VARIABILIDADE GENÉTICA ENTRE OS ISOLADOS DE Alternaria macrospora DO ALGODOEIRO Yeshwant R. Mehta1, D. Cassetari Neto2, Edivaldo Cia3, Maria A Pizzinato3, Eliria, A. Teixeira4, H.C. Cunha4 . (1) IAPAR, C.P. 481, Londrina, PR, e-mail: [email protected], (2) Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, (3) IAC, C.P 28, Campinas, SP, (4) Agência Rural, Goiania, GO. RESUMO A Alternaria causada por Alternaria macrospora é transmitida pela semente e se manifesta em todas as fases de desenvolvimento da planta. Estudou-se a variabilidade genética entre os isolados de A. macrospora provenientes de diferentes cultivares e regiões produtoras do algodão no Brasil, através de análise molecular. A única espécie de Alternaria ocorrendo no Brasil foi a A. macrospora. Segundo análise de RAPD, 75% dos isolados dos estados do Paraná, São Paulo, e Mato Grosso formaram um grupo a 90% de similaridade. Os isolados do Estado de Goiás foram distintos dos demais isolados a 65-80% de precisão. Alguns isolados que mostraram diferença em agressividade na cultivar EPAMIG LIÇA, também mostraram diferença entre si, segundo análise de RAPD e ERIC/REP-PCR. Os isolados menos agressivos formaram um grupo separado, enquanto que, o isolado não patogênico de A. alternata formou um grupo totalmente distinto. Análise da região ITS mostrou padrão de bandas semelhantes para todos os isolados. Conclui-se que para estudos sobre a medição de grau de resistência das cultivares, a utilização de mistura dos isolados mais agressivos provenientes das regiões geograficamente diferentes é desejável. INTRODUÇÃO A Alternaria causada por Alternaria macrospora é uma doença importante do algodoeiro no Brasil. A doença é transmitida pela semente e se manifesta em todas as fases de desenvolvimento da planta entre as folhas cotiledonárias e o amadurecimento de maçã. Os sintomas típicos da doença são manchas circulares (2-3 mm) com centro esbranqueçado (Mehta et al, 2003). Entretanto, nos trabalhos de casa de vegetação, a Alternaria transmitida pelas sementes naturalmente infectadas, produziu dois tipos de sintomas nas plântulas da cultivar ITA 90, 35 dias após o plantio. Um tipo de sintoma foi caracterizado como manchas circulares e outro como manchas necróticas lineares extendidas para as nervuras da folhas primárias. O segundo tipo de sintoma foi considerado incomum para a Alternaria, pois era muito semelhante aquele causado por Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum. O Postulado de Koch confirmou A. macrospora como agente causal de ambos os sintomas. Conhecimento detalhado sobre a diversidade do patógeno é essencial para compreender a estrutura genética da população do patógeno a fim de auxiliar na definição de estratégias dos programas de melhoramento genético. O presente trabalho visa identificar variabilidade genética entre os isolados de A. macrospora provenientes de diferentes cultivares e regiões produtoras do algodão no Brasil, através de análise molecular. MATERIAL E MÉTODOS Nos trabalhos de casa de vegetação, a Alternaria transmitida pelas sementes naturalmente infectadas, produziu dois tipos de sintomas nas plântulas da cultivar ITA 90, 35 dias após o plantio. Um tipo de sintoma foi caracterizado como manchas circulares e outro como manchas necróticas lineares extendidas para as nervuras da folhas primárias. O segundo tipo de sintoma foi considerado incomum para a Alternaria, pois era muito semelhante aquele causado por Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum. O Postulado de Koch confirmou A. macrospora como agente causal de ambos os sintomas. O presente trabalho visa identificar variabilidade genética