V Seminário da Pós-Graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigualdade e Desenvolvimento - realizado entre os dias 02, 03 e 04 de dezembro de 2015, em Cachoeira, BA, Brasil. GT 2 – Comunicação, Políticas e Desenvolvimento. FRATERNIDADE E COMUNICAÇÃO NOS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA RELAÇÃO PARA A EQUIDADE1 Greyssy Kelly Araújo de Souza2 Alene da Silva Lins3 1 Trabalho apresentado no V Seminário da Pós-Graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigualdade e Desenvolvimento - realizado entre os dias 02, 03 e 04 de dezembro de 2015, em Cachoeira, BA, Brasil. 2 [email protected] é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade (PPGEISU) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Pesquisadora Bolsista FAPESB. Integrante do Observatório da Vida Estudantil (OVE-UFBA/UFRB). Pesquisadora Colaboradora no Observatório da Educação (OBEDUC-UFBA) 3 [email protected] é Professora Assistente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Pesquisadora Colaboradora no Observatório da Educação (OBEDUCUFBA). FRATERNIDADE E COMUNICAÇÃO NOS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA RELAÇÃO PARA A EQUIDADE4 GT 2 – Comunicação, Políticas e Desenvolvimento. Greyssy Kelly Araujo de Souza5 Alene da Silva Lins6 RESUMO O objetivo deste artigo é refletir como os conceitos da Fraternidade, enquanto categoria política, e da Comunicação, enquanto processo social, podem potencializar os resultados das políticas públicas. Tanto comunicação quanto fraternidade, analisados como ferramentas, podem ser utilizadas na busca pela equidade, em todos os processos de implantação de políticas para o bem comum. Neste artigo, utilizamos como exemplo de aplicabilidade, os processos decisórios de avaliações de programas, projetos, e instituições. Assim como a Liberdade e a Igualdade, a Fraternidade, enquanto categoria política, precisa estar presente nas políticas públicas, na busca pela equidade social. Dos conceitos da tríade que fundamentou a Revolução Francesa de 1789, a Fraternidade foi a única que ficou esquecida ao longo dos últimos duzentos anos, o que pode ser justificado pelo uso abstrato do termo e pelo desafio da sua conceituação. Retomamos Fraternidade, inserindo-a, em conjunto com a Comunicação, nos processos decisórios de Avaliação, que visem a melhoria dos objetos avaliados, e reconhecendo seu papel modificador na gestão das políticas públicas. Palavras-Chave: Fraternidade; Comunicação na Avaliação; Equidade. 4 Trabalho apresentado no V Seminário da Pós-Graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigualdade e Desenvolvimento - realizado entre os dias 02, 03 e 04 de dezembro de 2015, em Cachoeira, BA, Brasil. 5 [email protected] é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade (PPGEISU) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Pesquisadora Bolsista FAPESB. Integrante do Observatório da Vida Estudantil (OVE-UFBA/UFRB). Pesquisadora Colaboradora no Observatório da Educação (OBEDUC-UFBA) 6 [email protected] é Professora Assistente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Integrante do Observatório da Educação (OBEDUC-UFBA). 2 Introdução Considerar a fraternidade enquanto categoria política traz o desafio de pensar em caminhos objetivos para sua efetivação, sobretudo, quando relacionada aos processos de implantação de políticas públicas. A complexidade desta questão consiste na origem do conceito, diretamente ligado à religião, e igualmente no seu uso abstrato durante a Revolução Francesa, quando por um lado, buscava-se a efetivação de direitos “para todos”, e de outro, a manutenção de modelo social que favorecia a poucos. Outra questão pertinente relaciona-se com a definição do conceito fraternidade, que muitas vezes é tomado por outros, tais como solidariedade e irmandade, o que acarreta dificuldades na sua prática, por conta do desconhecimento do que esta se propõe. Nesta perspectiva, a ação comunicativa aparece como um ponto importante na efetivação da fraternidade, enquanto categoria política, aplicada aos processos que envolvem todas as políticas públicas, em especial, aos processos de tomada de decisões, nos processos avaliativos, pois é o espaço onde a aplicação da prática fraterna vai resultar em melhoria de tudo o que é direcionado ao bem comum social. Esta ligação ocorre ao supor processos empáticos baseados na troca de informações objetivas, usando a linguagem mais próxima possível, do público que se deseja atingir, uma vez que tem, no diálogo entre as partes interessadas, o seu principal foco. Mostra-se necessário, portanto, ampliarmos o sentido historicamente atribuído à fraternidade, que extrapola a sua origem religiosa ou a proximidade com outros conceitos considerados similares, o que acarreta a redução da centralidade da categoria, diante dos demais conceitos “democráticos”- liberté e egualité, inaugurados durante a Revolução Francesa de 1789. Compreender esta nova categoria política e torná-la ferramenta na implantação de políticas públicas, ao inseri-la nos processos decisórios que visem à melhoria dos objetos avaliados, denota admitir o seu papel modificador perante a sociedade que busca equidade e justiça social. A relação da fraternidade com a equidade se estabelece ao reconhecermos que a convivência em sociedade precisa ser baseada na ideia de igualdade na diferença, sendo este o princípio base de todas as dimensões sociais. A inovação deste trabalho concentra-se em tratarmos do caráter político do conceito