1 “Esse vagão é de Jesus!”: Evangélicos em trabalho de conversão nos trens do Rio de Janeiro1 Felipe Magalhães Lins2 RESUMO Embora aparentemente o trem não passe de um meio de transporte coletivo, ele abriga muito mais do que somente passageiros em seu interior. Essa afirmação pode ser confirmada a partir de uma simples visita ao terminal ferroviário da Central do Brasil. Um desses aspectos é a realização de cultos evangélicos nos vagões das composições, também conhecidos como “vagões dos evangélicos”, onde diariamente missionários(as) pregam para os passageiros. Tendo a estação terminal da Central do Brasil e os trens como campo de estudo, e os cultos evangélicos como principal objeto de pesquisa, traçarei algumas reflexões sobre a forma como esse fenômeno religioso se relaciona com espaços considerados “públicos”. Ao observar os cultos evangélicos nos trens urbanos pretendo analisar como se constitui a relação entre os diferentes atores sociais que ocupam os vagões cariocas - passageiros, pregadores, vendedores ambulantes e seguranças. Além disso, é valida uma reflexão sobre a forma como esses grupos evangélicos se apropriam desse espaço tido com “público”, através de suas práticas religiosas. Palavras chave: evangélicos; espaço público; trens urbanos; ministério público. NOS TRILHOS DA ADORAÇÃO Em 2007 se inicia minha relação com o universo dos trens. Primeiramente apenas na condição de usuário do serviço, onde enxergava o trem apenas como o meio de transporte mais rápido, barato e vantajoso para me deslocar de minha residência para a universidade. Logo após os primeiros meses de aula já havia 1 Esse artigo foi elaborado com base na pesquisa “Religiosos na Esfera Pública” financiado pela FAPERJ e parte da monografia de conclusão de curso intitulada “Do ritual ao tribunal: Pregadores, passageiros e conflitos em cultos em trens do Rio de Janeiro”, sob a orientação de Patrícia Birman (Lins, 2012). Esse trabalho também foi contemplado com o 1º lugar no Prêmio Levi-Stauss 2012, da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). 2 Graduando em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 2 apreendido algumas das regras necessárias para utilizar esse meio de transporte: o modo de se comportar em uma composição lotada, não ultrapassar a faixa de segurança, colocar sempre a mochila para frente do corpo, qual vagão escolher, ou melhor, qual não escolher – nesse caso, o chamado vagão dos evangélicos. Essa “recomendação” foi dirigida por uma senhora que dizia existir grupos evangélicos que realizavam cultos dentro de vagões dos trens. Nesse mesmo período eu compartilhava minhas viagens de trem com um colega de infância que também acabará de ter sido aprovado no vestibular da mesma universidade. Foi durante uma dessas viagens que Vinicius, um jovem de 18 anos, evangélico “de berço”, me apresentou a essa vagão bem diferente dos demais. Eram 6h da manha, como de costume, e tomávamos o trem na plataforma estação Olinda, em Nilópolis. Certo dia fui convidado por Vinicius a embarcar no segundo vagão daquele trem, onde me deparei com a seguinte cena: diversos passageiros, alguns sentados e outros em pé, todos escutando um homem que, com uma Bíblia em suas mãos, falava de Jesus Cristo. Na ocasião o pregador falava sobre a parábola bíblica do Filho Pródigo, passagem bíblica que aborda assuntos como amor, família e o exercício do perdão3. Após a explanação da mensagem foi feita uma contextualização com os tempos modernos e o cotidiano da vida na cidade. Ao desembarcar do trem, na estação São Cristóvão, sai impactado com esse primeiro contato e imersão nessa dimensão dos trens que eu desconhecia. Fui informado por Vinicius que esses cultos ocorriam diariamente (de segunda à sextafeira) nos trens, quase sempre no segundo vagão de cada composição que partia com destino à Central do Brasil. Os cultos ocorriam não só pela manhã, mas também durante a noite e com horários sincronizados com o chamado horário do Rush (quando existe um maior fluxo de clientes utilizando o serviço de transporte). Nesse sentido, o presente trabalho foca-se no uso de um pedaço da cidade, a fim de explorar suas características, os atores sociais que ocupam esse espaço e como esses interagem com o primeiro (Magnani, 1998). O lugar escolhido foi a malha ferroviária da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Por ser usuário dos trens urbanos da cidade o objeto de estudo me é familiar, mas não conhecido, ou seja, já havia estado na Central do Brasil diversas vezes e me familiarizado com aquele ambiente, porém desconhecia as visões de mundo dos atores que nela interagem (Velho, 1987). Criada em 1855 e batizada com o nome Companhia de Estrada de Ferro D. Pedro II, a estrada serviu de transporte para a Corte Imperial com o deslocamento dentro do Rio de Janeiro, conectando-se com a Estrada de Ferro Belém do Pará. Mais tarde, com a 3 Ver “Parábola do Filho Pródigo”, em Lucas 15.11, Novo Testamento. 