entre os isolados de A. macrospora. Prospecção foi realizada nos campos comerciais do algodoeiro dos estados de Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Paraná, entre 1999 e 2002, abrangendo diversas cultivares e regiões para garantir a maior representatividade possível da população de Alternaria spp. ocorrendo no Brasil. Todos os 44 isolados monospóricos patogênicos e foram identificados como A. macrospora e nenhuma infecção causada por A. alternata foi encontrada (Tabela 1). O DNA total foi extraído de acordo com Doyle & Doyle (1990). Para os ensaios de RAPD A amplificação de DNA foi realizada conforme descrito anteriormente, utilizando os primers fornecidos pela Operon Technologies, Inc. (Mehta, 2001; Bibanco et al, 2003). As reações de amplificação foram verificadas através de eletroforese em gel de agarose e visualizados em luz U.V. após coloração com brometo de etídio. Os dados foram analisados considerando a presença e ausência das bandas. A matriz de distância foi construída através do programa UPGMA ("unweighted pair group method with arithmetic mean"), utilizando o coeficiente de Jaccard, com o programa NTSYS-pc, versão 1.8. Os primers REP1/REP2 e ERIC1/ERIC2 (Mehta et al, 2002a, 2002b) foram adquiridos da Life Technologies, e foram utilizados para amplificar o DNA dos isolados, conforme descrito anteriormente (Mehta et al, 2002a). Os isolados de A. macrospora também foram analisados para a região espaçadora ITS de rDNA (PCR-RFLP), (Achenback & Patrick, 1997). Os produtos de amplificação foram digeridos utilizando seis enzimas de restrição selecionadas ao acaso (Alu I, Bgl II, Dra I, Eco R1, Hind III, e Pst I). Os produtos de digestão foram separados através de eletroforese em géis de agarose (2%). A digestão do DNA foi realizada seguindo as instruções do fabricante. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados de prospecção demonstram que a principal espécie de Alternaria ocorrendo no Brasil é a A. macrospora, sendo que nenhuma infecção causada por A. alternata foi encontrada (Tabela 1). Segundo análise de RAPD, 75% dos isolados (30 isolados) formaram um grupo a 90% de similaridade. Este grupo é formado pela maioria dos isolados dos estados do Paraná, São Paulo, e Mato Grosso. De uma maneira geral os isolados do Estado de Goiás foram distintos dos demais isolados a 65-80% de similaridade sendo que os isolados Nos. 41, 42, 43 e 44 formaram um grupo separado (Fig. 3). Alguns isolados que mostraram diferença em agressividade na cultivar EPAMIG LIÇA, também mostraram diferença entre si, segundo análise de RAPD (Fig. 1 e Tabela1). Os isolados menos agressívos Nos. 3, e 7, formaram um grupo separado, emquanto que, o isolado não patogênico de A. alternata formou um grupo totalmente distinto dos demais isolados. Resultados bastante semelhantes foram obtidos através de ERIC/REP-PCR (Fig. 4), (Mehta et al, 2002). Análise da região ITS mostrou tamanho de fragmento de 600 pb para todos os isolados (Fig.2). Quando os produtos de amplificação foram digeridos com seis enzimas de restrição, um padrão de bandas semelhante foi obtido para todos os isolados. Considerando a variabilidade genética encontrada entre os isolados de A. macrospora, pode-se concluir que para estudos sobre a medição de grau de resistência das cultivares do algodoeiro, a utilização de mistura dos isolados mais agressivos provenientes das regiões geograficamente diferentes é desejável (Mehta et al, 2003). Tabela 1. Origem dos isolados de Alternaria macrospora, utilizados no presente trabalho. Isolado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 Código 12649 13305 13314 13357 13365 13372 13409 13410 