UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO DARIO VIEIRA DE OLIVEIRA FILHO CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE SÃO PAULO ACERCA DO ENSINO DAS FRAÇÕES NO ENSINO FUNDAMENTAL SÃO PAULO 2011 DARIO VIEIRA DE OLIVEIRA FILHO CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE SÃO PAULO ACERCA DO ENSINO DAS FRAÇÕES NO ENSINO FUNDAMENTAL Dissertação apresentada como exigência parcial à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo – Uniban, para obtenção do título de Mestre em Educação Matemática, sob orientação da Professora Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva. SÃO PAULO 2011 Banca Examinadora: __________________________________________________ Profa. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva (Presidente-Orientador) __________________________________________________ Prof. Dr. Alécio Damico (1.º titular externo – Fundação Santo André) __________________________________________________ Profa. Aparecida Rodrigues Silva Duarte (1.º titular interno – Uniban) Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura: _____________________________________ Local e Data: ___________________________________ Dedico este trabalho à minha querida mamãe ISOLINA MORAES VIEIRA DE DE OLIVEIRA, que tanto me incentivou e tem me apoiado neste e em todos os meus projetos de vida e ao meu papai DARIO VIEIRA DE OLIVEIRA, que já não está entre nós, mas que em momento algum sai do meu coração, por tanto apoio e carinho que teve para comigo. Dedico também aos meus queridos filhos Everton e Priscila pelo apoio, as minhas irmãs DALETE e ELIANE pelo o incentivo e aos meus sobrinhos VANESSA e MATHEUS pelo carinho. Agradeço a DEUS por ter me abençoado, aos meus familiares, amigos e professores pelo incentivo. Agradeço em especial a minha orientadora, Professora DRA. ANGÉLICA DA FONTOURA GARCIA SILVA, que se mostrou sempre presente e disposta a me ajudar no que fosse necessário para a realização deste trabalho. Agradeço também a Professora. DRA. TÂNIA M M CAMPOS Presidente do Conselho de Pós-Graduação e Pesquisa, da Universidade Bandeirante de São Paulo e aos Professores participantes da banca examinadora Professor DR. ALÉCIO DAMICO e Professora APARECIDA RODRIGUES SILVA DUARTE, pela oportunidade de crescimento pessoal profissional. Não fortalecerás a dignidade e o ânimo se subtraíres ao homem a iniciativa e a liberdade. ABRAHAM LINCOLN RESUMO Este estudo tem como objetivo analisar as concepções de professores de matemática que lecionam no sexto e sétimo anos do Ensino Fundamental e integram o Projeto Observatório da Educação, sobre o ensino dos números racionais na representação fracionária. Para a coleta de dados, foram feitas entrevistas com seis professores participantes do Projeto, considerando as orientações contidas no material de apoio do currículo da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Teoricamente, esta pesquisa fundamenta-se em estudos realizados por Schön (1983) sobre a reflexão de professores acerca de suas práticas e nas discussões a respeito do conhecimento profissional docente de Shulman (1986), Tardif (2000) e Ponte (1992). Esta investigação apoia-se, ainda, em estudos que discutem questões relacionadas ao ensino e a aprendizagem dos números racionais na representação fracionária, como a classificação proposta por Nunes (2003) e na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud (1990). A análise dos dados permitiu verificar que os professores introduzem o tema fundamentalmente por meio do significado partetodo. Além disso, foi possível observar, por exemplo, que esses docentes utilizam representações gráficas para introduzir a noção de equivalência de frações e justificar, assim, a adição e subtração. Por outro lado, esses professores não apresentam explicações para o trabalho com a multiplicação e divisão de frações, preferindo introduzir essas operações apenas por intermédio dos algoritmos. Palavras-chave: Educação Matemática; Concepções; Currículos de Matemática; Ensino e Aprendizagem de Frações; Observatório da Educação. ABSTRACT This study has as objective, analyze the conceptions of mathematics teachers of public schools in São Paulo, who teach in the sixth and seventh year of elementary school and part of the Monitoring Project Education, about the instruction of rational numbers on fractional representation. For data collection, interviews were conducted with six teachers participating on the project, considering the guidelines on the support material of curriculum of Department of Education of Sao Paulo State. Theoretically this research is based on studies realized by Schön (1983) about the reflection of teachers and their practices and discussions about teacher professional knowledge of Shulman (1986), Tardif (2000), Bridge (1992). This investigation still relies in studies which discuses questions related to the teaching and the learning of rational numbers on fractional representation, how is the classified proposed by Nunes (2003), based on Kieren’s (1988) ideas and on the Theory of Conceptual Fields of Vergnaud (1990). The data analyze allowed verify that teachers introduce the theme, fundamentally by the part-all meaning. Moreover, was possible to see, for example, that those teachers use the graphic representation to introduce the fraction equivalence idea and justify the addition and subtraction. On the other hand, those teachers don’t present explanation to work with multiplication and division on fraction, preferring introduce those operations just for algorithms ways. Keywords: Mathematics Education; Concepts; Curriculum; Teaching and Learning of fractions; Observatory of Education. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CENP Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas CA Cadernos do Aluno CP Cadernos do Professor INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC Ministério da Educação e do Desporto M.M.C. Mínimo Múltiplo Comum MMM Movimento da Matemática Moderna PCN Parâmetros Curriculares Nacionais PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo SA Situação de Aprendizagem SARESP Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo SECAD Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SEE/SP Secretaria de Estado da Educação de São Paulo UNESP Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ UNIBAN Universidade Bandeirante de São Paulo UNICAMP Universidade de Campinas USP Universidade de São Paulo LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) ....... 91 FIGURA 2 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) ....... 92 FIGURA 3 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) ....... 93 FIGURA 4 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) ....... 93 FIGURA 5 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) ....... 94 FIGURA 6 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) ....... 94 FIGURA 7 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3, Atividade 1) .................................................................................. FIGURA 8 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3, Atividade 1) .................................................................................. FIGURA 9 95 96 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3, Atividade 2) .................................................................................. 97 FIGURA 10 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-4) ....... 99 FIGURA 11 – Correspondência entre as quatro primeiras casas decimais e as frações decimais .................................................................. 106 FIGURA 12 – Representação das figuras em linguagem mista e forma decimal ........................................................................................ 107 FIGURA 13 – Relação de equivalência entre submúltiplos da unidade ............ 108 FIGURA 14 – Relações de equivalência entre alguns submúltiplos da unidade 108 FIGURA 15 – Geoplano ..................................................................................... 114 FIGURA 16 – Geoplano ..................................................................................... 114 FIGURA 17 – Geoplano ..................................................................................... 115 FIGURA 18 – Geoplano ..................................................................................... 116 FIGURA 19 – Geoplano ..................................................................................... 117 FIGURA 20 – Geoplano ..................................................................................... 118 FIGURA 21 – Multiplicação de frações (orientações) ........................................ 128 FIGURA 22 – Multiplicação de frações (orientações) ........................................ 129 QUADRO 1 – Saberes Docente ......................................................................... 38 QUADRO 2 – Conteúdos de Matemática por série e bimestre: Ensino Fundamental (Ciclo II) ................................................................. 81 QUADRO 3 – Estratégias práticas ..................................................................... 109 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 1.1 ANTECEDENTES E MOTIVAÇÕES 16 1.2 CONFIGURAÇÃO DA PESQUISA 17 1.3 OBJETIVOS 20 2 PERCURSOS DA INVESTIGAÇÃO: PROCEDIMENTOS TEÓRICOS 2.1 ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO 22 22 2.1.1 Quanto à natureza da pesquisa 24 2.1.2 Observatório da Educação: uma descrição 25 2.1.3 Processo de formação: números racionais 26 2.1.4 Nosso Protocolo de pesquisa 29 2.1.5 Caracterização dos sujeitos de pesquisa 30 3 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS 3.1 QUANTO À FORMAÇÃO DE PROFESSORES 32 32 3.1.1 Schön (1987): ―Formar professores como profissionais reflexivos‖ 32 3.1.2 Shulman (1986): ―Those Who Understand: Knowlwdgw Growth in Teaching‖ 35 3.1.3 Tardif (2000): ―Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no magistério‖ 37 3.1.4 Ponte (1992, 1994): Concepções dos professores de Matemática 40 3.2 SOBRE A RELAÇÃO FORMAÇÃO DE PROFESSORES E OS PROCESSOS DE INOVAÇÕES CURRICULARES 41 3.2.1 Pietropaolo (2002): ―Parâmetros Curriculares de Matemática para o Ensino Fundamental‖ 41 3.3 QUANTO AO OBJETO MATEMÁTICO: NÚMEROS RACIONAIS NA REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA 41 3.3.1 Caraça (1951): ―Conceitos Fundamentais da Matemática‖ 42 3.3.2 Vergnaud (1991, 2010): Sobre a Teoria dos Campos Conceituais 43 4 REVISÃO DA LITERATURA 47 4.1 ESTUDOS RELACIONADOS AO ENSINO E À APRENDIZAGEM DA REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA DOS NÚMEROS RACIONAIS COM FOCO NO PROFESSOR 47 4.1.1 Silva (1997): ―Sobre a introdução do conceito de números fracionários 47 4.1.2 Santos (2005): ―O conceito de fração em seus diferentes significados: um estudo diagnóstico junto a professores que atuam no ensino fundamental‖ 49 4.1.3 Silva (2005): ―Investigando saberes de professores do ensino fundamental com enfoque em números fracionários para a quinta série‖ 51 4.1.4 Canova (2006): ―Crença, concepção e competência dos professores do 1.º e 2.º ciclos do ensino fundamental com relação à fração‖ 53 4.1.5 Garcia Silva (2007): ―O desafio do desenvolvimento profissional docente: análise da formação continuada de um grupo de professores das séries iniciais do ensino fundamental, tendo como objeto de discussão o processo de ensino e aprendizagem das frações‖ 55 4.1.6 Damico (2007): ―Uma investigação sobre a formação inicial de professores de matemática para o ensino de números racionais no ensino fundamental‖ 56 4.2 ESTUDOS RELACIONADOS AO ENSINO E À APRENDIZAGEM DA REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA DOS NÚMEROS RACIONAIS COM FOCO NO ALUNO 58 4.2.1 Bezerra (2001): ―Introdução do conceito de número fracionário e de suas representações: uma abordagem criativa para a sala de aula‖ 58 4.2.2 Merlini (2005): ―O conceito de fração em seus diferentes significados: um estudo diagnóstico com alunos de 5.ª e 6.ª séries do Ensino Fundamental‖ 59 4.2.3 Montinho (2005): ―Fração e seus diferentes significados: um estudo com alunos das 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental‖ 61 5 OS CURRÍCULOS DE MATEMÁTICA E OS NÚMEROS RACIONAIS NA REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA 63 5.1 PROPOSTAS CURRICULARES DO ESTADO DE SÃO PAULO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL: DÉCADAS DE 80 E 90 63 5.1.1 Proposta Curricular de Matemática: representação de um número racional absoluto sob a forma fracionária e sob a forma decimal 67 5.2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 70 5.2.1 Os números racionais nos Parâmetros Curriculares Nacionais: primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental 71 5.2.2 Os números racionais nos Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental 73 5.3 CURRÍCULO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (2008) 76 5.3.1 Concepção do ensino na área de matemática e suas tecnologias 78 5.3.2 O currículo de matemática para o ensino fundamental (Ciclo II) 80 6 CONCEITO DE FRAÇÕES: AS ORIENTAÇÕES CONTIDAS CADERNOS DO PROFESSOR (SÃO PAULO, 2008-2010) NOS 6.1 O CADERNO DO PROFESSOR, 5.ª SÉRIE/6.º ANO: VOLUME 1 6.1.1 Situação de Aprendizagem 3: Na medida certa: dos números naturais às frações 87 87 89 6.1.2 Situação de Aprendizagem 4: Equivalência e operações com frações 98 6.2 O CADERNO DO PROFESSOR, 5.ª SÉRIE/6.º ANO: VOLUME 2 103 6.3 O CADERNO DO PROFESSOR, 5.ª SÉRIE/6.º ANO: VOLUME 3 112 6.3.1 Situação de Aprendizagem 3: Geometria e Frações com Geoplano ou Malha Quadriculada 113 6.4 O CADERNO DO PROFESSOR, 6.ª SÉRIE/7.º ANO: VOLUME 1 7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 7.1 O TEMA FRAÇÃO E A FORMAÇÃO DOCENTE 121 133 133 7.1.1 Reflexões do professor sobre o ensino e a aprendizagem da fração na escola básica: lembranças da formação docente 134 7.1.2 Reflexões do professor sobre sua formação inicial e os processos de ensino e aprendizagem da fração 136 7.2 O TEMA FRAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE 137 7.2.1 Reflexões do professor sobre o ensino e a aprendizagem da fração na escola básica: lembranças da sua prática pedagógica antes da mudança curricular 137 7.2.2 Reflexões sobre a prática pedagógica em um cenário de mudança curricular 139 7.2.3 Reflexões do professor sobre o ensino e aprendizagem da fração: dificuldades 142 7.2.4 Reflexões do professor sobre a abordagem das frações nos materiais de apoio 144 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 147 REFERÊNCIAS 151 ANEXOS ANEXO A – Conteúdos de Matemática por série e bimestre: Ensino Fundamental (Ciclo II) ANEXO B – Entrevistas i vi 15 1 INTRODUÇÃO O objetivo maior deste estudo é analisar as concepções que professores de matemática da Rede Pública Estadual de São Paulo, que lecionam no sexto e sétimo anos do Ensino Fundamental1 e integram o Projeto Observatório da Educação, têm sobre o ensino dos números racionais na representação fracionária no currículo do Estado de São Paulo, contida no Caderno do Professor. O Projeto Observatório da Educação tem a finalidade de promover e analisar o desenvolvimento profissional docente de professores de matemática, quando estes estão inseridos em processos de implementação de inovações curriculares. A Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban) participa dessa proposta de investigação por meio do projeto denominado ―Educação Continuada de Professores de Matemática do Ensino Fundamental e Médio: Constituição de um Núcleo de Estudo e Investigação de Processos Formativos‖, o qual conta com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) e Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad). Nossos sujeitos participaram de um processo de formação continuada, cujo foco foi a discussão sobre as inovações curriculares propostas pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE/SP) desde 2008. Tal inovação curricular pressupõe diversas ações e a utilização de materiais de apoio. Dentre eles destaquem-se os documentos-base, ―Cadernos do Professor‖ e ―Cadernos do Aluno‖, distribuídos para todos os professores e alunos da rede paulista. Nos Cadernos do Professor de Matemática (CP), como materiais de apoio às atividades docentes, encontram-se propostas de atividades para todas as aulas e anos, além de indicação de materiais complementares para estudo, sugestões de avaliação e projetos de recuperação paralela. Nos Cadernos do Aluno de 1 A Lei Federal n.º 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN n.º 9.394/1996), ampliando o Ensino Fundamental para nove anos de duração, e assim, o Ciclo II (séries/anos finais) corresponde às turmas do 6.º ao 9.º anos. Em nosso trabalho, quando nos referirmos ao 6.º e 7.º anos será o mesmo que 5.ª e 6.ª séries. 16 Matemática (CA), por seu turno, estão presentes sugestões de atividades para a sala de aula e ―lições de casa‖, apresentando as atividades discutidas no CP e complementando com outras. Segundo seus elaboradores,2 a finalidade do CA é facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Ambos os cadernos estão organizados por bimestre (ou volume) e disciplina. Nesta pesquisa, fizemos uma análise desses documentos e entrevistamos professores participantes do projeto. As entrevistas que realizamos, cujo foco recaiu sobre as propostas contidas no Caderno do professor SEE/SP destinado ao sexto e sétimo anos do Ensino Fundamental, se mostram, a nosso ver, como referências privilegiadas para reflexão e análise de concepções de professores integrantes do Projeto Observatório da Educação, no que diz respeito ao ensino dos números racionais nesse nível de ensino. Para justificar essa preocupação, descrevemos inicialmente a vivência profissional do autor da dissertação, para, em seguida, justificar a relevância do tema. A opção por escrevermos este capítulo na primeira pessoa do singular se deve ao fato de apresentarmos aqui experiências próprias do investigador. Os demais capítulos foram redigidos na terceira pessoa do plural, pois entendemos que esta dissertação contou com contribuições da banca, de professores, de colegas e, especialmente, da orientadora desta investigação. 1.1 ANTECEDENTES E MOTIVAÇÕES Ingressei no magistério em 1997 e nesse mesmo ano comecei a ministrar aulas de matemática em uma escola estadual na cidade de Osasco. Em 2001, fui admitido para o cargo de docente em um colégio particular na mesma cidade. 2 São autores dos Cadernos do Professor e dos Cadernos do Aluno: Nilson José Machado, Carlos Eduardo de Souza Granja, José Luiz Pastore Mello, Walter Spinelli, Rogério Ferreira da Fonseca e Ruy César Pietropaolo. 17 Nesses 13 anos em que venho trabalhando como professor do Ensino Fundamental e Médio, tenho vivenciado diversas experiências. No entanto, observo ainda dificuldades entre os professores relacionadas às diversas questões envolvendo o ensino e a aprendizagem da matemática e, em específico, dos números racionais. Notei ainda que muitos alunos que chegam à quinta série/sexto ano do Ensino Fundamental encontram muitas dificuldades em compreender o tema, e isso pode ter relação com a forma com que esses alunos, nos anos anteriores, vivenciaram as atividades introdutórias aos números racionais na representação fracionária. Atuo em uma escola que possui três professores que ministram aulas para alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental com diferentes turmas de quarta série/quinto ano e que não trabalham da mesma forma. Um desses docentes, procura conduzir as aulas de maneira experimental e contextualizada, usando materiais manipuláveis como jogos e outros, e sempre que possível descreve na linguagem materna os números racionais e os procedimentos de cálculo, e depois passa para a representação fracionária. Outra prática desse professor é sempre pedir que os alunos descrevam a solução encontrada na resolução dos exercícios. Em contrapartida, os outros professores trabalham de maneira tradicional, apresentando os números racionais já na forma fracionária, incentivando mais a manipulação das propriedades operacionais. Esta observação empírica permitiu-me inferir que os alunos que chegam à quarta série/quinto ano do Ensino Fundamental, e que estudaram com o primeiro professor citado, têm um melhor rendimento e obtêm melhores resultados nas avaliações externas (Saresp)3 e internas, e compreendem mais rapidamente os significados dos números racionais. 1.2 CONFIGURAÇÃO DA PESQUISA Concomitantemente, como professor da rede pública estadual, desde o ano 3 SARESP Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo. 18 de 2008, vivencio um cenário de implementação de currículo na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Essa inovação curricular tem por objetivo: [...] organizar melhor o sistema educacional de São Paulo. [...] contribuir para a melhoria da qualidade das aprendizagens de seus alunos. [...] garantir uma base comum de conhecimentos e competências para que [as] escolas funcionem de fato como uma rede (SÃO PAULO, 2008, p 5-8). O mesmo documento salienta ainda a necessidade de oferecer subsídios aos profissionais que compõem a Rede Estadual de Ensino, além de concretizar orientações federais contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Prevê também diversas ações, dentre as quais a distribuição de cadernos para Professores (CP) e para Alunos (CA). Nesse cenário, no ano de 2009, ingressei no curso de Mestrado Acadêmico em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), na linha de pesquisa Formação de Professores que Ensinam Matemática. Este grupo está desenvolvendo um projeto de pesquisa cujo título é Educação Continuada de Professores de Matemática do Ensino Fundamental e Médio: Constituição de um núcleo de estudos e investigações de processos formativos, que apresenta uma proposta de constituição de um grupo colaborativo de formação e de pesquisa, cuja finalidade é promover e analisar o desenvolvimento profissional de professores de matemática, na implementação das novas propostas curriculares. Assim sendo, esta investigação foi realizada no âmbito do Projeto Observatório da Educação, posto que ele prevê ações de formação continuada de professores em uma ação colaborativa favorecendo minha observação do processo. Para tanto, escolhi entrevistar este grupo de docentes, depois da intervenção citada, porque fui observador desta formação e, analisando o ocorrido, considerei a possibilidade de verificar também se as discussões e reflexões ocorridas durante a formação continuada favoreceram o desenvolvimento Conhecimento Profissional Docente sobre a introdução de fração. Vale salientar que em tais ações não foram discutidos temas que envolviam 19 especificamente a introdução de frações, foco do meu estudo, mas sim o conceito de irracionalidade. Reitero que, apesar de o foco da formação ocorrida no âmbito do Observatório não ser específico sobre a minha temática, é fato que sua idealizadora, a Professora Olga Corbo (2009),4 pretendia discutir também propriedades dos racionais, na medida em que sua proposta foi favorecer a discussão acerca da ampliação do conceito de número. Vale ressaltar que o desenvolvimento da formação exigiu a re-elaboração de noções relativas aos números racionais, uma vez que, segundo a autora, a formação propiciaria a compreensão do conjunto dos Números Reais, Números Racionais e Irracionais. Relato isso no sentido de evidenciar meu interesse em pesquisar o professor do Ensino Fundamental e sua formação matemática, no que se refere ao tema números racionais no cenário da implementação do currículo, e no âmbito do Projeto Observatório da Educação, em específico, por acreditar que esta foi uma oportunidade de formação docente que procurou refletir sobre a construção dos conjuntos numéricos. Nesse contexto, no cenário de implementação do currículo e em um processo de formação e reflexão sobre a prática, emergiu a seguinte questão de pesquisa: Como professores de matemática, participantes do Projeto Observatório da Educação, que lecionam no sexto ano do Ensino Fundamental, analisam o conceito de frações apresentado no Caderno do Professor? Para responder tal questão, é necessário responder ainda outras, não menos importantes, como: Quais são as inovações propostas nos recentes currículos de matemática prescritos no Estado de São Paulo para os processos de ensino e de aprendizagem no que concerne aos conceitos relacionados aos números racionais na representação fracionária no sexto ano do Ensino Fundamental? Há consensos com as propostas anteriores? 4 A pesquisadora Olga Corbo, em seu estudo para doutoramento, também no âmbito do Observatório, teve como finalidade oferecer aos docentes participantes do grupo oportunidade de refletir sobre o conceito de Irracionalidade. 20 Ainda, no cenário de implementação do currículo do Estado de São Paulo, como os professores de matemática que participam do Observatório da Educação analisam a proposta para introdução de frações contidas no Caderno do Professor? 1.3 OBJETIVOS Ao responder tais questionamentos, pretendemos atingir os seguintes objetivos: ▪ Analisar as concepções que os professores de matemática, que lecionam no sexto e sétimo anos do Ensino Fundamental e participam do Projeto Observatório da Educação, têm sobre as indicações apresentadas no Caderno do Professor sobre o ensino de frações no currículo do Estado de São Paulo. ▪ Verificar quais são as inovações propostas pelos atuais currículos prescritos de matemática no Estado de São Paulo para o processo de ensino e de aprendizagem de conceitos concernentes aos números racionais na representação fracionária no 6.º e 7.º ano. ▪ Verificar o que as pesquisas propõem para o desenvolvimento do conceito de fração. Para alcançar esses objetivos organizamos o estudo em oito seções, a saber: ▪ Na primeira seção, anunciamos nosso problema de pesquisa e justificamos do ponto de vista pessoal. Apresentamos ainda a configuração do estudo proposto e seus objetivos. ▪ A segunda é destinada à descrição dos procedimentos metodológicos. Inicialmente expomos cada uma das etapas que constituíram a fase da coleta de dados, do ambiente em que o estudo foi desenvolvido o Projeto Observatório da Educação , além da descrição do protocolo de entrevista e do perfil dos professores investigados. ▪ Na terceira seção, sob o título ―Considerações Teóricas‖, anunciamos os estudos que fundamentaram nossa análise dos dados. Apresentamos pesquisas que discutem tanto a questão do objeto matemático fração como as que versam sobre a questão da formação docente. 21 ▪ Na seção quatro, indicamos algumas pesquisas que discutiram a temática envolvida no nosso estudo (os números racionais na representação fracionária) e procuramos com isso ampliar nossa justificativa. ▪ A quinta seção é dedicada ao Currículo, em especial ao de matemática, no que se refere às propostas envolvendo a temática fração, anteriores a 2008. ▪ Na seção seis, apresentamos informações concernentes às orientações oficiais sobre a representação fracionária dos números racionais indicadas no currículo oficial do Estado de São Paulo a partir de 2008, para 5.ª série/6.º ano do Ensino Fundamental. ▪ Na sétima seção apresentamos os dados obtidos e, a partir deles, efetuamos nossas análises. ▪ Na seção oito, procuramos responder nossa questão de pesquisa. Para tanto, retomamos brevemente o percurso do trabalho, assim como as análises feitas e suas relações com outras pesquisas. 22 2 PERCURSOS DA INVESTIGAÇÃO: PROCEDIMENTOS TEÓRICOS Este capítulo será destinado à descrição dos procedimentos metodológicos. Iniciamos por meio da apresentação de cada uma das etapas que constituíram a fase da coleta de dados, do ambiente em que o estudo foi desenvolvido do Projeto Observatório da Educação , além da descrição do protocolo de entrevista e do perfil dos professores investigados. 2.1 ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO Nesta subseção apresentamos a exposição de cada uma das etapas que constituíram a fase da coleta de dados, explicitando nossas intenções e as razões de nossas escolhas, expondo os encaminhamentos construídos, para permitir o estudo necessário às finalidades desta pesquisa. Vale salientar que a base metodológica utilizada foi a de uma pesquisa qualitativa e documental, uma vez que discutimos os últimos currículos relacionados ao estudo das frações. Fizemos uso também da pesquisa bibliográfica, quando descrevemos alguns estudos que tratam do tema, tanto das questões do ensino e aprendizagem das frações (no Ensino Fundamental) como no processo de mudanças em um contexto de inovações curriculares. A inter-relação entre os dados obtidos na análise de pesquisas e documentos oficiais e das entrevistas semiestruturadas com professores participantes do Observatório possibilitou-nos comparar tudo aquilo que emergiu da pesquisa com outras investigações e experiências, originando outras descobertas. Nosso estudo teve como ponto de partida a análise de pesquisas sobre fração e sua influência nos currículos, em especial no currículo do Estado de São Paulo. Optamos por essa análise pois nossos sujeitos de pesquisa estão imersos em um cenário de implementação curricular. Os professores desta rede de ensino, desde 2008, estão inseridos em um 23 processo de mudança curricular proposto pela SEE/SP para todas as escolas da rede nos níveis de Ensino Fundamental (Ciclo II) e Médio, cujo objetivo é apoiar o trabalho nas escolas e contribuir para melhoria da qualidade da aprendizagem dos alunos. Quanto aos documentos, procuramos analisar as orientações curriculares acerca da representação fracionária dos números racionais tanto no âmbito estadual como no federal. Na esfera estadual: as Propostas Curriculares dos anos 80 e 90, assim como o Currículo de 2008; e na esfera federal analisamos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de 1997 e 1998. Após essa primeira fase, com a finalidade de delimitar nosso universo de pesquisa, procuramos professores dentre os participantes do Observatório da Educação da Uniban. Tal escolha foi feita porque nesse grupo encontravam-se professores em ―condições ideais‖, uma vez que estes profissionais estavam imersos na implementação do Currículo do Estado de São Paulo e participavam de um processo de formação continuada. Para realizar tal seleção, procuramos docentes participantes do projeto supracitado e que lecionaram para os 6.º e 7.º anos desde 2008, pois, segundo nossos estudos, são para esses segmentos que as orientações curriculares propõem a introdução do conceito de fração. Escolhemos um grupo de seis professores que atuam no Ensino Fundamental e Ensino Médio da Rede Pública Estadual de São Paulo e participam do Projeto de Pesquisa e Formação do curso de Pós Graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo, intitulado ―Educação Continuada de Professores de Matemática do Ensino Fundamental e Médio: Constituição de um Núcleo de Estudo e Investigações de Processos Formativos‖. Os professores têm entre 26 e 60 anos de idade e atuam como docentes em média há 17 anos. Todos com formação plena em Matemática, somente um deles com curso de pós-graduação. Desse grupo de professores, quatro lecionaram frações antes e depois do novo currículo de 2008, e dois deles somente após a implementação dessa nova proposta. 24 Escolhemos realizar entrevistas semiestruturadas no próprio local de trabalho dos participantes, pois entendemos, assim como Bogdan e Biklen (1994), que, depois de incentivar nosso sujeito de pesquisa, o docente, a falar sobre a relação entre a temática discutida neste estudo e a formação do docente, poderíamos aprofundar a discussão, ―retomando os tópicos e os temas que o respondente iniciou‖ (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 135). A coleta de dados para responder à questão de pesquisa foi feita por meio de um protocolo de entrevistas semiestruturadas, que apresentamos no final do capítulo. Inicialmente, a ideia foi conhecer a formação profissional docente. Em seguida, procuramos questionar a relação do professor com a Matemática (em especial, com o tema fração) durante sua formação: na educação básica, na sua primeira formação profissional (licenciatura) e em cursos de formação continuada. Procuramos ainda discutir sobre sua prática antes e depois da implementação do currículo, com a finalidade de verificar as concepções dos profissionais investigados sobre o desenvolvimento do trabalho com as frações. Essas entrevistas foram gravadas, transcritas (ver Anexo B, p. iv) para posterior análise à luz dos teóricos, que apresentaremos no quarto capítulo. Para tanto, procuramos selecionar os depoimentos dados durante as entrevistas, bem como procurar similaridades e diferenças, que nos fornecessem subsídios para análise. 2.1.1 Quanto à natureza da pesquisa Trata-se também de uma investigação de natureza qualitativa, pois considera as características apontadas por Bogdan e Biklen (1994): 1. Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; 2. A investigação qualitativa é descritiva. [...] A palavra escrita assume particular importância na abordagem qualitativa, tanto para o registro dos dados como para a disseminação dos resultados; 3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos. [...] Este tipo de estudo foca-se no modo como as definições (as definições que o professores têm dos alunos, as definições que os alunos têm de si próprios e dos outros) se formam; 25 4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva; 5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa. [...] Os investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que lhes permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista do informador (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 47-50). Portanto, torna-se relevante descrever o ambiente em que ocorre a formação, assim como a formação que ocorreu até os primeiros meses do ano de 2011, envolvendo a temática Números Racionais na qual se discutiram questões relacionadas às características dos números racionais. 2.1.2 Observatório da Educação: uma descrição O Projeto Observatório da Educação é desenvolvido pela linha de pesquisa Formação de Professores do Programa de Pós-Graduação da Uniban de São Paulo, que promove reuniões quinzenais, entre pesquisadores em Educação Matemática e professores de matemática, nas dependências da própria universidade. Ele prevê uma educação continuada de professores de matemática do Ensino Fundamental e médio e a constituição de um núcleo de estudos e investigações de processos formativos. A finalidade do projeto é constituir um grupo colaborativo para análise e desenvolvimento profissional docente daqueles professores que estão inseridos na implementação do Currículo do Estado de São Paulo para educação básica (Ensino Fundamental – ciclo II e Ensino Médio), no ensino e aprendizagem da matemática, o qual vem sendo implementado desde o ano de 2008. A justificativa para o desenvolvimento da proposta contida no Projeto Observatório é composta pelos itens: Complementar a deficiência da formação inicial; Atender demandas recentes da nova proposta de educação básica de São Paulo; Incorporar os resultados das pesquisas nas competências necessárias para prática; Concepções do ensino e aprendizagem; Reflexão da prática pedagógica do professor. Assim sendo, nosso estudo está sendo realizado com a participação de um grupo de professores da rede pública, por meio do Projeto Observatório, desenvolvido pela linha de pesquisa Formação de Professores do Programa de Pós-Graduação da Uniban de São Paulo, que promove reuniões quinzenais, entre pesquisadores em Educação Matemática e professores de Matemática, nas dependências da própria universidade. Realizaremos uma entrevista com professores participantes. Portanto, consideramos também importante descrever a formação que antecedeu o momento em que realizaremos nossa entrevista (PROJETO OBSERVATÓRIO, 2009). 26 O grupo de professores participantes do projeto contribui com a proposta de apoio ao trabalho do professor nas aulas de matemática da educação básica. A formação e pesquisa incluem a problematização e a reflexão da prática pedagógica de professores envolvidos nesse processo de formação, e essas ações acontecem em momentos presenciais e a distância por meio da plataforma Moodle. O trabalho desenvolvido no grupo tem uma relação estreita com o campo de atuação, levando-se em conta as novas tendências na área de formação de educadores e as implicações na área da matemática. Participam deste trabalho 45 professores da Educação Básica, oito docentes do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Uniban, sendo quatro da linha de formação de professores, que ensinam matemática, dois que pesquisam sobre ensino e aprendizagem matemática, um professor ligado à área da tecnologia digital e educação da matemática, e um professor que desenvolve um trabalho de pesquisa, voltado para a História da Educação Matemática. Participam também seis alunos da licenciatura de matemática em iniciação científica, seis alunos de mestrado e um aluno de doutorado. A primeira fase da coleta dos dados, que permitiu formular respostas às questões de nossa pesquisa, foi realizada ao longo de sete encontros de aproximadamente quatro horas, conforme especificamos na sequência. 2.1.3 Processo de formação: números racionais Nossos sujeitos de pesquisa participaram de todas as discussões realizadas no Projeto Observatório da Educação. Detalharemos aqui a formação que ocorreu desde o segundo semestre de 2010, até maio de 2011. Nossa participação nesse Projeto foi de observação, em especial nos encontros em que foi tratado o tema Números Racionais. 27 Não faremos aqui uma descrição detalhada. Apresentaremos apenas alguns dados que coletamos em nossa observação, principalmente para analisar o Conhecimento Profissional Docente dos participantes envolvidos relacionados a esse conjunto numérico. Sob a orientação do Professor Dr. Ruy Pietropaolo, a doutoranda Olga Corbo desenvolveu uma pesquisa adotando a metodologia Design Experiments,5 na perspectiva de Cobb et al. (2003). Corbo (2010) procurou investigar se uma abordagem que explore a densidade do conjunto dos racionais, na reta numérica, propicia a compreensão e a construção do conceito de irracionalidade. Para tanto, a autora realizou um estudo dividido em três etapas: aplicação de questionário; proposta de sequência didática aos professores, durante encontros do Projeto Observatório; e discussão e análise da sequência e elaboração de uma sequência didática pelos professores. Quanto à aplicação de questionário, o objetivo da autora foi elaborar um perfil dos sujeitos que participariam da pesquisa. O questionário envolvia questões que visavam identificar as concepções sobre o conceito de número irracional e sobre o ensino de noções ligadas ao conteúdo. Em seguida, a pesquisadora elaborou a sequência didática discutida com professores durante encontros do Projeto Observatório. Como os encontros promovidos pelo projeto foram quinzenais, foi possível experimentar, avaliar e refletir as possíveis dificuldades encontradas no processo de construção do conceito de número irracional. Naquele momento, pareceu-nos muito forte a preocupação da investigadora em discutir questões relacionadas às possíveis dificuldades dos alunos. 