Análise espaço-temporal dos homicídios nas regiões do Brasil: 1980 a 2005∗
Vanderlei Pascoal de Matos – ICICT/Fiocruz – Rio de Janeiro
Christovam Barcellos – ICICT/Fiocruz – Rio de Janeiro
Edinílsa Ramos de Souza – ENSP /Fiocruz – Rio de Janeiro
Maria Luiza Carvalho de Lima – CPQAM/Fiocruz – Recife
Wayner Vieira de Souza – CPQAM/Fiocruz – Recife
Simone Maria dos Santos – ICICT/Fiocruz – Rio de Janeiro
Oswaldo Gonçalves Cruz – PROCC /Fiocruz – Rio de Janeiro
Resumo
Os homicídios são a causa de mortalidade por violência e acidentes que apresenta
maior crescimento no país. Além do seu recrudescimento em regiões metropolitanas, a
violência vem se espalhando pelo território nacional, atingindo áreas mais remotas que
apresentavam baixas taxas de mortalidade até a década de 1990. Este trabalho procura
avaliar a variação espacial e o padrão de ocorrência do agravo nas diferentes regiões
do Brasil a partir dos dados de homicídios de 1980 a 2005 obtidos através do Sistema
de Informação sobre Mortalidade (SIM). Utilizou-se de aplicação de diferentes
técnicas oriundas de disciplinas como a engenharia de software, estatística e
computação, epidemiologia e geografia. Para a coleta de dados foram considerados os
critérios presentes na CID9 (E960-E969; E985-E986) para os registros anteriores a
1996 e CID10 (X85-Y09; Y22-24 eY28) nos anos seguintes. Com o objetivo de
compatibilizar dados de homicídio e de população durante esse período, foi feita uma
regressão da malha digital de 1991. Esses dados foram agregados por ano e por
município de residência através de técnicas de geoprocessamento. A ocorrência
espaço-temporal da violência indicou as regiões e municípios de maior risco e, numa
análise na matriz de vizinhança, contendo as taxa de homicídios ao longo do período
estudado, observou-se à variação espacial da violência migrando de suas grandes
metrópoles para os municípios do interior dos estados, sugerindo um processo de
difusão do problema da violência. Este estudo relaciona os processos e padrões de
violência com as categorias populacionais e espaciais mais suscetíveis, o que pode
contribuir para a formulção políticas de prevenção.
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Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG –
Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.
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Análise espaço-temporal dos homicídios nas regiões do Brasil: 1980 a 2005∗
Vanderlei Pascoal de Matos – ICICT/Fiocruz – Rio de Janeiro
Christovam Barcellos – ICICT/Fiocruz – Rio de Janeiro
Edinílsa Ramos de Souza – ENSP /Fiocruz – Rio de Janeiro
Maria Luiza Carvalho de Lima – CPQAM/Fiocruz – Recife
Wayner Vieira de Souza – CPQAM/Fiocruz – Recife
Simone Maria dos Santos – ICICT/Fiocruz – Rio de Janeiro
Oswaldo Gonçalves Cruz – PROCC /Fiocruz – Rio de Janeiro
Introdução
A mortalidade por causas Externas foi, em 2001, responsável por aproximadamente
13%(120.000 mortes) do total de mortes no país, e 38% das mortes em homens de 15 a 45
anos, com tendência crescente nas últimas décadas. Entre os anos de 1979 e 1995 houve um
aumento de 200% no total de homicídios.
Estimativas da Organização Mundial de Saúde para o ano 2000 mostram que 1,6
milhões de pessoas, no mundo inteiro, morreram como resultado da violência. Destas, 10%
foram a óbito por violência interpessoal(OMS apud Souza ET AL.,2003)
O homicídio foi a causa que mais contribuiu para o crescimento da mortalidade por
violência e acidentes no país. No período de 1980 a 1996, as mortes por essa causa cresceram
102% e, a partir da década de 80, ultrapassaram i número de óbitos por acidentes de trânsito
(Mello Jorge ET AL., 1997; Paim ET AL .,1999; Minayo, 1990; IBGE,1999). Isso se pode
ver para o ano 2000, por exemplo, em que os homicídios representavam 34,3% dos acidentes
e violências, e a mortalidade no trânsito, 25,6%. Em quatro das cinco regiões do país, eles
foram a principal causa externa de óbito, com exceção da região Sul onde os acidentes de
trânsito ocuparam a primeira posição.