fraternidade, tido como um princípio esquecido diante da tríade base da 3 Revolução Francesa - liberté, égalité, fraternité. A relevância consiste igualmente na medida em que trazemos para o centro do debate a importância de pensarmos a comunicação como lócus de ação fraterna no interior dos processos decisórios das políticas públicas e mais, em suas ações avaliadas. Assim, para analisar a relação que se estabelece entre fraternidade e comunicação nos processos avaliativos, este artigo é subdividido em quatro seções, intituladas “A Fraternidade enquanto Categoria Política”, “A Fraternidade e a Equidade”, “Avaliação: conhecer para comunicar”, “Comunicação, com Fraternidade, para melhor equidade nas ações e organizações das Políticas Públicas” e por fim as nossas considerações finais, analisando a importância de uma comunicação fraterna, com o uso consciente das informações, da escuta e da adoção de uma postura de construção e troca, em que o gestor busca recursos de comunicabilidade, adota valores de dignidade, responsabilidade social, justiça, fraternidade para efetivar a melhoria de políticas públicas avaliadas e possibilitar maior equidade social. A Fraternidade enquanto Categoria Política A Fraternidade é um conceito que vem sendo esquecido ao longo da modernidade. O apogeu de sua utilização se deu em meados de 1789, e ocorre por conta da Revolução Francesa, que tinha como lema “Liberté, Égalité, Fraternité”. Mesmo neste momento em que o conceito servia como base da revolução, o seu uso não se dava de uma maneira efetiva, pois ainda que gritos de fraternidade ecoassem por toda a França, indivíduos eram mantidos escravizados, entre outros abusos da época, denotando uma dupla face da Revolução Francesa. Na busca de obras sobre este conceito, parte da literatura encontrada insere-se no campo do saber religioso, e os autores que fogem dessa linha nos indicam que a fraternidade durante a Revolução Francesa ficou à sombra das discussões, justamente pela necessidade que a sociedade tinha de romper com o poder e a hegemonia da Igreja. Este fato se repete até os dias atuais, pois a ideia de fraternidade se funda fortemente em suas bases religiosas, apresentando dificuldades de ser pensada numa sociedade que se pensa laica, portanto livre. Além da ligação religiosa, a fraternidade supõe dever e responsabilização com o outro, e assim tornar-se um conceito “perdido”, pois serviria de desculpa, para uma 4 sociedade altamente competitiva e individualista na qual vivemos. Instaura-se, desta forma, o desafio de voltar a pensar a ideia de fraternidade e de (re) conduzi-la como categoria e prática política, ressignificando seu conceito e trazendo-o de forma operativa, para pensar e atuar na vida social, em busca de uma sociedade mais justa, equânime e coesa. É na obra de Baggio (2008) que encontramos uma coletânea que nos ajuda a conceituar a fraternidade, e trazê-la para o âmbito político. Assim, segundo Baggio (2008), a fraternidade era tida como um caminho para a construção e efetivação da democracia, e tinha a função de equilibrar a tríade base da Revolução Francesa de 1789. Contudo, como bem pontua Rawls (1982, apud BAGGIO, 2008), apesar de sua centralidade, no que tange à democracia moderna, a fraternidade aparece muito como um conceito que é secundário em relação aos conceitos de liberdade e igualdade. A fraternidade aparecia muito mais como um conjunto isolado de atitudes e linhas de conduta, expressas através dos valores dos direitos, do que por definir, por si mesma, um tipo próprio ou um modelo prático de direito. Isso não elimina sua importância, mas nos faz perceber que, na modernidade, a fraternidade seria apenas como um pano de fundo de uma sociedade que se quer democrática, por isso um conceito fluido, não tão palpável como os demais. Baggio ainda se encarrega de criticar o uso abstrato do conceito na Revolução. Isso se deve ao fato de sua aplicação ter alcançado certos grupos e não a todos os indivíduos. Mesmo durante o furor da Revolução, mantinham-se escravos haitianos, com a justificativa de que o tráfico e a economia escravista, como base econômica, não poderia ser extinto. Ou seja, durante a Revolução, as ideias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, base da Conflagração, não possuíam uma contribuição real. A fraternidade pode ser considerada ainda como uma conjugação de relações de pertencimento mútuo e de responsabilidade, enquanto princípio de reconhecimento da identidade e do caráter unitário do corpo social, respeitando cada uma das diferentes multiplicidades dos sujeitos. Ela consta no primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, redigida em 1948, e em nossa Constituição de 1988, ela aparece fazendo referência à ‘sociedade fraterna’ que somos. Nessa perspectiva, para Ropelato (2008, apud BAGGIO, 2008), do ponto de vista político, a fraternidade 5 significa um pertencimento político, convivência entre atores sociais e políticos, implicando assim a necessidade de por em prática as relações de partilha e responsabilidade. Pode ser considerada, de acordo com Souza, Tenório e Santos (2015), uma construção social no qual o outro, “o irmão”, é um outro ‘eu mesmo’. Souza, Tenório e Santos (2015), recorrendo à obra de Brandão e Silva (2012), organizam um quadro onde estabelecem algumas diferenças entre o conceito de fraternidade e conceitos como solidariedade e irmandade. Para os autores, apesar de muitas vezes a solidariedade ser referida no lugar de fraternidade, e fazendo menção à