5 Design Experiments diz respeito à metodologia que, na perspectiva de Cobb et al. (2003), ―design inicial é uma conjectura sobre a teoria de sustentação de uma forma particular de aprendizagem que será testada. Porém, durante a condução do estudo do design, conjecturas mais especializadas são tipicamente estruturadas e testadas‖ (p. 8). No estudo realizado por Corbo (2011) a autora procurou observar, registrar e analisar os dados obtidos durante o processo de exploração e desenvolvimento da formação, visando à identificação sobre o encaminhamento das tarefas (prosseguir ou modificar). Assim sendo, sempre que se fez necessário, houve, por parte da pesquisadora, releituras das conjecturas iniciais. 28 Nessa etapa, com apoio da análise das reflexões observadas anteriormente, foi elaborada, pelos professores, uma sequência didática para ser aplicada aos alunos do 9.º ano do Ensino Fundamental. A pesquisadora, em alguns momentos do curso, expôs questões em que se discutiram os números racionais para apresentar a irracionalidade. Em uma questão, Corbo (2010) pediu que os participantes definissem o conjunto dos números racionais e irracionais. Nesse momento, observamos que os professores já apresentavam dificuldades. Em outra questão, a pesquisadora pretendeu estimular a discussão acerca da densidade do conjunto dos racionais. Notamos evidências de que, mesmo entre os professores, havia para alguns deles certa influência das concepções formadas sobre números naturais, como as ideias de sucessor e antecessor, na construção do conceito de número racional. Em nossa observação, verificamos que alguns professores mostraram, por meio dos depoimentos, a ausência de conhecimentos sobre a densidade no conjunto dos racionais. Portanto, acreditamos que tal discussão, mesmo que o foco não fosse a introdução do tema frações, poderia ajudar o docente na compreensão da temática e, provavelmente, na compreensão da proposta contida no currículo. A partir dessas observações, entrevistamos professores participantes do Observatório, aqueles que lecionam para a 5.ª série/6.º ano e 6.ª série/7.º ano. Esforçamo-nos para identificar como esses docentes avaliam o ensino de frações para esse nível de ensino. Nossa hipótese é que as discussões ocorridas no âmbito do Observatório acerca dos números irracionais tenham ajudado esses professores a compreender conceitos relacionados aos demais conjuntos numéricos e, em especial, os números racionais na representação fracionária. Para tanto, entrevistamos os seis professores participantes do Projeto Observatório da Educação que lecionam ou lecionaram para esse nível de ensino desde o ano de 2008, quando se iniciou o processo de implementação do novo 29 currículo. 2.1.4 Nosso Protocolo de pesquisa Para realizar a entrevista utilizamos o seguinte protocolo: 1) Comente quais recordações você tem sobre as aulas que envolviam fração, em especial as que desenvolviam o conceito no Ensino Fundamental e Médio. 2) Comente quais recordações você tem sobre a discussão envolvendo questões ligadas ao ensino e aprendizagem das frações, na sua formação inicial (graduação) e na formação continuada (outros cursos e observatório). 3) Em quais anos você trabalhou com 5.ª série/6.º ano e 6.ª série/7.º ano? 4) Você ensinou esse tema antes de 2008? Comente como você introduzia frações antes da divulgação do novo currículo. 5) Comente como você introduziu fração em suas aulas este ano (se trabalhou 2008, 2009 e 2010). 6) Quais dificuldades aparecem quando se trabalha com fração (do ponto de vista do professor e do aluno)? 7) Você conhece o trabalho que é proposto para desenvolver o conceito de fração apresentado nos Cadernos 6.º e 7.º anos (quinta e sexta séries)? 8) Como você avalia a abordagem do conceito de números racionais na representação fracionária na Educação Básica proposto nos Cadernos do 6.º e 7.º ano? O que é proposto você considera suficiente? Se não é 30 suficiente, o que falta? 9) Faça outras considerações que você julgue necessárias a respeito do trabalho desenvolvido pelo grupo de professores da sua escola, que lecionam para 6.º e 7.º ano, ao longo deste ano. Após a realização da entrevista com os seis professores participantes do Projeto Observatório, fizemos a transcrição. Vale ressaltar que tais professores foram selecionados, pois foram os que declararam ter trabalho com os sextos e sétimos anos do Ensino Fundamental nos últimos quatro anos (desde 2008). Assim sendo, a seguir, apresentamos a caracterização destes docentes. 2.1.5 Caracterização dos sujeitos de pesquisa Professor: A O Professor A leciona há 20 anos e tem 50 anos. Cursou Matemática na Faculdade Santana e concluiu em 1979. Informou que, além de lecionar nas escolas estaduais, trabalha também no Colégio Objetivo há 15 anos. Na Secretaria do Estado da Educação leciona 31 aulas semanais para as turmas do 7.º, 8.º e 9.º anos do Ensino Fundamental e 1.ª e 2.ª séries do Ensino Médio. Professor: B O Professor B tem 37 anos, graduado em Matemática e Ciências, curso concluído em 1998 na Universidade Santana. Tem 12 anos de magistério atuando exclusivamente em Escolas Estaduais. Este ano (2011) tem um total de 30 aulas, e leciona para alunos de 1.ª e 2.ª série do Ensino Médio. Professor: C O Professor C tem 48 anos, e graduou-se em Matemática pela Unesp, tendo concluído em 1991. Há 12 anos atua como professor em Escolas Públicas Estaduais em São Paulo. Leciona para alunos da 1.ª série do Ensino Médio. Este ano tem uma 31 carga de 30 aulas semanais. Professor: D O Professor D tem 29 anos, e concluiu a graduação em Matemática em 2005 na Faculdade de Guarulhos. Atua em Escolas Estaduais há 8 anos, e há 2 anos ministra aulas em instituições particulares. Ele é pós-graduado em Educação Matemática, curso concluído em 2007 pela Universidade de Guarulhos. Este ano (2011) leciona em uma Escola Estadual para alunos de 6.º e 7.º anos do Ensino Fundamental e 1.ª, 2.ª e 3.ª séries do Ensino Médio, totalizando 30 aulas. Professor: E O Professor E é formado em Matemática, curso concluído no ano de 2009 na Universidade Santana. Ele tem 26 anos, leciona há 3 anos em Escolas Estaduais de São Paulo, e este ano tem 30 aulas semanais com alunos dos 7.º e 8.º anos do Ensino Fundamental. Professor: F O Professor F tem 60 anos e é graduou-se em Matemática pela Faculdade Santana em 1977. Trabalha como docente há 33 anos em Escolas Estaduais e há 12 em Escolas Particulares. Neste ano de 2011 leciona para alunos de 7.º ano do Ensino Fundamental e para 2.ª e 3.ª séries do Ensino Médio, com um total de 32 aulas. 32 3 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS Fundamentamos nossa investigação em teorias que versam sobre estudos que investigam a formação de professores e em questões didáticas sobre o objeto matemático: ―representação fracionária do número racional‖. Quanto ao primeiro enfoque, apoiamo-nos em estudos de Schön (1983, 1987), que tratam da reflexão sobre a prática, ampliados pelas discussões de Zeichner (2003), Shulman (1986), Tardif (2000) e Pietropaolo (2002). Quanto ao segundo enfoque, amparamo-nos em estudos que fundamentaram muitas das discussões apresentadas pelas pesquisas que indicamos na revisão bibliográfica. A maioria dos estudos fundamentou-se na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud (1990), pois esta serviu como base para a classificação proposta por Nunes (2003). Ainda, destacamos as ideias de Kieran (1988) sobre os construtos dos números racionais, que entendemos tenha sido o precursor dos estudos que abordam a temática. Vale ressaltar ainda que complementaremos nossa visão da teoria dos Campos Conceituais considerando nossas anotações no curso de Altos Estudos ministrado por Gerard Vergnaud, na Universidade Bandeirante de São Paulo, no ano de 2010. 3.1 QUANTO À FORMAÇÃO DE PROFESSORES Apresentamos neste tópico uma síntese de alguns estudos que discutem o conhecimento do professor docente e a questão da reflexão sobre a prática, os quais nos auxiliaram na análise de inter-relação entre eles. 3.1.1 Schön (1987): Formar professores como profissionais reflexivos Schön (1987) inicia o artigo Formar Professores como profissionais reflexivos afirmando que existem muitos esforços que pretendem a melhoria da qualidade do ensino. Esse interesse mundial pelo aprimoramento e equidade do ensino é um apelo para a alteração do tipo de ensino atual. Em alguns países há a ideia de 33 abandonar salas autocráticas para adotar uma forma mais centrada no aluno e culturalmente mais relevante. Apesar das variações de país para país e de grupo para grupo, certas características são comuns em todo o mundo. Em geral, as mudanças propostas pelos professores têm como base uma nova visão do processo de aprendizagem, gerada após 25 anos de pesquisa educacional. Indica ainda que as mudanças incluam a valorização das experiências existenciais do aluno; respeito aos recursos culturais e linguísticos que o aluno tem, e não encará-los como deficiências; usar o material local e os recursos naturais como base curricular, evitando dependência do material didático; enfatizar a compreensão e não a memorização pelo aluno, e utilizar o conhecimento recémadquirido pelo aluno em seu cotidiano. O autor afirma ainda que, de forma equivocada, muitas das autoridades centrais do governo, responsáveis pelo planejamento do ensino, não conseguem enxergar os professores como agentes principais da reforma educacional; ao contrário, treinam os professores para aplicarem políticas desenvolvidas que não têm nada a ver com a realidade da sala de aula. Assim sendo, segundo Schön, essa prática resulta uma espécie de jogo duplo, no qual, por um lado, as escolas tendem a continuar fazendo as mesmas atividades com o intuito de conservar sua ―liberdade de decisão‖, enquanto, por outro lado, os planejadores educacionais e os órgãos centrais do governo tentam controlar os comportamentos das escolas (SCHÖN, 1987, p. 79). O autor acrescenta que, subjacente ao debate sobre o controle e a tentativa das unidades escolares de conservar sua autonomia, é fundamental a discussão de três questões principais: 1) Quais as competências que os professores deveriam possuir para auxiliar as crianças a se desenvolverem? 2) Que tipos de conhecimento e de saber-fazer permitem aos professores desempenharem o seu trabalho eficazmente? 3) Que tipo de formação será viável para equipar os professores com as capacidades necessárias ao desempenho do seu trabalho? (SCHÖN, 1987, p. 79-80). Schön acrescenta que somente será possível avançar nesse impasse, 34 possibilitando mudanças qualitativas na prática da sala de aula, quando os professores as tomarem para si. Este autor acrescenta ainda que as atuais reformas geram uma crise na educação entre o saber escolar e a reflexão-na-ação dos professores e alunos (SCHÖN, 1987, p. 80). Schön baseia-se nos resultados dos estudos desenvolvidos no Teacher Project, realizados com professores do ensino básico em Massachusetts (EUA), mediante a identificação por parte dos professores investigados da necessidade de ser voz para o aluno, que por sua vez proporcionaram duas visões sobre o conhecimento, a aprendizagem e o ensino (SCHÖN, 1987, p. 80-81): ao saber escolar, que se refere aos fatos e teorias aceitas, e ao conhecimento de ensino. Essa última visão trata-se, segundo Schön, da reflexão-na-ação, e compreende os seguintes aspectos: reconhecer o ―conhecimento tácito‖,6 dos alunos de acordo com as ideias de Polanyi,7 e permitir a articulação do conhecimento-naação (SCHÖN, 1987, p. 82). Segundo Schön, o processo de reflexão-na-ação favorece a criação de um conhecimento prático que representa o reconhecimento dos vários elementos intervenientes na ação pedagógica. Este processo não exige o uso de palavras (SCHÖN, 1987, p. 83). Ainda, segundo o autor, é possível olhar retrospectivamente e refletir sobre a reflexão-na-ação. Após a aula, o professor pode pensar sobre os acontecimentos; trata-se de uma ação, uma observação e uma descrição, que exige o uso de palavras (SCHÖN, 1987, p. 83). Para Schön, na formação de professores, os dois obstáculos para a introdução de um practicum reflexivo são: a epistemologia dominante na 6 Conhecimento tácito: conhecimento espontâneo, intuitivo, revelado no cotidiano escolar. Michael Polanyi (1891-1976). Seus estudos tratam de uma nova teoria do conhecimento baseado na valorização do papel do indivíduo e os valores da sociedade na busca e descoberta da verdade. 7 35 universidade e o currículo profissional normativo (SCHÖN, 1987, p. 91). Portanto, consideramos que utilizar os estudos de Schön como referência nos permitirá fazer um paralelo com as mudanças curriculares propostas pela Secretaria do Estado da Educação de São Paulo. Cabe, em nossa análise, verificar se as propostas de currículo e os encaminhamentos dos docentes estão centrados no saber escolar ou se demonstram, em algum momento, preocupação com o conhecimento, a aprendizagem e o ensino focados na reflexão-na ação. 3.1.2 Shulman (1986): “Those Who Understand: Knowlwdge Growth in Teaching” Quando se discute Conhecimento Profissional Docente, não podemos deixar de estudar o artigo apresentado por Lee S. Shulman ao presidir a sessão anual de 1985 da American Educational Research Association, em Chicago. O autor inicia o texto apresentando uma retomada histórica sobre a maneira como os professores eram analisados e avaliados com testes aplicados no século passado, em níveis estaduais e municipais. Afirma que tal teste pretendia avaliar a competência do professor no assunto e habilidade pedagógica. Shulman lembra ainda que a ideia dos testes, considerada uma inovação, era incentivada por líderes nacionais, como Albert Shanker, Bill Honig e Bill Clinton. Dentre os arquivos que Shulman analisou, os mais fascinantes são algumas cópias de testes que mostram como o conhecimento dos professores foi definido. Tomou por base o exemplo da Califórnia, State Examination Board, aplicado para professores de Ensino Fundamental de março de 1875, cujas categorias dos exames eram determinados conteúdos como: Aritmética escrita; Aritmética mental; Gramática escrita; Gramática oral; Geografia; História dos Estados Unidos; Teoria e Prática do Ensino; Álgebra; Psicologia; Filosofia Natural (Física); Constituição dos Estados Unidos e Califórnia; Lei escolar da Califórnia; Caligrafia; História Natural (Biologia); Composição; Redação; Ortografia; Definindo (palavra Análise e vocabulário); Música vocal; Desenho industrial (SHULMAN, 1986, p. 4). 36 O autor afirma ainda que o número máximo de pontos possíveis para o exame de um dia inteiro era 1.000 das vinte categorias, e que apenas uma se dedicava à prática pedagógica, ou seja, apenas 50 dos 1.000 pontos possíveis eram destinados a essa questão. Em seguida, faz um contraponto com os exames da década de 80. Nele, segundo o autor, não eram avaliados os conteúdos do currículo. Tratavam-se temas como: Organização na preparação e apresentação de planos de ensino; Avaliação; Reconhecimento de diferenças individuais; Consciência cultural; Compreensão da juventude; Gestão e Políticas educacionais e de procedimentos (SHULMAN, 1986, p. 5). Shulman (1986) afirma que atualmente a ênfase das pesquisas sobre ensino recai em como os professores conduzem suas aulas, e a ―falta de questões sobre o conteúdo. De onde vêm as explicações do professor? As investigações sobre o ensino ignoram essas questões‖ (SHULMAN, 1986, p. 7). Assim, Shulman (1986) chama a atenção para a necessidade de resgatar o ―paradigma perdido‖, ou seja, o conteúdo. O autor esclarece: Nosso trabalho não tem a intenção de denegrir a importância da compreensão pedagógica ou habilidades no desenvolvimento de um professor ou aumentar a eficácia da instrução. O mero conhecimento do conteúdo é susceptível de ser tão inútil como o conteúdo pedagógico isento de habilidade. Mas a mistura adequada dos dois aspectos de capacidades de um professor requer que prestemos mais atenção aos aspectos de conteúdo do ensino que temos recentemente dedicado aos elementos do processo de ensino (SHULMAN, 1986, p. 8). Para tanto, propõe a classificação dos conhecimentos necessários ao ensino, o que, segundo este autor, poderia favorecer a compreensão da complexidade do trabalho docente professor: Conhecimento do Conteúdo Específico. Esse se refere à quantidade e organização do conhecimento em si [...] Pensar corretamente sobre o conhecimento do conteúdo requer ir além do conhecimento dos fatos ou conceitos de um domínio. Isso exige a compreensão das estruturas da matéria [...] Os professores devem não apenas ser capazes de definir para os estudantes as verdades aceitas em um domínio. Eles devem também ser 37 capazes de explicar por que uma proposição particular é considerada justificada, porque vale a pena conhecer, e como se relaciona com outras proposições, tanto no âmbito da disciplina ou fora dela, tanto na teoria quanto na prática. Conhecimento Pedagógico de Conteúdo. [...] vai além do conhecimento do objeto em si a dimensão do conhecimento disciplinar para o ensino. Eu ainda falo de conhecimento de conteúdo aqui, mas de forma particular de conhecimento do conteúdo que incorpora os aspectos do conteúdo mais pertinentes à sua ensinabilidade. Conhecimento Curricular. [...] é representado por toda a gama de programas concebidos para o ensino de disciplinas específicas e temas em um determinado nível, a variedade de materiais didáticos disponíveis em relação a esses programas, e o conjunto de características que servem tanto como indicações e contra-indicações para a utilização de materiais curriculares ou programas específicos em circunstâncias especiais (SHULMAN, 1986, p. 9-10). Assim, segundo o autor, o Conhecimento do Conteúdo Específico refere-se aos conhecimentos de um domínio específico da matéria a ser ensinada, a forma e as questões ligadas aos processos de ensino e aprendizagem são analisadas quando reconhecemos o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo e, por fim, no Conhecimento curricular, este, de acordo com Shulman (1986), ―é a base da capacidade do professor para relacionar o conteúdo de um determinado curso ou aula com temas ou questões que estão sendo discutidos simultaneamente em outras classes‖ (SHULMAN, 1986, p. 14). Analisando os estudos de Shulman (1986), observamos que o autor chama a atenção para o fato de que a profissão docente pressupõe um rol de conhecimentos e habilidades que constituirá conhecimento profissional à medida que for efetivamente utilizado na prática. Assim, consideramos que analisar o Conhecimento Profissional Docente em nosso estudo pressupõe examinar as três vertentes propostas pelo autor. 3.1.3 Tardif (2000): “Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no magistério” A relevância do exercício da docência na construção da base de conhecimentos para ensinar é enfatizada também por Tardif (2000), que se apoia em resultados de observações e consultas a professores, para concluir que esses conhecimentos 38 [...] não se limitam a conteúdos bem circunscritos que dependeriam de um conhecimento especializado. Eles abrangem uma grande diversidade de objetos, de questões, de problemas que estão todos relacionados com seu trabalho [...] para os professores de profissão, a experiência de trabalho parece ser a fonte privilegiada de seu saber-ensinar (TARDIF, 2000, p. 213). Tardif, inicialmente com base nos estudos de Marx, afirma que a práxis social é um trabalho que desencadeia uma transformação no trabalhador; trabalhar não é só transformar uma coisa em outra, é transformar-se em e pelo trabalho. Trabalhar não é somente fazer alguma coisa, mas tornar-se alguma coisa. Assim, mostra sua preocupação com a relação intrínseca existente entre saberes, tempo e a experiência docente. Citando Schwartz (1997), Tardif (2000) assevera que, se uma pessoa leciona durante 30 anos, ela tornou-se um professor por sua cultura, éthos, ideias, funções, interesses etc. Considera que, se por um lado o trabalho modifica as coisas e o próprio trabalhador, muda também a forma com que ele sabe trabalhar (TARDIF, 2000, p. 210). Considera ainda que o tempo é um fator relevante para entender os saberes dos trabalhadores. No caso do magistério, a aprendizagem do trabalho é longa, começa na infância enquanto o professor é aluno (TARDIF, 2000, p. 210). Considera ainda que os saberes relacionados ao trabalho são construídos e dominados de forma progressiva, variando de acordo com o ramo de ocupação. Isso acontece porque algumas situações exigem conhecimentos que são adquiridos apenas com elas mesmas. Assim sendo, ele apresenta o quadro (ver QUADRO 1 abaixo) que propõe um modelo tipológico para a identificação e classificação dos saberes dos professores. QUADRO 1: Saberes Docente SABERES DOS PROFESSORES Saberes pessoais dos FONTES SOCIAIS DE AQUISIÇÃO Família, ambiente de MÓDULO DE INTEGRAÇÃO NO TRABALHO DOCENTE Pela história de vida e 39 professores Saberes provenientes da formação escolar anterior Saberes provenientes da formação profissional para o magistério Saberes provenientes dos programas e livros didáticos usados no trabalho Saberes provenientes de sua própria experiência na profissão, na sala de aula e na escola vida, a educação no sentido lato etc. A escola primária e secundária, os estudos pós-secundários não especializados etc. Os estabelecimentos de formação de professores, os estágios, os cursos de reciclagem etc. Na utilização das ―ferramentas‖ dos professores: programas, livros didáticos, cadernos de exercícios, fichas etc. A prática do ofício na escola e na sala de aula, a experiência dos pares etc. pela socialização primária Pela formação e pela socialização préprofissionais Pela formação e pela socialização profissionais nas instituições de formação de professores Pela utilização das ―ferramentas‖ de trabalho, sua adaptação às tarefas Pela prática e pela socialização profissional Fonte: Educação & Sociedade, ano XXI. n. 73, dez. 2000, p. 215 Tardif (2000) afirma que o conhecimento dos professores acerca do ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar, vem da sua própria história de vida, e sua carreira como aluno. Eles estão em contato com o mundo de sua profissão aproximadamente 16 anos antes de iniciar sua carreira profissional. Assim, as crenças, concepções e maneiras que os professores adquirem nos primórdios de sua educação são as mesmas de que eles se valem para começarem a ensinar anos depois. Os seus saberes são temporais, se aprimoram durante toda a sua carreira, e, por ser um processo de socialização, incorpora indivíduos às práticas e rotinas das equipes de trabalho (TARDIF, 2000, p. 217). Segundo o autor, é durante sua vida que o professor interioriza conhecimentos de competências, de crenças e de valores que os ajudam a formar sua personalidade profissional. As pesquisas de Raymond, Lessard e Tardif identificam vários fenômenos que comprovam essa tese, por exemplo: a vida familiar e as pessoas importantes que fizeram parte da vida do professor, além da formação escolar, são fontes essenciais para modelar a postura e orientação profissional do futuro professor. 40 No que se refere à nossa pesquisa, julgamos que verificar as concepções dos professores por meio da análise da representação destes profissionais sobre as fontes de aquisição do seu saber-ensinar se revela uma boa estratégia. 3.1.4 Ponte (1992, 1994): Concepções dos professores de Matemática Existe um substracto conceptual que joga um papel determinante no pensamento e na acção. Este substracto é de uma natureza diferente dos conceitos específicos – não diz respeito a objectos ou acções bem determinadas, mas antes constitui uma forma de os organizar, de ver o mundo, de pensar. Não se reduz aos aspectos mais imediatamente observáveis do comportamento e não se revela com facilidade – nem aos outros nem a nós mesmos (PONTE, 1992, p. 187). Tal ―substrato conceitual‖ o autor define como Concepções, e complementa ainda que estas ―têm uma natureza essencialmente cognitiva‖. Ponte (1992, p. 187) argumenta ainda que as concepções atuam como uma espécie de filtro, que, por um lado, se apresentam como imprescindíveis, de outro, como elementos bloqueadores, isto é, indispensáveis na medida em que ―estruturam o sentido que damos às coisas‖, e limitantes quando reduzem as possibilidades de atuação e compreensão (PONTE, 1992, p. 187). Esse mesmo autor retoma tal conceito apresentando, em 1994, a distinção entre crenças e concepções que pode ser útil na interpretação neste caso. Para o autor, fundamentado em Pajares (1992), as Crenças são ―verdades‖ pessoais incontestáveis, decorrentes da experiência ou da fantasia, tendo um forte componente afetivo e avaliativo; já as Concepções são essencialmente de natureza cognitiva e, portanto, mais elaboradas. Assim sendo, analisando tais estudos, consideramos que o sentido dado ao termo ―concepções‖ mescla estes dois conceitos. Para nós, as concepções serão interpretadas como os conjuntos de crenças e posicionamentos dos formadores de professores relatados durante uma sessão de entrevista, em que estes autores emitiram suas opiniões sobre diferentes questões levantadas pelo pesquisador, como a descrição da sua prática em relação ao tratamento dado aos números racionais em suas aulas, seu posicionamento a respeito das necessidades 41 formativas dos alunos do Ensino Fundamental sobre os racionais, sua interpretação sobre a qualidade da formação dos seus alunos. 3.2 SOBRE A RELAÇÃO FORMAÇÃO DE PROFESSORES E OS PROCESSOS DE INOVAÇÕES CURRICULARES 3.2.1 Pietropaolo (2002): “Parâmetros Curriculares de Matemática para o Ensino Fundamental” Segundo estudos realizados por Pietropaolo (2002), embora haja necessidade de relacionar temáticas como a formação profissional docente e o currículo, tal discussão nem sempre ocorre como deveria: Embora esses dois temas mantenham estreitas relações entre si, nem sempre eles têm sido discutidos de forma articulada, o que, em certo sentido, ajuda a explicar a dificuldade de implementação de propostas curriculares quando não se leva em conta que tipo de formação, que tipo de experiência têm os professores que vão colocá-las em prática (PIETROPAOLO, 2002, p. 34). Pietropaolo (2002) chama a atenção também para a forte relação entre os processos de formação profissional e as demandas profissionais que orientações curriculares solicitam. Segundo o autor, ―a falta de clareza do tipo de profissional que se deseja formar para atender às novas demandas pode explicar as dificuldades encontradas para desenvolver projetos mais consistentes de formação de professores‖ (PIETROAPAOLO, 2002, p. 34). Portanto, consideramos que analisar o conhecimento profissional docente de professores que participam de um cenário de inovação curricular e de um processo de formação continuada consistente pode nos ajudar a compreender a relação entre tais movimentos e a formação em serviço deste profissional. 3.3 QUANTO AO OBJETO MATEMÁTICO: REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA NÚMEROS RACIONAIS NA 42 3.3.1 Caraça (1951): “Conceitos Fundamentais da Matemática” Em seu trabalho, Caraça (1951) apresenta o aspecto da contagem como presente no cotidiano das pessoas, afirmando ser praticamente impossível viver em sociedade sem aplicação elementar das operações de contagem. Os estudos feitos com povos existentes na África e Austrália, acerca dos números, levam o autor a concluir que os números naturais foram formados ao longo do tempo pela prática diária da contagem, e que o conhecimento dos números está ligado à vida econômica. Quanto maior a relação de atividade comercial entre os indivíduos, maior o conhecimento de números (CARAÇA, 1951). A partir do momento em que o regime de propriedade foi se estabelecendo nas civilizações, novos problemas começaram a aparecer, como calcular comprimento, calcular área, surgindo daí a necessidade de ampliar o conhecimento sobre números. Caraça (1951) apresenta os números racionais como uma forma de responder à necessidade do homem concernente às operações de medidas. A medida é a comparação entre duas grandezas de mesma espécie, por exemplo, dois comprimentos, dois volumes etc. No entanto, essa comparação de grandezas nem sempre é solucionada apenas com conhecimento dos números naturais. Segundo o mesmo autor, para a comparação de grandezas é necessário estabelecer padrões com a escolha de uma unidade, por exemplo, centímetro para comprimento, segundos para tempo e gramas para massa, comparar essas unidades e responder com números o resultado dessa comparação. Expressar uma grandeza relativa a outra por meio do quociente de dois valores, obtendo-se um resultado imediato, é uma forma prática de medir, mas nem sempre essa divisão é ―exata‖ e representada por um número natural. A maneira de buscar uma resposta significativa para o problema é o conhecimento de um novo conjunto numérico de representações, que pode expressar a solução da comparação citada. Esse novo conjunto é formado pelos números inteiros e 43 números fracionários como números novos, e são apresentadas nesse trabalho as vantagens desse conhecimento: 1.ª) É possível exprimir sempre a medida dum segmento tomando outro como unidade; se, por exemplo, dividida a unidade em 5 partes iguais, 2 cabem 2 partes na grandeza a medir, diz-se que a medida é o número /5 . 2.ª) A divisão de números inteiros m e n pode agora sempre exprimir simbolicamente pelo número racional m/n (CARAÇA, 1951, p. 36-37). Com base nas considerações do trabalho feito por Caraça (1951) sobre as representações e a necessidade de conhecimento do conjunto dos números racionais, esta pesquisa procura dar atenção especial à representação desses conceitos para os alunos do Ensino Fundamental (6.º ano) na implementação do novo currículo do Estado de São Paulo. 3.3.2 Vergnaud (1991, 2010): Sobre a Teoria dos Campos Conceituais Segundo Vergnaud (1991, 2010), ao longo da sua existência, o ser humano necessita adaptar-se a um conjunto de diferentes situações. Afirma ainda que um conceito não se desenvolve sozinho, mas em conjunto com outros conceitos com os quais forma um sistema. Portanto, de acordo com o autor, as crianças encontram situações diversas e elas precisam de vários conceitos para processar essas situações. Por fim, considera que a construção do conhecimento está diretamente ligada a um conjunto de situações e conceitos, o que Vergnaud chama de Campos Conceituais. Portanto, Vergnaud analisa as situações que dão significado ao conceito de como se constrói o saber, e destaca em seu estudo dois campos conceituais, ou seja: 1) As estruturas aditivas, que se formam por meio de um conjunto de situações que necessitam do domínio das operações com adições e subtrações. 2) As estruturas multiplicativas, que se formam com um conjunto de situações que necessitam o domínio do conhecimento das operações de multiplicação e divisão (GARCIA SILVA, 2007, p. 76). Para Vergnaud, um conceito é definido a partir de um conjunto composto por três elementos (S, R, I): 44 S – É um conjunto de situações que tornam o conceito significativo, ou seja, que dão sentido ao conceito. I – É o conjunto de invariantes (objetos, propriedades e relações) que podem ser usadas para analisar e equacionar e resolver situações. R – É o conjunto de representações simbólicas que podem ser usadas pelo sujeito, para indicar os invariantes, os procedimentos, as situações (VERGNAUD apud MAGINA et al., 2008, p. 7). O autor leva em conta as situações referentes ao conceito e os invariantes operatórios – como o significado do conceito –, entendendo que as representações simbólicas são o significante do conceito (VERGNAUD, 2010). A teoria dos campos conceituais considera que existe uma série de elementos que influenciam na construção dos conceitos e que o conhecimento de conceito surge de situações. Para Vergnaud (1993), o termo ―situação‖ tem o sentido de tarefa a ser executada pelo aluno, de tal forma que [...] os conceitos de situações não têm o sentido de uma situação de didática, mas o de tarefa. A ideia é que toda situação complexa pode ser analisada com uma combinação de tarefas, cuja natureza e dificuldades específicas devem ser bem conhecidas (VERGNAUD, 1993, p. 9). Franchi (1999) esclarece que [...] a tese subjacente dos campos conceituais de Vergnaud é fundamentada na realização de um bom evento didático (mise-en-scène didactique), apoiase necessariamente sobre o conhecimento da dificuldade das tarefas cognitivas dos obstáculos habitualmente encontrados do repertório de procedimentos disponíveis e das representações possíveis (FRANCHI, 1999, p. 162). Em referência a Vergnaud e o conjunto dos números racionais, Garcia Silva (2007) considera [...] ser necessário representar situações contextualizadas para dar sentido ao conceito de números racional na sua representação. Há que se levar em conta o importante papel do professor como mediador entre o conhecimento e o aluno, havendo, em virtude disso, necessidade de auxiliá–lo na identificação das dificuldades próprias dos obstáculos que podem se apresentar durante a construção de um conhecimento, dos procedimentos viáveis e das possíveis formas de representação. E para isso há necessidade de fornecer a ele os caminhos para conhecer a dificuldade relativa das tarefas cognitivas e dos obstáculos que se apresenta o 45 repertório de procedimentos existentes e as formas de representações possíveis (GARCIA SILVA, 2007, p. 77). Com isso, o aluno pode dar significado ao conhecimento matemático do tema que se propõe, buscando esquemas anteriormente construídos. Quanto à relação da representação fracionária dos números racionais e à teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, Garcia Silva (2007) indica ainda os estudos de Nunes (2003) referenciados em Vergnaud (1983): Nunes (2003) propõe que se defina frações a partir da terna (S.I.R), em que se destacam o conjunto dos invariantes que definem o conceito, o conjunto de representações utilizados para dar diferentes forma à fração e o conjunto de situações (GARCIA SILVA, 2007, p. 81). Chama a atenção para o fato de que Nunes (2003), com base na teoria dos campos conceituais e pesquisas feitas, considera dois invariantes: ordem e equivalência; e quatro situações que buscam dar significados à fração e as representações: 1) Fração com uma relação parte-todo – a ideia presente nesse significado é a da partição de um todo em n partes iguais, em que cada parte pode ser 1 representada como /n . 2) A fração como quociente, indicando uma divisão e seu resultado – este significado está presente em situações que envolvem a ideia de divisão. 3) A fração como medida – algumas medidas envolvem fração por se referirem a quantidades intensivas, nas quais a quantidade é medida pela relação entre duas variáveis. 4) A fração como operador multiplicativo – como o número inteiro, as frações podem ser vistas como valor escalar aplicado a uma quantidade (VERGNAUD apud GARCIA SILVA, 2007, p. 82-84). Com o estudo feito e descrito no trabalho, consideramos que a terna (S, I, R), pode ser observada em documentos curriculares oficiais como os PCN, o qual será analisado no Capítulo 5. Nestas orientações, chama-se a atenção do professor para o fato de que o conjunto dos invariantes que definem o conceito são a ordem e equivalência; o conjunto de representações; a decimal e fracionária e o conjunto de situações: parte-todo, quociente, razão e número racional como operador (BRASIL, 1998). Para Vergnaud (1998, p. 180), a tarefa do professor é ajudar o aluno a 46 resolver seu repertório de esquemas e representações. Ao que tudo indica, a teoria de Vergnaud tem grande influência sobre os PCN, uma vez que estes sugerem que o conceito dos números racionais seja formado a partir da uma variedade de situações e representações. 47 4 REVISÃO DA LITERATURA Neste capítulo, apresentamos algumas pesquisas que tratam da temática escolhida para nosso estudo: frações. Inicialmente, destacaremos algumas pesquisas, em especial as brasileiras, que versam sobre o ensino e a aprendizagem dos números racionais na representação fracionária com foco no processo de formação de professores, na prática de sala de aula. Em seguida, apresentaremos estudos que discutem a relação entre o ensino e a aprendizagem da representação fracionária dos números racionais com foco no aluno. 4.1 ESTUDOS RELACIONADOS AO ENSINO E À APRENDIZAGEM DA REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA DOS NÚMEROS RACIONAIS COM FOCO NO PROFESSOR Os trabalhos utilizados neste estudo relacionados à formação de professores tiveram como base Silva (1997): ―Sobre a introdução do conceito de números fracionário‖; Santos (2005): ―O conceito de fração em seus diferentes significados: um estudo diagnóstico junto a professores que atuam no ensino fundamental‖; Silva (2005): ―Investigando saberes de professores do ensino fundamental com enfoque em números fracionários para a 5.ª série‖; Canova (2006): ―Crença, concepção e competência dos professores do 1.º e 2.º ciclos do ensino fundamental com relação à fração‖; Garcia Silva (2007): ―O desafio do desenvolvimento profissional docente: análise da formação continuada de um grupo de professores das séries iniciais do ensino fundamental, tendo como objeto de discussão do processo de ensino e aprendizagem das frações‖; Damico (2007): ―Uma investigação sobre a formação inicial de professores de matemática para o ensino de números racionais no ensino fundamental‖. A seguir, são descritos os trabalhos citados em ordem cronológica. 4.1.1 Silva (1997): “Sobre a introdução do conceito de números fracionários” Silva (1997) investigou um grupo de futuros professores das primeiras séries 48 do ensino fundamental sobre a capacidade de compreensão das diferenças entre parte-todo, quociente e medida. Outra preocupação da pesquisadora estava relacionada à capacidade que os alunos tinham de refletir sobre as diferentes abordagens que dessem sentido ao conceito. Inicialmente, os sujeitos da pesquisa foram submetidos a um pré-teste a respeito do seu conhecimento sobre números fracionários. Partindo da observação de que nos livros didáticos há ênfase no modelo parte-todo, baseada nos resultados do pré-teste, a autora chegou à conclusão de que existe uma tendência ao uso de algoritmos, isolada de reflexão sobre os resultados (SILVA, 1997). Silva (1997) procurou introduzir o estudo das frações por intermédio de situações que remetessem aos significados selecionados, e em seguida elaborou uma sequência de quatro atividades utilizando a Teoria da Engenharia Didática, as quais foram complementadas por um pós-teste, quando a autora pôde constatar que o conhecimento anterior dos sujeitos tinha raízes tão profundas que, mesmo aplicando as referidas atividades, esse conhecimento persistia como forte tendência. Na investigação efetuada por Silva (1997) há também indicação da dificuldade em perceber que existem várias formas de se dividir um número inteiro em simultaneidade à dificuldade para entender o conceito de medição. Este conceito pode ser um dado importante a ser verificado na nossa pesquisa, posto que as frações é assunto discutido no material que orienta os professores da rede estadual de ensino paulista utilizando a ideia de medida. A autora observou ainda a predisposição das futuras professoras ao uso de decimais nas respostas dos quocientes que poderá vir a impedir ―a percepção da representação desse quociente também através de fração‖ (SILVA, 1997, p. 206). Esta autora propõe, finalmente, ―que o estudo ideal para introdução do conceito de fração deveria ser iniciado pelas concepções: quociente, parte-todo e medida, nesta ordem‖ (SILVA, 1997, p. 209). A autora justifica que a inversão buscou romper paradigmas observados nas concepções das professoras pesquisadas. 