Desse modo o uso de modelagem espacial possibilidade de explicação da
violência, com análise exploratória e modelagem, onde o uso de técnicas incorporou uma
grande quantidade de procedimentos e métodos estatísticos bastante sofisticados.
Nesse mesmo período, de 1991 a 2000, o homicídio constituiu a primeira causa externa de
morte em Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Sergipe na região Nordeste; em todos os estados
da região norte, exceto em Tocantins. No entanto, nesse último, se registra na década, o maior
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Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG –
Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.
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incremento da taxa de mortalidade por arma de fogo da região (110%), passando de 5,2 para
11 por 100.000 habitantes. O homicídio também ocupou o primeiro lugar na mortalidade por
causas externas no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Espírito Santo, na região Sudeste, e em
todos os estados da região Centro Oeste, com exceção de Goiás, onde se apresenta na segunda
posição, abaixo dos acidentes de trânsito. Foi, também, a segunda causa externa de morte no
Rio Grande do Sul e a terceira no Paraná, em Santa Catarina e em Minas Gerais (Peres, 2004).
Comparando-se os coeficientes de homicídios por 100 mil habitantes entre as
diferentes capitais do Brasil, observa-se que, as maiores taxas foram registradas nas capitais
das regiões Sudestes (47,7). Nas regiões Nordeste e Sul, as taxas médias de homicídios são
inferiores à média das capitais do Brasil, sendo 19,1 % e 39,3 % respectivamente. Esses dados
refletem diferenciais intraregionais e sugerem indagações sobre a dinâmica específica das
manifestações da violência na sociedade brasileira segundo áreas geográficas.
Conceitos Básicos e Metodologia:
A pesquisa se baseou em dados de homicídios de 1979 a 2005 obtidos através do
DATASUS – 1SIM. Para a coleta de dados foram considerados os critérios presentes na 2CID
(Intervenções Legais e Operações de Guerra; óbitos por homicídios; lesões por arma de fogo e
perfuro- cortante com intencionalidade ignorada).
Os dados disponibilizados pelo DATASUS – SIM estavam em formato HTTP, um link
para cada município no seu ano, o que constitui uma matriz de 5.651 x 28 totalizando 158.228
links.
Como nossa pretensão era a construção de uma base de dados que pudesse ser consultada
por outros projetos, utilizamos o artifício chamado GNU Wget – Um gerenciador de
downloads por linha de comando que utiliza os protocolos HTTP, HTTPS e FTP, através do
qual os dados foram obtidos de uma única vez, sem que fosse necessário clicar hyperlink por
hyperlink.
Os arquivos disseminados pelo DATASUS estavam em formato compactado e extensão
DBC. Depois de baixados, os arquivos foram convertidos para o formato 3DBF. Este tipo de
arquivo possui estrutura de banco de dados, que exige inúmeras regras de indexação e
manipulação. Sendo assim, optou-se pela conversão para a extensão 4SQL, uma linguagem
de pesquisa declarativa para banco de dados relacional. E através do software TABWIN,
foram criadas as queries de montagem e povoamento do banco de dados.
Entre as principais dificuldades encontradas na constituição da base de dados estão: a
grande quantidade de tabelas com tamanhos que variam de 10 Kbytes a 50 Mbytes;
inconsistência entre campos; seguido das modificações sofridas nos formulários de entrada de
dados destes óbitos. Devido a estes problemas, optamos por constituir uma base de dados
única e saneada, e para operacionalizar o gerenciamento e processamento desta tabelas,
utilizamos o programa SQLite.
O principal desafio foi a constituição de uma base gráfica singular as tantas variações
sofridas nos municípios. A malha municipal sofreu, ao longo dos 27 anos que compõem a
linha de pesquisa, diversas alterações bastante significativas em seu território. São municípios
que se dividiram e sub-dividiram durante o período da transição democrática e, observamos
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também um crescimento intenso de novos município principalmente a partir da promulgação
da Constituição Federal de 1988.
