Teixeira MCTV, Furtado RMG, Poça SRS, Rossini AC, Caggiano JO
ESTRA
TÉGIAS DE ENFRENT
AMENTO
STRATÉGIAS
NFRENTAMENTO
A MUDANÇAS DE VIDA EM
ALUNOS DE PSICOLOGIA
COPING STRA
TEGIES CONCERNING L IFE
TRATEGIES
CHANGES IN PSY
CHOLOGY STUDENTS
SYCHOLOGY
Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira*
Rosa Maria Galvão Furtado*
Sandra Regina da Silva Poça*
Ana Carolina Rossini*
Julia Ornellas Caggiano*
RESUMO: O estudo visou investigar estratégias de enfrentamento a mudanças de vida em dois grupos
de sujeitos estudantes de psicologia de 2º e 8º semestres. Os objetivos do trabalho foram identificar as
mudanças de vida ocorridas nos últimos 12 meses e as estratégias de enfrentamento às mesmas. O
estudo foi realizado no Instituto Presbiteriano Mackenzie, em São Paulo - Brasil, em 2002. Como técnicas
de coleta de dados, utilizou-se um questionário sobre o perfil sociopsicológico dos sujeitos, um questionário
de eventos vitais baseado na Escala de Avaliação de Reajustamento Social de Holmes e Rahe e um
Inventário de Estratégias de Enfrentamento de Folkman e Lazarus. Concluiu-se que os sujeitos do grupo
de 8º semestre, diferentemente do grupo de 2º semestre, enfrentam mudanças de vida com maior
diversidade de estratégias que vão desde fuga até a auto-observação. As principais estratégias
comportamentais exibidas foram fuga e esquiva confirmando a velha máxima comportamental de que
o comportamento é selecionado pelas conseqüências que produz, no caso, remover mudanças aversivas.
Palavras-chave: Aluno de psicologia; estratégia de enfrentamento; mudança de vida.
ABSTRACT
ABSTRACT:: This study aims at investigating coping strategies concerning life changes in two groups of
2nd and 8th semester psychology students. The objectives were to identify the life changes that occurred
in the last twelve months and the respective coping strategies that were employed. The instruments for
data collection were: a questionnaire concerning the subjects’ social-psychological profile; a questionnaire
on vital events based on Holmes and Rahe’s Social Readjustment Evaluation Scale; and an inventory of
Folkman and Lazarus’s Coping Strategies. The conclusion was that 8th semester group subjects, differently
from the 2nd semester group ones, face life changes with a greater diversity of strategies, which go from
escape to self-observation. The main behavioral strategies shown were escape and denial, confirming
the old behavioral “maxim” that behavior is selected by the consequences it produces, in this case, the
removal of aversive changes.
Keywords: Psychology students; coping strategies; life changes.
I NTRODUÇÃO
E
xiste um universo de conhecimentos de
senso comum pressupondo que mudanças de vida
muito intensas, particularmente se as mesmas são
desagradáveis e a pessoa não possui recursos para
enfrentá-las, se associam à aparição ou ao agravo de
doenças preexistentes.
Concordamos com Gonzalez1 quando afirma
que o stress ainda é um termo muito carregado de
polissemia, que tem sido pesquisado em diversas áreas
do conhecimento como a endocrinologia, a bioquí-
mica, a neurologia e a psicologia, entre outras.
São inúmeros os fenômenos que incluem o conceito de stress. Praticamente todos os processos
da vida, desde o desenvolvimento do sistema nervoso no feto, a morte neuronal com o processo de
envelhecimento, respostas hormonais e
imunológicas, até o enfrentamento de muitos problemas da vida cotidiana, podem ser analisados
sob o conceito do stress2,3,4,5,6,7.