49 4.1.2 Santos (2005): “O conceito de fração em seus diferentes significados: um estudo diagnóstico junto a professores que atuam no ensino fundamental” O trabalho de Santos (2005) se propõe a responder à seguinte questão de pesquisa: ―É possível reconhecer as concepções dos professores que atuam nos 1.º e 2.º ciclos (polivalentes) e no 3.º ciclo (especialistas) do Ensino Fundamental, no que diz respeito ao conceito de fração?‖ (SANTOS, 2005, p. 24). Essa pesquisa fundamentou-se, assim como nosso estudo, na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud e nas ideias de Nunes e Kieran em relação aos diferentes significados da fração. O instrumento de pesquisa elaborado por Santos foi aplicado em duas fases. Em uma primeira sessão, foi solicitada aos sujeitos a elaboração de seis problemas envolvendo frações com a possibilidade de serem usados em sala de aula, e, em uma segunda sessão, dias depois, esses problemas foram apresentados aos professores que os propuseram e lhes foi solicitado que resolvessem, deixando indicados os procedimentos adotados nessa resolução. A análise dos significados de fração envolvidos nos problemas propostos, bem como das estratégias de solução adotadas, conduziu às conclusões que apresentaremos a seguir, de forma resumida. Quanto à elaboração dos problemas, Santos (2005) observou uma predominância em criar problemas de significado operador multiplicativo, sugerindo, segundo o pesquisador, a existência de uma diferença entre as concepções dos professores das séries iniciais e a recomendação dos PCN, que não indica o uso de significado para o início do trabalho com fração. O pesquisador também mostrou que o significado parte-todo, embora seja o segundo mais frequente nos problemas criados, teve um percentual muito pequeno, se comparado ao significado operador multiplicativo. O significado quociente teve uma porcentagem ainda menor que o parte-todo, e o significado número e medida praticamente não foi usado. 50 O estudo revelou também que nos problemas envolvendo parte-todo predominaram as quantidades contínuas, enquanto nos problemas de operador, as quantidades são discretas. Quanto ao significado quociente, Santos (2005) afirma: [...] embora existam estudos relevantes como, por exemplo, Kieran e Nunes, sugerindo que o significado quociente seria uma boa abordagem para o início do ensino das frações, este significado foi pouco explorado na elaboração dos problemas dos três grupos (SANTOS, 2005, p. 190). No tocante à resolução dos problemas, ainda analisando o significado quociente, o pesquisador destaca que, embora os sujeitos reconheçam que a divisão é uma boa ferramenta para resolvê-los, parecem não aceitar a representação fracionária como resposta a essa operação, apresentando a solução geralmente por um número decimal obtido a partir do algoritmo da divisão. Santos (2005) observa ainda que, no caso da resolução dos problemas envolvendo parte-todo, predominaram as resoluções gráficas que conduziam a obtenção do resultado por dupla contagem. No significado operador, os procedimentos centrados em algoritmos apareceram em número muito maior que os demais. Ainda, segundo o pesquisador É razoável concluir que a concepção dos professores polivalentes e especialistas está bem próxima, em relação à elaboração de problemas envolvendo o conceito de fração em seus diferentes significados. Podemos até, de certo modo, inferir que esta concepção é limitada e preocupante, do ponto de vista do nosso estudo, visto que estamos defendendo, assim como Vergnaud e Nunes, que o conhecimento conceitual deve emergir dentro de uma variedade de situações (SANTOS, 2005, p. 186). Essa constatação, associada à conclusão de que há fortes indícios do predomínio de atividades procedimentais na sala de aula, permite concluir que a concepção dos professores, tanto polivalentes quanto especialistas, carrega fortes marcas daquela construída enquanto aluno da formação básica. ―Concepção essa tão profunda que é provável que permaneçam engessadas em suas mentes‖ (SANTOS, 2005, p. 189). Este autor encerra afirmando que se faz necessário um trabalho consistente de formação de professores, tanto os especialistas como os das séries iniciais (polivalentes), a partir de novos enfoques didáticos e pedagógicos sobre o ensino e 51 a aprendizagem do conceito de fração, visando minimizar, a médio e longo prazo, as dificuldades encontradas por alunos e professores na aplicação deste conceito (SANTOS, 2005, p. 190). 4.1.3 Silva (2005): “Investigando saberes de professores do ensino fundamental com enfoque em números fracionários para a quinta série” Trata-se de uma tese cujo objetivo foi analisar as concepções de um grupo de professores de Matemática sobre números fracionários e aprendizagem de alunos de 5.ª série, a autonomia e dificuldades em possíveis mudanças dessas concepções em uma formação continuada. O estudo propõe responder as seguintes questões de pesquisa: ▪ Que Organização Didática os professores constroem para o ensino de números fracionários para a quinta série do Ensino Fundamental durante a formação? ▪ É possível encaminhar professores de matemática a reflexões que possibilitem mudanças nas concepções que têm de seus alunos, proporcionando-lhes um novo lugar na instituição escolar? ▪ É possível em uma formação continuada promover ações que permitam aos professores alguma mudança em sua prática de ensino de números fracionários para uma quinta série? (SILVA, 2005, p. 34-42). A metodologia adotada foi a pesquisa-ação em uma investigação colaborativa, pois, segundo Silva (2005), permitiria a interação entre pesquisador e professores em formação e a observação em ação. Este estudo baseou-se na Teoria Antropológica do Didático de Chevallard (1999) para modelar como Organização Matemática e Organização Didática tipos de tarefas que associam as concepções de números fracionários: parte-todo, medida, quociente, razão e operador, além das possíveis técnicas para resolução dessas tarefas e o discurso tecnológico-teórico que as justificam. Esta teoria permitiu aos professores acesso a pesquisas relacionadas aos ―números fracionários pertinentes à quinta série baseados nas concepções de fracionários tratadas por Behr e outros (1983)‖ (SILVA, 2005, p. 19). 52 A autora justifica a pesquisa por existir ―escassez de pesquisas sobre números fracionários com professores dos ciclos finais do Ensino Fundamental que permitam o acesso de professores a resultados de pesquisa‖ (SILVA, 2005, p. 8). Ela chama a atenção para que, mais do que analisar diagnósticos de possíveis obstáculos relacionados ao processo ensino e aprendizagem dos alunos, a necessidade de verificar quais as condições e que tipos de ação formativa possibilitariam mudanças nas práticas docentes desses professores. Este estudo apresentou alguns resultados que poderão ser considerados em nossa análise final. Esta autora sustenta que, de modo geral, os professores constroem para a quinta série Organizações Matemáticas para números fracionários muito rígidas com tipos de tarefas que associam, sobretudo, a concepção parte-todo em contextos de superfícies, mobilizando a técnica da dupla contagem das partes e, com menos incidência, a concepção de razão mobilizando a mesma técnica (SILVA, 2005, p. 239). Entretanto, Silva (2005) afirma que há indícios de mudanças concernentes às emoções e sentimentos dos professores em relação aos fracionários que proporcionaram algumas modificações em suas concepções desse conteúdo e práticas de ensino. Outra mudança apontada relaciona-se à maneira de o docente observar o aluno, bem como o discurso do professor quando fazia essa análise da aprendizagem das crianças em ação. Segundo a autora, a formação explicitou a necessidade de os professores desenvolverem autonomia e reflexão a respeito do conteúdo e de suas práticas docentes. A autora constatou que a formação inicial destes professores (especialistas) ―não os preparou nem para ensinar conteúdos matemáticos básicos, nem para desenvolverem autonomia suficiente para aprofundar esses conhecimentos ou se apropriar de resultados de pesquisa, que lhes poderiam auxiliar a melhor ensinar‖ (p. 244). Além dessa delicada observação, esse estudo verificou relações entre as concepções de professores e o envolvimento destes profissionais com a reflexão: [...] as concepções que os professores tinham no início da formação a respeito de fracionários funcionaram na realidade como um bloqueio a novas realidades, não permitindo diferentes possibilidades de atuação e 53 compreensão. Um tema considerado de pleno domínio pelos professores, quando colocado para a reflexão mais profunda deixa-os embaraçados, tanto do ponto de vista emocional como em relação ao discurso que fazem sobre o não saber de seus alunos (SILVA, 2005, p. 244). No nosso estudo pretendemos analisar as concepções de professores, procurando pistas como o fez Silva (1997) em um curso de formação continuada. Nossa análise procurará compreender o Conhecimento Profissional Docente de professores que participam do Projeto Observatório da Educação. O diferencial entre a pesquisa de Silva (2007) e a nossa é que a formação vivenciada pelo professores está sendo conduzida há três anos de forma sistemática. Vale ressaltar que os temas Números Racionais e o Currículo ainda não foram discutidos com o grupo. Entretanto, para tratar a introdução dos Números Irracionais os docentes foram encorajados a revisitar questões relacionadas aos números racionais. Assim, nossa entrevista procurará buscar pistas sobre a relação entre a formação e os saberes docentes concernentes à fração. 4.1.4 Canova (2006): “Crença, concepção e competência dos professores do 1.º e 2.º ciclos do ensino fundamental com relação à fração” Esta pesquisa teve por objetivo identificar e analisar as crenças, concepções e competências dos professores que atuavam no 1.º e 2.º ciclos no Ensino Fundamental no que diz respeito ao conceito de fração. Para tanto, o estudo se propôs a responder a seguinte questão de pesquisa: ―Qual é o entendimento que os professores dos 1.º e 2.º ciclos do Ensino Fundamental apresentam em relação ao conceito de fração?‖ (CANOVA, 2006, p. 25). Essa pesquisa fundamentou-se também na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud (1990, 2001) e na classificação teórica proposta por Nunes et al, (2003) assim como e contribuições de Ponte (1992, 1995) relacionados a crenças e concepções. Para desenvolver a pesquisa, Canova (2006) elaborou um instrumento investigativo utilizando a classificação teórica proposta por Nunes et al. (2003) e considerou as variáveis de quantidade (contínua e discreta) e representação (icônica 54 ou não), além dos invariantes do conceito (ordem e equivalência). Este instrumento é composto por 29 questões subdividas em quatro partes: (1) perfil; (2) crenças; (3) concepções e (4) competências. Esse instrumento foi aplicado a 51 professores do 1.º e 2.º ciclos do Ensino Fundamental, distribuídos em três escolas da Rede Municipal da cidade de Osasco. Em outro momento, realizaram-se entrevistas clínicas em 10% da amostra. A análise dos dados também foi dividida nas mesmas quatro partes que compuseram o instrumento. Com esse instrumento, Canova (2006) detectou dificuldades relacionadas ao entendimento do tema por parte dos professores investigados. Como exemplo, quando a autora questiona se o professor relacionava o conceito de fração a alguma operação e pergunta qual, a maioria (35%) faz a analogia entre a divisão e a fração. Os resultados mostraram ainda que para a amostra pesquisada ―os professores reconhecem a fração como sendo um conceito complexo, mas acreditam que se trabalhando desde as primeiras séries do 1.º ciclo pode-se proporcionar uma melhor compreensão para os alunos‖ (CANOVA, 2006, p. 205). A crença de ensino destes professores ―é restrita à percepção, ou seja, acreditam que trabalhar apenas com a percepção proporcionará a seus alunos o entendimento de fração‖. No entanto, observou-se que essas crenças dos professores não eram influenciadas pela sua prática docente, o que não era verdade para as concepções mais restritas entre os professores do 1.º ciclo (significado parte-todo em quantidade contínua não icônica) do que para os professores do 2.º ciclo (exploraram mais variáveis, sendo estas bem próximas das encontradas nos livros didáticos). Quanto à competência, foi constatado que não houve um desempenho equitativo entre os cinco significados da fração e os invariantes. Essas evidências levaram Canova (2006) a concluir que há a necessidade de ampliar o campo conceitual desses professores relativamente ao objeto: fração. 55 4.1.5 Garcia Silva (2007): “O desafio do desenvolvimento profissional docente: análise da formação continuada de um grupo de professores das séries iniciais do ensino fundamental, tendo como objeto de discussão o processo de ensino e aprendizagem das frações” O trabalho analisa o desenvolvimento profissional dos professores das primeiras séries do Ensino Fundamental, como resultado de uma formação continuada que discute a abordagem nas representações fracionárias e números racionais nos diferentes significados. A coleta de dados foi realizada em 16 sessões de 4 horas cada, e em três sessões foi aplicada uma avaliação diagnóstica; nove sessões dedicadas ao estudo dos significados das frações e a vivência das diversas metodologias, sendo uma dessas sessões elaborada pelo professor e desenvolvida pelos alunos em sala de aula. Três sessões foram destinadas a entrevistas, e duas delas feitas logo após a intervenção dos professores em suas salas de aulas, e a última entrevista um ano depois. A última entrevista teve como objetivo verificar a reflexão do profissional docente após a pesquisa. A fundamentação teórica se apoiou em estudos de Schön (1983), que tratam da reflexão da prática, sendo ampliada pelas discussões de Shulman (1986), Tardif (2000), Ponte (1992) e Serrazina (1999). Para as questões didáticas que tratam o objeto matemático a autora utilizou a teoria dos campos conceituais de Vergnaud (1990); a classificação dos significados das frações proposta por Nunes (2003); as ideias sobre construtos dos números racionais de Kieran (1988); e as interpretações sugeridas por Ohlsson (1987). As análises das informações identificaram que alguns fatores influenciam no desenvolvimento do docente, tais como as dificuldades relativas ao conhecimento matemático, acreditando ser necessário um enfoque mais amplo no estudo dos significados e representações fracionárias, tanto em curso de formação inicial quanto na formação continuada. A autora concluiu enfatizando a importância da constante reflexão sobre a 56 prática do profissional docente no tratamento do ensino e aprendizagem da Matemática, em especial sobre o objeto matemático: frações, sobretudo em um ambiente que possibilite um trabalho colaborativo. 4.1.6 Damico (2007): “Uma investigação sobre a formação inicial de professores de matemática para o ensino de números racionais no ensino fundamental” Esta investigação voltou-se para a formação de professores de matemática, no que tange ao nível de conhecimento matemático e a didática da matemática para o ensino de números racionais (frações) no ensino fundamental. O autor fundamentou-se nas afirmações de Behr, Harel, Post e Lesh (1992) sobre a constatação de que há um consenso entre os pesquisadores e educadores matemáticos e que os alunos encontram muita dificuldade na compreensão de conceitos sobre números racionais. Essa concordância também aparece em estudos recentes feitos por Freudenthal (1983); Ohlsson (1987, 1988); Bigelow, Davis e Hunting (1989); e Kieran (1989) sobre a construção da ideia de números racionais pelos alunos. O estudo parte do pressuposto de que os cursos de licenciatura em matemática não trabalham de forma abrangente os conteúdos relacionados aos diferentes construtos que compõem o conceito de números racionais e às dificuldades em relação ao ensino e aprendizagem, e a compreensão de sua estrutura como sistema, como conjunto de entes, relações e operações na educação básica. Com base na hipótese citada, o autor sintetiza o problema de pesquisa na investigação das concepções e dificuldades dos alunos de licenciatura em matemática sobre os diferentes construtos que compõem o conceito de números racionais; como compreendem as operações elementares com estes números; seu conhecimento sobre o ensino e aprendizagem deste conteúdo; concepções sobre o ensino dos racionais e a maneira como é pensada no processo de formação dos professores. Em síntese, trata do modo como estão sendo preparados os futuros 57 professores para ensinarem o objeto matemático números racionais (DAMICO, 2007). Assim sendo, o objetivo desse trabalho foi identificar, descrever e categorizar a formação de professores de duas universidades da região do ABC 8 em São Paulo, no que tange ao ensino e aprendizagem dos números racionais. O autor centra sua atenção em duas componentes, a saber: a que relaciona o conhecimento profissional do professor, em conformidade com Shulman (1986) e o conhecimento da matéria e conhecimento pedagógico do conteúdo. Para realizar o estudo foram entrevistados 20 professores de cada instituição e pesquisados 346 alunos. Desses, 189 eram iniciantes, sendo 113 alunos de uma instituição e 76 de outra; 157 eram concluintes, sendo 75 alunos do 4.º ano de uma instituição e 82 alunos do 6.º semestre de outra (DAMICO, 2007). A coleta de dados foi feita por meio da aplicação de cinco instrumentos: no primeiro instrumento, foi solicitado aos alunos concluintes que elaborassem oito problemas que envolvessem frações para avaliarem os alunos do Ensino Fundamental; no segundo, os alunos resolveram oito problemas, criados pelos estudantes concluintes. No terceiro instrumento, submeteram-se todos os alunos (iniciantes e concluintes) a uma avaliação com 20 questões, envolvendo números racionais. No quarto instrumento, foram feitas entrevistas interativas com 10% dos alunos concluintes. Já no quinto instrumento foram feitas entrevistas interativas com 41 professores. A interpretação dos dados se deu por meio de uma abordagem qualitativa, precedida de um resumo estatístico. Os resultados foram apresentados em três unidades, as quais foram analisadas por meio do conhecimento matemático (conceitual e processual) dos estudantes para professores em relação aos significados das frações como partetodo, operador, quociente ou divisão indicada, medida e coordenada; conhecimento 8 A região do ABC é uma região que faz parte da Região Metropolitana de São Paulo, porém com identidade própria. A sigla vem das três cidades que formam a região, ou seja, A referindo-se a Santo André , B a São Bernardo do Campo e C, a São Caetano do Sul. 58 matemático e o PCK (conhecimento pedagógico do conteúdo didático) nas operações com frações (adição, multiplicação e divisão) e os números racionais na formação universitária (DAMICO, 2007). O autor concluiu que os estudantes, para serem professores, apresentam um acentuado desequilíbrio entre o conhecimento conceitual e processual, e observou também o baixo nível de conhecimento didático relacionado às representações dos conteúdos ensinados no Ensino Fundamental no trato de números racionais (frações) (DAMICO, 2007). 4.2 ESTUDOS RELACIONADOS AO ENSINO E À APRENDIZAGEM DA REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA DOS NÚMEROS RACIONAIS COM FOCO NO ALUNO No tocante às representações fracionárias dos números racionais, focado no aluno, utilizamos os trabalhos de Bezerra (2001); Merlini (2005) e Montinho (2005), abordados a seguir. 4.2.1 Bezerra (2001): “Introdução do conceito de número fracionário e de suas representações: uma abordagem criativa para a sala de aula” Com o objetivo de investigar como ocorre a aquisição do conceito de número fracionário, bem como de suas representações, o estudo tinha como proposta averiguar a seguinte questão de pesquisa: ―Como abordar os conteúdos relacionados ao número fracionário de forma que o aluno compreenda seu conceito e estabeleça a relação entre o número e sua representação?‖ (BEZERRA, 2001, p. 2). Este autor elaborou uma sequência de ensino abordando os significados partetodo e quociente. Essa pesquisa foi desenvolvida com alunos das primeiras séries do Ensino Fundamental, mais especificamente alunos da 3.ª série, para garantir, segundo o autor, que esse seria o primeiro contato dessas crianças com o campo numérico dos números racionais. Tomando como base os estudos de Brousseau (1986), Bezerra (2001) considera que o conjunto dos números naturais é um obstáculo epistemológico na 59 aprendizagem do conjunto dos números racionais (p. 16). Dentro dessa perspectiva, o autor optou, ao desenvolver sua sequência, por uma abordagem que garantisse a introdução do conceito de números fracionários, a partir do significado quociente, ou seja, partindo do conceito de divisão, já abordado nos números naturais e de frações impróprias. A construção da sequência foi baseada na formulação de situações-problema, que procuraram motivar os alunos a encontrar respostas que os levassem à aplicação dos conceitos adquiridos em outras situações semelhantes, sempre partindo de uma situação-problema, em que os alunos, fazendo uso de determinados materiais que lhes eram significativos,9 caminhassem na direção da construção do conceito do número fracionário. A sequência de ensino proposta por Bezerra inicia-se com situaçõesproblema que abordam significado quociente e no desenvolvimento das sessões de intervenção. São apresentadas também situações com o modelo parte-todo. O autor considera que o modelo parte-todo é importante, mas não deve ser o único nem deve ser o ponto de partida para o aprendizado das crianças, ―pois ele parece oferecer uma barreira maior entre os números naturais e os fracionários‖ (BEZERRA, 2001, p. 168). Segundo o autor foram fornecidas ―pistas significativas‖ para compreensão de como se dá o processo de aquisição desse conhecimento. Ele destaca que a principal contribuição do estudo para o entendimento de como ocorre a construção do conceito de fração é a observação do papel fundamental que Bezerra chama de ―problemas concretos advindos da realidade‖. 4.2.2 Merlini (2005): “O conceito de fração em seus diferentes significados: um estudo diagnóstico com alunos de 5.ª e 6.ª séries do Ensino Fundamental” Este estudo teve por objetivo investigar as estratégias que os alunos, de 5.ª e 9 Inspirado por Carraher (1993); Nunes & Bryant (1997) e Nunes (1992, 1996 e 1998), Bezerra (2001) empregou materiais simples como papel cartão, cartolina para representar grandezas contínuas; bolinhas de gude, botões, entre outros, para representar grandezas discretas, além de utilizar-se de jogos para desenvolver a problematização (BEZERRA, 2001, p. 87). 60 6.ª séries do Ensino Fundamental, utilizam quando em situação de resolução problemas que abordam o conceito de fração envolvendo os significados propostos por Nunes et al. (2003). Essa pesquisa procurou responder à seguinte questão de pesquisa: ―Quais estratégias de resolução alunos de 5.ª e 6.ª séries utilizam frente a problemas que abordam o conceito de fração, no que diz respeito aos cinco diferentes significados da fração: número, parte-todo, quociente, medida e operador multiplicativo?‖ (MERLINI, 2005, p. 24). Essa pesquisa fundamentou-se, também, na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud e nas ideias de Nunes e Kieran em relação aos diferentes significados da fração. Foi um estudo diagnóstico com 120 alunos, sendo 60 alunos da 5.ª série e 60 alunos da 6.ª série do Ensino Fundamental, distribuídos em duas escolas da rede pública estadual da cidade de São Paulo. A pesquisa de campo foi desenvolvida a partir de dois momentos previstos: 1) Aplicação do questionário com situações-problema envolvendo os significados de fração; este questionário foi aplicado coletivamente aos alunos, que responderam individualmente; 2) Entrevistas clínicas: 12% da amostra. De posse dos dados da pesquisa, foi feita a análise destes – qualitativa e quantitativa. Depois deste primeiro exame, foi observado, segundo Merlini, que o índice de sucesso foi muito baixo (aquém de 25%). Então, a autora optou ―por analisar as estratégias que resultaram em erro (insucesso)‖ (MERLINI, 2005, p. 164). Na análise geral, a pesquisadora constatou que não houve, em nenhuma das duas séries pesquisadas, um desempenho equitativo entre os cinco significados da fração, nem regularidade nas estratégias de solução. Quanto às estratégias de resolução dos problemas, não houve uma regularidade. Em outras palavras, para um mesmo significado encontramos diferentes estratégias de resolução. 61 Merlini (2005) observa ainda que os resultados apresentados nos problemas que envolviam parte-todo também estavam muito aquém do esperado. Concluiu inferindo que a abordagem que se faz nas escolas do conceito de fração, privilegiando alguns significados (parte-todo e quociente) em detrimento de outros, não é garantia de que o aluno construa o conhecimento desse conceito (MERLINI, 2005, p. 221). 4.2.3 Montinho (2005): “Fração e seus diferentes significados: um estudo com alunos das 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental” Uma pesquisa análoga a de Merlini (2005) foi desenvolvida por Montinho (2005). Assim como a anterior, essa investigação igualmente tinha por objetivo identificar as concepções que alunos de 4.ª e 8.ª séries do Ensino Fundamental utilizam perante problemas que abordavam o conceito de fração. Este estudo procurou responder a seguinte questão de pesquisa: ―Quais as concepções que são possíveis de se identificar com relação aos cinco diferentes significados da fração (Número, Parte-todo, Quociente, Medida e Operador Multiplicativo), a partir da aplicação de um estudo diagnóstico, com alunos das 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental?‖ (MONTINHO, 2005, p. 4). O protocolo de pesquisa foi o mesmo utilizado por Merlini (2005), assim como a fundamentação teórica. Quanto à metodologia, tratou-se de uma pesquisa diagnóstica realizada com a elaboração de um instrumento aplicado a 65 alunos da 4.ª e 58 alunos da 8.ª séries do Ensino Fundamental, distribuídos em duas escolas da rede pública estadual da cidade de São Paulo. Assim como Merlini (2005), Montinho (2005) analisou os resultados, observando-se o desempenho e as estratégias utilizadas pelos alunos, quando resolveram de forma errônea as questões propostas. O pesquisador identificou algumas concepções adotadas pelos alunos: ▪ Os alunos da 4.ª série utilizaram mais o significado parte-todo para resolver os problemas. 62 ▪ Na 8.ª série, além do significado parte todo procuram resolver os problemas com um uso sistemático de operações (o que não garantiu o acerto) resultando um desempenho geral menor na 8.ª do que a 4.ª série (MONTINHO, 2005, p. 201). Destaca também o que o autor chama de falso teorema em ação na concepção quociente, pois os alunos consideraram que toda fração deve ter numerador menor que o denominador (MONTINHO, 2005). Montinho concluiu afirmando sobre a necessidade de se garantir uma diversidade maior de situações envolvendo diferentes concepções na busca de um melhor aprendizado desse conceito ao longo das séries do Ensino Fundamental. O autor propôs que nas primeiras séries do Ensino Fundamental seja garantido o trabalho com os significados parte-todo, medida e quociente. Já na 5.ª série a esse trabalho sejam acrescentados os significados número e operador multiplicativo (MONTINHO, 2005, p. 202). 63 5 OS CURRÍCULOS DE MATEMÁTICA E OS RACIONAIS NA REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA NÚMEROS Nesta seção, apresentaremos informações concernentes às orientações oficiais sobre a representação fracionária dos números racionais. Neste estudo, pretendemos analisar como o professor compreende essa temática no currículo oficial do Estado de São Paulo a partir de 2008, para 5.ª série/6.º ano do Ensino Fundamental. Trazemos para participar desta discussão os documentos oficiais, tanto no âmbito estadual como no nacional, concernentes às orientações acerca da representação fracionária dos números racionais. Na esfera estadual, abordamos as Propostas Curriculares das décadas de 80 e 90, e o Currículo de 2008, e na esfera federal, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). É importante salientar que o currículo oficial para a rede pública de ensino paulista, proposto desde 2008, foco deste estudo, faz referência aos documentos oficiais aqui apresentados, motivo pelo qual iniciamos pela descrição das orientações desses documentos. 5.1 PROPOSTAS CURRICULARES DO ESTADO DE SÃO PAULO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL: DÉCADAS DE 80 E 90 A Proposta Curricular do Estado de São Paulo foi elaborada pela equipe de matemática da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), professores da rede estadual, monitores de matemática e professores da USP, Unicamp, Unesp e PUC-SP, a partir do início da década de 80. Sua elaboração é justificada no documento em virtude da constatação de ―problemas relativos ao ensino de matemática [que] já vinham sendo há muito tempo diagnosticados por professores‖ (SÃO PAULO, 1997, p. 7). Os ―problemas citados‖ faziam ―coro‖ na época ao movimento de crítica ao Movimento da Matemática Moderna (MMM) quanto à mecanização dos conteúdos; treino excessivo de 64 memorização, repetição e imitação na resolução de problemas; preocupação excessiva com a álgebra, deixando-se de aplicar tópicos de geometria e exigência de formalismo em nível de abstração em desacordo com o amadurecimento do aluno. Nas orientações contidas na Proposta Curricular de Matemática, observamos o foco na cidadania, ou seja, a educação se apresenta como instrumento de formação do cidadão consciente, com competência e aptidão para o exercício da cidadania (SÃO PAULO, 1997). Aqui observamos também a influência com o momento político social que o Brasil vivia. Assim, por meio de estudos dos órgãos competentes, acontece a implantação de um novo currículo (SÃO PAULO, 1997, p. 5). Este documento chama a atenção para as duas vertentes, que justificam a inclusão da matemática no currículo escolar: ― A necessidade de atividades práticas que lidam com grandezas, contagens, medidas e técnicas de cálculos. Desenvolver raciocínio lógico, a capacidade de abstrair, generalizar e projetar‖ (SÃO PAULO, 1997, p. 9). Tais orientações indicam ainda o foco na participação ativa do aluno. Afirmam que o trabalho do professor junto aos alunos não deve ser de apenas observar a sequência dos temas e sua interdependência, mas também sua participação efetiva tanto na assimilação como nas descobertas de ideias matemáticas, usando isso como recurso na resolução de problemas. Dessa forma, esses procedimentos pressupõem a elaboração de hipóteses e procedimentos para reinterpretar novas problemáticas. (SÃO PAULO, 1997). Esses documentos consideram a importância do cotidiano. Orientam o professor para o fato de que ele precisa fazer com que haja o equilíbrio entre as ações práticas e o desenvolvimento lógico dos alunos, conciliando conteúdo teórico e concepções da matemática com experiências concretas, adequando esses estudos à escola e à vida cotidiana. Quanto à avaliação para os elaboradores das orientações, ela interage com a 65 aprendizagem, na medida em que é entendida como um elemento ligado a um trabalho pedagógico que respeita a integração de conhecimentos. Salienta o papel diagnóstico da avaliação ao afirmar que é necessário buscar subsídios que possibilitem os diagnósticos do processo de aprendizagem do aluno, procurando corrigir as possíveis distorções desses processos (SÃO PAULO, 1997). As orientações oficiais indicam como instrumentos para avaliação de matemática no ensino do 1.º grau10 as provas e testes escritos. Procuram analisar as possibilidades de respostas corretas ou incorretas dos alunos. Salientam que o resultado correto pode comprovar tanto o bom aproveitamento no aprendizado como uma reprodução mecânica de certos modelos de exercícios. Já o resultado incorreto pode demonstrar total ou parcial incompreensão ou compreensão do assunto estudado. O documento também chama a atenção para a necessidade de análise do registro e ressalta que o desempenho apresentado pelo aluno ―é a expressão de seu raciocínio que não necessariamente está visível ou é captado no resultado final solicitado em uma prova ou teste‖ (SÃO PAULO, 1997, p. 17). Destaca ainda a importância da análise dos caminhos utilizados pelas crianças na resolução de situações-problema. Argumenta que tais caminhos podem indicar tanto procedimentos seguidos pelo professor como a criatividade do aluno no processo de compreensão das representações. Esse documento afirma ainda que tais critérios visam estabelecer metas no desenvolvimento das noções matemáticas por série, ou períodos maiores, tanto no ciclo básico como nas séries subsequentes do 1.º grau, seguindo orientações da proposta curricular (SÃO PAULO, 1997). A Proposta Curricular de Matemática apresenta três grandes temas: Números, Geometria e Medidas. O referido documento, ao contrário das orientações anteriores, procura indicar para o professor o tratamento dos temas de forma simultânea ao longo das oito 10 O regime militar implementou as reformas educacionais em 1971, por meio da Lei n.º 5.692, que estabeleceu o sistema nacional de 1.° e 2.° graus. Assim sendo, o Ensino de 1.º grau era a denominação dada na década de 80, pela Secretaria de Estado da Educação, ao ensino que hoje equivale ao Ensino Fundamental. 66 séries, desenvolvendo paralelamente os assuntos, pretendendo-se assim adquirir uma visão mais global da matemática. O documento apresenta uma proposta de um tratamento ―não linear‖ ao conteúdo, indicando ao professor a opção pelo agrupamento dos temas, tratando de maneira adequada e com a profundidade possível, não devendo o professor trabalhar os temas de maneira linear e exaustiva. Quanto aos conteúdos de matemática no Ensino Fundamental, propõe-se que a introdução do Sistema de Numeração Decimal se dê por meio da vivência de propostas, envolvendo classificações, sequência e simbolização, introduzindo números naturais mediante a contagem e operações básicas. Segundo as orientações contidas na Proposta Curricular de Matemática, tal sequência pretende dar significado concreto ao tema. Este documento chama a atenção para o fato de que nesse primeiro contato com a matemática deve-se estabelecer uma linguagem simples, relacionando valores quantitativos da realidade com o sistema numérico. Indica também tal documento que, nas séries seguintes, a noção de número deve ser ampliada, incorporando-se os números racionais sob representação fracionária, foco deste estudo, assim como a apresentação das propriedades das operações numéricas. Quanto à geometria, o documento sugere a exploração sensorial dos objetos e percepções das formas, composição e decomposição de figuras, noções que preparam também as atividades que envolvem medidas. Procura-se caracterizar as formas por meio de propriedades e estabelecimentos de medidas, padronizando algumas unidades do sistema decimal. Nas séries finais do 1.º grau, o documento aponta para a necessidade de que deverão ser aprofundadas algumas propriedades dos números, das formas e das medidas, relacionando-se as propriedades numéricas e geométricas. No final do 1.º grau, o documento propõe um trabalho com cálculos literais e técnicas para resolução de equações e inequações, assim como a introdução dos números irracionais (SÃO PAULO, 1997). Como o nosso objeto de estudo é a fração, torna-se importante apresentar as 67 orientações indicadas para o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem do tema. 5.1.1 Proposta Curricular de Matemática: representação de um número racional absoluto sob a forma fracionária e sob a forma decimal O documento destaca a importância do trabalho com representação fracionária e decimal desde os anos iniciais e justifica afirmando que isso ajudará na resolução de problemas. É importante salientar que as orientações contidas no documento consideram que os alunos já tenham exercitado comparações e operações com números racionais nas séries anteriores. Assim, indicam a apresentação de conceitos de forma sistemática e sugerem a utilização destes em problemas relacionados a medidas e porcentagem. Esse mesmo documento nos mostra como a representação do número racional absoluto sob duas formas pode ajudar os seus cálculos. Considera também que a leitura pode facilitar a representação fracionária de um número decimal, por exemplo, 0,25 lê-se ―vinte e cinco centésimos‖, podendo facilitar a escrita da fração (SÃO PAULO, 1997, p. 80). O documento recomenda ainda que para a representação decimal de um número fracionário pode-se usar o processo de reduzir a fração a outra equivalente de denominador 10 ou potência de 10, por exemplo, forma , que pode ser escrita na e representada por 0,4. No caso de não ser tão simples transformar a fração em outra equivalente, o documento chama a atenção para o fato de que é necessário encontrar o quociente do numerador pelo denominador. Por exemplo, para a fração , afirma-se ser mais prático representar o decimal por meio da divisão do número 2 pelo número 6, 68 encontrando o resultado 0,33... (uma dízima periódica que será aprofundada com estudo na 8.