DESTAQUES COCHRANE
Intervenções farmacológicas para
sonolência e distúrbios do sono
causados por trabalhos em turno
Esta é a tradução de um resumo da revisão sistemática “Pharmacological interventions for sleepiness and sleep disturbances caused by shift work”,
publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews 2014, edição 8. art. No.: CD009776.
DOI: 10.1002/14651858.CD009776.pub2.” Para informações completas sobre autores, veja referência 1.
Tradução: Centro Cochrane do Brasil e Liga de Medicina Baseada em Evidências da Escola Paulista de
Medicina — Universidade Federal de Medicina (EPM-Unifesp)
Autor dos comentários independentes: Antonio Javier Salán MarcosI
RESUMO
Introdução: O trabalho em turnos resulta em distúrbios
do sono-vigília, que causam sonolência durante os turnos
noturnos e reduzem a duração do sono e a qualidade do
sono durante o dia após o turno noturno. Na sua forma séria, também é chamado de distúrbio do sono por trabalho
em turno. Vários produtos farmacológicos são usados para
melhorar os sintomas da sonolência ou do sono pobre em
duração e qualidade.
Objetivos: Avaliar os efeitos de intervenções farmacológicas para reduzir a sonolência ou para melhorar o estado de
alerta no trabalho e diminuir os distúrbios do sono quando fora
do trabalho, ou os dois, em trabalhadores que realizam turnos
nos seus trabalhos atuais e avaliar seu custo efetividade.
Métodos:
Métodos de busca: Nós buscamos as bases CENTRAL,
MEDLINE, EMBASE, Pubmed e PsycINFO até 20 de setembro
de 2013 e o ClinicalTrials.gov até julho de 2013. Nós também
buscamos as listas de referências dos estudos incluídos e as
revisões relevantes.
Critérios de seleção: Incluímos todos os ensaios clínicos
randomizados (ECR) elegíveis, incluindo ECR cross-over, de
produtos farmacológicos entre pessoas que trabalhavam
em empregos em turnos (incluindo turnos noturnos) em seus
empregos atuais e que poderiam ou não ter problemas relacionados ao sono. Os desfechos primários foram a duração
do sono e a qualidade do sono em seu tempo livre, estado de
alerta e sonolência, ou fadiga no trabalho.
Coleta e análise de dados: Dois autores independentes
selecionaram os estudos, extraíram os dados e verificaram o
risco de viés dos estudos incluídos. Quando apropriado, realizamos metanálises.
Principais resultados: Incluímos 15 ensaios clínicos randomizados controlados por placebo com 718 participantes. Nove
estudos avaliaram o efeito da melatonina e dois avaliaram o efeito de hipnóticos para melhorar os problemas relacionados com
sono. Um estudo avaliou o efeito do modafinil, dois avaliaram o
efeito do armodafinil e um examinou cafeína e cochilos para diminuir a sonolência ou para aumentar o estado de alerta.
A melatonina (1 mg a 10 mg) após o turno da noite pode
aumentar a duração do sono durante o dia (diferença média,
I
Médico com formação em cirurgia geral e gastroenterologia, com Títulos de Especialista em Medicina do Trabalho, em Direito Médico e Medicina Legal
e em Perícias Médicas. Professor dos cursos de Pós-Graduação em Medicina do Trabalho na Universidade de Taubaté e na Universidade Castelo Branco.
Professor do curso de Pós-Graduação da Enfermagem do Trabalho da Universidade de Taubaté. Professor dos cursos de Pós-Graduação em Engenharia
de Segurança, nos módulos de Doenças Ocupacionais na Universidade de Taubaté e na Universidade Paulista. Atual presidente da Associação Paulista de
Medicina do Trabalho do Estado de São Paulo, gestão 2013 – 2016 e Diretor do Departamento de Medicina do Trabalho da Associação Paulista de Medicina.
Tradução e adaptação:
Centro Cochrane do Brasil e Liga de Medicina Baseada em Evidências da Escola Paulista de Medicina — Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp)
Rua Pedro de Toledo, 598
Vila Clementino — São Paulo (SP)
CEP 04039-001
Tel. (11) 5579-0469/5575-2970
E-mail: [email protected]
http://www.centrocochranedobrasil.org.br/
Diagn Tratamento. 2015;20(3):129-30.