Dentro da ampla abrangência que o termo
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• p.39
Enfrentamento a mudança de vida
stress inclui, um dos aspectos que mais tem sido
pesquisado em termos de variável interveniente diz
respeito à percepção do indivíduo sobre situações do
ambiente social em que vive. Dentro dessa percepção, os pesquisadores têm chamado a atenção sobre
dois moduladores psicossociais muito importantes
que interferem no fato de um indivíduo se sentir ou
não estressado, são eles: as mudanças súbitas de vida
e as estratégias de enfrentamento a essas mudanças.
São justamente esses alguns dos conceitos que este
estudo pretendeu explorar, embora não tenha sido
pesquisado na amostra em estudo se a mesma apresentava algum nível anterior de stress.
Para um aprofundamento na história da
pesquisa sobre o stress, remetemos o leitor a
Gonzalez1, que faz uma exaustiva descrição dos
principais pesquisadores que estudaram o tema desde
o século XV até os dias de hoje.
A definição de mudanças de vida refere-se
àquelas demandas ou fatos intensos e, muitas vezes
inesperados, que acontecem na vida das pessoas e
que demandam deles recursos específicos para poder
enfrentá-los e garantir um mínimo de adaptação aos
mesmos. Já a definição de estratégia de
enfrentamento consiste em esforços que o indivíduo
despende para poder lidar com mudanças de vida e
estímulos do meio ambiente ou estímulos internos
extremos.
No estudo dos aspectos anteriormente citados,
uma das concepções que melhor as atingiu foi a teoria interacionista e psicossocial de Lazarus e
Folkman3,8. Os autores propuseram que, para estudar o stress, era necessário avaliar os processos de
enfrentamento do indivíduo (isto, traduzido ao inglês significa coping). Em outras palavras, estudar
aqueles esforços cognitivos e comportamentais que
mudam constantemente para enfrentar demandas
internas e meio-ambientais extremas, assim como
os possíveis conflitos que, em determinadas ocasiões, podem exceder ou abrumar os recursos das próprias pessoas.
O presente estudo explora as estratégias de
enfrentamento que um grupo de sujeitos usou para
enfrentar eventos de vida específicos, assim como o
grau de dificuldade de adaptação que tais sujeitos
apresentaram na interação com esses eventos. Os
sujeitos alvo da pesquisa foram alunos de Graduação
em Psicologia. Um dos critérios de inclusão desses
sujeitos na amostra foi devido a tratar-se de um grupo
que, futuramente, encarregar-se-á de executar, entre
outras funções, a modificação de estratégias de
enfrentamento em pessoas que, situacionalmente, as
p.40 •
R Enferm UERJ 2003;11:39-46.
levem a apresentar comportamentos socialmente
desadaptativos.
Partiu-se do pressuposto que qualquer processo
de enfrentamento se produz em estreita relação com
fatores não só ambientais, mas também com fatores
comportamentais. Levando-se em consideração as
características do Curso, bem como as exigências às
quais o futuro profissional da área de Psicologia será
submetido, acreditou-se na relevância da pesquisa
no sentido de explorar se o aluno de Psicologia que
está se formando é capaz de julgar as diversas
situações de vida, não só como ameaças ou perdas,
mas também como desafios. No caso de julgar a
mudança como uma perda, as estratégias de
enfrentamento possuem, geralmente, uma função
predominantemente emocional, já que a situação é
percebida como imutável. No caso de julgar a
mudança como desafio ou como situações sobre as
quais podem ser feitas mudanças para que, em
conseqüência, ele se adapte melhor às mesmas, a
função do enfrentamento é centrar-se, de forma
fundamental, no problema.
Provavelmente o parágrafo anterior desperte no
leitor uma velha preocupação e até faça-o relembrar
um mito que diz respeito a cursos de ensino superior
em Psicologia: costuma-se ouvir que alguns alunos
acreditam que o fato de estudar psicologia os ajudará a resolver suas próprias dificuldades ou transtornos emocionais. Salientamos que a pretensão deste
estudo é muito diferente dessas crenças errôneas,
muito compartilhadas no universo do senso comum
de alunos. A falsidade dessa crença associa-se à idéia
de muitos estudantes pressuporem que todas as dificuldades psico-emocionais que experimentam podem ser solucionadas estudando Psicologia. É óbvio
que qualquer saber que um indivíduo adquire o ajuda a ampliar seu conhecimento, independentemente do curso universitário de que se trate, mas o que
não é lícito aceitar é que fazer um curso de Psicologia equivale a fazer terapia. São dois processos muito diferentes.