ideia desta categoria, sobretudo pela necessidade de afastamento do seu caráter religioso dado durante Revolução Francesa, não se pode confundir fraternidade com solidariedade. Como é sabido, a fraternidade tem origem cristã, está presente nas escrituras sagradas, e supõe a convivência entre os irmãos – os filhos de Deus. A solidariedade por sua vez, para Garrafa e Soares (2013), diz respeito a ações mútuas que acontecem exclusivamente entre pessoas de um mesmo meio e que têm interesses compartilhados, uma espécie de corporativismo social, no qual todos os envolvidos têm relação de interdependência. Brandão e Silva (2012) nos indicam que uma ação solidária não traduz um comportamento fraterno, uma coisa é ser solidário com o outro, que diz muito a respeito da “causa que pode ser compatível com a minha causa”, ou uma causa que comova ou mobilize, faça-me sentir participativo. Já a irmandade implica uma relação pessoal e ideológica. Os indivíduos de uma irmandade comungam de um mesmo modo de compreensão de vida, ou da sociedade, e possuem uma relação de pertencimento, neste caso, ligada a contribuição dos associados para o bem maior do grupo. Diferente da solidariedade ou da irmandade, a fraternidade supõe o reconhecimento do outro como ‘um outro de mim mesmo’, na perspectiva de responsabilização, entendendo da importância da troca, da retroalimentação - o mundo como uma rede. Na obra de Brandão e Silva (2012), os autores nos apresentam algumas possibilidades de reconstrução do sentido político da fraternidade, uma vez que é a dificuldade de compreensão conceitual, devido a universalidade da palavra, que reflete no entendimento da mesma. Segundo os autores, é preciso romper as limitações verificando as possibilidades de desprendimento do seu vínculo religioso, pois ainda que encontrado seu referencial nas escrituras sagradas, a fraternidade extrapola as 6 questões religiosas. Esse desprendimento se daria expandindo sua compreensão para o pensamento que liga a fraternidade a um modo prático de relação dos sujeitos na sociedade. A fraternidade também pode se dar através da superação da ideia de fragmentação e segmentação que ocorrem em grupos e organizações secretas, igualmente buscando a superação do individualismo das relações particulares, de classes, do direito particular, da ênfase apenas em tendências nacionalistas. A fraternidade apresenta segundo Souza, Tenório e Santos (2015), tem dois grandes desafios para a (re) construção do seu caráter político. Primeiro, o desafio de pensar como colocá-lo em prática, como transformar a fraternidade em algo palpável, em ações concretas, e em segundo, extrapolar a ideia estritamente religiosa de fraternidade, pensar sua politização, na sua constituição em diretrizes específicas e obrigatórias para as decisões individuais e coletivas. Antes mesmo de ponderarmos sua concretude, precisa ser trazida para a reflexão dos sujeitos que vivenciam as relações sociais de liberdade e de busca de igualdade com os demais sujeitos, com o mundo. A Fraternidade e a Equidade O debate sobre a fraternidade e seu caráter político é rico e múltiplo, abre um leque de caminhos e contribuições para chegarmos a uma ideia de como efetivar este direito. Pensar na fraternidade enquanto categoria política é trabalhar na construção social na qual o outro é um outro eu mesmo. É refletir sobre o estabelecimento de laços que são universais entre o sujeito que é cidadão do mundo, rompendo assim fronteiras culturais, ambientais, geográficas, políticas, científicas, etc. É trazermos a fraternidade para o cenário político, do direito, como práxis, não apenas conceitual, ideológica, mas operando em todas as instâncias da vida pública, principalmente, do Estado e dos governos, constituídos para viabilizar o bem comum de todas as sociedades. A sociedade, como um todo, precisa se sentir responsável por atitudes de Fraternidade, como se sente, ao perceber atitudes que ferem a Igualdade e a Liberdade do indivíduo ou de uma nação. Uma sociedade que se responsabilize no cumprimento da efetivação do real direito à Fraternidade, que é para, de e por todos e todas, por mais justiça social. Nas palavras de Rawls (2002), a justiça social na prática, seria a atuação de seus três 7 princípios (liberdade igual, oportunidade justa e diferença) na delegação de direitos e deveres, e na definição da divisão apropriada de vantagens sociais para todos. Segundo estudo de Kamphorst (2014), o papel dos princípios da justiça na sociedade visa o atendimento de necessidades mútuas, como forma de combater as desigualdades sociais. Ao reconhecermos a importância da redução das desigualdades é que o caráter político da fraternidade aparece. A redução das desigualdades sociais neste caso, não é entendida como atributo apenas do Estado, mas uma atribuição da sociedade. A avaliação institucional, uma necessidade nas políticas públicas A avaliação tem sido vista a partir de diferentes enfoques, desde a concepção de avaliação como medida, que Guba e Lincoln (1989) chamaram de ‘a primeira geração da avaliação’, até as concepções atuais de avaliação construtivista. Durante a década de 1960 surge um tipo de avaliação que põe em evidência a preocupação com a resolução de problemas sociais mais relevantes e a aplicação de métodos com rigor científico. Destacam-se os trabalhos de Michael Scriven e Donald Campbell, trazendo contribuições marcantes: uma tipologia para a teoria de avaliação introduzindo a distinção entre avaliação formativa, com o objetivo de