XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” ESTRATÉGIAS E DESEMPENHO ORGANIZACIONAL NA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS: UM ESTUDO DE CASO DA EMPRESA SEMEATO S/A Vania de Fátima B. Estivalete CPF 161.783.432-72 Administradora, Mestre em Eng. de Produção e Doutoranda em Agronegócios (CEPAN/UFRGS) Av. Dois de Novembro, 1377/601, Bairro Patronato - CEP: 97020-230, Santa Maria - RS Fone/Fax: (0**55) 3223-0292 - e-mail:[email protected] Professora Universidade Federal de Santa Maria - UFSM Heron S. M. Begnis CPF 660.956.110-91 Economista, Mestre em Economia Rural e Doutorando em Agronegócios (CEPAN/UFRGS) Professor da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC R. Dr Adalberto Wilke, 241, Ap. 103 Bl. 02, Bairro Universitário - CEP: 96820-060 Santa Cruz do Sul – RS, Fone: (0**51) 3717-3814, e-mail: [email protected] Profª Drª. Tania Nunes da Silva CPF 012.312.738-60 Doutora em Sociologia Professora da Escola de Administração PPGA/UFRGS Rua Washington Luis, 855 – CEP: 90010-460, Porto Alegre – RS Professora e Pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas no Agronegócio – CEPAN / UFRGS Av. João Pessoa, 31 Centro CEP: 90040-000 Porto Alegre – RS Fone/Fax: (0**51) 3316-3484 - E-mail: [email protected] Cássia Aparecida Pasqual CPF 712.955.189-53 Mestre em Agronegócios (CEPAN/UFRGS) Professora da UERGS- Universidade Estadual do Rio Grande do Sul Rua XV de Novembro, 53 – Vergueiro, CEP: 99010-040 - Passo Fundo- RS Fone/Fax: (0**54) 313-3734 - E-mail: [email protected] Grupo de pesquisa 2 - Administração Rural e Gestão do Agronegócio Forma de Apresentação: apresentação com presidente da sessão e sem a presença de debatedor 1 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” ESTRATÉGIAS E DESEMPENHO ORGANIZACIONAL NA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS: UM ESTUDO DE CASO DA EMPRESA SEMEATO S/A Resumo O objetivo deste artigo é expor alguns entrelaçamentos entre o processo estratégico, o ambiente de negócios e o desempenho das organizações a partir de um estudo de caso envolvendo uma empresa do ramo de máquinas e implementos agrícolas. O artigo procura demonstrar as relações entre a formulação e adoção de estratégias e as possíveis conexões entre o comportamento estratégico e os ambientes organizacional, institucional, tecnológico e competitivo. Frente a tal objetivo, a análise apóia-se nas noções de estratégias genéricas e cadeia de valor, trabalhadas por Porter (1980 e 1989) e na tipologia proposta por Miles e Snow (1978) sobre o perfil estratégico das organizações e também na classificação de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). A pesquisa propõe uma metodologia sistêmica que une as teorias de estratégia com a identificação do ambiente de negócios e com os pressupostos da nova Economia Institucional e da Economia dos Custos de Transação (COASE, 1991 e WILLIAMSON 1985). Dentro desta perspectiva metodológica, destacou-se o papel da prospecção das necessidades dos clientes e o desenvolvimento tecnológico como fontes essenciais de diferenciação e de vantagem competitiva no segmento de máquinas e implementos agrícolas. Palavras-Chave: estratégia; estratégia; inovação tecnológica; máquinas; agronegócios. 1. INTRODUÇÃO A história da Semeato se confunde com a própria história do sistema de plantio direto no Brasil. Em 1972, a ICI, uma empresa britânica de agroquímicos interessada no desenvolvimento de um novo sistema de cultivo que pudesse criar um mercado cativo para os seus produtos, transferiu sua equipe de pesquisa em Cultivo Direto da Austrália para Brasil, onde se tornou o centro do sistema que desenvolveu o primeiro pacote tecnológico de Cultivo Direto. Esta equipe rapidamente estabeleceu um forte relacionamento com diferentes agentes que trabalhavam com o Cultivo Direto: agricultores pioneiros que enfrentavam problemas com a erosão dos solos de suas lavouras, alguns pesquisadores, principalmente do Instituto Agronômico de Paraná (IAPAR) e o Centro Nacional de Pesquisa do Trigo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (EMBRAPA-CNPT), bem como alguns fabricantes de equipamento, entre eles a Semeato (EKBOIR, 2003). Emergiu, então, uma forte colaboração entre ICI, EMBRAPA-CNPT e Semeato. O dono da Semeato que também era um dos fazendeiros interessados na redução dos problemas de erosão dos solos, logo demonstrou seu perfil inovador sobre o qual a empresa se desenvolveu, transformou-a na maior produtora de máquinas de plantio direto fora dos Estados Unidos da América. Assim, tomando-se como referência a Semeato, este artigo procura demonstrar as relações e possíveis conexões existentes entre o comportamento estratégico das organizações industriais e os ambientes organizacional, institucional, tecnológico e competitivo, frente aos quais as estratégias são formuladas e adotadas. Objetiva-se, portanto, revelar alguns 2 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” entrelaçamentos entre o processo estratégico, o ambiente de negócios e o desempenho das organizações a partir do exemplo da Semeato. Para isto, partiu-se da construção teórica de Porter (1980 e 1989) sobre estratégias genéricas e cadeia de valor, para tornar possível a identificação do tipo de estratégia adotada e da tipologia proposta por Miles e Snow (1978) para a definição do perfil estratégico apresentado pela empresa. O trabalho, também, utiliza a classificação de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) como referência para a análise do processo de formulação de estratégias e dos pressupostos da Nova Economia Institucional e da Economia dos Custos de Transação (COASE, 1991 e WILLIAMSON 1985), para a identificação do ambiente de negócios onde a empresa se insere. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Estratégias e Cadeia de Valor O posicionamento de uma empresa de determinado setor industrial ante o mercado, depende de uma criteriosa análise do ambiente onde a empresa está inserida, bem como dos objetivos a serem alcançados. Para tanto, uma das alternativas é o desenvolvimento de estratégias genéricas, as quais auxiliam a empresa a manter sua posição ao longo de determinado período. Segundo Porter (1980), o desenvolvimento de estratégias genéricas baseia-se em três diferentes abordagens: liderança em custo total, diferenciação e enfoque. O autor salienta que, apesar das diferenças, o emprego de uma abordagem não necessariamente é excludente às outras, porém isto é raramente utilizado, dada a uma série de restrições. A utilização de uma abordagem baseada na liderança no custo total, objetiva adotar um processo produtivo com instalações em escala eficiente, onde se atinge uma redução de custos, assim como o controle rígido do custo e de despesas gerais, buscando gerir recursos da maneira mais eficiente possível. Em suma, a obtenção de custos inferiores aos concorrentes torna-se o tema central de toda a estratégia a ser adotada, sem, no entanto, descuidar-se da atenção com a qualidade, assistência técnica e outras áreas afins. Seguindo esta abordagem, a empresa tende a eliminar os concorrentes advindos de diferentes forças competitivas. A empresa líder em custos tem vantagem ante seus concorrentes, pois obtêm retornos quando estes já consumiram seus lucros na competição. Por outro lado, a empresa depende de compradores poderosos, pois o comprador somente poderá pressionar para atingir o preço do competidor mais eficiente. Esta posição permite uma maior flexibilização ante os fornecedores e o aumento no custo dos insumos. A ameaça de entrada de novos concorrentes é inibida com ganhos de escala e vantagens de custo. Finalmente, esta posição permite que a empresa tenha uma colocação favorável em relação aos produtos substitutos de seus concorrentes (PORTER, 1980). Tal posicionamento permite que a empresa adote ações que enfatizem a redução de custos como, por exemplo, investir em projetos que simplifiquem o processo produtivo, ou ações que procurem obter fontes de matérias-primas menos custosas, entre outras. Percebe-se, assim, a necessidade da empresa em investir constantemente para manter sua posição de líder em custos, dado que a atuação reativa de seus concorrentes pode tornar-se cada vez mais agressiva, desencadeando uma guerra de preços. A segunda abordagem diz respeito à diferenciação do produto ou serviço ofertado pela empresa, “criando algo que seja considerado único ao âmbito de toda a indústria” (PORTER, 1980, p.51). Porém, deve-se considerar que a atenção aos custos, embora não seja o foco central da empresa, não deve ser ignorada. 