Brasil ganha três novos instrumentos para conservação de sua flora – 15/12/2014 Exatamente um ano depois do lançamento do Livro Vermelho da Flora do Brasil, vencedor do Prêmio Jabuti (2014) na categoria Ciências da Natureza, o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro – JBRJ, por intermédio de seu Centro Nacional de Conservação da Flora – CNCFlora, lança, em 15 de dezembro, três novas publicações de fundamental importância para a conservação da biodiversidade em nosso país. O livro Áreas Prioritárias para Conservação e Uso Sustentável da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção, o Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação do Faveiro-de-Wilson e o Livro Vermelho da Flora do Brasil - Plantas Raras do Cerrado têm como principal objetivo subsidiar os tomadores de decisão com informação científica qualificada para orientar as iniciativas de preservação da biodiversidade florística do país, de forma a cumprir metas estabelecidas na Convenção da Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é um dos signatários. As publicações têm caráter oficial, uma vez que o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, através do Centro Nacional de Conservação da Flora - CNCFlora, recebeu do Ministério do Meio Ambiente o mandato para fazer a avaliação científica do risco de extinção das espécies da flora brasileira, planejar as ações de conservação da flora ameaçada de extinção por meio de Planos de Ação Nacionais (PAN) e elencar as áreas prioritárias para a conservação das espécies ameaçadas, em âmbito nacional (Portaria MMA n° 43 de 31 de janeiro de 2014). Além das versões impressas, as três publicações estarão disponíveis online no site do CNCFlora http://cncflora.jbrj.gov.br/portal a partir de 16 de dezembro. “É com enorme satisfação que o Centro Nacional de Conservação da Flora entrega para os tomadores de decisão, a comunidade científica e a sociedade em geral, esses três produtos de enorme importância para os esforços de conservação da flora brasileira. O Prêmio Jabuti que recebemos neste ano, pelo Livro Vermelho da Flora do Brasil publicado em 2013, é um importante indicativo de que a sociedade está se mobilizando para essa questão tão relevante que é a conservação da rica e exuberante flora brasileira”, complementou Gustavo Martinelli, coordenador geral do CNCFlora. Trabalho mapeia áreas prioritárias para conservação da flora brasileira O livro “Áreas Prioritárias para Conservação e Uso Sustentável da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção” é um importante instrumento para elaboração de políticas públicas, pois indica as localidades no território nacional onde ações para reduzir o risco de extinção de espécies da flora brasileira podem ser mais efetivas, visando alcançar a Meta 11 do Plano Estratégico para a Conservação da Biodiversidade de Aichi (CDB) até 2020. A Meta 11 prevê que 17% das áreas terrestres e marinhas de cada país devem estar protegidas para a conservação da biodiversidade até 2020. Além disso, o mapa direciona políticas para o cumprimento das metas 5 e 7 da Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC). Essas metas preveem a proteção e o manejo de, no mínimo, 75% das áreas mais importantes para a 1 diversidade de plantas, bem como a conservação in situ de um mínimo de 70% das plantas ameaçadas conhecidas. A publicação indica que 99% das plantas ameaçadas podem ser conservadas caso ações sejam efetivamente estabelecidas nessas áreas. O livro é resultado de uma parceria entre o CNCFlora e o Laboratório de Biogeografia da Conservação (CB-Lab) da Universidade Federal de Goiás. O CNCFlora forneceu as bases de dados do Livro Vermelho da Flora do Brasil, com informações sobre espécies ameaçadas. O mapeamento das áreas prioritárias foi realizado pelo CB-Lab, suportado por softwares especializados e com base nas diretrizes técnicas definidas em conjunto com o CNCFlora. “Para evitar possíveis conflitos que poderiam atrapalhar as ações de conservação, procuramos maximizar a ocorrência das espécies em locais que não se sobrepunham a áreas onde ocorrem as maiores ameaças às plantas. Nossa preocupação foi de fazer um mapa sem ingenuidades, um produto factível que prevê e evita conflitos potenciais”, explica o diretor do CB-Lab, Rafael Loyola. Para atender às metas de Aichi, as áreas apontadas como prioritárias também evitam a sobreposição com unidades de conservação já existentes e com terras indígenas. As exceções são a Amazônia e parte da Mata Atlântica, onde grandes extensões territoriais se encontram em um ou outro caso. Como resultado do trabalho, 95% das espécies apontadas pelo Livro Vermelho como ameaçadas de extinção têm, cada uma, pelo menos 10% de sua distribuição representada no mapa. A publicação faz ainda outros recortes de prioridades, para além dos 17% definidos pela meta de Aichi, de acordo com o grau de prioridade – “extremamente alta”, “muito alta” ou “alta”. O livro “Áreas Prioritárias para Conservação e Uso Sustentável da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção” servirá para subsidiar decisões do governo brasileiro relacionadas com a conservação da flora nacional. Para a sua elaboração, contou com recursos do Fundo Mundial Para o Meio Ambiente – GEF (Global Environment Facility), articulado com o Banco Mundial por meio do Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para a Biodiversidade – Probio II. Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação do Faveiro-de-Wilson Dando continuidade ao trabalho de avaliação do risco de extinção de espécies da flora, o CNCFlora tem avançado de forma consistente no planejamento das ações necessárias para diminuir o risco de extinção da flora ameaçada. O primeiro resultado concreto é a publicação do “Plano de Ação Nacional para Conservação do Faveiro-de-Wilson”. O CNCFlora elabora Planos de Ação Nacionais (PANs) com o objetivo de direcionar ações de conservação, monitorar e medir resultados por meio de indicadores e evitar a dispersão e duplicação de esforços. Para tanto utiliza uma abordagem territorial, de forma a abarcar um maior número de espécies por plano e poder também combater as ameaças às espécies de forma mais eficiente. O Faveiro-de-Wilson (Dimorphandra wilsonii), entretanto, ganhou um plano próprio – dado o grau de risco de extinção em que se encontra, a existência de muito conhecimento acumulado sobre a espécie e um significativo envolvimento das populações locais no esforço de conservá-la. Descrito para a Ciência em 1969, o Faveiro-de-Wilson começou a ser estudado pela Fundação ZooBotânica de Belo Horizonte há 10 anos. Na época, os pesquisadores encontraram apenas 12 indivíduos dessa espécie. Teve início, então, um exaustivo trabalho de busca de dados envolvendo tanto especialistas quanto a população local. Atualmente, há registro de 246 indivíduos dessa espécie, que ocorre exclusivamente no Cerrado de Minas Gerais e está classificada como “Criticamente Em Perigo” de extinção no Livro Vermelho da Flora do Brasil. O CNCFlora estabeleceu uma parceria com a Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte para elaborar o PAN para conservação do Faveiro-de-Wilson, que sofre principalmente com a expansão 2 urbana de Belo Horizonte, com as atividades agropecuárias e com a mineração. Para a elaboração do PAN foram compiladas todas as informações disponíveis sobre a espécie e a área onde ocorre, em 14 municípios nos arredores de Belo Horizonte, para realização de oficina com todos os atores envolvidos com a sobrevivência da espécie, como instituições de pesquisa e ensino, ONGs, empresas, moradores, proprietários rurais, dentre outros. As oficinas são importantes para que sejam discutidas e traçadas as ações de conservação capazes de conter as ameaças. Cada ação de conservação definida tem um articulador e colaboradores, com produtos, indicadores de desempenho e cronograma. O CNCFlora faz reuniões anuais com os envolvidos para monitorar o trabalho, que envolve diretamente cerca de 50 pessoas. O PAN de Conservação do Faveiro-de-Wilson tem duração de cinco anos, quando passará por uma avaliação para sua continuidade. A meta para dez anos é de que a espécie saia da categoria “Criticamente Em Perigo” e passe para a categoria “Em Perigo” ou “Vulnerável”, que representam menor risco de extinção. Um indicador do sucesso do PAN será, ao final dos cinco primeiros anos, a triplicação do número de indivíduos adultos reintroduzidos na natureza. Este PAN também contou com a colaboração da equipe do CB-Lab, da Universidade Federal de Goiás. Segundo Livro Vermelho traz levantamento sobre o risco de extinção das espécies raras da flora do Cerrado Após lançar o Livro Vermelho da Flora do Brasil em 2013, foi dada continuidade ao trabalho de avaliação do risco de extinção de espécies da flora brasileira, com o lançamento do Livro Vermelho da Flora do Brasil - Plantas Raras do Cerrado. O Cerrado é um “Hotspot de Biodiversidade” que sofre atualmente muita pressão, principalmente pela expansão da agropecuária. Este foi um dos motivos que motivou a escolha desse bioma para a primeira avaliação centrada em espécies raras. Assim como no primeiro Livro Vermelho da Flora do Brasil, os verbetes do Livro Vermelho da Flora do Brasil - Plantas Raras do Cerrado estão organizados por famílias e espécies. A elaboração da publicação envolveu cerca de 107 especialistas, além da equipe do CNCFlora. Foram avaliadas 578 espécies, sendo que 366 delas entraram em uma das três categorias que indicam risco de extinção. O levantamento aponta 60 espécies na categoria “Criticamente Em Perigo”, outras 232 na categoria “Em Perigo” e 74 na categoria “Vulnerável”. Foram classificadas 34 espécies como “Quase” Ameaçadas, enquanto outras 30 se encontram em situação menos preocupante. Existem ainda outras 147 espécies sobre as quais há deficiência de dados e que demandam mais pesquisas para poderem ser avaliadas quanto ao risco de extinção. Informações para a imprensa: Assessoria de Comunicação do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (21) 3204-2498/3205-2516 [email protected] Centro Nacional de Conservação da Flora - CNCFlora Luciana Gondim - [email protected] – (21) 987531419 3