Tintas ecológicas: o que são?
O que são tintas ecológicas ?
Basicamente são tintas formuladas com matérias-primas naturais
(vegetais, minerais e até animais, como a caseína), sem
componentes sintéticos ou insumos derivados de petróleo. Além de
contarem em sua composição com ingredientes naturais (a
Natureplus alemã, por exemplo, recomenda que essa quantidade
chegue a 95% das matérias-primas utilizadas, menos água), seu uso
beneficia a qualidade do ar interno onde são aplicadas, a saúde do
aplicador e do usuário e, por extensão, o próprio meio ambiente.
Há diversos tipos de tintas com desempenho ecológico, e as que
mais contribuem tanto para a preservação do meio ambiente como
para a saúde dos indivíduos são as de tipo mineral.
É importante citar que existem normas internacionais, como a DIN
55649, e sistemas de rotulagem ambiental (selos verdes) para
pinturas ecológicas, que seguem as Normas ISO 14024-14025, como
EU-Ecollabeling e outras, que servem como diretrizes para a
verificação e determinação cientifica de parâmetros para se
considerar uma tinta como ecológica. Não é porque uma empresa
denomina seu produto de “ecológico” ou porque obtém algum
suposto “selo verde”, que o produto de fato seja ‘verde’.
Quais os tipos de tintas ecológicas existentes ?
As tintas ecológicas podem ser de três tipos: minerais, vegetais e
com insumos animais (como a caseína, que é uma resina de origem
animal, extraída do leite da vaca). Para ser classificada como
ecológica, a tinta deve ter seu ciclo de vida determinado, incluindo
todas as etapas desde a extração ou obtenção da matéria-prima,
passando por qualidade do produto final aplicado no ambiente
(imóvel), energia dispendida para sua produção, uso e consumo de
água, efluentes gerados, embalagens, descarte e reciclagem de
materiais e insumos. A quantidade de solventes e produtos de
limpeza que se gastam dentro da fábrica para limpar os próprios
recipientes em que se produzem as tintas também deveriam ser
levados em conta para se certificar uma tinta como ecológica. E, a
rigor, hoje se sabe que só existe um solvente de tipo ecológico: a
água. O grande problema hoje, contudo, é um só: Quem faz essas
avaliações? E quais os parâmetros para se realizar essas
avaliações? No Brasil, não há nem uma coisa, nem outra.
Pode dar um exemplo de uma pintura mais natural ao alcance de todos?
A cal é um bom exemplo. Ela é praticamente natural, pois só teve a ação do fogo modificando a
rocha original -carbonato de cálcio-, que, após ser queimada a uma temperatura superior a
1.200º C, torna-se óxido de cálcio. Depois, pela ação da água, transforma-se em hidróxido de
cálcio e gradativamente volta à condição original de rocha, seqüestrando –ou reabsorvendo- o
CO2 emitido quando de sua queima.
Afora o processo que permite que a cal se torne um material praticamente “neutro” em relação
a seu impacto ambiental, há um aspecto fundamental na qualidade do ambiente interno o
imóvel: a cal respira e permite que as paredes respirem.
IDHEA – INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA HABITAÇÃO ECOLÓGICA
Tels. +55 (11) 3326-9876/ 3711-4118/ 8116-5910
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Uma das mais antigas pinturas conhecidas na humanidade, a cal é naturalmente fungicida,
sem componentes tóxicos ou biocidas, e permite a difusão do vapor d’água (ou ‘respiração’) da
parede. Na prática, isso significa que a cal, ao contrário das tintas sintéticas como acrílica,
PVA, látex, esmaltes sintéticos etc., não forma uma película sobre a parede e não “tampa” seus
microporos, permitindo que haja troca de umidade tanto de dentro da parede, como de fora
para dentro. Isso resulta em que não ocorre jamais seu descolamento; não forma bolhas; não
ocasiona presença de mofo e bolores...em suma: além de tudo, a cal é a mais barata e
saudável das tintas.
Só que, justamente por ser barata e de fácil aplicação, a cal teve sua imagem destruída por um
mercado ávido em impingir produtos de tecnologia mais cara, “viciando” o consumidor com
produtos e cores que, para existirem, cobram caro a conta ao meio ambiente e à saúde dos
seres vivos. A cal natural não pode ser comparada com uma tinta industrial quanto ao seu
desempenho -ela tem seus problemas, como baixa viscosidade, escorre e respinga durante a
aplicação, apresenta aspecto de “manchado” em dias de chuva, etc. Mas isso poderia ser
corrigido tanto em processos artesanais de fabricação como nos industriais, sem anular a
qualidade ambiental do produto.
O que são pinturas minerais?
São pinturas feitas a partir de rochas minerais naturais, que, depois de passarem por processo
de calcinação (queima), são finamente moídas até estarem em condição de uso como pinturas.
