Eficiência Energética no Sector Empresarial Indíce Ficha Técnica: 1. Enquadramento 2. A energia no sector empresarial 2.1. O sector energético protuguês 2.2. Energia e competitividade 05 06 06 09 3. Gestão de energia 3.1. A gestão de energia 3.2. Processo de gestão de energia 3.3. A auditoria energética e os seus objectivos 3.4. Os diferentes tipos de auditorias energéticas 3.5. Implementação de um plano de racionalização dos comsumos de energia (PRCE) 3.6. Gestores de energia – a sua formação e a sua função 11 11 12 13 14 4. Eficiência Energética 4.1. Mercados de energia 4.1.1. Electricidade 4.1.2. Gás Natural 4.2. Análise das facturas energéticas 4.2.1. Energia eléctrica 4.2.2. Gás natural e gases de petróleo liquefeitos 4.3. Lista de medidas e boas práticas energéticas 4.3.1. Equipamento de escritório 4.3.2. Iluminação 4.3.3. Aquecimento, ventilação e ar condicionado (AVAC) 4.3.4. Processo de calor e frio 4.3.5. Sistemas de ar comprimido 4.3.6. Sistemas de vapor 4.3.7. Motores eléctricos 4.3.8. Transformadores 4.3.9. Factor de potência 4.4. A quem recorrer para uma análise completa e detalhada 17 17 17 19 19 19 21 22 22 22 23 24 24 24 25 25 26 26 5. Financiamento de projectos de eficiência energética 5.1. Financiamento próprio 5.2. Financiamento bancário 5.3. Capital de risco e Business Angels 5.4. Programas de apoio 5.4.1. MAPE 5.4.2. SIME 5.5. Energy Service Companies 27 27 27 27 27 27 28 28 6. Critérios de Avaliação de Projectos 6.1. Retorno Simples do Investimento 6.2. Valor Actual Líquido 6.3. Taxa Interna de Rendimento 29 29 29 29 7. Casos de estudo 30 8. Conclusões 33 9. Referências 34 10. Bibliografia 35 15 16 Sumário 04 1. Enquadramento 05 Numa sociedade que se apresenta cada vez mais competitiva, devido à inovação empresarial Em mercados que se apresentam cada vez mais concorrenciais e com uma dimensão global, e à abertura de novos mercados, as empresas portuguesas vêem-se confrontadas com a é extremamente importante que todos os factores de produção sejam optimizados para necessidade de tomar medidas urgentes que garantam a sua sustentabilidade. que se criem vantagens competitivas perante os concorrentes. As actividades de gestão de As actividades de gestão de energia na indústria, mesmo quando com recurso a serviços energia nas empresas permitem alcançar melhores níveis de eficiência energética, podendo externos de consultoria, são na maioria dos casos iniciativas de elevada rentabilidade e de resultar numa redução dos custos associados à utilização de energia na actividade normal retorno efectivo num curto período de tempo. A própria alteração de processos ou tecnologias, da empresa. A gestão de energia deve ser encarada com a mesma importância que todos que requerem investimentos, apresentam taxas de rentabilidade interessantes para a maioria os outros processos de gestão afectos à actividade. As economias de energia proporcionadas dos empresários. O que se torna necessário é divulgar localmente junto dos empresários por um bom sistema de gestão conduzem a uma redução da factura energética e, as vantagens deste tipo de iniciativas, apresentando casos de sucesso, metodologias de consequentemente, a uma redução dos custos de produção ou dos serviços, aumentando trabalho que sejam perceptíveis e acima de tudo soluções práticas para resolução de a competitividade da empresa. problemas. Numa perspectiva mais abrangente pretende-se também demonstrar o enquadramento da Nesse sentido, a equipa da ENERGAIA, no âmbito do projecto eds.NORTE – Energia e eficiência energética numa política de eco-eficiência, que se apresenta como a política Desenvolvimento Sustentável para a Região Norte, propôs-se ao desenvolvimento do presente modelo de uma empresa de futuro. Tal como é definida pelo Conselho Empresarial para manual com o objectivo de fazer chegar aos empresários da Região Norte de Portugal, o Desenvolvimento Sustentável [1], “a eco-eficiência atinge-se através da oferta de bens e conceitos, metodologias e ferramentas que podem ser utilizados para iniciar um processo serviços a preços competitivos, que, por um lado, satisfaçam as necessidades humanas e de gestão de energia na empresa. contribuam para a qualidade de vida e, por outro, reduzam progressivamente o impacto ecológico e a intensidade de utilização de recursos ao longo do ciclo de vida, até atingirem O documento encontra-se estruturado segundo 8 capítulos, sendo que, no primeiro capítulo um nível, que, pelo menos, respeite a capacidade de sustentação estimada para o planeta se faz um breve enquadramento da eficiência energética num contexto de eco-eficiência, Terra”. Trata-se, portanto, de criação de mais valor com menor impacto. Não se limitando assim como o seu papel nas actividades de uma empresa. No segundo capítulo faz-se uma a fomentar melhorias da eficiência em hábitos e práticas já existentes, a eco-eficiência breve descrição do papel da energia no sector empresarial. O exposto no terceiro capítulo destaca-se pelo apelo à criatividade e inovação na procura de novas formas de actuar. recai sobre os processos de gestão de energia, com breve descrição dos seus principais pontos. O capítulo quarto explora o conceito de eficiência energética, apresentando medidas A eficiência energética representa um dos ramos da eco-eficiência, e entende-se como sendo e acções que podem ser efectuadas no sentido de optimizar a utilização de energia na um conjunto de acções que visam a melhor utilização e aproveitamento da energia disponível, empresa. No quinto capítulo pretende-se expor as principais formas de obtenção de contribuindo de forma significativa para a redução das emissões poluentes e para a redução financiamento para projectos de eficiência energética que exijam investimentos iniciais do uso de recursos naturais. Reflecte-se ainda numa possibilidade, talvez a mais importante elevados, complementando a informação no sexto capítulo com os principais critérios de para uma empresa do ponto de vista económico, a redução da factura energética. avaliação de viabilidade económica de um projecto. No sétimo capítulo são apresentados alguns casos de sucesso de empresas que implementaram medidas de eficiência energética, As oportunidades de racionalização de consumos, e a subsequente libertação de capital, na perspectiva de se demonstrarem alguns pontos de actuação. Finalmente no oitavo não devem ser vistas pelos empresários unicamente apenas como uma forma de aumentarem capítulo apresentam-se as principais conclusões. os lucros mas também como uma oportunidade para investimento em áreas fundamentais ao sucesso, como a qualidade ou a formação. 2. A energia no sector empresarial 06 07 Extremamente limitado no que respeita a recursos energéticos fósseis, em especial do 2.1. O sector energético português petróleo e gás natural, Portugal, encontra-se numa posição de elevada vulnerabilidade face Após a revolução industrial, as necessidades energéticas das sociedades em geral, têm sofrido às variações do preço do petróleo nos mercados mundiais. Por esse motivo urge a necessidade um crescimento que tem sido alimentado essencialmente com recurso à utilização de de controlar a situação do País reduzindo a dependência energética face ao exterior. Esta combustíveis fósseis como o carvão, o petróleo e mais recentemente o gás natural. A necessidade apresenta cada vez mais relevo com a subida do preço do petróleo nos mercados utilização dos combustíveis fósseis permitiu um rápido crescimento empresarial e da melhoria mundiais, que a preços nominais quadruplicou desde 1986 [3]. Entre as razões possíveis da qualidade de vida das populações. Com um valor irrefutável, tratou-se do elemento para a subida do preço do barril de petróleo encontram-se a crise ou instabilidade política condutor que permitiu atingir o nível de vida actual dos países industrializados. Não obstante, em países grandes produtores como a Venezuela, a Nigéria, a Arábia Saudita ou o Iraque, a sua utilização é responsável por constrangimentos ambientais e económicos, resultado e por outro lado países como a China ou a Índia que têm registado um elevado crescimento de elevadas emissões de gases de efeito de estufa e da dependência económica resultado demográfico e económico, resultando em elevados consumos de energia. No ano 2004 a das importações. procura de energia à escala mundial cresceu 2,2% face a 2003 [4], pertencendo à China uma grande parte desse crescimento. O consumo de energia em Portugal tem sentido um aumento generalizado desde o ano de 1971 até ao corrente ano, com taxas de crescimento superiores à média Europeia. Tal Em Portugal, os sectores dos transportes e da indústria transformadora são responsáveis facto fica-se a dever à aproximação gradual de Portugal às médias Europeias nos mais pelo maior volume de consumo de energia final. O sector empresarial, considerando diversos sectores de actividade da sociedade. indústrias e empresas de serviços, são responsáveis pelo consumo de cerca de 41% da energia final total consumida em Portugal. Muito embora Portugal apresente níveis consideráveis de recursos hídricos e florestais, a estrutura