ª série). Indica também este documento que, inicialmente, os alunos podem realizar, com uso de materiais concretos, estudos na comparação entre frações com denominadores iguais ou com frações que podem ser transformadas em equivalentes. Nesse sentido, considera que, a partir do momento em que os alunos já adquiriram o conhecimento do mínimo múltiplo comum (mmc), podem passar a estudar a comparação entre frações, aplicando-se as propriedades das frações equivalentes, por exemplo, multiplicando-se as frações (numerador e denominador) por um valor que torne iguais os denominadores (SÃO PAULO, 1997). As orientações contidas na Proposta e apresentadas aos professores enfatizam ainda a importância da representação dos números racionais na reta numerada. Observa-se que o aluno faz uma estimativa correta desse número e sua localização entre dois naturais (SÃO PAULO, 1997). Quanto às operações com números racionais, o documento considera que, nesse momento, os alunos devem verificar se as propriedades de cálculos com números racionais para adição e subtração são as mesmas propriedades que aparecem com os números naturais, de modo que os nomes das propriedades podem ser enfatizadas. Para essas operações, o documento não apresenta situações exemplares. No tocante à multiplicação de frações, o documento chama a atenção do professor para o fato de que não cabe considerá-la unicamente como uma soma reiterada de parcelas iguais, como muitas vezes é feita quase que exclusivamente durante o processo de ensino dos Números Naturais. Salienta que o docente deve estar atento à necessidade de modificar tal encaminhamento em relação à multiplicação entre números racionais. O documento destaca a importância do trabalho com significado para multiplicação de frações, pensando-se em partes de parte de um todo. No caso da divisão de frações, tal proposta enfatiza que existe a dificuldade 69 de dar significado à operação, por exemplo: ―Subdividir uma parte de um todo em partes iguais e verificar o que cada parte representa do total, 2: = 6 pedaços‖ (SÃO PAULO, 1997, p. 83). A proposta traz ainda sugestão para que o professor trabalhe a divisão com os alunos, usando situações-problema, partindo da multiplicação de partes, por exemplo, Quantos pedaços do tamanho chocolate? Comparando do chocolate com cabe uma vez e meia em de um chocolate cabem em barra de chocolate, vemos que o pedaço de chocolate: (SÃO PAULO, 1997, p. 83). Outra representação dos números racionais encontrada no material é a porcentagem, e nesse estudo a proposta prevê que o tema já tenha sido tratado e agora será trabalhado em aplicações: ▪ Calcular o preço de mercadoria com descontos representando por porcentagem; ▪ Entender os significados dos valores escritos em porcentagem; ▪ Analisar tabelas e diagramas que envolvam porcentagem; ▪ Levantar dados e representar através de diagramas de barras e gráficos de setores; ▪ Fazer comparação com números, ao interpretar problemas com populações estatísticas, distribuições de renda, renda per capita e densidade populacional (SÃO PAULO, 1997, p. 85). Entendemos que as indicações contidas nessa Proposta Curricular de Matemática antecederam e influenciaram os documentos oficiais federais (PCN). A seguir, apresentaremos e analisaremos tais documentos, uma vez que o Estado de São Paulo não elaborou nenhuma outra orientação curricular para os anos 90 e início do ano 2000, ou seja, trata-se de documento que foi referência para o Estado de São Paulo, visto que as escolas estaduais orientam-se pelas indicações contidas nos PCN. 70 Portanto, fizemos a opção de apresentar tanto as orientações para os anos iniciais do Ensino Fundamental (BRASIL, 1997) como as orientações dos PCN (BRASIL, 1998) que orientam o trabalho docente dos anos finais desse segmento de ensino, por considerar que existe uma relação forte entre os dois documentos. 5.2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental, do Ministério da Educação e do Desporto (MEC), foram elaborados a partir de 1995. Segundo o documento introdutório para o Ensino Fundamental, terceiro e quarto ciclos (BRASIL, 1998), os PCN apoiam-se em normas legais. Lembramos que, do ponto de vista legal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) Lei Federal n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996 indica ser competência da União estabelecer as diretrizes que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar uma formação básica comum.11 Ainda no documento introdutório informa que, para sua elaboração procuraram: ―[...] contribuir na busca de respostas a problemas identificados no ensino fundamental, objetivando uma transformação desse ensino que atenda às demandas da sociedade brasileira atual‖ (BRASIL, 1998, p. 49). Os PCN indicam a necessidade de uma formação básica, voltada para a formação da cidadania justificada pela análise da conjuntura brasileira no contexto mundial. Elas discutem a necessidade de equidade e qualidade de ensino. Chama a 11 O artigo 26 da LDBEN n.º 9.394/1996: Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Os currículos devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil. O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígenas, africana e europeia. Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha fica a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição. 71 atenção também para a formação dos professores, considerando-a primordial para que estes se sintam capazes de incorporarem ao seu trabalho resultados de estudos e das pesquisas na área da educação. Tal preocupação pode ser observada na apresentação do documento de Matemática, quando considera que os PCN: [...] poderão nortear a formação inicial e continuada de professores, pois à medida que os fundamentos do currículo se tornam claros fica implícito o tipo de formação que se pretende para o professor, como também orientar a produção de livros e de outros materiais didáticos, contribuindo dessa forma para a configuração de uma política voltada à melhoria do ensino fundamental (BRASIL, 1998, p. 15). Assim, observamos uma relação muito forte, ao menos no que se refere ao currículo prescrito, entre tal movimento de inovação curricular e a formação de professores. Portanto, acreditamos que, analisar o que dizem os currículos, em especial os PCN acerca do ensino de matemática e dos processos de ensino e aprendizagem de fração, pode nos dar pistas sobre o que se espera do Conhecimento Profissional Docente, que precisa ensinar frações. Assim, para reforçar nosso entendimento, apresentamos um relato das indicações dos PCN, tanto dos que orientam os profissionais que lecionam para os anos iniciais como os que são direcionados aos professores dos anos finais do Ensino Fundamental. 5.2.1 Os números racionais nos Parâmetros Curriculares Nacionais: primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental As orientações contidas nos PCN consideram que os alunos do Ensino Fundamental desde os anos iniciais devem compreender que só o conhecimento de números naturais não é suficiente para a resolução de determinados problemas, sendo necessário compreender as representações fracionárias dos números racionais (BRASIL, 1997). Os PCN chamam a atenção para o fato de que é na relação entre a divisão de dois números inteiros que se caracteriza a construção da ideia de número racional, e, quando se divide um número inteiro por outro número inteiro, exceto divisor zero, temos como resultado um número racional (BRASIL, 1997). Eles consideram também que não é possível exprimir apenas com uso de naturais a medida de uma 72 grandeza ou resultado de uma divisão. Assim, o principal objetivo apresentado é que o aluno perceba que, com o conhecimento e aprendizagem dos números racionais, novos problemas podem ser solucionados . De acordo com os PCN, ao pensarem em números racionais como se fossem números naturais, os alunos encontram várias dificuldades para este aprendizado: ▪ Um número racional pode ser representado de diferentes maneiras na forma escrita fracionária, por exemplo, 1 2 4 , e são os mesmos números 2 4 8 com representações diferentes. ▪ Na comparação de números racionais, os alunos têm que construir uma escrita que contradiz a ideia de comparação feita entre os números naturais, exemplo, 1 1 < ; 5 3 ▪ Com relação ao tamanho da escrita numérica da ordem de grandeza dos números naturais, não obedecem ao mesmo critério para os números racionais, por exemplo, 6.425 > 65, no entanto 6,425 < 6,5; ▪ Na multiplicação entre dois números naturais (diferentes de zero ou um) a expectativa é encontrar um número natural maior que ambos, já ao multiplicar um número natural por uma fração isso não acontece, por exemplo, 20 x 1 , o resultado será menor que 20; 2 ▪ Com relação a sequência dos números racionais, não tem sentido falar em sucessor, ou antecessor, pois, entre dois números racionais quaisquer, sempre é possível encontrar outro racional, exemplo, entre 0,6 e 0,7 o aluno poderá perceber que existem 0,61; 0,614; 0,69... (BRASIL, 1997, p. 67). O documento indica ainda a necessidade de o professor desenvolver seu trabalho, considerando os diferentes significados para os números racionais na representação fracionária em situações-problema: parte-todo, quociente, razão e número racional como operador. Segundo os PCN, a relação parte-todo é quando um todo se divide em partes. Assim, a fração indica que existe uma relação entre um número de partes e o total de partes (equivalente em quantidade de superfície ou elementos). O quociente, de acordo com esse mesmo documento, na divisão de dois números naturais (m n = é o resultado e se baseia m ; n ≠ 0) (BRASIL, 1997, p. 69). n A outra situação é a razão que se caracteriza quando a fração é usada como 73 comparação entre duas quantidades de uma grandeza (exemplo: 3 em cada 10 estudantes gostam de matemática) (BRASIL, 1997, p. 69). A fração como operador, segundo esse mesmo documento, é indicada quando esta fração desempenha um papel de transformação de algo que atua sobre uma situação e modifica ―(Exemplo: Que número devo multiplicar por 3 para obter 2?)‖ (BRASIL, 1997, p. 69). Podemos notar, analisando tal documento oficial, que há uma preocupação em orientar o professor dos anos iniciais a realizar um trabalho considerando diferentes significados da fração. Até a presente descrição, apresentamos orientações curriculares para professores dos anos iniciais, pois o documento (PCN, 1997) reporta-se a este. Todavia, cabe ressaltar que os docentes, foco dessa pesquisa, foram orientados sobretudo pelos PCN publicados em 1998. 5.2.2 Os números racionais nos Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental Os PCN (BRASIL, 1998) foram elaborados especificamente para orientar os docentes que lecionam para os anos finais do Ensino Fundamental. Embora as representações fracionárias e decimais dos números racionais sejam conteúdos desenvolvidos nos ciclos iniciais, o que se constata é que os alunos chegam ao terceiro ciclo sem compreender os diferentes significados associados a esse tipo de número e tampouco os procedimentos de cálculo, em especial os que envolvem os racionais na forma decimal (BRASIL, 1998, p. 100-101). Os documentos afirmam ainda, como nos PCN de 1997, que uma das possíveis dificuldades encontradas pelos alunos é que as ideias da aprendizagem dos números racionais supõem rupturas com as ideias formadas nas representações, comparações e cálculos com números naturais. Ele ressalta também, assim como as outras orientações analisadas em nosso trabalho, que a resolução de problema é o foco do ensino da matemática. Esse fato pode ser 74 observado quando indicam que no terceiro e quarto ciclos12 o aprendizado dos números racionais deve ter como principal fundamento o desenvolvimento de habilidades na aplicação de conceitos para a solução de problemas pelos alunos. No terceiro e no quarto ciclo a abordagem dos racionais, em continuidade ao que foi proposto para os ciclos anteriores, tem como objetivo levar os alunos a perceber que os números naturais são insuficientes para resolver determinadas situações-problema como as que envolvem a medida de uma grandeza e o resultado de uma divisão (SÃO PAULO, 1998, p. 101). Os PCN justificam que as demais orientações explanadas até aqui ressaltam a importância de lidar com essa temática, pois esse procedimento possibilita que o aluno perceba a insuficiência em se trabalhar somente com números naturais para resolução de problemas, por exemplo, os que envolvem medidas de uma grandeza e o resultado de uma divisão (BRASIL, 1998, p. 101). Quanto às orientações para o ensino, os PCN (1998) sugerem inicialmente abordar o estudo dos números racionais, envolvendo medidas sob uma perspectiva da resolução de problemas em um contexto histórico. Orientam os docentes para utilizar fatos que façam lembrar os que deram origem a esses números, exemplificando que os egípcios já usavam a fração para operar com pesos e medidas e para exprimir resultados. Os PCN relatam que estes egípcios utilizavam frações com numerador 1 (um), exceto 2 3 19 1 1 e . Assim, em uma divisão de expressavam 2+ + . Propõem 3 4 8 4 8 que o professor indique ao aluno que verifique se a soma dos termos é igual a 19 8 (BRASIL, 1998, p. 102). Chamam atenção, assim como os PCN de 1998, para o fato de que os números racionais assumem diferentes significados: relação parte-todo, divisão e razão (BRASIL, 1988, p. 102). 12 Nas orientações contidas nos PCN (BRASIL, 1998), o terceiro ciclo equivale às quintas e sextas séries (hoje, com a escola de nove anos seria o que é denominado 6.º e 7.º anos). 75 O significado parte-todo é apresentado da forma como um todo se divide em partes que se equivalem. Outro modo de interpretar o número racional é como quociente de um número por outro. O número racional é interpretado como razão quando é usado como índice de comparação entre duas quantidades; quando envolvem probabilidades, abordam escalas, bem como quando trata de porcentagem. Outro significado de um número racional é o de operador, isto é, quando atua sobre uma determinada situação e a transforma. Consideram ainda os PCN que as interpretações dadas aos números racionais devem ser tratadas de forma compacta e sistemática ao longo do segmento de ensino a que se propõe (últimos anos do Ensino Fundamental), possibilitando a análise e a comparação em diferentes situações. Verifica-se que as orientações contidas nos PCN de 1998 complementam aquelas apresentadas nos PCN de 1997, os quais apontam para o fato de que no cotidiano se observa que os números racionais aparecem com mais frequência na forma decimal; mas o estudo na forma fracionária justifica-se fundamentalmente para desenvolver outros conteúdos matemáticos (proporções, equações, cálculos algébricos). Esse documento orienta o professor para o trabalho com as dízimas periódicas. Afirma também que, relativamente aos cálculos que envolvem dízimas periódicas, a representação na forma fracionária obtém resultado com maior precisão, pois não é necessário fazer arredondamento numérico. Os PCN (1998) enfatizam, igualmente, que a compreensão das diferentes representações dos números racionais (fracionária, decimal e percentual) leva o aluno a usar a forma mais adequada para indicar um resultado. Além disso, na resolução de problemas que envolvem comparações ou operações com números na forma fracionária, os alunos adquirem maior facilidade com os conceitos de equivalência. A proposta destaca ainda a importância de o aluno perceber que pode fazer estimativas com números racionais na forma decimal usando os números naturais. 76 Por exemplo, para calcular 7.9 x 5.7, fazendo mentalmente 8x6, encontramos um resultado que dá uma referência para o cálculo, apesar de obter um resultado exato (BRASIL, 1998 p.103) Quanto às operações, o documento indica que para adição e subtração envolvendo frações, que têm diferentes denominadores, aplicam-se as propriedades de frações equivalentes. No caso da multiplicação entre frações, ela se apoia na ideia de ―partes de partes do total‖. Na divisão, envolvendo frações, interpreta-se como ―partes que cabem em partes‖ (BRASIL, 1998, p. 104-105). A Proposta Curricular de São Paulo (2008) elaborada para o Ensino Fundamental Ciclo II e Ensino Médio teve como referência os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais – 1998), e essa proposta é uma das principais fontes utilizadas nesta investigação. 5.3 CURRÍCULO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (2008) Em 2008, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE-SP) propôs um currículo básico comum para as escolas da rede estadual nos níveis de Ensino Fundamental (Ciclo II)13 e Ensino Médio. Segundo esse documento Proposta Curricular de 2008 , para a implementação do novo Currículo a SEE/SP realizou um levantamento do acervo documental técnico pedagógico já existente. Ele afirma, ainda, que iniciou um processo de consulta às escolas e professores no sentido de identificar, sistematizar e divulgar as práticas positivas que estavam sendo trabalhadas nas escolas de São Paulo. A partir desse estudo, procurou-se articular o conhecimento e a herança pedagógica com as experiências escolares bem-sucedidas. Vale ressaltar que o documento de orientação denominado Proposta Curricular (2008) foi a primeira versão do que foi chamado Currículo do Estado de São Paulo: Matemática e suas Tecnologias, editado em 2010. Segundo esse último 13 Segundo a SEE/SP a denominação Ciclo II refere-se aos anos finais do Ensino Fundamental (do sexto ao nono anos). 77 documento, a Proposta Curricular (2008) deu origem à ―versão definitiva dos textosbase do Currículo da Secretaria da Educação para o Ensino Fundamental- Ciclo II e o Ensino Médio da rede pública do Estado de São Paulo‖ (SÃO PAULO, 2010, p. 3). Nesta dissertação, apresentamos as ideias comuns aos dois documentos e fazemos referência tanto a um como outro, sempre que houver algum elemento que os diferencie. A elaboração de um texto-base para discutir o currículo, segundo o documento Currículo do Estado de São Paulo: Matemática e suas Tecnologias, tem como objetivo ―apoiar o trabalho nas escolas contribuindo para melhoria na qualidade no aprendizado dos alunos, [...] [garantindo] a todos uma base comum de conhecimento e de competência‖ (SÃO PAULO, 2010, p. 7). O Currículo Oficial de São Paulo, já em 2008, apresentava como princípios centrais: a escola que aprende; o currículo como eixo de aprendizagem; prioridade da competência de leitura e de escrita; a articulação das competências para aprender e a contextualização do mundo do trabalho, fato reiterado no documento de 2010 (SÃO PAULO, 2008, p. 12). Os princípios que orientam esse currículo procuram ainda, segundo seus elaboradores, promover as competências para que os jovens possam enfrentar os desafios sociais, culturais e profissionais do mundo contemporâneo (SÃO PAULO, 2010, p. 7). O Currículo apresenta um conjunto de documentos para orientação da gestão escolar (Caderno do Gestor), dirigido especialmente aos Professores Coordenadores, Diretores e Supervisores de escola. Traz também como material de apoio o Caderno do Professor (CP) e o Caderno do Aluno (CA), organizados por disciplina, série/ano e bimestre. Tais documentos têm por finalidade oferecer aos docentes a orientação no trabalho dos conteúdos e aprendizagem dos alunos (SÃO PAULO, 2010). O Currículo é subdividido em quatro áreas: Ciências Humanas e suas 78 Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Linguagem de Códigos e suas Tecnologias; e, finalmente, Matemática e suas Tecnologias. Como foco neste trabalho é o currículo de Matemática, e esta disciplina, para os gestores do Currículo do Estado de São Paulo, é considerada uma área específica, diferentemente dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), apresentaremos a seguir os argumentos utilizados pelos autores desse documento para tal decisão (SÃO PAULO, 2008, p. 38). 5.3.1 Concepção do ensino na área de matemática e suas tecnologias Segundo os documentos oficiais de 2008, assim como foi apresentado na proposta curricular de 1986, há dois componentes básicos dos currículos escolares em todos os tempos e em todas as culturas: a matemática e a língua materna. Eles afirmam que antigamente a escola tinha como objetivo principal ensinar a ―ler, escrever e contar‖, mas hoje essa ideia se ampliou, inserindo o interesse pelas múltiplas formas de linguagens, estendendo-se para o universo das ciências e da tecnologia (SÃO PAULO, 2010, p. 25). As orientações contidas no currículo estabelecido a partir de 2008 ressaltam o fato de que as propostas curriculares do Estado de São Paulo, elaboradas a partir de 1984, já consideravam a matemática como uma área especifica, buscando aproximar os conteúdos escolares e universos da cultura, em especial no que tange ao tratamento das contextualizações visando uma instrumentação crítica para o mundo do trabalho. Assim, o novo Currículo, diferentemente dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM),14 mantém a matemática como uma área específica, distinto tanto das linguagens e códigos quanto das ciências da natureza, e apresenta três razões para a constituição de uma área do conhecimento particular da matemática. Afirma que isso se deve ao fato de este currículo ser constituído com base na proposta anterior (SÃO PAULO, 2010, p. 26). 14 Neste trabalho não descrevemos o PCNEM, pois o nosso foco é o Ensino Fundamental. Todavia, alguns princípios discutidos no PCNEM documento são também utilizados no Currículo de São Paulo. 79 Para tanto, o documento apresenta as três razões para justificar tal escolha para constituição de uma área de conhecimento específico da matemática: a primeira razão é que a matemática apresenta um universo próprio de ideias e objetos, mais especificamente, os números e as operações, as formas geométricas, as relações entre esses temas. Este currículo justifica que tais ideias e objetos são fundamentais para a expressão pessoal, compreensão de fenômenos, a construção de representações e argumentações para vários contextos, incluindo-se as chamadas Ciências Humanas. Já nos PCNEM a Matemática está incluída nas áreas de Ciências da Natureza, o que diminui o risco de que na escola básica o conteúdo matemático tenha um fim em si mesmo, enfatizando sua condição instrumental (SÃO PAULO, 2010, p. 26). Todavia, as orientações contidas no PCNEM ressaltam que, com o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), tal risco deixa de existir, e consolida a ideia de competências, deixando claro o que era apresentado de maneira implícita nas propostas anteriores: que todos os conteúdos disciplinares de todas as áreas são meios para a formação dos alunos como cidadãos. Portanto, se, com o ENEM, o debate sobre a aquisição de competência se instalou, os elaboradores do Currículo de São Paulo consideram que a matemática como área de conhecimento já não oferece tal perigo. A segunda razão para apresentar a matemática como uma área do conhecimento é que, se agregar a matemática à linguagem e às ciências da natureza poder-se-ão empobrecer partes importantes e específicas da matemática (SÃO PAULO, 2010, p. 27). O PCNEM justifica ao afirmar que a matemática e a língua materna se complementam, sendo impossível reduzir um dos sistemas simbólicos a outros. Ressalta ainda que, mesmo existindo diferenças fundamentais entre os significados da precisão na língua materna e na matemática, os alunos devem ser conduzidos a perceber e a apreciar a beleza presente tanto na exatidão do cálculo como na forma expressa em um texto (SÃO PAULO, 2010, p. 27). 80 A terceira razão para o tratamento da matemática como área específica é a possibilidade de se incorporarem os vários recursos tecnológicos existentes na representação e tratamento das informações, buscando transformar as informações em conhecimento (SÃO PAULO, 2010, p. 27). É dessa maneira que o Currículo Oficial do Estado de São Paulo (2010) justifica e esclarece a apresentação da matemática como área de conhecimento. 5.3.2 O currículo de matemática para o Ensino Fundamental (Ciclo II) Reiteramos que, para os elaboradores do currículo, este tem como objetivo a organização dos conteúdos de cada disciplina de forma que possibilitem o tratamento dos dados de maneira a transformar em informações para que sirvam de base para a construção do conhecimento. Portanto, segundo este documento, ―tudo é tratamento de informação‖ (SÃO PAULO, 2010, p. 29). O currículo mapeia temas e conteúdos importantes para apresentar de forma clara o tratamento da informação e construção de conhecimento, indicando os temas relevantes a serem estudados que darão suporte para o desenvolvimento das competências pessoais (SÃO PAULO, 2010, p. 36). Os elaboradores sustentam que, no currículo prescrito, a matemática deve ser articulada a todas as formas de expressão e, em especial, com as tecnologias informáticas. Observamos aqui um diferencial entre o que propõe esse currículo e os anteriores, ou seja, o foco na Tecnologia da Informação. Este currículo indica que, por meio das diversas disciplinas, os alunos buscam de forma ordenada o conhecimento para o desenvolvimento de competências básicas para a sua formação pessoal (SÃO PAULO, 2010, p. 29). O Currículo de São Paulo discute a centralidade da comunicação e afirma que desde os anos iniciais a matemática e a língua materna são disciplinas básicas dos currículos escolares. As crianças aprendem a se expressar e a se comunicar na 81 língua materna e ao mesmo tempo estudam compulsoriamente a matemática. Assevera-se ainda que, nos currículos, a matemática aliada à língua materna deve ser um recurso para uma expressão rica, uma compreensão abrangente, uma argumentação correta, um enfrentamento assertivo de situações-problema, uma contextualização significativa dos temas estudados (SÃO PAULO, 2010, p. 30). Assim sendo, os elaboradores mostram a importância da contextualização, ou seja, os conteúdos disciplinares devem ser valorizados por meio do contexto. Esse documento defende que a contextualização deve ser equilibrada com o desenvolvimento de outras competências, como abstrair o contexto; imaginar contextos fictícios; propor novas soluções para problemas já existentes. Eles consideram, enfim, que na construção do conhecimento o ciclo se completa com o movimento entre contextualizar e abstrair. Estes elaboradores chamam a atenção, assim como nos PCN, para os três eixos de competências, que indicam que eles norteiam a ação educacional: expressão/compreensão; argumentação/decisão; contextualização/abstração. Os conteúdos de matemática encontram-se organizados por bimestres (quatro bimestres de cada série/ano). Com um ou dois temas dominantes que servem de base para desenvolver os demais conteúdos de maneira a facilitarem uma forma de abordagem que favoreça o uso da tecnologia, da modelagem e dos materiais concretos. Considera-se ainda ser fundamental que o professor apresente todos os conteúdos possíveis de cada bimestre. A seguir, expomos a Proposta Curricular de Matemática do Estado de São Paulo. QUADRO 2 – Conteúdos de matemática por série e bimestre do Ensino Fundamental (Ciclo II) 5.ª série 6.ª série 7.ª série 8.ª série 4.º bimestre 3.º bimestre 2.º bimestre 1.º bimestre 82 NÚMEROS NATURAIS - Múltiplos e divisores - Números primos - Operações básicas - Introdução às potências NÚMEROS NATURAIS - Sistemas de numeração na Antiguidade - O sistema posicional decimal FRAÇÕES - Representações - Comparação e ordenação - Operações NÚMEROS INTEIROS - Representação - Operações NÚMEROS RACIONAIS - Representação fracionária e decimal - Operações com decimais e frações NÚMEROS DECIMAIS - Representação - Transformação em fração decimal - Operações SISTEMAS DE MEDIDA - Comprimento, massa e capacidade - Sistema métrico decimal GEOMETRIA/ MEDIDAS - Formas planas e espaciais - Noção de perímetro e área de figuras planas - Cálculo de área por composição e decomposição NÚMEROS REAIS - Conjuntos numéricos - Números irracionais - Potenciação e radiciação em R - Notação científica POTENCIAÇÃO - Propriedades para expoentes inteiros TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO - A linguagem das potências GEOMETRIA/ MEDIDAS - Ângulos - Polígonos - Circunferência - Simetrias - Construções geométricas - Poliedros ÁLGEBRA - Equivalências e transformações de expressões algébricas - Produtos notáveis - Fatoração algébrica ÁLGEBRA - Equações do 2.º grau: resolução e problemas - Noções básicas sobre função: a ideia de interdependência - Construção de tabelas e gráficos para representar funções de 1.º e 2.º graus NÚMEROS/ PROPORCIONALIDADE - Proporcionalidade direta e imersa - Razões proporções, porcentagens - Razões constantes na geometria: ÁLGEBRA/ EQUAÇÕES - Equações de 1.º grau - Sistemas de equações e resolução de problemas - Inequações de 1.º grau - Sistemas de Coordenadas (plano cartesiano) GEOMETRIA/ MEDIDAS - Proporcionalidade, noção de semelhança - Relações métricas entre triângulos retângulos - Razões trigonométricas GEOMETRIA/ MEDIDAS - Teorema de Tales e Pitágoras: apresentação e aplicações - Área de polígonos - Volume do prisma GEOMETRIA/ MÉDIAS - O número ¶; a circunferência, o círculo e suas partes, área do círculo. - Volume e área do cilindro TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO - Gráficos de setores - Noções de probabilidade TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO - Leitura e construção de gráficos e tabelas - Média aritmética - Problemas de contagem NÚMEROS RACIONAIS - Transformação de decimais finitos em frações - Dízimas periódicas e fração geratriz ÁLGEBRA - Uso de letras para representar um valor desconhecido - Conceito de equação - Resolução de equações - Equações e problemas TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO - Contagem indireta e probabilidade Fonte: SÃO PAULO, 2008, p. 52-55. Analisando a listagem, concordamos com Garcia Silva et al. (2010) quando afirmam: [...] a tabela apresentada, não se diferencia de forma substancial do elenco de conteúdos culturalmente ensinado... Entretanto, ao analisar o documento que apresenta a Proposta Curricular (2008) e os Cadernos do Professor (2008) e Aluno (2008) observamos um destaque ao Tratamento de Informação e as ideias fundamentais a serem exploradas nos diferentes conteúdos (GARCIA SILVA et al., 2010, p. 3115). 83 Na citação, a autora observa que os conteúdos não diferenciam muito daqueles tradicionalmente abordados nos livros didáticos, mas destaca a metodologia no tratamento dos diferentes conteúdos. O quadro de conteúdos é apresentado de forma diferente do quadro do currículo de 2010, que organiza as grades curriculares (série/ano por bimestre) para as quatro séries/anos finais do Ensino Fundamental e para as três séries do Ensino Médio, com os conteúdos associados a habilidades (SÃO PAULO, 2010, p. 55). Esse Currículo de São Paulo (2010) apresenta as ideias fundamentais a serem trabalhadas pela proporcionalidade, equivalência, ordem e aproximação. Indica também que as mesmas ideias podem ser exploradas em vários conteúdos e desenvolver a capacidade de compreender, argumentar e expressar. Afirma ainda que as ideias fundamentais apresentadas têm para cada tema duas características: a primeira, interdisciplinaridade interna, consiste em desenvolver conceitos dentro da própria disciplina envolvendo, por exemplo, aritmética, álgebra, trigonometria etc. Outra característica destacada é a interdisciplinaridade entre as disciplinas, desenvolvendo assuntos que podem ser abordados, por exemplo, em física, química, geografia etc. Reiteramos que a lista de conteúdo desenvolvida para o estudo na escola básica recorre aos assuntos usuais já existentes nos vários programas e materiais didáticos próximos da prática dos professores. Em 2008, os conteúdos, conforme se observa no quadro anterior (Quadro 2), foram organizados em quatros blocos temáticos: Números, Geometria, Medidas e, por último, um componente que se refere à Representação de Dados e ao Tratamento da Informação. Em 2010, a organização dos conteúdos básicos é apresentada em três blocos: Números (equivalência / ordem, simbolização / operações); Geometria (percepção / concepção, constrição / representação) e Relações (medidas / aproximações, proporcionalidade / interdependência). 84 Para esta pesquisa, apresentamos parte dos conteúdos de Matemática do Ensino Fundamental (Ciclo II), aquela referente ao ensino das frações, no 6.º ano e 7.º ano do Ensino Fundamental.15 Observamos que os conteúdos estão organizados em três grandes blocos e estes têm pontos de intersecção, assim os temas ensinados em todas as séries/anos podem ser articulados para construção do conhecimento (SÃO PAULO, 2010). No tocante ao processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos básicos, para o Ensino Fundamental, o bloco de conteúdos denominados Números, tem como objetivo aprimorar a linguagem numérica e as representações algébricas na construção de uma linguagem mais abrangente. Para o bloco Geometria, o documento destaca a preocupação inicial para o reconhecimento, representação e classificação das formas planas e espaciais, priorizando para o quinto e sexto anos o trabalho no contexto concreto, e para os anos subsequentes, no contexto do raciocínio lógico. A proposta considera ainda que a geometria deve ser trabalhada em todas as séries/anos, cabendo ao professor a apresentação destes conteúdos nos diversos bimestres (SÃO PAULO, 2010). O terceiro bloco temático é chamado de Relações, que é o estudo das medidas, comparações de grandezas, usando padrões expressos por meio de um número. Segundo seus elaboradores, esse novo Currículo proposto leva em conta o tratamento dos conteúdos por meio dos expressivos números de experiências bemsucedidas a serem compartilhadas (SÃO PAULO, 2010). Para apresentação dos conteúdos, os documentos oficiais enfatizam a importância da construção dos significados, da narrativa, da problematização e 15 No Anexo A, encontra-se na íntegra a distribuição dos conteúdos apresentados no documento da Proposta Curricular de Matemática do Estado de São Paulo. 85 otimização dos temas. Portanto, consideram que o professor precisa elaborar as suas aulas levando em conta a necessidade de chamar a atenção do aluno, criando ―centro de interesse‖ para o assunto apresentado que não seja apenas como conteúdo programático da disciplina, mas também influenciem nas relações interdisciplinares ou mesmo nas temáticas transdisciplinares16 (SÃO PAULO, 2010, p. 47). As orientações contidas no currículo propõem ao professor autonomia na preparação do planejamento sobre ―o que‖, ―como‖ e ―com que grau de profundidade‖ serão abordados os conteúdos da grade curricular, tendo como objetivo didático pedagógico a flexibilidade de ampliar ou reduzir a atenção da abordagem de um determinado assunto. O currículo proposto considera que os conteúdos apresentados em seus diversos temas devem desenvolver as competências, e ressalta que o proveito dos assuntos está na forma de abordagem feita pelo professor em sala de aula (SÃO PAULO, 2010, p. 51). No material de apoio ao docente (Caderno do Professor) cada bimestre divide o tema principal em oito unidades, que serão exploradas em quatro situações de aprendizagem. Cabe ao professor agora dimensionar o tempo dedicado a cada uma das situações. Quanto à organização dos trabalhos de sala, enfatiza-se nessa orientação a importância do papel do professor na aula expositiva, e sustenta que este pode também utilizar outros recursos, inclusive os advindos das tecnologias informáticas (SÃO PAULO, 2010, p. 53). Em relação à avaliação, o documento sugere ao professor que trabalhe com vários instrumentos: provas, trabalhos, relatos orais, atividades em grupo etc. No tocante à organização das grades curriculares (série/ano por bimestre), a proposta pretende que aconteça a articulação dos diversos temas que fundamentam 16 Quanto à classificação referente aos tipos de interação entre as disciplinas, Japiassú (1976) aponta que a interação pode ocorrer em diferentes níveis de complexidade, e para distinguir esses níveis foram criados os termos interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. 86 o currículo, buscando a formação para as competências pessoais na abordagem dos conteúdos, no sentido de valorizar a cultura e o mundo do trabalho, tendo a escola como uma organização que busca o ensino e também aprende. Como nosso foco é o conceito de frações, introduzido no ―Caderno do Professor‖ para os 6.º e 7.º anos, no próximo capítulo analisaremos as orientações sobre esse conceito expressas na Proposta Curricular de São Paulo e inseridas nos referidos cadernos. 87 6 CONCEITO DE FRAÇÕES: AS ORIENTAÇÕES CONTIDAS NOS CADERNOS DO PROFESSOR (SÃO PAULO, 2008-2010) Apresentamos as orientações contidas na Proposta Curricular de São Paulo sobre os temas e conteúdos a serem trabalhados pelos professores. 6.1 O CADERNO DO PROFESSOR, 5.ª SÉRIE/6.º ANO: VOLUME 1 O Caderno do Professor de Matemática (CP) para 5.ª série/6.º ano do Ensino Fundamental, Volume 1, foi editado em 2008 e 2009. Abordaremos a edição de 2009. Inicialmente, tal material apresenta uma ficha com as seguintes orientações: FICHA DO CADERNO Números: da contagem à medida Nome da disciplina: Matemática Área: Matemática Etapa da educação básica: Série: Período letivo: Ensino Fundamental 5.ª 1.º bimestre de 2009 Aulas semanais: 5 Semanas previstas: 8 Aulas no bimestre: 40 Temas e conteúdos: Sistema de numeração decimal Números naturais Múltiplos e divisores Frações (SÃO PAULO, 2009a, p. 7) O CP é organizado para desenvolver os temas e os conteúdos em oito unidades a serem trabalhadas em oito semanas. As unidades estão apresentadas em um quadro denominado Quadro geral de conteúdos do 1.º bimestre da 5.ª série do Ensino Fundamental, como segue: Unidade 1 – O sistema de numeração decimal: características. Unidade 2 – Significado das operações e resolução de problemas. 88 Unidade 3 – Sequências numéricas e múltiplos de um número natural. Unidade 4 – Divisibilidade e números primos. Unidade 5 – Potenciação. Unidade 6 – Representação fracionária. Unidade 7 – Equivalência de frações. Unidade 8 – Operações com frações. (SÃO PAULO, 2009a, p. 10, grifos dos autores). Ao longo dos cadernos são apresentadas quatro situações de aprendizagem, e cada uma identifica: tempo previsto para desenvolvimento; conteúdos; temas; competências e habilidades, finalizando com estratégias de procedimento, sugerindo e instrumentalizando o professor para as suas aulas. Em sintonia com a forma de abordagem, sempre que possível, são apresentados materiais que podem ser utilizados pelo professor em suas aulas, por exemplos: textos, softwares, sites, vídeos, entre outros. Ao final do desenvolvimento de cada Situação de Aprendizagem são apresentadas ainda considerações sobre a avaliação e conteúdos indispensáveis no desenvolvimento das competências. No caderno da 5.ª série, é apresentado para o 1.º bimestre o estudo com números naturais e as frações. Os autores partem do princípio de que os alunos já tenham trabalhado com os temas de números naturais e fracionários nas séries anteriores. Eles afirmam que nesse momento deve ocorrer uma ampliação do conhecimento acerca desses números (SÃO PAULO, 2009a, p. 9). Os temas são relacionados aos conteúdos e apresentados na forma de quatro Situações de Aprendizagem, descritas na sequência. A Situação de Aprendizagem 1: Sistema de Numeração e suas Operações traz a proposta de desenvolver os temas: Sistema de Numeração Decimal e Números Naturais nas unidades 1 e 2, com objetivo de mostrar que o sistema decimal se baseia em um tipo particular de agrupamento. Essas duas unidades, segundo este material, poderão orientar os alunos a compreender a ideia de 89 correspondência, contagem em agrupamentos de dez unidades e valor posicional dos algarismos. A Situação de Aprendizagem 2: Explorando os Naturais apresenta a proposta do desenvolvimento dos números naturais, múltiplos e divisores, trabalhando os conteúdos das unidades 3, 4 e 5, articuladas por meio de uma sequência de atividades envolvendo exercícios, problemas e construção de tabelas. Essas atividades têm como objetivo a ampliação do conhecimento dos alunos em relação aos conteúdos que tratam os números naturais e, segundo os autores, ―consolidando esses conceitos‖ (SÃO PAULO, 2009b, p. 9). A Situação de Aprendizagem 3 tem o seu foco na passagem dos números naturais para os números racionais, intitulada ―Na Medida Certa: Dos números Naturais às Frações‖, buscando ampliar o conhecimento do aluno sobre fração, introduzindo outras formas de representação (número misto, porcentagem) e ampliando os significados. Essa situação de aprendizagem tem como eixo central a representação fracionária desenvolvido por meio da unidade 6. Na Situação de Aprendizagem 4: Equivalência e Operações com Frações é proposto o aprofundamento do tema frações, desenvolvendo as unidades 7 e 8 que tratam da ideia de equivalência e operações com frações. Com essa situação de aprendizagem, espera-se que os alunos sejam capazes de compreender a ideia de equivalência, comparação, significados e operações (adição e subtração) de frações. Como o tema deste trabalho está relacionado aos números racionais na forma fracionária, neste caderno do professor (CP, v. 1 – 5.