3 Proclamação da Republica, teve seu nome alterado para Estrada de Ferro Central do Brasil. Com a construção das grandes rodovias de ligação entre os estados e cidades brasileiras o sistema ferroviário acabou caindo em desuso, não sendo mais uma prioridade de investimento para o Governo Federal. Em 1984 é fundada a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), com a missão de administrar, expandir e implantar sistemas de transporte de passageiros sobre trilhos no país. A empresa, que passa a gerenciar primeiramente São Paulo e Rio de Janeiro, tinha como responsabilidade modernizar o sistema de transporte.4 São Paulo e Rio de Janeiro já vinham passando por um processo de modernização dos transportes de uso coletivo, sendo que as duas cidades também começavam a receber projetos de criação de metrôs de superfície, símbolos da modernidade na época (Caiafa, 2008). Após um período marcado por diversos acidentes e abandono, os trens do Rio de Janeiro passaram a ser propriedade do Governo do Estado. Com o processo de privatização que várias empresas brasileiras estavam sofrendo, em 1998 a malha ferroviária da cidade do Rio de Janeiro foi a leilão em forma de concessão pública – o chamado Consórcio Bolsa 2000. Desde então, o sistema ferroviário vem sendo administrada pela empresa Supervia Concessionária de Transportes Ferroviários S.A., responsável pela operação comercial e manutenção dos trens urbanos. O prazo inicial da concessão era de 25 anos, sendo renováveis por mais 25. Essa renovação ocorreu em 2010 e a Supervia se mantém como administradora do serviço até o ano de 2048. 5 Os trens da companhia concentram-se na estação Central do Brasil e circulam pelos bairros do subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, se estendendo por diversos municípios da Baixada Fluminense (Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Paracambi e Queimados) 6. Segundo informações contidas no site da empresa, são transportados mensalmente cerca de nove milhões de passageiros, que embarcam ao longo das 89 estações distribuídas nos cinco ramais existentes (Belford Roxo, Deodoro, Japeri, Santa Cruz e Saracuruna) na rede ferroviária. A já citada estação Central do Brasil deve ser compreendida como eixo de convergência de todos os ramais, sendo, portanto, um complexo digno do termo. 4 A CBTU também foi responsável pela administração dos trens das cidades de Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador, Natal, João Pessoa e Maceió. 5 Informação retirada do sítio oficial da Supervia na internet: http://www.supervia.com.br 6 Ver Anexo 1. 4 A Central do Brasil, como seu nome sugere, esta localizada na região central da cidade do Rio de janeiro. De seus três portões de acesso ao prédio, o primeiro, e tido como principal, fica localizado de frente para a Avenida Presidente Vargas. Essa porta de entrada é a que recebe o maior contingente de passageiros, principalmente por ser uma saída de conexão com o metrô7. Um segundo portão fica situado na Rua Senador Pompeu, uma área “tomada” por vendedores ambulantes, moradores de rua e considerada menos nobre por estar localizada próxima as “quebradas” do Morro da Providência. Existe ainda outra entrada na lateral da estação ferroviária, muito utilizada por passageiros de ônibus vindos da zonal sul da cidade. A estação é composta por quatorze plataformas de embarque e desembarque, com duas linhas cada (uma à direita e outra à esquerda) e identificadas por letras do alfabeto. Com chamadas constantes para diversos destinos e partindo de plataformas distintas, esse é um espaço que exige um estado muito alerta da parte dos passageiros, já que é comum o trem “variar”.8 Cada trem é composto por um conjunto de seis à oito vagões cada. Assim como nos demais meios de transportes, os passageiros dos trens convivem diariamente com a superlotação das composições. Essa situação é uma das grandes reclamações feitas pelos passageiros dos trens, além da falta de segurança nas estações e a péssima condição de conservação dos veículos, principalmente os que circulam pela região da Baixada Fluminense. Outro personagem que