Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica.
Revisão da Lista da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção:
desafios enfrentados e lições para o futuro
MÍRIAM
PIMENTEL
MENDONÇA
FUNDAÇÃO
ZOO-BOTÂNICA
HORIZONTE/JARDIM BOTÂNICO
GLÁUCIA MOREIRA DRUMMOND - FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS
CÁSSIO SOARES MARTINS - FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS
DE
BELO
[email protected]
A Fundação Biodiversitas, através de convênio firmado com a Diretoria de
Florestas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - Ibama, coordenou o projeto “Revisão da Lista Oficial das
Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção”, cuja última
atualização data de 1992. O projeto foi desenvolvido no período de 12 meses,
sendo finalizado em junho de 2005, ou seja, os resultados remetem a uma
avaliação do status de conservação das espécies após 13 anos da última lista
publicada pelo IBAMA. Foram parceiros Foram parceiros executivos da
Biodiversitas nesse projeto o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, a Sociedade Botânica
do Brasil, o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a Rede
Brasileira de Jardins Botânicos.
A metodologia que envolveu a elaboração dessa lista compôs-se de três
etapas, assim resumidas:
1) Etapa Preparatória, na qual foi estabelecido um grupo de Coordenação
Científica (composto de 15 especialistas) responsável pela condução técnica da
revisão em suas especialidades. Foram divididos grupos e subgrupos segundo
a classificação para ordens e famílias botânicas; para as Angiospermas
adotamos a classificação das famílias segundo a APG II. Nesta fase foi
elaborada uma lista preliminar das espécies sob risco de extinção no Brasil
através da aplicação dos critérios e categorias propostos pela União Mundial
para a Natureza – IUCN, a qual, posteriormente, foi submetida a uma ampla
Consulta. Essa Consulta Ampla foi caracterizada pela abertura da lista aos
especialistas nos diversos grupos vegetais em estudo, permitindo-os opinar
sobre o status sugerido para cada espécie candidata, podendo também propor
a inclusão de novas espécies na lista. Para dar agilidade e viabilizar a
participação de um número expressivo de cientistas, a Biodiversitas
implementou um sistema eletrônico para a inclusão das informações
pertinentes ao objetivo da revisão. Assim, no endereço eletrônico se
encontravam disponíveis a base de dados da lista preliminar das espécies,
todas as informações sobre o processo de revisão da lista, categorias e
critérios IUCN de avaliação das espécies e outros documentos de apoio.
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Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica.
2) Etapa Decisória – Nesta etapa foram compiladas as propostas feitas pelos
especialistas que contribuíram no processo durante a Etapa 1; discutida e
aprovada a lista definitiva em Workshop.
3) Etapa Final – que caracteriza o encaminhamento da nova lista ao
Ministério do Meio Ambiente e IBAMA para homologação e publicação no Diário
Oficial.
Durante a elaboração da lista de espécies candidatas, 290 especialistas de 150
instituições de pesquisas do Brasil e do exterior participaram da consulta. Isso
foi possível graças à metodologia adotada pela Biodiversitas de gerenciar todas
as informações em um sistema de banco de dados on line. O banco de dados,
específico para projeto, promoveu o compartilhamento de informações entre
especialistas nas diversas famílias botânicas e biomas, mantendo a integridade
dos dados. Além disso, grande parte das informações foi proveniente de teses
dos últimos 10 anos e não estão divulgadas no meio científico na forma de
publicações.
Durante o Workshop, 74 especialistas analisaram um total de 5210 espécies,
das quais 4489 foram previamente indicadas pelos colaboradores em consulta
ampla, on line, e 721 foram incorporadas durante o evento. Do total, 1549
espécies foram avaliadas como ameaçadas de extinção nas categorias
CRITICAMENTE EM PERIGO (299), EM PERIGO (337) e VULNERÁVEL (913) e
11 extintas (sendo 7 extintas e 4 extintas na natureza, essas últimas
sobrevivem apenas em cultivo). Certamente o número de extintas é bem
maior. Outras 2527 espécies não puderam ser categorizadas devido à
insuficiência de dados. Muitas dessas espécies foram coletadas apenas uma
vez e não foram ainda reencontradas em campo, possivelmente encontram-se
extintas.
A lista das espécies da flora ameaçada de extinção, a princípio, pode parecer
muito extensa àqueles que não estão familiarizados com a riqueza da flora
tropical. O Brasil é considerado como o país de flora mais rica do mundo, com
cerca de 60.000 espécies de um total de mais de 155.000 reconhecidas entre
as angiospermas (dicotiledôneas e monocotiledôneas) tropicais.
Briófitas: atualmente, no Brasil, foram documentadas 3125 espécies de
briófitas, do total de 24.000 espécies no mundo; 17 espécies encontram-se
ameaçadas no Brasil, outras 1144 foram consideradas DD (com dados
insuficientes).
Pteridófitas: ocorrem no Brasil cerca de 1300 espécies, cerca de 40% são
endêmicas. 79 espécies foram consideradas ameaçadas de extinção, ou seja,
6% das spp. que ocorrem no Brasil, 2 foram consideradas extintas e 98 DD.
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Gimnospermas: no Brasil encontram-se cerca de 20 espécies, 2 estão
ameaçadas de extinção. A Araucaria angustifolia (Pinheiro-do-paraná) vem
sendo explorada - muitas vezes de forma ilegal - com maior ou menor
intensidade ao longo de toda sua área de ocorrência. Adicionalmente, poucas
iniciativas de reflorestamento são realizadas com esta espécie.
Monocotiledôneas: 417 spp. ameaçadas, 4 extintas e 344 DD. Grande
número de bromélias e orquídeas: pressão de extrativismo, degradação do
habitat.
Dicotiledôneas: 1034 spp. ameaçadas, 5 extintas e 940 DD. A destruição,
degradação e perda da qualidade do habitat tem afetado numerosas espécies.
Para todos os grupos foi constatada grande lacuna de conhecimento
especialmente na Amazônia, devido à escassez de coletas e de pesquisadores.
O trabalho de revisão da lista da flora brasileira ameaçada de extinção
corroborou vários fatos já constatados e muitas vezes reivindicados pelos
pesquisadores:
- É preciso criar base de dados sobre a flora do Brasil.
- São necessárias fontes de fomentos específicas que priorizem projetos de
inventários, formação de recursos humanos, publicações de trabalhos
taxonômicos, proteção das espécies nativas em seus habitats originais, ações
em conservação in situ e ex situ. Finalmente, é preciso estabelecer ações
integradas para formação e enriquecimento das coleções vivas com espécies
nativas em jardins botânicos brasileiros.
As listas vermelhas e suas revisões periódicas são um recurso fundamental
para alertar a sociedade e subsidiar os governos para uma mudança de
comportamento e adoção de medidas efetivas para reverter a situação
evidenciada nas mesmas. A atualização dessa lista torna-se ainda mais
fundamental quando consideramos a crescente destruição dos habitats
naturais no nosso país através de pressões antrópicas das mais diversas
ordens, como ações de desmatamento, queimadas, desenvolvimento agrícola,
ou mesmo coletas indiscriminadas para o comércio interno e externo, que se
traduzem em ameaças graves à manutenção das espécies.
A decisão final sobre as espécies que devem compor a lista oficial das espécies
ameaçadas de extinção cabe aos órgãos gestores, mas a expectativa é que
todas as espécies indicadas pelo projeto coordenado pela Biodiversitas sejam
reconhecidas, ainda em 2005, como ameaçadas, uma vez que o conhecimento
científico foi o elemento balizador das decisões entre os participantes do
processo.
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Resumo - Sociedade Botânica do Brasil