O estudo teve como objetivo geral explorar
as estratégias de enfrentamento a situações de mudanças de vida que apresentaram alunos recém ingressados no curso, comparando tais estratégias
com as utilizadas por outros alunos que já se encontravam no antepenúltimo ano do curso de Psicologia. Em síntese, os objetivos específicos foram:
explorar as mudanças de vida pelas quais esses sujeitos passaram nos últimos 12 meses e identificar e
classificar as estratégias de enfrentamento a essas
mudanças.
Teixeira MCTV, Furtado RMG, Poça SRS, Rossini AC, Caggiano JO
Dependendo das habilidades que o indivíduo
possui, ocorrerá o sucesso ou o fracasso de sua
interação com o ambiente. As habilidades que a
pessoa desenvolve têm sido denominadas de
estratégias de enfrentamento. Como afirma Savoia9,
essas estratégias são aqueles esforços de controle do
indivíduo direcionados à redução das qualidades
aversivas de uma situação. Em outras palavras, são
os comportamentos da pessoa. Estratégia de
enfrentamento não é sinônimo de conseqüência do
comportamento. Como apontam Savoia9 e Folkman
e Lazarus10, embora o coping seja uma resposta com
o objetivo de aumentar, criar ou manter a percepção
de controle pessoal, o sentido desse controle pode
ser ilusório.
Conforme Gonzalez1 e Lazarus e Folkman3,
entre outros, existem diferentes abordagens que
enfocam a avaliação do caráter adaptativo dos
processos de enfrentamento. Como exemplos,
citam-se aqui a concepção clínica tradicional dos
mecanismos de defesa, conforme Freud 11 e a
concepção interacionista de Lazarus8. Nesta última
concepção está fundamentado este estudo.
METODOLOGIA
A
amostra do estudo foi composta por 70
alunos matriculados, em 2002, no Curso de Psicologia do Instituto Presbiteriano Mackenzie, situado na cidade de São Paulo, divididos em dois grupos, a saber: um grupo de 40 alunos do 20 Semestre e outro de 30 alunos do 80 Semestre. Na coleta
de dados foram utilizadas as seguintes técnicas: a)
um questionário fechado para a exploração do
perfil sociopsicológico dos sujeitos (sexo, renda
familiar, escolaridade dos pais, estado civil, religião, problemas de saúde nos últimos 12 meses,
amigos íntimos e adaptação a mudanças de vida,
entre outras) b) para a exploração das principais
mudanças de vida ocorridas nos últimos 12 meses, foi utilizado um questionário de eventos vitais baseado na Escala de Avaliação de Reajustamento Social de Holmes e Rahe12 e, para a exploração das estratégias de enfrentamento, foi utilizado o Inventário de Estratégias de coping de
Folkman e Lazarus10.
Antes da coleta de dados, o questionário que
avaliou o perfil socio-psicológico da amostra foi
submetido a uma avaliação de juízes, por professores do curso de Psicologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie da área comportamental.
A partir dessa avaliação, foram feitas algumas mo-
dificações no mesmo acrescentando-se outros
itens de interesse para os objetivos da pesquisa. Já
a escala de eventos vitais sofreu outra modificação no sentido de inserir outros itens que eram
típicos da fase da adolescência e idade jovem com
a finalidade de ter uma avaliação mais acurada das
mudanças vitais que nessa fase do desenvolvimento esses sujeitos costumam enfrentar. Na coleta de
dados, pediu-se a cada sujeito que escolhesse da lista de mudanças de vida até no máximo oito mudanças que lhe ocorreram nos últimos 12 meses.
