INFLUÊNCIA DA COLAPSIBILIDADE DO SOLO NA CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS CURTAS, DO TIPO APILOADA, EXECUTADAS NO SOLO COLAPSÍVEL DE ILHA SOLTEIRA-SP. Ágatha Stela de Morais 1; Antonio Anderson da Silva Segantini 2 Resumo - A característica de colapsibilidade dos solos tem sido objeto de estudo no Campo Experimental da Unesp em Ilha Solteira. Em provas de carga à compressão com prévio encharcamento do solo, realizadas em estacas escavadas (D=25cm, L=6m), observou-se que houve redução de cerca de 50% na capacidade de carga. Sabe-se que grande parte da área do Estado de São Paulo é recoberta por solos com esta característica e as fundações normalmente utilizadas nesta região, para obras de pequeno e médio porte, são constituídas por estacas curtas, moldadas in loco, com comprimento geralmente inferior a 6m. Neste trabalho são apresentados resultados de provas de carga à compressão realizadas em três estacas moldadas in loco (D=20cm, L=4,5m), do tipo apiloada, ensaiadas com o solo na condição de umidade natural e também com encharcamento prévio. As provas de carga foram realizadas de acordo com as prescrições da NBR-6122/96, da ABNT. A análise dos resultados é feita em função das curvas obtidas nas duas situações, ou seja, com o solo em sua condição de umidade natural e com prévio encharcamento. Abstract - The characteristic of collapsibility of the soils has been study object in the Experimental Field of Unesp in Ilha Solteira. In load tests realized, with previous saturated of the soil, on bored piles, with diameter of 25cm and length of 6m, it was verified that there was reduction of 50% in the ultimate load. It is known that great part of the area of the São Paulo State is covered by soils with this characteristic and the foundations frequently used in this region, for the case of small constructions, are constituted by short piles, with length usually inferior to 6m. Results of six load tests realized in three piles foundation (D=20cm, L=4.5m) is presented in this works. It was realized three load tests with the soil in our natural condition and three with inundated soil. The analysis of the results is making in function of curves obtained in the two situations, with the soil in our natural humidity and with soil in the saturated condition. Palavras-Chave: Colapsibilidade, Fundações, Estacas. INTRODUÇÃO A colapsibilidade de um solo é caracterizada pela possibilidade de ocorrência de deslocamentos repentinos, de elevada magnitude, os quais geralmente estão condicionados à existência de carregamentos e aumento do teor de umidade do solo. Esta umidade, definida como limite ou crítica, é inferior à de saturação do solo. A determinação da carga de colapso, para um determinado tipo de fundação e perfil de subsolo, é de grande importância para o projeto de fundações. Em locais cujos solos sejam colapsíveis, a carga de ruptura por colapso do solo encharcado deverá necessariamente ser considerada como condição limite pelos projetistas. A sua determinação pode ser feita através da realização de provas de carga, inundando-se o solo antes ou durante a realização do ensaio. A NBR-6122/96 prescreve, para o caso de fundações apoiadas em solos porosos e não saturados, que se deve analisar a sua porosidade e colapso por encharcamento, pois essas características indicam a presença de solos colapsíveis. Devem ser evitadas, em princípio, a execução de fundações superficiais em solos com estas características. Segundo Cintra [1], a carga de colapso pode ser interpretada como a capacidade de carga, na umidade natural do solo, reduzida pela influência da sua inundação. Quanto mais significativa for essa redução mais susceptível ao colapso estará a fundação. São apresentados, neste trabalho, resultados de provas de carga realizadas em três estacas apiloadas, moldadas in loco, com 20cm de diâmetro e comprimento de 4,5 m. Foram realizados ensaios com o solo encharcado e também com o solo em sua condição de umidade natural. Na confecção das estacas foi adotado o procedimento de instalar um elemento de poliestireno expandido (EPS) no fundo dos furos para, desta