base na norma ASTM D520809 [93]. O relógio termo-higrômetro mede a temperatura externa e interna da câmara além da umidade em seu interior. Nos dias de ensaio, a umidade relativa do ar apresentou valor de 35%. Figura 20 – Câmara de fotodegradação UV. Fonte: Autor. 3.4. Análise térmica diferencial e gravimétrica (TG/ATD) As amostras de FB foram submetidas ao ensaio de termogravimetria (TG) e análise térmica diferencial (ATD) de modo a revelar as temperaturas e as máximas taxas de degradação do material. Para a análise TG foi utilizado o módulo termogravimétrico da marca NETZSCH e modelo STA 449F3. A massa de cada amostra foi de aproximadamente 15 mg. Os lotes de amostras trituradas a seco utilizadas para realização da análise de FT-IR, serviram também para realização da análise térmica, uma vez que já se encontravam na forma de pó. O ensaio de análise térmica foi realizado entre 25°C e 800°C com taxa de aquecimento de 5°C/min, em atmosfera de ar. Para o estudo da envolvida na degradação 46 das fibras In Natura foi analisado o primeiro pico, entre as temperaturas de 280 e 290°C. O ensaio foi repetido alterando-se apenas as taxas de aquecimento para 10°C/min e 15°C/min, conforme apresentado em 2.7. 3.5. Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FT-IR) O método de análise de Fourier transform infrared spectroscopy (FT-IR) é um tipo de espectroscopia de absorção e resulta no espectro molecular de absorção e de transmissão. A análise de FT-IR foi realizada nas amostras de FBs In Natura e nas amostras de FBs tratadas sob pressão e irradiadas com UV, por meio do espectofotômetro PerkinElmer Spectrum 100 com cristal de diamante e sulfeto de Zinco, no intervalo de número de onda de 650 a 4000 cm-1, pelo método ATR (refletância total atenuada). Para possibilitar a análise de FT-IR das amostras, as FBs foram moídas no moinho de facas tipo Willye TE-650 TECNAL por 5 min. O pó resultante da trituração a seco das amostras foi embalado e devidamente identificado. 3.6. Ensaio de tração nas FBs As fibras utilizadas no ensaio de tração foram preparadas seguindo a norma ASTM C1557-03 [94]. A norma descreve que cada fibra, individualmente, deve ser colada no suporte de papel (Figura 21) garantindo o seu alinhamento vertical e também a boa adesão da fibra com a garra. 47 Figura 21 – Suporte de papel para fixação das fibras. Fonte: Adaptado de [95]. Os ensaios de tração foram realizados por meio do equipamento Emic DL200 com célula de carga de 500 kgf. A velocidade do ensaio foi de 0,5 mm/min, o limite de força foi de 450 kgf e o limite de alongamento de 200 mm. Para a realização do ensaio de tração foi necessário medir o diâmetro médio de cada amostra para o cálculo da área da secção transversal. Para tanto, foi utilizado o microscópio óptico (MO) modelo Zeiss Jenavert como instrumento de medição com um aumento de 50 vezes. O diâmetro final de cada amostra foi determinado com a média de 3 medidas ao longo do comprimento da fibra como ilustrado na Figura 22. Figura 22 – Procedimento de medição do diâmetro das amostras. Fonte: Autor. 48 3.6.1. Estudo estatístico baseado no teste t-Student e ANOVA O teste t-Student foi utilizado de modo a identificar qual das hipóteses serão ou não rejeitadas. O objetivo do estudo estatístico é identificar se existe diferença significativa da média das tensões das FBs após os tratamentos em comparação com as médias de tensões de ruptura obtidas com as fibras In Natura. A hipótese nula corresponde à igualdade entre as médias comparadas, enquanto a hipótese alternativa é que existe diferença significativa entre as médias avaliadas. A ANOVA Two-way foi aplicada com objetivo de comparar as médias de tensão de ruptura, de deformação e módulo elástico, , das fibras interna e externa, submetidas aos diferentes tratamentos aplicados, bem como avaliar a interação dos resultados desses dois fatores (localização da fibra e tratamentos). Os estudos estatísticos aplicados foram realizados utilizando-se ferramentas do aplicativo Minitab®. A partir deste tratamento estatístico, foram extraídos dados importantes como a média aritmética, o desvio padrão, a variância, os intervalos de confiança para a média e o Pvalor, que determina o tipo de distribuição verificada. Valores de P-valor acima de 0,05 são obtidos para uma distribuição Normal. 3.7. Microscopia eletrônica de varredura (MEV) A análise das superfícies das FBs foi realizada para verificar as principais modificações causadas pela irradiação UV. As amostras de FBs foram preparadas e coladas com fita de carbono dupla face sobre um suporte metálico plano. Em seguida foram recobertas com fina camada de ouro. A micrografia da superfície das amostras foi realizada pelo MEV, modelo Zeiss EVO15MA com ampliações de 500, 1.500 e 3.000 vezes. 3.8. Ensaio de impacto Izod O ensaio de impacto Izod foi realizado de acordo com a norma ASTM D256-10 [96]. Para realização do ensaio foram confeccionados 20 corpos de prova, divididos em 4 grupos contendo 5 unidades: com 6% em massa de FB In Natura, 6% em massa de FB UV7 e 6% em massa de FB UV15 e matriz sem reforço para avaliação da eficiência da inserção das fibras 49 nas propriedades mecânicas dos compósitos. Para tanto, um molde de silicone nas dimensões estipuladas pela norma foi preenchido com as fibras contínuas extraídas, conforme descrito no item 3.1., e coberto com a resina termofixa. A matriz utilizada foi uma resina de poliéster Cristal Redelease 1.0#08. Esta resina é do tipo insaturada, ortoftálica, de baixa reatividade, transparente, de baixa viscosidade, cujo processo de cura ocorre com adição do catalisador composto de peróxido de metiletilcetona (butanox) com alta transparência. A escolha da resina poliéster para compor este estudo baseia-se na grande disponibilidade de trabalhos que utilizaram este material e, assim sendo, torna-se mais fácil comparar os resultados com dados da literatura. Os corpos de provas foram retirados do molde de silicone após 24h e permaneceram por 7 dias em estufa a 35ºC para completa cura da resina e logo em seguida devidamente identificados. O entalhe no corpo de prova foi feito em uma máquina manual de entalhe da marca TIME Group Inc. e modelo LS71-UV. A resistência ao impacto dos corpos de prova foram calculados de acordo com a Equação 6. (6) Em que, é resistência ao impacto do material (J/m), a Energia absorvida (J) e a espessura do corpo de prova (m). O equipamento utilizado para o ensaio de impacto Izod foi um Ceast modelo Resil Impactor com martelo de 4J. O ensaio de impacto Izod foi realizado em parceria com a escola SENAI Mario Amato em São Paulo, no núcleo de tecnologia do plástico. 50 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Análise térmica TG/ATD A análise térmica foi realizada com o objetivo de identificar as principais temperaturas de degradação dos componentes das FBs, de modo a perceber a influência dos tratamentos sob pressão e irradiação UV no comportamento térmico desse material. A importância da análise termogravimétrica (TG) foi garantir que as fibras possam ser utilizadas como reforço em compósitos poliméricos mesmo sendo processadas em elevada temperatura. As FBs devem apresentar resistência térmica suficiente para garantir a resistência mecânica adicional ao compósito, sem que haja a degradação térmica do material, promovendo a resistência mecânica final desejável. 4.1.1. Fibras In Natura 4.1.1.1. Taxa de aquecimento de 5°C/min A Figura 23 revela as curvas termogravimétricas e de primeira derivada para as fibras In Natura. Os pontos de mínimo observados na curva de primeira derivada indicam as temperaturas de máxima volatilidade de cada composto, isto é, àquelas em que o fenômeno térmico de degradação ocorre com maior taxa de perda de massa. Percebe-se que a curva de primeira derivada da TG apresenta três pontos de mínimo. O primeiro ponto de mínima derivada ocorre na temperatura de 74,89°C e é associado à perda de água, em forma de umidade da amostra [102]. Na temperatura de 266,39°C a FB apresenta degradação térmica com máxima volatilidade e indica a degradação parcial da celulose e da hemicelulose [103]. A FB também apresentou degradação térmica a 422,01°C referente à degradação parcial da lignina presente na estrutura da fibra lignocelulósica [103]. 51 Figura 23 – TG/DTG das FBs In Natura com taxa de aquecimento de 5°C/min. 100 0,5 80 60 74,89°C 422,01°C -0,5 40 dm/m0 (%) dm/dT 0,0 20 -1,0 266,39°C 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A Figura 24 apresenta as curvas de TG associadas à análise térmica diferencial (ATD) das fibras In Natura. Conforme a Figura 24, podem ser observados três picos característicos, sendo o primeiro pico endotérmico, o qual é associado à reação de desidratação, portanto, à perda de água contida na amostra. Os picos subsequentes representam reações exotérmicas associadas às reações de natureza oxidativa e identificam as temperaturas nas quais a estrutura do material sofre alterações de cristalinidade e também decomposição. De acordo com Becker [104], o primeiro pico exotérmico apresentado na curva de ATD corresponde à decomposição da hemicelulose e da celulose, enquanto o segundo pico exotérmico está relacionado à quebra de ligações da lignina primária (protolignina). 52 Figura 24 – TG/ATD das FBs In Natura. 100 3 EXO 2 60 1 40 dm/m0 (%) ATD (V/mg) 80 20 0 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A fração de máxima taxa de volatilidade ( ) foi calculada por meio da linearização da curva de TG das fibras In Natura com taxa de aquecimento de 5°C/min, no intervalo de temperatura em que ocorre maior perda de massa e aparece o primeiro pico exotérmico na curva de ATD, ou seja, entre as temperaturas de 250 a 270°C. A Figura 25 apresenta a reta linearizada formada pela regressão linear dos valores discretos da curva de TG, neste intervalo de temperatura. O coeficiente angular da reta linearizada apresentou valor de -0,86 e pode ser associado à fração máxima de volatilidade, ou seja, ao máximo valor de percentual de massa perdida durante um determinado intervalo de temperatura. 53 Figura 25 – Determinação da fração de máxima volatilidade do primeiro pico exotérmico da ATD com taxa de aquecimento de 5°C/min. y = - 0,8641x + 297,39 80 dm/m0 (%) 75 70 65 250 255 260 265 270 Temperatura (°C) Fonte: Autor. 