ª série), tal tema é abordado com mais ênfase as Situações de Aprendizagem 3 e 4 que tratam de frações. Assim, é importante que façamos uma análise do material. 6.1.1 Situação de Aprendizagem 3: Na medida certa: dos números naturais às frações A terceira Situação de Aprendizagem (SA-3) do primeiro volume tem um 90 tempo previsto para uma semana. Reiteramos que esse caderno pretende trabalhar os conteúdos e temas nas representações fracionárias, medidas e números mistos no intuito de desenvolver as seguintes competências e habilidades: desenvolver a ideia de que medir significa comparar grandezas de mesma natureza; ampliar a noção de número a partir de situações em que, à grandeza tomada como unidade, não cabe um número de vezes na grandeza a ser medida (SÃO PAULO, 2009a, p. 34). As sugestões de estratégias para se trabalharem os conteúdos apresentados são: leitura de texto orientador de aula sobre medidas e frações; atividade prática, envolvendo medidas com unidades não convencionais (SÃO PAULO, 2009a, p. 34). Portanto, tal situação pretende desenvolver o eixo números e operações. O documento afirma que ―as frações estão como temas centrais‖ dentro do eixo números (SÃO PAULO, 2009a, p. 34). As orientações contidas nesse Caderno chamam a atenção para o fato de que para os alunos as ideias de frações ampliam o campo numérico para além do conhecimento de números naturais, ou seja, o foco desta Situação de Aprendizagem é passagem dos números naturais para os racionais. Aqui podemos observar uma aproximação com o que apontaram os documentos de orientações curriculares anteriores como PCN (1998) e a Proposta Curricular (1997). Considera-se ainda ser necessária uma atenção especial na relação entre as duas maneiras de representações desses números (inteiro e fracionário). Destaca-se também a importância no conhecimento do significado das frações nessa ―série‖ (5.ª série/6.º ano), para facilitar posteriormente a transição da escrita na forma decimal a ser trabalhada na ―série‖ seguinte (6.ª série/7.º ano). As orientações contidas no material indicam que para o desenvolvimento dessa situação o aluno deve conhecer também os submúltiplos da unidade que podem ser escritos como frações decimais, exemplo: um décimo ( 1 ), um centésimo 10 91 ( 1 ) etc. (SÃO PAULO, 2009a, p. 34). 100 Sugere-se ainda que o professor faça um diagnóstico para avaliar o conhecimento dos alunos sobre o tema, encaminhando algumas atividades que possam, segundo suas orientações, garantir as noções básicas sobre frações, apresentando a seguinte sugestão: FIGURA 1 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) (SÃO PAULO, 2009a, p. 35) As orientações contidas no Caderno do Professor indicam também que nesse nível de ensino os alunos devem ampliar o conhecimento dos significados desses conceitos, percebendo que o uso de frações se faz necessário para diferentes situações. Chama-se a atenção também para o fato de que a escrita fracionária nem sempre é apresentada na forma numérica ( 1 2 1 , , ), mas também na língua 2 3 10 materna (metade, dois terços, um décimo). Indica-se ainda para porcentagem e a 92 proporção afirmando ser esta outra maneira como as frações são utilizadas: FIGURA 2 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) (SÃO PAULO, 2009a, p. 35) Em seguida, o Caderno do Professor apresenta orientação para utilizar as frações como medidas. Afirma-se que alguns objetos fazem uso da notação fracionária, por exemplo, as réguas graduadas em polegadas ou os medidores de volume (SÃO PAULO, 2009a, p. 35). As orientações contidas no material de apoio ainda fazem referência ao fato de as medidas representarem uma forma de relacionar os Números Naturais e Racionais. Sendo assim, seus autores sustentam que os números naturais são usados para representar contagens e as frações são utilizadas na representação dos processos de medidas. Os autores apresentam um texto para que, segundo o documento, orientar as aulas sob o título ‖Medida e frações‖. Esse texto chama a atenção para o fato de que a fração está ligada ao processo de medida e que uma medida é a comparação entre grandeza sem um determinado padrão. Portanto, segundo esse material de apoio (textos), medir equivale a comparar. Traz, para o professor, a imagem apresentada a seguir, na qual se pretende fazer a comparação quando um objeto-padrão cabe um número inteiro de vezes dentro do objeto. 93 FIGURA 3 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) (SÃO PAULO, 2009a, p. 36) Observamos que na figura o objeto-padrão cabe três vezes dentro do objeto medido; então, pode-se dizer que o objeto mede três unidades do objeto-padrão (3 ÷ 1= 3). Em seguida, apresenta-se um segundo exemplo no qual indica a unidadepadrão de medida subdividida em partes iguais, com a seguinte representação: FIGURA 4 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) (SÃO PAULO, 2009a, p. 36) Observamos que nesse caso a unidade-padrão foi dividida em três partes (três terços). Comparando o objeto com a unidade-padrão obtêm-se nove terços da unidade, e conclui-se que cada unidade-padrão tem três partes, e representa-se assim: 9÷3=3. 94 Em um terceiro exemplo, os elaboradores escolhem a medida do objeto que não corresponde ao múltiplo inteiro do objeto-padrão que será usado. FIGURA 5 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) (SÃO PAULO, 2009a, p. 36) Nesse momento, destaca que nesse caso o objeto-padrão usado na medida ou excede o objeto ou é insuficiente para medi-lo, e a solução é fracionar o objetopadrão em partes menores. Essa mesma ideia é ampliada para a construção do número misto. Em outro exemplo, os autores indicam uma parte do objeto-padrão dividida em três partes menores (três terços), e, comparando ao objeto a ser medido, obtemos onze terços (11÷3), gerando assim outro tipo de número diferente de um número natural. FIGURA 6 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3) (SÃO PAULO, 2009a, p. 36) O documento finaliza sugerindo ao docente que: 95 O argumento desenvolvido nesta atividade agrega um significado importante ao conceito de fração. O estabelecimento da relação entre os processos de medidas e a representação fracionária possibilita ampliar o campo numérico dos alunos dentro de um contexto significativo (SÃO PAULO, 2009b, p. 36). Diante do exposto, fazemos duas observações: a primeira é que o material de apoio ao professor, por nós analisado, parece ter considerado o fato de que os professores dos anos iniciais se utilizam do significado parte-todo para ensinar frações, como afirma Garcia Silva (2007), pois suas orientações partem do pressuposto de que o aluno vai rever tal conceito no mesmo significado. Uma outra observação importante é que essas orientações fazem uso também de estudos como o de Caraça (1951). Portanto, nessa atividade é interessante também observar um importante significado do conceito de fração, que é o estabelecimento de relações entre o processo de medidas e a representação fracionária, ou seja, até então as orientações apresentadas parecem ter a finalidade de mostrar a necessidade dos números racionais para demonstrar o resultado de uma medição. Todavia, para responder às questões, os alunos deverão utilizar um número misto – número natural e fração – para expressar o resultado de uma medida, e, então as propostas avançam no sentido de fazer indicações para a representações destas medidas (frações impróprias) na forma de número misto, indicando mais três atividades. Na primeira atividade, os autores propõem ao professor o trabalho com réguas graduadas em polegadas, que possibilitam a indicação de medidas não inteiras e do número misto, apresentando a seguinte imagem: FIGURA 7 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3, Atividade 1) (SÃO PAULO, 2009a, p. 37) 96 O Caderno do Professor orienta o professor ainda para o fato de que, ao medir um objeto, usando a régua representada na figura anterior, e acusar o valor 3¼ (três inteiros e um quarto ou três e um quarto), temos três polegadas mais um quarto dessa polegada, isto é, temos um número misto (SÃO PAULO, 2009b, p. 37). Em seguida, este caderno procura apresentar o número misto utilizando-se do significado parte-todo: [...] Geometricamente, esse número pode ser representado por meio das figuras abaixo: As figuras anteriores mostram três círculos inteiros mais um quarto de círculo. Como um inteiro equivale a quatro quartos, temos que: Então, o número misto 3 pode ser escrito como a soma de três parcelas de quatro quartos mais uma parcela de um quarto, que resulta em treze quartos. FIGURA 8 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3, Atividade 1) (SÃO PAULO, 2009a, p. 37) Analisando tal proposta, observamos um esforço dos autores para relacionar 97 os números mistos apresentados pela medida de régua graduada e a representação ―geométrica‖. Parece que houve uma tentativa de relacionar a representação utilizando a ideia de parte-todo. A próxima atividade apresenta a medida de alguns objetos com o uso de régua graduada em polegadas e propõe que essas medidas observadas na régua sejam escritas na forma de número misto ou na forma de fração. Apresenta como proposta a medida de três objetos: caneta, borracha e tesoura, representados pela seguinte imagem: FIGURA 9 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-3, Atividade 2) (SÃO PAULO, 2009a, p. 38) A última atividade (Atividade 3) propõe aos alunos que façam medições em objetos adotando um objeto-padrão escolhido, como medir o comprimento de um livro usando um lápis, medir o comprimento de uma mesa usando um livro e medir o comprimento da sala usando um cabo de vassoura, com o objetivo de que o aluno perceba que, às vezes, é necessário fracionar uma unidade em um processo de medida, verificando-se que essas frações e os números mistos permitem expressar esses valores, cuja unidade não cabe um número inteiro de vezes no objeto medido (SÃO PAULO, 2009a, p. 38). Quanto a essa proposta, consideramos que trabalhar com unidades de medidas não convencionais é fundamental. Todavia, cabe a observação de que a utilização de objetos como caneta, lápis, livros etc., como unidade de medida, pode não ser uma boa opção, uma vez que é possível subdividi-los. Uma boa sugestão para que o professor desenvolva o trabalho com esse tema seria o uso de uma fita de papel como unidade de medida, posto que tal material nos permite dobrar, cortar e assim comparar os dois comprimentos. 98 A respeito das considerações sobre a avaliação, segundo o documento analisado, espera-se que aluno no final dessa situação de aprendizagem compreenda o significado sobre numerador e denominador; nomeie uma fração com nomenclatura correta; compreenda o processo de medida, relacionando-a com a representação fracionária; e compreenda também o significado de número misto, e consiga transformá-lo em uma fração. O texto introdutório leva em consideração pesquisas que afirmam que partetodo é mais estudado e parece sofrer influência do trabalho do Caraça (1951). 6.1.2 Situação de Aprendizagem 4: Equivalência e operações com frações A Situação de Aprendizagem 4 (AS-4) do primeiro volume tem um tempo previsto para duas semanas e pretende trabalhar os conteúdos e temas: frações equivalentes; frações de um número; operações entre frações; adição e subtração, no intuito de desenvolver as seguintes competências e habilidades: obter frações equivalentes de uma fração dada; saber fazer comparações entre frações com uso de sinais de desigualdade, duas frações com denominadores diferentes; calcular fração de um número; saber efetuar operações de adição e subtração entre duas frações com denominadores diferentes (SÃO PAULO, 2009a, p. 39). As sugestões de estratégias para trabalhar os conteúdos apresentados são o desenvolvimento de atividades e exercícios, envolvendo equivalência de frações, comparações; texto orientador de aula sobre a relação entre frações e língua materna. No roteiro para explicação da Situação de Aprendizagem 4, os elaboradores indicam suas orientações afirmando que ―a noção de equivalência talvez seja uma das mais importantes no estudo das frações‖ (SÃO PAULO, 2009a, p. 39). Os elaboradores apresentam a ideia de equivalência por meio da representação parte-todo. A igualdade naquilo que vale é a equivalência, e nas frações, a equivalência é 99 a relação da parte com o todo, por exemplo, os retângulos abaixo foram divididos em partes (1, 2, 3 e 4 partes) (SÃO PAULO, 2009a, p. 40) FIGURA 10 – Atividade exemplar (CP, 5.ª série/6.º ano, volume 1, SA-4) (SÃO PAULO, 2009a, p. 40) Os autores objetivam, por meio da representação geométrica, mostrar que as frações que representam as partes pintadas em cada retângulo são equivalentes a Os elaboradores do material ressaltam que as frações podem gerar várias frações equivalentes e, para tanto, basta multiplicar o numerador e denominador por um mesmo número com valor diferente de zero. Os autores do CP enfatizam que o professor deve garantir alguns procedimentos importantes que os alunos utilizarão na série seguinte, como o estudo de frações, decimais e porcentagem. Um desses procedimentos é encontrar a fração equivalente, propondo transformar o denominador em 100. Em seguida, sugerem aos docentes que proponham aos alunos atividades que normalmente são encontradas em livros didáticos, por exemplo, obter frações equivalentes: 100 Ou a comparação entre duas frações usando os sinais de igualdade e desigualdade (=, >, <), com: a) Denominador fixo: b) Numerador fixo: c) Numeradores e denominadores diferentes. Neste último caso, fazem-se indicações para que se resolva por meio de raciocínio lógico, ou seja, determinar o denominador comum das frações equivalente, tornando os denominadores iguais. O documento apresenta o próximo assunto sobre o tema frações e língua materna. Essa atividade propõe encaminhar os significados das frações, usando a língua materna. No primeiro momento, apresenta também o significado da fração de um número; em seguida, os autores chamam a atenção para o fato de que a tradução dessa operação na língua materna favorece a compreensão desse tipo de cálculo. Por exemplo: o que significa. Para responder, os autores propõem recorrer a nomenclatura das frações para entenderem melhor o significado de (um meio) metade e 3 1 x 42. Assim, indicam que significa 7 2 1 (um quinto) que significa a quinta parte. 5 Nos dois casos apresentados, estes autores chamam a atenção para o fato de que a fração sozinha significa a parte de um todo e que a palavra ―de‖ dá a ideia de que se trata de cálculo de uma fração por uma unidade. Quando a fração se refere a um número, estamos calculando a parte desse número, não a unidade, assim 3 x 42 significa calcular 3 sétimos de 42, ou seja, 3 vezes a sétima parte de 7 101 42. Se 1 de 42 (é a sétima parte de 42) obtém-se ―6‖. Então, três vezes a sétima 7 parte que são seis tem-se como resultado 18. A preposição ―de‖ é substituída pela operação de multiplicação. [...] A primeira é o fracionamento ou a divisão do número natural pelo denominador da fração. A segunda é a multiplicação do resultado anterior pelo numerador. As frações unitárias são um caso particular em que o numerador é 1 e, portanto, não altera o produto final (SÃO PAULO, 2009a, p. 43). Portanto, o documento apresenta o recurso de usar a língua materna na construção do significado das operações com frações (adição e subtração) com os mesmos denominadores e denominadores diferentes. Com denominadores iguais, as operações, segundo os autores das orientações, podem ser reduzidas a uma operação de números naturais. Para esse entendimento, propõe-se escrever a expressão na linguagem mista (parte numérica e parte escrita), exemplo: Observamos aqui o uso da linguagem mista; neste caso, a soma é lida entre equivalentes, como somar 2 laranjas com 4 laranjas. [...] A ideia é que os denominadores constituem o referencial de equivalência que permite realizar uma operação entre frações como se fosse uma operação entre números naturais (SÃO PAULO, 2009a, p. 43-44, grifos dos autores). O mesmo procedimento se aplica à operação de subtração de frações com denominadores iguais apresentada anteriormente, ou seja, antes de a operação determinar o denominador comum, exemplo (SÃO PAULO, 2009a, p.44): 102 O mesmo se aplica às operações com subtração entre frações. Acreditam os autores que a atividade descrita por meio do uso da linguagem materna pode garantir o entendimento do significado dos conceitos desenvolvidos e, a partir daí, o professor pode usar somente a linguagem fracionária. Nas considerações finais, são apresentadas quatro principais expectativas de aprendizagem referentes aos conteúdos do 1.º bimestre da 5.ª série: 1. Compreender as principais características do sistema decimal. 2. Conhecer as características e elementos do conjunto dos números naturais. 3. Usar frações para representar medidas, não inteiras; noção de equivalência entre frações. 4. Compreender os procedimentos e significados das operações de adição e subtração de frações. O caderno finaliza com o quadro de conteúdos de matemática por série/bimestre do Ensino Fundamental (ver Anexo A, p. i). 6.2 O CADERNO DO PROFESSOR, 5.ª SÉRIE/6.º ANO: VOLUME 2 O Caderno do Professor de Matemática para 5.ª série/6.º ano do Ensino Fundamental – Volume 2 – 2009. Inicialmente apresenta a seguinte Ficha: 103 FICHA DO CADERNO Números decimais e sistemas de medidas Nome da disciplina: Matemática Área: Matemática Etapa da educação básica: Série: Período letivo: Ensino Fundamental 5.ª 2.º bimestre de 2009 Aulas semanais: 5 Semanas previstas: 8 Aulas no bimestre: 40 Temas e conteúdos: Representação de um número decimal; Operações com decimais: múltiplos e submúltiplos da unidade; Unidades de medida de comprimento, massa e capacidade. (SÃO PAULO, 2009b, p. 7) Este caderno é organizado para desenvolver os temas em oito unidades de conteúdos: Unidade 1 – A notação decimal: representação. Unidade 2 – Múltiplos e submúltiplos da unidade. Unidade 3 – Números decimais e frações decimais. Unidade 4 – Operações com decimais – adição e subtração. Unidade 5 – Medidas informais. Unidade 6 – Sistema métrico decimal. Unidade 7 – Unidades de massa. Unidade 8 – Unidades de capacidade. (SÃO PAULO, 2009b, p.10, grifos dos autores). As temáticas relacionam-se com os conteúdos e são apresentados na forma de quatro situações de aprendizagem, a saber. A Situação de Aprendizagem 1: ―O Soroban e os números decimais‖, apresenta a proposta de desenvolver o tema: ―Representação de Números Decimais‖, e tem como finalidade desenvolver a capacidade da leitura e escrita da notação decimal com a construção e uso do Soroban (ábaco japonês). Essa 104 situação propõe o desenvolvimento das unidades 1 e 2. Já na Situação de Aprendizagem 2: ―Equivalências e operações com decimais‖, o documento desenvolve a ―Representação de números decimais e Operações com decimais‖, engloba as Unidades de 1 a 4 e tem como principal foco nas atividades propostas o uso da língua materna dando significado para representação fracionária e decimal. Apresenta ainda a ideia de frações equivalentes entre números racionais. Na Situação de Aprendizagem 3 ―Medidas não padronizadas‖, apresenta o desenvolvimento do ―Sistema métrico decimal: múltiplos e submúltiplos da unidade. Contemplam as unidades de 5 a 8. Nessa situação e explorado o uso de unidades não convencionais para medir alguns objetos, com o objetivo de verificar que medir sempre resulta em comparar grandezas de mesma natureza. Na Situação de Aprendizagem 4 ―Medidas e transformação‖, apresenta a proposta de aplicação do ―Sistema Métrico decimal: unidades de comprimento, massa e capacidade‖, cujo objetivo é que o aluno faça estimativas das medidas de objetos, escolhendo unidades mais adequadas, transforme unidades de medidas envolvendo múltiplos e submúltiplos do Sistema Métrico Decimal. Os objetivos descritos nas Situações de Aprendizagem no Caderno são retomados de forma mais ampla nas considerações finais. A finalidade do desenvolvimento do trabalho é permitir que o aluno: 1) compreenda o uso da notação decimal na representação de quantidade não inteiras, assim como a ideia de valor posicional; 2) compreenda os procedimentos e significado das operações (adição e subtração) decimais, bem como transformação destes números em frações decimais; 3) realizar medidas usando padrões e unidades não convencionais, conhecer outros sistemas de medidas; 4) conhecer as principais características do Sistema Métrico Decimal: Unidades, Transformações e Medidas (SÃO PAULO, 2009b, p. 52) Com o objeto principal deste trabalho está relacionado ao conceito de 105 números racionais na forma fracionária, descreveremos a seguir somente a Situação de Aprendizagem 2, apresentada no Caderno do Professor. A Situação de Aprendizagem 2 inicia apresentando a divisão de 6 por 5, justificando que dentro dos campos dos números naturais essa operação não poderia ser prosseguida. Afirma-se que com a introdução dos números racionais essa operação pode ser representada nas formas 6 1 1 ou 1 (número misto). Transformando em uma 5 5 5 fração equivalente com denominador 10, obtemos o resultado 1 2 . 10 Assim, segundo as orientações do Caderno do Professor, verifica-se que o número 6 pode ser representado por um decimal 1,2 (um inteiro e dois décimos). 5 O documento chama a atenção ainda para o fato de que a notação decimal sintetiza a representação numérica inteira e fracionária em uma só (SÃO PAULO, 2009b, p. 22), e afirma que o número decimal corresponde à divisão do numerador pelo denominador da fração e é representado por duas partes, separadas por uma vírgula, cujo valor à esquerda da vírgula é representado por múltiplos da unidade (dezena, centena, milhar etc.), e à direita, a parte não inteira representa os submúltiplos da unidade (décimo, centésimo, milésimo etc.). Nessa situação de aprendizagem, são apresentadas também várias atividades (total 11). Como já descrevemos, a primeira atividade propõe a escrita dos números racionais na forma de fração decimal, na linguagem mista e na notação decimal (unidade, décimo, centésimo e milésimo). O quadro da Fig. 11 apresenta parte dessa atividade. 106 FIGURA 11 – Correspondência entre as quatro primeiras casas decimais e as frações decimais (SÃO PAULO, 2009b, p. 24) O documento observa que essa atividade apresenta uma forma de aprofundar os significados da escrita de fração decimal, linguagem mista e a notação decimal. Na atividade 2, a proposta é decompor números decimais usando a linguagem mista, fracionária e decimal, exemplo: 0,35 = 3 décimos + 5 centésimo = 3 5 0,3 0,05 (SÃO PAULO, 2009b, p. 25). 10 100 Nas atividades 3 e 4, são apresentadas figuras de quadriláteros que são divididas, trabalhando-se unidade, décimo e centésimo. A atividade 3 apresenta figuras que têm as referências apresentadas com o quadrado maior, sendo a unidade, o retângulo representando o décimo e o quadrado menor, o centésimo. Essa atividade propõe escrever o significado da figura na linguagem mista e na forma decimal, como mostra o quadro: 107 FIGURA 12 – Representação das figuras em linguagem mista e forma decimal (SÃO PAULO, 2009b, p. 27) Por meio das figuras, os alunos poderão observar com mais facilidade a relação de equivalência entre submúltiplos da unidade. 108 FIGURA 13 – Relação de equivalência entre submúltiplos da unidade (SÃO PAULO, 2009b, p. 28) O documento apresenta, em seguida, a atividade (4) que propõe aos alunos estabelecer a equivalência entre múltiplos das unidades (use para indicar o fracionamento da unidade). FIGURA 14 – Relações de equivalência entre alguns submúltiplos da unidade (SÃO PAULO, 2009b, p. 28) O objetivo desta atividade é chamar a atenção sobre as relações de equivalência, ideia importante que, segundo seus autores, mostra a realização das operações com números decimais. As atividades 5, 6 e 7 destacam o procedimento de multiplicação e divisão de um número decimal por múltiplos de dez. A prática com essas atividades acaba 109 sistematizando o ―deslocamento da vírgula‖. O quadro a seguir sintetiza as estratégias práticas discutidas: QUADRO 3: Estratégias práticas Multiplicações por potências 10 Divisão por potência de 10 Os algarismos se deslocam para esquerda A vírgula se desloca para direita Os algarismos se deslocam para direita A vírgula se desloca para direita Fonte: SÃO PAULO, 2009b, p. 30 Na atividade 8, os autores propõem comparar valor de números com o uso dos símbolos <, > ou = e apresenta aqui a equivalência entre números decimais para fundamentar os princípios das operações com esses números, que servirá de base na fundamentação das operações com decimais. A ideia principal é que toda operação entre frações decimais ou números decimais possa ser reduzida a uma operação entre números inteiros. Apresentamos os exemplos: a) b) 2 10 + 5 10 = 7 10 2 décimos mais 5 décimos Igual a 7 décimos 0,2 + 0,5 = 0,7 2 décimos mais 5 décimos Igual a 7 décimos Nesta atividade os autores chamam a atenção para: No caso da operação entre números decimais, é preciso que eles tenham o mesmo número de casas decimais. Escrever números que tenham o mesmo número de casas decimais é equivalente a escrever frações decimais denominador (SÃO PAULO, 2009, p.33). O mesmo procedimento é indicado para ser usado na subtração de fração. No 110 caso de os denominadores das frações serem diferentes, é necessário, segundo esse mesmo documento, obter o denominador comum entre elas. Na atividade 9, os exercícios propostos são transformar as frações de maneira que tenham denominadores iguais. Em seguida, o estudante deve efetuar as operações de soma e subtração. Exemplo: 7 15 100 1000 70 15 85 1000 1000 1000 Observa-se aqui a preocupação com a linguagem, uma vez que apresenta seu enfoque para o trabalho com frações com denominadores de potências de 10. Portanto, a atividade 10 enfatiza o uso da linguagem mista, fazendo as transformações para as mesmas unidades e efetuando as operações. Exemplos: 8 décimos + 7 centésimos = 80 centésimos + 7 centésimos = 87 centésimos Observamos que a proposta desta atividade é, antes de realizar a operação, transformar a linguagem mista em mesma notação. Por fim, finaliza com atividade 11, propondo a soma e subtração entre números decimais. Exemplo: 111 A ideia nesta proposta é que se faça a montagem para o cálculo, estabelecendo o valor posicional dos números em suas respectivas colunas. Observamos aqui uma tentativa de aproximação interessante aos princípios já observados em orientações contidas em outros documentos como os PCN (1998), por exemplo. Nesse documento, há indicações para que se considere como um dos princípios norteadores da matemática o fato de que o ensino da disciplina deve garantir: o desenvolvimento de observação; estabelecimento de relações; comunicação; diferentes linguagens; argumentação e validação de processos; e o estímulo às formas de raciocínio como a intuição, indução, dedução, analogia, estimativa. Acreditamos que o desenvolvimento adequado desta proposta por nós discutida pode, se bem conduzida, favorecer o estabelecimento entre a linguagem materna e a matemática. Nas considerações finais, são apresentadas três principais expectativas de aprendizagem referentes aos conteúdos do 2.º bimestre da 5.ª série: 1. Compreender o uso da notação decimal para representar quantidades não inteiras, bem como a ideia de valor posicional; 2. Compreender os procedimentos e o significado das operações de adição e subtração de números decimais, bem como as transformações dos mesmos em frações decimais; 3. Realizar medidas usando padrões e unidades não convencionais; conhecer outros sistemas de medida (SÃO PAULO, 2009 c, p.52). Analisando tais expectativas, acreditamos que elas poderão ser atingidas. Para tanto, é necessário que o professor possua o conhecimento dos fundamentos que estruturam o trabalho proposto. Outro Caderno que apresenta uma proposta que objetiva desenvolver o conceito de fração, agora ligado a ideia de área, é o Caderno do Professor, 5,ª série, volume três. 6.3 O CADERNO DO PROFESSOR, 5.ª SÉRIE/6.º ANO: VOLUME 3 O Caderno do Professor de Matemática para 5.º série/6.º ano do Ensino 112 Fundamental – Volume 3 – 2009 apresenta inicialmente a seguinte Ficha: FICHA DO CADERNO Formas Geométricas, Perímetro e Área Nome da disciplina: Matemática Área: Matemática Etapa da educação básica: Série: Período letivo: Ensino Fundamental 5.ª 3.º bimestre de 2009 [...] Temas e conteúdos: Formas Geométricas Planas; Figuras Geométricas Espaciais; Composição e Decomposição de Figuras; Simetria, Perímetro e Área. (SÃO PAULO, 2009c, p. 7) O caderno é organizado para desenvolver os temas e os conteúdos em oito unidades a serem trabalhadas em oito semanas. As unidades estão apresentadas em um quadro denominado quadro geral de conteúdos do 3.º bimestre da 5.ª série do Ensino Fundamental, e nele encontramos as unidades: Unidade 1 – Observação de figuras planas: semelhanças e diferenças; Unidade 2 – Observação de figuras espaciais: semelhanças e diferenças; Unidade 3 – Classificação de figuras e ampliação do vocabulário geométrico; Unidade 4 – Propriedades elementares dos polígonos, simetria, malhas e geoplano; Unidade 5 – Investigação de padrões, regularidades, propriedades elementares de figuras geométricas e simetria; Unidade 6 – Figuras espaciais: construção, planificação e representação de vistas; Unidade 7 – Perímetro e área de figuras por composição, decomposição ee simetria; Unidade 8 – Perímetro e área de figuras por composição, decomposição e simetria. (SÃO PAULO, 2009c, p.10, grifos dos autores). 113 As unidades apresentadas são desenvolvidas por meio de quatro situações de aprendizagem, relacionadas aos conteúdos básicos do bimestre descritos a seguir. O estudo de geometria nesse caderno traz a proposta de como iniciar o reconhecimento, observação e classificação de figuras planas e espaciais. Entretanto, em suas orientações, observamos que o enfoque nas frações também está presente. Como nosso estudo é o número racional na forma fracionária, apresentamos a Situação de Aprendizagem 3 que trata desse tema na atividade número 9. 6.3.1 Situação de Aprendizagem 3: Geometria e Frações com Geoplano ou Malha Quadriculada A atividade 9 propõe a construção de um geoplano (placa de madeira, riscada de forma quadriculada com quadrados de mesmo tamanho contendo um prego em cada vértice). Os autores informam que para investigação geométrica da adição e subtração de frações é necessário estabelecer uma orientação, como no plano cartesiano. Chamam atenção também para o fato de que orientando as linhas e colunas do geoplano com números associa-se a cada prego (ponto no geoplano) um par ordenado (p,q), podendo ser fração representam as frações. p , exemplo, na figura do geoplano os pontos q 114 FIGURA 15 – Geoplano (SÃO PAULO, 2009d, p. 35) Com o uso de um elástico colocado entre os pregos, como indicado na figura do item I, é possível representar todas as frações com denominadores 5; no item II todas as frações que representam um número natural, e no item III frações equivalentes. FIGURA 16 – Geoplano (SÃO PAULO, 2009d, p. 36) Com essa atividade, segundo seus autores, é possível observar: frações com mesmo denominador, alinhadas horizontalmente; frações impróprias que estão na diagonal, passando pela origem ou à direita da origem; e as frações equivalentes que estão alinhadas com a origem entre si (SÃO PAULO, 2009d, p. 36). 115 Em seguida, usando o geoplano, o material apresenta o procedimento para adição com frações. Inicia com o exemplo, 1 2 . Primeiro, marcam-se no geoplano 2 3 com uso de elásticos as frações equivalentes de cada fração, em seguida procuramse frações dos conjuntos marcados que estão na mesma linha horizontal, encontrando, assim, o resultado da soma adicionando os numeradores da fração. Ver figura. FIGURA 17 – Geoplano (SÃO PAULO, 2009d, p. 36) Segundo os elaboradores, a próxima tarefa é fazer a ordenação de um subconjunto de frações. Eles propõem ordenar duas frações distintas representadas por (m,n) e (r,s); para tanto, amarra-se um barbante no prego da origem, alinhando sobre o eixo horizontal (p), e, em seguida, rotaciona-se o barbante no sentido antihorário, encontrando-se na primeira intersecção a maior fração que é r que tem o s menor denominador (s). Chamam a atenção para o fato de que tal fração é aquela representada pelo ponto mais próximo do eixo p. ( r m > ). s n 116 FIGURA 18 – Geoplano (SÃO PAULO, 2009d, p. 37) Os autores enfatizam ainda que a atividade deve ser explorada por meio da investigação experimental, intuitiva, mas sem formalismo. Outras atividades apresentadas referem-se à exploração da ideia de frações equivalentes, enumerabilidade de conjuntos numéricos e densidade. A ideia do exercício é imaginar que o geoplano é uma floresta e os pregos são árvores bem finas. Estando uma pessoa na origem do geoplano olhando para essa floresta, quais árvores seriam visíveis? A árvore representada pelo par ordenado (3,6), que é a fração ( vista, pois teria à sua frente as árvores correspondentes à 3 ), não seria 6 2 1 e , ou seja, nessa 4 2 linha de olhar só seria vista a árvore representada pela fração 1 . 2 Explorando essa ideia, os autores afirmam que só seria visível no ponto (p, q) do geoplano se p e q fossem números primos, ou seja, as árvores visíveis seriam aquelas formadas por frações irredutíveis p . Essa situação exemplifica que, para q 117 identificar a fração irredutível de 4 , é necessário, segundo o descrito no Caderno do 8 Professor, ligar os pontos (4,8) e (0,0), gerando um seguimento cuja fração mais próxima do (0,0) é (1,2) [é a única visível que encobre (4,8)]. FIGURA 19 – Geoplano (SÃO PAULO, 2009d, p. 38) Os autores partem da informação de que o conjunto dos números racionais é enumerável, o que, segundo eles, ―significa dizer que podemos estabelecer uma correspondência biunívoca entre o conjunto dos racionais e dos números naturais‖ (SÃO PAULO, 2009d, p. 38). Observamos aqui que há por parte dos autores a intenção de mostrar que as frações irredutíveis com denominador 1 estabelecem uma relação biunívoca com os números naturais. Essa situação foi representada geometricamente da seguinte forma: 118 FIGURA 20 – Geoplano (SÃO PAULO, 2009d, p. 38) Entendemos que, dessa forma, os autores pretendiam indicar a enumerabilidade dos racionais. Nas considerações finais, é observado que este caderno do 3.º bimestre, 5.ª série, é dedicado ao estudo introdutório de geometria plana e espacial e aborda a utilização do geoplano para ―explorar as operações de adição e subtração de frações, bem como de se apresentar as frações equivalentes, frações próprias e frações impróprias em um contexto de resolução de problemas‖ (SÃO PAULO, 2009d, p. 38). Mais uma vez, acreditamos que o conhecimento profissional docente é fundamental para o desenvolvimento vitorioso de tal proposta, uma vez que, por se tratar de uma proposta diferenciada, o professor precisa ter um conhecimento das características do conjunto de números racionais para que desenvolva tal proposta com segurança. Caso contrário, tal situação poderá ser desenvolvida como mais um procedimento sem relações com conceitos de fração. Ainda a respeito da construção do conceito de fração, encontramos uma proposta também no Caderno do Professor da 6.ª série/7.º ano, volume 1, a qual descreveremos a seguir: 119 6.4 O CADERNO DO PROFESSOR, 6.ª SÉRIE/7.º ANO: VOLUME 1 O Caderno do Professor de Matemática para 6 série/7.º ano do Ensino Fundamental – Volume 1 – 2009 é apresentado da mesma maneira que os cadernos da série anterior. Inicialmente, apresenta a seguinte Ficha: Sistemas de numeração: da história às operações com frações, decimais e negativos. Nome da disciplina: Matemática Área: Matemática Etapa da educação básica: Ensino Fundamental Série: 6.ª Período letivo: 1.º bimestre de 2009 Temas e conteúdos: Sistemas numéricos, frações e decimais; Sistema posicional de numeração; Equivalência entre frações e decimais; Operações com frações (multiplicação e divisão) e decimais (.); Números negativos Em seguida, é apresentado o quadro geral de conteúdos do 1.º bimestre da 6.ª série do Ensino Fundamental, divididos em oito unidades a serem trabalhadas: Unidade 1 – Avaliação diagnóstica e sistema posicional de numeração; Unidade 2 – Sistemas antigos de numeração; Unidade 3 – Decimais e frações/Divisão com decimais; Unidade 4 – Multiplicação com frações; Unidade 5 – Divisão com frações; Unidade 6 – Soma e subtração com negativos; Unidade 7 – Multiplicação e divisão com negativos; Unidade 8 – Expressões numéricas na resolução de problemas. 120 Como já afirmamos, tais unidades são ligadas a quatro Situações de Aprendizagem, e estas se relacionam aos conteúdos básicos do bimestre, os quais serão brevemente descritos: Para iniciar o trabalho com os alunos da 6.ª série, o material de apoio e o Caderno da 5.ª série também trazem uma sugestão para que, em um primeiro momento, o professor faça de maneira informal uma avaliação diagnóstica para identificar o conhecimento dos alunos quanto à resolução de problemas, envolvendo as quatro operações com números naturais, além de adição e subtração com frações e adição, subtração e multiplicação com decimais. O documento indica que o 1.º bimestre da 6.