forma, eliminar o efeito da resistência de ponta no início do ensaio. As provas de carga foram realizadas em conformidade com a NBR-6122/96, Estacas: provas de carga estática, da ABNT, através de ensaio com carregamento rápido (QML – Quick Maintained Load). OBJETIVOS Objetivou-se, com a realização deste trabalho, analisar o efeito da colapsibilidade do solo na capacidade de carga de estacas do tipo apiloada moldadas in loco. Não obstante, pretendeu-se contribuir com o meio técnico através da obtenção e divulgação de dados e informações importantes no que diz respeito ao comportamento, projeto e execução de estacas curtas, submetidas a pequenas cargas, em solos colapsíveis. Buscou-se, ainda, contribuir no sentido de 1 Mestranda em Engenharia Civil, Unesp, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Departamento de Engenharia Civil. Alameda Bahia 550, cep 15385.000 – Ilha Solteira – SP. Fone (18) 3743 1115, FAX (18) 3743 1060, [email protected] 2 Professor Assistente Doutor em Engenharia Civil, Unesp, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Departamento de Engenharia Civil. Alameda Bahia 550, cep 15385.000 – Ilha Solteira – SP. Fone (18) 3743 1115, FAX (18) 3743 1060 [email protected] proporcionar maior segurança na execução de obras de pequeno porte, reduzindo custos de retrabalho para reforço de fundações ou restauração de partes danificadas das edificações, em razão da ocorrência de recalques de fundação causados pela influência da colapsibilidade do solo. Pretende-se que as informações disponibilizadas se constituam em ferramentas importantes para o dimensionamento dos elementos de fundação e sirvam de alerta para situações de risco, muitas vezes negligenciadas pelos construtores, seja por falta de informação ou informações incorretas a respeito do comportamento das fundações em solos colapsíveis. REVISÃO DE LITERATURA Ocorrência de colapso Os requisitos básicos para a ocorrência do colapso em solos naturais são os seguintes: estrutura porosa, caracterizada por elevado índice de vazios; e condição de não saturado, representada por baixa umidade. O fenômeno da colapsibilidade vem sendo estudado nos últimos trinta e cinco anos por diversos pesquisadores, entre eles Dudley [2], Feda [3] e Gibbs e Bara [4]. Sultan [5] enumera uma série de possibilidades e circunstâncias nas quais se pode ter a ocorrência de colapso: 1) Alguns solos, com o aumento do seu grau de saturação, sofrem colapso instantaneamente. Observou-se isso tanto para formações superficiais quanto para formações profundas. 2) Alguns solos sofrem colapso após o rebaixamento do nível d’água. A retirada da água do subsolo provoca o rebaixamento do lençol freático e, em função do peso do solo sobrejacente, as camadas profundas têm suas tensões efetivas aumentadas, causando o colapso do esqueleto sólido. Situações similares têm ocorrido em campos de petróleo, devido ao seu bombeamento; 3) Alguns solos sofrem expansão após a saturação e, depois da aplicação das cargas externas, sofrem recalques substanciais; 4) Alguns solos loéssicos têm mostrado aumento na magnitude e na velocidade de colapso, com o aumento das cargas aplicadas; 5) Algumas areias de origem eólica, com o aumento das cargas aplicadas, têm mostrado uma diminuição na velocidade de recalque; 6) Alguns solos não recuperam, ao longo do tempo, nenhuma parcela do volume perdido, enquanto outros recuperam alguma parcela com o passar do tempo, mesmo quando suportando a carga que provocou o colapso. Segundo Cintra [1], o solo colapsível apresenta uma estrutura instável, porém com uma rigidez temporária mantida pela pressão de sucção. Diante do aumento da umidade este estado é instável, pois quando este ultrapassa o limite crítico acontece o colapso, desde que a carga atuante também esteja acima de um certo limite. Portanto o aumento da umidade é o mecanismo que aciona o fenômeno do colapso. Segantini [6] apresenta as curvas de colapso obtidas em ensaios realizados com amostras indeformadas, coletadas em um poço de inspeção escavado no Campo Experimental da Unesp em Ilha Solteira-SP. Segundo Vargas [7], são considerados colapsíveis os solos que apresentem índice de colapso i > 0,02, indicando que o solo em estudo, dependendo da pressão aplicada, é considerado colapsível até 7m de profundidade. Apresenta-se, através da Figura 1, as curvas de colapso obtidas. Pressão de inundação (kPa) 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 0 1 Colapso (%) 2 3 4 5 6 7 8 9 1m 2m 3m 5m 7m Fonte: Segantini [6] Figura 1. Curvas de colapso a várias profundidades. 