Exemplos: carbonato de cálcio, que dá origem à cal; e carbonato de potássio, que dá origem
ao silicato de potássio. Algumas ainda recebem alguns aditivos para ter seu desempenho
melhorado, como, por exemplo, agentes espessantes, cargas minerais, agentes tixotrópicos
etc. Existem três tipos de pinturas minerais: à base de silicato de potássio, à base de cal e à
base de cimento branco. A aderência dessas tintas à parede ocorre pelo processo de
cimentação e pela formação de cristais em contato com a superfície aplicada. Elas não são
plastificantes, como as tintas sintéticas derivadas de petróleo. Todas permitem a respiração da
parede.
Estas tintas são as melhores quanto à saúde do morador e das habitações, pois permitem que
ocorra a difusão do vapor d’água (que a parede respire) e, como são
alcalinas (pH acima de 7), não permitem que fungos e microrganismos
se instalem na casa. É importante salientar, contudo, que uma parede
selada com massa corrida não irá voltar a respirar com uma pintura
mineral. Numa parede já selada, o benefício de se usar uma tinta de tipo
mineral é colocar um produto livre de solventes, sem odor, e colaborar
com as indústrias do setor, altamente marginalizados num mercado
predatório e sem referências claras para o consumidor.
Que outros tipos de tintas ecológicas existem?
Há vários tipos, a maior parte delas desconhecida no Brasil, exceto nos
meios voltados às artes plásticas e ao restauro. Desde tintas (pinturas) à
base de cola animal ou vegetal, até uma das mais famosas, que é a
pintura à base de caseína de leite. A caseína é a fosfoproteína extraída
do leite de vaca, que funciona como ligante (resina), e, utilizada pura,
com cargas minerais e pigmentos, forma uma das tintas mais formosas
de que se tem notícia. Há também a tinta cal-caseína, que é indicada
principalmente para interiores, cujo acabamento é similar ao de uma tinta
convencional. Nosso antigo escritório, em São Paulo, era pintado com
tinta cal-caseína. Ninguém notava qualquer diferença com uma tinta
convencional. Idem a textura, que também era à base de cal-caseína.
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O que é tinta de terra?
Tinta de terra é antes um nome comercial do que uma nomenclatura para um tipo de pintura.
Por definição, terra é o nome que se dá ao globo (planeta Terra) ou à camada (o solo) que
sustenta a vida sobre o planeta, e que é composta pela rocha em desagregação –formada por
diferentes tipos de partículas, como argilas, silte, areias etc.- e matéria orgânica, que é o
resultado da decomposição de elementos de origem animal e vegetal. A terra, em si, sozinha,
não reage sobre uma parede; não fixa. Ela requer outros elementos que, em adição, a ajudem
a se ligar a superfícies verticais e atingirem estabilidade. Dentre os elementos naturais que
exercem essa função estão o estrume de vaca, alguns tipos de gel de cactus e a cal, que
concorre para estabilização da terra. No caso, a porção da terra utilizada para pintura é a
argila. É a argila, em função de sua natural plasticidade, que, em combinação com pigmentos
naturais ou sintéticos e algum tipo de ligante, dá origem ao que se chama de tinta ou pintura de
terra. Agora, há que se lamentar que, assim como com a cal, se use cola branca PVA (que
nada mais é do que um plástico) ou resina acrílica para causar a aderência da argila às
superfícies verticais. Não há nada de ecológico ou mesmo de tecnológico nisso, uma vez que,
com cola branca PVA ou resina acrílica, o coeficiente de difusão do valor dágua da parede é
nulo. Ou seja: a parede não respira. Sem contar que são resinas de origem petroquímica.
O que são tintas Free VOC ou Sem COVs?
Free Voc (Free Volatile Organic Compounds) é a sigla usada no exterior para pinturas
sintéticas livres de compostos orgânicos voláteis (COVs), que são um dos principais problemas
das tintas à base de derivados de petróleo. As tintas com COVs são aquelas que liberam
hidrocarbonetos aromáticos, que agridem a camada de ozônio e prejudicam a saúde de quem
as manipula e o ambiente onde são aplicadas. Podem levar mais de um ano –mesmo que as
pessoas não percebem ou sintam sua presença- para serem eliminadas do local onde a tinta
foi aplicada, principalmente se a ventilação for deficiente.
Na Europa, as empresas que fabricam tintas Free VOC colocam uma etiqueta ou rótulo
indicando na embalagem que a tinta que vendem está isenta destas substâncias.
Toda tinta Free VOC é ecológica?
Em geral não. Trata-se de tintas sintéticas que não emitem substâncias voláteis no ambiente
onde foram aplicadas. São um mal menor, mas continuam plastificando a parede, impedindo
sua respiração e a transpiração do vapor d’água.
A tinta, para ser ecológica, deve estar isenta não apenas de COVs, mas também deve estar
livre de pigmentos à base de metais pesados, fungicidas sintéticos, solventes aromáticos e não
conter derivados de petróleo. E sua matéria-prima não pode ser derivada de petróleo também.