4.1.1.2. Taxa de aquecimento de 10°C/min A Figura 26 apresenta a curva de TG e de primeira derivada das fibras In Natura com taxa de aquecimento de 10°C/min. O comportamento térmico de perda de massa revelado pela curva de TG e de primeira derivada da amostra mostrou-se semelhante ao observado para a taxa de aquecimento de 5°C/min, porém com valores de temperatura um pouco superiores. Na curva de primeira derivada da Figura 26 existem três picos característicos, identificados nas temperaturas de 83,29°C, 275°C e 456,64°C, respectivamente. Esses picos revelam as temperaturas nas quais o fenômeno de degradação térmica ocorre com máxima volatilidade para o ensaio térmico com taxa de 10°C/min e são associados à degradação dos componentes estruturais da FB, assim como descrito em 4.2.1.1. 54 Figura 26 – TG/DTG das FBs In Natura com taxa de aquecimento de 10°C/min. 100 80 83,29°C 60 456,64°C -0,5 40 dm/m0(%) dm/dT 0,0 20 -1,0 275,80°C 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A Figura 27 apresenta o resultado da ATD das fibras In Natura na taxa de aquecimento de 10°C/min. Os picos revelam a natureza do fenômeno, sendo o primeiro pico definido endotérmico, associado à desidratação do material e os dois picos exotérmicos subsequentes revelam possíveis reações químicas ocorridas na estrutura do material, como reações oxidativas. A fração de máxima volatilidade do primeiro pico exotérmico ocorre entre as temperaturas de 260 e 290°C de acordo com a Figura 28. A linearização da curva neste intervalo indicou que a perda percentual de massa em função da temperatura é -0,93. 55 Figura 27 – TG/ATD das FBs In Natura com taxa de aquecimento de 10°C/min. 100 4 EXO 60 2 40 dm/m0 (%) ATD (V/mg) 80 20 0 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. Figura 28 – Determinação da fração de máxima volatilidade do primeiro pico exotérmico da ATD com taxa de aquecimento de 10°C/min. y = - 0,9280 x + 321,05 80 75 dm/m0 (%) 70 65 60 55 50 260 265 270 275 280 Temperatura (°C) Fonte: Autor. 285 290 56 4.1.1.3. Taxa de aquecimento de 15°C/min A Figura 29 revela a curva de TG e primeira derivada para as fibras In Natura com taxa de 15°C/min, no intervalo de temperatura de 25 a 800°C. Assim como visualizado nos ensaios anteriores com menores taxas de aquecimento, a resposta térmica do material foi semelhante, porém as temperaturas identificadas nos picos de primeira derivada apresentaram valores pouco superiores. O primeiro pico de máxima volatilidade foi identificado na temperatura de 94,62°C e é associado à desidratação do material. Os picos de máxima taxa de volatilidade no processo de degradação térmica ocorrem nas temperaturas de 280,93 e 490,47°C, respectivamente. Tais picos estão associados à degradação da celulose, hemicelulose e lignina. Figura 29 – TG/DTG das FBs In Natura com taxa de aquecimento de 15°C/min. 0,5 100 0,0 80 490,47 °C -0,5 60 40 -1,0 280,93°C dm/m0 (%) dm/dT 94,62 °C 20 -1,5 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A Figura 30 revela o resultado da TG e ATD das fibras In Natura com a condição de taxa de aquecimento de 15°C/min. A Figura 30 ainda revela um comportamento semelhante aos demais ensaios realizados com taxas de aquecimento inferiores. Percebe-se um discreto pico endotérmico inicial e dois pico exotérmicos bem definidos. 57 Figura 30 – TG/ATD das FBs In Natura com taxa de aquecimento de 15°C/min. 6 100 EXO 80 60 2 40 dm/m0 (%) ATD (V/mg) 4 20 0 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A Figura 31 revela que a máxima volatidade do primeiro pico exotérmico ocorre entre as temperaturas de 280 e 290°C. Os dados obtidos de máxima volatilidade do primeiro pico exotérmico determinados pelo ensaio de ATD em diferentes taxas de aquecimento formam as variáveis dependentes para cálculo da envolvida no fenômeno térmico. As variáveis independentes são os valores do inverso da temperatura nas quais a volatilidade é máxima. 58 Figura 31 – Determinação da fração de máxima volatilidade do primeiro pico exotérmico da ATD com taxa de aquecimento de 15°C/min. y = - 0,9648 x + 335,88 66 dm/m0 (%) 63 60 57 280 282 284 286 288 290 Temperatura (°C) Fonte: Autor. 4.1.1.4. Determinação da O cálculo da do primeiro pico exotérmico no processo de degradação foi realizado apenas para o primeiro pico exotérmico das fibras In Natura pois é a temperatura em que há o início do processo de degradação térmica da fibra. As FBs não podem ser processadas em condições que ultrapassem a temperatura de degradação térmica do material, uma vez que perderiam as propriedades mecânicas desejáveis. Neste contexto, o cálculo da para ocorrência do fenômeno de degradação térmica para o primeiro pico exotérmico, revelado no gráfico de ATD, indica um parâmetro de controle e de especificação para irradiação UV em FBs. Assim, a energia fornecida pelas fontes emissoras de UV não devem ultrapassar o limite imposto pela da reação exotérmica em questão. A Figura 32 ilustra o comportamento de perda de massa, em percentual, para as FBs In Natura nas diferentes taxas de aquecimento adotadas. Percebe-se que ocorre um deslocamento da curva para a direita à medida em que se aumenta a taxa de aquecimento. 59 Figura 32 – TG das FBs In Natura nas diferentes taxas de aquecimento. Temperatura (K) 400 600 800 100 1000 5°C/min 10°C/min 15°C/min dm/m0 (%) 80 60 40 20 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. Figura 33 – ATD das FBs In Natura nas diferentes taxas de aquecimento. Temperatura (K) 400 5 800 5°C/min 10°C/min 15°C/min 4 ATD (V/mg) 600 1000 EXO 3 2 1 0 0 200 400 Temperatura (°C) Fonte: Autor. 600 800 60 A Figura 33 revela as curvas de ATD das amostras de FBs In Natura em diferentes taxas de aquecimento. As curvas de ATD também apresentaram um discreto deslocamento para a direita à medida que se aumenta a taxa de aquecimento. Este fenômeno é decorrente do aumento da relação , pois maior número de reações (eventos térmicos) ocorre no mesmo intervalo de tempo e, portanto, o ápice de temperatura será maior [105]. De acordo com Speil et al. [106], a diferença de temperatura ( a temperatura de referência ( ) é dada pela temperatura da amostra ( ) menos ) como representado na Equação 7: (7) Com relação ao aspecto quantitativo, ainda segundo Speil et al. [106], a temperatura de pico representa o ponto no qual a entrada de calor é igual à razão de absorção de calor. ( ) ∫ ( Em que (8) ) (9) é a variação da entalpia, m é a massa da amostra, temperatura entre o início ( ) e o final ( ) do processo, e é a variação de são constantes referentes à amostra, ao porta-amostras e ao instrumento utilizado. A Tabela 6 resume os dados necessários para o cálculo da . Nela estão contidos, para cada taxa de aquecimento adotada, os intervalos de temperatura em que se encontra a máxima fração de volatilidade, a relação ( ), e o inverso da temperatura absoluta. Tabela 6 – Determinação das variáveis para cálculo da Taxa de Aquecimento (°C/min) Temperatura (°C) . Inicial Máxima Volatilidade Final Fração de Máxima Volatilidade (k) 5 10 250 260 266,39 275,8 270 290 0,86 0,93 -0,15 0,00184162 -0,07 0,00177620 15 280 280,93 290 0,96 -0,04 0,00177620 Fonte: Autor. ln k 1/T (K) 61 Os dados da Tabela 6 foram utilizados para plotar a curva da Figura 34. No eixo das abscissas tem-se o inverso da temperatura absoluta na qual a perda de massa ocorre com maior intensidade. Enquanto no eixo das ordenadas tem-se o logaritmo neperiano da taxa de volatilidade k. A inclinação da reta traçada por meio da linearização dos pontos discretos está associada à relação ( O valor de ), correspondendo ao valor de -2263,94 (Figura 34). é então obtido pelo produto do coeficiente angular, -2263,94 por (8,3144621). Assim, a envolvida no processo térmico do primeiro pico exotérmico da ATD das fibras In Natura, resulta em 18,82 O coeficiente de determinção . é uma medida de modelo estatístico linear generalizado em relação aos valores observados. O valor de de 0,99991 revela o quão significativo é o modelo, logo 99,99% da variável dependente consegue ser explicada pelos regressores presentes no modelo estatístico. Figura 34 – Curva de lnk em função do inverso da temperatura. Temperatura (K) 550 545 R² (ajustado) = 0,99991 y = -2263,94 x + 4,05 -0,05 ln k 540 -0,10 -0,15 0,00180 0,00182 0,00184 0,00186 -1 1/T (K ) Fonte: Autor. Sabendo que a irradiação UV proporciona fótons de energia com comprimento de onda (λmáx) máximo de 340 nm, tem-se a energia de fóton ( De Brolie definida pela equação 11. ) que é regido pela Equação de 62 (11) Em que, é a energia total do fóton emitido, a constante de Planck e velocidade da luz. A constante de Planck é 6,626 2,998 a e a velocidade da luz [86]. (11) A fórmula química da celulose é (C₆H₁₀O₅)n e n representa o grau de polimerização, que varia em diversos tipos de celulose, conforme descrito no item 2.3.1.1. O grau de polimerização é em média 3500 [101], logo a massa molar de uma macromolécula de celulose corresponde em média a 162 ) atinge 567.000 Como a , que multiplicado pelo grau de polimerização ( . obtida do primeiro pico exotérmico é de 18.820 , pode-se aferir que para a degradação de 1 mol de celulose é necessária uma energia de 0,03 J. A determinação da envolvida no processo térmico é um fator importante no controle de emissão de fótons de energia para tratamento de FVs, uma vez que a potência associada à irradiação UV não deve ultrapassar o limiar imposto pela estrutura química da fibra. Ou seja, dependendo da quantidade de energia dos fótons de luz emitidos pelas lâmpadas artificiais, a estrutura pode sofrer danos que resultam em perdas significativas de propriedades mecânicas. A potência das lampadas de UV, que é uma razão entre energia e tempo, deve ser controlada para provocar alterações em ligações menos estáveis da estrutura das fibras e formação de ligações mais estáveis. 4.1.2. Fibras tratadas sob pressão por 60h O resultado do ensaio de TG das fibras tratadas sob pressão durante 60h está representado na Figura 35. Percebe-se a existência de três picos de mínima derivada nas temperaturas de 84,65, 305,51 e 406,23 °C, respectivamente. Tais pontos revelam as temperaturas as quais a perda de massa ocorre com máxima taxa de volatilidade. 