de consumo, quer na forma quer na quantidade, não impede que Portugal Serviços 12% apresente uma dependência energética externa superior a 85%, consequência da não Agricultura Indústrias e Pescas Extractivas 1% 2% Indústrias Transformadoras 28% existência de recursos energéticos tradicionais em território nacional (petróleo, gás natural e carvão). As consequências deste cenário são, de todos os pontos de vista, prejudiciais à economia nacional, impondo enormes restrições ao nível da política energética, da segurança Sector Doméstico 16% do abastecimento e contribui para o desequilíbrio da balança comercial. Gás 10% Construção e Obras Públicas 4% Hídrica 3% Renováveis e Biomassa 11% Transportes 37% Figura 2 – Distribuição dos consumos de energia final nos diversos sectores. [Fonte – DGGE, 2003] Petróleo 63% Portugal é caracterizado por elevada intensidade energética final, apresentando valores superiores aos outros Estados-Membros da União Europeia (UE 15). Representando a quantidade de energia final, em toneladas equivalentes de petróleo, necessária para produzir uma unidade Carvão 13% de riqueza, num determinado território, a intensidade energética representa um indicador que é reflexo da conjugação de vários factores, entre os quais se destacam a eficiência energética, a estrutura das actividades económicas e o clima de cada País ou Região. Figura 1 – Oferta de energia primária em Portugal em 2002 [Fonte - DGGE] 08 09 É necessário, portanto, actuar a nível da eficiência energética, de forma a ser possível reverter Estas estratégias podem passar pelo aumento da eficiência energética, aumento do recurso a esta situação. É nesse sentido que o “Programa de Actuação para Reduzir a dependência fontes de energia renováveis e a métodos de fixação de CO2, nomeadamente através da de Portugal face ao Petróleo”, apresenta como um dos principais objectivos uma redução plantação de grandes áreas verdes capazes de absorver o dióxido de carbono, diminuindo as em 20% da intensidade energética até ao ano de 2010. A ineficiência energética aliada à quantidades lançadas para atmosfera que serão causadoras da aceleração do efeito de estufa. dependência de combustíveis de origem fóssil, que no caso português, tal como referido, Em particular, a aposta nas várias fontes de energia renovável permite suprir as necessidades são importados, conduz a economia do País a um estado de fragilidade competitiva. Esta energéticas actuais e futuras, de uma forma menos penalizadora a nível ambiental, realidade pode ser minorada ou ultrapassada com a tomada de medidas urgentes capazes contribuindo desse modo para um aumento do nível de qualidade de vida das populações. de inverter a situação, nomeadamente, a utilização racional de energia e o recurso a energias Mais do que uma alternativa, as fontes de energia renovável têm tendência para representar, renováveis. num futuro próximo, a principal fonte de produção de energia. Portugal apresenta um elevado potencial de produção de energia a partir de fontes renováveis, O lançamento de programas de incentivo, informação ou apoio directo às organizações, no entanto, no nosso País verifica-se que nos processos industriais apenas cerca de 7,2% em última análise, serve os objectivos prioritários do estado, tanto no que diz respeito à (em média) [5] de energia consumida é de fontes renováveis. Um valor bastante baixo política energética como ao desenvolvimento económico. quando comparado com os níveis apresentado em países como a Suécia e a Finlândia com 31,3% e 30,8%, respectivamente [5]. 2.2. Energia e competitividade O caso de Portugal é de tal forma paradigmático que a política energética, ao considerar o crescimento do consumo, mais não pode fazer do que assegurar que existe uma diversificação Os impactos da política energética podem ser analisados sob o ponto de vista da economia das fontes de energia e das origens dessas mesmas fontes, tendo em vista a segurança do nacional ou do ponto de vista das organizações. As relações e as semelhanças entre ambas abastecimento energético. É certo que a política energética aposta igualmente no aumento as análises são claras e os factores de competitividade praticamente comuns ou estritamente da produção nacional, nomeadamente através das fontes de energia renováveis, mas apenas relacionados. como factor limitativo do crescimento da dependência, já que essa produção nacional adicional é em parte anulada pelo crescimento do consumo. A grande aposta para a O problema da gestão de energia ao nível das organizações relaciona-se profundamente diminuição da dependência externa deverá ser então a gestão da procura de energia, com um conjunto de factores mais vastos que influenciam o seu desempenho global. Estes contrariando a tendência de crescimento económico à custa de um aumento do consumo factores, muitas vezes resultado da ausência de cultura ou valores organizacionais, tais como de energia. a eficiência, a responsabilidade, a inovação ou o empreendedorismo, têm como resultado que a gestão eficaz dos recursos não seja considerada como um factor essencial ao No que diz respeito às emissões de gases de efeito de estufa e segundo dados de 2002 a União funcionamento e desempenho da organização. Mais do que dificultar a acção sob o tema Europeia gerou 3989 milhões de toneladas de Dióxido de Carbono (CO2) provenientes da em estudo, estes factores apresentam implicações mais profundas ao nível da competitividade produção de energia a partir de fontes fósseis, o que representa 14% do total mundial. [2] das organizações. O CO2 acelera o processo natural de efeito de estufa. Este processo ocorre devido a reacções químicas preconizadas pela presença de compostos na atmosfera. Apesar de o processo A convicção de que a gestão de energia é uma prática fundamental à competitividade das natural ser necessário à permanência de vida na Terra, a sua amplificação conduz a um organizações nacionais, sejam estas públicas, ou privadas, do sector industrial e dos serviços, descontrolo do ciclo normal do planeta, originando alterações climáticas que se reflectem justifica-se não só pelas oportunidades de redução de despesas mas principalmente pela no aumento da temperatura média, no aumento do nível das águas do mar e degelo de capacidade indutora que a eficiência energética impõe à eficiência global da organização. glaciares, entre outros. No sentido de controlar este fenómeno foi constituído o Protocolo de Quioto, tratando-se No que diz respeito à estrutura do sector industrial nacional, este é caracterizado por um de um acordo internacional entre diversos países, que visa a diminuição substancial das elevado número de indústrias transformadoras de pequena dimensão e por um conjunto concentrações dos principais gases de efeito de estufa. Cada país é responsável pela elaboração reduzido de grandes empresas, sendo estas últimas de elevada intensidade energética. Este de estratégias que permitam atingir as metas impostas. cenário dificulta sobremaneira a capacidade de agir sobre a gestão de energia no sector industrial. 10 11 Se por um lado as grandes empresas são estruturalmente intensivas ao nível energético É esta visão de empreendorismo e de oportunidade que se requer para os actores da que, não invalidando a existência de potencial de poupança, dificultam a alteração do economia nacional. Não ver somente as oportunidades de redução de custos energéticos panorama nacional dado o seu peso global, as pequenas empresas são geralmente fruto como um aumento de lucro mas como oportunidades de investimento e melhoria contínua. de negócio familiar, que não retirando o seu elevado mérito, apresentam dificuldades em abraçar novas iniciativas e oportunidades, mais não seja pela rentabilidade das iniciativas Adicionalmente, o enquadramento das energias renováveis nas empresas representa também face à dimensão da organização. Nesse sentido, a introdução de práticas de utilização uma oportunidade de diferenciação positiva no mercado global. O recurso a energias racional de energia deverá ser um processo paralelo à modernização das indústrias renováveis implica um investimento inicial, variável de acordo com o tipo de tecnologia e portuguesas, acompanhada por uma alteração da cultura empresarial das entidades patronais dimensão do projecto. Por esse motivo é aconselhável recorrer a técnicos especializados portuguesas e da formação dos trabalhadores. Só desta forma será possível tirar partido das para se obter um estudo correcto de viabilidade técnico-económica. vantagens que a gestão de energia tem para oferecer às organizações nacionais. A comparação de indicadores relacionados com a energia, tais como os consumos específicos, Ao Estado cabe o papel de analisar esta questão com a consideração de todas as o custo de energia, a emissão de gases nocivos, medidas de eficiência energética adoptadas, particularidades existentes, promovendo iniciativas e recorrendo ao apoio directo aos permite um posicionamento da empresa no mercado global. A comparação destes índices empresários que queiram voluntariamente iniciar práticas de gestão de energia. Em