gerar feedback para melhoria do programa e avaliação somativa, objetivando o julgamento do mérito do programa. Em 1970, surgem novos estudos em torno da utilização dos resultados das avaliações, demonstrando que, na prática, as informações geradas pelas avaliações nem sempre eram utilizadas de forma adequada pelos decisores, e, consequentemente, não produziam melhoria do desempenho dos programas, principalmente, nas políticas públicas. O foco dos estudos passa a ser o aumento da utilização desses resultados, no sentido de determinar as necessidades dos interessados, stakeholders, na avaliação ou nos seus resultados, tomando-as como variáveis importantes, e a utilização das informações decorrentes da avaliação conceitualmente, enlightment, contribuindo para a compreensão de questões e problemas referentes aos programas e projetos, gerando novas ideias e perspectivas. 8 O conceito de avaliação mais divulgado e utilizado, no Brasil, tanto para a avaliação da aprendizagem quanto para a avaliação de programas, tem sido o de Stufflebam, que pressupõe a avaliação como atividade realizada para gerar uma tomada de decisão quanto à qualificação do trabalho. Por outro lado, verificando a impossibilidade de pensar a avaliação apenas do ponto de vista da aplicação de métodos científicos, Guba e Lincoln (1989) ressaltam a necessidade de considerar aspectos humanos, sociais, culturais, políticos e contextuais que se articulam no desenvolvimento dos processos. Dessa forma, a prática da avaliação depende dos objetivos que se pretende alcançar, dos pressupostos e do perfil dos avaliadores, dos interesses institucionais e da disponibilização de recursos para a sua realização. Evidencia-se, assim, o aspecto socializador da avaliação e a necessidade da negociação como parte do processo. Esse é um movimento que surge a partir de 1990, trazendo a arte de comunicar e negociar como elementos fundamentais da avaliação, configurando-se também como um processo emancipador, que desenvolve a autonomia intelectual de quem participa dos processos, uma vez que articula saberes e práticas do cotidiano destes. Mas quem trabalha em processos avaliativos, precisa conhecer bem o que significa avaliar e negociar, e como desenvolver uma ação comunicativa em cada etapa do processo. Há uma comunhão entre as ações de avaliar, a necessidade de negociação, a realização da tomada de decisão, e o domínio de uma comunicação plena, possibilitando uma ação comunicativa em todas as etapas. Habermas (2003) conceitua ação comunicativa a partir das interações sociais, objetivas e coletivas, ou seja, intersubjetivas. Neste processo comunicativo racional todos os participantes são ativos, dialogam, negociam e para chegar aos consensos possíveis, tomam as decisões sobre os objetos dos discursos e das ações sociais consequentes possíveis, superando o modelo funcionalista coercitivo ou autoritário. A ação comunicativa possibilita aos sujeitos participantes no ato de comunicação a construção de um espaço intersubjetivo comum, através da interação, da retroaliomentação (feedback), do diálogo, das decisões negociadas. O processo de avaliação negociada e voltada para a melhoria se insere nesta lógica. Assim, o feedback, elemento estruturante do diálogo, é base comum da comunicação e da avaliação, em particular a da avaliação negociada que se constrói com base no diálogo orientado ao 9 entendimento, à formação, à decisão dialogada efetivada pelo conjunto de sujeitos interessados no processo avaliativo e na ação consequente. A ação comunicativa vai exigir que emissores e receptores tenham predisposição para gasto de energia em processos empáticos que levem a interação, adoção de papéis, persuasão, e todo o tempo, vai necessitar de retroalimentação para gerar feedback (respostas) a cada etapa. No âmbito das políticas públicas, que inclui ações envolvendo instituições e empresas administradas e voltadas para o bem estar social, a Fraternidade se impõe enquanto categoria política que exige dos agentes públicos, uma ação comunicativa rotineira, em todos os processos de trabalho, incluindo-se aí as etapas de avaliação institucional, com vistas à melhoria dos processos, e principalmente, que busquem por uma equidade social, quando tornam mais eficientes todo e qualquer programa de políticas públicas. Avaliação: conhecer para comunicar A avaliação é uma atividade que consiste no levantamento de informações fidedignas e precisas sobre um objeto ou processo, para subsidiar uma tomada de decisão com vistas à melhoria do objeto ou processo. Em outras palavras, a avaliação comporta três grandes momentos: o primeiro momento de diagnóstico, de busca de informações de qualidade; o segundo momento de julgamento, de tomada de decisão, em que as informações previamente levantadas, organizadas e analisadas, servirão de subsídios a uma tomada de decisão com relação ao processo em avaliação; e, finalmente, um terceiro momento, que é o uso dessa decisão no sentido da melhoria do processo. Assim, incorpora-se ao conceito de avaliação a própria finalidade da avaliação (TENÓRIO, 2010). Na definição acima, também se torna evidente o triplo caráter da avaliação: avaliação é ao mesmo tempo: (1) diagnóstico ou pesquisa (aspecto técnico da avaliação), (2) gestão (aspecto político da avaliação) e (3) compromisso com a superação e a melhoria do processo avaliado (aspecto social da avaliação). Avaliação é pesquisa, pois a fase de diagnóstico da avaliação busca, da mesma forma que na pesquisa sistemática, e usando