9m 11 m Mecanismos da colapsibilidade De acordo com Clemence [8] o solo estará propenso à ocorrência da colapsibilidade, desde que possua uma estrutura altamente porosa, em situação de equilíbrio meta-estável entre as partículas maiores. Entende-se por equilíbrio meta-estável o estado em que um sistema pode permanecer, apesar de não ser estável nas condições físicas em que se encontra. Essa estrutura é mantida pela presença de algum vínculo capaz de conferir ao solo uma resistência adicional temporária. Segundo Dudley [2] e Uriel e Serrano [9], a redução da ação dos mecanismos de suporte quando, da introdução de algum agente, geralmente a água, pode ocasionar uma situação de desequilíbrio. Isto faz com que os grãos se deslizem em direção aos espaços vazios, provocando o colapso da estrutura do solo. Outro fator responsável pelo aumento temporário da resistência do solo, segundo Reginato e Ferrero [10], é a presença de agentes cimentantes, fazendo com que os grãos permaneçam em sua posição e proporcionem uma estrutura razoavelmente densa. A cimentação, porém, pode ser desfeita em função da natureza das substâncias dissolvidas na água e da solubilidade do cimento envolvido. Embora exista certo consenso entre pesquisadores de que o principal causador do colapso é a presença da água, tem-se também que a simples variação das pressões aplicadas ao solo pode determinar uma situação crítica. Esse fenômeno, de acordo com Uriel e Serrano [9], pode ser interpretado como a ruptura dos vínculos existentes entre as partículas maiores e pode acontecer quando a resistência ao cisalhamento dos vínculos é superada pelas tensões induzidas pelos carregamentos. A ação da água, ocasionando a colapsibilidade, conforme Vilar [11], pode ocorrer de duas maneiras: eliminando as forças capilares que, ao incrementar as tensões efetivas, proporcionam uma resistência adicional temporária à massa dos solos; ou diminuindo a resistência dos vínculos existentes entre as partículas maiores, e ainda reduzindo parcialmente ou eliminando por completo a cimentação entre os grãos, proporcionada pelos carbonatos e outros sais solúveis. Solos colapsíveis Cintra [1] cita que provavelmente o primeiro registro histórico da ocorrência deste fenômeno tenha sido o acontecido em uma escola ucraniana, com fundações em solo do tipo loess. Após ter sofrido um incêndio a referida escola apresentou inclinação acentuada, necessitando inclusive de escoramento. O autor acrescenta que a água lançada pelos bombeiros para apagar o fogo, infiltrando-se no solo, provocou o colapso de uma parte da construção e o desaprumo. No Brasil, a constatação e a investigação do comportamento de solos colapsíveis tem acontecido desde a década de 60, durante a construção das grandes barragens na região Centro-Sul, em locais de ocorrência de solos superficiais porosos e, portanto, sujeitos a eventuais recalques repentinos durante a fase de enchimento dos reservatórios. As regiões tropicais apresentam condições flagrantes para o desenvolvimento de solos colapsíveis, quer pela lixiviação de finos dos horizontes superficiais, nas regiões onde se alteram estações de relativa seca e de precipitações intensas, ou pelos solos com deficiência de umidade que se desenvolvem em regiões áridas e semi-áridas. Em alguns solos o colapso pode ocorrer pela adição de água, enquanto que em outros o mesmo pode acontecer quando as tensões aplicadas superam um valor limite situado abaixo da tensão de ruptura do solo. No Brasil, de acordo com Souza [12], solos porosos colapsíveis de origem coluvionar, aluvionar ou mesmo de alteração de rocha, abrangem consideráveis áreas da região sudeste, nordeste e centro-oeste, ocorrendo