Nome: Carlos Magno de Melo Função: Analista de movimento de trens pleno Minha vida na ferrovia Nascido na cidade da Maria Fumaça, São João Del Rey, em Minas Gerais, tinha como hobby andar de bicicleta às margens da linha para ir pescar em Tiradentes – cidade vizinha à minha. Até que uma noite, retornando de uma dessas pescarias, caí no buraco do pontilhão dentro de um córrego. Perdi a lanterna, quebrei a minha bicicleta e ainda de quebra levei uma bronca daquelas de minha querida mãe. Em tempos difíceis fui enviado a Barbacena para estudar em um colégio interno e assim concluir o 2º grau (hoje ensino médio), onde eu estudava e trabalhava a fim de custear o internato; e o que cortava ao meio a escola? Novamente a linha férrea. Do núcleo de zootecnia onde trabalhava até a escola eram aproximadamente 6 km, e eu e meus colegas aproveitávamos para pegar uma “caroninha” no trem. Até que em um belo dia, dois dos meus colegas não conseguiram descer e foram parar a 30 km da escola, na cidade de Campestre. Nem vou contar como retornaram, mas imaginem vocês como se faz um trajeto desse tamanho calçando botas sete léguas. Formei-me em 1981 e após formando fiz prova para os Correios, Banco Nacional, e para a extinta Rede Ferroviária, onde minha carteira foi assinada em 28/12/1983. Comecei como Agente de Estação, passando em seguida pelas funções de Operador do Sistema SIGO, Despachador, Operador de Movimento de Trens, Controlador de Movimento de Trens, e hoje Analista de Movimento de Trens Pleno. Em minha carreira pude vivenciar três gerações no Controle de Trens. O primeiro foi o controle mecânico, com chaves tipo borboleta com travador feito de madeira e comunicação feita por telefone, que diga-se de passagem ficava ligado ao poste ao longo da linha. Esse primeiro sistema tinha o nome de Setivo. O segundo, já mais moderno, possuía teclado e painel mímico de 20 metros de comprimento e comunicação via rádio, um luxo se comparado ao anterior. E o terceiro telão de 10 metros em alta definição, monitores de led, comunicação por fibra óptica, aparelho de tablet para rádio e telefonia, e sem falsa modéstia o CCO mais moderno e confortável da América Latina. Moro há 25 anos em uma casa que fica apenas a 500 metros da ferrovia em Barbacena. Os trilhos são minhas veias, e as composições estão em meu sangue que circulam em nossa malha. Devo eternamente à ferrovia tudo o que sou, minha esposa, meus três filhos e três netas. E pra finalizar jamais vou me esquecer que na escola Agrotécnica os mantenedores de via nos chamavam de “pés de couve”, por causa de nossos uniformes verdes, e para devolver os chamávamos de cenourinhas, devido ao seus uniformes na cor laranja.