63 Figura 35 – TG/DTG das FBs tratadas sob pressão por 60h. 1 100 0 80 dm/dT 406,23°C 60 -1 40 dm/m0 (%) 84,65°C -2 20 305,51°C 0 -3 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A Figura 36 é o resultado do ensaio de TG e ATD das fibras 60h. O primeiro pico é endotérmico e está associado à desidratação do material. Os picos subsequentes estão associados às reações, de caráter exotérmico, de degradação térmica da estrutura do material. Figura 36 – TG/ATD das FBs tratadas sob pressão por 60h. 100 2 EXO 60 1 40 20 0 0 0 200 400 Temperatura (°C) Fonte: Autor. 600 800 dm/m0 (%) ATD (V/mg) 80 64 4.1.3. Fibras irradiadas UV7 As fibras irradiadas com UV durante 7 dias obtiveram 4 picos característicos de perda de massa revelado pela primeira derivada conforme a Figura 37. Tem-se claro a formação de 4 picos de mínima derivada que revelam as temperaturas de máxima taxa de volatilidade. O primeiro pico é observado na temperatura de 66,36°C e está associado à perda de umidade residual da amostra. Os outros 3 picos característicos de perda de massa ocorrem com maior intensidade nas temperaturas de 290,22; 398,98 e 438,12 °C, respectivamente. Figura 37 – TG/DTG das FBs UV7. 100 1 60 0 66,36°C 40 438,12°C dm/m0 (%) dm/dT 80 20 -1 290,22°C 398,98°C 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A Figura 38 ilustra o resultado da TG e ATD das fibras UV7. Percebe-se a existência de um pico endotérmico, associado à perda de água, e três picos exotérmicos subsequentes. Diferentemente do que foi observado em relação às fibras In Natura e tratadas sob pressão por 60h, a irradiação UV provocou uma mudança de comportamento térmico nas FBs, evidenciado pela formação de um pico exotérmico até então não observado a temperatura de 398,98 oC. 65 Figura 38 – TG/ATD das FBs UV7. 100 3 2 60 1 40 dm/m0 (%) ATD (V/mg) 80 20 0 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. 4.1.4. Fibras irradiadas UV15 A Figura 39 revela o resultado obtido com o ensaio de TG para as fibras UV15. De modo análogo ao resultado obtido para as fibras UV7, é possível observar quatro pontos de altas taxas de volatilidade confirmados por meio da primeira derivada da curva de TG. As temperaturas de máxima volatilidade são observadas, respectivamente, em 67,39; 270,30; 385,60 e 434,80°C. 66 Figura 39 – TG/DTG das FBs UV15. 100 1 60 0 67,39°C 40 -1 dm/m0 (%) dm/dT 80 20 385,60°C 434,80°C 270,30°C 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A Análise de TG e ATD das fibras UV15 está representada na Figura 40 e fica evidente a ocorrência de uma reação endotérmica. Tal reação ocorre na temperatura de máxima volatilidade encontrada na primeira derivada da TG (Figura 39) de 67,39°C. As reações subsequentes são exotérmicas, logo com liberação de energia. De acordo com a Figura 40, existem 3 picos característicos de reações exotérmicas presentes no fenômeno térmico. 67 Figura 40 – TG/ATD das FBs UV15. 3 100 ATD (V/mg) 60 1 40 dm/m0 (%) 80 2 20 0 0 0 200 400 600 800 Temperatura (°C) Fonte: Autor. A Figura 41 é um resumo das temperaturas ensaios de ATD das fibras tratadas. A inicia-se, , e encontradas nos é a temperatura na qual o fenômeno térmico é a temperatura de máxima volatilidade observada nos pontos de mínima derivada da curva obtida com o ensaio de TG e a é denominada temperatura limite do fenômeno de degradação térmica. Segundo Gordon [107], o caráter exotérmico dos picos de ATD é classificado de acordo com a origem física ou química do evento térmico. O fenômeno físico observado no resultado das análises de TG e ATD das fibras está associado à transição cristalina provocada pela temperatura. Já o fenômeno químico decorrente dos picos exotérmicos observados está associado à decomposição e à degradação oxidativa do material. De acordo com Wendlandt [105], a aplicação de técnicas termoanalíticas diferenciais em materiais biológicos auxilia na investigação da estabilidade térmica e oxidativa do material. Para o caso dos carboidratos presentes nas FBs, as análises térmicas identificam danos causados pela radiação. 68 Figura 41 – Temperaturas envolvidas na degradação térmica da primeira reação exotérmica. Fonte: Autor. A Tabela 7 aponta as temperaturas envolvidas no processo térmico observado na primeira reação exotérmica. Tabela 7 – Temperaturas envolvidas no processo térmico de degradação. Amostra Temperatura (°C) On set Máxima Volatilidade In Natura 60h UV7 UV15 239,3 256,9 243,5 229,9 266,4 305,5 290,2 270,3 End 292,7 321,0 312,1 301,7 Fonte: Autor. Pode-se aferir da Tabela 7 e da Figura 41, que a estabilidade térmica das fibras irradiadas com UV por 7 dias e as fibras tratadas sob pressão por 60h apresentaram melhores resultados que as fibras In Natura. As fibras UV15, por sua vez, apresentaram queda das temperaturas envolvidas no processo térmico em comparação às fibras UV7. Assim, o período de 15 dias de exposição à irradiação UV provocou redução da estabilidade térmica do material. 69 A estabilidade térmica dos materiais é uma propriedade dos sistemas em resistir às mudanças de temperatura sem que seja alterada sua composição inicial. Um menor teor de matéria volátil e maior teor de carbono fixo em temperaturas mais altas são fatores que afetam a estabilidade térmica do material [108]. Por esse motivo se faz necessária uma investigação térmica das FBs, de modo a garantir que possam ser processadas em temperaturas limites, as quais não provoquem danos estruturais levando à perda de propriedades mecânicas. 4.2. Espectroscopia por FT-IR A análise de espectroscopia FT-IR foi realizada com o objetivo de complementar os demais ensaios realizados com as FBs. Por meio da análise da energia vibracional molecular é possível avaliar as principais mudanças estruturais provocadas pela irradiação UV nas fibras. A Figura 42 revela o resultado da análise de FT-IR para as fibras In Natura, tratadas sob pressão por 60h, UV7 e UV15. Nota-se grande semelhança entre os espectros de transmitância no intervalo de número de onda de 2000 a 4000 cm-1 destas amostras. Segundo [108,109], os hidrocarbonetos possuem grupos funcionais -OH (3500-3300 cm-1) bem como o tipo de ligação C-H alifático (3000-2800 cm-1), este último não apresenta anéis aromáticos [110]. Os picos com número de onda 3342 cm-1 e 2915 cm-1 foram identificados nos espectros da Figura 42 em todos os tratamentos e correspondem, portanto, aos respectivos tipos de ligação mencionados. Pode-se considerar, portanto, que a banda de 3342 cm-1 é caracterizada pelo estiramento vibracional do grupo -OH presente na estrutura da celulose e é comumente encontrado em fibras lignocelulósicas. Já a banda de 2915 cm-1 é atribuída ao estiramento da ligação C-H dos grupos metila (CH2) e metileno (CH3) [111]. 70 Transmitância (u.a.) Figura 42 – Espectroscopia FT-IR para as FBs In Natura, sob pressão por 60h, UV7 e UV15. 2915 3342 60h UV7 UV15 In Natura 4000 3000 2000 1000 Número de Onda (cm-1) Fonte: Autor. Tendo como referência o espectro de energia vibracional das fibras In Natura, as principais alterações estruturais foram identificadas nos picos de transmitância nos números de onda abaixo de 2000 cm-1. A Figura 43 representa o espectro de energia vibracional FT-IR com número de onda de 650 a 2000 cm-1, intervalo o qual foi identificado alterações na estrutura das fibras irradiadas com UV com relação às fibras In Natura. 71 Transmitância (u.a.) Figura 43 – Espectroscopia FT-IR para as FBs In Natura, sob pressão por 60h, UV7 e UV15. 873 1731 1620 60h 898 1515 UV7 831 UV15 In Natura 2000 1750 1500 1250 1000 750 Número de onda (cm-1) Fonte: Autor O espectro de FT-IR das fibras In Natura apresentou bandas em 1731 cm-1, 1620 cm1 e 1515 cm-1, assim como identificado nos espectros das fibras irradiadas com UV. A banda de 1731 cm-1 é referente ao estiramento vibracional dos grupos C=O não conjugados da hemicelulose (vibrações de ácidos carboxílicos alifáticos e cetonas) [7]. Alguns autores ainda mencionam que as bandas de 1620 e 1515 cm-1 estão associadas à ligação C-C [7,113]. Os picos de transmitância em 898 cm-1 e 831 cm-1, observáveis no espectro das fibras In Natura, são atribuídos ao alongamento das ligações do tipo C-O-C das ligações glicosídicas (β-1→4) e é designado como bandas de transmitância “amorfas” [114]. Ao se analisar o espectro das fibras irradiadas com UV, percebe-se a formação de um pico de transmitância característico em 873 cm-1 não observado até então no espectro das fibras In Natura e nas tratadas sob pressão por 60h. A banda de 873 cm-1 indica a presença de anéis aromáticos C-H fora do plano de vibrações, do tipo Bending, e indicam que compostos cíclicos conjugados podem ter sido formados [115] durante o tratamento por irradiação UV. Outra possibilidade é que a degradação por cisão da cadeia polimérica aumenta a resolução dos grupos aromáticos já presentes na estrutura da lignina, como observada por [116] que cita que as deformações C-H de anéis benzênicos são identificadas em picos próximos a 874 cm-1. 72 Todas as informações obtidas com o espectro de FT-IR sugerem que as ligações mais fracas da estrutura da FB foram quebradas quando irradiadas por UV, dando origem a novas ligações capazes de alterar a maneira com que tais fibras se comportam mecanicamente, discutido em 4.1.3. Uma hipótese capaz de explicar o ocorrido é a eliminação parcial da hemicelulose, que contém ligações mais fracas e que fornece flexibilidade às fibras. Por ser uma estrutura compreendida entre a celulose e a lignina, quaisquer modificações na hemicelulose resultam em ancoramento químico mais eficaz, logo a estrutura resultante das quebras e formação de novas ligações da hemicelulose provoca maior cisalhamento entre a celulose e lignina, responsáveis, portanto, pelo acréscimo de resistência mecânica observada por meio do ensaio de tração. 