Sono e fadiga entre trabalhadores de enfermagem PERCEPÇÃO DA DURAÇÃO DO SONO DA FADIGA ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM E PERCEIVED SLEEP DURATION AND FATIGUE AMONG NURSING PERSONNEL Patricia Lima Ferreira Santa Rosa* Frida Marina Fischer** Flávio Nortanicola da Silva Borges*** Nilson da Silva Soares**** Lucia Rotenberg***** Paul Landsbergis****** RESUMO: Muitas instituições de saúde oferecem serviços 24 horas diariamente. Isso ocorre em detrimento de necessidades, tais como sono e lazer dos trabalhadores. Objetivou-se avaliar a percepção do sono e de fadiga comparando trabalhadores de enfermagem em turnos diurnos e noturnos. Este estudo epidemiológico refere-se a uma população de 696 profissionais. A coleta de dados foi realizada em um hospital público universitário de São Paulo, em 2005 e 2006. Os participantes eram predominantemente: do sexo feminino, 87,8%, com idade abaixo dos 40 anos; 77,6% eram técnicos/ auxiliares de enfermagem; 53% trabalhavam de dia no hospital. Os trabalhadores do turno diurno referiram maior duração de sono do que os trabalhadores noturnos (p=0,00), nos dias de trabalho. Entre os trabalhadores diurnos, ter menos tempo na carreira de enfermagem e possuir apenas um emprego foram fatores associados à fadiga (p<0,05). Possuir dois empregos não se mostrou associado à fadiga. O desenho transversal do estudo pode ter contribuído para o efeito do trabalhador sadio. Palavras-chave: Enfermagem; trabalho em turno; sono; fadiga. ABSTRACT ABSTRACT:: Many health care institutions offer round the clock services. Negative outcomes can be observed on sleep and leisure. The aim of this study was to evaluate perception of sleep and fatigue among healthcare workers. Data collection was performed among 696 healthcare workers working either on day or night shifts, at a university hospital in São Paulo, during 2005/2006. Mean age was 34.9 years old; 87.8% were females; 77.6% were nurse assistants; 53% work 12-h lowshifts. Day workers reported significantly longer nocturnal sleep duration compared to night workers on working days (p=0,00). A surprising outcome was observed among day workers: a shorter time as a nurse/nurse assistant together with holding only one job was significantly associated with fatigue (p >0,05). Due to a cross-sectional design, a healthy worker effect is likely to be present. Keywords: Nursing personnel; work shift; fatigue; sleep. INTRODUÇÃO A maioria das instituições de saúde necessita atender a uma demanda ininterrupta devido à própria natureza dos serviços. Os trabalhadores da área da saúde devem corresponder a essas necessidades, freqüentemente, em detrimento do sono e do lazer1,2. Para serem oferecidos serviços à sociedade durante 24 horas são criados esquemas de turnos de trabalho contínuos. Em São Paulo, os trabalhadores da área da saúde de muitos hospitais, entre os quais enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, com freqüência são submetidos a plantão de 12h de trabalho por 36 horas p.100 • R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jan/mar; 15(1):100-6. de folga quando trabalham à noite, e durante o dia, em turnos de 6 ou 9 horas3. O trabalho noturno tem conseqüências no bem-estar, repercutindo na fadiga, e particularmente no sono3. A restrição substancial de sono provoca efeitos negativos, tais como: redução do desempenho motor e cognitivo, alterações de atividades metabólicas, hormonais e imunológicas. Observa-se freqüentemente declínio no desempenho em certos períodos do dia e/ou da noite. Maiores riscos de acidentes no trabalho podem ser observados, assim como erros no cuidado dos pacientes3,4 . Rosa PLFS, Fisher FM, Borges FNS, Soares NS, Rotenberg L, Landsbergis P Em estudo realizado por Estryn-Behar et al.5 com trabalhadores de enfermagem, em hospitais públicos em Paris, foi constatada redução na duração do sono diurno nos dias de trabalho, entre os profissionais do turno noturno comparados com os do turno diurno. Essa redução foi atribuída ao tempo