Em relação ao Inventário de Estratégias de
Enfrentamento, ressalta-se que foi usada a escala
que inicialmente os autores criaram a partir de
uma amostra de casais de meia idade e não a outra
escala que foi feita a partir de uma amostra de estudantes em situação de exame. Embora a amostra deste estudo tenha sido formada por estudantes universitários, optou-se pela primeira por ser
mais geral e pelo fato de não nos interessar, em particular, o enfrentamento a mudanças relacionadas
com provas acadêmicas e, sim, com situações do dia
a dia desse grupo populacional**. Conforme os autores do Inventário de Estratégias de Enfrentamento,
os diferentes itens do instrumento foram agrupados
em oito fatores. Os fatores de confronto e de resolução do problemas correspondem ao enfrentamento
focalizado no problema e os fatores de afastamento,
autocontrole, suporte social, aceitação da responsabilidade, fuga, esquiva e reavaliação positiva
correspondem ao enfrentamento focalizado na emoção. A escala original de respostas do Inventário
de Estratégias de Enfrentamento consta de 4 tipos de resposta (0 – para quando a estratégia não
foi usada; 1 - para quando a estratégia foi usada
um pouco; 2 - para quando a estratégia foi usada
bastante; e 3 - para quando a estratégia foi usada
em grande quantidade). Esta escala de respostas
foi modificada para dois tipos de resposta: 0 – quando o indivíduo nunca usou a estratégia e 1 – quando o indivíduo usou a estratégia. Os resultados referentes à compreensão dessas modificações também foram avaliados no pré-teste das técnicas de
coleta de dados.
Dada a dificuldade em processar os 66 itens
do questionário associados às 28 mudanças de
vida, decidiu-se pela relação entre mudança e estratégia (conforme os oito fatores supracitados).
Para isso, assumiu-se que o sujeito tinha apresentado a estratégia conforme a situação se tivesse
operado com 50% ou mais dos comportamentos
favoráveis à estratégia.
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Enfrentamento a mudança de vida
RESUL
TADOS
ESULT
E
DISCUSSÃO
Em relação ao perfil sociopsicológico da
amostra, encontrou-se que a maioria dos sujeitos de
ambos os semestres eram solteiros no momento da
coleta de dados (somente três sujeitos do 8º semestre
eram casados). A média de idade do 2º semestre foi
de 19,5 anos, sendo 77, 5% pertencentes ao sexo
feminino e 22,5% ao sexo masculino. Já a média de
idade dos sujeitos do 8º semestre foi de 24,4 anos, 22
sujeitos pertenciam ao sexo feminino e oito ao sexo
masculino.
A renda familiar predominante nos sujeitos do
2º semestre foi entre R$ 900,00 e R$ 3.600,00 (22
sujeitos) e, no 8º semestre, predominou uma renda
familiar acima de R$ 4.500,00 (12 sujeitos). A maioria
dos pais dos sujeitos de cada um dos grupos haviam
cursado o 2º Grau completo ou superior completo.
Em relação às afetações da saúde, os sujeitos do 2o
semestre referiram no último ano um número alto de
afetações físicas e emocionais (59,45% referiu ter tido
afetações físicas ? enxaqueca, gastrite, alergias e gripe e 40,54% do tipo emocional – depressão e estresse).
Todos os sujeitos disseram ter amigos íntimos com os
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R Enferm UERJ 2003;11:39-46.
quais sempre podiam contar em situações vitais
(69%) ou só algumas vezes (30,6%). Do total de 40
sujeitos, 87,5% tinham vivos seus pais no momento
da coleta de dados e mais da metade dos sujeitos
referiu ser católico.
No que diz respeito às afetações da saúde do
grupo do 8º semestre, constatou-se que, no último
ano, 69,29% referiu ter tido afetações físicas (alergias,
cirurgias, gripe e gastrite) e 31,71% do tipo emocional
(estresse, ansiedade, depressão). Todos os sujeitos
disseram ter amigos íntimos com os quais sempre
podiam contar em situações vitais (53%) ou só
algumas vezes (46,67%). Do total de 30 sujeitos,
93,33% tinham vivos seus pais no momento da coleta
de dados e a maioria dos sujeitos referiu ser católico.