3 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” A obtenção de diferenciação permite à empresa retornos acima da média, adquirindo uma posição defensiva ante as forças da concorrência no mercado em que atua. A diferenciação procura estabelecer uma relação de lealdade do consumidor ante a marca, na tentativa de diminuir a sua sensibilidade em relação ao preço, através da agregação de valor ao produto que possa ser facilmente identificável por seus consumidores efetivos e potenciais. Esta lealdade também funciona como barreira à entrada de concorrentes. Dado o acréscimo nos retornos, a empresa tem maiores condições em lidar com fornecedores e reduzir o poder dos compradores, os quais não encontrariam produtos com características similares. Esta lealdade também permite um melhor posicionamento em relação aos produtos substitutos dos concorrentes (PORTER, 1980). Geralmente, o sentimento de diferenciação converge com o sentimento de exclusividade, o que impossibilitaria uma obtenção maior de mercado com este posicionamento. Portanto, atingir a diferenciação em um produto ou serviço implica em uma atenção especial aos custos, caso as atividades para obtenção seja inerentemente dispendiosa. Por fim, a última estratégia genérica proposta por Porter (1980) diz respeito ao enfoque em relação a um determinado grupo de consumidores. Da mesma forma que a diferenciação, o enfoque pode ser obtido de diferentes formas, porém o objetivo central passa a ser o de atender a um determinado mercado alvo por intermédio de políticas funcionais que consideram este objetivo. De certa forma, a empresa atinge a diferenciação por satisfazer melhor as necessidades de seu mercado alvo em particular ou consegue custos mais baixos nos produtos e serviços destinados a este alvo. Pode, ainda, conseguir ambos. Dentro deste raciocínio, a Figura 01, demonstra as diferenças entre as três estratégias genéricas. Unicidade observada pelo cliente Posição de baixo custo No âmbito de toda a Indústria Diferenciação Apenas um Segmento Particular Liderança em Custo Total Enfoque Figura 01 – Estratégias Genéricas de Porter Fonte: Baseado em Porter (1980). As três estratégias genéricas permitem que a empresa consiga lidar e se adaptar às forças de mercado, as quais ameaçam tomá-lo. Segundo Porter (1980), a empresa que carece de uma estratégia genérica, tende a operar com baixa rentabilidade ou pequenas parcelas de mercado, além de não possuir mercados estáveis, ficando a mercê dos movimentos de seus concorrentes. No contexto em que Porter (1980 e 1885) trabalha, a questão das estratégias genéricas tem como condição essencial o conhecimento pela empresa de sua cadeia de valor. O conjunto de atividades dentro da empresa é o determinante-chave para a formação de vantagens competitivas ante os concorrentes. Deve-se considerar que as relações sistemáticas das diferentes atividades desenvolvidas determinam o comportamento dos custos de execução das atividades, bem como a condição da empresa de diferenciar seus produtos. O agregado das atividades desenvolvidas é chamado de cadeia de valores. Por sua vez, a cadeia de valor 4 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” de uma empresa relaciona-se com uma corrente ainda maior de atividades, o que determina a formação de um sistema de valores (PORTER, 1989). A forma em que são executadas as atividades individuais da empresa, é fruto de sua história, de sua estratégia e das economias básicas de suas atividades. Estas últimas visam projetar, produzir, comercializar, entregar e sustentar seus produtos. Considera-se que a forma em que cada atividade é executada pode trazer vantagens competitivas sobre seus concorrentes, sendo elas atividades primárias ou de apoio. Portanto, o somatório das atividades de valor adicionadas à margem determinam o valor total da cadeia. As atividades primárias são as envolvidas no processo produtivo da mercadoria, na transferência física ao comprador e no serviço de pós-venda. Por outro lado, as atividades de apoio sustentam as atividades primárias e a si mesmas, gerindo os insumos necessários para a produção, tecnologia, recursos humanos e várias outras funções administrativas. Segundo Porter (1989, p.34), “valor é o montante que os compradores estão dispostos a pagar por aquilo que a empresa lhes oferece”. Neste sentido, busca-se que o valor criado ao comprador exceda o custo total das atividades exercidas pela empresa. Assim sendo, a maneira em que cada atividade é executada determinará se a empresa opera com custos altos ou baixos em relação à concorrência, bem como a determinação da contribuição para as atividades do comprador, ou seja, a diferenciação. A interdependência entre os diversos elos da cadeia de valor resulta em duas maneiras de vantagem competitiva: a otimização e a coordenação. Esta relação entre os elos ocasiona um importante fluxo de informação dentro da cadeia de valor, onde haverá a necessidade de investimentos em tecnologia da informação para uma gestão eficiente das atividades exercidas. Por outro lado, a integração de elos também é obtida em cadeias externas à empresa, onde a cadeia de valor dos fornecedores e dos canais de comercialização, também interfere no desempenho das atividades e nos custos da empresa. Desta forma, é possível desenvolver oportunidades de aumento na vantagem competitiva da empresa, originando benefícios mútuos entre elas. Para tanto é necessário que haja a divisão de benefícios desta coordenação, onde o reflexo desta relação é percebido nas margens das operações. Assim, as ações independentes à cadeia de valor dos fornecedores ou dos canais, podem impedir a coordenação ou otimização conjunta, considerando também, que o fluxo de informações entre os elos verticais exige uma estreita relação de cooperação entre as empresas (PORTER, 1989). Por sua vez, o comprador dos produtos as utiliza como insumo para sua própria cadeia de valor, originando a cadeia do comprador. Dada a impossibilidade de observar cadeias de compradores individuais, é fundamental compreender atividades relevantes exercidas pelos indivíduos, assim formulando uma cadeia para famílias representativas, servindo de instrumento para uso de análises de diferenciação em mercados específicos. A diferenciação é originada na relação entre as cadeias de valores e a cadeia de seu comprador, ou seja, poderá haver diferenciação ao longo das cadeias em todos os pontos de contato entre ambas. Esses pontos de contatos entre duas cadeias vão desde o beneficio direto do produto a outros valores que são gerados nesta relação. De certa forma, o valor deve ser percebido pelo comprador como redução de custos ou aumento no desempenho de suas atividades. As empresas buscam comunicar estes valores aos seus compradores por intermédio de propaganda e forças de vendas (PORTER, 1989). Existem diversas formas que determinam a estrutura e a economia da vantagem competitiva de determinada empresa, porém o escopo vertical representa uma questão central neste artigo. Considera-se que a integração vertical define as atividades a serem desempenhadas por uma empresa e outras cadeias as quais ela se relaciona, ou seja, uma empresa poderá manter uma estrutura organizacional que englobe o setor de assistência 5 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” técnica ou poderá subcontratar tais serviços de uma terceira empresa. Portanto, existem diversas atividades de valor que a empresa pode optar executar internamente ou comprá-las. De certa forma, a exploração dos elos verticais não requer integração vertical, porém a integração vertical poderá facilitar a obtenção dos benefícios (PORTER, 1989). Por outro lado, as coalizões podem ser formas alternativas para alcançar os benefícios. Entende-se por coalizões “acordos de longo prazo entre empresas que extrapolam transações de mercado normais” (PORTER, 1989, p.52). Tratam-se de acordos de cooperação mútua. Esta relação possibilita à empresa compartilhar atividades sem entrar em novos segmentos industriais. 2.2. Estratégias e Comportamento Estratégico Dentre as diversas tipologias estratégicas existentes, as que se apresentam mais instrumentais são as considerações de Miles e Snow (1978) e Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) pelo fato de serem as mais representativas e por atenderem aos objetivos propostos neste trabalho. 