atua de forma exclusiva, e constante, nos trens intermunicipais são os vendedores ambulantes9. A venda de produtos nos trens já é uma prática antiga e de notório conhecimento entre os usuários do serviço. Os produtos comercializados são bem diversificados: biscoito, cerveja, refrigerante, água, jornais, revistas, acessórios cozinha e produtos de beleza e perfumaria. A Supervia 7 Embora haja uma conectividade entre esses dois meios de transportes, existem significativas diferenças entre os dois. Os espaços do metrô são fortemente vigiados por câmeras de segurança e por guardas que circulam pelas plataformas. Ao longo das estações, e no interior das composições, os passageiros são informados das normas do espaço, como “não ultrapasse a faixa amarela” ou “não permaneça com a mochila nas costas, isso atrapalha os demais passageiros”. Essa normatização do espaço é uma característica específica desse lugar, que carrega as marcas da tecnologia e da modernidade (Augé, 2008). 8 “Variar” é a classificação dada aquelas composições que não realizam embarque de passageiros na plataforma prevista. Assim, é comum ver na Central do Brasil dezenas de passageiros correrem pelas plataformas ( e até mesmo pulando a linha férrea) orientados pela locutora que informa onde o REM fará o embarque. 9 Os produtos atendem as necessidades especificas dos passageiros com preços abaixo do valor de mercado. 5 vem “combatendo”10 essa prática há alguns anos, através da apreensão das mercadorias, mas a iniciativa nunca surtiu grandes efeitos. Esse exercício contribui para a criação de uma noção de “desordem” e “não funcionamento” do serviço de trens carioca (Pires, 2011). Em 2009 foi criada uma campanha chamada “Diga NÃO ao empata-porta”11. Seu o objetivo é coibir a pratica das viagens feitas de portas abertas, o que coloca em risco a vida dos passageiros. A arte da campanha traz a silueta do que seria uma alienígena entre as portas do trem, seguido da mensagem: “Não aceite o empata-porta, ele não é um de nós. Ele atrasa sua viagem”. Os vendedores ambulantes foram acusados, durante a dita campanha, de serem os principais agentes dessa prática os passageiros instruídos a denuncia-los (Goffman, 1982). Como vimos, no interior dos trens da cidade ocorrem fenômenos muito peculiares e particulares desse espaço. Um deles é a realização de cultos evangélicos dentro vagões (Lins, 2010). A realização dos cultos consiste no seguinte: grupos de passageiros professam sua religião durante a viagem, através de cantos e pregações no interior dos trens. Essas manifestações ocorrem diariamente, no horário de maior fluxo de passageiros (6 às 10h da manhã), no segundo vagão de cada composição das estações terminais da Baixada (Japeri, Nova Iguaçu e Queimados) e da Zona Oeste (Santa Cruz). Os cultos possuem uma estrutura muito semelhante aos realizados nos templos, com a presença de louvores, testemunhos de vida e pregações bíblicas. O embarque nos trens se dá de forma bem organizada. Os grupos de pregadores acomodam-se no centro do vagão de trem com o intuito de atingir a todos os passageiros daquele espaço com a sua voz. Ao longo da viagem, o grupo convida os demais passageiros do vagão (que podem ser, ou não, evangélicos) a participarem da atividade. Hoje, esses cultos estão proibidos devido à intervenção do Ministério Público Federal na forma do decreto 2009.002.02539, que proíbe qualquer forma de manifestação religiosa no interior dos trens.12 A medida judicial deposita na Supervia a função de coibir a prática; o não cumprimento dessa determinação resultará em uma multa no valor de mil reais por dia. Essa apropriação do espaço público pelos grupos evangélicos gerou (e ainda gera) muita reclamação da parte dos passageiros que não integram os cultos. 10 O verbo é o adotado pela própria empresa que utiliza o termo “combate” em suas campanhas publicitárias. 