ACESSO AO USO DE CPAP PELOS PACIENTES DO AMBULATÓRIO DE RONCO E APNEIA Julians Feitosa Coelho, Danilo Liess Noffs, Sandra Dória Xavier, José Eduardo Lutaif Dolci Departamento de Otorrinolaringologia - Santa Casa de São Paulo - SP INTRODUÇÃO A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é um problema de saúde importante, afetando milhões de brasileiros, com sérias conseqüências cardiovasculares e déficit cognitivo diurno. O seu tratamento pode ser tanto clínico como cirúrgico, dependendo do exame físico e dos achados polissonográficos. O CPAP (fig.01-02) (Continuous Positive Airway Pressure) é o tratamento de escolha para os pacientes sem indicação cirúrgica, com apneia moderada e grave, assim como para pacientes com sonolência excessiva diurna, independentemente da sua gravidade. Inúmeras publicações podem ser encontradas nos últimos anos a respeito da baixa aceitação e adesão ao tratamento com CPAP, mas pouco se encontra em relação à dificuldade de aquisição do aparelho, devido ao seu custo elevado. OBJETIVO Avaliar a dificuldade de acesso dos pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) ao uso do CPAP. METODOLOGIA O CPAP, entretanto, é uma das formas de tratamento da SAOS que enfrenta um problema crítico: a adesão dos pacientes ao mesmo. Estudos apontam taxas de adesão que variam entre 30-60%. Os motivos para a baixa adesão são vários, entre eles o incômodo com o uso da máscara, o fato de alguns pacientes não entenderem o objetivo do tratamento, enquanto outros não poderem adquiri-lo por questões financeiras. No Ambulatório de Ronco e Apneia, os pacientes, muitas vezes, apresentam baixo nível sócio-econômico, impossibilitando a aquisição do CPAP. Assim, dos 17 pacientes em que foi indicado o uso deste dispositivo, no ano de 2009, apenas 2 iniciaram o uso do CPAP. Todos os outros pacientes relataram que não estão em uso do CPAP por motivos financeiros. A gravidade da apneia não influenciou no maior acesso ao CPAP: os 2 pacientes que iniciaram o uso do CPAP apresentavam IAH menores do que a média do grupo. Assim, os pacientes, muitas vezes, ficam dependentes de concessões desse aparelho pelo SUS, mas as mesmas são restritas a poucas instituições públicas no Brasil. Pressupõe-se, portanto, que órgãos governamentais ligados à saúde ainda não deram a real importância desta entidade clínica na prática da Medicina no Brasil, apesar de ser uma doença que afete milhões de brasileiros (com sérias conseqüências à saúde e qualidade de vida da população) ocasionando, entre outros danos, sonolência excessiva diurna, risco acentuado de acidentes de trânsito e de trabalho, além de complicações cardiovasculares. Estudo retrospectivo no Ambulatório de Ronco e Apneia do Sono, sendo critério de inclusão todos os pacientes para os quais foi indicado CPAP, no ano de 2009. RESULTADOS CONCLUSÃO No período de 2009, foi indicado CPAP para 17 pacientes. Apenas 2 pacientes (11,1%) iniciaram seu uso, enquanto 15 pacientes (88,9%) estão aguardando o aparelho ou recorreram a tratamentos alternativos. Em relação ao Índice de Apneia-Hipopneia (IAH) dos 17 pacientes a média foi de 45,8 eventos por hora de sono sendo que, nos 2 pacientes que iniciaram o uso do CPAP os AIH foram bastante inferiores que a média do grupo (31,6 e 24,2 ). Em nosso ambulatório, observamos uma baixa taxa de acesso dos pacientes ao aparelho, devido à limitação financeira. Faz-se necessário, deste modo, incentivos governamentais mais amplos e significativos, com os objetivos de melhorar o acesso e garantir os benefícios deste tratamento. IMAGENS REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Figura 01 Figura 02 DISCUSSÃO A escolha do melhor tratamento para pacientes com SAOS depende de dois fatores principais: o exame clínico e a gravidade da apneia, obtida na polissonografia. O CPAP faz parte do arsenal de tratamento da SAOS, sendo o tratamento de escolha em pacientes com SAOS moderada e grave, principalmente quando não há alterações anatômicas obstrutivas passíveis de conduta cirúrgica. 1 - Weaver TE, Sawyer AM. Adherence to continuous positive airway pressure treatment for obstructive sleep apnoea: Implications for future interventions. Indian J Med Res. 2010; 131: 245-258. 2- Sullivan CE et al. Reversal of obstructive sleep apnea by continuous positive airway pressure applied through the nares. Lancet, v.1, p. 862-865, 1981. 3- Kushida CA, Littner MR, Hirshkowitz M, Morgenthaler TI, Alessi CA, Bailey D. Practice parameters for the use of continuous and bilevel positive airway pressure devices to treat adult patients with sleep-related breathing disorders. Sleep. 2006; 29:375-80. 4- Diagnósticos e Tratamento da Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS): guia prático. São Paulo: Livraria Médica Paulista Editora, 2008. 5- Costa SS, Cruz OLM, Oliveira JAA. Otorrinolaringologia Princípios e Prática; segunda edição. Artmed. 2006; p.805 6- Phillipson EA. Sleep apnea : a major public health problem. N Engl J Med. 1993; 382:1271-3.