que era despendido em atividades domésticas, levando ao atraso na hora de dormir e na fragmentação do sono. Também foi referida, pelas enfermeiras do plantão noturno, restrição nas atividades de lazer e na disponibilidade de tempo para o cuidado dos filhos, revelando uma contradição, já que as enfermeiras pesquisadas optaram por trabalhar à noite para oferecer maior atenção à família. Isso também foi observado em trabalhadoras da escala noturna em outra investigação conduzida por Rotenberg6. A fadiga é uma sensação subjetiva de cansaço, freqüentemente registrada como de natureza emocional7, que pode ocorrer em pessoas de todas as faixas etárias. Pode ser decorrente das atividades ocupacionais, tais como tarefas que exigem excessivos esforços físicos e mentais, presença de certos estressores organizacionais (escala noturna, jornadas prolongadas, problemas de relacionamento com colegas, superiores e/ou usuários nas empresas), duplas jornadas de trabalho, atividades realizadas fora dele (trabalho doméstico). Ou seja, as condições de vida e trabalho influenciam a gênese da fadiga4-7. Marziale e Rozestraten8 referem que o aparecimento de fadiga mental na enfermagem se dá pelo acúmulo de tarefas, ocasionando sobrecargas psíquicas, o que leva a estados de tensão e desprazer. Também mencionam que a enfermeira realiza diversas funções __ assistência direta ao cliente, supervisão de funcionários, organização da unidade de trabalho, intermediação entre o médico e o cliente, administração da unidade __, além de inúmeras interrupções durante o serviço que, somadas, caracterizam o trabalho como mentalmente desgastante. Esta pesquisa******* teve como objetivo avaliar a percepção do sono e fadiga comparando trabalhadores de enfermagem de turnos diurnos e noturnos. REFERENCIAL TEÓRICOMETODOLÓGICO O trabalho em turnos, tanto diurno como noturno, é considerado um relevante agravo à saúde, levando à fadiga, ao débito agudo e crônico de sono e a várias outras doenças. Pode ainda comprometer o desempenho profissional e as relações sociais dos trabalhadores de enfermagem3,4,9. Neste estudo foi utilizada uma abordagem de caráter quantitativo, com desenho epidemiológico transversal10. Foram levantados e avaliados estressores ocupacionais (ambientais e organizacionais) e os efeitos à saúde, mediados por variáveis sociodemográficas, segundo propõem modelos já amplamente divulgados na literatura11. Os participantes desta pesquisa são enfermeiros, auxiliares de enfermagem e técnicos de enfermagem, do sexo feminino e masculino, que trabalhavam em esquemas de turnos de 6 ou 9 horas de atividade diurna ou 12 horas de plantão noturno (estas seguidas por 36 horas de folga). Foi considerado o turno de trabalho executado no Hospital para caracterizar o trabalhador em diurno ou noturno. O estudo foi conduzido em um hospital público universitário de São Paulo, e os dados foram coletados nos anos de 2005 e 2006. Cada um dos participantes, todos voluntários, assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após o recebimento das informações sobre a natureza e os detalhes da investigação, cujo projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP, segundo o que dispõe o Conselho Nacional de Saúde em sua Resolução nº 196/96. Foi considerado critério de inclusão, na população da pesquisa, a condição de trabalhar há mais de 3 meses no hospital contados a partir do início do estudo. Instrumentos de Coleta de Dados Foram aplicados três formulários mencionados a seguir. Questionário sociodemográfico, de condições de trabalho e sintomas de saúde Os itens relativos às características sociodemográficas foram: idade, sexo, escolaridade, número e idade dos filhos, renda familiar e tempo despendido em atividades extra-ocupacionais. As questões relativas às condições de trabalho compreenderam: os empregos atuais e anteriores, jornada diária e semanal, tempo de trabalho na enfermagem, condições ambientais de trabalho, ocorrência de acidentes e outras variáveis relacionadas ao trabalho. Vários