11 Ver Anexo 2 (imagem B) 12 Ver Anexo 2 (Imagem A) 6 ANALISE DAS OPINIOES DOS LEITORES Tomo como ponto de partida uma matéria publicada no site de um jornal carioca13 de grande circulação, contendo o seguinte título: “Religiosos se revoltam com o fim de cultos nos trens do Rio”, em 07 de julho de 2008. No corpo da matéria, assinada pela jornalista Clarissa Monteagudo, é apresentada a opinião de representantes do seguimento evangélico do Rio. Ao longo da matéria os entrevistados criticam a liminar concedida pela juíza Viviane do Amaral, da 7ª Vara Empresarial, ao Ministério Público que proibi a prática religiosa nos trens. Os mesmos definem a medida como uma questão de intolerância religiosa e um desrespeito à liberdade de culto garantida na Constituição da República Federativa Brasileira (Abreu, 2010). Em entrevista ao jornal o reverendo Guilhermino Cunha, presidente da Catedral Presbiteriana do Rio, se manifestou contrário a proibição dos cultos e intervenção do Estado: “Essa decisão é inconstitucional. Um sinal de intolerância e preconceito que acena para perseguição. Daqui a pouco, o caminho estará livre para discriminar outras manifestações religiosas, como as umbandistas. É vedado ao Estado legislar sobre questão religiosa. Essa decisão é esdrúxula e visa a atacar os evangélicos.” Mas será que TODOS os evangélicos são a favor da manutenção dos cultos nos trens? Encontramos uma pista para essa questão na fala do pastor presbiteriano da Igreja Reformada Ecumênica, Alexandre Marquês, que classifica a lei de proibição como um convite à reflexão: “Existem locais e formas de pregação que respeitem a liberdade de pessoas que não querem ouvir aquela mensagem. Elas também têm direito de viajar de trem em silêncio. Já presenciei coisas absurdas no trem, como pessoas querendo arrancar guias do candomblé dizendo que são do demônio. Não se pode ferir o direito do outro.” Como forma de complementar essa matéria o jornal Extra decidiu criar um fórum de opiniões sobre o assunto em sua pagina na internet, com a seguinte 13 O jornal Extra pertence ao grupo Infoglobo, empresa que também edita os jornais O Globo e Diário de S. Paulo. www.extraonline.com.br 7 pergunta: “O que você acha da proibição de atos religiosos nos trens da SuperVia?”. Ao total foram postados 448 depoimentos de leitores do formato digital do jornal no período de uma semana – de 07 á 14 de julho de 2008. A partir dessas opiniões postadas no site do jornal, tentarei analisá-las qualitativamente, formado um quadro de referencias atentando para os discursos “nativos” apresentados e as categorias “nativas” empregadas pelos leitores do jornal. Num primeiro momento me dedico a classificar as opiniões entre Favoráveis (aquelas de apóiam a decisão judicial), Contrárias (aquelas que defendem a manutenção dos cultos nos trens) e Neutras, (aquelas que não se posicionam a favor ou contra a proibição). Ao longo da sistematização obtive o seguinte resultado: 273 leitores se declararam favoráveis a proibição dos cultos nos trens, 96 como sendo contrários à determinação e 79 não se posicionaram a respeito. Em seguida traçarei algumas observações entre o trabalho de campo realizado nos trens, as opiniões postadas no site e entrevistas/depoimentos de pregadores dos trens. O gráfico abaixo representa, de forma figurativa, a distribuição das opiniões dos leitores do jornal. A partir desse resultado listarei alguns dos depoimentos postados no site da matéria. Quantos aos leitores favoráveis a decisão judicial as justificativas são: 8 “É super ruim quando um grupo de pessoas começa a gritar e tocar instrumentos, o barulho é demais e incomoda geral. Os passageiros, além de cansados do trabalho, têm que aguentar esse tipo de cultos que não respeitam a ninguém.” “Em minha opinião trem não é lugar para pregação religiosa. Isso é coisa de pessoas que não estudaram o bastante, para saber que respeito é necessário. Vagão de trem não é igreja, escola e civilidade nesses anarquistas imorais.” Essas, e outras, categorias são empregadas a todo instante aos evangélicos pregadores, como: “caras que gritam”, “pessoas analfabetas e de pouca (ou quase nenhuma) escolaridade”. Quanto aos depoimentos em defesa dos cultos e do trabalho dos pregadores: “os vagões dos crentes viaja quem quer”; “o culto é sempre no segundo vagão e não faz mal a ninguém”; “viajar ouvindo a palavra de Deus de manhã faz bem a saúde da alma”; “discriminação pura, não vejo nenhum juiz proibir precisão católica, passeata gay, despacho na rua”. As justificativas para a manutenção dos cultos são muitas e se apoiam em questões do cotidiano dos passageiros: “Acho melhor ouvir os religiosos do que promessas de políticos corruptos”; “é muito melhor ouvir as palavras da bíblia do que um anúncio de um assalto”; “É cultural e típico dos evangélicos a proclamação e expressão pública de sua fé. (...) Desse modo, não é coerente este argumento das outras religiões”. Nos depoimentos mencionados fica claro que esse fenômeno religioso serve de zona de convergência para diversos elementos da vida social urbana: medo e insegurança, política, cultura etc. Embora a maioria dos leitores não declare seu posicionamento religioso nos