Observam-se nas Tabelas 1 e 2 as diferentes
médias de adaptação que os sujeitos atribuíram a cada
mudança numa escala de 0 até 5 (0 significava a
maior facilidade de adaptação e 5 a maior
dificuldade). As médias mostram que tanto num
grupo quanto no outro os principais eventos para
os quais houve maior dificuldade de adaptação
foram os relacionados com a perda de suporte social
e as mudanças de ambiente. As médias de
Teixeira MCTV, Furtado RMG, Poça SRS, Rossini AC, Caggiano JO
dificuldade de adaptação a partir de 2,5 aparecem
grifadas nas tabelas.
As perdas de familiares ou de amigos íntimos
foram citadas como aqueles eventos de perdas de
suporte social perante os quais prevaleceu maior
dificuldade de adaptação. Em relação aos eventos
de mudanças de ambiente (mudanças de casa ou
de cidade), a dificuldade de adaptação em ambos
os grupos também foi maior. Como já foi apontado
por outros autores13,14, a saída da casa dos pais pode
ser vivenciado como evento vital. De um lado,
isso lhes pode proporcionar uma maior autonomia
na emissão de alguns comportamentos e, de outro,
exigir que esses adolescentes tenham que
enfrentar diversas dificuldades do dia a dia que,
em tempos anteriores, não enfrentavam, uma vez
que até então eram tarefas dos pais. Vê-se aqui
um conflito entre duas metas atingidas: a
autonomia e o enfrentamento de novos problemas
derivados do afastamento familiar.
Chamou atenção o fato de que também, em
ambos os grupos, as dívidas e perdas financeiras foram
citadas como eventos de difícil adaptação. Deve ser
levado em consideração o fato de que a Universidade
de onde provém a amostra é particular e, portanto,
o curso de psicologia bem como outros gastos
decorrentes do mesmo são custeados pela família ou
pelo próprio estudante. Assim, quaisquer perdas
desse tipo podem incidir diretamente sobre as
expectativas de futuro, uma vez que podem dificultar
ou até mesmo inviabilizar a continuidade dos
estudos universitários.
Outro evento de vida sobre o qual a
adaptação foi difícil para ambos os grupos foi o
término de relacionamentos significativos (3,7
para o 2º semestre e 4,0 para o 8º semestre) e
conforme as médias de dificuldade de adaptação
dos dois grupos, pode-se inferir a importância que
têm para eles a relação amorosa em geral. Vários
pesquisadores da área de desenvolvimento
humano referem que, entre as múltiplas relações
sociais que o jovem estabelece, uma das mais
profundas é a troca de tipo heterossexual ou
homossexual, conforme a identidade sexual da
pessoa15. Também, observa-se na Tabela 1 que o
grupo de sujeitos do 2º semestre apontou uma
outra mudança associada com os relacionamentos
afetivos, que foi o evento experiência sexual,
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Enfrentamento a mudança de vida
para a qual a média de dificuldade de adaptação
foi alta (2,9), o que associa-se com a média de
idade deste grupo (19,5 anos). Autores como
Sonenstein, Plak e Ku16 e Banaco17 assinalam que
entre os 17 e 19 anos o jovem começa a ter suas
primeiras experiências sexuais em comparação com
outras faixas etárias, fato este que pode ser
considerado como muito relevante na vida de
qualquer jovem.
Não houve uma pesquisa para explorar se os
diferentes problemas de saúde coincidiram
temporariamente com as mudanças de vida, mas
chama a atenção o alto número de afetações à
saúde que os sujeitos descreveram nesse mesmo
período de tempo. Isso chamou a atenção já que
outras pesquisas realizadas mostram como as
mudanças de vida podem ser estímulos
desencadeantes ou antecedentes de doenças18,19.