paralelo, entre empresas do mesmo sector permite a geração de vantagens competitivas para as deverá conjugar esforços no sentido de apertar os limites a partir dos quais as organizações empresas e possibilita também que se posicionem face aos seus mais sérios concorrentes sejam obrigadas a implementar planos de racionalização de energia ou a integrar fontes ou às empresas líderes. A identificação de áreas dentro das empresas que carecem de de energias renováveis. O Estado Português deve ter em consideração os benefícios directos desenvolvimento e inovação também pode ser considerada uma mais valia deste tipo de e indirectos para a economia nacional, subjacentes à melhoria do desempenho energético práticas. das organizações portuguesas. Esta análise permitiria avaliar de uma forma racional a justificação ou não do lançamento de novos programas de apoio à gestão da procura de A dinâmica do benchmarking revela a necessidade de alargar e consolidar o trabalho energia. desenvolvido, no sentido de garantir uma abordagem sistémica, harmonizada e continua que viabilize o acesso a comparações internacionais e a análise comparativa do posicionamento Qualquer actor ou decisor responsável na área da política energética dos principais sectores de actividade das empresas portuguesas face aos seus competidores concordará que a melhor acção de utilização racional de energia é internacionais. evitar um determinado consumo, ou de outra forma, não será inteligente procurar equipamentos mais eficientes ou trocar fontes de energia se simplesmente o consumo poder ser evitado. Esta noção de consumo 3. Gestão de Energia evitado, juntamente com a eficiência energética, apresenta como vantagem inequívoca, a libertação de capital. Embora facilmente perceptível, esta vantagem é geralmente analisada superficialmente e a visão de políticas mais profundas nesta temática escasseia quer 3.1. A gestão de energia ao nível da política nacional quer ao nível da gestão das organizações. A energia deve ser considerada como um factor de produção tão importante como o trabalho, A vantagem real da libertação de capital com práticas de utilização racional de energia está o capital e a matéria-prima. Nesse sentido, gerir a energia é tão importante como gerir qualquer relacionada com o destino dado a esse mesmo capital. Se o destino a dar ao capital estiver outro factor de produção com objectivos claros de optimização da afectação dos recursos. relacionado com fins que não contribuem para o aumento da competitividade da organização À medida que o custo das fontes de energia aumenta e que os problemas ambientais ganham ou do país, resta a satisfação que existiram impactos positivos no ambiente e na rentabilidade importância, aumenta também a viabilidade das acções com vista ao aumento da eficiência geral da organização. No entanto, se essa libertação de capital for orientada à melhoria energética. As tecnologias eficientes por si só não são suficientes, se não for adoptada uma contínua de processos, à formação ou à promoção do negócio, ou seja, ver esse capital gestão de energia que englobe os aspectos organizacionais. A gestão de energia deve começar como uma oportunidade de investimento, as consequências surgirão em forma de cascata. logo na fase de projecto de uma instalação e dos seus sistemas. Essa prática permite conceber instalações com melhor desempenho energético e escolher sistemas e equipamentos mais eficientes. Trata-se de uma estratégia de conservação de energia por redução de necessidades futuras. No caso de instalações já existentes, a gestão de energia consiste na redução de consumos de energia relativamente a consumos actuais. 12 13 Decisão e Atribuição de Responsabilidades Deste modo, a abordagem será diferente e o levantamento energético assume uma importância de destaque. Levantamento Perdas Energético Nessa perspectiva, o objectivo da gestão de energia recai em assegurar que os custos associados à utilização de energia são reduzidos ao mínimo, enquanto que a qualidade dos serviços prestados é mantida ou até melhorada. Definição de prioridades 3.2. Processo de gestão de energia Existem diferentes métodos de gestão aplicáveis e cada um deles pode ser desenvolvido com Contabilidade Energética Auditoria Energética níveis de complexidade diferentes. A opção sobre o melhor método e sobre o nível de execução deverá ser tomada pelo Gestor de Energia da empresa, em função da dimensão e da Plano de Racionalização de Consumos de Energia (PRCE) complexidade da instalação consumidora a gerir. Assim, é fundamental que o método utilizado permita, genericamente: > a medição e a valorização da energia consumida, seja ao nível global seja por sector Implementação do PRCE produtivo da empresa; > o cálculo do valor da energia transformada no seio da empresa; > a determinação do peso da energia no preço dos produtos fabricados; Monitorização e Controlo dos Resultados > a análise da situação existente para determinar as possibilidades de acção e fixar as prioridades e as metas a atingir; > a avaliação e o acompanhamento da rentabilidade dos investimentos em eficiência energética. Figura 3 – Processo de gestão de energia O método de gestão a implementar deverá ser capaz de, a partir da informação recebida pela 3.3. A auditoria energética e os seus objectivos auditoria energética, desenvolver um conjunto de acções de controlo, associadas ao estabelecimento de metas a serem atingidas, que deverão permitir, basicamente: > o estabelecimento de procedimentos de medida e controlo de grandezas energéticas, da produção e dos processos produtivos; > o tratamento de informação para produzir os indicadores energéticos convenientes ao método da gestão e ao seu nível de execução, como sejam, por exemplo, os consumos específicos; > a valorização, em unidades monetárias, dos consumos de energia determinados ou medidos, com vista a quantificar as despesas pelas várias formas de energia final utilizadas; > a implementação de uma contabilidade energética que permita determinar, para cada centro de custos, a contribuição da energia na formação do custo final do produto; > o estabelecimento de planos de racionalização dos consumos de energia, com vista a serem atingidas as metas previamente definidas. Nestes planos de racionalização deverão constar os planos de investimento necessários à concretização dos objectivos da gestão energética da empresa. A figura seguinte apresenta uma metodologia para execução de um processo de gestão da energia, vocacionado especialmente para instalações já existentes. O termo “auditoria energética” é utilizado geralmente para descrever um largo espectro de estudos energéticos que variam desde uma simples vistoria das instalações com o objectivo de identificar possíveis problemas até uma análise detalhada de medidas alternativas de eficiência energética suficientes para satisfazer os critérios financeiros dos investidores mais exigentes. Uma auditoria típica deverá ser capaz de atingir os seguintes objectivos: > Determinar as formas de energia utilizadas > Analisar detalhadamente a factura energética > Recomendar especificamente inovações nas áreas energéticas e de redução de custos > Identificar as reduções de custo com a electricidade ou outros combustíveis > Determinar o custo estimado das medidas de eficiência energética recomendadas > Prever a poupança anual de energia, custos a evitar e tempos de recuperação de investimento > Prever as reduções de emissões de CO2 conseguidas pela implementação das medidas > Determinar financiamentos disponíveis para implementação das medidas de eficiência energética > Recomendar futuras análises a realizar A condução de uma auditoria a uma empresa obedece a um conjunto de procedimentos e de normas que têm que ser seguidas. No final deverá resultar um relatório completo sobre o estado das instalações, processos ou equipamentos, assim como recomendações de medidas de intervenção e a sua viabilidade. 14 15 3.4. Os diferentes tipos de auditorias energéticas Os três tipos de auditoria descritos variam no seu grau de detalhe e por essa razão têm também associados diferentes custos. Auditoria preliminar A auditoria preliminar, também chamada de diagnóstico energético, é a mais rápida e elementar forma de auditoria. Envolve entrevistas com o pessoal operador de maquinaria, uma revisão de facturas de energia e outros dados considerados importantes, e vistorias no local de forma a identificar possíveis áreas de desperdício ou de ineficiência energética. 