depoimentos, existem casos em que o mesmo aparece. Foram identificadas postagens de evangélicos (10), católicos (5), umbandista (1) e ateu (1). Os depoimentos dos evangélicos giram em torno da liberdade de culto, já mencionada anteriormente, apontando para outras formas de apropriações do espaço público: A paz do Senhor! Participo das reuniões nos trens, e meu argumento é simples, já que tem que acabar com os cultos, porque esta atrapalhando alguns passageiros tem que acabar também com o fumo 9 de cigarro, maconha e cocaína, também com a venda de produtos [vendedores ambulantes] e com os pagodes que existem14. Depoimentos como os apresentados acima estão o tempo todo conectando a questão jurídica da proibição com o cotidiano dos passageiros dos trens da Supervia. Como exemplo do ultimo depoimento, há a situação vivenciada por mim em um dia no qual o trem que eu estava quebrou. Alguns passageiros tentaram quebrar as portas do vagão, mas foram contidos pelos participantes do culto: “Você que está aí murmurando porque vai chegar atrasado, foi intenção de Deus fazer o trem atrasar. Você poderia chegar na [Avenida] Presidente Vargas e ter uma bala perdida te esperando, meu amado. Para de murmurar e agradeça a Deus. Aceite hoje Jesus como seu único e suficiente salvador!” Outro dado importante a se consideram é a forma como esse banco de opiniões foi forjado. Como disse anteriormente, ele foi criado no período de uma semana a partir do lançamento da matéria no jornal. Podemos elencar algumas duvidas: quem são esses leitores? Será possuem essa pratica em participar de fóruns e enquetes, ou foi o tema da discussão que os atraiu? Muitas postagens ocorreram fora do horário comercial, portanto, no período em que os leitores estão em suas casas. Dessa forma o instrumento utilizado para acessar a matéria no site do jornal acabou sendo o seu computador particular. Sendo assim podemos pensar um recorte de classe social entre os autores desses depoimentos. Abaixo, a distribuição de depoimentos postados por dia. 07/jul/08 08/jul/08 09/jul/08 10/jul/08 13/jul/08 14/jul/08 Total 14 Favorável Contrário Neutro Total 139 102 21 9 0 2 273 48 36 3 8 0 1 96 38 26 9 5 1 0 79 225 164 33 22 1 3 448 Geralmente ocorre ás sextas-feiras, onde grupos de passageiros organizam verdadeiras “festas” dentro de alguns trens que partem da Central do Brasil. Normalmente os participantes são moradores da Baixada Fluminense que retornam do trabalho para sua residência. A viagem é regada a base de melodias de pagode, inclusive com músicos, e venda de cerveja. 10 EM DEFESA DE “UMA” LIBERDADE RELIGIOSA Ao longo dos anos a cidade do Rio de Janeiro vem servindo de palco para diversas formas de manifestações religiosas em espaços públicos. Sejam em formas, geralmente, de procissões ou caminhadas, essas aparições quase sempre tem como cenário um território dotado de um forte poder simbólico 15 (Birman, 2003). Digo isso, pois, o lugar escolhido para a realização da III Caminha em Defesa da Liberdade Religiosa foi a Avenida Atlântica, em Copacabana, um dos maiores cartões postais da cidade.16 Embora já tivesse conhecimento da manifestação, meu interesse pela caminhada aumentou quando recebi um e-mail convidando os grupos de pregadores dos trens para marchar. O convite foi informal e feito pelo pastor Amaury, que enxergou na caminhada um espaço de diálogo e visibilidade para a causa da proibição dos cultos nos trens. O evento, organizado pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), há três anos promove o ideal de que “não existe crença melhor ou pior, superior ou inferior, mas todos comungam com a ideia de que cada um tem o direito de exercer sua fé, com garantia de um estado laico, que não imponha uma religião sobre as demais”. A Comissão é a união de várias religiões e etnias de diversas instituições e segmentos que compartilham a fé pelo fim da intolerância religiosa. Tendo como missão a luta pela liberdade religiosa e garantia de um Estado laico, a CCIR vem mobilizando religiosos de todo o estado desde 2008 para a causa. Dentre os membros da CCIR destaca-se um interlocutor, o Babalawo Ivanir dos Santos, Interlocutor da Comissão e Conselheiro estratégico do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP). Na véspera da Caminhada a comissão organizadora instituiu uma reunião com líderes religiosos, imprensa e sociedade civil interessada em debate os últimos detalhes do evento. A reunião aconteceu no auditório 11, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com uma mesa composta por Evanir e