4.3. Ensaio de tração nas FBs 4.3.1. Fibras das camadas externas 4.3.1.1. Fibras externas In Natura A Figura 44 representa a curva tensão-deformação obtida para as fibras In Natura. Percebe-se que a curva não é completamente linear, isto é, a todo instante a tensão oscila gerando pequenos e repetidos picos. Tal comportamento pode estar associado ao rompimento das microfibrilas que compõe as FBs. A cada rompimento das microfibrilas, a tensão sofre uma ligeira queda e esse processo se repete continuamente até o rompimento total da fibra [97]. Um acréscimo do módulo elástico, , a partir da deformação de aproximadamente 1,0%, pode ser observado sugerindo que as microfibrilas mais superficiais da FB são as primeiras a serem rompidas e são mais fracas. Na medida em que a fibra é tracionada, no decorrer do ensaio, as estruturas das FBs mais internas são mais resistentes, justificando o aumento de . O ANEXO A-Figuras 1, 2 e 3 apresentam resumos estatísticos para os resultados de distribuição da tensão de ruptura, da deformação e do módulo elástico, respectivamente, obtidos para o ensaio de tração das fibras In Natura. , 73 Figura 44 – Curva característica de tensão-deformação das FBs externas In Natura. Fonte: Autor. A distribuição de tensão de ruptura obtida a partir do ensaio de tração (ANEXO AFigura 1) apresentou um P-valor (p-value) de 0,286. Resultados do P-valor superiores a 0,05 representam uma distribuição Normal, assim, no caso das FBs In Natura, o P-valor calculado é maior que 0,05, logo se trata de uma distribuição do tipo Normal [98,99]. A média obtida foi 69,99 MPa com desvio de 24,20 MPa e variância 585,57. Constata-se por meio do intervalo de confiança (IC), para a média, que se a avaliação fosse repetida com outras 30 amostras, a média estaria compreendida entre 60,95 e 79,02 MPa com 95% de confiabilidade. Os diagramas de boxplot são uma representação linear da distribuição dos dados e revela, além da mediana, os intervalos em que se encontram os quadrantes da distribuição. Esses diagramas foram utilizados para facilitar a comparação entre os resultados para os diferentes tratamentos e estarão apresentados como diagramas BOXPLOT, no decorrer das discussões do trabalho. O ANEXO A-Figura 2 revela a distribuição dos valores de deformação das fibras externas In Natura e pode-se afirmar que a distribuição também é do tipo Normal, uma vez que o resultado do P-valor foi 0,666. A média de deformação foi 0,83% com desvio padrão de 0,26%. O desvio padrão elevado é uma característica peculiar das FVs, que apresentam grande dispersão de dados. Este, por sua vez, deve ser um fator de avaliação para produção de compósitos reforçados com FB para aplicação em Engenharia. 74 A distribuição do das fibras In Natura, de acordo com o ANEXO A-Figura 3, é do tipo Normal com P-valor de 0,127. A média aritmética obtida foi 87,40 MPa com desvio padrão de 24,51 MPa e a variância, de acordo com a análise foi 602,25 MPa. Avaliando a Figura 29 ainda percebe-se pontos fora do IC (outlines), acima de 140 MPa, que são pontos fora da distribuição, representados por asteriscos. O ANEXO A-Figura 4 resume a estatística envolvida na capabilidade dos resultados da tensão de ruptura das fibras externas In Natura, apresentando os valores de Cp, Pp e a performance global. Este último revela o percentual de dados fora de controle, logo, valores de tensão fora da especificação dentro de 5% de nível de significância. Pode-se aferir, ainda, que o processo está sob controle por meio da proximidade dos valores de Cp e Pp, e que 5% dos valores de tensão estão fora da especificação, de acordo com o valor de performance global. Pode-se aferir, conforme Figura ANEXO A-Figura 4, que o processo está sob controle por meio da proximidade dos valores de Cp e Pp, e que 5% dos valores de tensão estão fora da especificação de acordo com o valor de performance global. 4.3.1.2. Fibras externas tratadas sob pressão por 60h O tratamento sob pressão por 60h alterou o comportamento mecânico das FBs reduzindo a elasticidade do material. A curva de tensão-deformação apresenta linearidade e maior inclinação, logo, o tratamento causou acréscimo do , em relação à FB In Natura. As FBs também apresentaram um comportamento mais homogêneo, ou seja, as curvas geradas no ensaio de tração exibiram um formato mais linear e preciso, apontando uma tendência de comportamento mecânico mais controlável e previsível, provavelmente porque o tratamento pode ter eliminado as microfibrilas mais externas e mais fracas, conforme discutido no item 4.1.1.1. Os resultados da análise estatística para as FBs tratadas sob pressão são apresentados a seguir. 75 Figura 45 – Curva característica de tensão-deformação das FBs externas tratadas por 60h. Fonte: Autor. O ANEXO A-Figura 5 representa a distribuição dos valores de tensão de ruptura para as FBs tratadas sob pressão por 60 h. A distribuição é Normal de acordo com o P-valor de 0,232. A média obtida foi 101,24 MPa com desvio padrão de 34,55 MPa. Observa-se ainda que 50% dos valores de tensão das FBs tratadas por 60h se situam entre 75,38 e 126,09 MPa. A reprodução da avaliação com outras 30 FBs tratadas fornece um intervalo para a média de 88,34 a 114,15 MPa com 95% de confiabilidade. Comparando estes resultados com aqueles obtidos para a FB In Natura, observa-se que há um aumento da média de tensão de ruptura, muito provável em função da remoção das microfibrilas mais externas da fibra, que podem possuir defeitos como as pontuações areoladas [117]. O ANEXO A-Figura 6 apresenta os resultados da análise estatística feita para os dados da deformação das fibras tratadas por 60h. Foi detectada uma distribuição do tipo Normal com P-valor igual a 0,332. A média obtida foi 0,60% com desvio padrão de 0,22%. Existem alguns poucos pontos fora da distribuição (outlines), próximos à deformação de 1,3%. É possível constatar também que 50% dos dados estão compreendidos entre 0,45 e 0,72%. Esse intervalo apresenta valores inferiores quando comparado ao intervalo de concentração de 50% dos dados medianos da deformação das fibras externas In Natura. Logo, ocorreu um decréscimo da deformação elástica das FBs com o tratamento aplicado. 76 De acordo com o ANEXO A-Figura 7, o valor de das FBs tratadas sob pressão apresentou média aritmética de 189,79 MPa com desvio padrão de 69,22 MPa. O P-valor é 0,029, logo a distribuição não pode ser considerada Normal. Percebe-se também outlines com altos valores de . O ANEXO A-Figura 8 descreve a capabilidade da distribuição de tensão de ruptura das fibras tratadas sob pressão. Os dados estão dentro do controle devido à igualdade entre os valores de Cp e Pp. O valor da performance global indica que 5% dos dados estão fora da especificação. 4.3.1.3. Fibras externas irradiadas com UV: 7 e 15 dias As amostras submetidas ao tratamento de radiação UV na câmara de fotodegradação, apresentaram comportamento semelhante às tratadas sob pressão por 60h. A principal diferença foi observada na inclinação da reta tensão-deformação, que apresentou valores superiores. As Figuras 46 e 47 mostram o comportamento mecânico das fibras irradiadas com UV por 7 e 15 dias, respectivamente. As amostras irradiadas por 15 dias apresentaram perda significativa de propriedades mecânicas, ou seja, o tempo de exposição à radiação UV foi suficiente para causar uma degradação prejudicial nas FBs. 77 Figura 46 – Curva característica de tensão-deformação das fibras externas UV7. Fonte: Autor. Figura 47 – Curva característica de tensão-deformação das fibras externas UV15. Fonte: Autor. O ANEXO A-Figuras 9 e 10 são referentes à distribuição dos valores de tensão das amostras irradiadas com UV7 e UV15, respectivamente. 78 A distribuição dos dados obtidos para o ensaio de tração nas FBs irradiadas com UV por 7 dias é dita Normal com P-valor igual a 0,731 de acordo com o ANEXO A-Figura 9. A média de tensão é 89,77 MPa com desvio padrão de 36,14 MPa. A partir do gráfico de distribuição é possível identificar que 50% dos valores de tensão obtidos compreendem-se entre 66,54 e 113,85 MPa e que se houvesse repetição com uma nova amostragem, 95% de confiabilidade que a média estaria compreendida entre 76,27 e 103,27 MPa. É notória a perda de propriedades mecânicas das fibras irradiadas com UV por 15 dias de acordo com o gráfico de distribuição de tensão do ANEXO A-Figura 10. A média apresentou valor de 44,29 MPa com desvio padrão de 23,30 MPa, muito abaixo dos outros tratamentos realizados. Ainda de acordo com o gráfico, evidencia-se uma distribuição não Normal, dado o P-valor de 0,005. A reprodutibilidade desta análise é apontada com 95% de confiabilidade que a média estaria compreendida entre 35,59 e 52,99 MPa. Comparando a tensão média obtida para as fibras externas In Natura, tratadas sob pressão por 60h e irradiadas com UV7, as fibras UV15 sofreram redução da resistência à tração de 36,73%, 56,25% e 50,66%, respectivamente. Esses dados comprovam que a radiação UV é capaz de degradar as FBs quando expostas por longos períodos. O ANEXO A-Figura 11 revela o estudo da capabilidade da distribuição de tensão das fibras irradiadas com UV7. Os dados obtidos estão dentro do controle devido à igualdade entre os valores de Cp e Pp. O valor da performance global indica que 5% dos dados estão fora da especificação. O ANEXO A-Figura 12 retrata a capabilidade da distribuição de tensão das fibras irradiadas por 15 dias e pode-se afirmar que os dados estão dentro do controle pela igualdade dos valores de Cp e Pp. A performance global indica que 5,37% dos dados estão fora da especificação. O ANEXO A-Figuras 13 e 14 são referentes à distribuição dos valores de deformação das fibras irradiadas com UV. Para as fibras UV7, a média de deformação é 0,47% com desvio padrão de 0,28%. Para as fibras UV15, a média de deformação é 0,32% com desvio padrão 0,15%. As distribuições de deformação das FBs UV7 e UV15 são ditas do tipo Normal, com P-valor igual a 0,154 e 0,150 respectivamente. Observou-se uma redução de aproximadamente 31,59% da deformação das fibras UV7 para as UV15. No ANEXO A-Figuras 15 e 16 estão apresentadas as distribuições dos valores de para as FBs UV7 e UV15. Nota-se que ambas as distribuições não são do tipo Normal. O Pvalor calculado para os valores do das amostras UV7 é de 0,036, enquanto para UV15 o P- 79 valor calculado é 0,005. Apesar disso, a média dos valores de das FBs UV7 foi 2,73 MPa maior, em comparação às FBs In Natura, apresentando valor de 238,94 MPa com desvio padrão de 108,22 MPa, enquanto as FBs UV15 apresentaram média de igual a 162,02 MPa com desvio padrão 84,30 MPa. A radiação UV no período de 15 dias gerou redução dos valores de em 32,19% em comparação aos valores de das FBs UV7. De modo a ilustrar e resumir o comportamento mecânico das FBs externas frente aos tratamentos aplicados foi construído um gráfico do tipo Boxplot (diagrama de caixa) elaborado pelo aplicativo Minitab®. O eixo vertical representa a variável a ser analisada e o eixo horizontal os fatores de interesse. Neste caso, no eixo y serão expostos os valores de tensão, deformação e . Já no eixo x estão identificados os tipos de FBs estudados, ou seja, In Natura, sob pressão por 60h, UV7 e UV15. Em geral, o Boxplot identifica onde estão localizados 50% dos valores mais prováveis, a mediana e os valores extremos [100]. O Boxplot da Figura 48 ilustra os diferentes comportamentos mecânicos das FBs quando submetidas aos tratamentos propostos. Nota-se que as fibras tratadas sob pressão por 60h e as irradiadas, UV7, apresentaram maiores valores de tensão de ruptura do que aqueles obtidos para as FBs In Natura. De acordo com a literatura [101], os extrativos, que são os constituintes não estruturais da fibra lignocelulósica, são facilmente eliminados com água ou solventes orgânicos. Assim, o tratamento sob pressão por 60h foi capaz de eliminar os extrativos alterando o perfil transversal geometria das fibras, o que resulta em acréscimo na medida de resistência à tração. As fibras tratadas com UV15 apresentaram uma redução significativa das tensões máximas de ruptura, logo o tempo de exposição ao UV causou degradação deletéria da resistência mecânica. 