com espessuras que variam de 1m a 20m. A porosidade é geralmente atribuída a intenso processo de lixiviação, causado por estações chuvosas e secas, bem definidas e alternadas. Apesar de bastante compressíveis, os maiores problemas que envolvem as obras de engenharia civil estão relacionados aos elevados colapsos que ocorrem quando estes solos são inundados. Na última década, grandes avanços vêm sendo conseguidos no conhecimento do fenômeno do colapso em razão da construção de canais de irrigação e usinas hidrelétricas em todo o Brasil, usinas das quais suas bacias de armazenamento inundam milhares de quilômetros quadrados de solos porosos, cujo comportamento tem relação direta com as obras de engenharia sujeitas à elevação imposta ao lençol freático. Fundações no Interior do Estado de São Paulo Albiero et al. [13] citam que no interior do Estado de São Paulo praticamente todos os tipos de fundação profunda têm sido utilizados. Em obras de maior porte, usa-se tubulões a céu aberto, estacas Franki, estacas prémoldadas e estacas metálicas. Existem casos de obras em que se pratica o rebaixamento do lençol freático para possibilitar o uso de tubulões a céu aberto. Em situações em que se têm cargas elevadas e lençol freático próximo à superfície, impossibilitando o uso de tubulões a céu aberto, tem-se utilizado as estacas escavadas com lama bentonítica e mesmo estacas pré-moldadas com pré-furo. Para obras de médio e pequeno porte, tem-se utilizado tubulões a céu aberto, estacas pré-moldadas, estacas escavadas sem lama bentonítica, estacas do tipo Strauss e estacas apiloadas. Na maioria das cidades do interior do Estado, as fundações mais utilizadas para obras de pequeno porte são as do tipo Strauss, as estacas apiloadas, as brocas mecanizadas e as brocas manuais. O autor chama atenção para a denominação errônea de Strauss para estacas executadas com a simples queda de um pilão, não havendo uso da camisa de revestimento e nem da sonda para a retirada do solo, pois esse, na verdade, sofre deslocamento. A esse tipo de fundação, atribui-se a denominação de estaca apiloada. Ferreira et al. [14] estudaram a influência da colapsibilidade, concluindo que, além do teor de umidade, também a heterogeneidade do solo pode ter influência na magnitude dos colapsos. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO Este trabalho foi desenvolvido no Campo Experimental da Faculdade de Engenharia da Unesp em Ilha Solteira, onde foram realizadas provas de carga do tipo rápido, em três estacas apiloadas, sendo a abertura dos furos executada com auxílio de um pilão de 5kN. Estas estacas foram confeccionadas com 20cm de diâmetro e 4,5m de comprimento, recebendo blocos de transição com dimensões de 55cm x 55cm x 55cm, ancorados às estacas por quatro barras de aço de 8mm. Colocou-se, no fundo de cada furo, um elemento de EPS – Expanded Poly Styrene - com espessura de 50mm e diâmetro igual ao do fuste das estacas. Objetivou-se, com este procedimento, eliminar a influência da ponta da estaca no início do ensaio, obtendo-se assim leituras de deslocamento associadas apenas a parcela de atrito lateral. O sistema de reação, já existente no local, constituiu-se de estacas do tipo escavada, confeccionadas com diâmetro de 25cm e comprimento de 6m, as quais foram ancoradas a uma viga metálica por intermédio de tirantes Dywidag. As estacas de reação receberam concreto armado em todo o seu comprimento. Foram utilizados tirantes Dywidag de rosca contínua e diâmetro igual a 32mm, além de porcas, placas e luvas, todos fabricados com aço especial ST-85/105. ANÁLISE DOS RESULTADOS As cargas de ruptura foram obtidas por meio de provas de carga do tipo rápida, seguindo-se as recomendações da NBR-12131, Estacas: Provas de Carga Estática. Os ensaios foram realizados com a aplicação de carregamentos equivalentes a 1/20 da carga máxima prevista para o ensaio, em estágios de 5 minutos. O encharcamento foi feito através da saturação do solo por intermédio de uma vala com 50cm de profundidade, na qual foram confeccionados quatro drenos com diâmetro de 10cm e profundidade de 3m. Foram realizadas duas provas