outros membros da CCIR. Ao se adentra o auditório era visível a presença majoritária de integrantes dos 15 A IURJ coleciona mega cultos em sua historia de vida, quando em 1990 realiza uma gigantesca concentração de fies no Maracanã. O ultimo evento de tamanha magnitude, ocorreu em 2010, na enseada da praia de Botafogo, bem aos pés do Pão de Açúcar. O culto, promovido pela Igreja da Graça de Deus, foi alvo de ataques da mídia e dos moradores do bairro, isso porque causou um grande engarrafamento de veículos no bairro e deixando para trás muito lixo. 16 Até 2012 foram realizadas cinco caminhadas como essa, sempre no terceiro domingo dos meses de setembro, na orla da praia de Copacabana. 11 cultos de matriz africana, vestindo indumentárias típicas da religião e solicitando a benção aos membros importantes ali presentes. Durante o encontro, também foram apresentadas as peças para a divulgação do evento. Tendo como tema de campanha da frase “Liberdade Religiosa. Eu tenho fé!, uma iniciativa e criação da própria comissão, Evanir apresentou um balanço da edição anterior da caminhada e as expectativas para a próxima. A campanha tem o apoio da Rede Globo que veiculou durante toda a semana a vinheta produzida, pela própria emissora, para a Caminhada Religiosa. No produto aparecem artistas da Rede Globo pedindo o fim da intolerância religiosa no Brasil e cumprimento da liberdade de culto, já assegurada na Constituição. Além disso, imagens das outras duas edições da caminhada e fotos de participantes em clima de festejo compunham as cenas do vídeo de 15 segundos que terminava com a logomarca da emissora e a seguinte frase: “Caminhando a gente se entende. Liberdade de expressão. A gente vê por aqui!” (Birman, 2012). No ano de 2009, segundo informações do 19º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, 80 mil pessoas participaram da manifestação. Já em 2010, o número quase dobrou, reunindo um público de 120 mil pessoas durante a tarde de um domingo quase chuvoso. Foram judeus, muçulmanos, candomblecistas, kardecistas, umbandistas, católicos, wiccanos, ciganos, budistas hare Krishnas, baháís, seguidores do Santo Daime, maçons, ateus e agnósticos unindo-se para pedir o fim da intolerância religiosa na democracia brasileira. Tendo como ponto de concentração o Posto 6 da praia de Copacabana e término a praia do Leme, o evento arrastou uma multidão composta por religiosos, moradores do bairro, grupos de dança afro, candidatos a deputado estadual e pessoas fazendo panfletagens com filipetas e bandeiras de partidos políticos. No Brasil, as esferas do político e do religioso se entrelaçam no espaço público, vide as campanhas eleitorais, a bancada evangélica no congresso nacional e defesa em nome de um pluralismo religioso (Machado, 2006; Monteiro, 2006). Assim que cheguei á praia procurei por Amaury e o grupo de pregadores. Pra minha surpresa o “grupo” de evangélicos era composto por apenas dois representantes, irmão Cláudio e irmão Josafar, ambos pregadores do ramal de Santa Cruz e membros da Assembleia de Deus. Foi confeccionado pelo pastor Amaury, com recursos próprios, uma faixa com a mensagem "Evangélicos em defesa da liberdade 12 religiosa".17 A presença do grupo de evangélicos incomodou diversos adeptos de cultos de matriz africana e membros da comissão organizadora do evento. Após trinta minutos de densa conversa e inúmeras críticas ao propósito do evento, os pregadores desistiram de participar da marcha. Nesse caso, Amaury e os outros pregadores representavam fontes de “perigo” e “contaminação”, que colocavam em risco a “pureza” do território e do evento como um todo (Douglas, 1976). Isso se deve ao fato deles serem, na maioria das vezes, os responsáveis pelos ataques aos símbolos, ritos e imagens das outras religiões. O acontecimento de maior repercussão no Brasil ocorreu em 12 de outubro de 1995, quando o então bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Sérgio Von Helder, protagonizou uma cena que ficaria eternizada no campo religioso brasileiro. Durante o programa O Despertar da Fé, transmitido pela Rede Record, o então bispo pediu que trouxessem uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Medindo aproximadamente um metro de altura, a santa padroeira do Brasil, à qual se dedicava o feriado do dia, foi alvo de insultos verbais e físicos. Em meio a interrogações de sua validade ou não, o bispo condenou da pratica de idolatria as imagens e lançou uma sequencia de pontapés, dizendo: "isso não funciona coisa nenhuma; isso aqui não é santo coisa nenhuma; isso aqui não é Deus coisa nenhuma; isso aqui é gesso!". (...) nós estamos mostrando às pessoas que isso aqui não funciona, isso aqui não é santo coisa nenhuma (...) 