2.2.1. A Tipologia de Miles e Snow Para interagir com o ambiente e construir uma postura flexível frente à imprevisibilidade das forças externas, as organizações desenvolvem determinados tipos de comportamentos estratégicos. Nesse sentido, Miles e Snow (1978) elaboraram uma tipologia de comportamento estratégico com base na capacidade de resposta da empresa às condições de mudança do ambiente. Para tanto, a abordagem de Miles e Snow (1978) focaliza o processo de adaptação organizacional na inter-relação entre estratégia, estrutura e processos. De acordo com Costa e Silva (2002), dois elementos básicos compõem o construto dos autores: (a) uma abordagem geral do processo de adaptação, especificando as principais linhas de decisão que uma empresa deve tomar de forma a se manter alinhada e ajustada ao seu ambiente; e (b) uma tipologia organizacional, retratando os diferentes padrões de comportamento adaptativo utilizados pelas empresas. A tipologia proposta por Miles e Snow (1978) classifica as organizações em quatro categorias: prospectoras, analíticas, defensivas e reativas (Quadro 01). As organizações prospectoras estão constantemente procurando novas oportunidades de mercado apresentando um direcionamento à inovação com respostas potenciais às tendências ambientais. Estes tipos de organizações desenvolvem um controle descentralizado favorecendo a introdução e o desenvolvimento de novas tecnologias bem como a identificação de novas oportunidades de produtos e mercados, ocorrendo desta forma uma ampliação de seu domínio. Um dos problemas enfrentados pelas organizações propectoras relaciona-se à eficiência, em função da forte preocupação com a flexibilidade e com a inovação de seus produtos e mercados. Tipo de Estratégia prospectora analítica defensiva Reativa Características inovativa eficiente e adaptativa eficiente num pequeno nicho estratégia não consistente Quadro 01 – Tipos e características das estratégias. Fonte: Elaborada pelos autores com base em Miles e Snow (1978). Em relação às organizações analíticas observa-se uma combinação entre as defensivas e as prospectoras, uma vez que as mesmas operam em dois tipos de domínios de produto e mercado. Um é relativamente estável em que as organizações operam de forma 6 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” rotineira e eficiente a partir de estruturas e processos formalizados, e outro é baseado em mudança onde a alta administração observa os concorrentes e investe na adoção de idéias promissoras envolvendo a exploração de novos produtos e mercados. Estes tipos de organizações podem enfrentar problemas relacionados à criação de estruturas e processos diferenciados, de forma a acomodar tanto as áreas dinâmicas da empresa como as áreas estáticas. As organizações defensivas apresentam uma visão mais conservadora no que se refere ao desenvolvimento de produtos e mercados, apresentando estreitos domínios de produto-mercado. A alta administração possui um elevado nível de especialização, mas limita-se ao domínio da empresa evitando a busca de novas oportunidades. Com isso, as organizações defensivas raramente investem na introdução de novidades tecnológicas focando, basicamente, na melhoria da eficiência das operações já existentes. Estes tipos de organizações correm o risco de não acompanharem as mudanças ambientais para as quais a tecnologia não esteja adaptada. Por fim, as organizações reativas são aquelas em que a alta administração freqüentemente percebe as mudanças e as incertezas que ocorrem no ambiente em que estão inseridas, mas demonstram incapacidade de dar respostas às mudanças ambientais. Estas organizações exibem inconsistências entre sua estratégia e sua tecnologia, estrutura e processos dificultando a realização de ajustamentos capazes de acompanhar as tendências ambientais. A ausência de uma orientação consistente faz com que esses tipos de organizações reajam às pressões do ambiente somente quando forçadas. Miles e Snow (1978) destacam que as organizações que adotam este tipo de comportamento estratégico apresentam um desempenho inferior aos demais tipos estratégicos. 2.2.2. Tipologia de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel A definição da palavra estratégia, muitas vezes, é conceituada de maneira simplificada como um plano, uma direção, um curso de ação para o futuro. Na realidade das organizações, definir o que é estratégia é algo mais complexo, pois envolve aspectos relacionados à organização e seu ambiente, afeta o bem-estar geral da organização, envolve questões de conteúdo e de processo pelos quais as ações são decididas e implementadas aumentando a capacidade da organização de inovar oportunizando a flexibilidade, a adaptação e o aprendizado. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) não oferecem uma definição fácil de estratégia, mas uma série de definições as quais ele denominaram de: plano, padrão, posição, perspectiva e truque. A estratégia considerada como um plano indica um guia ou curso de ação para o futuro representando um olhar para frente, para o futuro. Como um padrão, a estratégia aborda uma consistência de comportamento ao longo do tempo, representando um olhar para o comportamento passado. A estratégia vista como posição, caracteriza-se pela localização de determinados produtos em determinados mercados e, como perspectiva, a estratégia lança olhares internos e externos, tanto para o produto quanto para o mercado. Já como truque a estratégia representa uma forma (manobra) de enganar os concorrentes (MINTZBERG, AHLSTRAND E LAMPEL, 2000). Conforme os mesmos autores, as estratégias podem ser pretendidas (quando as organizações desenvolvem planos para o seu futuro), realizadas (quando as organizações extraem padrões de seu passado) e emergentes (quando um padrão realizado não é expressamente pretendido). Quando a estratégia pretendida corresponde à estratégia realizada, diz-se que ela é deliberada. Já quando a estratégia realizada não era aquela pretendida pela organização, diz-se que ela é emergente. Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) nenhuma estratégia é totalmente deliberada ou emergente. É necessário mesclá-las, buscando7 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” se um certo equilíbrio, de maneira que reflitam as condições existentes, especialmente no que se refere a capacidade de prever e a necessidade de reagir a eventos inesperados. Para um melhor entendimento sobre o processo de formação estratégica, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) identificaram dez escolas de pensamento estratégico apresentando as limitações e contribuições de cada uma. São elas: (1) Escola do design - busca atingir uma adequação entre as capacidades internas da organização e as possibilidades externas. As premissas que sustentam esta escola baseiamse na formação da estratégia como um processo deliberado de pensamento consciente, na responsabilidade do executivo principal como estrategista, na formação de um modelo simples e informal e na formulação de estratégias únicas e explícitas. Para os autores algumas premissas desta escola negam certos aspectos importantes como o desenvolvimento incremental e a estratégia emergente, a influência da estrutura existente sobre a estratégia e a participação de outros atores organizacionais, além do executivo principal; (2) Escola do planejamento - a formação de estratégias é vista como um processo formal, guiada por um quadro de planejadores altamente educados com acesso direto ao executivo principal da organização. Como premissas da escola do planejamento destacam-se: (a) as estratégias devem resultar de um processo controlado e consciente de planejamento formal; (b) a responsabilidade de todo o processo está com o executivo principal da organização e (c) as estratégias surgem prontas desse processo e são implementadas através da atenção detalhada de objetivos, programas e planos operacionais; (3) Escola do posicionamento - enfatiza a importância das próprias estratégias, abordando o processo em si e focalizando seu conteúdo. Nesta escola, as estratégias são consideradas posições genéricas, especificamente comuns e identificáveis no mercado competitivo. Os analistas, neste processo, desempenham um papel muito importante. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) mencionam o Modelo de Michael E. Porter de análise competitiva, para definir a escola de posicionamento, baseada em cinco forças no ambiente de uma organização que são: ameaça de novos entrantes, poder de barganha dos fornecedores, poder de barganha dos clientes, ameaça de produtos substitutos, intensidade da rivalidade entre empresas concorrentes. Os autores concentram suas críticas a esta escola em aspectos relacionados a foco, contexto, processo e nas estratégias em si; As três escolas apresentadas são de natureza prescritiva buscando alinhar as estratégias da empresa às exigências impostas pelo ambiente, preocupando-se mais em como as estratégias devem ser formuladas do que como elas são formuladas (MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL, 2000). As seis escolas apresentadas a seguir são classificadas, pelos autores, como descritivas revelando a preocupação de como as estratégias são realmente formuladas. (4) Escola empreendedora - promove uma visão de estratégia como perspectiva, associada com visão, que serve como inspiração daquilo que precisa ser feito. As premissas subjacentes à escola empreendedora consideram a formação de estratégia como um processo semiconsciente, enraizado na experiência e na intuição do líder enfatizando que a estratégia existe na mente do líder como perspectiva, como visão de futuro da organização. A formação da estratégia calcada no comportamento de um único indivíduo é um dos aspectos críticos desta escola; (5) Escola cognitiva - considera a formação de estratégia como um processo mental considerando aspectos objetivos e subjetivos procurando entender a cognição como um processo de recriação e criação do mundo. Esta escola reforça a necessidade de maior compreensão da mente humana para compreender a formação da estratégia, o que nos remete a buscar contribuições no campo da psicologia cognitiva. Uma das premissas apresentadas 8 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” pela escola cognitiva é a formação da estratégia como um processo cognitivo que tem lugar na mente do estrategista; (6) Escola do aprendizado - considera a formação da estratégia como um processo emergente reforçando o seguinte questionamento: como as estratégias de fato se formam nas organizações? Os pesquisadores desta escola descobriram que as estratégias eram formadas a partir de uma variedade de pequenas ações e decisões tomadas por todos os tipos de pessoas diferentes ao longo tempo, sendo que raramente originaram-se de um esforço formal de planejamento. Para acompanhar a evolução da escola do aprendizado, os autores Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) apresentam diversas fases como: incrementalismo desarticulado (decisões são tomadas à margem, mais para resolver problemas do que para explorar oportunidades); incrementalismo lógico (a validade da estratégia está na capacidade de captar a iniciativa, lidar com eventos imprevisíveis e utilizar os recursos selecionados de forma eficaz); empreendimento estratégico (é preciso que haja coerência nas ações e os empreendimentos corporativos não podem se separar do restante da organização); estratégia emergente (focaliza o aprendizado estratégico, reconhecendo a capacidade da organização para experimentar) e, compreensão retrospectiva (defende a idéia de que o aprendizado deve parar antes do início da ação); Como premissa desta escola destaca-se que a formação da estratégia precisa assumir a forma de um processo de aprendizado ao longo do tempo baseado num sistema coletivo, o qual procede de forma emergente, através do comportamento que estimula o pensamento retrospectivo para uma melhor compreensão da ação. A escola do aprendizado possibilita uma reflexão no sentido de ver o aprendizado do ponto de vista do processo e da estratégia em si, sendo que os autores reforçam que se deve ter o cuidado para que o aprendizado não conduza à desintegração da estratégia; (7) Escola de poder - considera a formação da estratégia como um processo de negociação favoráveis a determinados interesses. Deve-se analisar sob dois ângulos, o poder micro que lida com o jogo de política vendo a formação da estratégia como a interação e o poder macro que diz respeito ao uso de poder pela organização vendo-a através do uso de manobras estratégicas em várias espécies de redes e alianças; (8) Escola cultural - percebe a formação da estratégia como um processo coletivo de interação social, baseado nas crenças e interpretações comuns aos membros de uma organização. A estratégia, nesta escola, assume a forma de uma perspectiva enraizada em intenções coletivas que se refletem nos padrões usados para obtenção de vantagem competitiva; (9) Escola ambiental - coloca em equilíbrio a visão global da formação de estratégia, posicionando o ambiente como o agente central no processo de geração de estratégia; (10) Escola de configuração, - difere das outras escolas apresentando uma possibilidade de reconciliação, concebendo a formação de estratégia como um processo de transformação. Uma das mais importantes premissas desta escola baseia-se na sustentação da estabilidade reconhecendo a necessidade de transformação e a capacidade de gerenciamento das mudanças estratégicas sem destruir a organização. As tipologias estratégicas apresentadas por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) possibilitam um melhor entendimento do processo de formação destas, entendendo-as como uma atividade que envolve a identificação de ameaças e oportunidades, a avaliação de recursos disponíveis, o ambiente em que a organização está inserida e a análise dos aspectos objetivos e subjetivos através de um processo de interação coletiva e social. Dessa forma, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) ressaltam que a formulação e implementação de estratégias se fundem num processo de aprendizagem através do qual estratégias criativas se 9 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” desenvolvem, levando ao entendimento de que as mudanças e transformações somente se consolidam no ambiente organizacional a partir da renovação estratégica por parte das organizações. 2.3. Custos de Transação e Ambiente Organizacional Dentro da corrente teórica da Nova Economia Institucional - NEI está a abordagem da Economia dos Custos de Transação - ECT, para a qual o sistema econômico funciona, sujeito a existência, em graus distintos, de três características básicas presentes nas transações: freqüência, risco ou incerteza e especificidade dos ativos. O elemento central desta abordagem é a transação de modo que, segundo Coase (1991), as firmas podem ser vistas segundo um “nexo de contratos”, cuja eficiência poderia ser verificada pela existência de custos relacionados ao seu estabelecimento e monitoramento. Numa definição simples, Richetti e Santos (2000), definem os custos de transação como aqueles compostos por custos de elaboração e negociação dos contratos, mensuração e fiscalização dos direitos de propriedade, monitoramento do desempenho, organização de atividade e adaptações ineficientes às mudanças do sistema econômico. A especificidade do ativo é fundamental na análise dos custos de transação, podendo ser classificada em alta (quando não existe uma possibilidade de uso alternativo que mantenha o valor do ativo, caso a transação não ocorra) e baixa (quando há a possibilidade de uso alternativo do fator envolvido, apesar de eventual perda no seu valor). Williamson (1985), apresenta seis possíveis elementos que caracterizam um investimento em termos de especificidade das transações e que são responsáveis pelo surgimento de custos de realocação. Dentre os elementos ou características dos ativos mais relevantes, estão as especificidades de local, de tempo, dos ativos físicos, dos ativos humanos e aquelas relacionadas à marca e, especificidade. Além da especificidade dos ativos, também a freqüência em que ocorrem as transações é uma de suas características mais importante, uma vez que a repetição de uma mesma espécie de transação acaba reduzindo custos de elaboração e monitoramento dos contratos, cabendo salientar o efeito de aprendizagem do sistema (feedback) decorrente das sucessivas transações. Por fim, o reconhecimento de que as informações relevantes para a elaboração dos contratos são incompletas e assimétricas e que os agentes que realizam os contratos sofrem de racionalidade limitada (SIMON, 2000). Face à incerteza ou risco, principalmente quando se trata de sistemas agroindustriais, justifica-se o emprego de salvaguardas contratuais que objetivam resguardar as partes frente a possibilidade de distúrbios inesperados, principalmente associados ao comportamento oportunístico dos agentes, aumentando os custos de transação. Então, o enfoque da ECT permite que os tipos e as características das transações e dos contratos realizados pelas agroindústrias sejam observados e analisados segundo os custos de transação verificáveis nos diferentes ambientes em que as empresas operam e efetuam suas transações. Em relação à análise do macroambiente onde ocorrem as transações em um sistema agroindustrial, deve-se ter atenção aos ambientes organizacional, institucional, tecnológico e competitivo, no intuito de determinar a estrutura de governança existente neste sistema (FARINA et al, 1997). Analisados no curto prazo, estes ambientes se colocam como condicionantes das estratégias individuais e determinantes do desempenho das firmas nos seus respectivos mercados. Esta concepção apresenta a possibilidade de análise que se utiliza da contribuição da ECT em conjunto com o referencial teórico desenvolvido pelo paradigma Estrutura – Conduta - Desempenho. Já no longo prazo, as estratégias individuais e coletivas (organizacionais) acabam por modificar o ambiente competitivo, institucional e tecnológico, alterando as estruturas de mercado, destacando o caráter sistêmico do processo. 