No entanto, entre todos os estados, o Rio Grande do Sul foi aquele que mais intensamente
fragmentou seu território. Quase 20% dos novos municípios brasileiros, gerados após 1988,
encontram-se nessa unidade da federação. Isto é, para cada cinco emancipações, uma ocorreu
em terras gaúchas. Em termos absolutos não há qualquer ocorrência semelhante entre os
outros estados. Minas Gerais e Tocantins, os outros estados com maior número de casos de
emancipação municipal, geraram aproximadamente a metade dos municípios criados pelo Rio
Grande do Sul.
E através do software ArcGis 9.2, foi feita uma regressão da malha digital de 1991. Com
base na tabela de “Legislação e Municípios Vigentes”, fornecida pelo IBGE, acompanhamos
a data de criação, instalação desses municípios e suas províncias. Identificado estes pontos,
foi feita a re-agregação desses municípios até sua condição em 1979sultados:
Resultados:
A violência que ocorre hoje nas metrópoles é um fenômeno com múltipla
determinação, que pode e deve ser abordado em diversas escalas de análise, do indivíduo ao
grupo. Parte-se do princípio de que é preciso compreender seus determinantes em nível ao
grupo. Parte-se do princípio de que é preciso compreender seus determinantes em nível
coletivo e subjetivo e identificar grupos e populações de risco, contribuindo assim para o
controle dos processos e dinâmicas geradoras do fenômeno considerado por alguns como “a
epidemia da mortalidade.Souza (1993) aponta os equívocos da caracterização da violência
apenas em termos de seus componentes macro-sociais. A unidade de análise definida para
este trabalho – o município – condicionou o tipo de abordagem, baseada na caracterização
socioeconômica das áreas estudadas. Apesar dos indicadores socioeconômicos clássicos não
serem capazes de explicar inteiramente sua distribuição espaço temporal, eles podem vir a
contribuir para compreenção do problema, apartir da caracterização dos municípios.
A importância do trabalho com os dados secundários é evidente. Ainda que pesem as
limitações e qualidade destes no Brasil, somente sua intensiva utilização permitirá aprimorar
os sistemas de informação de importância para a saúde.
Uso de modelagem como possibilidade de explicação da violência
Modelos são simplificações da realidade usadas ára entender um sistema,
possibilitando a interação com ele, na forma de uma decisão, comnicação de um conceiro ou
aprendizagem. Segundo Box(1979) “ todos os modelos estão errados, alguns modelos são
úteis”. Os modelos estão errados porque não são a realidade em si, mas sim uma simplificação
, esttão errados por não apresentar a realidade fielmente. No entanto, os modelos que
simplificam a realidade são úteis para podermos interagir com ela.
Uma das formas mais tradicionais de classificar os procedimentos da análise de dados
divide o processo em análise exploratória e mdelagem, onde a exploratória consiste no uso de
técnicas simples, para crítica dos dados e teste dos pressupostos da etapa seguinte,
considerada mais nobre. Entretanto, o ponto de separação entre estas duas, particularmente no
terreno de análise espacial, é pouco preciso. No nosso caso, a análise exploratória incorporou
uma grande quantidade de procedimentos e métodos estatísticos bastante sofisticados.
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Modelos estatísticos, ou probabilísticos, têm por objetivo estudar a relação entre uma
variável resposta e um conjunto de variáveis potencialmente associadas, usualmente
denominadas determinantes. Através dos modelos é possível selecionar as covariáveis
associadas, quantificar o efeito destas, descrever a estrutura da variabilidade dos dados e da
dependência espacial e/ou temporal observadas. O tipo de modelagem adotado nesta tese
baseia-se no conceito de Modelo Linear Generalizado(GLM), oriundo da extensão dos
clássicos modelos de regressão linear (McCullagh & Nelder, 1989), por sua vez adotando
nova generalização intitulada Modelo Aditivo Generalizado (GAM). Esta permite o
tratamento de relações não linares entre variável resposta e co-variáveis, através da utilização
de métodos não paramétricos de tratamento de variáveis. Quando além disso se modela a
estrutura de dependência entre as observações, ultilizam-se is denominados Modelos Lineares
Generalizados Mistos (GLMM). A junção de variável resposta discreta, relações não lineares,
e estrutura de dependência entre observações é modelada utilizando o demoninado Modelo
Aditivo Generalizado Misto(GAMM).
Estes são alguns dos dados produzidos :
Onde constatamos com a função o crescente aumento da violência e nos mapas
veremos o comportamento da violência, seguindo das capitas para o interior dos estados.
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