as mesmas técnicas e instrumentos, coletar, tratar e organizar dados, interpretar informações, sempre de forma fidedigna e rigorosa. A busca de uma compreensão da realidade, a busca da verdade, ao mesmo tempo 10 objetiva e provisória, através da capacidade cognitiva (inteligência humana) caracteriza esta fase técnica da avaliação, o que a torna semelhante à pesquisa. Avaliação é gestão, pois, assim como tal atividade, a fase de tomada de decisão faz uso do bom senso, exige posicionamento político, sustentado no julgamento da realidade, com base em informações fidedignas e rigorosas. Faz parte da gestão, os processos de negociação, como compromisso com a superação e melhoria do processo avaliado. A negociação é uma característica essencial da gestão contemporânea, assim como da avaliação. Na atualidade, a negociação está presente no mundo do trabalho, no espaço familiar, nas relações com a comunidade e em todas as etapas do processo educativo. O avaliador-negociador promove, através de um processo de troca e de comunicação, a definição de critérios, dos objetivos e das estratégias. Nesse processo, o avaliador envolve os diversos segmentos interessados no objeto da avaliação, para, no final, divulgar e disseminar os resultados para que estes tenham, em toda a comunidade envolvida, os efeitos desejados. Negociação em avaliação envolve, portanto, disposição para articular objetivos, metas, princípios e saberes teóricos e da prática educativa, seja na escola ou na empresa, com a finalidade de propiciar a tomada de decisões para a melhoria do processo de formação. A quebra de paradigmas que caracteriza o mundo atual, trazendo propostas inovadoras em todos os ramos do conhecimento, tem exercido influência no processo de tomada de decisões em todos os setores. As metodologias racionalistas não encontram mais lugar nos sistemas organizacionais que acompanham as mudanças na sociedade. As novas metodologias de apoio à decisão, inovadoras, têm um caráter sistêmico e de aprendizagem permanente, sugerindo um equilíbrio viável entre seu ambiente externo e seus objetivos internos. Em qualquer processo de gestão, há ações que visam estimular e capacitar empreendedores e demais atores envolvidos no processo; como essas ações estão sujeitas ao planejamento e à avaliação, a tomada de decisão faz parte do processo de avaliação/gestão. Julgamento e negociação sustentam a tomada de decisão, na avaliação e na gestão, aproximando-as através das capacidades humanas de julgamento e de decisão. A avaliação requer uma consciência ética, voltada para servir à sociedade, pois a fase de melhoria do processo ou objeto avaliado significa envolvimento, compromisso; 11 significa, ainda, a capacidade de reconhecer a alteridade, a tolerância e a partilha; em síntese, exige Fraternidade, para lidar com a explicitação dos conflitos que caracterizam as relações humanas em qualquer tempo ou lugar. Como a avaliação permite o julgamento e, portanto, interpretações, sujeitos diferentes podem discordar dos resultados. O envolvimento dos interessados promove a construção mútua do conhecimento em um processo dialógico de aprendizado. A verdade é definida dentro de uma construção em que se busca, mesmo que não se alcance plenamente, o consenso. Guba e Lincoln (1989) ao propor uma avaliação construtivista responsiva, acreditam que as pessoas envolvidas na avaliação precisam participar com reivindicações, interesses e problemas sobre o objeto a ser avaliado. Os autores defendem que diferentes interessados podem produzir diferentes padrões de valor, e como eles são os avaliados, precisam ser ouvidos. Assim, se o julgamento refletir os valores de um grupo, a perda é minimizada. Eles destacaram características fundamentais, que tornam a negociação uma necessidade: o resultado de uma avaliação não é uma verdade e sim resultado da construção social em dada situação, por isso negociar é construir; valorizam-se sistemas diversos com valores diversos (físico, psíquico, social, cultural) e negociar deve contemplar um olhar sobre as diferenças; a construção da avaliação deve ter a participação dos interessados, porque eles estão diretamente ligados à melhoria do processo; a avaliação deve sugerir/estimular/envolver uma orientação que quando comprometida pelos interessados deve ser seguida; e finalmente, avaliação é uma tarefa do humano, portanto, o avaliador deve ser considerado como ator no processo e como tanto, um negociador. Em qualquer área uma negociação sugere acordos, ajustes, um alinhamento entre os interesses, objetivos e necessidades que estão em jogo. Tanto a negociação quanto a tomada de decisão estão permeadas por alianças de poder, interesses vários, intercâmbios de ordem econômica e/ou cultural. Logo, se a premissa básica antes da tomada de decisão em avaliação exige negociar, com o objetivo de corrigir e adequar ações, para ajustá-las durante a tomada de decisão, o avaliador passa a ter um papel de gestor do processo (TENÓRIO e LOPES, 2010). Gestor é antes de tudo um facilitador, e para tanto, cabe a ele gerenciar dentre outros aspectos, elementos que permitam um bom fluxo de relações internas, contatos, aproximações que oportunizem a negociação. Para Ceroni (2008) cabe ao gestor, que 12 antes de tudo seja educador, oferecer uma série de possibilidades e oportunidades às pessoas que trabalham e compartilham com ele as informações, de se sentirem motivados e de obterem feedback imediato sobre as informações obtidas _ para que ele alcance melhor compreensão e