80 Figura 48 – Diagrama do tipo Boxplot da tensão de ruptura das FBs externas. Tensão das Fibras Externas (MPa) 180 160 Tensão (MPa) 140 120 100 80 60 40 20 0 In Natura 60h UV7 UV15 Fonte: Autor. De acordo com a Figura 49, as fibras In Natura possuem maior deformação comparada à elasticidade das fibras dos tratamentos sob pressão por 60h, UV7 e UV15. Podese perceber que existe diferença na amplitude da distribuição dos dados de deformação, que são menores para o tratamento de 60h e UV15. As FBs UV7 apresentaram valores superiores de notar que a distribuição dos valores de à distribuição do conforme Figura 50. Pode-se das FBs In Natura tem menor amplitude comparada das FBs tratadas, isso porque o tratamento de irradiação UV degrada as microfibrilas mais externas, menos resistentes. Assim, as microfibrilas internas mais resistentes são responsáveis pela resistência à tração das FBs tratadas com UV. O motivo da alta dispersão do pode ser explicado pelo fato da degradação de superfície não ser um fenômeno controlado, logo as camadas, ou quantidade de microfibrilas, são afetadas de modo não homogêneo. 81 Figura 49 – Diagrama do tipo Boxplot da máxima deformação das FBs externas. Deformação das Fibras Externas 1,6 1,4 Deformação (%) 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 In Natura 60 h UV7 UV15 Fonte: Autor. Figura 50 – Diagrama do tipo Boxplot do módulo de elasticidade das FBs externas. Módulo de Elasticidade das Fibras Externas Módulo de Elasticidade (MPa) 500 400 300 200 100 0 In Natura 60h Fonte: Autor. UV7 UV15 82 4.3.2. Fibras das camadas internas Com o intuito de identificar e compreender possíveis diferenças de comportamento mecânico das FBs em função de sua posição no interior do pseudocaule, o ensaio de tração foi realizado também em fibras extraídas de camadas mais internas. Os resultados foram apresentados em curvas de tensão-deformação e em histogramas de desempenho, assim como realizado para as FBs de camadas externas. 4.3.2.1. Fibras internas In Natura O ANEXO A-Figura 17 revela o comportamento típico das FBs In Natura extraídas de bainhas foliares mais internas quando submetidas ao ensaio de tração de fios. A média obtida de tensão é 69,68 MPa com desvio padrão de 20,80 MPa. A reprodução do ensaio com nova amostragem pode gerar, com 95% de confiabilidade, uma média compreendida entre 61,91 e 77,45 MPa. O ANEXO A-Figura 18 apresenta a distribuição de deformação das fibras internas In Natura e revela uma distribuição do tipo Normal com P-valor de 0,074. A média de deformação é 0,98% com desvio padrão de 0,23%. A variância obtida é 0,05 e 50% dos valores de deformação estão compreendidos no intervalo de 0,79 e 1,08%. A partir da distribuição do das fibras internas In Natura do ANEXO A-Figura 19, pode-se observar uma média de 69,17 MPa com desvio padrão de 20,02. Trata-se de uma distribuição do tipo Normal com P-valor muito acima de 5%. Já o ANEXO A-Figura 20 revela a capabilidade das fibras internas In Natura referente aos valores de tensões medidos. Constata-se que o processo está parcialmente sob controle, devido à diferença nos valores de Cp e Pp, respectivamente 0,59 e 0,63. De acordo com a performance global, 5,93% dos dados obtidos de tensão das fibras estão fora de controle. 4.3.2.2. Fibras internas tratadas sob pressão por 60h O ANEXO A-Figura 21 indica que a média de tensão obtida com o ensaio de tração nas fibras internas tratadas por 60 h é 124,98 MPa, com desvio padrão de 56,44 MPa. É possível extrair do gráfico de distribuição que 50% dos valores de tensão estão 83 compreendidos entre 76,28 e 152,58 MPa, e que a reprodutibilidade do ensaio indica que a nova média estaria compreendida entre 103,90 e 146,05 MPa com 95% de confiabilidade. Ainda de acordo com o ANEXO A-Figura 21, a distribuição das tensões não é do tipo Normal com P-valor 0,016. O ANEXO A-Figura 22 revela a distribuição dos valores de deformação das fibras tratadas por 60h e aponta média de 1,26% com desvio padrão 0,28%. A distribuição não pode ser considerada do tipo Normal em razão do P-valor abaixo de 5%. O ANEXO A-Figura 23 indica que a média do é 119,25 com desvio padrão de 36,73. A distribuição é do tipo Normal com P-valor de 0,89. O ANEXO A-Figura 24 retrata a capabilidade de processo para as tensões obtidas no ensaio de tração para as fibras internas tratadas por 60h. O processo está sob controle, vista a proximidade dos valores de Cp e Pp. Ainda de acordo com o ANEXO A-Figura 24, pode-se afirmar com 95% de confiança que 5% dos dados estão fora de controle em função do percentual de performance global. 4.3.2.3. Fibras internas irradiadas com UV: 7 e 15 dias O ANEXO A-Figura 25 revela a distribuição dos valores obtidos de tensão de ruptura das fibras internas irradiadas por UV durante 7 dias na câmara de fotodegradação. A análise revelou que a distribuição é do tipo Normal com P-valor 0,289. A média de tensão de ruptura é 89,04 MPa com desvio padrão 25,20 MPa. Pode-se constatar que 50% dos dados de tensão das fibras internas UV7 estão compreendidos entre 69,95 e 107,93 MPa e que se a análise fosse repetida com uma nova amostragem, a média estaria contida no intervalo de 79,63 a 98,45 MPa, com 95% de confiabilidade. A distribuição dos valores de deformação está representada graficamente no ANEXO A-Figura 26. De acordo com a análise, a distribuição é do tipo Normal com P-valor 0,244. A média de deformação obtida no ensaio de tração em fios é 0,61% com desvio padrão de 0,24%. A redução na deformação foi de 37,88% comparada à média de deformação das fibras internas In Natura. O ANEXO A-Figura 27 revela a distribuição do de das fibras internas UV7. A média obtida é 121,01 MPa com desvio padrão 66,50. Pode-se aferir que 50% dos dados estão no intervalo de 70,76 e 162,73 e que a distribuição não é do tipo Normal, devido ao P-valor 84 abaixo de 5%. A média de comparada à média do das fibras internas UV7 apresentou aumento de 74,93%, das fibras internas In Natura. De acordo com o ANEXO A-Figura 28, que expressa uma análise qualitativa dos dados de tensão de ruptura obtidos a partir do ensaio de tração, pode-se afirmar que 5% dos dados estão fora de controle e que há fatores que geram instabilidade do processo, devido à diferença entre os valores de Cp e Pp, respectivamente, 0,82 e 0,65. A média de tensão das fibras internas irradiadas por 15 dias é 44,48 MPa com desvio padrão de 25,82 MPa, de acordo com o ANEXO A-Figura 29. A distribuição dos valores de tensão não é do tipo Normal, já que o P-valor foi abaixo de 5%. Ainda de acordo com o ANEXO A-Figura 29, pode-se afirmar que 50% dos dados obtidos de tensão estão compreendidos entre 29,04 e 53,00 MPa, e a reprodutibilidade do ensaio com novas 30 amostras iria fornecer uma média compreendida entre 34,84 e 54,17 MPa. O ANEXO A-Figura 30 descreve o comportamento da deformação das fibras internas irradiadas por 15 dias com UV. A distribuição não é do tipo Normal, devido o Pvalor abaixo de 5%. A média encontrada é 0,38% com desvio padrão de 0,15%. Nota-se que 50% dos valores de deformação estão compreendidos entre 29,04 e 53,00%. A redução de deformação das fibras internas UV15 foi de 61,65%. O ANEXO A-Figura 31 retrata, por sua vez, a distribuição do das fibras internas UV15 e revela uma distribuição não Normal com P-valor 0,005. Por meio da interpretação dos dados da Figura, a média obtida é 122,66 MPa com desvio padrão 63,23 MPa e que 50% dos dados medianos compreendem-se entre os valores 76,43 e 149,10. A capabilidade do processo da tensão das fibras internas In Natura UV15 está representada no ANEXO A-Figura 32. Por meio da análise do gráfico, constata-se que 6,75% dos dados estão fora de controle e que existem fatores capazes de gerar instabilidade dos E dessas fibras de acordo com os valores de Cp e Pp, que diferem-se de 0,11. O Boxplot da Figura 51 resume o comportamento mecânico das fibras internas com relação às distribuições dos valores de tensão de ruptura obtidos por meio do ensaio de tração dos fios. Percebe-se que o tratamento 60h e UV7 apresentaram aumento nos valores de tensão de ruptura, porém maior dispersão dos dados. O tratamento UV15 apresentou queda de tensão de ruptura das fibras em comparação às fibras submetidas aos outros tratamentos. 