ª série será dedicado ao eixo números, com objetivo de que o aluno tenha progresso no conhecimento numérico de ordem quantitativa, ou seja, a expansão do campo dos números naturais para os números inteiros, e qualitativa, já que se espera uma ampliação da ideia de fração. Na Situação de Aprendizagem 1, ―Investigando Sistemas de Numeração do Egito ao Computador‖, apresenta-se a proposta de desenvolver os temas ―Sistemas Numéricos, Frações e Decimais‖ e ―Sistema Posicional de Numeração‖, cuja finalidade é o aluno reconhecer, por meio da história dos sistemas de numeração, a construção da ideia e do conhecimento matemático, que é estabelecer comparações e semelhanças em diferentes sistemas de numeração, decodificar a estrutura lógica da escrita matemática e transpor a ideia do sistema em aplicações práticas na computação. A proposta para realizar essa situação de aprendizagem é o desenvolvimento das unidades 1 e 2. A Situação de Aprendizagem 2, ―Frações e Decimais: Um Casamento com Significados‖, relaciona-se com o tema ―Equivalência entre Frações e Decimais‖ e ―Operações com Frações e Decimais‖, cuja finalidade é estabelecer a relação entre conceitos e linguagem de Frações, Decimais e Porcentagem. Vale ressaltar que para esta Situação de Aprendizagem a proposta é desenvolver as unidades 3, 4 e 5. A Situação de Aprendizagem 3, ―Multiplicação e Divisão com Frações‖, tem como finalidade: ampliar as operações aritméticas envolvendo multiplicação e divisão de 121 frações na resolução de problemas; fazer transferência entre linguagens e identificar essas operações em contexto concreto; utilizar a ideia de equivalência como recurso na resolução de problemas aritméticos com frações e compreender o uso do conectivo ―de‖ na linguagem escrita/oral quando associado à operação com frações. Assim como a anterior, os temas dessa situação de aprendizagem relacionam-se diretamente com o desenvolvimento das propostas das unidades 3, 4 e 5. A última Situação de Aprendizagem é a 4, ―Números Negativos: Desvendando as Regras de Sinais‖, que propõe desenvolver o tema ―Números Negativos‖. Sua finalidade é permitir que o aluno compreenda os significados e operações, com o uso de números negativos em situações concretas e no contexto matemático, que justifiquem o uso desse tipo de números, desenvolvendo as unidades 6 e 7. Finalmente, na unidade 8, observa-se uma sistematização dos assuntos do bimestre, apresentando a proposta de trabalhar com expressões numéricas, resolução de exercícios, significados e problemas concretos e desafiadores que de maneira direta ou indireta relaciona o estudo de todas as ―Situações de Aprendizagem‖ apresentadas neste Caderno do Professor. Sendo assim, observamos que, nesse segmento de ensino, as frações são tratadas em duas Situações de Aprendizagem. Como essa é a temática do nosso estudo, descreveremos com mais detalhes as Situações 2 e 3. A Situação de Aprendizagem 2, como dissemos, procura estabelecer a relação entre conceitos e linguagem de frações, decimais e porcentagem. Inicia-se justificando para o professor a escolha do encaminhamento dado da seguinte forma: Nosso sistema de numeração é posicional, de base 10, e nele conseguimos escrever qualquer número natural utilizando apenas dez símbolos, que são os algarismos de 0 a 9. O primeiro fato que nos interessa é mostrar que tal sistema pode ser estendido para a representação de números inteiros, bastando para isso interpretar os algarismos à direita da vírgula como indicativos de divisões por potências de 10 (SÃO PAULO, 2009e, p. 27). Observamos que as orientações contidas no material procuraram mostrar a possibilidade de o professor relacionar as características do Sistema de Numeração 122 Decimal a outros conjuntos numéricos, e não só os Naturais. Como exemplo, os autores utilizam-se do número 4735,8902 para mostrar que ele pode ser representado utilizando a base 10, como podemos observar na figura abaixo: O exemplo apresentado pode ser utilizado para atribuir o significado às potências de expoentes negativos, usando regularidades e equivalência, por exemplo: ÷ 10 1 é equivalente a × 10 1 (SÃO PAULO, 2009e, p. 27). Para introduzir a representação fracionária, o material chama a atenção para outro significado, destacando o fato de que os alunos já terem estudado a fração em anos anteriores, provavelmente vivenciando a concepção de fração como uma relação entre parte (numerador) e todo (denominador), estabelecendo nesse momento que a fração representa também o resultado da divisão do numerador pelo denominador. Para esse segmento (6.ª série/7.º ano), tal orientação propõe a construção do conceito pelo significado ―Quociente‖ a partir do significado parte-todo. Segundo esse mesmo documento, a ideia de parte-todo teria sido trabalhada em anos anteriores. Tal afirmação nos leva a inferir que esse documento leva em conta estudos brasileiros que apontam a predominância no ensino do significado partetodo ( CANOVA, 2006; DAMICO, 2007; SILVA, 2007). 123 Em seguida, o documento apresenta a representação de duas outras situações envolvendo dois significados. Inicialmente, por meio da figura a seguir, representa-se uma ideia da fração Este documento afirma que 3 : 4 3 , nesse caso, representa três partes de um bolo 4 dividido em quatro partes iguais (parte-todo). Em seguida, ele indica uma outra situação em que os mesmos 3 representam a situação quociente, ou seja, três 4 bolos divididos igualmente para quatro crianças (representado na figura abaixo) Como já afirmamos, observamos que a ampliação da apresentação de frações partindo da interpretação envolvendo a ideia de parte-todo e ampliando-se para quociente nos parece estar considerando estudos relacionados à temática. Podemos confirmar tal fato observando que diferentes estudos nacionais e internacionais, como os de Kerslake, (1986); Behr, Harel, Post & Lesh, (1992); Damico (2007) e Canova (2006), entre outros, assim como documentos oficiais como os PCN (1998), apontam que na prática de sala de aula, em especial nos anos finais do Ensino Fundamental, é frequente abordar o conceito de fração, reduzindo-o apenas aos significados parte-todo e ampliando na maioria dos casos somente à situação Operador. 124 Portanto, partir do que ―culturalmente‖ se encontra na sala de aula parece-nos uma boa estratégia, uma vez que a proposta é ampliar o espectro de significados vivenciados pelos estudantes. Para ampliar o campo da linguagem matemática dos novos significados das frações, os autores do material de apoio indicam uma lista de exercícios que reflitam sobre a forma de como abordar o assunto (SÃO PAULO, 2009e, p. 28). Para tanto, inicia com um problema envolvendo a divisão de um número natural por um número escrito na forma fracionária: Um professor propôs para seus alunos o seguinte problema: Cláudia tem 18 metros de arame. Ela corta do arame para fazer uma tela, que será usada na nova casa do seu cachorro. Que comprimento de arame ela vai utilizar na construção dessa tela? Justifique sua resposta. Em seguida, pede-se que os alunos analisem as respostas dadas por três estudantes: João: 3,6 metros por que 18 : 5 é igual a 3,6 Ana: 1 1 de 15 é igual a 3. Como eu quero de 18, e 18=15+3, então o 5 5 comprimento usado de arame será ―3 mais Léo: 1 de 3‖. 5 1 em decimal é 0,2, então, eu multipliquei 0,2 por 18 e obtive 3.6. 5 Qual(is) dos estudantes está(ao) certo(s)? Apresenta a proposta ainda, como resposta, a indicação de que os três estudantes estão certos e uma observação indicando que Ana encaminhou o 3 problema para o número misto 3 . Analisando a resposta, acreditamos que ela 5 poderia ser apresentada de forma ampliada, pois já é apontada em diferentes pesquisas a existência de dificuldades, por parte dos professores, em tratar da 125 temática. Acreditamos que uma análise de cada processo poderia ser uma fonte de formação ao docente. Outro ponto importante a salientar é que, segundo as orientações contidas no Caderno do Professor, a ideia é ampliar o conhecimento de equivalência em diferentes significados no trabalho com frações (SÃO PAULO, 2009e, p. 28). Todavia, nas orientações não há nenhuma indicação de qual significado cada resposta utilizou. Em seguida, o material propõe ao professor a exploração da equivalência nas representações 2 e 2 5 5, na forma geométrica, justificando o conceito do resultado parte-todo e quociente. As fatias laranja correspondem: Cada pessoa receberá de uma 2 5 pizza ou 2 da pizza. 5 A parte laranja é igual a todas as outras. Aqui observamos novamente a preocupação em proporcionar ao aluno vivências com situações envolvendo tanto o significado parte-todo como quociente. Em seguida, o material de apoio apresenta atividades abrangendo malhas que indicam frações correspondentes. A atividade mostra três quadrados de mesma medida; o 1.º quadrado é dividido em 10 partes iguais, sendo pintadas 2 dessas 10. A fração que representa é 2 . 10 126 O 2.º quadrado é dividido em 100 partes, pintadas 20 dessas partes, representado por 20 . 100 Já o terceiro quadrado é dividido em cinco partes, com uma parte pintada e representada pela fração 1 . 5 O objetivo dessa atividade é favorecer ao aluno a percepção da equivalência de frações, ou que em cada um dos quadrados se representam a mesma parte pintada, ou seja, a mesma parte do todo. Aqui observamos que o objetivo dos autores é, além de apresentar uma retomada da ideia de equivalência, desenvolvida nos Cadernos do Professor da 5.ª série/6.º ano, mostrar a possibilidade de transformar qualquer fração em uma fração com denominadores decimais (ou múltiplos). Em seguida, apresenta-se ao professor a possibilidade de levar o aluno a vivenciar a representação da fração X como divisão de X por Y. Y Indica-se como exemplo a representação da expressão 2,38 dividido por 0,4 na forma 2,38 2,38 100 X 238 p por = x = . Além disso, com esse processo 40 0,4 0,4 Y 100 sustenta-se que pretende mostrar ao aluno que toda divisão entre números decimais pode ser convertida em uma divisão de números inteiros, bastando usar a ideia de fração equivalente. 127 Esse procedimento apresentado, retomado em uma última atividade, segundo as orientações contidas no Caderno do Professor, permite favorecer a discussão com intuito de justificar ao aluno a forma prática usada na divisão entre dois números decimais na ―conta armada‖ – ―igualando as casas depois da vírgula e em seguida desprezando a vírgula‖ (SÃO PAULO, 2009e, p. 30). A Situação de Aprendizagem 3 pretende, segundo as orientações apresentadas, habilitar o aluno a operar multiplicação e divisão com frações por meio do reconhecimento e interpretação dessas operações utilizando-se de recursos geométricos, como a partição de barras. No entanto, esse mesmo material de apoio chama a atenção do professor para o fato de que ―é desejável que os alunos saibam resultado da multiplicação [ou divisão] de duas frações‖, e se deseja que o estudante ―comece gradativamente a trabalhar com destreza a multiplicação e a divisão de fração...‖ ( SÃO PAULO, 2009e, p. 31-34). Desta forma, inicialmente, o Caderno de Professor apresenta a multiplicação de um número inteiro por uma fração, mostrando que tal operação é análoga ao produto de dois números naturais. Apresenta-se como exemplo a multiplicação de 4 por professor apresente tal produto como 4 x 1 . Sugere que o 3 1 1 1 1 1 1 = x 4 = + + + , ou seja, calcular 3 3 3 3 3 3 1 de 4 é o mesmo que calcular a terça parte de quatro. Indicando ainda que a 3 mesma ideia serve para multiplicação entre duas frações. Esse procedimento de multiplicar um número natural por uma fração desenvolve o conceito de uma soma de parcelas, utilizado nas séries anteriores entre o produto de dois números naturais e também apresenta nesse caso a propriedade comutativa. A preposição ―de‖ está relacionada à multiplicação, e essa ideia pode ser 128 ampliada para calcular 3 4 4 3 de ou de . 4 5 5 4 A próxima atividade desenvolve o produto de duas frações de forma geométrica. A seguir, na Fig.21, apresentamos as orientações para a multiplicação de frações propostas nos currículos anteriores. Proposta Curricular de São Paulo PCN – década de 90 – década de 90 Proposta Curricular, p. 82 PCN, p. 104 FIGURA 21 – Multiplicação entre frações (orientações) 129 Currículo do Estado de Sâo Paulo (2008) FIGURA 22 – Multiplicação entre frações (orientações) (SÃO PAULO, 2009e, p. 32) Podemos observar que as três propostas apresentam orientações semelhantes para o trabalho do professor quando anuncia a multiplicação, ou seja, 130 ―parte de parte‖ como indicava já o currículo de São Paulo da década de 80 ou mesmo a relação da multiplicação com apresentação de como já era indicado no PCN. No tocante à divisão de fração, o caderno inicia o estudo apresentando uma situação-problema que envolve a divisão de 3 2 por , que pode ser representado 4 3 3 3 2 por 4 ou : 4 3 2 3 (SÃO PAULO, 2009e, p. 33) O problema é apresentado da seguinte maneira: Se dão para pintar 2 de uma lata de tinta 3 3 de uma parede, que fração da parede conseguirei pintar com uma 4 lata de tinta inteira? No material de apoio há a discussão da resolução. Ela inicia comentando que dividindo a lata de tinta em 3 partes iguais, o problema nos diz que 2 delas foram utilizadas. Dividindo-se a parede em 4 partes iguais (linhas horizontais na figura), e subdividirmos cada parte da parede em 2 (pois foram utilizadas 2 partes, se são usadas duas partes de tinta), a parede é dividida em 4.2 = 8 partes. Portanto, cada parte de tinta permite pintar 3 dessas partes da parede. Logo, a lata inteira, que tem 3 partes, permite pintar 3.3 = 9 das partes da parede. Assim, a fração da parede 3 3 3 9 pintada será igual a 4 = x = , em que 4.2 é o número de partes em que foi 2 4 2 8 3 dividida a parede, e 3x3 é o total das partes que serão pintadas, usando-se a lata inteira. 131 Como 3 3 , obtivemos uma expressão com produto de frações, que é 4 2 equivalente a expressão inicial de divisão de frações. Essa atividade apresenta uma forma de desenvolver a divisão de frações para justificar a maneira mecânica utilizada nessa operação, que é ―multiplicar a primeira fração pelo inverso da segunda fração‖. Finalmente, ao apresentar as considerações sobre a avaliação, os autores elencam quatro habilidades chamadas de ―Expectativas na aprendizagem‖. São elas: Sistema posicional de numeração: o aluno deve conseguir fazer a transposição da linguagem oral para a linguagem da escrita numérica e compreender o seu significado. Por exemplo, ele deverá saber que 23.48 são 2 dezenas, 3 unidades, 4 décimos da unidade e 8 centésimos da unidade. Números decimais: a soma, a subtração e a multiplicação de decimais devem estar sistematizadas e a divisão deverá estar bem encaminhada. Entende-se por ―bem encaminhada‖ a compreensão de que toda divisão de decimais pode ser feita dividindo-se números inteiros específicos. Pequenos erros no algoritmo da divisão ainda podem ser tolerados neste momento, mas devem servir de sinalizador para o professor da necessidade ou não de retomada do assunto. Frações: o aluno deve saber multiplicar e dividir frações. É possível que, ao sistematizar a multiplicação de frações, o professor identifique alunos que estejam errando a operação de soma de frações avaliando equivocadamente, por analogia, que somar frações é ―somar numerador com numerador e denominador com denominador‖. Outro equívoco frequente que também pode ocorrer neste momento é o de transformar as frações de uma multiplicação em frações de mesmo denominador. Nesse caso, o aluno está transferindo por analogia os procedimentos da adição de frações para a multiplicação. É importante que o professor sinalize que nesse caso o equívoco não implica erro, mas dificulta desnecessariamente os cálculos. Outro aspecto importante que deve ser avaliado refere-se à compreensão dos novos significados atribuídos às frações (SÃO PAULO, 2009e, p. 4546). Ao se analisar o material de apoio ―Caderno do Professor‖, observamos que se buscou, por meio das propostas apresentadas, desenvolver tais habilidades. Todavia, acreditamos que elas podem não ser suficientes para atingi-las. Para tanto, o docente precisa estar preparado. Só assim, acreditamos, ele terá condições de avaliar o encaminhamento sugerido, o desenvolvimento do seu aluno e as 132 possibilidades de intervenção. 133 7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Neste capítulo faremos a análise dos dados. Inicialmente, apresentamos nossa análise das entrevistas, quando indicamos as relações estabelecidas nos discursos dos professores entre o tema fração e a formação docente. Para tanto, procuramos verificar as reflexões dos professores entrevistados sobre o ensino e a aprendizagem da fração na escola básica: lembranças da formação docente e sobre sua formação inicial. Procuramos relacionar a prática docente e as frações, examinando as reflexões dos sujeitos investigados neste estudo sobre o ensino e a aprendizagem da fração na escola básica antes da mudança curricular, e sobre a prática pedagógica no cenário de mudança curricular. 7.1 O TEMA FRAÇÃO E A FORMAÇÃO DOCENTE Durante nossas entrevistas procuramos questionar os docentes sobre as suas recordações, sobre os processos de ensino e aprendizagem da temática fração no decorrer da educação básica e na formação inicial e continuada. Tais questionamentos foram fundamentados nas ideias de Tardif (2000). Este autor considera que os saberes docentes são temporais, uma vez que se constituíram por meio do entrelaçamento das aprendizagens e vivências observadas nos diferentes tempos sociais, como a época de infância, a escola primária, a formação profissional, o início na profissão, no decorrer da carreira docente etc. Assim, nossas primeiras questões foram direcionadas para a reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem das frações nos diferentes tempos. Nosso estudo também tem por objetivo favorecer a reflexão dos nossos sujeitos de pesquisa sobre sua prática pedagógica. Para tanto, elaboramos questionamentos sobre o desenvolvimento das aulas destinadas ao ensino de fração. Acreditamos ser possível identificar as concepções dos professores por meio da observação e análise dos depoimentos coletados, o que Schön (1983) chama de reflexão sobre a ação (reflection-on-action). 134 7.1.1 Reflexões do professor sobre o ensino e a aprendizagem da fração na escola básica: lembranças da formação docente Considerando o relato acima, uma de nossas questões foi direcionada a indagar como ocorreram os processos de ensino e de aprendizagem das frações, durante a formação na Educação Básica dos sujeitos de pesquisa. Então, quando perguntamos aos professores sobre as recordações que tinham e como eram desenvolvidas as aulas de matemática, em especial as relacionadas às frações, na época em que eram estudantes, estes relataram: [...] eu gostava de estudar, hoje em dia é complicado. Eu gostava do que os professores falavam era a parte mais completa da aula. O principal era o que o professor falava [...] (PROFESSOR A). Eu odiava matemática, não me lembro como o professor abordava o tema fração. Se estudei números racionais em forma fracionária foi muito pouco [...] (PROFESSOR B). [...] era assim só no quadro. O professor já apresentava a fração com o desenhinho de colocava a forma fracionária, direto no quadro desta forma. [...] Não me recordo do meu professor falar em razão e proporção [...] (PROFESSOR C). [...] eu não me lembro do professor que passava frações pra gente. Lembro que falava em simplificar uma fração ao máximo, agora como ele fazia, eu não me lembro. [...] (PROFESSOR D). No Ensino Fundamental e Médio o único assunto que lembro é o MMC, com relação a fração pois com isso fazíamos cálculos de somar e subtrair frações com denominadores diferentes, não tenho lembranças de como o professor fazia, acho que resolvia um ou outro exemplo e depois passava exercícios pra gente fazer [...] (PROFESSOR E). Como aluna eu aprendi a soma, subtração com denominadores diferentes. Tínhamos que achar o mínimo múltiplo comum, ai depois sim fazia a soma ou subtração. O professor passava diretamente para parte operatória, já mostrava a fração através de desenho (PROFESSOR F). Observando os depoimentos notamos que, no tocante ao formato, todos os professores vivenciaram aulas expositivas. Nos depoimentos não encontramos indícios de que eles não se recordaram de alguma experiência na qual fossem convidados a uma participação mais ativa. Essa situação nos parece preocupante, uma vez que concordamos com Tardif (2000) quando este chama atenção para o fato de que as concepções dos professores são influenciadas pelas experiências 135 vivenciadas quando estudantes. As lembranças dos professores sobre o ensino de fração são relacionadas ao foco dado nos procedimentos, da mesma forma como indicam os estudos de Santos (2005). Quanto à introdução do conceito de fração, por meio da representação em forma de desenho, observado em nosso estudo, também foi comprovado por Silva (2005) ao verificar que os professores, de modo geral, constroem para quinta série: [...] tipos de tarefas que associam, sobretudo a concepção parte-todo em contextos de superfícies, mobilizando a técnica da dupla contagem das partes e, com menos incidência, a concepção de razão mobilizando a mesma técnica (SILVA, 2005, p. 239). Quanto ao fato de o professor trabalhar predominantemente com os procedimentos e com o significado parte-todo, pudemos também observá-lo em outros estudos como os de Canova (2006) e Garcia Silva (2007). 7.1.2 Reflexões do professor sobre sua formação inicial e os processos de ensino e aprendizagem da fração Ainda fundamentados em Tardif (2000), solicitamos que os docentes relatassem suas recordações sobre como ocorreram as discussões envolvendo questões ligadas ao ensino e à aprendizagem das frações na sua formação inicial. Os docentes afirmaram: Na minha época não usávamos nada de diferente para complementar as aulas. Não me lembro dos significados das frações. Acho que trabalhei na graduação números racionais em forma fracionária, mas não me recordo ao certo. O professor já usava as frações em cálculos, não me lembro de falar de nenhum tipo de significado [...] (PROFESSOR A). Em minha graduação eu me recordo que nós trabalhávamos muito com frações, mas já no cálculo, não fazíamos exercícios falando de significados, simplesmente usávamos as operações com frações e o quociente. Meus professores não falavam nem em fração equivalente, simplesmente pediam para simplificar ao máximo [...] (PROFESSOR C). Na graduação usava mais apostilas com poucas figuras. Cheguei a fazer bastante exercício de números racionais, fracionários, a forma de converter número racional na forma fracionária decimal em fração e fração em 136 decimal (PROFESSOR D). Com relação a graduação o professor pedia para dar aula sobre frações assim íamos pesquisar para apresentar a aula sobre frações ―aplicando a apresentação tendo sentido voltado para alunos do Ensino Fundamental, ter cuidado para elaborar aula com intenção de mostrar para turma e para o professor da graduação uma maneira de desenvolver o tema que chamasse a atenção do aluno do Ensino Fundamental para o aprendizado dos significados das frações (PROFESSOR E). Na minha graduação não me lembro de ter estudado frações, os professores já supunham que nós já sabíamos trabalhar com frações. O curso que eu fiz é completamente diferente do que tem agora, não se falava em revisão dos conteúdos do ensino fundamental e do ensino médio. Eu me formei em 1977. Era uma época totalmente diferente não tinha informática [...] (PROFESSOR F). Nestes depoimentos, notamos que existe um consenso no que diz respeito ao modo como os formadores dos futuros professores trabalhavam com as concepções que carregam os estudantes, confirmando os estudos de Damico (2007): [...] nossos dados sugerem que o desenvolvimento cognitivo dos alunos pesquisados está, em grande parte, situado em um contexto de ensino eminentemente tradicional, em que a transmissão de conhecimentos elaborados é a tônica adotada pela maioria dos professores das duas instituições pesquisadas (DAMICO, 2007, p. 255). Tal fato, segundo o autor, pode ser o que originou o que ele chama de ―um quadro preocupante‖ quando se refere aos processos de ensino e aprendizagem relacionados, por exemplo, as operações básicas com frações. Segundo Damico (2007), ―O plano do fazer supera em muito o plano do compreender o que se faz. Há um desequilíbrio acentuado entre o entendimento conceitual e processual, diversas vezes ressaltado nesta pesquisa‖ (DAMICO, 2007, p. 255). Tal fato também é observado por Garcia Silva (2007). Segundo a autora, dos 11 professores entrevistados, a maioria: [...] atribuiu as dificuldades encontradas à ausência de trabalho relativo aos significados da representação fracionária de números racionais em sua formação inicial. De todos os professores entrevistados, um único afirmou dominar o tema (GARCIA SILVA, 2007, p. 236). Portanto, observamos que nosso estudo está em consonância com as pesquisas aqui indicadas, pois, analisando os depoimentos dos docentes, identificamos uma formação com foco nos procedimentos. 137 Consideramos, assim como Shulman (1986), que o domínio do conhecimento do conteúdo é fundamental para a prática docente. Portanto, se essa gama de pesquisas aponta que o desenvolvimento do conhecimento sobre as frações não ocorre como deveria, reputamos a necessidade de que se amplie a discussão sobre os processos de ensino e aprendizagem dessa temática nos cursos de formação inicial. Acreditamos, portanto, serem de grande importância propostas de formação inicial que permitam ao futuro professor entrar em contato com resultados de pesquisas desenvolvidas na área. 7.2 O TEMA FRAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE Durante nossas entrevistas procuramos questionar os docentes a respeito das suas percepções sobre os processos de ensino e aprendizagem da temática fração no decorrer da sua prática pedagógica. Tais questionamentos foram realizados e fundamentados também nas ideias de Tardif (2000), Schön (1983), ampliados por Shulman (1986) e Zeichner (2003. 7.2.1 Reflexões do professor sobre o ensino e a aprendizagem da fração na escola básica: lembranças da sua prática pedagógica antes da mudança curricular Para possibilitar a reflexão do professor sobre sua prática pedagógica, verificar sua percepção sobre o trabalho por ele desenvolvido e os processos de ensino e aprendizagem da fração, elaboramos inicialmente uma pergunta, a fim de saber como o professor introduzia frações, antes da divulgação do novo currículo. Quanto à fundamentação, foi por meio da ideia da reflexão sobre a ação (reflection-on-action) proposta por Schön (1983), que procuramos identificar as concepções dos professores sobre os processos de ensino de frações, antes da implementação do currículo. 138 Dentre os depoimentos dos professores selecionamos os seguintes: Ensinei frações antes de 2008, eu sempre fiz através de representação. Fazia um quadrado e dividia, por exemplo: ―comprei um chocolate e vamos dividir‖, com desenhos, citando exemplos didáticos, divide o chocolate, come um terço, um todo, um inteiro [...] (PROFESSOR A). Para apresentar a fração eu usava uma reta e dividia essa reta em pedaços, fazia isso na lousa. Se eu dividia a reta em dez partes escrevia, um décimo e assim por diante. As operações, fazia como descrevi quando fiz a graduação, a única diferença é que eu passava bastante exercícios de fixação [...] (PROFESSOR B). Antes de 2008, não trabalhei com 5.ª e 6.ª séries por isso não posso ajudálo, como introduzia o tema [...] (PROFESSOR C). Eu inicio o trabalho com as frações, fazendo uma figurinha de um círculo ou retângulo, por exemplo, divido essas figuras em oito partes iguais e passo a colorir cinco partes das oito. Logo após, explico que o todo que forma a figura é oito e esse valor é o denominador e a parte que eu colori é o valor que representa o numerador [...] (PROFESSOR D). [...] quando comecei a dar aula em 2008, 5.ª série/6.º ano, já iniciei com a Proposta Curricular, primeiro com um material que parecia um jornal e depois com o Caderno do Professor e Caderno do Aluno [...] (PROFESSOR E). [...] naquela época era diferente os alunos faziam as atividades, estudavam mais, eles eram disciplinados (PROFESSOR F). Analisando tais depoimentos, observamos que os docentes se utilizavam das figuras para representar as frações, usando, na maior parte das vezes, o significado parte-todo. Observamos ainda que um dos docentes introduzia o tema por meio da ideia de medida, dividindo uma reta para representação em frações de determinadas medidas. Nessa intervenção, pudemos inferir que a introdução dos conceitos de números racionais, descritos pelos professores, foi muito próxima da forma como haviam aprendido na formação escolar,17 formação inicial; e outros de experiências profissionais vividas, confirmando os estudos de Tardif (2000): 17 Segundo Tardif, saberes provenientes da formação escolar anterior que são adquiridos de fontes sociais de aquisição na escola primária e secundária, os estudos pós-secundários não especializados pela formação e pela socialização pré-profissionais (TARDIF, 2000, p. 215). 139 [...] saberes provêm de fontes diversas (formação inicial e contínua dos professores, currículo e socialização escolar, conhecimento das disciplinas a serem ensinadas, experiência na profissão, cultura pessoal e profissional, aprendizagem com os pares [...]. (TARDIF, 2000, p.212) Portanto, observamos que nossa investigação ratifica essa afirmação apresentada pelo autor. Tardif (2000) discute ainda a influência das concepções sobre a prática ou mesmo o contrário, consideram que as concepções atuam como conhecimentos prévios que calibram as experiências de formação. Observamos em nossas entrevistas que algumas dessas concepções não foram rompidas mesmo com as discussões e reflexões sobre o tema desenvolvidas no currículo. Tal fato nos dá indícios da necessidade de se ampliarem os espaços formativos. Parece que a reflexão sobre a prática precisa ser ampliada, quem sabe, por meio de decisões políticas que ofereçam ao professor possibilidades de discutir o currículo e a relação com a prática docente. 7.2.2 Reflexões sobre a prática pedagógica em um cenário de mudança curricular Vale ressaltar que os seis professores investigados, participantes do Projeto Observatório da Educação, lecionam ou lecionaram para o 6.º e/ou 7.º ano do Ensino Fundamental, nos últimos quatro anos, período em que as escolas estaduais paulistas vivenciaram/vivenciam um processo de mudança curricular. Desse modo, para observar as concepções do professor em relação às orientações curriculares e obter mais alguns indícios sobre a prática docente, pedimos aos professores que comentassem como introduziram fração em suas aulas, neste ano (2011). Os depoimentos foram os seguintes: [...] Agora eu estou ensinando pra eles o seguinte ―Por que vocês não conseguem com todas essas figuras fazer um ladrilho?‖ Porque não estão fazendo a figura certa, tem haver com a divisão, dá pra falar até de racionais [...] Agora eu uso os livrinhos [referindo-se ao Caderno do Professor e Caderno do Aluno], não uso tudo mais uso. Estou fazendo mosaico, hoje em dia tem muito de geometria, mas não faço só geometria, faço matemática, na próxima semana vamos fazer exposição de mosaicos [...] Começo sempre com representação para explicar. O denominador denomina (quanto você vai comer, quanto você vai dividir) a fração, sempre friso isso. [...] Usei a figura do Caderno, só que eu sempre faço uma fração 140 embaixo da outra, ou seja, um desenho embaixo do outro, mostro a equivalência, que por mais que mudemos os números, muitas das vezes estamos fazendo a mesma coisa [...] Quando é o mesmo denominador, você só pode comparar números iguais, então você conserva o de baixo e compara o de cima. Tem que ensinar o mínimo múltiplo comum que é a parte mais difícil. A compreensão de dividir pela parte de baixo e multiplicar pela parte de cima, é muito complicada para eles, preciso inventar outra forma de ensiná-los porque eles não entendem [...] (PROFESSOR A). [...] Para falar a verdade eu vi esse Caderno do Professor mas não usei muito, achei um pouco confuso, comecei estudar, mas eu mesmo não entendia muito a proposta dos exercícios, não todos claro. Vou ser sincera pra você para usar esse material precisa ter um curso específico, pôr a mão na massa mesmo. Depois dei uma olhada no Caderno do Aluno [...] Não usei, a matéria estava atrasada, então eu passava lição na lousa. O conteúdo que eu usava, eu explicava e exemplificava. O caderno pra mim não funciona [...] Mais ou menos, trabalhei da mesma forma ou quase como antes da implementação desse material [...] (PROFESSOR B). [...] Bom eu segui as orientações do caderno e coloquei no quadro algumas figuras (no total 4), e cada uma delas fiz algumas divisões, em seguida perguntava, acharei? A parte que eu queria que os alunos representassem com frações, pedi para que eles escrevessem a resposta no caderno [...] Quando comecei a perguntar verifiquei que a maioria não sabia representar as partes destacadas na forma fracionária. Alguns alunos disseram que já tinham visto, mas não se lembravam [...] Eu expliquei todos que estavam na lousa e falei do significado do termo numerador que é a parte e o denominador que é o todo, mostrando no desenho (PROFESSOR C). [...] introduzi frações com exemplos de pizza, praticando sempre com giz e lousa, nada de recortes, tangran nada. Naquela época em 2008 eu não tinha a ideia que tenho hoje por isso não trabalhei de outras maneiras. Usei pouco o Caderno do Aluno [...] Não achei muito bom, uma linguagem muito difícil, eu, no começo, tentei explicar fazendo alguns exemplos na lousa mas percebia que na hora que os alunos (alguns poucos) tentavam resolver não conseguiam e desistiam, chegando ao ponto nas aulas seguintes de nem abrir o material. Foi então que eu percebi que isso não iria dar certo, pois tinha exercícios que até eu ficava confuso na hora de resolver. Dai para frente comecei a usar um livro de matemática da 5.ª série e um da 6.ª série de uma coleção [...] Na 6.ª série eu também não usei o caderno dei uma olhada e achei muito complicado da mesma maneira que na 5.ª série, usei um pouco mais os exercícios escritos na forma de problemas (PROFESSOR D). [...] Consegui desenvolver alguns conceitos de frações usando historinhas, mas primeiro fiz uma revisão das quatro operações com números naturais [...] eu usava só como um parâmetro para dar aula [...] quase não usava os exemplos e os exercícios, mas buscava em livros outras atividades semelhantes, porque no Caderno do Professor dificilmente tem exercícios parecidos [...] Usei livros didáticos para mostrar figuras e divisão, os alunos não demonstraram conhecimento nenhum de com relação a fração. Os alunos não conheciam significados [...] (PROFESSOR E). [...] peguei o próprio exemplo do caderno e expliquei que uma fração pode representar a parte de um todo ou uma fração pode também representar partes de vários todos. Esse é o exercício que está na página 27 do caderno do professor. Não usei nada de concreto para explicar esse assunto só fiz o desenho na lousa, usei giz colorido [...] Eu falei que a mesma fração pode ter significados diferentes, eu já comecei assim. No primeiro deseinho eu tinha um bolo dividido em quatro partes, se eu tirei três 141 partes e quero representar isso, foram três partes de um bolo dividido em quatro. Na segunda figurinha onde tem três bolos divididos ele já está querendo trabalhar a soma de frações. Eu acho que a intenção já é trabalhar essa fração na conversão de decimal. Ele não explorou muito esse exercício só foi para ter uma noção da divisão das frações e que uma parte ainda pode ser dividida em outras partes. Vamos mostrar você pega uma parte e essa parte, você pode fazer outras divisões em cima dela. Na apresentação seguinte ele mostra que a fração oito sobre dois, pode ser representada de forma diferente, por exemplo, dois mais dois ou doze dividido por três. Ele tenta mostrar que o resultado de um numerador pelo denominador pode obter outro resultado com operações diferentes. No caso dois mais dois que resulta quatro. E eu posso representar por uma forma diferente, usando dois números inteiros. Nesse momento eu foquei bem isso que o resultado de uma fração pode ser representado de outra forma através de outras operações. Em seguida, eu comecei dar probleminhas, o probleminha que o caderno trás na página 28 que fala que ‖Cláudia tem dezoito metros de arame e ela corta um quinto, quantos metros ela cortou?‖ eu passei na lousa e pedi para que os alunos resolvessem [...] (PROFESSOR F). Observamos nas respostas que os Cadernos foram pouco usados pelos professores. Alguns deles utilizaram as atividades contidas no Caderno, fazendo representações na lousa, mas não trabalharam a sequência proposta no material. O Professor A relata em dois momentos que não utiliza o material proposto na íntegra: ―[...] agora uso os livrinhos, não uso tudo, mas [...] usei as figuras do caderno‖. Analisando seu depoimento, observamos que suas aulas parecem priorizar o trabalho com os procedimentos. O Professor D comenta que resolvia na lousa alguns exemplos de exercícios semelhantes ao do Caderno, mas verificava que os alunos não conseguiam solucionar os exercícios propostos no Caderno do Aluno e comenta: ―[...] foi então que percebi que isso não iria dar certo‖. Passou então a usar um livro didático, deixando de lado o material do novo currículo. Aqui observamos evidências de que o Professor D sentiu necessidade de complementar a proposta que encontrou no material de apoio. O mesmo procedimento identificamos no depoimento do Professor E, que diz ―[...] eu usava só como parâmetro para dar aula‖, e conclui que buscava exercícios em livros didáticos de matemática. O Professor B afirma simplesmente não ter utilizado. Já o Professor C, assim como sustenta D, trazia de outras fontes exercícios complementares, deixando de trabalhar os conteúdos quando as 142 atividades eram ligadas às operações com frações, e o Professor F assevera ter utilizado o material em quase sua totalidade. Isso nos fez refletir que é necessário haver um processo de formação com espaço para reflexão. Observamos que, provavelmente, os professores entrevistados não encontraram em seus locais de trabalho espaços em que lhes fossem permitida a apropriação do que lhes era proposto pelo material de apoio, que integra o novo currículo. O Professor D, por exemplo, declara, em tom de denúncia: Para falar a verdade eu vi esse Caderno do Professor, mas não usei muito, achei um pouco confuso, comecei estudar, mas eu mesmo não entendia muito a proposta dos exercícios, não todos claro. Vou ser sincera pra você para usar esse material precisa ter um curso específico, pôr a mão na massa mesmo (PROFESSOR D). Observamos aqui uma evidência da falta de espaços de discussão sobre as mudanças curriculares propostas. Consideramos que há necessidade de propiciar ao docente momentos de estudo e discussão sobre o que é indicado nos documentos oficiais. Acreditamos que esse espaço poderá ser ampliado se tal ação oferecer condições para que o professor reflita sobre o que ocorre em suas aulas. Isso nos remete aos estudos de Schön (1983). O autor chama a atenção para importância da questão da reflexão. Assim como Schön (1983), acreditamos que é na relexão-sobre-ação que os docentes poderiam ter a possibilidade de tomar consciência e reformular suas ações e, quem sabe por meio de tal análise, identificar outras soluções para o desenvolvimento de novas práticas. Assim, examinando esses depoimentos, percebemos uma relação muito forte entre a fragilidade no Conhecimento Profissional Docente e a resistência às mudanças propostas. 7.2.3 Reflexões do professor sobre o ensino e aprendizagem da fração: dificuldades Em uma das questões apresentadas aos professores procuramos investigar suas percepções sobre quais seriam as dificuldades encontradas quando ele 143 trabalhava com o conceito de fração e observava os processos de ensino e de aprendizagem. No começo foi difícil de usar o livrinho viu? Mas agora existem várias partes do livrinho que eu uso, principalmente com a 7.