10 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Para Zylbersztajn e Neves (2000), ao se adotar abordagens de análise sistêmicas dentro dos sistemas agroindustriais, pressupõe-se o conhecimento da organização entre os agentes que transacionam dentro do sistema. Assim, torna-se necessário verificar os padrões de concorrência e crescimento, baseados em condicionantes organizacionais, institucionais, concorrenciais e tecnológicos. No seu conjunto, os ambientes e as estratégias utilizadas pelos agentes, formam a estrutura de governança onde as empresas se apóiam. Esta estrutura vista de forma sistêmica, permite determinar a existência de custos de transação e seus reflexos sobre o desempenho das organizações. Torna-se necessário, portanto, verificar as variáveis definidoras dos ambientes organizacional, institucional, tecnológico e competitivo além das estratégias das empresas, procurando reconstruir a estrutura de governança do setor no qual ela faz parte. Em resumo, a ECT atribui relevante papel aos relacionamentos que emergem entre as firmas, os quais se caracterizam pela freqüência, volume ou valor das transações e especificidade dos ativos. Deste modo, a escolha por determinada estrutura de governança seguirá as características das transações, de forma que as falhas do mercado possam ser vistas como uma das principais razões para a integração vertical. 3. METODOLOGIA Este artigo tem por objetivo demonstrar o comportamento estratégico de organizações industriais que estão inseridas no segmento de máquinas agrícolas, procurando verificar a existência de relações entre os ambientes organizacional, institucional, tecnológico e competitivo e as estratégias adotadas. Para isso, o método de pesquisa adotado foi o estudo de caso de caráter exploratório, que permite a familiarização com o fenômeno estudado. A organização objeto de estudo é a SEMEATO S/A, com sede em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul e com seis unidades de produção localizadas em diferentes municípios do estado. Destaca-se que esta empresa foi pioneira no desenvolvimento e produção de implementos agrícolas para o sistema de plantio direto no Brasil, já que desde a década de 70 a empresa está envolvida com esse novo sistema de cultivo, justificando-se a escolha do caso em razão do seu potencial inovativo, por se caracterizar como uma organização quase que totalmente verticalizada e fundamentalmente por ser considerada benchmark no seu segmento. O procedimento de coleta de dados priorizou os dados primários e documentais. Os dados primários foram obtidos através da aplicação de um questionário semi-estruturado, de modo que a partir da entrevista e da visita in loco, procurou-se reunir elementos capazes de auxiliar na configuração dos ambientes institucional, organizacional, tecnológico, estratégico e competitivo que envolve a organização objeto do estudo de caso. Os demais dados foram obtidos através de fontes documentais, site da empresa e outros documentos fornecidos pela empresa analisada. Vale ressaltar que, os dados relacionados ao histórico, missão e objetivos da Semeato foram retirados de manuais, jornais e site da empresa estudada. A análise dos dados e informações de base qualitativa foi feita à luz do referencial teórico utilizado nesse estudo (Figura 02), destacando-se as construções de Porter (1980 e 1989) sobre a cadeia de valor da empresa e de suas estratégias genéricas, o aprofundamento sobre comportamento estratégico e tipologias de estratégias propostos por Miles e Snow (1978) e Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). O estudo é ainda complementado pela análise dos ambientes nos quais a organização está inserida, segundo as proposições da Economia dos Custos de Transação inicialmente desenvolvidas por Coase (1991) e por Williamson (1985). 11 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Estrutura Conduta Desempenho Porter Cadeia de Valor Desempenho Nova Economia Institucional Ambiente Organizacional Ambiente Institucional Ambiente Competitivo EMPRESA Ambiente Tecnológico Economia dos Custos de Transação Porter Forças Competitivas Estratégias Genéricas Estratégias Mintzberg, Ahlstrand & Lampel Miles & Snow Figura 02 – Modelo Teórico-Metodológico Fonte: Elaborado pelos autores. Para a análise do desempenho da empresa foi utilizado um questionário específico, totalmente estruturado e dividido em seis dimensões: custos, receitas e lucro, qualidade, relações intersetoriais e interorganizacionais, mercado e operacional. Estas dimensões foram avaliadas a partir 38 indicadores de desempenho, para os quais foram atribuídos índices de desempenho numa escala de zero (estabilidade) a quatro (significativo aumento), envolvendo o desempenho obtido nos últimos cinco anos e as expectativas para o período dos próximos cinco anos. 4. ESTUDO DE CASO: SEMEATO A Semeato S/A, traçou como missão, ser sempre uma empresa inovadora, competitiva e preocupada com o meio ambiente, com perfil empreendedor e forte capacidade de produção, cujo objetivo é oferecer uma ampla variedade de maquinário agrícola para plantio direto, associado aos serviços adjacentes de clientes no mundo todo, sempre reunindo esforços para obter alta qualidade e satisfação de seus clientes. Além disso, a empresa está focada na maximização de lucros; oferecer oportunidades de crescimento aos produtores rurais; encontrar soluções e não apenas vender; melhorar continuamente os processos e produtos e, trabalhar sempre com diferenciação e tecnologia. 4.1. Histórico da Empresa A Semeato é uma empresa originada na década de 1960, motivada pelo fato de que nesta época a maior parte do maquinário agrícola era importada e havia dificuldades para a obtenção de peças de reposição. Em virtude disso, em 1965 foi fundada em Passo Fundo - RS, a MECÂNICA AGRÍCOLA ROSSATO, inicialmente com o intuito de suprir a demanda por peças e pequenas máquinas. Mas já no início dos anos de 1970, a empresa desenvolveu um dos primeiros implementos agrícolas fabricados no Brasil. Com a expansão da atividade agrícola deste período, a empresa cresceu e mudou seu nome para SEMEATO S/A, e desde então assumiu uma postura inovadora e pioneira na indústria de máquinas e implementos 12 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” agrícolas. Seu caráter inovador é marcadamente reconhecido por sua experiência com o sistema de plantio direto, uma prática agrícola inédita no Brasil e que começava a ser desenvolvida na Europa com o apoio de grandes empresas do setor de agroquímicos (EKBOIR, 2003). Na medida em que o sistema de Plantio Direto foi sendo adotado por todo o Brasil, e pelos países vizinhos, a empresa foi se posicionando como líder na produção de equipamentos próprios para a utilização desta técnica. Os equipamentos desenvolvidos para o sistema de plantio direto da Semeato tornaram-se referência tanto no mercado interno como em toda a América do Sul. Suas exportações de máquinas agrícolas, opcionais, discos agrícolas e peças fundidas e forjadas abrangem também parte da América Central, EUA, Canadá e diversos países da Europa (SEMEATO, 2004). Segundo a empresa, o seu sucesso nestes mercados se deve em grande parte à confiabilidade e maximização da produtividade agrícola proporcionada pelos equipamentos que fabrica, bem como pelo fato de que, com o sistema de plantio direto os restos das culturas são mantidos na superfície do solo como matéria orgânica, formando uma cobertura permanente. Assim, seu pioneirismo no desenvolvimento de máquinas para o plantio direto representou a possibilidade de conquistar um novo mercado criado por este sistema de cultivo que traz vários benefícios ao agricultor pelo fato de que permite maximizar o uso da terra e, como conseqüência, ampliar consideravelmente a produtividade das lavouras, aumentando, assim, o retorno dos investimentos. Devido ao sucesso obtido com a produção de equipamentos destinados à técnica de Plantio Direto, nos anos de 1980 a Semeato concentrou seu potencial no desenvolvimento de máquinas e implementos tecnologicamente mais avançados. A ênfase da Semeato no plantio direto tem produzido inúmeros aperfeiçoamentos. Os engenheiros da Semeato têm conseguido dar suporte aos agricultores através de inovações que auxiliam na obtenção de ganhos de produtividade. Entre as inovações mais expressivas, podem ser citados dois exemplos: o exclusivo "Facão Efeito Guilhotina", que permite uma maior profundidade e proporciona melhor aeração, infiltração e crescimento das raízes e a SHP (semente e adubo), a única semeadora de parcelas fabricada no Brasil e especialmente projetada para auxiliar pesquisadores em áreas experimentais. Destaca-se ainda, que a Semeato é uma empresa verticalmente integrada, que fabrica e comercializa produtos em quatro outros segmentos: discos e enxadas agrícolas; peças forjadas e aços especiais; peças fundidas de ferro cinzento, ferro nodular e aço