85 Figura 51 – Diagrama do tipo Boxplot da tensão de ruptura das FBs internas. Fonte: Autor. Figura 52 – Diagrama do tipo Boxplot da deformação das FBs internas. Deformação das Fibras Internas 1,8 1,6 Deformação (%) 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 In Natura 60h Fonte: Autor. UV7 UV15 86 A Figura 52 ilustra o comportamento elástico das fibras internas e fica evidente que o tratamento sob pressão por 60h gerou maior elasticidade nas fibras. Os tratamentos de UV7 e UV15 reduziram a deformação elástica das fibras em comparação à deformação elástica das fibras In Natura. A dispersão dos dados, ou seja, a dispersão da distribuição, foi semelhante em todos os tratamentos aplicados, indicando que para as fibras internas do pseudocaule os tratamentos aplicados geram modificações em que se pode ter maior controle sobre os fenômenos ocorridos. O diagrama da Figura 53 indicou que os tratamentos sob pressão por 60h, UV7 e UV 15 obtiveram distribuição semelhante, e em todos esses casos ocorreu aumento do E das fibras em comparação ao médio das fibras internas In Natura. Pode-se identificar aumento da dispersão dos dados nos tratamentos sob pressão por 60h, UV7 e UV15 frente aos valores obtidos com as fibras In Natura, reforçando a proposta de que isso ocorre em virtude de que os tratamentos afetam as microfibrilas mais externas, e que este fenômeno se manifesta diferentemente em cada uma das fibras. Figura 53 – Diagrama do tipo Boxplot do módulo de elasticidade das FBs internas. Módulo de Elasticidade das Fibras Internas 350 Módulo de Elasticidade (MPa) 300 250 200 150 100 50 0 In Natura 60h Fonte: Autor. UV7 UV15 87 4.3.3. Avaliação do comportamento mecânico das FBs - teste t-Student 4.3.3.1. Comparação estatística das propriedades das fibras externas A avaliação estatística subsequente foi realizada com o intuito de verificar a existência de diferenças significativas nos valores médios de tensão de ruptura entre os tratamentos aplicados, quando comparados com as tensões de ruptura obtidas no ensaio de tração das fibras In Natura. O ANEXO A-Figura 33 ilustra a distribuição dos valores de tensões de ruptura das fibras externas In Natura e tratadas sob pressão por 60h. É possível perceber o aumento do valor da média tensão (representada por ) em função do tratamento, porém apenas com a aplicação do teste t-Student se torna possível afirmar que existe mudança significativa nesta diferença. Uma possível explicação para tal diferença é que o tratamento sob pressão por 60h altera o perfil transversal das fibras pela remoção das microfibrilas mais externas. De acordo com o ANEXO A-Figura 34, o poder do teste é de 97,8%, logo existe grande chance de se detectar a diferença entre os valores das médias comparadas. Pode-se considerar que o número de amostras satisfaz o requisito para tomada de decisão e que com apenas 16 amostras, e poder de 80%, esse resultado já seria confiável. A partir do relatório de síntese do teste t-Student do ANEXO A-Figura 35 é possível decidir qual hipótese deve ser adotada para tomada de decisão. Neste caso não se deve rejeitar a hipótese alternativa, logo de existir diferença entre as médias, uma vez que o P-valor apresentou um valor abaixo de 0,05. Assim, estatisticamente, com um nível de significância de 5%, existe diferença nos valores das médias de tensão de ruptura obtidas e deve-se considerar que o tratamento alterou o comportamento mecânico das FBs. O resultado contido no relatório do teste t-Student do ANEXO A-Figura 35 revela também que se novas amostras fossem submetidas ao ensaio de tração nas mesmas condições de operação, o IC de 95% prevê que a diferença entre as novas médias calculadas estariam compreendidas entre os valores de 15,79 e 46,71 MPa e este seria um método de controle sobre a resistência mecânica das fibras para futuros processos de fabricação de compósitos. O ANEXO A-Figura 36 ilustra a distribuição dos valores de tensão de ruptura obtidos no ensaio de tração para as FBs In Natura e UV7. Percebe-se um aumento da média de tensão das FBs UV7 assim como um pequeno aumento na variabilidade de tensão destas fibras, caracterizado por apresentar uma distribuição mais alongada. 88 De acordo com o ANEXO A-Figura 37, a diferença de 19,8 MPa entre as médias avaliadas acarretou no poder de teste de 68,6% com 30 FBs. Para se obter um maior poder de teste é recomendável um número maior de amostras avaliadas para essa determinada diferença de média. O ANEXO A-Figura 37 indica ainda que para se alcançar um poder de teste de 80%, a amostragem indicada é de 40 fibras ensaiadas, e para um poder de teste de 90%, indica-se usar 52 FBs. O ANEXO A-Figura 38 revela que as médias de tensão das fibras In Natura e UV7 se diferem estatisticamente com nível de significância de 5%, visto o P-valor igual a 0,016. O tratamento UV7 foi capaz de aumentar significativamente a média de tensão de ruptura das FBs. A comparação das médias de tensão de ruptura obtidas a partir do ensaio de tração para as fibras In Natura e UV15 foi realizada de modo a verificar a existência de evidências para a tomada de decisão e rejeição de uma das hipóteses do teste t-Student, as quais foram definidas previamente. A hipótese nula é de que as médias são iguais e a hipótese alternativa é que as médias se diferem entre si. O ANEXO A-Figura 39 ilustra a distribuição dos valores de tensão das fibras In Natura e UV15 por meio do gráfico Boxplot e percebe-se visualmente uma redução da média das fibras UV15 em relação às fibras In Natura. O teste t-Student foi capaz de fornecer informações sobre a comparação das médias de tensão podendo afirmar se existe diferença significativa entre elas. O ANEXO A-Figura 40 é um relatório de diagnóstico da análise estatística envolvendo a comparação das médias de tensão das fibras In Natura e UV15 e revela, com um tamanho de amostra de 30 fibras para cada tratamento, um poder de teste de 98,5%, logo existe grande chance de detectar a diferença entre as médias avaliadas. O ANEXO A-Figura 40 revela ainda que com apenas 15 amostras, o poder de teste tStudent seria de 80%, e com 19 FBs o poder de teste seria de 90%. Esses são valores aceitáveis de poder de teste e garante que existem grandes chances de detecção de diferença entre as médias avaliadas. O ANEXO A-Figura 41 revela o resultado do teste de hipóteses t-Student e pode-se inferir que as médias diferem entre si. A hipótese nula, neste caso, deve ser rejeitada já que o valor do P-valor é abaixo de 0,05, logo o tratamento UV15 foi capaz de reduzir a média de tensão das FBs significativamente. 89 Caso o ensaio de tração das FBs fosse novamente aplicado a outras FBs In Natura e FBs UV 15, pode se inferir, com 95% de IC, que a diferença entre as médias de tensão obtidas estaria compreendida entre os valores 13,41 e 37,98 MPa. Com estes resultados é possível fazer um controle de qualidade, em termos de tensão de ruptura das FBs, em razão da variabilidade presente no comportamento mecânico deste material. 4.3.3.2.Comparação estatística das propriedades das fibras internas O ANEXO A- Figura 42 compara os valores obtidos das médias de tensão das FBs internas In Natura e 60h. Pode-se perceber que a média de tensão das fibras tratadas sob pressão por 60h apresentou um acréscimo no valor médio de tensão de 25,69 MPa e uma distribuição um pouco mais larga, quando comparada à distribuição obtida com as fibras In Natura. O ANEXO A-Figura 43 apresenta o relatório de análise do teste t-Student realizado para comparar os dados obtidos entre os tratamentos. O poder do teste foi de 99,8%, logo apresenta grandes chances de detectar a diferença entre as médias. Ainda de acordo com o ANEXO A-Figura 43, com apenas 15 FBs o poder de teste seria de 90%, e já seria uma quantidade de FBs suficiente para detecção da diferença significativa entre as médias de tensão das fibras internas In Natura e tratadas sob pressão por 60h. Com 11 FBs, o poder de teste seria de 80% de acordo com o relatório de análise do teste t-Student. O ANEXO A-Figura 44 revela o resultado da análise estatística t-Student aplicada aos dados de médias das tensão de ruptura das FBs internas In Natura e 60h. De acordo com o resultado, as médias diferem entre si significativamente, com 95% de confiabilidade, em razão do P-valor ser abaixo de 5%. O resultado do teste t-Student, contido no ANEXO A-Figura 44, ainda revela que se o ensaio fosse repetido com novas amostras, a diferença entre as médias estaria compreendida entre 33,03 e 77,57 MPa, com 95% de confiabilidade, logo é uma estimativa de desempenho das fibras. Esse mecanismo de controle pode ser uma importante ferramenta para futuro controle de qualidade de produtos produzidos com as FBs. O ANEXO A-Figura 45 revela que a média de tensão obtida no ensaio de tração das fibras internas UV7 são superiores à média de tensão das fibras internas In Natura. O teste de hipótese foi aplicado de modo a comparar as médias de tensão e conferir se existe diferença significativa entre elas. 90 O relatório de diagnóstico da análise t-Student do ANEXO A-Figura 46 indica que o poder do teste é 88,9% com 30 FBs. O poder de teste alto indica que há uma grande chance de se detectar a diferença entre as médias avaliadas. O ANEXO A-Figura 47 é o resultado do teste t-Student aplicado aos dados obtidos com o ensaio de tração nas fibras In Natura e UV7. O P-valor apresentou valor de 0,002, logo se deve rejeitar a hipótese nula. As médias são consideradas diferentes com 5% de significância. Desta forma, a média de tensão das fibras UV7 aumentou em 19,36 MPa em relação à média de tensão das fibras internas In Natura. Se o ensaio de tração fosse aplicado em novas FBs, a diferença entre as médias estaria compreendida entre 7,41 e 31,32 MPa, com 95% de confiabilidade. Esse resultado é válido para controle de qualidade das FBs. As fibras UV15 apresentaram perda de resistência mecânica conforme indicado pelo boxplot do ANEXO A-Figura 48. Percebe-se um decréscimo da média de tensão das fibras UV15 em relação às fibras In Natura, apesar da forma de distribuição ser bastante semelhante. O ANEXO A-Figura 49 é o relatório de diagnóstico da análise estatística aplicada nos dados de tensão das fibras In Natura e UV15. De acordo com o relatório, o poder do teste é de 98,3%, logo a diferença entre as médias foi capaz de ser identificada com 95% de confiabilidade. De acordo com o relatório de diagnóstico do ANEXO A-Figura 49, com 20 FBs o poder do teste seria de 90% e com apenas 15 amostras o poder do teste seria de 80%, que são valores aceitáveis para tomada de decisão. Em seguida, tem-se revelado no ANEXO A-Figura 50 o resultado da análise tStudent de comparação de médias de tensão das fibras In Natura e UV15. De acordo a análise estatística, pode afirmar que existe diferença significativa entre as médias de tensão em