ADMINISTRAR O TEMPO PARA UMA BOA HOMILIA
A forma de pensar do ser humano, na cultura e mentalidade contemporânea, de certa
forma, tomou a Igreja de surpresa. Vários exemplos poderiam ser dados para ilustrar a
inaptidão eclesial diante da urbanização. Uma preocupação particular é propiciar boa
participação nas celebrações eucarísticas a fim de que cristãos e cristãs se alimentem do pão
da palavra e do pão da eucaristia.
Para atender necessidades e desejos de quem quer vivenciar o mistério pascal no
sacramento da eucaristia, vem à tona o problema das homilias, particularmente do “tempo”
dedicado a elas.
A recente exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, n. 59, lembra que “A homilia
constitui uma atualização da mensagem da Sagrada Escritura, de tal modo que os fiéis sejam
levados a descobrir a presença e a eficácia da Palavra de Deus no momento atual da sua
vida”. Para que a homilia seja eficaz adverte: “Devem-se evitar tanto homilias genéricas e
abstratas, que ocultam a simplicidade da Palavra de Deus, como inúteis divagações que
ameaçam atrair a atenção mais para o pregador do que para o coração da mensagem
evangélica”. E continua recomendando que, ao preparar uma homilia, o celebrante responda
algumas perguntas: “O que dizem as leituras proclamadas?”; “O que dizem a mim
pessoalmente?” e “O que devo dizer à comunidade, tendo em conta a sua situação concreta?”.
Fica o desafio: como colocar em prática tudo isso?
Porém, há um aspecto que não pode passar despercebido: saber administrar bem o
tempo para que a liturgia da palavra e a liturgia eucarística tenham uma relação de
reciprocidade. Quem celebra deve administrar e saber gerenciar o tempo à disposição para
que todos os elementos da celebração estejam bem situados e se respeite a importância de
cada um deles.
Percorrendo um pouco a história da Igreja, percebemos que muitos pregadores
deixaram suas marcas em relação ao tempo da pregação. As pregações de Máximo de Turim
(primeiro bispo de Turim, escritor de teologia) não superavam onze minutos. Cesário de Arles
viveu num período de transição da Antiguidade para a Idade Média e, como bispo, usava uma
linguagem simples, compreensiva e suas homilias duravam nove minutos e as longas quinze
minutos. Crisólogo, pregador impar, com magnífico dom da palavra, recebeu este nome que
significa palavra de ouro. Suas pregações eram em torno de vinte minutos (cf. Dicionário de
Homilética, pp. 1630 a 1637). Santo Agostinho costumava improvisar e suas pregações
duravam de nove a vinte e cinco minutos. Mais de uma vez, passou hora e meia e chegou até
duas horas. São João Crisóstomo, teólogo, escritor possuía uma inflamada retórica, mesmo
não tendo boa saúde. Costumava improvisar e pregava em torno de cinco a dez minutos.
Santo Ambrósio falava em torno de trinta ou quarenta minutos. Santo Antônio de Pádua
geralmente falava quarenta e cinco minutos, chegando a duas horas. São Carlos Borromeu era
prolixo em seus discursos e, se lidos, duravam geralmente mais de uma hora. Santo Antônio
Maria Claret costumava falar uma hora ou uma hora e meia. Quando ultrapassava este tempo,
chegava até a mais de duas horas e, às vezes, três horas.
Podemos perceber que, em média, o tempo de uma homilia era ou se aproximava de um
quarto de hora (cf. Dicionário de Homilética, pp. 1630 a 1637). Com o exemplo destes grandes
pregadores, acredito que hoje não devemos passar de quinze minutos nas homilias.
O tempo da homilia é limitado e precisa ser muito bem administrado. Administrar o
tempo da homilia não significa ficar focado no relógio. De nada adianta falar pouco tempo se
não se consegue passar as informações que falem ao coração dos ouvintes.
Hoje, precisamos falar com objetividade, isto é, falar pouco e ter capacidade de síntese.
Falar o que interessa sem pressa.
Nos momentos iniciais da pregação, devemos apresentar o tema, identificando e
delimitando o assunto de forma clara (três minutos). Os outros sete minutos serão usados para
aprofundar o assunto, tendo início e conclusão e os três ou quatro minutos restantes, concluir.
Ajuda muito lembrar o que disse Shakespeare: “Os homens de poucas palavras são os
melhores. A brevidade é a alma da sabedoria”.
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