comunicação com seus colaboradores e com pessoas de outras áreas da organização. Em qualquer etapa de uma gestão, informações são cruciais. Os envolvidos, tanto aqueles que oferecem serviços quanto aqueles que são beneficiários de serviços, em políticas públicas, precisam estar bem informados. Quem não detém informação perde a oportunidade de se manifestar baseado no conhecimento correto. Neste contexto, a comunicação, entendida também como processo, pode trazer fortes contribuições. Segundo Glaucia Davino (2008), o ser humano precisa da comunicação em tudo o que realiza. Matos (2009) evidencia que há diferença entre informação e comunicação. Informação é quando um emissor passa para um receptor um conjunto de dados codificados que elimina uma série de indefinições e dúvidas. Ou seja, a informação pressupõe a figura do emissor, a mensagem e um receptor. A comunicação acontece somente quando a informação recebida pelo receptor é compreendida, interpretada e decodificada e encaminhada de volta ao emissor, o que caracteriza a retroalimentação do processo. Esse retorno, chamado de feedback é o principal elemento que caracteriza e dinamiza o processo de comunicação. Comunicação, com Fraternidade, para melhor equidade nas ações e organizações das Políticas Públicas A palavra comunicação é originária do latim communicare, que significa tornar comum, partilhar, repartir, associar, trocar opiniões. Segundo Rabaçã e Barbosa (apud MATOS, 2009), no Dicionário de Comunicação, comunicar implica em participação, interação e troca de informações. Para Goodall Jr e Eisnberg (1997, apud SCROFERNEKER, 2003) o modelo de comunicação que enfatiza o feedback, chamado transacional, tem interesse em saber como a mensagem é recebida e entendida, particularmente, através da manifestação não 13 verbal. Assim, em uma comunicação efetiva, onde é preciso verificar se houve feedback, o emissor deve observar o comportamento manifestado por quem recebe a mensagem, não apenas o que é expresso verbalmente pelo receptor. Logo, a participação e interação de um grupo em qualquer ação, e isso inclui qualquer processo dentro de uma ação voltada para o bem comum, precisa ter feedback. E caso não ocorra, é preciso formular novas estratégias de envolvimento para gerar novos comportamentos. Por este motivo, cabe a um gestor perceber as mudanças de comportamento dos envolvidos. Essas mudanças, respostas ou feedback gerados, precisam ser retroalimentados. O intercâmbio de comunicação entre as pessoas proporciona a maneira pela qual elas se influenciam reciprocamente. Por isso comunicação tem a ver com diversos tipos de influências que recebemos: externas (como sensações e percepções) e internas (advindas de nossos processos, como interpretação, compreensão, atribuição e atenção). E ainda com influências externas que provocamos em nossos semelhantes, e que se expressam através da liderança, motivação, sugestão, emulação. E segundo pesquisadores da comunicação organizacional dialogam com relacionamento, interação, conectividade, convivência, coesão, aprendizado, cooperação e comprometimento. Para Ceroni (2008), a comunicação nas empresas e instituições, diferente do texto jornalístico e literário, tem como princípio fundamental uma resposta objetiva àquilo que é transmitido. A essa característica dá-se o nome de eficácia ou eficiência. Na troca de informações, a eficiência tem sido fator decisivo, principalmente quando o assunto é gestão. É importante destacar que a eficácia é medida pela resposta e obtida por mecanismos de persuasão, segundo a autora. Uma gestão democrática, em qualquer setor de políticas públicas, tem a obrigação de informar ao público em geral de que forma age aquela instituição, em que atua, como gasta e como se avalia o que foi gasto, visando a melhoria de todos os seus setores e serviços e garantir que os resultados serão do conhecimento público. É preciso garantir uma comunicação que utilize meios que possam atingir a um grande número de pessoas. Muitas instituições ligadas às políticas públicas são avaliadas em caráter obrigatório, legislativo, como é o caso das instituições de ensino superior, que precisam ter uma comissão com participação representativa da comunidade interna. É importante 14 que tanto a administração da instituição e a comissão se comuniquem de maneira oficial, deixando claro como será o processo, seus critérios, metodologias. A comunicação interna, voltada para a comunidade da instituição, busca entendimento mútuo, partilha de objetivos e é construída tanto com meios de comunicação de massa (como boletins, jornais internos, vídeos, intranet, etc.) quanto com fortalecimento da comunicação interpessoal (com atividades que incluam desde reuniões setorizadas, em pequenos eventos de esclarecimento e em contatos mais próximos entre os atores). Com as novas tecnologias é possível criar mecanismos, como fóruns e listas de discussão, grupos em aplicativos de smartphone, grupos em redes sociais, instrumentos que possibilitam que os indivíduos se manifestem e se expressem sobre um tema, estando em horários e locais diversos, por meio de internet ou intranet. Em um processo avaliativo, objeto aqui, de um exemplo mais específico, dentro das políticas públicas, a comunicação interna será utilizada para mobilizar a comunidade para ampla participação, caso seja necessário coletar dados qualitativos através de entrevistas, questionários. A comunicação interna também vai possibilitar interação entre as categorias e os avaliadores, de modo