13411 13412 13413 13414 13415 13416 13417 13418 13419 484 510 512 514 13571 13573 13574 13588 13589 13591 13592 13593 13595 13789 13791 13795 13796 13806 13808 13814 13819 13820 13821 13822 13823 13827 15069 Local/Estado/Cultivar/Ano Alternaria alternata (Saprófito de semente)** Londrina/PR/Codetec 401/1999 Cambará/PR/linha avançada/2000 Primaveira d´Oeste,MT/Coodetec404/2001 Serra de Petrolina/MT/Disconhecida/2001 Campo Verde/MT/Desconhecida/2001 Campinas/SP/IAC 97-86/2001 Jaú/SP/Desconhecida/2001 Ituverava/SP/IAC 97-86/2001 Adamantina/SP/Desconhecida/2001 Presidente Bernardes/SP/Epamig Liça/2001 Caiabu/SP/Br 201/2001 Caiabu/SP/IAC 97-86/2001 Tatuí/SP/Desconhecida/2001 Tietê/SP/Desconhecida/2001 Tietê/SP/Desconhecida/2001 Holambra/SP/Desconhecida/2001 Descon(semente)/MT/Ita90/2001 Descon(semente)/BRS Facual/MT/2001 Descon(semente)/CD404/MT/2001 Descon(semente)/Makina/MT/2001 Rondonôpolis, MT/Popu.segre/2002 Umarama, PR/IPR 96/2002 Umarama, PR/IPR 96/2002 Goioeré, PR/Coodetec 404/2002 Juranda, PR/Coodetec 404/2002 Goioeré, PR/Coodetec401/2002 Campo Mourão, PR/Desc./2002 Juranda, PR/DeltaOpal/2002 Goioeré, PR/Descon/2002 Campo Verde/MT/1067/2002 Serra da Petrolina, MT/Descon./2002 Campo Verde, MT/Saturno/2002 Campo Verde, MT/Maquina/2002 Itiquira, MT/Maquina/2002 Itiquira, MT/Fibermax 986/2002 Panama, GO/Ita90/2002 Jatai, GO/Descon/2002 Acreuna, GO/Aroeira/2002 Acreuna, GO/Aroeira/2002 Acreuna, GO/Fibermax986/2002 Rio Verde, GO/Aroeira/2002 Acreuna, GO/Delta Opal/2002 Palmeiras de Goiás, GO/Ita90/2002 Patogenicidade* 0 2 1 1 2 4 1 2 4 3 3 2 2 2 3 1 2 4 5 5 4 5 4 5 4 4 4 5 5 3 3 4 4 4 3 4 5 3 3 4 3 5 4 5 *A patogenicidade foi testada na cultivar Epamig-Liça, utilizando uma escala visual de 0-5 (Mehta, 1998); onde 0=sem sintomas; 1=pontuações pequenas <5% da área foliar infectada (AFI); 2= lesões necroticas, pequenas sem clorose 5 á 25% de AFI; 3=lesões necroticas com clorose 26 á 50% de AFI; 4= lesões necroticas com clorose coalescendo, 51 á 75% de AFI; e 5=lesões coalescendo com clorose, AFI>76% e ou morte da planta. ** Isolado saprofítico de A alternata utilizado para comparação. M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 800 pb- 600 pb400 pb200 pb- Figura 1. Amostra de gel mostrando o padrão de bandas RAPD produzidas pelo primer OPK-16. Linha M=Marcador molecular 100 pb Ladder, Linha 1 a 19 isolados de A. macrospora. Figura 2. Amostra de gel mostrando padrão de bandas da região ITS em 19 isolados de A. macrospora amplificado com par de primer ITS4 / ITS5 e digerido com enzima de restrição Hind III. Linha M=Marcador molecular 100 pb Ladder. . Figura. 3. Dendrograma (Sj) produzida pela análise UPGMA baseado nos dados obtidos com oito RAPD primers utilizando DNA de 44 isolados de A. macrospora Figura 4. Dendrograma (Sj) produzida pela análise UPGMA baseado nos primers ERIC1/ERIC2 e REP1 /REP2 utilizando 44 isolados de A. macrospora REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBANCO, K.R.P.; MEHTA, Y.R.; CIA, E.; PIZZINATO, M.A. Identificação de variabilidade genética entre os isolados de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum do algodoeiro. Trabalho apresentado neste Congresso. 2003. DOYLE, J.J.; DOYLE, J.L. Isolation of plant DNA from fresh tissue. Focus 12:13-15. 1990. MEHTA, Y.R., MEHTA, A. & ROSATO, Y.B. ERIC and REP-PCR banding patterns and sequence analysis of the internal transcribed spacer of rDNA of Stemphylium solani from cotton. Current Microbiology 44:323328. 2002. MEHTA, Y.R.; TEIXEIRA, E. A.; CUNHA, H.F.; ERIVALDO, J.; RUANO, O. Resposta diferencial das cultivares de algodoeiro a Alternaria macrospora. Trabalho apresentado neste Congresso. 2003.