3.5. Implementação de um Plano de Racionalização dos Consumos de Energia (PRCE) Tipicamente apenas os problemas com maior visibilidade serão detectados neste tipo de auditoria. As medidas correctivas serão descritas sucintamente e os custos estimados da O Regulamento de Gestão do Consumo de Energia (RGCE) [7], aprovado pelo Decreto-Lei implementação de medidas, os potenciais de poupança e os períodos de retorno do nº 58/82, de 26 de Fevereiro e regulamentado pela Portaria nº 359/82, de 7 de Abril, define investimento, são calculados de forma simplificada. Estas auditorias apresentam um papel que as empresas abrangidas pelo mesmo (empresas que apresentem uma das seguintes relevante em empresas que se encontrem numa fase inicial de gestão energética permitindo situações: consumos superiores a 1000 TEP/ano; soma de consumos energéticos nominais estabelecer prioridades de actuação e determinar a necessidade de auditorias mais detalhadas. dos equipamentos instalados superior a 0,5 TEP/h ou consumo energético nominal de pelo menos um equipamento instalado superior a 0,3 TEP/h) têm a obrigatoriedade de executar Auditoria geral auditorias energéticas às suas instalações, com o intuito de analisar o estado das mesmas e obter informações para a elaboração de um plano de racionalização de consumo de A auditoria geral expande-se da auditoria preliminar descrita anteriormente através da energia. Para este tipo de auditorias, é exigido um técnico especializado reconhecido pela recolha de mais informação detalhada sobre as operações industriais e realização de uma DGGE como Técnico Examinador das Condições de Utilização da Energia e Autor de Planos avaliação sobre as medidas de eficiência energética identificadas. As facturas energéticas de Racionalização dos Consumos de Energia (PRCE). correspondentes a um período que pode ir até 36 meses são analisadas e permitem ao É também constituído por diversas secções informativas sobre a gestão de energia e sobre a forma auditor identificar com rigor as necessidades e perfis de utilização de energia na instalação. de diagnosticar, racionalizar e reduzir os consumos de energia. Nestas secções estão descritas Eventuais medições adicionais a sistemas consumidores específicos de uma determinada formas de redução de consumos específicos, método de execução do plano de racionalização forma de energia são frequentemente realizadas de forma a providenciar informações dos consumos de energia e controlo dos resultados, entre outras informações úteis. adicionais. Este tipo de auditoria permite identificar todas as medidas de conservação de energia O PRCE consiste num plano de actuação, abrangendo um período de 5 anos (3 para os apropriadas para os parâmetros de operação da indústria em questão. É realizada uma transportes), que ao integrar os resultados da auditoria energética realizada e os planos de análise de investimento detalhada para cada medida baseada em custos de implementação produção e desenvolvimento previstos pela entidade que explora a instalação, permite exactos, no potencial de poupança a atingir e no critério de investimento do cliente. É reduzir os consumos específicos de acordo com metas previamente fixadas. Estas metas são também fornecida informação suficiente para justificar a implementação do projecto. definidas em função da situação energética da instalação resultado da auditoria energética e por comparação com consumos específicos tidos como tecnicamente tangíveis. O Auditoria detalhada encadeamento temporal de todas as medidas é decisivo na viabilidade técnica e económica de implementação. O método de implementação de um PRCE pode ser consultado com A auditoria detalhada, ou auditoria técnica, estende-se da auditoria geral através da criação de um modelo dinâmico da utilização de energia nas condições actuais de exploração e também para todas as medidas de eficiência energética identificadas. O modelo é calibrado de encontro aos dados de serviço reais de forma a fornecer uma base realista para a qual vão ser calculadas as reduções de custos associadas às medidas propostas. É dada especial atenção à compreensão das características de todos os sistemas consumidores de energia e também a situações que possam causar variações nos perfis de carga em bases diária e anual detalhe no RGCE. 16 3.6. Gestores de energia – a sua formação e a sua função 4. Eficiência energética 17 A eficiência energética centra-se na optimização de todos os processos e equipamentos que fazem uso da energia, tendo em vista a redução dos consumos. O presente capítulo concentra O gestor de energia é um profissional que possui formação superior especializada na área de atenções em eventuais oportunidades de redução da factura energética e nas potenciais energia, responsável por todas as actividades relacionadas com a sua gestão dentro da empresa. acções que podem ser realizadas. As suas principais funções incluem: 4.1. Mercados de Energia > Preparação de um plano anual de actividades no qual constem medidas e investimentos 4.1.1. Electricidade atractivos para a redução da factura energética > Iniciação de actividades de monitorização e controlo de processos com o objectivo de redução da factura energética A organização do Sistema Eléctrico Nacional assenta na coexistência de um Sistema Eléctrico > Análise do desempenho do equipamento do ponto de vista da eficiência energética de Serviço Público (SEP) com um Sistema Eléctrico Independente (SEI), o qual pode ser > Assegurar o funcionamento e calibração correctos da instrumentação necessária para a esquematizado conforme a figura abaixo. medição dos consumos energéticos > Preparação de informação e de sessões de esclarecimento internas a disponibilizar aos SEN Sistema Eléctrico Nacional restantes colaboradores da empresa > Estabelecimento de uma metodologia de cálculo dos consumos específicos dos vários serviços ou produtos da empresa > Desenvolvimento e gestão de programas de treino para melhorar a eficiência energética ao SEP Sistema Eléctrico de Serviço Público SEI Sistema Eléctrico Independente nível operacional > Desenvolvimento de sistemas de melhoria de eficiência energética e ambiental SENV Sistema Eléctrico Não Vinculado > Coordenação na implementação de medidas que constam na auditoria energética > Estabelecimento ou participação nas trocas de informação com outros gestores de energia de empresas do mesmo sector de actividade > Motivação dos colaboradores da empresa com o objectivo de atingir maior desempenho e produtividade. Uma empresa dispõe de duas possibilidades para suprir as suas necessidades de recursos para um processo de gestão de energia, através da contratação de um técnico especializado com formação na área da energia, ou em oposição o recurso a outsourcing. A selecção de qualquer uma das opções dependerá de uma avaliação das necessidades e capacidade financeira da Produtores Vinculados Concessionária da Rede Nacional de Transporte Mini-hídricas (até 10MVA) Produtores Não Vinculados Distribuição Vinculada Outras Energias Renováveis Distribuição Não Vinculada Clientes do SEP Cogeradores Clientes Não Vinculados empresa. O importante será assegurar que a gestão de energia da empresa fique a cargo de técnicos especializados. Figura 4 – Organização do Sistema Eléctrico Nacional - Fonte: REN O SEP é composto pela Rede Nacional de Transporte, e o conjunto de instalações de produção (Produtores Vinculados) e redes de distribuição (Distribuição Vinculada). O SEI é composto pelo Sistema Eléctrico Não Vinculado (SENV) e pelos produtores em regime especial (energias renováveis e cogeradores) que efectuam entregas às redes do SEP ao abrigo de legislação específica. Os clientes do SEP são abastecidos pela distribuição vinculada através de um contrato de garantia de abastecimento que obriga a fornecer a energia eléctrica que estes contratarem, segundo tarifas e condições estabelecidas. O SENV, administrado pela lógica de mercado, é composto por Produtores não Vinculados, Distribuição Não Vinculada e pelos Clientes não Vinculados. Estes têm o direito a utilizar as redes do SEP para a transacção física de energia, mediante o pagamento de tarifas determinadas regulamentarmente. O comércio de energia no SENV é feito ao abrigo de regulamentação específica e gerida pela REN – Rede Eléctrica Nacional, através das figuras do Gestor de Ofertas e do Gestor de Sistema [8]. 18 19 A liberalização do mercado eléctrico representa novas oportunidades de contratação de 4.1.2. Gás Natural energia eléctrica, exigindo, em contrapartida, uma maior necessidade de informação por Foi aprovada em Junho de 2003 a Directiva 2003/55/CE que estabelece as regras comuns parte das empresas para poderem efectuar escolhas conscientes e que correspondam aos para o mercado interno do gás natural, em revogação da Directiva 98/30/CE. Esta directiva seus interesses. vem acelerar a abertura do mercado do gás natural, proporcionando, até 1 de Julho de A abertura do mercado de electricidade foi concretizada, numa primeira fase, para os 2007, o direito de escolha de fornecedor a todos os clientes, definindo com maior precisão consumidores em níveis de tensão mais elevados e será progressivamente alargada a todos a organização e funcionamento do sector e as condições de acesso ao mercado, bem como os consumidores de energia eléctrica, tal como prevêem as legislações portuguesa e as atribuições e papel das entidades reguladoras independentes. Esta directiva será transposta comunitária. A última fase deste processo correspondeu à abertura do mercado para os para o direito nacional, motivo pelo qual foi criado, através do Despacho n.