de carga em cada estaca, sendo a primeira com o solo na condição natural e a segunda com prévio encharcamento. O primeiro ensaio foi conduzido de modo a se obter deslocamentos no topo das estacas da ordem de 100mm. No segundo ensaio, com encharcamento, as provas de carga foram conduzidas até a ruptura. Considerou-se como carga de ruptura, durante a realização dos ensaios, aquela na qual, dada a grande velocidade dos deslocamentos, não se conseguia mais manter a carga constante por intermédio da ação do macaco hidráulico. Na Tabela 1 são apresentados os valores de cargas máximas aplicadas e respectivos recalques. Através das Figuras 1, 2 e 3 são apresentadas as curvas carga × deslocamento obtidas com o solo na condição natural e com o solo saturado. Carga (kN) 0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 Recalque (mm) 60 80 100 120 140 Solo Natural Solo Saturado 160 180 Figura 2. – Carga × recalque da estaca 01. 140 Carga (kN) 0 20 40 60 80 100 120 140 0 20 40 Recalque (mm) 60 80 100 120 140 Solo Natural Solo Saturado 160 180 Figura 3. – Carga × recalque da estaca 02. Carga (kN) 0 20 40 60 80 100 0 20 40 Recalque (mm) 60 80 100 120 Solo Natural 140 Solo Saturado 160 180 Figura 4. – Carga × recalque da estaca 03. 120 140 Tabela 1 – Cargas máximas e recalques Solo natural Solo saturado Estacas Carga última (kN) Recalque (mm) Carga última (kN) Recalque (mm) 01 130 127 90 44 02 100 95 90 34 03 125 108 90 43 A curva carga × recalque da estaca 01, apresentada na Figura 1, obtida no ensaio sem encharcamento do solo, indica que a carga máxima aplicada foi de 130kN, com recalque de 127mm, havendo manifestação da resistência de ponta após a aplicação da carga de 75kN e recalque de 62mm. No ensaio com encharcamento a ruptura aconteceu após a aplicação da carga de 90kN, com recalque de 44mm. A carga máxima obtida com o solo saturado representa cerca de 70% da carga máxima aplicada com o solo na condição natural. Para a estaca 02, Figura 2, no ensaio com o solo na condição de umidade natural, atingiu-se carga máxima de 100kN, com recalque de 95mm, havendo manifestação da resistência de ponta após a aplicação da carga de 55kN e recalque de 34mm. No ensaio com o solo encharcado a ruptura aconteceu após a aplicação da carga de 90kN. No caso da estaca 03, Figura 3, no ensaio com o solo na condição de umidade natural, atingiu-se carga máxima de 125kN, com recalque de 108mm. A manifestação da resistência de ponta ocorreu após a aplicação da carga de 75kN, com recalque de 66mm. Já com o solo encharcado, a ruptura se manifestou após a aplicação da carga de 90kN, valor este que representa cerca de 63% da carga máxima aplicada com o solo na condição natural. Em todos os ensaios com o solo encharcado, após a aplicação e manutenção da carga máxima, observou-se ocorrência de deslocamentos consideráveis, razão pela qual admitiu-se esta como sendo a carga de ruptura. Em vista dos resultados obtidos, e analisando a configuração das curvas, observa-se que a ruptura destas estacas, em solos colapsíveis, na condição de encharcamento do solo, acontece de forma brusca e repentina. A determinação das cargas admissíveis deve ser feita em função das situações mais críticas. Para solos colapsíveis, portanto, havendo possibilidade de encharcamento dos elementos de fundação, o fenômeno da colapsibilidade não pode ser ignorado. De acordo com a NBR-6122/96, a carga admissível (PADM) deve ser determinada através da aplicação de um coeficiente de segurança à carga de ruptura (PR), que pode ser obtida por meio de fórmulas ou experimentalmente, com a realização de provas de carga. A partir do valor de PR, determinado experimentalmente, a carga admissível deve ser obtida mediante a aplicação de um coeficiente de segurança (CS) adequado, não inferior a 2. Além disto, no caso específico de estacas escavadas, a resistência por atrito lateral (PL) na ruptura não pode ser inferior a 80% da carga de projeto utilizada. No caso em estudo, para a estaca 01, por exemplo, obteve-se PR = 130kN na ruptura, donde, aplicando-se coeficiente de segurança CS=2, obtém-se PADM = 65kN. Na prova de carga realizada