ª série que tem os números notáveis. [...] As dificuldades que aparecem na fração são adição e subtração. Equivalência, divisão e multiplicação eles entendem mais do que adição e subtração (PROFESSOR A). A dificuldade que eu sinto não só em ensinar frações como outros conteúdos é a falta de interesse, falta de base (nas quatro operações) e também a indisciplina (PROFESSOR B). A dificuldade do professor eu acho que é o tempo curto para desenvolver um trabalho melhor, já os alunos não estudam, as vezes fazem exercícios, as vezes não, fica difícil (PROFESSOR C). Eu não aprendi a trabalhar da forma que o novo currículo propõe. Não tenho muita experiência. Eu ensino como eu aprendi. Sobre as dificuldades dos alunos eu entendo que eles não veem muito sentido em estudar nessa faixa de idade (PROFESSOR D). Como professor, eu encontrei uma dificuldade no tempo programado ao tema fração. Com relação ao aluno eu acho que a dificuldade está na operação por falta de base, somar frações, subtrair frações, multiplicar e dividir. Com relação ao significado de partes de um todo, o aluno entende. [...] (PROFESSOR E). Acredito que a maior dificuldade que o professor tem na hora de trabalhar esse tema é com relação a falta de tempo para se dedicar ao estudo, pois para se preparar uma boa aula, que explique os significados não é tão simples, normalmente nós ensinamos da forma que nós aprendemos e eu não aprendi assim como é proposto hoje. Antes, na minha época, era só conteúdo, conteúdo, fazer sem saber o que significava, fazer por repetição para não ser reprovado. Com relação as dificuldades que os alunos têm em compreender e aprender trabalhar com fração está ligado a alguns fatores, sem falar interesse ou não, disciplina ou não. E penso que ele não vê o porquê em aprender..., mas isso não se restringe só esse estudo (PROFESSOR F). É quase unanimidade, entre os professores entrevistados, que as dificuldades apresentadas pelos alunos estão ligadas ao desinteresse, indisciplina e por considerar que a temática pode não ―ter significado‖ para os estudantes dessa faixa etária. Outro ponto comum nas respostas analisando as entrevistas diz respeito ao tempo. Metade dos professores entrevistados considera o tempo insuficiente para o desenvolvimento do trabalho com a temática. No tocante às dificuldades específicas dos alunos, observamos a tradicional 144 indicação da ―falta de base‖ apresentada por três dos professores. Quanto ao trabalho específico com as frações, indicaram-se somente as operações com frações como uma temática difícil. O Professor A afirma: ―As dificuldades que aparecem na fração são adição e subtração. [Já a] Equivalência, divisão e multiplicação eles entendem mais [...]‖, entretanto o mesmo não observa que o fato de o aluno compreender o conceito de equivalência de frações poderia facilitar o entendimento da adição e subtração. Consideramos que o fato de o Professor A demonstrar dificuldades relativas ao conhecimento específico sobre frações provavelmente tenha dificultado sua tarefa pedagógica. Assim sendo, a análise de tal afirmação nos leva a verificar a inter-relação entre os três conhecimentos indicados por Shulman (1986) e a forma como se desenvolve o ensino. Outra inferência possível, analisando tal extrato, seria no sentido de observar que, provavelmente, a prática desse professor deva estar centrada nos procedimentos, uma vez que os algoritmos da multiplicação e divisão possibilitam uma melhor memorização, pois se aproximam da ideia de que operar com a fração, da mesma forma como se opera com dois números naturais independentes. Sobre o foco nos procedimentos observamos indícios também no depoimento do Professor F, que afirma que ensina da mesma forma como aprendeu, a qual descreve como: ―Antes, na minha época, era só conteúdo, conteúdo, fazer sem saber o que significava fazer por repetição [...]‖. Essa dificuldade relativa ao conhecimento descrita pelos professores, que ensinam como aprenderam, nos remete novamente aos estudos de Tardif (2000). 7.2.4 Reflexões do professor sobre a abordagem das frações nos materiais de apoio Como última questão, procuramos investigar a avaliação dos docentes sobre a proposta de abordagem do conceito de números racionais na representação 145 fracionária apresentada nos materiais de apoio Caderno do Professor e Caderno do Aluno. Perguntamos se o que é proposto é considerado por ele como suficiente. Para tal questão as respostas foram: Não é suficiente falar, é interessante aplicar a matemática com bastante exercícios, até repetitivo, mesmo sabendo que o processo de repetição seja algo dito como antigo e forçado, na matemática as coisas funcionam dessa maneira, com a repetição (PROFESSOR A). Sobre o caderno não posso falar muito, pois não usei, e o pouco que olhei achei muito complicado, tanto os caderno dos professores como o dos alunos e com relação aos meus colegas professores que lecionam comigo, falam dos mesmos problemas que eu ti apresentei (PROFESSOR B). Eu acho que o caderno contempla o conteúdo programático da série, mas acho que faltam mais exercícios repetitivos. Sobre os professores que trabalham na mesma escola que eu, não sei como trabalham esse tema (PROFESSOR C). Esse ano usei muito pouco o material, mas vou tentar trabalhar mais com ele, pois sei que tenho que fazer isso... só acho que deveria ter mais cursos e mais materiais para que possa ser trabalhado com os alunos de forma mais dinâmica... (PROFESSOR D). O caderno veio como uma ferramenta mais uso só alguns exercícios. Com relação a apresentação dos conceitos de frações eu avalio que é uma base com trabalho de frações mas não contempla o necessário para aprendizado do aluno. Com relação aos significados não contempla... Falta no currículo a realidade dos alunos (situações reais) [...] (PROFESSOR E). Eu acho que a proposta é boa, algumas atividades são bem elaboradas outras nem tanto, considerar suficiente não, sempre é possível ampliar, melhorar, mas não só Currículo, capacitar o professor com formação continuada, investir numa melhor qualificação e proporcionar um bom ambiente de trabalho (PROFESSOR F). Analisando tais depoimentos, podemos notar que todos os professores entrevistados consideram o material apresentado pela nova Proposta Curricular de São Paulo insuficiente. Do ponto de vista dos professores A e C, faltam exercícios complementares, sentiram falta de propostas semelhantes. O Professor B relata que utilizou pouco o material de apoio afirmando, ―[...] achei muito complicado, tanto o Caderno do professor quanto o Caderno do aluno‖. O Professor E comenta que o Caderno é uma ferramenta, mas só utilizou alguns exercícios, e que não contempla os significados das frações. 146 Há um consenso entre os professores D e F que sustentam que para se trabalhar com o material, os docentes precisam de formação continuada, ou seja, curso de formação para que a implementação do novo currículo atinja sua finalidade. Acreditamos que, baseado nos estudos de Pietropaolo (2002), é necessária a relação da temática com a formação profissional docente, com o currículo, quando afirma: Embora esses dois temas mantenham estreitas relações entre si, nem sempre eles têm sido discutidos de forma articulada, o que, em certo sentido, ajuda a explicar a dificuldade de implementação de propostas curriculares quando não se leva em conta que tipo de formação, que tipo de experiência têm os professores que vão colocá-las em prática (PIETROPAOLO, 2002, p. 34). Quanto à relação entre a formação de professores e as mudanças nas concepções dos docentes, concordamos com Garcia Silva et al. (2011) que, fundamentados em Tardif (2000) e Zeichner (2003), asseveram: Quando se trata de mudança nas concepções sobre os processos de ensino e aprendizagem, estudos apontam que a formação continuada vem desempenhando este importante papel, desde que sejam contemplados aspectos do cotidiano do professor que o possibilitem oportunidades de repensar e reconstruir a própria prática pedagógica (GARCIA SILVA et al., 2011, p. 2). 147 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nestas considerações finais, apresentamos uma síntese de nossas reflexões sobre os depoimentos dos seis professores participantes do Observatório da Educação em que todos eles ministram aulas para 6.º e 7.º anos em escolas públicas estaduais. Procuramos investigar como esses docentes interpretam as orientações contidas no Caderno do Professor a respeito das frações. Todavia, reputamos conveniente retomar sucintamente aspectos dessa pesquisa. O propósito desta pesquisa foi analisar quais as concepções que professores de matemática, que lecionam ou lecionaram no 6.º e 7.º anos do Ensino Fundamental, participantes do Observatório da Educação, tinham sobre o ensino de frações e as indicações contidas no Caderno do Professor (material de apoio) do novo Currículo do Estado de São Paulo. Procuramos ainda neste estudo verificar as inovações propostas para o ensino de números racionais na forma fracionária e identificar o que as pesquisas propõem para desenvolver esse tema. Neste estudo, utilizamos inicialmente uma proposta baseada em um método de pesquisa documental, discutindo os últimos currículos que tratam do estudo de fração. Fizemos também pesquisas bibliográficas tratando das questões de ensino aprendizagem e o processo de mudanças das inovações curriculares. Os dados para análise a respeito das concepções dos professores foram coletados por meio de uma entrevista semiestruturada, as quais foram gravadas e transcritas na íntegra. Em seguida, foram sintetizadas e analisadas cuidadosamente. Quanto à nossa revisão, observamos que, segundo Vergnaud (1990), para a construção de um conceito é necessário observar os diferentes significados. Em relação às frações, vários estudos apontam para importância de se introduzir o conceito de fração por meios distintos de situações. Entretanto, observa-se que isso não é fácil. Documentos oficiais como os PCN consideram que os professores se 148 utilizam predominantemente do significado parte-todo para ensinar fração (BRASIL, 1998, p. 101), sendo necessário compreender as representações fracionárias dos números racionais. Pesquisas como Garcia Silva (2007), Damico (2007), Canova (2006), também apontam ser muito forte a cultura de se trabalhar com frações somente com significado parte-todo e operador nesse nível de ensino. Todas essas considerações motivaram-nos a observar se as orientações contidas no novo currículo levam em conta tais resultados, além de verificar como os professores interpretam as orientações contidas no novo Currículo. Na coleta dos dados, realizamos, inicialmente, uma pesquisa documental e analisamos os documentos oficiais, estaduais (Currículo do Estado de São Paulo) e federais (PCN), relacionados ao estudo de frações, e utilizamos também a pesquisa bibliográfica quando fizemos algumas descrições de estudos que abordam tanto questões acerca do ensino e da aprendizagem das frações no nível de Ensino Fundamental quanto ao processo de mudanças em um contexto de inovações curriculares. Em seguida, gravamos o depoimento de cada professor, no seu ambiente de trabalho (escola). Para as entrevistas elaboramos um protocolo, procurando direcionar as questões com o intuito de obter informações dos seguintes aspectos: o tema frações e a formação docente; reflexão do professor sobre o ensino e aprendizagem da fração na escola básica: lembrança da formação; reflexão do professor sobre sua formação inicial e os processos de ensino e aprendizagem de fração; reflexão sobre o ensino e aprendizagem da fração na escola básica; lembrança da sua prática pedagógica antes da mudança curricular; reflexão sobre a prática pedagógica em um cenário de mudança curricular; reflexão do professor sobre o ensino e aprendizagem da fração: dificuldades e reflexão do professor sobre a abordagem das frações e dos materiais de apoio. Com os aspectos descritos, o foco das informações estavam voltados para as concepções dos professores sobre como desenvolviam/desenvolvem o tema 149 números racionais na forma fracionária, antes e depois da implementação do novo Currículo de São Paulo. Com os estudos descritos e analisando o depoimento de cada um de nossos sujeitos de pesquisa, acreditamos ter subsídios suficientes para responder nossa questão de pesquisa: Como professores de matemática, participantes do projeto Observatório da Educação, que lecionam no sexto e sétimo ano do Ensino Fundamental, analisam o conceito de frações apresentado no Caderno do Professor? Analisando os documentos oficiais, observamos que, no geral, as orientações contidas no Currículo do Estado de São Paulo incluem resultados de estudos e pesquisas da área de Educação Matemática, em especial às que consideram que, culturalmente, o professor inicia seu trabalho utilizando-se do significado parte-todo. Em tais documentos, pudemos ainda verificar que se utilizaram de diferentes significados, porém em alguns casos as orientações neles contidas pareceram ser insuficientes à proposta sob os olhares dos docentes entrevistados. Notamos também que, inicialmente, o Caderno do Professor contém ideias de medida, proposta por Caraça, mas no seu desenvolvimento utiliza-se bastante do significado parte-todo. Surge, ainda, o desenvolvimento de situações compreendendo a ideia de operador, razão e, com menor ênfase, a ideia de quociente. Quanto aos depoimentos, concluímos que os professores que participaram deste estudo, mesmo considerando importante o material de apoio (Caderno do Professor) fornecido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, não encontram nele uma maneira clara e eficiente de trabalhar o objeto matemático proposto para este estudo. Assim, não reconhecem o Caderno do Professor como uma ferramenta que contemple o ensino e aprendizagem das frações nos seus múltiplos significados. Quanto à prática docente, a análise dos dados permitiu verificar que os 150 professores introduzem o tema fundamentalmente por meio do significado partetodo. Além disso, foi possível observar, por exemplo, que esses docentes utilizam representações gráficas para introduzir a noção de equivalência de frações e justificar, assim, a adição e subtração. Por outro lado, esses professores não apresentam explicações para o trabalho com a multiplicação e divisão de frações, preferindo introduzir essas operações apenas por meio dos algoritmos. De maneira geral, a análise das informações obtidas por meio das entrevistas evidencia a fragilidade no Conhecimento Profissional Docente dos nossos sujeitos. Fica explícita a necessidade de rediscutir as formas de se tratar a temática fração nos cursos de formação inicial e continuada de professores. A partir dos depoimentos dos docentes envolvidos nesta pesquisa, foi possível identificar a influência das dificuldades relativas ao conhecimento matemático na prática docente. Assim sendo, acreditamos que, se a construção desse conhecimento, conceito das frações, não vem ocorrendo da forma como idealizada, é necessário que haja um enfoque mais amplo acerca da inserção do que apontam as pesquisas e estudos sobre o tema, tanto em cursos de formação inicial quanto de formação continuada. Consideramos que a implementação de um novo currículo tende a favorecer a reflexão do docente sobre a sua prática, todavia sentimos que há necessidade de se favorecerem espaços para que tal reflexão ocorra. Assim sendo, acreditamos que, para romper crenças e concepções dos professores sobre ensino e aprendizagem do conceito de fração, é essencial uma constante reflexão sobre a prática, em especial, em ambientes colaborativos. Finalmente, é importante ressaltar que não foi realizada a análise in loco das práticas docentes. Portanto, é fundamental fazer um estudo observando o currículo na prática da sala de aula. 151 REFERÊNCIAS BEZERRA, F. J. 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São Paulo: Editora Unesp, 2003. p. 35-55. i ANEXO A CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA POR SÉRIE E BIMESTRE DO ENSINO FUNDAMENTAL (CICLO II) 5.ª série/6.º ano do Ensino Fundamental Conteúdos 1.º bimestre Números Números naturais ▪ ▪Múltiplos e divisores ▪ Números primos ▪ Operações básicas (+, , , ) ▪ Introdução às potências Frações ▪ Representação ▪ Comparação e ordenação ▪ Operações Habilidades ▪ Compreender as principais características do sistema decimal: significado da base e do valor posicional ▪ Conhecer as características e propriedades dos números naturais: significado dos números primos, de múltiplos e de divisores ▪ Saber realizar operações com números naturais de modo significativo (adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação) ▪ Compreender o significado das frações na representação de medidas não inteiras e da equivalência de frações Saber realizar as operações de adição e subtração de frações de modo significativo Números/Relações 2.º bimestre Números decimais ▪ Representação ▪ Transformação em fração decimal ▪ Operações Sistemas de medida ▪ Medidas de comprimento, massa e capacidade ▪ Sistema métrico decimal: múltiplos e submúltiplos da unidade ▪ Compreender o uso da notação decimal para representar quantidades não inteiras, bem como a ideia de valor posicional ▪ Saber realizar e compreender o significado das operações de adição e subtração de números decimais ▪ Saber transformar frações em números decimais e vice-versa ▪ Saber realizar medidas usando padrões e unidades não convencionais; conhecer diversos sistemas de medidas ▪ Conhecer as principais características do sistema métrico decimal: unidades de medida (comprimento, massa, capacidade) e transformações de unidades 3.º bimestre Geometrias/Relações Formas geométricas ▪ Formas planas ▪ Formas espaciais Perímetro e área ▪ Unidades de medida ▪ Perímetro de uma figura plana ▪ Cálculo e área por composição e decomposição ▪ Problemas envolvendo área e perímetro de figuras planas ▪ Saber identificar e classificar formas planas e espaciais em contextos concretos e por meio de suas representações em desenhos e em malhas ▪ Saber planificar figuras espaciais e identificar figuras espaciais a partir de suas planificações ▪ Compreender a noção de área e perímetro de uma figura, sabendo calculá-los por meio de recursos de contagem e de decomposição de figuras ▪ Compreender a ideia de simetria, sabendo reconhecê-la em construções geométricas e artísticas, bem como utilizá-la em construções geométricas elementares ii ▪ Compreender informações transmitidas em tabelas 4.º bimestre Números/Relações Estatística ▪ Leitura e construção de gráficos e tabelas ▪ Média aritmética e gráficos ▪ Saber construir gráficos elementares (barras, linhas, pontos) utilizando escala adequada ▪ Saber calcular, interpretar e utilizar informações Problemas de contagem relacionadas às medidas de tendência central (média, mediana, moda) ▪ Saber utilizar diagramas de árvore para resolver problemas simples de contagem ▪ Compreender a ideia do princípio multiplicativo de contagem 6.ª série/7.º ano do Ensino Fundamental Conteúdos Números 1.º bimestre Sistema de numeração ▪ Sistemas de numeração na Antiguidade ▪ O sistema posicional decimal Números negativos ▪ Representação Operações Números racionais ▪ Representação fracionária e decimal ▪ Operações com decimais e frações (complementos) Habilidades ▪ Compreender o funcionamento de sistemas decimais e não decimais de numeração e realizar cálculos simples com potências ▪ Compreender a relação entre uma fração e a representação decimal de um número, sabendo realizar de modo significativo as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão com decimais ▪ Saber realizar operações de adição, subtração, multiplicação e divisão de frações, compreendendo o significado das operações realizadas ▪ Compreender o significado dos números negativos em situações concretas, bem como das operações com negativos ▪ Saber realizar de modo significativo as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão de números negativos 2.º bimestre Geometria Geometria ▪ Ângulos ▪ Polígonos ▪ Circunferência ▪ Simetrias ▪ Construções geométricas ▪ Poliedros ▪ Compreender a ideia de medida de um ângulo (em grau), sabendo operar com medidas de ângulos e usar instrumentos geométricos para construir e medir ângulos ▪ Compreender e identificar simetria axial e de rotação nas figuras geométricas e nos objetos do dia a dia ▪ Saber calcular a soma das medidas dos ângulos internos para polígonos de n lados. ▪ Saber aplicar os conhecimentos sobre a soma das medidas dos ângulos de um triangulo e de um polígono em situações práticas. ▪ Saber identificar elementos de poliedros e classificar os poliedros segundo diversos pontos de vista ▪ Saber planificar e representar (em vistas) figuras espaciais iii ▪ Saber reconhecer situações que envolvem 3.º bimestre Relações Proporcionalidade ▪ Variação de grandezas direta ou inversamente proporcionais ▪ Conceito de razão ▪ Porcentagem ▪ Razões constantes na Geometria: ▪ Construção de gráficos de setores ▪ Problemas envolvendo probabilidade proporcionalidade em diferentes contextos, compreendendo a ideia de grandezas direta e inversamente proporcionais ▪ Saber resolver problemas variados, envolvendo grandezas direta e inversamente proporcionais ▪ Reconhecer e saber utilizar o conceito de razão em diversos contextos (proporcionalidade, escala, velocidade, porcentagem etc.), bem como na construção de gráficos de setores ▪ Conhecer o significado do número π como uma razão constante da Geometria, sabendo utilizá-lo para realizar cálculos simples envolvendo o comprimento da circunferência ou de suas partes ▪ Saber resolver problemas simples envolvendo a ideia de probabilidade (porcentagem que representa possibilidades de ocorrência) ▪ Compreender o uso de letras para representar 4.º bimestre Números Álgebra ▪ Uso de letras para representar um valor desconhecido ▪ Conceito de equação ▪ Resolução de equações ▪ Equações e problemas valores desconhecidos, em particular, no uso de fórmulas ▪ Saber fazer a transposição entre a linguagem corrente e a linguagem algébrica ▪ Compreender o conceito de equação a partir da ideia de equivalência, sabendo caracterizar cada equação como uma pergunta ▪ Saber traduzir problemas expressos na linguagem corrente em equações ▪ Conhecer alguns procedimentos para a resolução de uma equação: equivalência e operação inversa 7.ª série/8.º ano do Ensino Fundamental Conteúdos 1.º bimestre Números Números racionais ▪ Transformação de decimais finitos em fração ▪ Dízimas periódicas e fração geratriz Potenciação ▪ Propriedades para expoentes inteiros ▪ Problemas de contagem Habilidades ▪ Compreender a ideia de número racional em sua relação com as frações e as razões ▪ Conhecer as condições que fazem com que uma razão entre inteiros possa se expressar por meio de dízimas periódicas; saber calcular a geratriz de uma dízima ▪ Compreender a utilidade do uso da linguagem das potências para representar números muito grandes e muito pequenos ▪ Conhecer as propriedades das potências e saber realizar de modo significativo as operações com potências (expoentes inteiros) iv ▪ Realizar operações simples com monômios e 2.º bimestre Números/Relações Expressões algébricas ▪ Equivalências e transformações ▪ Produtos notáveis ▪ Fatoração algébrica polinômios ▪ Relacionar as linguagens algébrica e geométrica, sabendo traduzir uma delas na outra, particularmente no caso dos produtos notáveis ▪ Saber atribuir significado à fatoração algébrica e como utilizá-la na resolução de equações e em outros contextos ▪ Compreender o significado de expressões envolvendo números naturais por meio de sua representação simbólica e de seu significado geométrico (2n é um número par, 2n + 1 é um número ímpar, a soma dos números n primeiros números naturais é (n (n+1))/2 etc.) ▪ Compreender situações-problema que envolvem Números/Relações 3.º bimestre Equações ▪ Resolução de equações de 1.º grau ▪ Sistemas de equações e resolução de problemas ▪ Inequações de 1.º grau Gráficos ▪ Coordenadas: localização de pontos no plano cartesiano proporcionalidade, sabendo representá-las por meio de equações ou inequações ▪ Saber expressar de modo significativo a solução de equações e inequações de 1.º grau ▪ Saber explorar problemas simples de matemática discreta, buscando soluções inteiras de equações lineares com duas incógnitas ▪ Saber resolver sistemas lineares de duas equações e duas incógnitas pelos métodos da adição e da substituição, sabendo escolher de forma criteriosa o caminho mais adequado em cada situação ▪ Compreender e usar o plano cartesiano para a representação de pares ordenados, bem como para a representação das soluções de um sistema de equações lineares ▪ Reconhecer e aplicar o teorema de Tales como 4.º bimestre Geometria uma forma de ocorrência da ideia de proporcionalidade, na solução de problemas em diferentes contextos Geometria ▪ Teorema de Tales ▪ Teorema de Pitágoras ▪ Área de polígonos ▪ Volume do prisma ▪ Compreender o significado do teorema de Pitágoras, utilizando-o na solução de problemas em diferentes contextos ▪ Calcular áreas de polígonos de diferentes tipos, com destaque para os polígonos regulares ▪ Saber identificar prismas em diferentes contextos, bem como saber construí-los e calcular seus volumes 8.ª série/9.º ano do Ensino Fundamental Conteúdos Habilidades v 1.º bimestre Números Números reais ▪ Conjuntos numéricos ▪ Números irracionais ▪ Potenciação e radiciação em R ▪ Notação científica ▪ Compreender a necessidade das sucessivas ampliações dos conjuntos numéricos, culminando com os números irracionais ▪ Saber representar os números reais na reta remunerada ▪ Incorporar a ideia básica de que os números irracionais somente podem ser utilizados em contextos práticos por meio de suas aproximações racionais, sabendo calcular a aproximação racional de um número irracional ▪ Saber realizar de modo significativo as operações de radiciação e de potenciação com números reais ▪ Compreender o significado e saber utilizar a notação científica na representação de números muito grandes ou muito pequenos Números/Relações 2.º bimestre Álgebra ▪ Equações de 2.º grau: resolução e problemas Funções ▪ Noções básicas sobre função ▪ A ideia de variação ▪ Construção de tabelas e gráficos para representar funções de 1.º e de 2.º graus ▪ Compreender a resolução de equações de 2º grau e saber utilizá-las em contextos práticos ▪ Compreender a noção de função como relação de interdependência entre grandezas ▪ Saber expressar e utilizar em contextos práticos as relações de proporcionalidade direta entre duas grandezas por meio de 1.º grau ▪ Saber expressar e utilizar em contextos práticos as relações de proporcionalidade direta entre uma grandeza e o quadrado de outra por meio de uma função de 2.º grau ▪ Saber construir gráficos de funções de 1.º e 2.º graus por meio de tabelas e da comparação com os gráficos das funções y = x e y = x² Geometria/Relações 3.º bimestre Proporcionalidade na Geometria ▪ O conceito de semelhança ▪ Semelhança de triângulos ▪ Razões trigonométricas ▪ Saber reconhecer a semelhança entre figuras planas, a partir da igualdade das medidas dos ângulos e da proporcionalidade entre as medidas lineares correspondentes ▪ Saber identificar triângulos semelhantes e resolver situações-problema envolvendo semelhança de triângulos ▪ Compreender e saber aplicar as relações métricas dos triângulos retângulos, particularmente o teorema de Pitágoras, na resolução de problemas em diferentes contextos ▪ Compreender o significado das razões trigonométricas fundamentais (seno, cosseno e tangente) e saber utilizá-las para resolver problemas em diferentes contextos 4.º bimestre Geometria/Números Corpos redondos ▪ O número ; circunferência, o círculo e suas partes; área do círculo ▪ Teorema de Pitágoras ▪ Área de polígonos ▪ Volume do prisma ▪ Conhecer a circunferência, seus principais elementos, suas características e suas partes ▪ Compreender o significado do π como uma razão e sua utilização no cálculo do perímetro e da área da circunferência ▪ Saber calcular de modo compreensivo a área e o volume de um cilindro ▪ Saber resolver problemas envolvendo processos de contagem – princípio multiplicativo ▪ Saber resolver problemas que envolvam ideias simples sobre probabilidade Fonte: SÃO PAULO, 2010, p. 57-64 vi ANEXO B ENTREVISTAS Professor A Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre as aulas que envolviam fração, em especial, as que desenvolviam o conceito no Ensino Fundamental e Médio? Entrevistado: Antigamente eu achava que o ensino era muito mais forte e eu gostava de estudar, hoje em dia é complicado, eu gostava do que os professores falavam era a parte mais completa da aula, o principal era o que o professor falava, não me lembro de como o professor ensinava no Ensino Fundamental e Médio. Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre a discussão envolvendo questões ligadas ao ensino e aprendizagem das frações na sua formação inicial (graduação) e na formação continuada (outros cursos e observatório)? Entrevistado: Na minha época não usávamos nada de diferente para complementar as aulas. Não me lembro dos significados das frações. Acho que trabalhei na graduação números racionais em forma fracionária, mas não me recordo ao certo, o professor já usava as frações em cálculos, não me lembro que falava em nenhum tipo de significado. Trabalhei os números racionais com pouca ênfase. No observatório a Rosana me ensinou a usar o compasso de uma forma bem diferente, facilitando a aprendizagem com relação aos números irracionais. Entrevistador: De alguma maneira você se recorda que com o estudo dos números irracionais feito no observatório desenvolvia conceitos dos racionais? Entrevistado: Para definir números irracionais fizemos atividade usando fração e dividindo o numerador pelo denominador, se o resultado dessa divisão fosse um número inteiro ou um número decimal exato ou um decimal em forma de dizima periódica, concluíamos que a fração trabalhada era um número racional, se o resultado da divisão era um número decimal sem periodicidade em sua parte decimal é considerado um número irracional. Entrevistador: Em algum momento dessa atividade alguém falou no significado quociente? Entrevistado: É, foi falado que era através do quociente que se descobria que tipo de número era, racional ou irracional. Entrevistador: Em que ano você trabalhou com 5.ª série/6.º ano e 6.ª série/7.º ano? Entrevistado: Em 2008,2009 e 2010 eu trabalhei com 5.ª e 6.ª séries, esse ano estou com 6.ª, 7.ª e 8.ª série. Entrevistador: Você ensinou frações antes de 2008? Entrevistado: Ensinei frações antes de 2008, eu sempre fiz através de representação, fazia um quadrado e dividia, por exemplo: ―comprei um chocolate e vamos dividir‖, com desenhos, citando exemplos didáticos, divide o chocolate, come um terço, um todo, um inteiro. Para ensinar numero misto, estudei numero inteiro. Às vezes faço recortes para eles entenderem a parte todo. Geralmente trabalho com giz e lousa, até que eles entendem bem o vii que estou passando. Entrevistador: Me explique como você ensina isso. Entrevistado: No primeiro momento passo a parte todo, faço desenho e depois vamos dividindo fração em própria, imprópria, aparente. Entrevistador: Como assim? Você pode me detalhar isso? Entrevistado: Se eu divido o chocolate em duas partes, a fração é meio, se eu dividir em quatro partes, a fração é um quarto, mostro o significado parte todo. Entrevistador: E você compara esses tamanhos? Entrevistado: Sim, mostrando através das figuras. Entrevistador: Você está me falando que explicava o significado da parte todo, e o quociente, você explicou? Entrevistado: O quociente trabalhei dividindo o numerador pelo denominador e eu falava também sobre outro significado que é a razão sendo a mesma coisa que uma divisão. Obtive alguns resultados bons, não todos, mais tive. Entrevistador: De que maneira você fala de fração no trato do significado razão? Entrevistado: Eu falo bem assim: ―VAMOS DIVIDIR, OLHA A DIVISÃO‖ é difícil mais explico como faz a divisão, porque ela é feita. Uso a razão como exemplo na medicina temos 4 vagas para tais alunos, vou exemplificando um dia de sol e três de chuvas, eles entendem dessa forma. Entrevistador: Comente como você introduziu fração em suas aulas este ano com a implementação do novo currículo que aconteceu em 2008. Entrevistado: Agora eu uso os livrinhos, não uso tudo mais uso. Estou fazendo mosaico, hoje em dia tem muito de geometria, mais não faço só geometria, faço matemática, na próxima semana vamos fazer exposição de mosaico. Agora eu estou ensinando pra eles o seguinte ―Porque vocês não conseguem com todas essas figuras fazer um ladrilho?‖ Porque não estão fazendo a figura certa, tem haver coma divisão, da pra falar ate de racionais. Entrevistador: No Caderno do Professor da 5.ª série, tem a Situação de Aprendizagem 3 que fala de frações. Como você introduziu isso para seus alunos? Entrevistado: Situação 3: Começo sempre com representação para explicar. O denominador denomina (quanto você vai comer, quanto você vai dividir) a fração, sempre friso isso. A potenciação é 2 vezes ―OOOOO NÚMERO 7‖ (COM ÊNFASE, PARA NÃO PENSAREM QUE É 2X7 E SIM 2X OOOO NUMERO 7) eles acham até engraçado o meu jeito de falar. Trabalho muito com figura, joguinho de frações de encaixar como um dominó, joguinho bem antigo nem sei de onde arrumaram ―disco de frações‖, mais só tem um joguinho na escola então fica difícil trabalhar sempre. Essa Situação de Aprendizagem eu copiei os desenhos que estavam no caderno, eu fiz as divisões e chamava atenção para as partes que eu pintava. Aqui -> 1/5 (o 5 denomina em quantas vezes deverá ser divido a pizza, por exemplo). Eu liguei a geometria com a matemática, a conversão da fração na polegada. Entrevistador: Não entendi. Entrevistado: Eu pedia para os alunos olharem a reguinha que tinha suas medidas em viii polegadas, por exemplo, um quarto, um meio, se o número era maior do que uma polegada, já mostrava pra eles que isso poderia ser representado na forma de número misto, por exemplo, uma polegada e um quarto. Entrevistador: Com relação à Situação de Aprendizagem 4, como você trabalhou a ideia de equivalência? Você usou a figura do caderno? Entrevistado: Usei a figura do caderno, só que eu sempre faço uma fração embaixo da outra, ou seja, um desenho embaixo do outro, mostro a equivalência, que por mais que mudemos os números, muitas das vezes estamos fazendo a mesma coisa. Entrevistador: Me fale como você introduz operações com frações (adição e subtração)? Entrevistado: Quando é o mesmo denominador, você só pode comparar números iguais, então você conserva o de baixo e compara o de cima. Tem que ensinar o mínimo múltiplo comum que é a parte mais difícil. A compreensão de dividir pela parte de baixo e multiplicar pela parte de cima, é muito complicada para eles, preciso inventar outra forma de ensiná-los porque eles não entendem. Entrevistador: Quais dificuldades aparecem quando se trabalha com frações, do ponto de vista do professor e do aluno? Entrevistado: No começo foi difícil de usar o livrinho viu? Mais agora existem várias partes do livrinho que eu uso, principalmente com a 7.ª série que tem os números notáveis. Confesso que não uso tudo, mais uso bastante, na multiplicação e divisão não uso representação de figuras, vou direto ao conceito. As dificuldades que aparecem na fração são adição e subtração. Equivalência, divisão e multiplicação eles entendem mais do que adição e subtração. Entrevistador: Quais conceitos? Entrevistado: Para multiplicar uma fração por outra, multiplico em linha, numerador por numerador e denominador por denominador. Na divisão conservo a primeira fração e multiplico pelo inverso da segunda, não uso o material. Entrevistador: Como você avalia a abordagem do conceito de números racionais na representação fracionária na Educação Básica? O que é proposto você considera suficiente? Faça outras considerações que você acha necessárias. Entrevistado: Não é suficiente falar, é interessante aplicar a matemática com bastante exercícios, até repetitivo, mesmo sabendo que o processo de repetição seja algo dito como antigo e forçado, na matemática as coisas funcionam dessa maneira, com a repetição. Professor B Graduada em ciências com habilitação plena em matemática 1998 UniSantana, 12 anos de magistério no Estado. Com experiência de apenas um ano e meio em escola particular. Leciono 30 aulas de manhã nos 3 primeiros anos e 3 segundos anos EM. Entrevistador: Quais recordações você tem com relação ao estudo com frações, em especial no Ensino Fundamental e Médio? Entrevistado: Eu odiava matemática, não me lembro como o professor abordava o tema ix fração. Se estudei números racionais em forma fracionária foi muito pouco. Eu fiz um curso aqui na diretoria, não me lembro do nome, envolvia fração, com um cd que recebemos para trabalhar no computador, números decimais e fração decimal. Entrevistador: Você ainda tem esse material, o CD que foi usado no curso? Entrevistado: Devo ter, mas nem sei onde está, tudo o que eu aprendi na escola, sinceramente não me lembro, foi tudo muito pincelado, e as minhas recordações são quase nulas, afinal como falei eu não gostava da matéria. Fui gostar agora na minha graduação, porém de informações mais antigas que essas eu não tenho. Entrevistador: Como foi que você aprendeu na sua graduação? Entrevistado: Eu me lembro que o professor fez alguns comentários sobre frações falando dos procedimentos de cálculos, adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação e radiciação. Entrevistador: Você se lembra como ele introduziu isso? Entrevistado: Ele definia as regras das operações, por exemplo, para somar ou subtrair frações com o mesmo denominador bastava conservar o denominador e somar ou subtrair os numeradores e a fração resultante ele sempre pedia para simplificar ao máximo, até se tornar irredutível e se a fração resultasse em das frações com denominadores diferentes tínhamos que determinar o mínimo múltiplo comum. Entrevistador: Você não se lembra se o professor falava nesse momento de somar ou subtrair frações com denominadores diferentes em tornar as frações equivalentes e depois fazer operação? Entrevistado: Lembro-me que ele dizia que só podia somar ou subtrair se estivesse falando da mesma coisa, ou seja, essa mesma coisa só se consolidava quando os denominadores eram iguais. Em relação a multiplicação a regrinha era muito fácil, bastava multiplicar em linha, numerador por numerador e denominador por denominador. Já na divisão conservava a fração que ocupava o numerador e multiplicava pela fração que estava no denominador e para finalizar simplificava ao máximo. Entrevistador: Sobre divisão de um todo em partes, o que você me diz? Entrevistado: Divisão parte-todo ele não falava não. Entrevistador: Em quais anos você trabalhou com 5.ª série/6.º ano e 6.ª série/ 7.º ano já com a implementação do novo currículo? Entrevistado: Trabalhei em 2010 com 5.ª série, 6.