º 10 317/2005 clientes abastecidos em baixa tensão (BTN), categoria na qual se incluem algumas pequenas de 9 de Maio, um grupo de trabalho com o objectivo de elaborar a Lei de Bases do Gás empresas, elegíveis após a publicação do Decreto-Lei n.º192/2004, de 17 de Agosto. Não Natural. obstante, existem ainda pequenos entraves técnicos que se prevêem totalmente resolvidos 4.2. Análise de facturas energéticas em 2007. A abertura do mercado aos clientes em BTE e em BTN representou, respectivamente, o As facturas energéticas consistem nos registos descritivos dos consumos de energia da acréscimo de cerca de 28 mil clientes e 5,8 milhões de clientes, respectivamente, que empresa. Tendo por base estes documentos é possível determinar o tipo de energia utilizado passaram a usufruir de escolha livre no seu fornecedor de energia eléctrica [8]. e o respectivo consumo num determinado período de tempo, o seu custo, o tarifário energético associado e outras informações úteis. São documentos que em virtude da sua A actividade de comercializador regulado é assegurada pelo operador da rede de distribuição natureza técnica devem ser analisados com atenção. da área geográfica onde se situa a instalação do cliente. As tarifas e preços praticados pelos comercializadores regulados são aprovados pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos 4.2.1. Energia eléctrica (ERSE). Os comercializadores e agentes externos são entidades que exercem a actividade A empresa deve assumir um comportamento dinâmico e efectuar uma análise crítica às nos termos da licença ou registo atribuídos pela Direcção Geral de Geologia e Energia. Os facturas de energia eléctrica, de forma a detectar oportunidades de intervenção que clientes que optem por ser abastecidos no mercado liberalizado podem posteriormente proporcionem melhorias económicas. optar por contratar o fornecimento de energia eléctrica com o comercializador regulado. O primeiro passo a realizar consiste na criação de um histórico de facturação, normalmente constituído pelo conjunto das facturas de energia eléctrica dos 12 meses anteriores. A ERSE aconselha que a escolha de um novo fornecedor de energia eléctrica por um cliente actualmente abastecido pelo comercializador regulado seja precedida da obtenção das seguintes informações: > Informação sobre o consumo da instalação (pode ser obtido a partir da informação constante das facturas dos últimos 12 meses). > Verificar no simulador da ERSE se a opção tarifária é a mais adequada, optimizando assim o preço no comercializador regulado. > Consultar os vários comercializadores e agentes externos que actuam no mercado liberalizado. > Verificar qual a oferta globalmente mais vantajosa de acordo com os critérios do cliente (preços, periodicidade de facturação, condições de pagamento, qualidade comercial, serviços oferecidos, etc.), tendo também em consideração as condições oferecidas pelo comercializador regulado. Adicionalmente, verificar, entre outros, os seguintes aspectos das propostas apresentadas: > Condições gerais e particulares dos contratos. > Duração e condições de denúncia dos contratos. Figura 5 – Exemplo de factura de energia eléctrica 20 Os principais objectivos da análise da factura eléctrica são: 21 Desta análise podem surgir quatro cenários possíveis: > Identificação de oportunidades de redução do consumo de energia reactiva > Adaptação da tarifa do contrato e do ciclo horário ao consumo eléctrico da empresa > Alteração do tarifário do contrato sem alteração do perfil de consumos – A realização > Estudo da alteração do perfil de consumo eléctrico através do deslocamento de cargas desta alteração é a que apresenta o carácter mais simples. Resume-se a um contacto para horários mais económicos realizado com o distribuidor de energia eléctrica no qual é pedida a alteração do tarifário. Não implica quaisquer alterações nos processos da empresa. Os pontos mais relevantes de uma factura de energia eléctrica são: > Alteração do perfil de consumos sem alteração do tarifário – Esta alteração pode, por > Potência contratada exemplo, resultar na deslocação de consumos de horas com tarifação mais elevada para > Potência tomada horas onde a energia eléctrica apresenta menor custo. Carece de um estudo completo e > Tarifa do contrato e ciclo horário implica alteração na forma de funcionamento dos processos empresariais. > Facturação de energia activa (super vazio, vazio, ponta e cheias) > Facturação de energia reactiva consumida fora das horas de vazio > Alteração do tarifário e do perfil de consumos – Depois de um estudo muito completo, pode surgir esta opção como sendo a mais atractiva. Tal como a alteração anterior, poderá implicar alteração nos processos da empresa. Com a análise da factura de energia eléctrica, podem ser encontradas medidas de aplicação imediata ou a curto prazo que podem representar reduções significativas na factura energética: > Sem qualquer alteração – No caso de a empresa utilizar já a melhor opção, não é necessário realizar qualquer alteração. > Consumo de energia reactiva – O pagamento de energia reactiva pode ser evitado 4.2.2. Gás natural e Gases de Petróleo Liquefeito através da instalação de um sistema de baterias de condensadores, que evitam o As facturas de gás são documentos que contêm a informação relativa ao seu consumo e consumo de energia reactiva a partir da rede do distribuidor facturação. Uma factura de gás requer uma análise mais simples do que a factura de > Potência tomada e Potência contratada – No caso de se verificar uma evidente inferioridade da potência tomada, pode ser solicitada uma redução da potência electricidade, pois não possui tantas variáveis de consumo, ficando a facturação restrita apenas ao consumo verificado e ao escalão no qual o mesmo se insere. contratada dentrode certos limites O escalão de consumo representa o consumo anual de gás e é mantido entre dois parâmetros, > A restante análise a efectuar resulta da simulação de alguns cenários de tarifação e terá superior e inferior. Este escalão de consumo tem uma taxa fixa associado que é maior obrigatoriamente que incluir a energia activa consumida nos diferentes períodos de quanto mais elevado for o escalão de consumo. Adicionalmente, tem também uma taxa facturação, a tarifa do contrato e o ciclo horário. variável que é menor quanto maior for o escalão de consumo. A empresa tem por isso benefícios na definição correcta do seu escalão de consumo, pois desta forma consegue a Com as informações obtidas deve ser efectuada uma folha de cálculo, que deverá possibilitar optimização do seu tarifário em função dos consumos que realmente realiza. a simulação da utilização de diferentes tarifários. Na página da Internet da ERSE em www.erse.pt, está um completo e prático simulador que pode ser utilizado neste estudo. Figura 6 – Simulador de tarifários da ERSE Figura 7 – Exemplo de factura de gás natural 22 23 O preço do gás natural e o respectivo escalão de consumo variam de acordo com o > Deve ser dada preferência à utilização de luz natural. distribuidor, no entanto, as empresas não possuem, até ao momento, liberdade de selecção, > O nível de iluminação deve ser adequado à tarefa executada. uma vez que, cada região do país tem apenas uma entidade distribuidora designada. > As luzes devem ser desligadas sempre que não são necessárias. > As lâmpadas e as luminárias devem ser limpas periodicamente. A facturação do gás propano canalizado é realizada de forma semelhante à facturação do > A luminária da lâmpada deve ser adequada e estar bem colocada para direccionar a gás natural canalizado. luz para onde é necessária. > A temperatura e restituição de cor assim com o equilíbrio da iluminação, devem ser apropriados para a tarefa. 4.3. Lista de medidas e boas práticas energéticas > A iluminação localizada deve ser efectivamente utilizada em alguns locais. > A localização das luminárias não deve causar encandeamento. Pretende-se com este sub-capítulo disponibilizar uma lista de medidas que contribuam para > Devem ser utilizadas as fontes de luz mais eficientes para cada ambiente (lâmpadas, uma redução de consumos energéticos numa empresa. No sentido em que cada empresa luminárias e acessórios). tem a sua própria identidade e dificuldades, não é possível construir uma lista universal. > As fotocélulas e temporizadores devem ser utilizados juntamente com os sistemas Por esse motivo, estas devem ser criadas e orientadas para cada empresa específica. A lista de iluminação. de medidas deve ser desenvolvida pelos responsáveis pela gestão de energia da empresa, e deve permitir a todos os colaboradores um fácil entendimento da mesma, assim como facilitar a identificação de boas práticas energéticas a implementar. 