participativo, visando contemplar valores diversos. Desenvolver a comunicação interna, segundo Santo (1996) pode assegurar coesão, sentimento de partilha e pertencimento àqueles que são receptores. É na comunicação interna que vamos observar a importância de uma comunicação expressiva, onde as habilidades das fontes são testadas. Constatadas as habilidades e a experiência adequadas, a comunicação pode envolver a interação, que, segundo Berlo (2003), leva a uma reciprocidade na adoção de papéis. O termo interação denomina o processo de adoção recíproca de papéis, o desempenho mútuo de comportamentos empáticos. É neste campo que a categoria Fraternidade deve atuar mais fortemente, pois comunicação é poder e na tipologia dos poderes, há o expressivo: “Se poder é a capacidade de uma pessoa influenciar uma outra, para que aceite as razões da primeira, isso se dá, inicialmente, por força da argumentação” (TORQUATO, 2003:26). No processo decisório que leva à tomada de decisão, a comunicação interpessoal será a mais específica entre os avaliadores e os gestores, exercitada principalmente com a argumentação da importância de uma tomada de decisão que leve à garantia de melhoria dos processos, quando parte dos resultados dos diagnósticos quantitativos e qualitativos 15 estão sendo julgados e avaliados, para que medidas sejam tomadas visando o melhor para a instituição. Segundo Bordenave (1989), há cinco elementos básicos da comunicação, que aqui apresentaremos, contextualizando como esses elementos estão dispostos em um processo avaliativo: 1. A realidade ou situação onde ela se realiza e sobre a qual tem efeito transformador – Neste caso, a realidade é a instituição que está sujeita a uma avaliação e a situação é o próprio processo avaliativo, que inclui suas diversas etapas. Toda a comunicação se fará tendo em vista a avaliação como foco principal e, principalmente, que esta avaliação não tem caráter punitivo e sim, de melhorar um processo interno. 2. Os interlocutores que dela participam – avaliadores, avaliados e decisores são os interlocutores em processos comunicativos durante a avaliação. 3. Os conteúdos ou mensagens que eles compartilham - desde a coleta de informações de qualidade durante o diagnóstico, as negociações nos julgamentos que levam à tomada de decisão, a divulgação dos resultados obtidos e o diálogo que vai gerar a melhoria dos processos avaliados. 4. Os signos que utilizam para representar este conteúdo ou mensagem- que inclui os códigos, desde gráficos, imagens, as palavras, os gestos, enfim, um conjunto contextualizado de signos que vão representar as mensagens importantes do processo avaliativo. 5. Os meios que empregam para transmiti-los, desde reuniões, em comunicação interna e administrativa, boletins e jornais murais, na busca de congregar o público interno, ou internet e mídias mais potentes, quando a necessidade de divulgação institucional se fará presente para divulgar resultados. Bordenave (1989) afirma que a comunicação serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-se mutuamente e à realidade que as rodeia. Mas ele analisa que o modo da nossa sociedade usar a comunicação nem sempre ajuda na tomada de decisões importantes. O autor faz uma reflexão sobre uma defasagem entre a descoberta do homem social e o conhecimento de como orientar a vida social em função desse homem. Ele cita o filósofo grego Sócrates, que afirmou que o conhecimento da verdade leva à virtude. Para Sócrates, basta que uma pessoa conheça a verdade para que procure viver de acordo com ela, logo, se o homem conhece uma situação que precisa 16 ser melhorada, vai procurar melhorá-la. Bordenave discorda em parte com a afirmação do filósofo. Diz que é necessário, porém não suficiente, conhecer as coisas para melhorá-las e acrescenta que além de conhecer, é preciso a valorização, a decisão, a ação coletiva de melhoria, mediadas pela comunicação efetiva. A comunicação entre duas ou mais pessoas requer uma relação de interdependência, e esta pode ser elaborada a partir de ações e reações das fontes e receptores. A fonte pode usar a reação do receptor como verificação de sua própria eficiência e como guia para ações futuras. A reação do receptor é consequência, serve de feedback, de informação à fonte, referente ao seu sucesso na realização de um objetivo e, ao fazer isso, exerce controle sobre futuras mensagens que a fonte venha a codificar (BERLO, 2003). Quando a fonte recebe feedback compensador, continua a produzir a mesma espécie de mensagem. Oradores e audiências, atores e plateias, fontes e receptores, podem em geral, ser interdependentes através dos efeitos mútuos de suas reações sobre a outra parte. Gerir instituições ligadas às políticas públicas, exige todo tempo, negociação, entre gestores e geridos, o próprio público interno e externo, já que teoricamente, tudo mantido por Governo é voltado para todos. A comunicação interpessoal é muito utilizada para estabelecer e manter relacionamentos, e trocar informações com interlocutores a fim de atingir objetivos. Por isso um gestor precisa ter sensibilidade para perceber o significado do comportamento do interlocutor e flexibilidade para ser capaz de gerar comportamentos diferentes até atingir o objetivo desejado. No caso de um avaliador (gestor do processo avaliativo), negociar a divulgação dos resultados é estabelecer um processo de persuasão ética, cujo interesse maior é a participação de todos os atores. No texto ‘Avaliação, decisão e comprometimento: uma proposta sobre