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Intervenções farmacológicas para sonolência e distúrbios do sono causados por trabalhos em turno
DM, de 24 minutos, intervalo de confiança de 95% CI, 9.8 a
38.9; 7 estudos, 263 participantes, evidência de baixa qualidade) e o sono durante a noite (DM 17 minutos, 95% CI 3.71 a
30.22; 3 estudos, 234 participantes, evidência de baixa qualidade) em comparação com o placebo. Não encontramos um
efeito de dose-resposta. A melatonina pode causar tempos de
latência similares ao placebo (DM 0.37 minutos, 95% CI -1.55
a 2.29; cinco estudos, 74 participantes, evidência de baixa
qualidade).
A medicação hipnótica, zopiclona, não resultou em aumentos significativos da duração do sono durante o dia
em comparação com o placebo em um estudo de baixa
qualidade e nós não conseguimos usar os dados do estudo
com lormetazepam.
O armodafinil, quando utilizado antes do turno de trabalho noturno, reduz a sonolência em um ponto na escala de
sonolência Karolinska (KSS) (DM - 0.99, 95% CI -1.32 a -0.67;
variação de 1 a 10; dois estudos, 572 participantes, evidência
de qualidade moderada) e aumenta o estado de alerta em 50
ms em um teste de tempo de reação (DM -50.0, 95% CI -85.5
a -15.5) em três meses de acompanhamento dos pacientes
com distúrbios causados por trabalho em turnos. O modafinil tem provavelmente efeitos similares na sonolência (KSS)
(DM -090, 95% CI -1.45 a -0.35; um estudo, 183 participantes,
evidência de qualidade moderada) e estado de alerta no teste de vigilância psicomotor no mesmo grupo de pacientes.
Após a comercialização, reações graves na pele foram relatadas. Os efeitos adversos relatados pelos participantes dos
estudos foram dor de cabeça, náusea e aumento da pressão
arterial. Não houve estudos em pacientes que não trabalhavam em turnos.
Com base em um estudo, a cafeína, juntamente com cochilos antes do turno noturno, diminuiu a sonolência (KSS)
(DM -0.63, 95% CI -1.09 a -0.17).
Nós julgamos a maioria dos estudos como tendo baixo risco de viés, mesmo quando o método de randomização e o
sigilo de alocação não foram relatados com frequência.
Conclusões dos autores: Houve evidências de baixa
qualidade de que a melatonina melhora a duração do sono
após um turno noturno e mais nenhum outro parâmetro de
qualidade do sono. Tanto o modafinil quanto o armodafinil
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Diagn Tratamento. 2015;20(3):129-30.
aumentam o estado de alerta e reduzem a sonolência de alguma maneira em trabalhadores que sofrem de distúrbios do
sono por trabalhos em turnos mas eles são associados com
eventos adversos. A cafeína e os cochilos reduzem a sonolência durante o turno noturno, mas a qualidade da evidência é
baixa. Com base em um estudo de baixa qualidade, os hipnóticos não aumentam a duração do sono e a qualidade do sono
após um turno de trabalho.
Precisamos de mais estudos com melhor qualidade sobre
os efeitos benéficos e os efeitos adversos e custos de todos
os agentes farmacológicos que induzem o sono ou promovem o estado de alerta em trabalhadores de turno com ou
sem diagnóstico de distúrbios de sono por trabalhos em
turnos. Também precisamos de revisões sistemáticas sobre
seus efeitos adversos.
REFERÊNCIA
1.
Liira J, Verbeek JH, Costa G, et al. Pharmacological interventions
for sleepiness and sleep disturbances caused by shift work.
Cochrane Database Syst Rev. 2014;8:CD009776.
COMENTÁRIOS
Os pesquisadores realizaram 15 estudos randomizados
controlados com placebo, entre os quais 9 avaliaram o efeito
da melatonina e 2 o efeito de hipnóticos, em 1 estudo o efeito
do modafinil, além da cafeína e de cochilos para diminuir a
sonolência ou para aumentar o estado de alerta nos trabalhos
no turno da noite. Analisando os dados obtidos, verificamos
que ainda não temos um fármaco adequado, que ajude a
minimizar de forma segura os transtornos causados pela alternância dos turnos de trabalho.
Esse assunto sempre foi da maior importância para o médico do trabalho e para a segurança do trabalho, uma vez
que esses distúrbios do sono levam a fadiga do trabalhador,
causando a diminuição do estado de alerta e, assim, predispondo a sérios e graves acidentes de trabalho. Portanto, esses
estudos devem ser repetidos e ampliados, pois considero serem da maior importância para se conseguir melhorar os
efeitos dos distúrbios do sono, nos trabalhadores em turnos.
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