4.3.1. Equipamento de escritório Índice de Restituição Nível 1 (Muito Bom) Nos escritórios, com a utilização de vários equipamentos eléctricos, pode existir um potencial de redução de consumo de energia através da implementação de medidas simples. Uma pequena alteração nos hábitos dos utilizadores dos escritórios pode ser muito benéfica para a redução da factura energética. Nível 2 (Bom) Tonalidade Luz do dia > 5000 K Tonalidade Branco 4000 K Tonalidade Branco Quente < 3300 K 1A Ra 90-100 12-950 Luminux de Lux 72-965 Biolux 22-940 Luminux de Lux 3800 K 32-930 Luminux de Lux 3000 K 1B Ra 80-89 11-860 Luminux de Lux 6000 K 21-840 Luminux Plus 4000 K 31-830 Luminux Plus 41-827 Luminux Interna 2A Ra 70-79 10 Luz do dia 6000 K 25 Branco Universal 4000 K 2B Ra 60-69 > O equipamento informático certificado com o logótipo Energy Star é mais eficiente. > O computador portátil gasta menos energia que um computador de secretária. > Devem ser desligados os equipamentos (computadores, impressoras, scanners) quando Nível 3 (Aceitável Bom) 20 Branco 4000 K 30 Branco Quente 3000 K Ra 40-59 Figura 8 – Classificação das lâmpadas quanto ao seu índice de restituição de cor. (Fonte: ADENE) já não estão a ser utilizados (fim do dia, horário de almoço, etc.). > Os computadores têm opções no sistema operativo que podem reduzir custos, como por exemplo o modo automático de desligar o monitor após alguns minutos sem utilização. 4.3.3. Aquecimento, ventilação e ar condicionado (AVAC) Em edifícios de escritórios, os sistemas de AVAC estão entre os maiores consumidores de 4.3.2. Iluminação energia. Por esta razão é de crucial importância que as empresas olhem para o sistema de As lâmpadas fluorescentes ou de vapor de sódio são mais eficientes do que as lâmpadas AVAC com especial atenção. incandescentes, e o retorno do investimento ocorre em poucos anos, devido ao aumento do tempo de vida e diminuição dos custos de manutenção. Tipos de lâmpadas disponíveis: > Incandescentes – Não obstante o baixo preço e o curto tempo de arranque, este tipo de lâmpadas são menos eficientes e apresentam um tempo de vida curto. > Fluorescentes – Este tipo de lâmpadas apresentam um tempo de vida elevado, grande eficiência (consumos 20% inferiores ao das lâmpadas incandescentes) e boa qualidade de luz. No entanto, apresentam um custo mais elevado de aquisição e exigem maior tempo de arranque. > Descarga – Esta tecnologia inclui as lâmpadas de vapor de mercúrio, iodetos metálicos e vapor de sódio. Com características diferentes, apresentam níveis de eficiência também diferentes (por ordem decrescente, vapor de sódio, iodetos metálicos e vapor de mercúrio). > O termóstato do ar condicionado deve ser regulado para 20ºC no Inverno e 24ºC no Verão para maior conforto. > O sistema de ar condicionado deve ser desligado no final do dia de trabalho. > Os filtros dos aparelhos de ar condicionado devem ser regularmente limpos. > A utilização de ar novo para renovação só deve ser utilizada quando o edifício estiver ocupado e a relação ar novo/ar de recirculação deve ser optimizada. > Devem ser evitados o aquecimento e arrefecimento simultâneos. 24 25 4.3.4. Processos de calor e de frio 4.3.7 Motores eléctricos Uma grande parte das empresas tem necessidade de incluir nos seus processos sistemas Os motores eléctricos são equipamentos consumidores de energia que podem ser um alvo de controlo de temperatura dos produtos, geralmente para processos de congelação ou atractivo para investimentos que visem a eficiência energética. A sua natureza rotativa aquecimento. Esses sistemas de calor e de frio são grandes consumidores de implica grandes desgastes se as acções de manutenção não forem devidamente executadas. energia e como tal têm necessidade de um controlo constante. O motor eléctrico transforma a energia eléctrica fornecida pela rede em energia mecânica, > A temperatura deve estar adequada ao processo. apresentando perdas. > As fugas de calor/frio devem ser minimizadas. > O pré-aquecimento deve ser utilizado apenas se estritamente necessário. > As áreas quentes devem ser isoladas das áreas frias. Energia Eléctrica 4.3.5. Sistemas de ar comprimido Motor Eléctrico Energia Mecânica Perdas A produção de ar comprimido é responsável pelo consumo de grandes quantidades de energia nas empresas. Durante o seu transporte é frequente a existência de perdas sob a Figura 9 – Esquema de conversão de energia eléctrica em energia mecânica forma de fugas nas canalizações. Torna-se por isso muito importante a correcta monitorização > O motor deve estar correctamente dimensionado. destes sistemas. > A manutenção eficaz aumenta o tempo de vida dos equipamentos. > O aproveitamento do calor do motor eleva o rendimento do processo. > O ar comprimido deve ser produzido à pressão de utilização de trabalho, a fim de evitar etapas. > O accionamento utilizado deve ser o mais eficiente possível. > Os compressores instalados devem ser de rendimento elevado. > A tensão de funcionamento dos motores deve ser fornecida dentro dos parâmetros técnicos > A adaptação de compressores a cargas menores evita gastos supérfluos de energia. > Os sistemas automáticos de controlo de carga são eficazes a determinar a pressão de produção do ar comprimido. > Deve ser realizada a detecção regular de fugas na rede de distribuição de fluidos. dos motores. > A limpeza regular dos motores melhora a ventilação e aumenta o rendimento. > As passagens de corrente à terra podem provocar diminuição do rendimento. > O motor utilizado deve ser utilizado exclusivamente no local para o qual foi projectado o seu > As redes de distribuição devem ser dimensionadas de modo a que as perdas de carga entre funcionamento (exemplo: locais húmidos, locais que apresentem risco de explosão, etc.). a unidade compressora e o ponto de consumo mais afastado não excedam os 0,3 bar. > Ligar e desligar desnecessariamente os motores aumenta o seu consumo energético. > Os arrefecedores diminuem a temperatura do ar comprimido provocando a condensação de vapor de água e drenam os condensados. > O volume do reservatório de ar comprimido deve ser adequado ao trabalho realizado. > Devem ser utilizados motores de alta eficiência. > Se possível, a utilização de correias com ranhuras é mais eficiente. > A utilização de variadores electrónicos de velocidade pode ser altamente eficiente. 4.3.6. Sistemas de vapor 4.3.8 Transformadores A produção de vapor é responsável por grandes consumos de Os transformadores são equipamentos sem partes móveis e cujo funcionamento assenta em energia. Tal como nos sistemas de ar comprimido é necessário existir princípios magnéticos. A sua utilização está sobretudo disseminada nos postos de transformação um controlo capaz de detectar e corrigir possíveis pontos de fuga. construídos nas empresas que contratam electricidade a níveis de tensão elevados. > O reaproveitamento de fluidos evita a utilização de novos fluidos. > A temperatura elevada de um transformador pode indicar problemas de funcionamento > Grandes alterações de temperatura significam perdas de energia > A potência nominal do transformador deve ser aproximadamente o dobro da potência pedida elevadas. > Grandes percursos de transporte significam perdas energéticas. pela rede a alimentar. > O transformador a instalar deve ser de baixas perdas. Os gases de exaustão devem ser controlados e bem direccionados, e > O transformador deve ser desligado quando não estiver em uso. se possível reaproveitados. > As tomadas de tensão dos transformadores devem estar na posição necessária. > A relação ar/combustível dos gases de escape deve ser controlada periodicamente. > O transformador deve estar correctamente ligado à terra para evitar situações de perigo. > Um isolamento eficiente das canalizações evita perdas de energia. > O correcto dimensionamento dos transformadores evita perdas de energia e aumenta a segurança. > Em instalações onde a continuidade de serviço seja fundamental, devem ser utilizados bancos de dois ou mais transformadores dimensionados de modo a que o índice médio de carga global seja de 0.5. 26 5. Financiamento de Projectos de Eficiência Energética 27 5.1. Financiamento próprio [9] 4.3.9 Factor de Potência O financiamento pode ser totalmente suportado pelo promotor do projecto, no caso de este O factor de potência consiste na relação que existe entre a potência activa e a potência reactiva. possuir condições financeiras para tal. Esta oportunidade permite que o promotor se aproprie É uma grandeza que verifica a eficácia com que a corrente eléctrica é convertida em trabalho de todo o valor criado pelo projecto. Não obstante, deve existir a consciência de que as questões útil e mais particularmente é um bom indicador do efeito da corrente eléctrica na eficiência de risco serão também suportadas na totalidade pelo promotor, e que o valor criado em do sistema de alimentação. projectos de utilização racional de energia depende muito da actuação de quem gere o projecto, apresentando especial relevo nestes casos o conhecimento e experiência da pessoa em causa. KW 5.2. Financiamento bancário [9] KVAR KVA O recurso a um financiamento bancário representa uma outra opção comummente utilizada. Nesta perspectiva, o projecto, o valor por ele criado e uma análise de risco devem ser consubstanciados em suporte documental, que possa ser objecto de análise financeira. Este tipo de financiamento compreende como é óbvio encargos financeiros, que são, normalmente, Figura 10 – Cálculo de factor de potência > É importante determinar o correcto valor do factor de potência da instalação. > O valor do factor de potência deve ser controlado periodicamente. > As baterias de condensadores permitem a correcção do factor de potência da instalação. significativos. 