500 reais - 5 salários mínimos - custa no supermercado essa imagem, e tem gente que compra!! Agora se você quiser uma santa mais barata, você encontra até por 100 [reais] (...) Será que Deus, o Criador do universo, pode ser comparado a um boneco desses, tão feio, tão horrível, tão desgraçado?! No dia seguinte à exibição do programa pela Rede Record, houve grande cobertura jornalística ao episódio, apresentando o fato como um ultraje deliberado à padroeira do Brasil, e, por conseguinte, à fé católica como uma demonstração de intolerância religiosa por parte da IURD. O caso ficou conhecido como "o chute na santa" e foi reapresentado em rede nacional pela Rede Globo durante uma reportagem no Jornal Nacional18(Giumbelli, 2003). 17 Ver Anexo 2 (imagem B) 18 Esse vídeo esta disponível no YouTube em: http://www.youtube.com/watch?v=VpPwWEsk0OY 13 A agressão à imagem de Nossa Senhora Aparecida provocou forte indignação nos católicos (religião a qual pertence), e também em seguidores de outras religiões, inclusive evangélicas. Houve queixa na polícia e na justiça contra o bispo Von Helder. Promotores de Justiça e sociedade civil organizada acionaram judicialmente a Igreja Universal em vários fóruns, sob alegação de crimes como vilipêndio e desrespeito ao direito fundamental constitucional da liberdade de culto. Durante vários dias, as cenas dos chutes e os desdobramentos judiciais do caso ficaram nos noticiários. Apesar do escândalo, clérigos católicos argumentam que teologicamente a discussão seria irrelevante, pois a imagem não foi consagrada por um religioso católico, permanecendo apenas uma peça de gesso, tendo o pastor comprado a imagem com o propósito de agredi-la e atingir a fé católica. Da mesma forma os católicos argumentam que o ato de intolerância do pastor foi uma má compreensão da crença católica, uma vez que as imagens cumprem a função de "meras fotografias (...), servindo para nos lembrarmos dos santos homens [e mulheres] do passado". 19 Muitas autoridades se pronunciaram acerca do acontecimento, que se tornou motivo de piadas e símbolo da intolerância religiosa no Brasil. Houve uma especulação de que o bispo Von Helder teria se convertido ao catolicismo após um milagre atribuído à santa; o bispo teria sido acometido de um “mal misterioso” que lhe atacou a perna com a qual chutou a santa, e esta teria ajudado na sua recuperação pelas mãos de uma enfermeira negra (como a santa “agredida”) que nunca foi identificada. O bispo não se pronunciou sobre o tema na época de sua circulação na mídia, pois trabalhava para a Igreja Universal em Nova Iorque. 20 Em 1997, o cantor Gilberto Gil lançou o álbum intitulado Quanta. Nele está presente a canção Guerra Santa, de sua autoria, na qual tece duras críticas ao bispo e à Teologia da Prosperidade. Posteriormente, o episódio inspirou a canção Milagre da Santa, gravada pela dupla sertaneja Felipe & Falcão, em 2000. “Ele diz que tem, que tem como abrir o portão do céu/ Ele promete a salvação/ Ele chuta a imagem da santa, fica louco-pinel/ Mas não rasga dinheiro, não/ Ele diz que faz, que faz tudo isso em nome de Deus/ Como um Papa na inquisição/ 19 Declaração do padre Raimundo Ghizoni, na Catedral da Cidade de Tubarão, em Santa Catarina (2009). 20 Ver SILVA, Chico. O Conto da Santa. Revista Isto É. 21 de abril de 2004. Disponível em ISTOÉ Online. 14 Nem se lembra do horror da noite de São Bartolomeu/ Não, não lembra de nada não/” (Trecho da música Guerra Santa) Após o fato infeliz, a cúpula de líderes da IURD decidiu pela transferência de Von Helder para os Estados Unidos, onde permanece até hoje à frente de uma das sedes da igreja, na Califórnia. CONCLUSÃO Nos últimos anos, foram recorrentes casos em que grupos evangélicos são acusados de depredar altares e imagens de santos em centros espíritas e terreiros de candomblé no Rio de Janeiro (Gonçalves, 2007). Estampando sempre as páginas policiais dos jornais, os episódios chamados de "ataques" são registrados como caso de intolerância religiosa. Em 2006, também no jornal Extra, foi criada a coluna jornalística chamada Religião e Fé, destinada a publicação de matérias sobre o universo religioso brasileiro. A redação também é da responsabilidade de Clarissa Monteagudo, jornalista que escreveu sobre os culto nos trens. Em 2010 foi publicada a série “Inimigos da Fé”, caderno dividido em sete capítulos