e produtos para cozinha e camping (SEMEATO, 2004). Outro ponto de destaque da empresa está na forma de relacionamentos com os seus principais clientes. A Semeato trabalha junto aos agricultores e fornecedores, construindo relacionamentos como parceiros de uma aliança baseada em interesses comuns. No tocante à linha de máquinas para plantio direto, a Semeato tem procurado desenvolver produtos combinando precisão e eficiência. Dentro desta política e com o objetivo de satisfazer as necessidades especiais dos clientes, de acordo com as particularidades de cada região, solos, culturas e climas, a Semeato desenvolveu um novo conceito em semeadoras para plantio direto, a semeadora personalizada. A Semeato então desenvolveu um produto chamado de “PERSONALE DRILL”, que é uma plantadeira/semeadeira que oferece soluções para problemas específicos de cada cliente e que apresenta mais de 500 combinações de montagens. Para completar a linha de produtos agrícolas, a Semeato também fabrica equipamentos para fenação, que integram praticidade e durabilidade para pequenas propriedades de terrenos irregulares (SEMEATO, 2004). No tocante à estrutura, a Semeato S/A é uma empresa que possui seis fábricas e, como já mencionado, sendo uma empresa verticalmente integrada, necessitou desenvolver um 13 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” processo próprio de fabricação e logística, promovendo a alta qualidade de seus produtos e serviços. Com o objetivo de garantia da qualidade de seus produtos a partir de matériasprimas de alta qualidade, a Semeato criou uma empresa, a CSA - Companhia Semeato de Aços, que possui unidades de produção em Butiá - RS e Vespasiano - MG. A CSA produz e fornece aço forjado, aço fundido e aço em liga baixa e média para a Semeato S/A e outros clientes. A CSA também fabrica a linha completa de discos e enxadas agrícolas da marca “Cavalinho”, que se diferencia pela sua durabilidade e resistência, obtidas por um processo de laminação cruzada (SEMEATO, 2004). Por fim, destaca-se que a Semeato tornou-se uma das mais importantes indústrias no planalto gaúcho que, segundo dados da empresa, emprega cerca de 2.500 funcionários e fabrica aproximadamente 500 máquinas por mês, todas personalizadas de acordo com as especificidades de uso do cliente. 4.2. Mercados e Análise Ambiental 4.2.1. O Mercado de insumos Para atingir os objetivos propostos, a empresa, primeiramente, centra seus esforços à montante, na escolha de seu melhor mercado de insumos. Na aquisição de matéria-prima, o primordial para a Semeato, está focado na qualidade. Por este motivo, 90% desta é produzida pela própria empresa. Convém enfatizar que, devido sua grande demanda, a empresa também busca prazos de entrega adequados com a sua necessidade, sempre procurando comprar o principal material que é o aço diretamente das usinas, por essas oferecerem um preço mais acessível. Porém, às vezes ocorrem situações em que a empresa, para suprir suas necessidades, é obrigada a comprar matéria-prima de revendedores, estando sujeita a perder a qualidade, que acaba retornando ao fabricante e prejudicando os prazos de entrega. Há também o risco do não receber o material dos fornecedores internos e externos nos prazos corretos e, dado que a empresa trabalha num sistema just-in-time, a linha de produção pode parar em alguns pontos estratégicos. A empresa mantém um centro de desenvolvimento de tecnologias e novos produtos, onde a própria unidade produz as matrizes e estas, se não puderem ser produzidas na própria empresa, são transferidas aos fornecedores externos que montam as peças conforme especificações em contrato. Este intercâmbio de informações e serviços é de livre acesso desde que respeitada a qualidade dos produtos e prazos de entrega. Para que esta forma de aliança funcione bem, é preciso saber o que e como realmente se necessita esse produto, depois de, certamente, verificada a total impossibilidade de produção da própria unidade, dado o risco que isso pode acarretar em qualidade e em informações que são exclusivamente internas. 4.2.2. O mercado de produtos da empresa No mercado de seus produtos, devido à empresa ser voltada exclusivamente para o desenvolvimento de máquinas para Plantio Direto, conhecida mundialmente, a empresa se posiciona como líder, tendo 40% da fatia do mercado nacional. As variáveis fortemente consideradas na formação de preços dos produtos são os custos fixos, os custos de desenvolvimento de produtos, assistência técnica e principalmente, a satisfação do cliente. Este último envolve todo e qualquer serviço necessário para esta satisfação, como por exemplo, os serviços de pós-venda que abrangem treinamentos, dias de campo, demonstrações de produto, teste de peças novas paras serem adaptadas aos produtos, pesquisas de satisfação, etc. O principal custo envolvido na venda dos produtos é referente ao vendedor que visita os clientes. No entanto, a empresa reconhece isto como um investimento, pois resulta 14 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” em clientes satisfeitos com produtos adequados às suas necessidades, o que gera um grau de satisfação tão elevado que não se conseguiria obtê-lo em grande escala ou mesmo através de outros serviços prestados à distância. No tocante à concorrência, toda informação oriunda destes é levada ao conhecimento da diretoria e analisada pelos departamentos responsáveis. A importância destas informações está voltada à verificação de que estas estão sendo pró-ativas com os clientes em relação aos concorrentes. Com este intuito, semanalmente os vendedores de campo encaminham à empresa relatórios, listas de preços, catálogos de produtos e informações sobre a atuação da concorrência na região onde cada qual é responsável. Porém, o grande diferencial do produto da Semeato está na qualidade dos componentes que compõem o mesmo, como a qualidade do aço carbono, o plástico sem nenhum material reciclado, os rolamentos de primeira linha e tantos outros itens que fazem a diferença na hora de se utilizar o equipamento. Para vias de comparação dessa qualidade, quando se analisa o preço de um produto da Semeato com 05 anos de uso, pode-se verificar que o valor no mercado do mesmo chega a ser 40% mais alto que um produto similar fabricado pela concorrência. 4.2.3. O ambiente organizacional Nos últimos tempos, muitas empresas perceberam que a partir do momento que um segmento cresce e necessita de mais matéria-prima e bons fornecedores desta, toda a cadeia produtiva se beneficia. Isto é o que tem ocorrido com os segmentos voltados à agricultura no país, pois todos aqueles que estão ligados direta ou indiretamente ao agronegócio, estão praticamente obrigados a acompanhar a evolução do setor. Neste contexto, as empresas de implementos e máquinas agrícolas vêm buscando cada vez mais atender melhor a todos que estão voltados à agricultura. Também as universidades estão oferecendo mais cursos; o comércio está com maiores horizontes devido às exigências dos consumidores; as próprias feiras e eventos voltados ao agronegócio estão se expandindo consideravelmente pelo país, ao passo que há pouco tempo atrás, os eventos realizados para os agricultores neste setor eram praticamente insignificantes para ajudar na sua tomada de decisão. A Semeato encaixou-se perfeitamente nesta evolução acelerada da agricultura. As tecnologias são desenvolvidas exclusivamente pela empresa juntamente com os seus clientes. Para testes e divulgação de novos produtos, a mesma conta com parcerias junto à Universidade de Passo Fundo, Embrapa, Universidade Federal de Viçosa/MG, Usina Colorado/SP e, mais recentemente, com a Monsanto e demais órgãos regionalizados. A empresa, na tentativa de forçar ações de incentivos ao setor, participa de grupos como o SIMERS (Sindicato dos Metalúrgicos) e através dele, bem como também diretamente junto ao Governo Federal, busca manter os programas de financiamento que são os principais agentes causadores da renovação nacional da frota agrícola no país, pois como se sabe, a agricultura à montante, sofre seguidamente forte impacto das políticas governamentais. 4.2.4. O ambiente institucional Sob a óptica do sistema legal, relacionado às atividades da empresa, todo e qualquer custo envolvido com a legislação em vigor, bem como o judiciário impactam diretamente na formação do preço do produto, sendo que a alteração dos mesmos modifica a política de comercialização. Como exemplo, conforme legislação estadual, todos os produtos fabricados pela empresa que são vendidos dentro do Estado recebem um diferencial de 7% no custo. Este desconto é repassado diretamente ao consumidor, beneficiando ambas as partes. 