itens eram de múltipla escolha, com as seguintes opções de respostas: nunca, às vezes, freqüentemente e sempre. Foram inseridas questões de múltipla escolha sobre a freqüência de cansaço físico e mental e tensão ao final do turno de trabalho, oferecendo as opções de respostas citadas anteriormente. Foram consideradas física e mentalmente cansadas e tensas aquelas pessoas que responderam freqüentemente e sempre a esses itens. R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jan/mar; 15(1):100-6. • p.101 Sono e fadiga entre trabalhadores de enfermagem Questionário do Sono O questionário de avaliação da percepção dos distúrbios do sono12 incluiu as seguintes questões: presença de parassonias, as dificuldades de iniciar e manter o sono (insônias), problemas de sonolência excessiva durante a vigília e uso de medicamentos para dormir ou manter-se acordado. Em relação às queixas de sono, os resultados mostrados neste estudo referem-se aos trabalhadores que indicaram a ocorrência dos sintomas sempre ou freqüentemente. Questionário de avaliação da fadiga Este questionário foi elaborado por Yoshitake13 e foi utilizada a versão em português adaptada por Metzner e Fischer14. É composto por 30 questões de múltipla escolha, que, após a aplicação, são convertidas em valores numéricos, conforme o seguinte critério: sempre, valor de 5 pontos; muitas vezes, 4 pontos; às vezes, 3 pontos; raramente, 2 pontos; e nunca, 1 ponto. Os escores podem variar de 30 a 150 pontos. Os escores foram divididos em duas classes: escore geral da fadiga abaixo de 90 pontos e 90 pontos ou mais. Este ponto de corte deve-se à média aritmética da escala. Quando o escore geral da fadiga atingiu valores acima do ponto de corte, foi considerada fadiga elevada. Abaixo desse valor denominou-se fadiga baixa. Análise dos Episódios de Sono A duração total do sono, tanto em dia de trabalho como no dia de folga, foi calculada como a soma dos tempos de todos os episódios diurnos e noturnos referidos nos respectivos dias de trabalho e de folga. Os episódios de sono foram divididos em diurnos e noturnos, e se ocorriam nos dias de trabalho e de folga: sono diurno em dia de trabalho (07:0018:59h); sono diurno em dia de folga (07:00-18:59h); sono noturno em dia de trabalho (19:00-06:59h); sono noturno em dia de folga (19:00-06:59h). Análises Estatísticas A normalidade das variáveis foi testada através do teste não paramétrico de Kolmogorov-Smirnov15. O teste de x2 foi utilizado para verificar associação das variáveis; foram testadas posteriormente apenas variáveis que apresentaram x2 menor ou igual a 0,2016. Foi aplicado o teste de comparação de médias de Mann-Whitney quando as variáveis não apresentaram normalidade15. Foram feitas correlações usando o método de Spearman15, sendo que a variável escore geral de fadiga foi assim classificada: fadiga baixa e fadiga elevada. Para realização de todas as análises, foi utilizado o programa estatístico SPSS17. p.102 • R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jan/mar; 15(1):100-6. RESULTADOS F oram convidados a participar da pesquisa todos os 996 funcionários da área de enfermagem do hospital, campo do estudo. Destes, 696 (69,87%) aceitaram participar. Não foram observadas diferenças estatisticamente significantes (p > 0,05) em relação a sexo, idade e tempo de trabalho, no hospital alvo, entre a população investigada e a que não participou. Características Sociodemográficas e Condições de Trabalho e Sintomas de Saúde Há diferenças estatisticamente significantes (p< 0,05) quando comparados os trabalhadores diurnos e os trabalhadores noturnos segundo as seguintes características: os trabalhadores diurnos eram mais jovens (72,5% tinham até 39 anos), tinham mais de um emprego (45,6%) e havia um menor contigente há mais de 10 anos na profissão de enfermagem (25,7%), conforme mostra a Tabela 1. O número médio de horas despendidas no trabalho doméstico referido pelos trabalhadores diurnos foi de 13,19 horas (DP±12,03) e, pelos trabalhadores