A análise das estratégias de enfrentamento
conforme as principais mudanças de vida (aquelas
que aparecem grifadas nas tabelas 1 e 2) mostrou
que os sujeitos do 2º semestre apresentaram, perante
diversos tipos de mudanças de vida,
comportamentos que, no inventário usado, são
classificados como estratégias de enfrentamento de
fuga ou de esquiva. Isso significa que esses sujeitos
desejavam que essas mudanças acabassem ou
fantasiavam sobre como os fatos se encaminhariam.
Entre as mudanças que foram enfrentadas dessa
maneira, se encontram o início de atividade
produtiva, as mudanças de escola, o início ou o
término de relacionamentos significativos, as
experiências sexuais e as perdas financeiras.
Numa perspectiva teórica comportamental,
poderíamos hipotetizar que o uso freqüente de
estratégias de fuga/esquiva, conforme supracitado,
justifica-se a partir de comportamentos de evitação
bem sucedidos, utilizados no passado. Para Skinner20
tais comportamentos, ao proporcionarem aos sujeitos
reforçamentos negativos suficientemente
competentes para livrá-los de estímulos aversivos
aos quais tenham sido submetidos, podem ter se
fixado paulatinamente em seus repertórios
comportamentais.
A hipótese explicativa desse fenômeno é que
esses sujeitos se tornaram aptos a perceber em determinados tipos de mudanças de vida as propriedades aversivas já conhecidas dos mesmos, uma
vez que aprenderam a discriminá-las no passado
(mudanças de escola, término de relacionamento
significativo, perdas financeiras). Tal aprendizagem
capacitou-os para reforçar formas alternativas de
p.44 •
R Enferm UERJ 2003;11:39-46.
comportamento de evitação desses fatos que, aliás, nos pareceram ser percebidos como perdas efetivas, no sentido de não se poder fazer muito para
mudá-las. Dentro de tal contexto, parece, então,
que o sujeito acaba fazendo uma opção por comportamentos mais razoáveis na medida que os mesmos lhe garantem certo reajuste de seu estado emocional interrompendo ou adiando a estimulação
aversiva (no caso, a mudança de vida).
Somente no caso de mudanças como o
início de atividade produtiva pareceram
provocar, predominantemente, estratégias
centradas no problema do tipo: fazer planos de
ação e concentrar-se naquilo que deveria ser
feito. Constatou-se que, no caso dos sujeitos
do 8º semestre (diferentemente do grupo de 2º
semestre), embora também tenham sido usadas
estratégias de enfrentamento de fuga e de
esquiva, as mesmas apresentaram freqüências
mais baixas e outros comportamentos, embora
emocionais, também, apareceram. Por exemplo:
procura de suporte social em quaisquer de suas
formas? amigos, familiares ou profissionais,
comportamentos de auto-observação com a
finalidade de pensar e avaliar os aspectos
positivos e negativos das situações enfrentadas,
mesmo que elas tenham sido desagradáveis
(exemplo: mudança de residência, separação e
término de relacionamentos significativos). Essas
estratégias, conforme uma abordagem
comportamental, são indicadores tanto de
autocontrole 21
como,
também,
de
autoconhecimento. Justificamos tal afirmação
fazendo uso do raciocínio do autor. Skinner21 afirma
que o autocontrole é resultante da forma como o
indivíduo controla seu próprio comportamento após
avaliação de conseqüências que lhe provocariam
conflitos, pois, ao mesmo tempo que levam a reforços
positivos, levam-no também ao contato com
situações que implicam em reforços negativos. Nas
situações citadas anteriormente, parece-nos que
os alunos do 8º semestre, após fazer uso de tal
estratégia de avaliação, com maior ou menor grau
de desconforto, se encontram mais aptos para
decidir que os recém ingressantes.
Os delineamentos de planos de ação para
tentar resolver algumas mudanças de vida que
foram percebidas como passíveis de modificação,
também foram freqüentes nos sujeitos de 8º semestre. Citam-se como exemplos as mudanças de
casa, resolução dos próprios problemas de saúde.