5.3. Capital de risco e Business Angels [9] Com um funcionamento, em grande medida semelhante a um financiamento bancário, esta opção incide, essencialmente, no financiamento do projecto por parte de uma organização, indivíduo ou agregação. Não obstante, em oposição à cobrança de juros, este tipo de financiamentos pode considerar a possibilidade de participação dos financiadores no capital 4.4. A quem recorrer para uma análise completa e detalhada social da empresa, participação nos lucros, ou outros. Geralmente esta situação verifica-se por um período de tempo determinado inicialmente, desde que alcançados os seus objectivos. O gestor de energia pode ser um funcionário da empresa que possua conhecimentos na área da energia e essencialmente que conheça bem os processos da empresa e tenha acesso a todas 5.4. Programas de apoio [11] as informações necessárias. No caso de se tratar de empresas de grandes dimensões pode ser aconselhável a formação de uma equipa de gestão de energia, em que cada elemento possua conhecimentos profundos dos diferentes processos da empresa. No entanto, como em qualquer função desempenhada numa empresa, recomenda-se a especialização de técnicos na área. No caso de a empresa se tratar de um elevado consumidor de energia (parâmetros definidos no RGCE), é obrigatória a realização de auditorias energéticas, assim como existe a obrigatoriedade de os auditores serem profissionais acreditados pela DGGE. 5.4.1. MAPE A Medida de Apoio ao Aproveitamento do Potencial Energético e Racionalização de Consumos (MAPE) do Programa de Incentivos à Modernização da Economia (PRIME) tem âmbito nacional e encontra-se suportada pela Portaria nº 455/2005, de 2 de Maio e tem como objectivos proporcionar apoios a: > Projectos de produção de energia eléctrica com base em fontes de energia renováveis > Projectos de Utilização Racional de Energia > Projectos de renovação de frotas de transporte rodoviário > Projectos de conversão de consumos para gás natural São entidades beneficiárias as empresas e, em determinada tipologia de projectos, câmaras municipais, associações empresariais e sindicais, estabelecimentos de ensino, estabelecimentos de saúde e acção social e entidades de protecção civil. O investimento mínimo elegível é de 25 mil euros, à excepção de projectos de utilização racional de energia em que os equipamentos de apoio sejam baseados no uso da energia solar, caso em que o investimento mínimo elegível é de 10 mil euros. O incentivo a conceder pode assumir a forma de incentivo reembolsável ou não reembolsável, sendo que o incentivo reembolsável pode ser substituído por bonificação de juros. 28 6. Critérios de Avaliação de Projectos [9] 29 5.4.2. SIME As questões relativas à avaliação de projectos de investimentos são questões complexas, O Sistema de Incentivos à Modernização Empresarial suportado pela Portaria nº 456/2005 de abordadas em bibliografia especializada. No entanto, existem alguns critérios básicos de 2 de Maio e tem como objectivos promover junto das empresas abordagens integradas de avaliação de projectos, normalmente exigidos em todos os processos de candidatura a investimentos que se insiram na estratégia de desenvolvimento e de reforço da competitividade programas de apoio ou a financiamento, que interessam conhecer. do sector, assim como estimular a intervenção em factores estratégicos não directamente produtivos, designadamente nas áreas de internacionalização, qualidade e ambiente, energia 6.1. Retorno Simples do Investimento e qualificação de recursos humanos. Este será de facto o indicador mais básico de avaliação de projectos, e é obtido pelo quociente São entidades beneficiárias empresas de qualquer natureza e sob qualquer forma jurídica que entre o investimento que o projecto representa (incluindo custos de investimento, exploração se proponham desenvolver projectos de investimento no âmbito dos sectores abrangidos pelo e manutenção) ao longo do tempo de duração do mesmo, e o rendimento anual do projecto. programa. O investimento mínimo elegível é de 150 mil euros ou 600 mil euros, respectivamente, O resultado deste quociente representa o número de anos que o investidor terá de esperar para PME ou não PME, que visem o reforço da produtividade e da competitividade das empresas até se ressarcir de todos os seus investimentos no projecto. As limitações da análise a partir e da sua participação no mercado global. Estes valores são reduzidos para 50 mil euros e 200 deste indicador são várias, sendo que as principais são a não consideração de factores mil euros para projectos constituídos apenas por investimentos incorpóreos. fundamentais como a inflação ou os custos de capital. Não deixa no entanto de ser um indicador de cálculo expedito e que permite uma primeira 5.5. Energy Service Companies [10] aproximação interessante à questão da avaliação de projectos. Energy Service Companies (ESCO) são empresas que desenvolvem, instalam e financiam projectos 6.2. Valor Actual Líquido concebidos para promover a eficiência energética. Relativamente aos serviços prestados, tipicamente estes centram-se em: Simplificando um pouco a verdadeira noção deste indicador, pode afirmar-se que o Valor > Desenvolvimento, concepção e financiamento de projectos de eficiência energética Actual Líquido (VAL) representa o valor que um determinado projecto representa, numa > Instalação e manutenção dos equipamentos associados dada altura no tempo, considerando todos os parâmetros relativos ao custo temporal do > Medição, monitorização e verificação das reduções de consumo de energia dinheiro. Nesse sentido, considerando este indicador e no que diz respeito à sua análise de > Assunção dos riscos financeiros implícitos à realização do projecto resultado: • VAL > 0 – Estamos perante um projecto economicamente viável, uma vez que o VAL O que diferencia as ESCO de outras empresas prestadoras de serviços de eficiência energética superior a 0 permite cobrir o investimento inicial, bem como a remuneração mínima exigida centra-se no conceito de contracto de performance energética. Nesse sentido, quando uma pelo investidor, e ainda gerar um excedente financeiro. ESCO aceita um projecto todo o processo, inclusive o financiamento estará directamente • VAL = 0 – O projecto é, à partida, economicamente viável, permitindo a completa relacionado com o nível de redução de consumos de energia alcançados. recuperação do investimento inicial, bem como a obtenção mínima exigida pelos investidores. Pode, no entanto, correr riscos de se tornar inviável. O modo de pagamento dos serviços à ESCO será depois afecto ao volume de poupança • VAL < 0 – Estamos perante um projecto economicamente inviável. alcançada com o projecto. Por esse motivo, o interesse da ESCO no sucesso do projecto é consideravelmente superior a uma empresa típica de prestação de serviços de consultoria. 6.3. Taxa Interna de Rentabilidade A Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) corresponde ao valor da taxa de actualização do investimento, que torna o valor actual líquido de um investimento igual a zero. Neste caso, o critério de decisão de investimento consiste na implementação de um projecto, sempre que a sua TIR seja superior à taxa de juro de referência, que é normalmente o custo de oportunidade do capital. 7. Casos de estudo 30 Caso 1 - Projecto Gestão de Energia no Modelo Continente Localização Data Actores Envolvidos Objectivos Medidas Aplicadas Outras medidas Desenvolvimento Investimento Resultados Evolução do Consumo de Energia Eléctrica (Lojas) 164.884 76 lojas 142.845 consumo em MMh 125.729 0 Caso 2 - Projecto Aumento da eficiência luminosa e redução do custo de iluminação na Salvador Caetano (Divisão Fabril de Ovar) Unidades Modelo e Continente do país com consumos relevantes 2002 Ecociclo – Energia e Ambiente, SA Aplicação dos planos de racionalização de energia às unidades com consumos relevantes, como resultado de auditorias realizadas no âmbito da gestão de energia. 1ª medida > Colocação de células fotoeléctricas na área de vendas. 2ª medida > Colocação de interruptores programáveis associados a células fotoeléctricas para controlo da iluminação exterior. 3ª medida > Instalação de balastros electrónicos na iluminação da área de vendas. 4ª medida > Controlo da parametrização do equipamento AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado). As medidas foram acompanhadas de acções de formação e sensibilização que salientaram a importância económica e ambiental da poupança de energia. 1ª medida > redução do consumo de iluminação e consequentemente na factura energética em 1,7% 2ª medida > Poupança em cerca de 0,5% do consumo de energia 3ª medida > Redução do consumo em cerca de 4,5% 4ª medida > Poupança de aproximadamente 1,5% na época de Verão 43% 9% 2005 Actores Envolvidos Objectivos Medidas Aplicadas Refrigeração Grupo de Gestão de Energia (ENERGAIA e SC-DFO) Redução dos consumos de energia eléctrica em 4%, contribuindo também para uma redução da potência instalada, das emissões de CO2, aumentando os níveis de iluminação dos postos de trabalho. 