razão do P-valor ser abaixo de 5%. Neste sentido, deve-se rejeitar a hipótese nula. 4.3.3.3. Comparação estatística das médias de tensão de ruptura De modo a comparar o comportamento mecânico das fibras internas e externas, foi elaborado um gráfico a partir do Boxplot (Figura 54). A maior diferença entre os valores das FBs internas e externas foi observada para o tratamento sob pressão 60h e para o tratamento UV15. Mesmo assim, percebe-se que existe grande proximidade dos valores obtidos tanto 91 para as FBs internas com as FBs externas para todos os tratamentos avaliados. Assim a tensão de ruptura independe da localização das fibras no pseudocaule. Contudo, comparando os resultados de tensão obtidos para os diferentes tratamentos é possível constatar que existe maior diferença na distribuição dos valores. Porém, é necessário avaliar estatisticamente os dados de modo a garantir que existam evidências suficientes para rejeitar, ou não, as hipóteses testadas, as quais definem se as médias são iguais pela hipótese nula, ou se as médias se diferem, por meio da hipótese alternativa. A Tabela 8 revela o resultado obtido com a análise de variância ANOVA two-way aplicada nos dados de tensão do ensaio de tração. O Erro faz parte do cálculo da variação dentro do grupo de análise (Within) e também para o cálculo do grau de liberdade dos dados do sistema. O Erro é um fator de cálculo para determinação do P-valor. Figura 54 – Diagrama do tipo Boxplot de comparação entre as distribuições de tensão de ruptura das amostras. Fonte: Autor. 92 Tabela 8 – Resultado da análise de variância (ANOVA). Fonte Região Tratamento Interação Erro Total Grau de Liberdade 1 3 3 232 239 Soma de Quadrados 1963 153241 6497 247897 409597 Média Quadrática 1962,7 51080,4 2165,6 1068,5 F P-valor 1,84 47,8 2,03 0,177 0,000 0,111 Fonte: Autor. De acordo com a Tabela 8, apenas o fator tratamento apresenta diferença significativa entre as médias de tensão de ruptura, devido o P-valor apresentar valor abaixo de 5%. Assim, não se deve rejeitar a hipótese alternativa, ou seja, as médias de tensão das amostras se diferem de acordo com o tratamento aplicado. Já com relação à região de origem das FBs, não existe evidências suficientes para rejeitar a hipótese nula de acordo com o P-valor de 0,177. Pode-se afirmar que as médias de tensão não se diferem com a região interna ou externa do pseudocaule para um determinado tratamento. O P-valor obtido para o fator interação é acima de 5%, logo também não existem evidências suficientes para rejeição da hipótese nula. Assim, a interação entre o tratamento aplicado e a região das FBs não apresenta níveis significativos para afirmar que as médias são afetadas por esses fatores quando interagidos. De acordo com o ANEXO A-Figura 51, que revela o resultado do teste de hipóteses t-Student para as médias de tensão de ruptura das fibras In Natura internas e externas, pode-se afirmar que não existem evidências suficientes para rejeitar a hipótese nula, logo as médias não se diferem com 5% de significância. O P-valor calculado é 0,958, logo muito maior que 0,05. Desta forma, o comportamento mecânico das fibras In Natura não se difere de acordo com a posição interna ou externa o interior do pseudocaule. A análise estatística do ANEXO A-Figura 52 revela que não existem evidências suficientes para se rejeitar a hipótese nula de igualdade entre as médias de tensão das fibras 60h internas e externas, com P-valor 0,055. Assim como as fibras In Natura, as fibras 60h não apresentam diferença significativa no comportamento mecânico com 95% de confiabilidade quando comparado às regiões em que foram extraídas do pseudocaule. A avaliação estatística de comparação das médias de tensão obtidas para as fibras UV7 e UV15 das regiões internas e externas do pseudocaule está representada no ANEXO AFiguras 53 e 54, respectivamente. Tanto para as fibras UV7 quanto UV15, não existem 93 evidências suficientes para rejeitar a hipótese nula, logo as médias não se diferem com nível de significância de 5%. De acordo com o ANEXO A-Figura 53, o P-valor é 0,928, muito maior que 0,05. Já o ANEXO-A Figura 54, que é o comparativo entre o comportamento mecânico das fibras UV15 de regiões internas e externas do pseudocaule, revela um P-valor de 0,977 maior que 0,05, logo as médias são consideradas iguais. A análise estatística propõe não haver diferença significativa nas médias de tensão das FBs em relação à posição no interior do pseudocaule, assim o comportamento mecânico das fibras não é afetado pelo fator região do pseudocaule. Esse resultado é útil para o desenvolvimento e aprimoramento de processos de extração das FBs, pois não há a necessidade de seleção de fibras, o que faz aumentar a produtividade e volume de possíveis fibras extraídas. Como não existem evidências suficientes para garantir desigualdade entre as médias de tensão de acordo com a localização das fibras no pseudocaule, apenas as fibras externas serão submetidas às análises posteriores do trabalho. 4.4. Análise da superfície das FBs 4.4.1. MEV das Fibras In Natura As Figuras 55 (A) e (B) revelam a morfologia da superfície de uma FB In Natura. A micrografia da fibra sugere que as microfibrilas estão unidas criando uma superfície rugosa e ondulada, porém contínua e homogênea. Observa-se ainda a presença de pontuações areoladas, as quais são características de células de fibra tipo fibrotraqueídeos [117]. 94 Figura 55 – MEV das FBs In Natura. (A) Superfície da amostra, (B) detalhe da morfologia da FB. (A) (B) Pontuações areoladas Fonte: Autor. 4.4.2. MEV das fibras tratadas sob pressão por 60h A superfície das fibras tratadas sob pressão apresentou indícios de fissuras superficiais, como pode ser observado nas micrografias das Figuras 56 (A) e (B). Apesar de identificadas essas fissuras, percebe-se que não há evidências suficientes de que ocorra desfibrilação em toda a superfície da fibra. Algumas regiões contendo microfibrilas continuam interligadas. No entanto, a presença de pontuações areoladas não é mais observada, provavelmente em decorrência do tratamento que pode ter removido as microfibrilas mais externas. 95 Figura 56 – MEV das FBs sob pressão por 60h. (A) Superfície da amostra, (B) detalhe da morfologia da FB. (A) (B) Fonte: Autor. 4.4.3. MEV das Fibras irradiadas UV7 As amostras irradiadas com UV por 7 dias sofreram intensa degradação na superfície. Pode-se observar, por meio da Figura 57 (A), que a superfície da fibra tratada com UV apresenta largas fissuras longitudinais e escamação das microfibrilas, criando um relevo rugoso. A área efetiva de superfície das fibras UV7 foi ampliada em consequência da degradação causada pelo processo fotoquímico. A Figura 57 (B) é uma micrografia com ampliação de 3000 vezes de uma fissura causada pela degradação fotoquímica. A micrografia revela a existência de desfibrilação em toda a superfície, identificada nos contornos das microfibrilas. Em alguns pontos, a desfibrilação ocorreu em profundidade, ou seja, atingindo partes internas da fibra. 96 Figura 57 – MEV das FBs UV7. (A) Superfície da amostra, (B) detalhe da morfologia da FB. (A) (B) Fonte: Autor. 4.4.4. MEV das fibras irradiadas UV15 A análise de microscopia eletrônica de varredura, realizada nas fibras irradiadas com UV por 15 dias, apresentou resultado semelhante ao das fibras UV7, porém com níveis mais intensos de degradação. As fissuras assumiram maior proporção de tamanho e separaram as microfibrilas mais periféricas. A Figura 58 (A) revela que a existência de fissuras longitudinais em toda a extensão da fibra UV15. A micrografia da Figura 58 (B) revela uma fissura com profundidade. 97 Figura 58 – MEV das FBs UV15. (A) Superfície da amostra, (B) detalhe da morfologia da FB. (A) (B) Fonte: Autor. 4.5. Ensaio de Impacto Izod nos compósitos A tabela 9 apresenta dados dos corpos de prova e os resultados do ensaio de impacto. Tabela 9 – Dados dos corpos de prova do ensaio de impacto Izod. Percentual Dimensão (mm) em peso de Fibra Resina Final Fibra (%) Largura Espessura 1 9,60 10,25 6,34 11,00 11,78 2 10,35 11,00 5,91 11,90 11,38 3 0,65 9,65 10,30 6,31 12,04 12,96 4 9,88 10,53 6,17 11,58 11,80 5 9,35 10,00 6,50 11,60 12,10 1 9,99 10,64 6,11 11,48 12,10 2 10,01 10,66 6,10 11,64 12,06 3 0,65 9,78 10,43 6,23 11,96 12,00 4 10,35 11,00 5,91 13,16 11,40 5 9,47 10,12 6,42 13,20 11,68 1 9,97 10,62 6,12 12,36 12,68 2 9,49 10,14 6,41 11,96 12,40 0,65 3 9,55 10,20 6,37 12,00 12,78 4 9,60 10,25 6,34 11,60 12,98 5 9,46 10,11 6,43 12,24 12,26 1 10,78 10,78 12,30 12,18 2 9,11 9,11 11,60 11,30 3 8,77 8,77 11,98 10,20 4 8,68 8,68 11,76 10,40 5 8,80 8,80 11,58 10,58 Matriz UV15 UV7 In Natura Amostras CP Fonte: Autor. Massa (g) Área (mm²) Área Energia Resistência efetiva absorvida de impacto (mm²) (J) (J/m) 129,58 135,42 156,04 136,64 140,36 138,91 140,38 143,52 150,02 154,18 156,72 148,30 153,36 150,57 150,06 149,81 131,08 122,20 122,30 122,52 107,58 111,62 131,96 113,48 117,16 115,95 117,10 119,60 123,70 127,78 132,00 124,38 129,36 127,37 125,58 125,21 107,88 98,24 98,78 99,36 0,185 0,117 0,785 0,216 0,149 0,528 0,463 0,647 0,497 0,500 0,562 0,619 0,508 0,408 0,631 0,114 0,103 0,091 0,128 0,109 15,71 10,25 60,57 18,33 12,31 43,64 38,39 53,92 43,60 42,81 44,32 49,92 39,75 31,43 51,47 9,36 9,12 8,92 12,31 10,30 98 As FBs tratadas sob pressão por 60h não foram submetidas ao ensaio de impacto. O propósito deste tratamento foi verificar se o processo de extração das fibras, que utiliza meio aquoso sob pressão, provoca alterações químicas nas fibras, o que não foi observado através das análises TG/ATD e FT-IR. O tratamento sob pressão em meio aquoso não é um processo economicamente viável, devido ao alto custo energético de aquecimento e longo período de tempo. A figura 59 retrata o comportamento da resistência ao impacto dos compósitos reforçados com as fibras tratadas. Pode-se notar que todos os corpos de prova reforçados com as FBs sofreram acréscimo de resistência ao impacto quando comparados à matriz polimérica sem reforço. Os compósitos reforçados com as FBs In Natura apresentaram larga distribuição dos dados de resistência ao impacto, que pode ser resultado do comportamento elástico e da grande dispersão de resistência mecânica das fibras. Os compósitos reforçados com FBs irradiadas por 7 e 15 dias apresentaram resultados de resistência ao impacto semelhantes, ou seja, valores de 44,47 J/m e 43,38 J/m respectivamente. Este é um indício que o ancoramento mecânico entre a FB e a MP foi mais eficaz em fibras irradiadas com UV, o que é mais importante do que as alterações no comportamento mecânico destas fibras isoladas. O estudo sugere que uma boa adesão entre a fibra e a MP resulta em compósitos com melhores propriedades mecânicas. Esses resultados sugerem ainda que a utilização de FBs irradiadas com UV produzem compósitos com maior controle de qualidade, uma vez que existe baixa dispersão de valores de resistência mecânica. 