15 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Analisando-se o relacionamento da empresa com seus clientes, a mesma enfatiza que, em certas regiões do país, ainda há uma determinada resistência às novas tecnologias, principalmente relacionadas ao plantio direto. Muitos preferem continuar com o modo convencional de plantio de sementes. Devido essa situação, a empresa criou produtos para iniciar o trabalho nestas regiões e, aos poucos, conforme a adaptação dos clientes, vão sendo apresentados produtos com maior tecnologia e de melhor adaptação ao solo da cada região. Também são apresentados aos agricultores, pesquisas com dados do desempenho e do aumento da produtividade em função da prática do plantio direto efetuado em outras regiões. Assim, mostrando experiências bem sucedidas, as idéias são vendidas com mais facilidade, devido ao aumento da credibilidade. Um outro fator que merece bastante atenção sobre o desempenho da empresa, diz respeito à abertura de mercado dos anos 1990. No setor de máquinas e implementos agrícolas, muitos produtos entraram no país, trazendo forte concorrência e quebrando muitas empresas nacionais. A Semeato sofreu fortemente esse impacto, porém, a empresa começou a perceber que os produtos que chegavam ao País não se adaptavam às necessidades do cliente. Este foi o diferencial adotado pela empresa. A mesma tem total autonomia na alteração de projetos para adequar seus produtos conforme as necessidades dos clientes. Este foi o fator impulsionador de crescimento da empresa e a quebra da barreira concorrencial. Com a idéia inovadora do sistema de Plantio Direto, o sucesso antes interno, espalhou-se pela Europa e vem estendendose e conquistando mercados no mundo todo. Assim, a Semeato está sempre atenta a todas as alterações do mercado interno e externo, até mesmo na formação de blocos econômicos, que acarretam modificações de postura e estratégia da empresa. Para isso, é preciso estar preparado e ser ágil o suficiente para acompanhar o mercado, pois as mudanças são freqüentes e favoráveis àqueles que estão preparados para tirar o melhor proveito da situação. No mercado interno, por exemplo, o contínuo apoio e subsídio que o governo brasileiro vem dando no fornecimento de financiamentos com juros baixos para compra de máquinas e implementos agrícolas têm contribuído para o desenvolvimento da agricultura no país e para a expansão da demanda por este tipo maquinário. 4.2.5. O ambiente Tecnológico Conforme já mencionado acima, a partir da década de 1990 surgiram novos produtos que melhoraram a eficiência do plantio dado o maior controle da produtividade. Devido à preocupação da empresa em satisfazer o cliente, isso acarretou em grandes modificações nos equipamentos, que hoje já não necessitam de tantas ferramentas para sua regulagem. Desta forma, para oferecer mais tecnologia a empresa transformou sua linha produtiva através de equipamentos mais modernos e de maior precisão. A criação do configurador de máquinas que possibilita a montagem do equipamento conforme a solicitação do cliente faz com que esse produto seja único entre tantos outros. Este foi, sem dúvida, o maior avanço junto aos clientes oferecido pela empresa nos últimos anos, pois, além da tecnologia do produto, a diferenciação gera maior satisfação aos clientes. As principais fontes de informação que a Semeato utiliza para promover e lançar seus produtos são as de feiras e eventos, dias de campo, demonstrações práticas aos clientes, fitas de vídeo com visualização das máquinas/produto trabalhando seguida do depoimento dos produtores utilitários, bem como, pelos prospectos de produtos com dados de produtividade e testemunhos de clientes. O desenvolvimento das novas tecnologias parte da necessidade exposta pelo cliente ou sugerida pela empresa. A inovação passa primeiramente pela engenharia de produto, depois para o desenvolvimento da “matrizaria” e após segue para as unidades fabris, sendo 16 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” adaptada diretamente ao próximo lote produtivo do equipamento já modificado. Este processo é corriqueiro dentro da empresa, sendo que muitas vezes as modificações ocorrem nos produtos que já estão na linha de montagem. 4.2.6. O Nível Educacional da Empresa A Semeato tem uma grande preocupação com o treinamento de seus funcionários. Para qualificar a mão-de-obra, a empresa construiu uma Escola de Treinamento para preparar e ensinar adolescentes entre 16 e 20 anos a trabalhar em indústrias. O objetivo da escola é fornecer conhecimento e formação ética aos futuros funcionários, bem como construir carreiras. Esta escola tem recebido vários prêmios por educar a comunidade, como o Prêmio Paulo Freire, na modalidade "Outros Meios de Aprendizagem", que se destina a reconhecer a nível nacional, instituições que desenvolvem experiência de Educação Básica e Educação Profissional para contribuir para uma sociedade melhor (SEMEATO, 2004). O nível de escolaridade mínimo exigido pela empresa é, no chão de fábrica, 1º grau; no escritório, 2º grau e para gerência e supervisão 3º grau. Já a diretoria da empresa é composta pelos proprietários que possuem formação no exterior. A Semeato também criou um Centro de Treinamento que integra toda a rede através do conhecimento e expansão de sua experiência em plantio direto. Na sala de treinamento, todos os funcionários têm a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre os produtos e inovações da empresa, além de participar interativamente do processo de satisfação do cliente (SEMEATO, 2004). 4.3. Comportamento Estratégico e Potencial Competitivo A análise sobre os elementos estratégicos da empresa identificou claramente sua vocação para a diferenciação de produtos envolvendo a geração de tecnologia. A empresa aplicou seu potencial no desenvolvimento de máquinas e implementos tecnologicamente avançados. Para isto teve de se preocupar com o treinamento de seus funcionários, dada a sua necessidade de mão-de-obra qualificada. Estrategicamente a Semeato está voltada à diferenciação de produtos, oferecendo soluções individualizadas para problemas agrícolas específicos de cada cliente, o que lhe confere papel inovador e pioneiro na indústria. Com estas características a empresa opera a sua principal linha de produtos voltada ao sistema de plantio direto, dentro do qual a empresa foi se posicionando como líder nessa técnica e passou a conquistar continuamente mercados fora do país. Para manter essa posição neste segmento industrial a Semeato estabelece parcerias junto aos agricultores e fornecedores, construindo relacionamentos duradouros. Seu foco na qualidade dos produtos conduziu a empresa a optar por uma estrutura verticalmente integrada, cujo processo produtivo se estende desde a produção do aço até a logística de distribuição, passando pela assistência técnica aos clientes e os serviços pósvendas. A busca pela alta qualidade de seus produtos e serviços fez com que a empresa enfatizasse o trabalho em equipe e a modernização tecnológica em todos os setores. Disto depreende-se que, segundo o conjunto de estratégias genéricas proposto por Porter (1980), a Semeato apresenta uma consistente estratégia de diferenciação, na medida em que os seus clientes e concorrentes consideram seus produtos referência de tecnologia e qualidade. Embora o elemento estratégico central da Semeato seja o atendimento das necessidades de seus consumidores, ela não pode ser considerada como uma empresa que adota uma estratégia mista de enfoque, pois os custos de seus produtos são, em média, de 15 a 20% superiores aos dos concorrentes. Na mesma linha, ao se trabalhar com o conceito de cadeia de valor (PORTER, 1989), a análise da empresa mostra que suas principais atividades geradoras de valor são 17 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” aquelas relacionadas ao desenvolvimento dos produtos e aos serviços pós-vendas, as quais representam as principais fontes de diferenciação adotadas pela Semeato. Segundo Miles e Snow (1978) a forma como as organizações interagem com o ambiente serve como elemento que possibilita identificar determinados tipos de comportamentos estratégicos. Então, a partir desta tipologia pode-se classificar o comportamento estratégico da Semeato como um comportamento prospector, pois a empresa mostra-se constantemente preocupada com novas oportunidades de mercado e para isto se volta ao processo inovativo como um recurso de resposta às potenciais mudanças ambientais. Finalizando esta análise sobre as estratégias da empresa pode-se destacar que as premissas subjacentes à escola empreendedora, assim como ilustrado por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), a qual considera a formação de estratégia como um processo semiconsciente e enraizado na experiência e na intuição do líder servem para caracterizar o processo de elaboração e implementação das estratégias adotadas pela Semeato. Essas premissas foram evidenciadas pelo perfil inovador e empreendedor do dono da empresa analisada, conforme mencionado na seção introdutória desse estudo. Seu perfil inovador e seu interesse na redução dos problemas de erosão dos solos foram os grandes impulsionadores da transformação da empresa na maior produtora de máquinas de plantio direto fora dos Estados Unidos. Vale acrescentar, também, a presença das premissas da escola do aprendizado na empresa objeto deste estudo, que se materializam através das práticas de treinamento e desenvolvimento de pessoas, pelo espírito coletivo de trabalho e pelos prêmios recebidos pela empresa como resultados dos investimentos no desenvolvimento e capacitação de seus recursos humanos. 