noturnos, foi de 1,5 horas (DP±1,02). Destaca-se que 36,3% dos trabalhadores diurnos e 36,4% dos trabalhadores noturnos informaram não ter tempo livre suficiente para repousar, durante a semana, por causa do trabalho. Entre os trabalhadores diurnos, 53,4% tinham filhos ou menores sob sua guarda e entre os noturnos, 49,8%. Relataram não praticar exercícios físicos regularmente - 49,6%, fumar - 16,8%, consumir bebidas alcoólicas regularmente - 39,7%. Apresentaram sobrepeso 26,8% e obesidade 17,2% dos participantes. Quanto à duração diária da jornada, 43% possuíam um emprego diurno de 6 ou 9 horas diárias; 7,6%, dois empregos diurnos de 6 ou 9 horas diárias; 25,6%, um emprego noturno (12h trabalho X 36h de folga); 9,6%, dois empregos noturnos; 14,2%, um emprego diurno e outro noturno. Os trabalhadores noturnos trabalhavam no hospital, onde o estudo foi conduzido, em média há 100,6 meses (desviopadrão de 65,4 meses) e os trabalhadores diurnos em média há 64,6 meses (desvio-padrão de 82,1 meses). Entre os trabalhadores diurnos, os fatores ambientais mais significativos associados a riscos à saúde referidos compreenderam: risco de infecção hospitalar/contaminação - 70,5%; ambiente quente na maior parte do verão - 61%; e ambiente barulhento 49,1%. Entre os trabalhadores noturnos, foram: 75,2% para risco de infecção hospitalar/contaminação e 69,7% para ambiente com desconforto térmico (mui- Rosa PLFS, Fisher FM, Borges FNS, Soares NS, Rotenberg L, Landsbergis P TABELA 1 1: Dados sociodemográficos e relativos ao trabalho dos profissionais de enfermagem (N=696). São Paulo, 2005-2006. to quente) na maior parte do verão. Respondendo nunca ou às vezes, apenas 58,1% afirmaram trabalhar em ambiente dispondo de ventilação adequada. Relataram ter tido acidentes ocupacionais no emprego atual 26,3% dos trabalhadores diurnos e 24,8% dos trabalhadores noturnos. Os principais acidentes de trabalho referidos pela população estudada foram os ocorridos pela manipulação de materiais cortantes ou perfurocortantes (30%). Mencionaram sentir cansaço físico, ao final da jornada, 54,4% do quadro diurno e 43,1% do quadro noturno; 41,2% dos trabalhadores diurnos e 34,2% dos trabalhadores noturnos responderam que se sentiam cansados mentalmente após o turno de trabalho; e 27,6% dos trabalhadores diurnos e 25,7% dos trabalhadores noturnos relataram que se sentiam tensos após o turno de trabalho. Responderam que é exigida muita concentração para a realização de suas tarefas, 91,1% dos que atuam na escala diurna e 92,2% na escala noturna. Sono Entre as queixas de sono, a mais relatada pelos trabalhadores foi roncar. Comparando-se trabalhadores diurnos e noturnos, observou-se diferenças estatisticamente significantes (p<0,05) entre as médias de duração de sono em dias de trabalho e de folga. A exceção se faz apenas nas durações de sono noturno nos dias de folga, comparados trabalhadores diurnos e noturnos. É importante ressaltar que no hospital pesquisado, os trabalhadores noturnos, quando possível, dormem durante o plantão. Neste estudo, foi referida a média de 180 minutos para a duração do sono durante o plantão noturno. Somente não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre trabalhadores diurnos e noturnos quando comparadas as médias da duração do sono noturno em dia de folga. (z = 1,460; p= 0,144), de acordo com a Tabela 2. TABELA 2 2: Médias e desvios- padrão das durações de sono dos profissionais de enfermagem, segundo os turnos de trabalho. São Paulo, 2005-2006. R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jan/mar; 15(1):100-6. • p.103 Sono e fadiga entre trabalhadores de enfermagem Também não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes (p> 0,05) para nenhuma categoria de sono quando comparados trabalhadores noturnos e diurnos que possuíam um ou dois empregos. Não foi detectada associação entre duração de sono e jornada semanal de trabalho (p=0,198). Fadiga Os trabalhadores diurnos alcançaram um escore de fadiga igual a 74,03 pontos (DP=17,6) e os