99 Figura 59 – Diagrama de distribuição dos valores de resistência ao impacto dos compósitos. Resistência ao Impacto (J/m) 60 50 40 30 20 10 Matriz In Natura Fonte: Autor. UV7 UV15 100 5. CONCLUSÕES Os resultados sobre a resistência mecânica das fibras extraídas de bainhas foliares mais internas e das mais periféricas do pseudocaule, não apresentaram evidências estatísticas suficientes para rejeitar a hipótese nula de acordo com o P-valor de 0,177. Pode-se afirmar que as médias de tensão não se diferem com a região interna ou externa do pseudocaule, independentemente do tratamento aplicado. Isso aumenta a quantidade de fibras que podem ser aproveitadas, tornando as FBs atrativas para aplicações industriais. A irradiação UV provocou alterações no comportamento mecânicos das FBs. A análise estatística dos dados de caracterização mecânica das FBs revelou que as fibras irradiadas por 7dias (FB UV7) apresentam valores maiores de e redução da elasticidade, em comparação com as FBs In Natura e FB UV15 dados que caracterizam uma melhora da resistência mecânica da FB. A análise térmica indicou reações de degradação diferentes nas FBs irradiadas com UV. Conclui-se, então, que a exposição das fibras ao UV é capaz de formar estruturas cíclicas intermediárias entre a celulose e a lignina, capazes de aumentar o ancoramento químico e a força cisalhante entre elas, que justifica o acréscimo de resistência mecânica das fibras irradiadas. As temperaturas encontradas de degradação superam as temperaturas usuais de processamento polimérico, logo as FBs apresentam propriedades térmicas suficientes para suportar as temperaturas dos processos de fabricação utilizados em termoplásticos. Pode-se concluir da análise FT-IR, que as reações fotoquímicas provocadas pela incidência de fótons provocaram alterações nas bandas características de transmitâncias da estrutura da FB e essas alterações são decorrentes da formação de estruturas aromáticas, causadas pela quebra das ligações mais fracas da estrutura da FB. As caracterizações de superfície das FBs mostraram que a incidência de irradiação UV nas FBs foi capaz de modificar sua superfície, deixando-a mais rugosa e conduzindo processos de desfibrilação. A separação dos feixes de microfibrilas permite criar espaços que podem ser preenchidos pela MP, proporcionando um preenchimento mais efetivo. A morfologia das fibras irradiadas com UV pode auxiliar o ancoramento mecânico e a adesão química entre a fibra e a matriz, por meio do aumento da área superficial efetiva das regiões interfibrilares e das modificações estruturais resultantes do processo fotoquímico atuante. O ensaio de impacto revelou que os compósitos reforçados com as fibras irradiadas apresentaram menor dispersão e maiores valores de resistência ao impacto. Esses resultados, 101 portanto, indicam que a radiação UV pode auxiliar a adesão fibra/matriz e auxilia na produção de compósitos com maior controle de qualidade. Provou-se também que um ancoramento eficaz torna-se mais importante do que a variação de resistência mecânica observada nas fibras tratadas. A FB é um material que demanda novos estudos a fim de se obter compósitos de Engenharia com melhores propriedades químicas, físicas, térmicas e mecânicas. A utilização de FB como reforço em MP é cada vez mais promissora e cria grandes expectativas para a ciência e também para o desenvolvimento de novos materiais e produtos para a indústria. 102 6. TRABALHOS FUTUROS Os trabalhos posteriores devem contemplar maior número de amostras de compósitos alterando-se o tempo, ou potência, da fonte irradiadora no tratamento das fibras. Espera-se que com maiores números de amostras seja possível a determinação da melhor relação energia/tempo, visando utilização industrial no processo de tratamento de fibras de bananeira por UV. Sugere-se também a produção de corpos de provas para ensaios de tração e flexão de compósitos reforçados com fibras irradiadas com UV, de modo a revelar o comportamento mecânico desses materiais. Espera-se também que ocorram estudos para o desenvolvimento de novos processos de extração de FBs e também no tratamento dessas fibras com radiação por meio de fontes artificiais. 103 7. BIBLIOGRAFIA [1] ZIOLLI, R. L.; JARDIM, W. F. 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Boxplot Fonte: Autor. 113 Figura 2 – Distribuição da máxima deformação das FBs externas In Natura. Fonte: Autor. Figura 29 – Distribuição do módulo de elasticidade das FBs externas In Natura. Fonte: Autor. 114 Figura 4 – Capabilidade referente à distribuição das tensões de ruptura das FBs externas In Natura. Fonte: Autor. Figura 5 – Distribuição da tensão das FBs externas tratadas por 60h. Fonte: Autor. 115 Figura 6 – Distribuição da deformação das FBs externas tratadas por 60 h. Fonte: Autor. Figura 7 – Distribuição do das FBs externas tratadas por 60 h. Fonte: Autor. 116 Figura 8 – Capabilidade referente à distribuição de tensões de ruptura das FBs externas tratadas sob pressão por 60h. Fonte: Autor Figura 9 – Distribuição da tensão das FBs externas UV7. Fonte: Autor. 117 Figura 10 – Distribuição da tensão das FBs externas UV15. Fonte: Autor. Figura 11 – Capabilidade referente à distribuição de tensões das FBs externas UV7. Fonte: Autor. 118 Figura 12 – Capabilidade referente à distribuição de tensões das FBs externas UV15. Fonte: Autor. Figura 13 – Distribuição da deformação das FBs externas UV7. Fonte: Autor. 119 Figura 14 – Distribuição da deformação das FBs externas UV15. Fonte: Autor. Figura 15 – Distribuição do das FBs externas UV7. Fonte: Autor. 120 Figura 16 – Distribuição do das FBs externas UV15. Fonte: Autor. Figura 17 – Distribuição da tensão das FBs internas In Natura. Fonte: Autor. 121 Figura 18 – Distribuição da deformação das FBs internas In Natura. Fonte: Autor. Figura 19 – Distribuição do módulo de elasticidade das FBs internas In Natura. Fonte: Autor. 122 Figura 20 – Capacidade referente à distribuição das tensões das FBs internas In Natura. Fonte: Autor. Figura 21 – Distribuição da tensão das FBs internas 60h. Fonte: Autor. 123 Figura 22 – Distribuição da deformação das FBs internas 60h. Fonte: Autor. Figura 23 – Distribuição do módulo de elasticidade das FBs internas 60h. Fonte: Autor. 124 Figura 24 – Capabilidade referente à distribuição das tensões das FBs internas 60h. Fonte: Autor. Figura 25 – Distribuição da tensão das FBs internas UV7. Fonte: Autor 125 Figura 26 – Distribuição da deformação das FBs internas UV7. Fonte: Autor. Figura 27 – Distribuição do módulo de elasticidade das FBs internas UV7. Fonte: Autor. 126 Figura 28 – Capabilidade referente à distribuição das tensões das FBs internas UV7. Fonte: Autor. Figura 29 – Distribuição da tensão das FBs internas UV15. Fonte: Autor. 127 Figura 30 – Distribuição da deformação das FBs internas UV15. Fonte: Autor. Figura 31 – Distribuição do módulo de elasticidade das FBs internas UV15. Fonte: Autor. 128 Figura 32 – Capabilidade do processo da tensão das fibras internas UV15. Fonte: Autor. Figura 33 – Diferença entre as médias de tensão das FBs In Natura e 60h. Fonte: Autor. 129 Figura 34 – Relatório de diagnóstico do teste t-Student para as FBs externas In Natura e 60h. Fonte: Autor. 130 Figura 35 – Relatório de síntese do teste t-Student para as FBs externas In Natura e 60h. Fonte: Autor. 131 Figura 36 – Diferença entre as médias de tensão das FBs externas In Natura e UV7. Fonte: Autor. Figura 37 – Relatório de diagnóstico do teste t-Student para as FBs externas In Natura e UV7. Fonte: Autor. 132 Figura 38 – Relatório de síntese do teste t-Student para as FBs externas In Natura e UV7. Fonte: Autor. 133 Figura 39 – Diferença entre as médias de tensão das FBs externas In Natura e UV15. Fonte: Autor. 134 Figura 40 – Relatório de diagnóstico do teste t-Student para as FBs externas In Natura e UV15. Fonte: Autor. 135 Figura 41 – Relatório de síntese do teste t-Student para as FBs externas In Natura e UV15. Fonte: Autor. 136 Figura 42 – Diferença entre as médias de tensão das FBs internas In Natura e sob pressão por 60h. Tensão In Natura e 60h 350 300 Tensão (MPa) 250 200 150 100 50 0 In Natura 60h Fonte: Autor. 137 Figura 43 - Relatório de diagnóstico do teste t-Student para as FBs internas In Natura e sob pressão por 60h. Fonte: Autor. 138 Figura 44 – Relatório de síntese do teste t-Student para as FBs internas In Natura e sob pressão por 60h. Fonte: Autor. 139 Figura 45 – Diferença entre as médias de tensão das FBs internas In Natura e UV7. Tensão In Natura e UV7 140 Tensão (MPa) 120 100 80 60 40 20 In Natura UV7 Fonte: Autor. Figura 46 - Relatório de diagnóstico do teste t-Student para as FBs internas In Natura e UV7. Fonte: Autor. 140 Figura 47 – Relatório de síntese do teste t-Student para as FBs internas In Natura e UV7 .Fonte: Autor. Figura 48 – Diferença entre as médias de tensão das FBs internas In Natura e UV15. Tensão In Natura e UV15 140 120 Tensão (MPa) 100 80 60 40 20 0 In Natura UV15 Fonte: Autor. 141 Figura 49 - Relatório de diagnóstico do teste t-Student para as FBs internas In Natura e UV15. Fonte: Autor. 142 Figura 50 – Relatório de síntese do teste t-Student para as FBs internas In Natura e UV15. Fonte: Autor. 143 Figura 51 – Relatório de síntese do teste t-Student para FBs In Natura internas e externas. Fonte: Autor. 144 Figura 52 – Relatório de síntese do teste t-Student para FBs 60h internas e externas. Fonte: Autor. 145 Figura 53 – Relatório de síntese do teste t-Student para FBs UV7 internas e externas. Fonte: Autor. 146 Figura 54 – Relatório de síntese do teste t-Student para FBs UV15 internas e externas. Fonte: Autor.