ética a Nicômaco’ de Robinson Tenório e Claudio Amorim (prelo), os autores adentram na análise das virtudes episteme, teknê e fronésis, lembrando que a primeira refere-se ao que é demonstrável, o que muitas vezes liga o termo à ciência e a segunda, a teknê, é o domínio da técnica, e aprofundam o conceito de fronésis aplicada à avaliação. Em português, fronésis poderia ser traduzido como sabedoria prática ou sensatez. Uma capacidade de agir com vistas ao bem estar do ser humano, no rumo dos fins almejados, que revela certa experiência, maturação do caráter ou tato, para lidar com as circunstâncias sempre cambiantes da vida social. Pressupõe reflexão, o 17 debruçar-se sobre a compreensão de valores, tendências e necessidades a fim de que a ação, embora contingente, seja o tanto quanto possível, orientada por princípios estáveis. A interação e a negociação, na ação comunicativa, sem dúvida, vão exigir um exercício da fronésis por parte do avaliador e uma eficiente postura fraterna, enquanto atividade política de gestão do dinheiro público. Também vão exigir grande gasto de energia. Tanto a interação, que inclui a adoção de papéis, quando o processo empático, que fará com que o avaliador observe as respostas e comportamentos dos receptores e vá ajustando novas formas de interação, segundo Berlo (2003), são operações que consomem muito tempo, contínua interpretação do mundo conforme o ponto de vista de outras pessoas e o resultado é cansaço físico e psicológico de quem se propõe a esse tipo de processo comunicativo. Antevendo tal desgaste em qualquer processo de empatia e interação, o autor atenta para que o comunicador perceba de antemão que recompensa tal processo pode advir, assim o gasto de energia se justifica. Nas políticas públicas, de forma geral, a motivação que o levará a investir energia em busca da empatia e interação, é perceber que sua área de atuação, gera, efetivamente, melhoria para aqueles que dependem dos serviços prestados por sua instituição. Considerações finais Para Torquato (2003), comunicação é base de cidadania e tem diversas funções, entre elas: oportunizar o direito à informação; mapear interesses sociais; orientar cidadãos; democratizar o poder; integrar o indivíduo ao grupo e torná-lo participativo; de fazer com que as pessoas expressem seus valores, sua identidade. Comunicar não é apenas divulgar, dar publicidade e não se restringe tão somente a utilizar meios e canais para ter contato com o público interno e externo de uma instituição. Comunicar efetivamente requer predisposição para interagir, fornecer informações e procurar saber se elas foram interpretadas, compreendidas, ou seja, buscar feedback. Para Bordenave (1989) os agentes de mudança estão percebendo que: Muito mais importante que adotar conhecimentos e práticas específicas é desenvolver a capacidade de identificar problemas da realidade através da interação com os demais e com o meio, para depois articular estes problemas e buscar-lhes solução (...) e tudo isso exige o desenvolvimento da capacidade de comunicar. A 18 aquisição do poder de reivindicação implica a coesão grupal, a autoconfiança e a posse da habilidade de exposição, argumentação e persuasão da opinião pública, todas essas capacidades baseadas na comunicação (BORDENAVE, 1898: 96). Meire e Oliveira (2004, apud DAVINO, 2008), atentam que não basta ter uma equipe de grandes talentos altamente motivada. Se esta equipe não estiver bem informada, se seus integrantes não se comunicarem bem, não será possível potencializar a força humana que integra a equipe. Em conjunto, a categoria política Fraternidade e a comunicação, podem, em síntese, modificar a forma como o agente público trata seu cliente, o outro, o cidadão. É preciso considerar a importância social da ação comunicativa, aliada à fraternidade e buscar que ambas sejam direito de todo cidadão, em suas relações com ações, projetos, programas e instituições públicas. Para tanto, a Fraternidade precisa estar articulada ao conceito de Justiça, tal como nos indica Jonh Rawls, por meio do princípio da liberdade igual - a ideia de que a sociedade deve assegurar a máxima liberdade para cada pessoa, sem distinção; princípio da oportunidade justa - a ideia de que deve haver condição de justa igualdade de oportunidades para todos; princípio da diferença - a ideia de que a sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza, gerando benefícios para os menos favorecidos alcançarem um patamar compatível aos demais. Para que estes princípios sejam concretizados, o conceito de reparação ganha destaque. E é nesta direção que caminha a efetivação da justiça, através da reparação das diferenças via compensação. Ou seja, a equidade supõe o bem público - acesso a direitos e deverem por todos. A partir de seu ressurgimento enquanto categoria política, é necesário reconstruir a centralidade social e política da Fraternidade. E este é um papel da escola, da família, das universidades e de toda a sociedade. Além disso, a comunicação como ferramenta indispensável, aqui aplicada ao processo decisório, para desmistificar o valor negativo de um processo avaliativo, pode demonstrar que ao final todos ganharão se os resultados detectados servirem para que alterações sejam feitas visando à melhora geral de um programa, projeto, instituição pública, com vistas ao bem comum. 19 Referências Bibliográficas BAGGIO, A. M. O princípio esquecido: a fraternidade na reflexão atual das ciências políticas. 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