ª série não. Entrevistador: Você ensinou esse tema antes de 2008? Comente como você introduzia frações, antes da divulgação do novo currículo? Entrevistado: Trabalhei em 1999 e 2000. Para apresentar a fração eu usava uma reta e dividia essa reta em pedaços, fazia isso na lousa. Se eu dividia a reta em dez partes escrevia um décimo e assim por diante. As operações, fazia como descrevi quando fiz a graduação, a única diferença é que eu passava bastante exercícios de fixação, pois sempre achei que matemática se aprende com muita repetição. Entrevistador: Como você introduziu frações em 2010? Comente como você apresentava os exercícios propostos no Caderno do Professor? x Entrevistado: Pra falar a verdade eu vi esse Caderno do Professor mas não usei muito, achei um pouco confuso, comecei estudar, mas eu mesmo não entendia muito a proposta dos exercícios, não todos claro. Vou ser sincera pra você para usar esse material precisa ter um curso específico, por a mão na massa mesmo. Depois dei uma olhada no Caderno do Aluno. Entrevistador: Então você usou esse Caderno nas aulas? Entrevistado: Não usei, a matéria estava atrasada, então eu passava lição na lousa. O conteúdo que eu usava, eu explicava e exemplificava. O caderno pra mim não funciona. Entrevistador: Mas você seguiu a sequência de conteúdos apresentada no caderno? Entrevistado: Mais ou menos, trabalhei da mesma forma ou quase como antes da implementação desse material. Entrevistador: Bom, se você está me dizendo que não usou o material, eu vou te perguntar sobre alguns temas: Você trabalhou o significado quociente? Entrevistado: Não, nem números decimais, trabalhei mais operações mesmo, até avisei o professor desse ano como eu havia trabalhado o ano passado e até onde eu parei. Entrevistador: Em algum momento você usou o significado razão ou fração com o significado operador? Entrevistado: Não. Entrevistador: Me parece que você considera difícil desenvolver esse tema com os alunos, ainda insistindo um pouco, me conte quais as dificuldades que você via nos alunos na introdução desse conteúdo? Entrevistado: As dificuldades eram com denominadores diferentes, em trabalhar o MMC. A ideia de fatorar um número para determinar o MMC levava o aluno a ter que fazer divisão e isso era complicado para eles. Não sabiam e não prestavam muita atenção na explicação. Entrevistador: O que você acha que justifica isso? Entrevistado: Desmotivo-me com o desinteresse dos alunos. Eu acho que o caderno do aluno não trás conteúdo só trás exercício e o caderno do professor tem uma linguagem difícil para transmitir pros alunos. Os cadernos deveriam vir de forma mais clara. Entrevistador: Você poderia, então, me contar com mais detalhes como você trabalhava esse tema antes do novo currículo, introduzindo os números racionais na forma fracionária? Entrevistado: No ano que lecionei matemática para 5.ª série, acho que foi em 2000 eu usava um livro didático da editora... e segui a ordem que aparecia. Antes de falar de números racionais e sua representação fracionária eu ensinava os alunos a fatoração de números naturais, mínimo múltiplo comum (mmc) e máximo divisor comum (mdc) o objetivo era usar o mmc quando fosse trabalhar as operações de somar e subtrair frações. Como no ano passado (2010) lecionei para uma 5.ª série, como já falei não usei o caderno, usei o livro que eu tenho, acho que explica melhor, apresentei a ideia de fração que é a de medir objeto, além do exemplo da divisão da reta, como comentei, trabalhei também desenhando na lousa um retângulo e marco que a medida desse retângulo é uma polegada, desenho ao lado um parafuso do mesmo tamanho do retângulo, pinto com giz colorido todo o retângulo, afirmo então que o parafuso mede uma polegada. Faço outro retângulo e pinto com giz só a metade e xi desenho ao lado outro parafuso do tamanho da parte pintada e represento a medida da peça na forma de fração ( um sobre dois), desenho mais três retângulo do mesmo tamanho porem dividindo em maiores números de partes e ao lado o parafuso de tamanho diferente de acordo com as partes pintadas assim eu tenho em uma figura de mesmo tamanho várias representações , por exemplo, meio, um terço, três quartos, cinco oitavos etc. Assim os meus alunos verificam que a fração representa a parte de um todo. Tem um probleminha que eu costumo dar que é: Cinco coleguinhas saem para passear. Três estão usando camisa verde e dois estão de camisa amarela. Como representar esses meninos que estão de camisa verde com relação ao total de meninos? E representação dos meninos que estão de amarelo com relação cinco meninos? Procuro também mostrar para os alunos o lugar de alguns números na forma de fração na reta numérica. Faço também a construção de alguns polígonos e divido em partes iguais, risco algumas dessas partes peço para representar tanto a parte riscada como a parte que não foi riscada, na forma de fração, em seguida já começo a ensinar a somar essas frações que resultam no polígono inteiro, defino então que para somar ou subtrair frações de mesmo denominador basta conservar o denominador e fazer as operações com os numeradores, somando ou subtraindo. Finalmente divido o numerador pelo denominador, determino o polígono inteiro ―UM‖. Procuro dar bastante exercícios com numerador um, envolvendo exercícios do tipo...Determine quanto é um terço de quinze, um quarto de vinte... Para explicar frações com numerador diferente de um, trabalho também com figuras, exemplo, construo dois retângulos de mesmo tamanho, um ao lado do outro, divido o primeiro em três partes iguais com linhas horizontais, em seguida risco duas partes. No outro retângulo faço a mesma divisão do primeiro, risco a mesma parte e em seguida faço outras subdivisões (12 partes), ficando assim riscado no segundo retângulo oito partes de um total de doze. Pelas figuras observamos que dois terço de 12 é 8. O livro mostra que esse problema pode ser resolvido assim: Um terço de doze é igual a doze dividido por três que é quatro, então dois terços de doze é igual a dois vezes o quatro que é igual a oito. Não aprofundo muito nesse tipo de comentário pois percebo que muitos alunos não entendem e nem se esforçam para entender. Em seguida passo para as operações, soma e subtração, achando o mmc que eles já aprenderam, dividindo esse mmc pelo denominador e multiplicando pelo numerador de cada fração em seguida conserva o denominador, soma ou subtrai os denominadores. Mas toda vez que vai fazer esse tipo de exercício tenho que estar relembrando, eles esquecem muito rápido. Na multiplicação falo para multiplicar o numerador pelo numerador e o denominador pelo denominador e na divisão de uma fração por outra... conservo a primeira fração (a de cima) e multiplico pelo inverso da fração de baixo (que está no denominador). Entrevistador: Para explicar multiplicação e divisão envolvendo frações você usa figuras para demonstrar o procedimento dessas operações? Entrevistado: Não faço representação com figuras e nem uso outro recurso para tratar xii multiplicação e divisão. Entrevistador: Quais dificuldades aparecem quando se trabalha com fração, no ponto de vista do professor e do aluno? Entrevistado: A dificuldade que eu sinto não só em ensinar frações como outros conteúdos é a falta de interesse, falta de base (nas quatro operações) e também a indisciplina. Entrevistador: Faça outras considerações que julgue necessárias a respeito do trabalho desenvolvido com frações pelo grupo de professores na sua escola que lecionam para 5.ª série/6.º ano. Entrevistado: Sobre o caderno não posso falar muito, pois não usei, e o pouco que olhei achei muito complicado, tanto os caderno dos professores como o dos alunos e com relação aos meus colegas professores que lecionam comigo, falam das mesmos problemas que eu ti apresentei. Professor C Trabalhei durante sete anos e depois fiquei quinze anos fora da área da educação e fazem 5 anos que voltei pra essa área e estou sentindo muita dificuldade, mesmo sendo graduada em matemática. Magistério de 12 anos no Estado. Não lecionei em escola particular não. Hoje s tenho 30 aulas EM (1.º anos – matemática). Entrevistador: Comente quais as recordações você tem sobre as aulas que envolviam fração, em especial, as que desenvolviam o conceito no Ensino Fundamental e Médio. Entrevistado: É naquela época eles não trabalhavam muito assim com essa parte de joguinhos, era assim só no quadro, o professor já apresentava a fração com o desenhinho de colocava a forma fracionária, direto no quadro desta forma. Começa a divisão na metade, depois um quarto e assim por diante. Dividíamos o de cima pelo debaixo e tínhamos o número decimal, para colocar na reta. Não me recordo do meu professor falar em razão e proporção, eu só me recordei um pouco porque o ano passado eu dei aula na 5.ª e 6.ª série, por isso lembro algumas coisas relacionadas a minha própria aula. Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre a discussão envolvendo questões ligadas ao ensino e aprendizagem das frações na sua formação inicial (graduação) e na formação continuada (outros cursos e observatório). Entrevistado: Na minha graduação eu me recordo que nós trabalhávamos muito com frações, mas já no cálculo, não fazíamos exercícios falando de significados, simplesmente usávamos as operações com frações e o quociente. Meus professores não falavam nem em fração equivalente simplesmente pediam para simplificar ao máximo, ou seja, fazer com que a fração se tornasse irredutível. Entrevistador: E nos cursos de formação continuada? Por exemplo, no observatório da educação. Entrevistado: Nós buscamos aqui no observatório, aprimorar os conhecimentos no intuito de aplicar os conteúdos de matemática de uma forma coerente com a nova proposta. xiii Entrevistador: Antes de 2008 você trabalhou com 5.ª ou 6.ª série? s s Entrevistado: Antes de 2008, não trabalhei com 5.ª e 6.ª séries por isso não posso ajudá-lo, como introduzia o tema. O ano passado peguei uma 5.ª e uma 6.ª série, mais eu usei muito pouco os cadernos. Eu tinha muita dificuldade em compreender os exercícios, imagine meus alunos, mas mesmo assim eu consegui aplicar parte do conteúdo com o uso do material Entrevistador: Comente como você introduziu fração em suas aulas esse ano de 2010. Entrevistado: Você está com o caderno aí para eu poder lhe explicar quais atividades eu trabalhei e como trabalhei? Entrevistador: Sim, estou com o caderno aqui e gostaria que você contasse como introduziu a Situação de Aprendizagem 3 que trata das frações. Entrevistado: Bom eu segui as orientações do caderno e coloquei no quadro algumas figuras (no total 4), e cada uma delas fiz algumas divisões, em seguida achurei? A parte que eu queria que os alunos representassem com frações, pedi para que eles escrevessem a resposta no caderno. Quando comecei a perguntar verifiquei que a maioria não sabia representar as partes destacadas na forma fracionária. Alguns alunos disseram que já tinham visto mas não se lembravam. Eu expliquei todos que estavam na lousa e falei do significado do termo numerador que é a parte e o denominador que é o todo, mostrando no desenho. Entrevistador: Eles compreenderam? Entrevistado: Sim, eu fiz outras figuras e eles acertaram ao escrever na forma fracionária. E logo em seguida eu falei da leitura dessas, um terço, um décimo, etc. As figurinhas que aparecem no caderno como medir um objeto nesses casos de comparação, não aprofundei mas falei que uma unidade de medida pode caber exatamente um número de vezes no objeto medido, ou não. Entrevistador: Você explicou usando as representações que estão no Caderno do Professor? Entrevistado: Mostrei do jeitinho que está no caderno. Se eu usar uma unidade e esta caber 3 vezes no objeto, represento por 3÷1 que é o quociente que dá o resultado com número natural. Se eu dividir em 3 partes, tenho três terços e comparando com o objeto a medida pode ser escrita em forma de fração nove terços que é o mesmo resultado, 3. Já nos casos que a unidade de medida não cabe exatamente no objeto a ser medido, a solução é fracionar a unidade de medida, e aí nem sempre a fração pode ser representada por número natural, fica na forma de fração mesmo. Entrevistador: Ainda no caderno, na atividade 1 a proposta é apresentar a fração na notação de número misto. O que você fez para explicar isso? Como você fez? Entrevistado: No caso três bolinhas pintadas mais uma bolinha com um quarto dela pintada eu explico que cada bolinha cheia é um, como são três, escrevo três e um quarto, isso é o número misto. Agora transformar o número misto em uma única fração, não falei, complica, acho que confunde o aluno. xiv Entrevistador: Então, como você fez? Entrevistado: Passei um exercício complementares que eu criei, parecido com o caderno e depois já passei para essa Situação de Aprendizagem 4 que fala de frações equivalentes. Usei o exemplo do caderno comparando figuras que podem ser dividas e subdivididas, e representadas por frações escritas com números diferentes (naturais), mas com o mesmo valor aí eu falei um meio, dois quartos, são a mesma coisa. A seguir na atividade de comparação entre frações os alunos entenderam qual é a fração maior ou menos quando os denominadores iguais, pois nesse caso eu falei que quanto maior o numerador maior é o valor da fração. Entrevistador: Então você falou de quociente novamente? Entrevistado: Sim Entrevistador: E no caso de comparar frações com denominadores diferentes? Entrevistado: Ai foi ruim, falei que tinha que determinar o MMC, mas o caderno não traz isso antes, foi então que resolvi parar com o caderno e ensinar primeiro MMC. Apliquei alguns exemplos de comparação e já fui trabalhar a adição e subtração, multiplicação e divisão. A partir daí não usei mais o caderno, expliquei da forma que eu aprendi como te falei. Entrevistador: O caderno volume 2 no estudo do tema ―fração‖ traz a proposta de se trabalhar fração decimal, notação decimal. Como você trabalhou isso? Entrevistado: Para te falar a verdade, não usei o volume 2, o volume três falei um pouquinho das figuras geométricas, acabou o ano. Entrevistador: Com as figuras você em algum momento trabalhou fração? Entrevistado: Não, não deu mais tempo. Entrevistador: Quais dificuldades aparecem quando se trabalha com frações no seu ponto de vista, e dos alunos? Entrevistado: A dificuldade do professor eu acho que é o tempo curto para desenvolver um trabalho melhor, já os alunos não estudam, as vezes fazem exercícios, as vezes não, fica difícil. Entrevistador: Mais algumas considerações, ou seja, o que você acha dos Cadernos do Professor, e você conhece o trabalho de outros professores com esse material falando especificamente no estudo das frações. Entrevistado: Eu acho que o caderno contempla o conteúdo programático da série, mas, acho que faltam mais exercícios repetitivos, sobre os professores que trabalham na mesma escola que eu, não sei como trabalham esse tema. Professor D Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre as aulas que envolviam fração em especial, as que desenvolviam o conceito no Ensino Fundamental e Médio. Entrevistado: Pra falar a verdade eu não me lembro do professor que passava frações pra gente, lembro que falava em simplificar uma fração ao máximo, agora como ele fazia, eu não me lembro. Fazia figuras de laranja, desenhos, barras de chocolates para divisões de frações, xv recortes, agora fora isso eu não me recordo, não usei material dourado. Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre a discussão envolvendo questões ligadas ao ensino e aprendizagem das frações na sua formação inicial (graduação) e na formação continuada (outros cursos e observatório). Entrevistado: Na graduação usava mais apostilas com poucas figuras. Cheguei a fazer bastante exercício de números racionais, fracionários, a forma de converter número racional na forma fracionária decimal em fração e fração em decimal. Entrevistador: O professor falava sobre significados da fração? Por exemplo, razão? Entrevistado: Sobre razão eu não me lembro de ter aprendido e nem a forma lógica. Entrevistador: Em quais anos você trabalhou com 5.ª série/6.º ano e 6.ª série/7.º ano? Entrevistado: Em 2008, 2009, eu trabalhei com 5.ª e 6.ª série e este ano também. Me lembro que foi dado para os alunos um tipo de jornal com os conteúdos que iríamos trabalhar com eles, no começo tínhamos que guardar no final da aula, os jornais foram rasgando, os alunos não tomavam cuidado, não liam e nem faziam os exercícios propostos. O material do aluno para mim foi ruim, eu lembro que tinha até a parte de figuras fracionárias, mais não dava para absorver do jornal, era preciso o auxílio de um livro. Eu introduzi frações com exemplos de pizza, praticando sempre com giz e lousa, nada de recortes, tangran nada. Naquela época em 2008 eu não tinha a ideia que tenho hoje por isso não trabalhei de outras maneiras. Usei pouco o caderno do aluno. Não tenho certeza, mas acho que no ano seguinte foram entregue para os alunos o caderno dos conteúdos a serem ensinados naquele ano. Nós professores também recebemos o material. Comecei a dar uma olhada, mas não achei muito bom, uma linguagem muito difícil, eu no começo tentei explicar fazendo alguns exemplos na lousa mais percebia que na hora que os alunos (alguns poucos) tentavam resolver não conseguiam e desistiam, chegando ao ponto nas aulas seguintes de nem abrir o material. Foi então que eu percebi que isso não iria dar certo, pois tinha exercícios que até eu ficava confuso na hora de resolver. Dai pra frente comecei a usar um livro de matemática da 5.ª série e um da 6.ª série de uma coleção chamada... O estudo com as frações aparecem na 5.ª série, nesse livro que eu uso a partir do começo do terceiro bimestre. Entrevistador: Então me explique: como você introduziu esse tema para seus alunos? Entrevistado: Eu inicio o trabalho com as frações, fazendo uma figurinha de um círculo ou retângulo, por exemplo, divido essas figuras em oito partes iguais e passo a colorir cinco partes das oito. Logo após explico que o todo que forma a figura é oito e esse valor é o denominador e a parte que eu colori é o valor que representa o denominador, então, a parte colorida é representada por cinco oitavos e essa representação é chamada de número fracionário ou fração. Nesse momento explico que o denominador nunca pode ser zero. Em seguida passo alguns desenhos (círculo, quadrados, retângulos, triângulos...) e faço divisões de mesmo tamanho nas figuras e em cada uma delas pinto algumas partes e peço que os alunos representem essas xvi partes na forma fracionária. Entrevistador: Isso que você me falou se refere à representação da parte-todo, tem mais alguns exemplos que você aplica? Entrevistado: Outro tipo de exercício que costumo passar para que os alunos compreendam esse conceito de fração, por exemplo, um mês tem 30 dias, escreva a fração do mês que corresponde a...um dia, a dois dias, a vinte e cinco dias... Entrevistador: Usa algum tipo de material? Entrevistado: Não uso recurso nenhum nas minhas aulas só giz e lousa e às vezes tiro xerox de lista de exercícios e dou para os alunos. Na 5.ª série ensino também os alunos a maneira de ler e escrever a fração na língua materna, por exemplo, os denominadores: o número 2 é meio, o 3 é terço. o 4 é quarto... Na leitura da fração um sobre dois, lê-se um meio, na fração cinco sobre sete, lê-se cinco sétimos e assim por diante. Procurei no caderno e não encontrei isso lá. Outra coisa que eu não encontrei escrito nos cadernos do professor foi os tipos de frações. (Fração própria, imprópria e aparente). Em seguida passo para parte operatória (adição, subtração, multiplicação e divisão) de frações. Passo exemplos de cada tipo e forma de resolver em seguida dou exercícios. Explico na sequência a forma de comparar frações, sempre determinando antes o mmc para que possa comparar as frações com mesmo denominador. O resultado da divisão do numerador pelo denominador é a representação de uma fração na forma decimal eu ensino também, mas sem fazer representação por figura, desenvolvendo a operação direta. Com relação aos significados das frações só falo da parte-todo, como citei antes que o denominador é o todo e o numerador é a parte. Entrevistador: Nem na 6.ª série você usou a proposta? Entrevistado: Na 6.ª série eu também não usei o caderno dei uma olhada e achei muito complicado da mesma maneira que na 5.ª série, usei um pouco mais os exercícios escritos na forma de problemas. Entrevistador: Como? Entrevistado: Eu colocava um problema na lousa e explicava: ―João tinha uma barra de chocolate com 8 pedaços e ele comeu 3, como eu posso fazer isso virar uma fração?‖ aí eu explicava que o todo é o 8 e as partes comidas são as 3, então no caso ele comeu 3/8 três oitavos. Entrevistador: Qual as dificuldades para trabalhar com frações neste ano? Do ponto de vista do conhecimento do professor e do conhecimento do aluno. Entrevistado: Eu não aprendi a trabalhar da forma que o novo currículo propõe, não tenho muita experiência. Eu ensino como eu aprendi. Sobre as dificuldades dos alunos eu entendo que eles não veem muito sentido em estudar nessa faixa de idade. Entrevistador: Quer fazer mais algumas considerações a sobre o que abordamos? Entrevistado: Esse ano usei muito pouco o material, mas vou tentar trabalhar mais com ele, xvii pois sei que tenho que fazer isso... só acho que deveria ter mais cursos e mais materiais para que possa ser trabalhado com os alunos de forma mais dinâmica... Professor E Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre as aulas que envolviam fração em especial, as que desenvolviam o conceito no Ensino Fundamental e Médio. Entrevistado: No Ensino Fundamental e Médio o único assunto que lembro é o MMC, com relação a fração pois com isso fazíamos cálculos de somar e subtrair frações com denominadores diferentes, não tenho lembranças de como o professor fazia, acho que resolvia um ou outro exemplo e depois passava exercícios pra gente fazer. Na verdade eu resolvia mecanicamente, não entendia quase nada, fazia da forma que ele ensinava sem saber porque. No médio só trabalhei incógnita, determinar o valor de x na equação, gráfico da função... Entrevistador: No Ensino Médio não trabalhou frações em conteúdo nenhum? Entrevistado: Não que eu me lembre. Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre a discussão envolvendo questões ligadas ao ensino e aprendizagem das frações na sua formação inicial (graduação) e na formação continuada (outros cursos e observatório). Entrevistado: Com relação a graduação o professor pedia para dar aula sobre frações assim íamos pesquisar para apresentar a aula sobre frações ―aplicando a apresentação tendo sentido voltado para alunos do Ensino Fundamental, ter cuidado para elaborar aula com intenção de mostrar para turma e para o professor da graduação uma maneira de desenvolver o tema que chamasse a atenção do aluno do Ensino Fundamental para o aprendizado dos significados das frações. Recordo-me que me apropriei com atuação dando aula, pesquisando e estudando uma forma. Entrevistador: Me conte com fazia isso. Entrevistado: Fiz uma pesquisa em alguns livros de matemática e separei por temas das formas como interpretavam frações, a primeira forma era parte-todo, a segunda era quando usava a fração para falar de probabilidade, porcentagem por exemplo, dez dividido por cem, ou seja dez por cento de algo e a divisão do dez pelo cem que também representava com número decimal esse exemplo, nesse caso zero vírgula um por cento (0,1%). Me lembro que na faculdade dei uma aula usando a divisão da pizza, parte do todo dependendo da divisão feita, destacando a parte retirada e a parte restante. Entrevistador: Está me dizendo que com isso demonstrava os significados que você me descreveu? Entrevistado: Não na divisão da pizza, o desenho, só demonstrava a fração que significava a parte. As outras formas eu dava em forma de problemas, quanto por cento terei de desconto em uma compra? A fração cinco meios pode ser representado por que número na forma decimal? E assim por diante.... Entrevistador: Em que ano você lecionou para 5.ª série/6.º ano e 6.ª série/7.º ano? Entrevistado: Em 2009, 2010, 2011,, 6.º ano, e 2008, 2009 e 2010, 5.º ano. xviii Entrevistador: Você não trabalhou esse tema antes de 2008? Entrevistado: Não quando comecei a dar aula em 2008, 5.ª série/6.º ano, já iniciei com a Proposta Curricular, primeiro com um material que parecia um jornal e depois com o Caderno do Professor e Caderno do Aluno. Trabalhei com Soroban que inicia o currículo 2008. No caderno do Professor de Matemática, 1.º bimestre. Eu era muito novinha, peguei as aulas de um professor que desistiu das aulas na 5.ª série. Consegui desenvolver alguns conceitos de frações usando historinhas, mas primeiro fiz uma revisão das quatro operações com números naturais. Entrevistador: Você usou o Caderno do Professor com ferramenta para desenvolver a aulas? Entrevistado: Sim eu usava só como um parâmetro para dar aula. Entrevistador: Me desculpe não entendi. Entrevistado: Eu quase não usava os exemplos e os exercícios, mas buscava em livros outras atividades semelhantes, porque no Caderno do Professor dificilmente tem exercícios parecido. Entrevistador: Como faz para apresentar o conteúdo? Entrevistado: Usei livros didáticos para mostrar figuras e divisão, os alunos não demonstraram conhecimento nenhum com relação a fração. Os alunos não conheciam significados. No 7.º ano recebi uma (2009) turma que tive que retomar o trabalho com frações relembrando adição, subtração, divisão e multiplicação de frações. A maior dificuldade no trabalho com ―frações‖ foi na resolução das ―4 operações básicas‖ como na série anterior. Entrevistador: Essas operações a que você se refere é com naturais? Entrevistado: Sim só depois operações com frações com denominadores diferentes e iguais. Falando em partes pergunto inicialmente quanto dá ―um dividido por quinze‖? Alguns alunos dizem ―não dá pra dividir isso‖. Soluciono essa dúvida dizendo posso pegar um chocolate e dividir em 15 partes? A resposta é sim..., eles não tem noção de quantidade em uma única unidade, mas se mostrar de uma forma concreta eles entendem. Entrevistador: Quais dificuldades aparecem quando se trabalha com fração (no ponto de vista do professor e do aluno)? Entrevistado: Como professor eu encontrei uma dificuldade no tempo programado ao tema fração. Com relação ao aluno eu acho que a dificuldade está na operação por falta de base, somar frações, subtrair frações, multiplicar e dividir. Com relação ao significado de partes de um todo o aluno entende. Eu uso muito pouco o caderno do professor e do aluno, uso o caderno como base mais muito dos exercícios acho que confundem mais do que esclarecem. Recebi o caderno do professor tentei trabalhar alguns exemplos, mas poucos. Entrevistador: Faça outras considerações que você julgue necessárias a respeito do trabalho desenvolvido com frações pelo grupo de professores de sua escola e também sobre o material da nova proposta. Entrevistado: O caderno veio como uma ferramenta mais uso só alguns exercícios. Com relação à apresentação dos conceitos de frações eu avalio que é uma base com trabalho de xix frações mais não contempla o necessário para aprendizado do aluno. Com relação aos significados não contempla... Falta no currículo a realidade dos alunos (situações reais). Situações contextualizadas no dia a dia. Muitos exercícios que trazem calcule e efetue é preciso mais probleminhas na linguagem materna. Que desafiem os alunos. Alguns alunos que não sabem resolver operações usando as propriedades operatórios mais resolvem corretamente os problemas que envolvem os conceitos de frações. Peço para os meus alunos responderem na linguagem materna. É preciso entender que matemática também é representada através de escrita na linguagem materna. Isso o Caderno do Professor propõe e eu acho interessante. Sobre a opinião do Caderno do Professor os docentes que conheço sempre falam negativamente. Parece-me que os professores estão acomodados e para trabalhar novo currículo é preciso buscar, estudar mais. A necessidade de uma formação continuada, trabalhando de forma aplicativa a nova proposta. Acho que para superar as dificuldades é preciso pesquisar e aplicar na prática. Com relação a resolução e aplicação vou fazer um resumo prá você: Para explicar parte todo, dividi uma figura em partes, representando essas partes na forma de fração. Em seguida trabalhei o significado quociente dividindo o numerador pelo denominador. Não falei sobre frações equivalentes, usei o termo simplificação de frações, simplesmente dividindo o numerador e o denominador por um mesmo valor.Com relação às propriedades operatórias não usei nada de concreto. Na adição e subtração ensinei a manter o denominador e efetuar os numeradores (Observação: sendo frações de mesmo denominadores). Quando os denominadores são diferentes, ensinei a fatorar de maneira a determinar o MMC Mínimo Múltiplo Comum. Com o MMC, divido pelo denominador de cada fração e multiplico o resultado pelo numerador em seguida, conservo o denominador e efetuo os numeradores. Na multiplicação ensino os alunos a multiplicarem em linha, numerador por numerador e denominador por denominador, e por fim a divisão, conservo a primeira fração e inverto a segunda, trocando de lugar o numerador com denominador e multiplico em linha em nenhum dos dois casos uso qualquer forma de figura ou material concreto só uso giz e lousa. Professor F Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre as aulas que envolviam fração, em especial, as que desenvolviam o conceito no Ensino Fundamental e Médio. Entrevistado: Como aluna eu aprendi a soma, subtração com denominadores diferentes. Tínhamos que achar o mínimo múltiplo comum, ai depois sim fazia a soma ou subtração. O professor passava diretamente na parte operatória, já mostrava a fração através de desenho. Entrevistador: Como era essa demonstração? Entrevistado: Através de um chocolate, por exemplo, ou uma laranja dividida em varias partes, tudo na lousa, sem prática. Ora usava a laranja, ora usava pizza, ora usava o chocolate, mas sempre trabalhava a mesma ideia. xx Entrevistador: Qual era a ideia dessa divisão? Entrevistado: A ideia era mostrar que um pedaço tinha obrigatoriamente que ser representado por um número fracionário e depois podia dividir o numerador pelo denominador da fração e representar por um decimal. Não falava em significados, nada prático. O professor falava muito sobre primeiro antecessor, segundo antecessor, falava também de antecedente e consequente. O meu professor falava também sobre equivalência das frações. Ele mostrava a equivalência, multiplicando o numerador e o denominador pelo mesmo número ou dividindo o numerador e o denominador, por um mesmo número e o resultado disso era a equivalência das frações. Entrevistador: Você se recorda como e qual o significado das frações equivalentes? Entrevistado: Bom, para trabalhar fração equivalente nós não sabíamos ainda como usar o mínimo múltiplo comum. O MMC e o MDC eram dados antes de começar estudar frações, porém os conceitos ainda não eram usados para descobrir fração equivalente. O MMC e o MDC eram estudados simplesmente como sistema de fatoração e em seguida usava o MMC na soma e subtração das frações para tornar as frações com mesmo denominador o que significava isso já se falava, frações equivalentes tem o mesmo valor, o nome já diz se equivalem. Entrevistador: Comente quais recordações você tem sobre a discussão envolvendo questões ligadas ao ensino e aprendizagem das frações na sua formação inicial (graduação) e na formação continuada (outros cursos e observatório). Entrevistado: Na minha graduação não me lembro de ter estudado frações, os professores já suponham que nós já sabíamos trabalhar com frações. O curso que eu fiz é completamente diferente do que tem agora, não se falava em revisão dos conteúdos do ensino fundamental e do ensino médio. Eu me formei em 1977. Era uma época totalmente diferente não tinha informática, as matérias que eu aprendia são matérias que a gente nem trabalha com os alunos. Era muito diferente. Nem posso falar de frações porque eu não me recordo. Isso já se faz 30 e poucos anos atrás. O conteúdo dado na faculdade era mais avançado já era nível superior mesmo. Lembro-me que tinha uma disciplina chamada Prática de Ensino, tinha Matemática Elementar que entravam um pouquinho de frações, mas já na resolução de equações e inequações, se falava um pouquinho também na parte de álgebra mais sem falar de significados. Eu fiz vários cursos de formação continuada mais nunca no estudo dos números racionais. Fiz geometria. Entrevistador: Em que anos você deu aula para 5ª série? Entrevistado: Eu trabalhei com 5ª série a muitos anos atrás, nos anos 80. Eu trabalhei muito pouco no ensino fundamental principalmente em 5ªs e 6ªs séries, mas me lembro de que eu ensinava frações de acordo como era passada nos livros didáticos. A única forma prática que eu trabalhei foi dividindo alguma coisa em partes, como eu aprendi e relatei pra você, construindo figurinhas, ora uma laranja ora um tablete de chocolate, onde eu dividia com as crianças, isso era o que eu fazia e na escola tinha o material dourado e eu de vez em quando usava para falar de inteiro, partes desse inteiro. xxi Entrevistador: Como trabalhava, de que forma? Entrevistado: Nem me lembro, mas naquela época era diferente os alunos faziam o as atividades, estudavam mais, eles eram disciplinados. Entrevistador: Vamos falar especificamente do estudo dos números racionais na forma fracionária, no que diz respeito aos significados, parte todo, quociente, razão e fração como operador, em algum momento indicou ou falou sobre isso? Entrevistado: Parte-todo sim, quando dividia o chocolate, quociente também, quando dividia o numerador pelo denominador, razão quando fala assim dois quintos de professores da escola são homens, mas não falava esses termos só aplicava ...Essa fração como operador nunca ouvi falar. Entrevistador: Comente como você introduziu fração em suas aulas este ano. (se trabalhou 2008, 2009, 2010 e 2011) modificou alguma coisa? ENTREVISTADO: Este ano (2011) peguei uma 6.ª série e trabalhei com eles apenas três meses. Eu me lembro que para ensinar soma de frações eu pegava três barras de chocolate e dividia essas três barras em cinco partes iguais cada uma. Na primeira barra eu tirava duas partes, então a representação dessas duas partes da primeira barra era dois quintos. Na segunda barra eu tirava três pedaços, então a fração era três quintos. E na terceira e última barra eu tirava uma parte só e a fração correspondente a esse pedaço era um quinto. Supondo que essas partes tiradas fossem comidas por uma única pessoa eu sempre perguntava ―Quantas partes essa pessoa comeu dos três chocolates?‖ ai o resultado era seis quintos. Os alunos percebiam que os denominadores eram iguais e na soma permaneciam iguais com o mesmo valor, no resultado somamos o numerador e conservamos o denominador, isso foi uma revisão rápida sem usar o Caderno do Professor. Entrevistador: Você usou o Caderno do Professor? Entrevistado: Sim eu usei. Entrevistador: Como você introduziu frações em suas aulas nesta 6ª série? Entrevistado: Nas minhas aulas eu procurei trabalhar de acordo com o caderno do aluno, eu também usei o caderno do professor, ai eu expliquei tendo uma ideia que eles já conheciam frações, já que começa aprender na 5.ª série. Eu peguei o próprio exemplo do caderno e expliquei pra eles que uma fração pode representar a parte de um todo ou uma fração pode também representar partes de vários todos. Esse é o exercício que está na página 27 do caderno do professor. Não usei nada de concreto para explicar esse assunto só fiz o desenho na lousa, usei giz colorido. Eu falei pra eles que a mesma fração pode ter significados diferentes, eu já comecei assim. No primeiro desenhinho eu tinha um bolo dividido em quatro partes, se eu tirei três partes e quero representar isso, foram três partes de um bolo dividido em quatro. Na segunda figurinha onde tem três bolos divididos ele já está querendo trabalhar a soma de frações. Eu acho que a intenção já é trabalhar essa fração na conversão de decimal. Ele não explorou muito esse exercício só foi pra ter uma noção da divisão das frações e que uma parte ainda pode ser dividida em outras partes. Vamos mostrar você pega uma parte e essa parte, você pode fazer outras divisões em cima dela. Na apresentação seguinte ele mostra que a fração oito sobre dois, pode ser representada de forma diferente, por exemplo, xxii dois mais dois ou doze dividido por três. Ele tenta mostrar que o resultado de um numerador pelo denominador pode obter outro resultado com operações diferentes. No caso dois mais dois que resulta quatro. E eu posso representar por uma forma diferente, usando dois números inteiros. Nesse momento eu foquei bem isso que o resultado de uma fração pode ser representado de outra forma através de outras operações. Em seguida eu comecei dar probleminhas, o probleminha que o caderno trás na página 28 que fala que ‖Cláudia tem dezoito metros de arame e ela corta um quinto, quantos metros ela cortou?‖ Eu passei na lousa e pedi para que os alunos resolvessem. Porque aqui nesse probleminha ele manda o aluno comparar a resposta dos três resultados dado. Um pouco antes eu passei na lousa um problema semelhante e expliquei a maneira que eu poderia resolver. Bom, um aluno resolveu multiplicando o dezoito pelo numerador da fração e em seguida dividiu pelo denominador, o outro primeiro dividiu o numerador da fração pelo denominador e depois multiplicou por dezoito, agora nenhum aluno resolveu através da ideia de número misto. Mas a maioria resolveu, através do conceito que eu dei, por exemplo, metade de uma laranja é dividida em duas partes; um quinto de um chocolate é divido por cinco, então um quinto de dezoito, é dezoito dividido por cinco. Eu achei interessante a forma que a Proposta aborda os assuntos, tem exercícios que facilitam, mas têm outros que não são tão simples. A parte que eu acho que complica um pouco para os alunos trabalharem com fração é a parte que fala de equivalência, fica confuso pra eles entenderem que eu pego uma figura e divido em quatro partes e pego duas, então eu tenho dois quartos, ai eu pego outra figura de mesmo tamanho e divido em duas partes, mesmo olhando para as duas figuras eles ainda ficam na duvida que dois quartos sejam iguais a um sobre dois, eles acham estranho. Mais eu acho que uma das dificuldades acontece porque eles não sabem tabuada, não sabem fazer contas de divisão, erram muito em conta, ate o raciocínio às vezes está certo. Outra coisa que fica difícil entender é dois dividido por meio, o resultado é quatro, eles ficam confusos, mesmo fazendo a figura neste instante eles acham simples mais depois só com as frações eles acabam não entendendo porque isso acontece. Eu acho que é por causa de uma defasagem muito grande, os alunos tem muita dificuldade e vão passando de ano, atropelando a matemática, não tem retenção não tem acompanhamento direto. Com relação a conceito eles aprenderam que na divisão de número natural por outro número natural sempre o resultado vai ser menor e trabalhando com frações nem sempre isso acontece. Entrevistador: Quais dificuldades aparecem quando se trabalha com fração?(no ponto de vista do professor e do aluno). Entrevistado: Acredito que a maior dificuldade que o professor tem na hora de trabalhar esse tema é com relação a falta de tempo para se dedicar ao estudo, pois para se preparar uma boa aula que explique os significados não é tão simples, normalmente nós ensinamos da forma que nós aprendemos e eu não aprendi assim como é proposto hoje, antes, na minha época era só conteúdo, conteúdo, fazer sem saber o que significava, fazer por repetição para não ser reprovado. Com relação as dificuldade que os alunos tem em compreender e aprender trabalhar com fração está ligado a alguns fatores, sem falar interesse ou não, disciplina ou não xxiii eu penso que ele não vê o por que em aprender..., mas isso não se restringe só esse estudo. Entrevistador: Como você avalia abordagem do conceito de números racionais na representação fracionária na Educação Básica proposto no Caderno do Professor da 6.ª série/7.º ano? Você considera suficiente? Entrevistado: Eu acho que a proposta é boa, algumas atividades são bem elaboradas outras nem tanto, considerar suficiente não, sempre é possível ampliar, melhorar, mas não só Currículo, capacitar o professor com formação continuada, investir numa melhor qualificação e proporcionar um bom ambiente de trabalho.