trabalhadores noturnos, um escore geral de fadiga igual a 70,5 pontos (DP=16,3). Observou-se diferença estatisticamente significante entre os grupos (p=0,006). Não houve correlação estatisticamente significante entre nenhuma categoria de sono analisada e a fadiga referida (r < 0,01 para todas as categorias de sono). Escores de fadiga geral referida foram analisados em função da jornada semanal de trabalho. Foi observada associação estatisticamente significante entre jornada semanal de trabalho e fadiga (c2= 11,538; p=0,021). Os profissionais com até 44 horas semanais de trabalho apresentaram prevalência de fadiga elevada (22,1%). Entre os trabalhadores diurnos somente anos de trabalho na enfermagem e número de empregos mostraram associação significativa (p<0,05) com o escore da fadiga referida. Para os trabalhadores diurnos, encontrou-se uma correlação negativa fraca do escore geral de fadiga e tempo de trabalho na enfermagem (p= 0,001; r= -0,175), categoria profissio- nal (p=0,032; r= -0,111) e ter outro emprego (p= 0,002; r= -0,164). Ou seja, os profissionais com menos tempo de trabalho na área de enfermagem, os enfermeiros e os que não possuíam outro emprego revelaram maior fadiga. Para os trabalhadores noturnos, não houve correlações significativas para as mesmas variáveis. É o que mostra a Tabela 3. Os profissionais com altos índices de fadiga (22%) trabalhavam no hospital, campo da pesquisa, no turno diurno de 9 horas e eram somente enfermeiros. DISCUSSÃO A enfermagem, no Brasil, é uma profissão predominantemente feminina18; neste estudo, o sexo não se mostrou associado à fadiga, a qual é mais elevada em trabalhadores diurnos, quando comparada aos trabalhadores noturnos. Apesar de os dois grupos apresentarem diferentes durações médias de sono, nos dias de trabalho, elas não foram associadas à fadiga elevada. Uma grande parte de trabalhadores diurnos referiu ter mais de um emprego, ou também trabalhar no turno noturno (12 horas), portanto, estar submetido a um número elevado de horas trabalhadas por dia e semana. Se for associada a atividade ocupacional remunerada ao trabalho doméstico e ao cuidado dos filhos, pode ocorrer uma dupla/ tripla jornada de trabalho19. Um estudo recente de saúde, sono e tempo de atividade profissional mostrou o impacto do ambiente de trabalho sobre as enfermeiras, repercutindo na saúde, vida social e vida famili- TABELA 3 3: Fatores associados à fadiga referida por trabalhadores de enfermagem diurnos e noturnos. São Paulo, 20052006. p.104 • R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jan/mar; 15(1):100-6. Rosa PLFS, Fisher FM, Borges FNS, Soares NS, Rotenberg L, Landsbergis P ar20. Esses múltiplos papéis aos quais as mulheres estão submetidas podem agravar conflitos no trabalho e fora dele, sintomas físicos e psicológicos e doenças preexistentes20,21. Entretanto, ter filhos menores ou outros sob seus cuidados não foi associado à fadiga. A predominância do trabalho físico dos auxiliares de enfermagem poderia explicar as lesões advindas dos acidentes e, eventualmente, maior cansaço 22. Associam-se más condições de trabalho, com cargas físicas e psíquicas importantes, observadas no hospital investigado e em outros locais de tratamento de saúde23. O resultado deste estudo vai ao encontro do esperado, quando comparados trabalhadores diurnos e noturnos e duração do sono: o sono diurno significativamente mais curto do que o sono noturno, durante os dias de trabalho. Nos dias de folga, os trabalhadores possuem tempo livre para escolher seus horários de dormir e acordar, de acordo com suas preferências e necessidades. Esses fatos levam a um sono mais longo. Quem trabalha à noite pode vir a ter débito crônico de sono e dificuldades em manter o sono durante o dia, devido à influência do sistema de temporização circadiano24. O alto índice de relatos de ronco durante o sono pode ser um indicativo de que pelo menos uma parte desses profissionais sofre de apnéia do sono25. Isso pode afetar a qualidade do sono, em