Produtos à base de água são ecológicos?
Na maior parte das vezes, não. São apenas produtos solúveis em água, o que já é melhor do
que ser à base de solvente. Daí a dizer que são “ecológicos”, há uma distância. Muitas
empresas aproveitam-se por terem um produto à base de água para caracterizá-lo como
ecológico. No entanto, nesses produtos à base de água podem ser encontradas substâncias
químicas de risco à saúde, como benzeno, tolueno, xileno, etanol, metanol, octano, decano,
undecano, éteres de glicol, policlorobifenil, dibutil fltalato, octoato de chumbo, dentre outras.
Setores do mercado, interessados única e exclusivamente em explorar o filão verde, sabem
que o consumidor final –e mesmo parte das pessoas com formação técnica- é leigo e que não
terá referências para se contrapor às informações lançadas. Com isso, acaba sendo criado um
tipo de autocertificação ou autorregulação, na qual o próprio fabricante “certifica” seu produto
como “ecológico” ou “sustentável”, sem haver passado por uma análise científica e criteriosa
preliminar.
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No Brasil, as pinturas sintéticas à base de água (acrílicas, PVA etc.) contêm uma média de 2%
de compostos voláteis. As normas para tintas naturais com selo verde na Europa especificam
teores de 0,15% (norma da Comissão Européia para concessão de etiqueta ecológica para
pinturas de interiores e vernizes). A diferença é brutal. É certo que uma pintura à base de água
sempre será menos tóxica do que uma à base de solventes. Mas nem por isso ela merece ser
chamada de ecológica, porque isso seria colocar no mesmo patamar um verdadeiro produto
ecológico e um produto verde ‘fake’.
Então não vale a pena usar uma pintura ecológica sobre uma parede já selada?
Sempre vale. Pelo menos não se usará uma tinta que emite COVs e que poderá demorar até
um ano para eliminar todos seus elementos voláteis do ambiente. Com certeza a casa ficará
mais saudável.
E como fazer para ter uma parede que respira?
Primeiro, precisamos entender o que é “uma parede que respira”. Trata-se de uma superfície
com um bom coeficiente de difusão ao vapor d’água e que, portanto, tem algum nível de
permeabilidade. Uma parede com massa corrida PVA não tem isso. Ela está selada. Portanto,
a solução é começar da base: identificar um bom material de fechamento de parede (blocos,
tijolos, etc.) e evitar tanto massa corrida PVA, como massa acrílica e gesso. Um exemplo
clássico de massa que o mercado está tratando de eliminar em nome de um suposto “melhor
acabamento” e praticidade na aplicação é a massa fina à base de cal (cal e areia fina). Mas o
que será que vale mais a pena? Paredes saudáveis ou uma parede lisa, que retém umidade e
pode ser um fator a mais para uma habitação enferma?
Já há hoje, também, massas corridas do tipo mineral, que permitem a difusão ao vapor d’água
e são compatíveis com pinturas minerais.
Tintas do tipo mineral podem ser aplicadas em paredes que receberam aplicação de
gesso, massa corrida ou massa acrílica?
Sim, podem. No caso da cal, contudo, exceto se a mesma contiver aditivos para melhorar sua
reologia, não haverá aderência adequada. Já outras tintas minerais podem ser aplicadas com
melhor resultado, mas não necessariamente seu acabamento será igual ao das tintas
convencionais sintéticas.
Em que tipo de superfície devemos aplicar tintas minerais?
Por uma questão de coerência ambiental, isto é, com o objetivo de se criar um ambiente interno
saudável, o melhor seria aplicar um conjunto de produtos minerais para revestimento e pintura,
a saber: massa corrida mineral; seladora mineral; e tinta mineral.
Tintas e revestimentos minerais também podem ser aplicadas em paredes de cimento
desempenado, sobre massa fina aplicada ou em paredes de terra, de tijolinho comum ou à
vista ou sobre tijolos de solo-cimento.
Quanto aos produtos convencionais de mercado, quais as opções menos agressivas à
saúde humana e ao meio ambiente?
No caso de não haver um produto ecológico, a opção deve ser por produtos à base de água. É
sempre melhor -ou menos pior- usar um produto à base de água do que um produto à base de
solventes. E isso vale não só para tintas, mas para resinas, colas, impermeabilizantes, epóxis e
todos os tipos de revestimentos. Se não puder, por qualquer motivo, escolher uma opção
realmente ecológica, prefira sempre um produto de menor impacto sobre o meio ambiente e
sua saúde, que são os produtos à base de água.
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Quais são os tipos de produtos que o IDHEA tem para criar um ambiente mais saudável?
O IDHEA recomenda produtos ecológicos e sustentáveis fabricados ou comercializados por
parceiros, efetivamente preocupados com meio ambiente e saúde. No próprio site do IDHEA,
na área de Ecoprodutos, ao selecionar o produto de sua preferência, o internauta já cai na
página de uma dessas empresas recomendadas.
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