que tratavam de temas como: a intolerância nas escolas, o sofrimento nas famílias, o preconceito e a violência nas ruas, no mercado de trabalho e as dificuldade para denunciar os agressores.21 A presença dos movimentos evangélicos nos tribunais são tão recorrentes que em um levantamento feito pela MPF foram registrados mais de 70 processos envolvendo conflitos religiosos. Nos últimos dois anos os cultos evangélicos nos trens vêm sendo reprimidos pelo Ministério Público, que decretou a proibição dos cultos (ou qualquer outra forma de manifestação religiosa) em limiar de 4 de setembro de 2009, sob a o número 2009.002.02539. Atualmente os cultos evangélicos nos trens estão suspensos, embora os líderes e integrantes dos grupos de pregação ainda se mobilizem para reverter essa decisão judicial, mas sem obter sucesso. Em 2010 o pastor Amaury 21 O infografista Ary Moraes e a repórter Clarissa Monteagudo receberam o prêmio de Excelência Jornalística 2010 da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), pela infografia "Candomblé". O trabalho foi publicado no EXTRA do dia 25 a 31 de janeiro de 2009, durante a série de reportagens "Inimigos de fé". 15 Fortes, advogado do grupo e também pregador dos trens, disse ter entrado em contato com a equipe de assessoria do senador Marcelo Crivela (PRB), que gravou um vídeo de apoio à causa. Além disso, uma das pregadoras conseguiu uma nota na coluna do Ancelmo Goes, no O Globo. Irmã Nete, como é conhecida nos entre os pregadores e passageiros dos trens, trabalha como empregada domestica na casa do jornalista e comentou sobre o caso. Outra forma encontrada para burlar a determinação judicial do MPF foi a adotada por Irma Adriana: um café da manha no trem. Toda sexta-feira, Irma Adriana e outros evangélicos pregadores do ramal de Santa Cruz oferecem um “café da manhã com Deus” aos passageiros presentes no vagão. Após a distribuição de bolos, biscoitos, Paes, café e suco, Adriana e os outros Irmãos dão início a uma breve conversa sobre a vida, Deus e um convite a reflexão. Embora tenha havido um esvaziamento dos pregadores e a suspensão dos cultos, os vagões antes ocupados por eles não deixaram de ser apropriados de forma indireta pela presença do sagrado. Enquanto os cultos não são liberados definitivamente, pregadores vêm encontrando formas de burlar as leis do Homem para cumprir as leis de Deus. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Alzira. O que é Ministério Público? Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010. AUGÉ, Marc. Le Métro Révisité. Paris: Seuil, 2008. BIRMAN, Patrícia. “Imagens religiosas e projetos para o futuro”. In: ______ (Org.). Religião e Espaço Público. 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LINS, Felipe. “Nos trilhos da adoração: lideranças pentecostais em cultos nos trens do Rio de Janeiro”. Espiritualidade Libertária, n. 2, 2010. Disponível em: http://espiritualidadelibertaria.files.wordpress.com/2010/12/03_n2_lins.pdf ______. Do ritual ao tribunal: evangélicos, passageiros e conflitos nos trens do Rio de Janeiro. Monografia de graduação em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Uerj, 2012. Mimeo. MACHADO, Maria das Dores. Política e Religião: a participação dos evangélicos nas eleições. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. MAGNANI, José Guilherme. Festa no pedaço: lazer e cultura popular na cidade. São Paulo: Editora Hucitec, 1998. MONTERO, Paula. “Religião, pluralismo e esfera pública no Brasil”. Novos Estudos CEBRAP, n. 74, São Paulo, 2006. PIRES, Lenin. Esculhamba, mas não esculacha! - Uma etnografia dos usos urbanos dos trens da Central do Brasil. Niterói: EdUFF, 2011. VELHO, Gilberto. “Observando o familiar”. In: Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1981. 1 Anexo 1: Mapa da malha ferroviária do Rio de Janeiro com integração Metro e sinalização de empresas próximas as estações. Em 2012, a Supervia incluiu a integração com o teleférico do Alemão, obra do PAC do governo federal na região. 2 Anexo 2: Comunicado sobre a proibição dos cultos nos trens afixado em cada vagão de trem da Supervia (imagem A). Campanha publicitária “Diga NÃO ao empata-porta”. As peças são utilizadas até hoje e encontram-se espalhadas em quadros de aviso dos trens nas plataformas das estações (imagem B). 3 Anexo 3: Nota sobre a proibição dos cultos na coluna “Ancelmo Gois”, no jornal O Globo (imagem A). Pregadores participam da 3ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, na Praia de Copacabana, em outubro de 2010 (imagem B).