especial para os trabalhadores noturnos, que já tem seu sono prejudicado, uma vez que parte dele ocorre durante o dia. O plantão noturno de 12 horas está associado a problemas de sono e fadiga, segundo recente revisão do National Institute for Occupational Safety of Health sobre jornadas longas de trabalho26. Nesta pesquisa, a fadiga não se mostrou significante em trabalhadores com mais de 10 anos na profissão, e que trabalham em turno noturno, no hospital pesquisado, assim como entre aqueles trabalhadores com dois empregos. Os resultados provavelmente se devem ao efeito do trabalhador sadio10. Este estudo apresenta limitações por ter um desenho transversal, não sendo possível associar-se a causa ao efeito. Pode ter ocorrido viés de seleção, pois não participaram do estudo os trabalhadores afastados ou aqueles que deixaram o emprego antes de o estudo ser realizado. Os horários relatados de sono podem ter sido mais longos ou mais curtos. Intervenções no local de trabalho requerem exame atento das condições ocupacionais e avaliação apropriada de fatores que podem afetar a saúde humana. É desejável que se façam investigações, aplicando desenho prospectivo que poderá dar informações mais precisas acerca das variáveis analisadas. CONCLUSÕES A duração média de sono referida (noturno e diurno) em dias de trabalho é distinta, comparando trabalhadores diurnos e noturnos. Trabalhar em turnos diurnos e ter menos tempo na carreira de enfermagem foram fatores que contribuíram para a percepção de fadiga elevada, enquanto possuir dois empregos não se mostrou significativo para a fadiga. Os achados analisados apresentam informações que podem auxiliar em programas de promoção da saúde para esse grupo ocupacional. REFERÊNCIAS 1. Fischer FM. As demandas da sociedade atual: aspectos históricos do desenvolvimento do trabalho em turnos no mundo. In: Fischer FM, Moreno CRC e Rotenberg L, organizadoras. 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Los participantes eran predominantemente: del sexo feminino (87,8%), com edad abajo de 40 años; 77,6% eran técnicos auxiliares de enfermería; 53% trabajaban de día en el hospital. Los trabajadores del turno diurno refirieron duración más grande de sueño do que los trabajadores nocturnos (p=0,00), en los días de trabajo. Entre los trabajadores diurnos, tener menos tiempo en la profesión de enfermería y poseer solamente un empleo fueron factores asociados a la fatiga (p<0,05). Tener dos empleos no se mostró asociado a la fatiga. El delineamiento transversal del estudio puede haber contribuido para el efecto del trabajador sano. Palabras Clave: Enfermería; trabajo en turno; fatiga; sueño. Recebido em: 14.12.2006 Aprovado em: 15.02.2007 Notas Graduação em Enfermagem, Escola de Enfermagem da USP. Bolsista de Iniciação Científica CNPq- PIBIC, período 2005-2006, Departamento de Saúde Ambiental, Faculdade de Saúde Pública da USP. E-mail: [email protected] ** Prof. Titular da Faculdade de Saúde Pública da USP, Departamento de Saúde Ambiental. E-mail: [email protected] (autor para correspondência). Avenida Dr. Arnaldo, 715, 01246-904 São Paulo, SP. *** Doutorando em Saúde Ambiental, Faculdade de Saúde Pública da USP, Departamento de Saúde Ambiental; E-mail: [email protected] **** Técnico em pesquisa, Departamento de Saúde Ambiental, Faculdade de Saúde Pública da USP. E-mail: [email protected] ***** Pesquisadora do Departamento de Biologia, FIOCRUZ, RJ. E-mail: [email protected] ****** Pesquisador em Epidemiologia Ocupacional, Mount Sinai School of Medicine, Department of Community and Preventive Medicine, NY, USA. E-mail: [email protected] ******* Agradecimentos dos autores às agências de fomento: CNPq,CAPES, CNPq-PIBIC; ao programa ITREOH apoiado pela Fogarty International Center (TW000640)/Mount Sinai School of Medicine, New York, NY; à enfermeira Luiza Hiromi Tanaka, pelo apoio ao estudo. Agradecimento especial aos participantes da pesquisa. * p.106 • R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jan/mar; 15(1):100-6.