Infere-se desses comportamentos, como apontam
Teixeira MCTV, Furtado RMG, Poça SRS, Rossini AC, Caggiano JO
Folkman e Lazarus 10, que tais sujeitos estejam
tentando modificar alguns aspectos da relação
entre eles e as mudanças de vida, seja alterando-as ou tentando controlá-las.
C ONCLUSÃO
E
mbora não tenha sido possível a utilização de outros instrumentos que nos permitissem condições de maior aprofundamento teórico quanto aos resultados obtidos (tal como
avaliação do nível de stress), cremos que o propósito de nosso estudo foi atingido. Pudemos
identificar com relativa clareza as situações
de mudanças de vida bem como as estratégias
de enfrentamento mais utilizadas pela amostra. Finalizamos este estudo podendo afirmar
que os sujeitos do grupo de 8º semestre enfrentam as mudanças de vida com uma maior
diversidade de estratégias comportamentais,
o que pode estar influenciado, entre outros fatores, pela maior conscientização que eles têm
sobre responsabilidades com as quais logo se
defrontarão a partir do momento que passam
a ter maiores probabilidades de passar por
mudanças de vidas mais significativas e decisivas do que antes. Embora a euforia do momento do ingresso em um curso universitário
já tenha sido vencida, passam a existir outras
mudanças que, agora, são caracterizadas muitas vezes por decisões sérias e algumas vezes
definitivas em suas vidas. Os comportamentos
de evitação registrados no estudo prevalecerão sempre que for possível ao sujeito valer-se de tal estratégia, a menos que uma outra saída mais viável
seja reconhecida por ele como capaz de lhe trazer
maiores probabilidades de reforçamento positivo.
Acreditando na antiga e reconhecida máxima
comportamental de que o comportamento é selecionado pelas conseqüências, explica-se assim a
generalização e predominância dessa estratégia de
enfrentamento em ambos os grupos estudados.
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Enfrentamento a mudança de vida
ESTRA
TÉGIAS
STRATÉGIAS
DE
ENFRENT
AMIENTO
NFRENTAMIENTO
A
CAMBIOS
DE
VID
A
IDA
EN
ALUMNOS
DE
PSICOLOGIA
RESUMEN: El estudio buscó investigar estrategias de enfrentamiento a cambios de vida en dos grupos
de sujetos estudiantes de psicología de 2º y 8º semestres. Los objetivos del trabajo fueron identificar los
cambios de vida ocurridos en los últimos 12 meses y las estrategias de enfrentamiento a los mismos. El
estudio fue realizado en el Instituto Prebiteriano Mackenzie, en São Paulo – Brasil, en 2002. Como
técnicas de colecta de datos se utilizó un cuestionario sobre el perfil sociopsicológico de los sujetos, un
cuestionario de cambios vitales basado en la Escala de Evaluación de Reajuste Social de Holmes y
Rahe y un Inventario de Estrategias Enfrentamiento de Folkman y Lazarus. Se concluyó que los sujetos
del grupo de 8º semestre, diferente del grupo de 2º semestre, enfrentan los cambios de vida con mayor
diversidad de estrategias que van desde la fuga hasta la autoobservación. Las principales estrategias
comportamentales exhibidas fueron fuga y alejamiento confirmando la antiga máxima comportamental
de que el comportamiento es seleccionado por las consecuencias que produce que, en este caso, son
remover los cambios de aversión.
Palabras clave: Alumno de psicología; estrategias de enfrentamiento; cambio de vida.
Recebido em: 05.12.2002
Aprovado em: 05.05.2002
Notas
*
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo
Cumprindo os requisitos de pesquisa com seres humanos, todos os sujeitos entrevistados participaram voluntariamente da pesquisa e para isso assinaram
uma carta de Consentimento Livre Esclarecido e de garantia ao sigilo das informações pesquisadas. O projeto de pesquisa recebeu parecer favorável do
**
Comitê de Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie conforme Protocolo no 108/01.
p.46 •
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Estratégias de Enfrentamento a Mudanças de Vida em Alunos de