com o solo encharcado, para esta mesma estaca, obteve-se PR = 90kN, valor este bastante próximo do obtido para a carga admissível com o solo na condição de umidade natural. Fica, portanto, evidente a necessidade de se considerar este fenômeno no dimensionamento de fundações apoiadas sobre solos que apresentem esta característica. Observando-se as Figuras 1, 2 e 3, nas curvas referentes às provas de carga com o solo em sua condição de umidade natural, nota-se que em todas elas a inflexão se deu após a ocorrência de recalques superiores a 50mm. Isto pode significar que, antes da inflexão, estava ocorrendo esmagamento do EPS deixado no fundo da estaca e que somente após isto é que começou a ocorrer resposta da ponta da estaca. Analisando a curva da estaca 01, a carga que provocou a inflexão foi de 75kN, com recalque acumulado de 62mm, observando-se, no decorrer do ensaio, grande dificuldade para se manter constante a carga aplicada. Logo, conclui-se que houve ruptura. Admitindo-se que não havia resistência de ponta, isto implica que a carga de 75kN, que provocou a ruptura, representa a parcela relativa ao atrito lateral. Após o esmagamento do EPS, observa-se a manifestação da resistência de ponta, através da inflexão da curva. O ensaio foi conduzido até a carga de 130kN, quando novamente aconteceram deslocamentos consideráveis, havendo dificuldade em se manter constante a carga aplicada. Esta mesma análise pode ser feita para as outras estacas. As cargas máximas aplicadas, no ensaio com o solo na condição de umidade natural, foram de 130kN para a estaca 01, 100kN para a estaca 02 e 125kN para a estaca 03, obtendo-se em média o valor de 120kN. Nos ensaios com encharcamento solo, a carga máxima aplicada em todas as estacas foi de 90kN. Este valor, em média, corresponde a 75% das cargas máximas aplicadas com o solo na condição de umidade natural. Nas situações mais críticas, representadas pelas estacas 01 e 03, a mesma relação corresponde a 69%. CONCLUSÕES Após a análise dos resultados, conclui-se: a saturação do solo influenciou de forma considerável a capacidade de carga das estacas em estudo. Nas situações mais críticas, representadas pelas estacas 01 e 02, a carga de ruptura correspondeu a 69% da obtida com o solo na condição de umidade natural; a utilização do EPS com espessura de 50mm possibilitou a condução das provas de carga até a ruptura, sem influência da resistência de ponta, obtendo-se, na ruptura, no caso da estaca 01, carga correspondente ao atrito lateral igual a 75kN, sendo que após o esmagamento do EPS a carga de ruptura foi de 130kN; o fenômeno da colapsibilidade deve ser um item obrigatório na hora de se dimensionar elementos de fundação apoiados sobre solos colapsíveis; atenção especial deve ser dispensada aos projetos de maneira geral, inclusive através da adoção de medidas preventivas, considerando-se tubulações de fácil acesso, que permitam inspeção e verificação imediata de qualquer vazamento, execução de sistemas de escoamento de águas pluviais em locais não próximos aos elementos de fundação e inspeções periódicas em reservatórios. AGRADECIMENTOS Os autores expressam seus agradecimentos a FUNDUNESP – Fundação para o Desenvolvimento da Unesp e a UNESP - Universidade Estadual Paulista pelo apoio recebido. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] CINTRA, J.C.A., Fundações em solos colapsíveis, Projeto Reenge, EESC-USP, São Carlos-SP, 1998, 116p. [2] DUDLEY, J. H., Review of Collapsing Soils, Journal of the Soil Mechanics and foundation Division, volume 96, 1970, p 925-947. [3] FEDA, J. Structural stability of subs dent loess from Preha-Djvice, Engenharia de Geologia, volume 1, nº 3, 1966, p. 201-219. [4] GIBBS, H. J. & BARA, J. P., Stability problems of collapsing soil, Journal of the Soil Mechanics and Foundation Division, vol.93, 1967, p. 577-594. [5] SULTAN, H. A., Foundation failures on collapsing soils in the Tucson, Arizona Area, In: International residual and Engineering Conference on Expansive Clays, 2, Anais. ..., 1969, Texas A&M, pp.394-403. [6] SEGANTINI, A. A. 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