1ª Fase: Medidas de racionalização com baixo investimento: Zona Fabril: - Retirar/ desactivar/ reposicionar a iluminação de acordo com as alterações realizadas no layout na instalação. Iluminação do Jardim: - Substituição das luminárias de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas 2ª Fase: Melhoria na qualidade da iluminação Utilização de equipamentos energeticamente mais eficientes: - Lâmpadas de baixo consumo - Novas luminárias - Reactâncias electrónicas - Substituição de balastros por balastros electrónicos - Substituição de luminárias existentes Investimento > O investimento realizado na zona fabril foi nulo, pois não existiu a necessidade de adquirir material adicional e recorreu-se a mão-de-obra interna. > O investimento realizado na zona do jardim teve um custo de 60 euros. > A substituição e adaptação de luminárias representou um custo de 129.429 euros. Resultados Zona Fabril: > Redução da iluminação em excesso implicou as reduções anuais: Electricidade: 24.165 kWh Emissões de CO2: 12,08 ton CO2 eq. Iluminação do Jardim: > Substituição das lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas implicou as reduções anuais de: Electricidade: 3.504 kWh Emissões de CO2: 1,8 ton CO2 eq. Iluminação Aquec. e Refrigeração 5% Padaria Galerias Comerciais Outros 6% 2000 Data O investimento deste projecto deve-se a aquisição dos materiais e equipamentos necessários à implementação de medidas. 87 lojas 51 lojas 1999 Ovar Recurso a equipamentos mais eficientes Colocação de cortinas nos móveis de frio Colocação de fitas nas câmaras de frio Substituição de lâmpadas convencionais (incandescentes) por lâmpadas mais económicas > Substituição progressiva nas padarias, de fornos eléctricos por fornos de gás natural > Colocação, sempre que possível, de clarabóias para recurso à luz natural Repartição do Consumo de Energia Eléctrica 61 lojas 1998 Localização > > > > 17% 178.545 31 2001 20% O aumento do consumo é devido fundamentalmente ao crescimento do número de lojas da companhia e correspondentes áreas de vendas, e em menor parte ao número de horas de funcionamento de algumas lojas, à introdução de medidas que visam a melhoria do conforto térmico dos clientes e colaboradores e à melhor iluminação de algumas secções das lojas. Na 1ª fase de implementação obteve-se uma redução total de 27.669 kWh/ano, que representam um consumo anual de 0,86% do consumo anual de 2004. Após a implementação da 1 e 2ª fase a redução total prevista é 169.969 kWh/ano, representando 5,3% do consumo anual de 2004 e uma redução de 86,1 ton CO2 eq. 32 Caso 3 - Projecto Aumento da eficiência dos motores (accionamentos com motores eléctricos) numa Indústria granuladora e aglomeradora de cortiça – Corticeira Amorim Indústria Localização Actores Envolvidos Objectivos Medidas Aplicadas Barreiras iniciais Investimento Resultados Santa Maria da Feira Corticeira Amorim Indústria Direcção Geral de Energia (Centro para a conservação de energia) Schneider Electric - Portugal Aumento da eficiência dos motores Introdução de VEV (variadores electrónicos de velocidade) de 45 KW para accionamento de bomba de circulação de óleo Elevado custo de VEV Aproximadamente 5.000 euros > Poupança energética (reduções anuais) à volta de 26000 Kwh/ano > Pay back: 3,8 anos 33 8. Conclusões Portugal apresenta uma elevada dependência energética do exterior, com mais de 80% da energia consumida no nosso país proveniente de exportações. Esta realidade coloca Portugal num estado de vulnerabilidade face às variações dos preços de petróleo e derivados nos mercados mundiais. Este facto tem obviamente reflexos na economia nacional e implicações ao nível empresarial, na medida em que os preços de combustíveis e electricidade podem sofrer aumentos. Exemplo desta circunstância é a escalada de preços de petróleo verificada actualmente. Em mercados que cada vez mais se apresentam concorrenciais e com uma dimensão global, é extremamente importante que as empresas possuam factores diferenciadores positivos. No caso de eficiência energética estes factores reflectem-se em duas vertentes: imagem da empresa para o exterior e diminuição dos custos associados ao consumo de energia na empresa. As economias de energia proporcionadas por um bom sistema de gestão, com a finalidade de aumentar a eficiência energética, conduzem a uma redução da factura energética e, consequentemente, a uma redução dos custos de produção ou dos serviços, aumentando a competitividade da empresa. A aposta no aumento da eficiência energética transparecerá também uma imagem de empresa com preocupações ambientais, factor cada vez mais apreciado e exigido por grandes empresas a nível nacional e internacional. De um ponto de vista macro o aumento da eficiência energética e consequente redução dos consumos de energia, irá ainda contribuir para a diminuição da dependência dos combustíveis fósseis assim como, a nível ambiental, reduzir os danos ambientais locais e globais, uma vez que para a mesma quantidade de energia útil serão necessários menos recursos. Cada vez mais conscientes do papel da energia e ambiente na competitividade de uma empresa, os gestores e empresários necessitam apenas de dispor de informação relativa a esta temática, que se encontre exposta de forma prática e inteligível. Nesse sentido, pretendeuse com este manual dotar os empresários e outros interessados, de todo o País e em especial da Região Norte, de informação relevante acerca de medidas de fácil implementação, que conduzam a economias de energia numa empresa. 9. Referências 34 35 10. Bibliografia [1.] World Business Council for Sustainable Development, “A Eco-Eficiência”, 2000. > “Manual do Gestor de Energia”, CCE e DGE, 1997 [2.] Agência Europeia do Ambiente, “Sinais Ambientais 2004”, 2004. > “Regulamento de Gestão dos Consumos de Energia”, DGE, portaria nº 359/82 [3.] Energy Information Administration, “Portugal Country Analisys Brief”, 2004. [4.] Agência Internacional de Energia, “World Energy Outlook 2004”, 2004. [5.] Agência Internacional de Energia, “Press Releases”, 2004. [6.] Programa de Actuação para Reduzir a Dependência de Portugal Face ao Petróleo, Lisboa, 2004. [7.] Direcção Geral de Energia e Centro para a Conservação de Energia, “A Gestão da Energia e o Regulamento de Gestão do Consumo de Energia (RGCE)”, 1993 [8.] Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, 2005 [9.] Castanheira, Luís; Gouveia, Joaquim Borges; “Energia, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; SPI – Sociedade Portuguesa de Inovação; Porto, 2004 de 7 de Abril > PETRECCA, Giovanni - “Industrial Energy Management: Principles and Applications”,2000 > “A Eco-Eficiência”, World Business Council for Sustainable Development, 2000 > MADUREIRA, Nuno Luís; TEIVES, Sofia – “Dependência energética e consumo de energia em Portugal (1890-1982)”, Outubro 2003 > “Energia e Ambiente na União Europeia”, Agência Europeia do Ambiente, 2002 > “Energia Portugal 2001”, DGE e Ministério da Economia, Janeiro 2002 > “Energy Efficiency Planning and Management Guide”, Canadian Industry Program for Energy Conservation, 2002 [10.] National Association of Energy Service Companies; www.naesco.org > “Eurostat Yearbook 2004: the statistical guide to Europe” European Communities, 2004 [11.] Programa de Incentivos à Modernização da Economia; www.prime.min-economia.pt > “Energia e Mudanças Climáticas”, World Business Council for Sustainable Development, 2004 > EVANS, Meredydd - “An Energy Efficiency Guide for Industrial Plant Managers in Casos de estudo Ukraine”, Junho 1999 Caso 1 – www.sonae.pt/files/ambiente/econoticias/eco_19_pt.pdf > “Guidelines for Energy Management”, Energy Star Caso 2 – Salvador Caetano > VERFAILLIE, Hendrik; BIDWELL, Robin – “Medir a Eco-Eficiência: um guia para comunicar Caso 3 – Corticeira Amorim Indústria o desempenho da empresa”, Junho 2000 > “Estudo do Mercado Potencial para a Aplicação das Tecnologias de Micro-Cogeração em Portugal”, Centro de Estudos em Economia da Energia, dos Transportes e do Ambiente, Dezembro de 2001 > JESUS, Mário – “O Financiamento à Energia”, Dezembro 2004 > “Eficiência Energética e Energias Endógenas”, Ministério da Economia, Setembro 2001 > “Tarifário de venda de energia eléctrica a clientes finais”, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, 2005 > GUENSTER, Nadja [et al.] - “The Economic Value of Corporate Eco-Efficiency”, 2005. Co-autores: DERWALL, Jeroen; BAUER Rob; KOEDIJK, Kees > Direcção Geral de Geologia e Energia – hppt://www.dgge.pt > Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos – http://www.erse.pt > Associação Empresarial de Portugal – http://www.aeportugal.pt > Programa PRIME - http://www.prime.min-economia.pt. > Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento http://www.iapmei.pt > PMElink.pt - http://www.pmelink.pt > Gard Analytics - http://www.gard.com > National Center for Policy Analysis - http://www.ncpa.org > International Energy Agency - http://www.iea.org > Energy Information Administration - http://www.eia.doe.gov