4.4. Desempenho O desempenho da empresa, objeto do estudo de caso, foi considerado segundo as dimensões de custos, receitas e lucro, qualidade, relações intersetoriais e interorganizacionais, mercado e operacional. Com base nos custos, as respostas oferecidas pela empresa mostraram que esta apresentou, de modo geral, um aumento nos seus custos totais, inclusive no que se refere a custos de transação envolvendo custos judiciais e contratuais. Os custos de produção e de obtenção de matérias-primas foram os que representaram aumento mais significativo, enquanto que apenas os custos de administração e gestão lograram redução. Embora, a Semeato opere em um cenário de custos crescentes e com perspectivas de continuidade desta situação, suas receitas e lucro são tidos como crescentes, para as quais as empresa apresenta boas perspectivas para o horizonte dos próximos cinco anos. Em termos de desempenho e qualidade, a Semeato apresenta um significativo aumento. Tanto do ponto de vista do produto final quanto ambiental, a empresa considera que obteve um ótimo desempenho e espera continuar aprimorando os quesitos de qualidade associados aos seus produtos. Na dimensão de desempenho que envolve as relações intersetoriais e interorganizacionais, a aplicação do instrumento de pesquisa revelou que a empresa considera estável o seu relacionamento com o setor público e com as entidades representativas dos consumidores. No entanto, espera poder melhorar o seu desempenho nos próximos anos, aumentando suas relações com estas organizações que compõe o seu ambiente institucional. De outro lado, a empresa considera que houve uma melhoria no seu desempenho com relação aos relacionamentos que estabelece com seus clientes e prevê que estas relações possam ser ainda incrementadas no futuro próximo. Isto significa que sua atuação representa a possibilidade de alteração das variáveis definidoras de seu ambiente de negócios, na medida em que representa uma referência para as demais empresas do mesmo segmento. Conforme já foi mencionado, a Semeato se posiciona como líder de mercado no segmento implementos agrícolas para plantio direto, possuindo uma fatia de 40% do mercado 18 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” nacional (SEMEATO, 2004). Em entrevista realizada com os gestores, no tocante ao desempenho organizacional, estes mencionam que a Semeato obteve aumento da sua participação relativa nos mercados local, estadual e nacional e destacam um significativo aumento de suas exportações. Ainda em termos de desempenho, os gestores da empresa esperam continuar aumentando expressivamente parcela do mercado em que esta atua. Observou-se, também, que a Semeato poderia aumentar sua capacidade de obtenção de informações sobre os mercados de seus produtos e matérias-primas, bem como sua capacidade de adequação às modificações ocorridas nestes mercados. Por fim, a entrevista com os gestores revelou que a empresa obteve significativo incremento no seu desempenho operacional em todas as suas dimensões, exceto no tocante a compra de matérias-primas. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente, a empresa continua liderando o mercado de implementos voltados ao plantio direto e tornou-se uma das mais importantes indústrias no planalto gaúcho. Um ponto que merece destaque na empresa está relacionado à terceirização. A Semeato prefere administrar sua produção total, adquirindo o controle desde a matéria-prima até o produto final. Isso se justifica pelo fato de que a empresa zela pela maior qualidade de seus produtos e, tendo produção totalmente interna, este controle se torna mais efetivo. Neste sentido, sugerese que futuros trabalhos envolvendo o caso da Semeato depositem sua ênfase nos possíveis efeitos sobre o desempenho da empresa que poderiam advir de um processo de terceirização ou subcontratação de atividades que não estão diretamente vinculadas às suas competências centrais, ou seja, sobre as atividades que não significam geração de valor dentro da cadeia de valores da empresa. Convém enfatizar que a empresa é 100% de capital nacional e está sempre em busca de novos mercados, observando particularidades como clima, solo, temperatura e, principalmente, ouvindo clientes e operadores. Atualmente, a maior preocupação da empresa está voltada à questão das patentes, em função dos altos investimentos realizados em Pesquisa e Desenvolvimento. Esse controle está sendo efetuado por cinco pessoas que se dedicam integralmente a essa questão (departamento jurídico especializado). Quando a mesma não consegue patentear seu produto, o departamento jurídico encarrega-se de conseguir o recebimento de royalties, direito pleno da empresa. Isto significa que o comportamento oportunístico associado com a especificidade dos ativos tecnológicos desenvolvidos pela empresa tem significativo impacto sobre seus custos de transação. A análise das estratégias da Semeato revelou que esta empresa assume um papel prospectivo em suas ações, trabalha enfatizando a diferenciação de seus produtos e as escolhas estratégicas dependem em larga medida do perfil empreendedor dos gestores da empresa. Disto resulta que assim como verificado na teoria, uma estratégia de diferenciação não é condizente com liderança em custos, tal como foi observado no caso da empresa pesquisada. Dito de outra forma, foi possível identificar uma relação positiva entre as estratégias adotadas pela Semeato e o seu desempenho. Uma vez que adotou estratégias voltadas à diferenciação e à qualidade, prejudicou seu desempenho em custos, porém alavancou sua participação nos mercados em que atua (é líder de mercado em seu segmento principal de atividade) e pode auferir ganho econômico decorrente dos preços-prêmio atrelados aos produtos diferenciados que produz e comercializa. De outro lado, a sua posição como líder de mercado pode se converter em benefícios ao seu desempenho na medida em que seu porte, imagem e reputação podem 19 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” influenciar (e de fato influenciam) o comportamento das demais empresas da indústria, modificando a estrutura setorial (características do ambiente de negócios e estruturas de governança). Aqui se reforça a importância de se considerar elementos de uma abordagem sistêmica quando se trata de analisar estratégias e desempenho de organizações do agronegócio. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COASE, R. The nature of the firm. New York: Oxford University Press, 1991. COSTA, L. S. de V.; SILVA, J.F. As Tipologias Estratégicas “Realmente Existem”? In: Anais do XXVI Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração. Salvador, Bahia, 22 a 25 de setembro de 2002. EKBOIR, J. M. Research and technology policies in innovation systems: zero tillage in Brazil. Research Policy, v.32, p. 573–586, 2003. FARINA, E. M. M. Q., et al. Competitividade: mercado estado e organização. São Paulo: Editora Singular. 1997. MILES, R.E; SNOW, C.C.; MEYER, A.D.; COLEMAN, Jr., H.J . Organizational Strategy, Structure and Process. Academy of Management Review, v. 3, n. 3, p. 546-562, 1978. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000. PORTER, M. E. Competitive strategy: techniques for analizing industries and competitors. New York: Free Press, 1980. __________. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989 RICHETTI, A. e SANTOS, A. C. dos. O sistema integrado de produção de frango de corte em Minas Gerais: uma análise sob a ótica da ECT. Revista de Administração da Ufla, v. 2, n. 2, p.34-43, 2000. SEMEATO. Site da Semeato S/A. Disponível em: http://www.semeato.com.br. Acesso em: 22 ago. 2004. SIMON, H. A. Barriers and bounds to rationality. Structural Change and Economic Dynamics, v. 11, p. 243–253, 2000. WILLIAMSON, O. E. The economic institutions of capitalism. New York: The Free Press, 1985. ZYLBERSZTAJN, D. e NEVES, M. F. Economia e gestão dos negócios agroalimentares: indústria de alimentos, indústria de insumos, produção agropecuária, distribuição. São Paulo: Pioneira, 2000. 20 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural