Tipos de avaliações econômicas ATS como ferramenta para incorporação racional das inovações tecnológicas 3º encontro paulista ATS Marcelo Nita, MD, MSc (ClinEpi), PhD Médico Gastroenterologista pelo Hospital das Clínicas FMUSP; Especialização Administração Serviços Saúde pela FSP USP; Mestre em Epidemiologia Clínica, Universidade Newcastle, AU; Doutor em Ciências Médicas, Universidade Tokyo, JP Esta apresentação apresenta minha visão pessoal sobre o assunto DECLARAÇÃO DE POTENCIAL CONFLITO DE INTERESSES De acordo com a Norma 1595/2000 do Conselho Federal de Medicina e a Resolução RDC & 96/2008 da Agência de Vigilância Sanitária, declaro que tenho ou tive patrocínio para atividades de pesquisas clínicas ou de HEOR, congressos e palestras; ou ainda, como vínculo empregatício das seguintes empresas e instituições Abbott Bristol Meyer Squibb Eurofarma / PDI Incrementha / Biolab Quintiles - Merck Serono / Roche FEA USP, FIPE, HAOC, FIA, FM USP, EE USP, Santa Casa SP, CEPIC, UNIFESP, etc. Depto Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da FMUSP DECIT MS / FAPESP / BNDES / FINEP Fundação Faculdade Medicina USP The University of NewCastle Graduate Students Scholarship, Au Bolsa de doutorado do Ministério da Educação do Japão p2 Ambiente dos Sistemas de Saúde p3 Profissionais da saúde menos poderosos & menos acessíveis Pacientes fortalecidos Pagadores exigem demonstração de valor Protocolização do atendimento Incentivos financeiros Nova geração de clientes Informados e ativistas Aumento de pagamentos conjuntos / seguro com mais benefícios No exterior – HTA /VBA Brasil - ATS Fonte: Ministério da Saúde, relatório McKinsey Co.; Sorenson, BMJ 2011; ISPOR, 2011 e outros Avaliação de tecnologia de saúde ATS/HTA é uma forma de pesquisa de políticas de saúde Ela estuda de maneira multidisciplinar e sistemática os efeitos de curto e longo prazo de novas tecnologias na saúde humana Ela estuda as implicações médicas, econômicas e sociais do desenvolvimento e uso destas novas tecnologias Avaliação de Tecnologias em Saúde: Evidência Clínica, Análise Econômica e Análise de Decisão. Porto Alegre: Artmed, 2010 Nita ME; Campino A; Secoli, S; et al. p4 Há uma ampla gama de expectativas... Para que serve a ATS? “restringir o uso” “conter custos” “definir diretrizes de utilização para potenciais usuários” “definir as priorizações para o sistemas de saúde” “Gerar incentivos para INOVAÇÂO e VALOR na cadeia de produção de saúde” p5 A cadeia de valor dos sistemas de saúde Catalizador da qualidade de bens e serviços de prestadores e produtores Financiadores • Pagadores - Público Ministério da saúde; SES; SMS - Privado Operadoras de planos saúde p6 Intermediários • Organizações para suporte de prestadores serviços - Consultores - Empresas benefícios farmacêuticos, etc Prestadores de serviços • Organizações para prestações de serviços em saúde Terciários - hospitais Secundários – clínicas Primários – ambulatórios médicos Intermediários • Distribuidores - Farma. - Equipam. médicos Produtores insumos • Indústria produtiva - Farmacêutica - Equipamentos médicos - etc LRBurns, Wharton School, 2007 p7 7 O imperativo tecnológico nos sistemas de saúde Innovative treatments are demanded by patients and their physicians (users) on the grounds of quality, and are reimbursed by payers. Producers are the ones responsible for innovation in the healthcare: Pharmaceutical Biotechnology Medical device Source: LRBurns at Wharton Bussines School, 2005 p8 Consequências do imperativo tecnológico Cost of new technology accounts for anywhere from 20 to 40% of the rise in health expenditure over the past forty years New technology contribute to longevity, reductions in disease, improvements in worker productivity and quality of life. USD$1 produced health gain valued at USD$2.40~3.00 Source: LRBurns at Wharton Bussines School, 2005 p9 Custos em cuidados à saúde Nos últimos 50 anos, os gastos em saúde foram sempre maiores que a taxa de crescimento econômico. Se esta tendência persistir, nos próximos 50 anos estaremos gastando valores próximos de metade do PIB em saúde. Drouin JP, Hediger V, and Henke N. Health Care costs 2008 p10 Impacto do aumentos dos custos nos sistemas de saúde 100% 80% 60% 40% 20% 0% Source: LRBurns at Wharton Bussines School, 2005 p11 Novas tecnologias são, frequentemente, associados apenas a custos elevados... A indústria farmacêutica traz inovação e com ela vários benefícios, mas também com ela tem ocorrido um incremento de custos. No entanto, a indústria da saúde tem uma grande parcela do aumento de custos devido a custos hospitalares e outras. p12 Logo, o que vemos ... O que os sistemas de saúde querem… custos inovação O que a inovação traz... p13 Quem são os culpados? governo advogados consumidor Prestadores serviços p14 Negócios industrial Companhias seguro saúde Assim, iniciou a busca pela evidência de valor... ATS Efetividade comparativa p15 Economia da saúde Tomada decisão Baseada em evidência O “valor” nos sistemas de saúde “Value in any field must be defined around the customer, not the supplier. Value must also be measured by outputs, not inputs. But results are achieved at some cost. Therefore, the proper objective is… patient health outcomes relative to the total cost. Source: Michael E. Porter and Elizabeth Olmsted Teisberg: Redefining Health Care, Harvard Business School Press, 2006. p16 Porter ME. (2008). What is Value in Health Care? Harvard Business School. O que os novos sistemas deveriam buscar é o “valor” para o paciente Desfechos de saúde Valor = foco no paciente Custos dos desfechos de saúde Porter ME; Lee TH NEJM 2010;363:2477-2481; 2481-2483 p17 Custo In GOD we trust All the others, show me the data!!! Avaliação e gestão de tecnologias em saúde Avaliação & gestão tecnologia saúde ATS Saúde B.Evidência Medicina B.Evidência Paciente pesquisa clínica Sistema de saúde economia da saúde pesquisa social Revisão sistemática & meta-análise Modelos de decisão & simulação Análise custo efetividade & impacto orçamento p19 Clínico Protocolos clínicos & diretrizes terapêuticas Gestão Relatórios / Pareceres / Dossiers ATS & ferramentas gestão Valor dos medicamentos baseado em evidência: clínica e econômica Can it work? Does it work? Is it worth it? Comparative effectiveness research (CER) Desenvolvimento das evidências Medicina baseada evidência Avaliação tecnologia Saúde (ATS/HTA) (Clinical guidelines) diretrizes clínicas Processo Decisão Paciente Processo Decisão Cobertura medicam. (CEA/BIM) Decisão de cobertura baseado em evidência p20 Source: M.Drummond, IJTAHC, 2008 MBE & avaliação econômica Medicina baseada em evidência (A) & avaliação econômica (B) Valor A B Condição de saúde Custos Recursos ou alternativas de tratamento 1cf. p21 Victor R. Fuchs: “Health Care and the United States Economic System”, The Milbank Memorial Fund Quarterly, April 1972: 211-237. cf. U.Reinhardt, 1997 O que é “evidência de valor” em ATS? Cada país (sistema de saúde) têm uma resposta diferente a esta questão!!! Valor econômico, efetividade comparativa, valor baseado em evidência são todas definições usadas por diferentes atores Mas todas as abordagens estão de alguma maneira determinadas a estabelecer o valor das tecnologias em condições de vida real, em outras palavras, aqui estamos interessados na utilização em nosso próprio sistema de saúde Isto pode ser medido sistematicamente através de estudos clínicos pós-aprovação (às vezes chamados de Fase IV) combinados com avaliação baseada em p22 evidência e perspectivas econômicas Hierarquia da evidência! 1. Meta-analysis with original data 2. Large RCTs or large cohort studies 3. Simple randomized control trials (RCT) 4. Series based on historical control groups 5. Case control observational studies 6. Analyses using computer databases 7. Series with literature controls 8. Case series without controls 9. Anecdotal case reports J Clin Epidemiol 1995; 48:135; p23 “Cochrane Reviews are now the “gold standard” for systematic reviews” Sobre a hierarquia evidência: “Fit For Purpose” “Decisions about the use of therapeutic interventions, whether for individuals or entire healthcare systems, should be based on the totality of available evidence. The notion that evidence can be reliably or usefully placed in ‘hierachies’ is illusory. Rather, decision makers need to exercise judgement about whether (and when) evidence gathered from experimental or observational sources is fit for purpose.” Sir M.Rawlins. Clin Med 2008;8:579-88. p24 Anatomia de uma Avaliação de Tecnologia da Saúde p25 25 Os diversos tipos de estudos em HEOR Modelagem clínica e econômica Estudos observacionais prospectivos (noninterventional) Estudos observacionais retrospectivos: (coorte ou transversal ou caso-controle) p26 Revisão sistemática HEOR Meta-análises (Bayesiana) Análises econômicas de ECCR Avaliação econômica em saúde “Análise comparativa de ações ou bens alternativos em termos de seus custos e consequências (benefícios) para facilitaro processo de decisão / gestão em saúde” Custos Custo custos indiretos CMA CEA CUA CBA p27 Resultados Ação terapêutica Custos evitados diretos indiretos Status saúde mortalidade morbidade Efeito clínico Preferências em saúde Utility QALYs Escolha social/ Preferências Willingnessto-pay Custo minimização Custo efetividade Custo utilidade Custo benefício Anatomia de uma avaliação custo-efetividade (ATS) O modelo clínico-econômico Impacto nos custos Controle Impacto na saúde (Custos médicos) (Mortalidade / QALY) = Razão CE Incremental Doença Nova tecnologia Impacto nos custos Impacto na saúde (Custos médicos) (Mortalidade / QALY) Fonte: Drummond e cols. Methods for the economic evaluation of health care programmes, 2005; p28 Walley e cols. Pharmacoeconomics, 2004 & Nita e cols, Avaliação tecnologia em saúde, 2010 Realizando uma Avaliação Econômica 1. Estabelecer a perspectiva (ponto de vista) 2. População a ser estudada + Local e período da análise 3. Revisão sistemática da literatura 4. Estratégias a serem comparadas - descrever e especificar alternativas 5. Para cada alternativa, especificar os possíveis desfechos e probabilidade 6. Medida da conseqüência / benefício baseada na melhor evidência disponível 7. Especificar a unidade de desfecho 8. Realizar análise de sensibilidade 9. Especificar os recursos consumidos em cada alternativa 10. Atribuir valor monetário aos recursos consumidos p29 Custos diretos versus indiretos1 CATEGORIAS DE CUSTOS CUSTOS DIRETOS São os recursos consumidos diretamente no tratamento ou na intervenção. Podem ser médicos ou não-médicos. CUSTOS MÉDICOS hospitalizações,medicame ntos, exames, próteses, honorários etc CUSTOS NÃO-MÉDICOS transporte do paciente, contratação de enfermeiros, etc 1. Kobelt G. Health Economics: an introduction to economic evaluation. London: OHE, 2002 p30 CUSTOS INDIRETOS Custos indiretos estão relacionados as perdas para a sociedade resultantes da doença ou seu tratamento (impacto na produção) ex. perda de produtividade Perspectivas Pacientes Pagadores Provedores Sociedade Fonte: MF Drummond e cols.Methods for the economic evaluation of health care programmes, 2005 & T Walley e cols. Pharmacoeconomics, 2004. p31 Da eficácia para eficiência Avaliação de tecnologia em saúde (ATS) Ensaios clínicos Objetivos Contexto parametros p32 Economia Estudos observacionais da saúde Eficácia Efetividade Estudos controlados Vida-real pragmático Eficácia e segurança Desfechos clínicos, patient-reported outcomes PRO, aderência, utilização de serviços saúde e custos diretos Eficiência Estudo observacional ou ensaio clínico Custo por evento Eficácia vs. Efetividade O mundo ideal EFICÁCIA p33 vs. O mundo real EFETIVIDADE 33 Análise Custo-Utilidade Custos são medidos em moeda e as conseqüências são medidas em termos de escores de PREFERÊNCIA dos pacientes (utilities) incluindo qualidade e quantidade de vida. Entre as unidades de medida, temos o QALY (QualityAdjusted Life-Year) ou AVAQ (anos de vida ajustados pela qualidade). Esta unidade captura a noção de 1 ano de vida em saúde perfeita. Versus p34 34 Os desfechos mensurados no HEOR Desfechos clínicos & de utilização Desfechos Econômicos Desfechos relatados por pacientes PRO −Status funcional −Qualidade de vida −Custos diretos −Valores laboratoriais −Avaliação de saúde −Custos indiretos −Eventos de saúde −Sinais e sintomas −Análise de custo efetividade −Taxa de hospitalização ou uso de pronto socorro −Satisfação ou preferência por cuidados à saúde ou estados de saúde −Análise de custo utilidade − Aderência ao tratamento ou continuidade do tratamento −Utilities −Anos de vida ajustados por qualidade −Custo minimização ou economias −Cost Off-sets p35 35 Taxonomia Estado de saúde Valor ou preferência Descreve os estados da saúde e o impacto sobre a função ou disfunção Objetivo - contagem de articulações - testes de exercícios - acuidade visual Subjetivo - relatos, classificações - capacidade funcional - sintomas - sentimentos - comportamento Genérico p36 Valor designado ao estado da saúde VAS TTO SG Escala de avaliação Time trade-off Standard Específico da doença gamble Sistema de classificação de estado de saúde multi-atributos Diretos Fonte: Nita e cols, ATS, 2010 Indiretos 36 Então o que é Utility? Uma medida quantitativa da força de uma preferência individual para um estado de saúde em particular Utilities podem ser obtidos para: estados de doenças (diabetes, depressão) efeitos do tratamento (cura, sintomas) efeitos colaterais (GI, boca seca) Teoria da utility de Von Neumann e Morgenstein: decisões racionais em condições de incerteza (probabilidades de ocorrência) Isto é fundamentalmente diferente de descrever o estado de saúde e o nível funcional que pode estar associado com este - HRQoL Fonte: Nita e cols, ATS, 2010 p37 Modelos enquanto ferramentas para o decisor em saúde Devo incorporar a tecnologia? INCERTEZA Registro do produto na ANVISA Dados de segurança e eficácia de curto/médio prazo Dados de segurança e efetividade de longo prazo Dados de custos de tratamento HOJE p38 O dilema do decisor em saúde p39 Análise durante o ensaio clínico Análise de longo prazo Coleta de dados durante o ensaio clínico Modelo econômico para predizer desfechos e custos futuros Construindo a Árvore de decisão Curado p = 0,5 Custo: 41.000 Benefício: 1 Medic. A Sem efeito p = 0,5 Curado p = 0,75 Custo: 41.000 Benefício: 0 Custo: 39.600 Benefício: 1 Medic. B Sem efeito p = 0,25 Não tratar a doença Custo: 39.600 Benefício: 0 Custo: 0 Benefício: 0 40 40 Regras de decisão em ATS Diversos parâmetros devem ser considerados: 1. Perspectiva - Setor da saúde (público vs privado) - Pagador ou comprador/prestador - Societário Comparadores disponíveis e acessíveis Limitações de orçamento versus visão de políticas públicas de saúde (bem estar social) Compreensão da natureza de apoio à decisão, muito embora, seja desejável a minimização de aspectos políticos da decisão e que esta seja multidisciplinar Aceitação e disponibilidade de willingness to pay (WTP) Fonte: Nita e cols, ATS, 2010 p41 O plano de CE e o limiar Diferença de Custos + IV Intervenção menos efetiva e mais cara Estratégia dominada (rejeitada) - Intervenção menos efetiva e menos cara p42 III - Diferença no efeito de custo de uma intervenção relativa a seu comparador Intervenção mais I efetiva e mais cara Limiar? + cost–saving dominante Intervenção mais efetiva e menos cara II Diferença de Efeito Ao fazer uma ATS como decidir se deve ser incorporado? Medicamento é incorporado quando é custo-efetivo, ou seja, o valor adicional que será pago pelo benefício adicional, dentro de um parâmetro aceitável de investimento, muitas vezes chamado de limiar de investimento. USA : US$50,000 / QALY (Hirth et al, 2000) UK NICE : £$ 20,000/QALY a £$ 30,000/QALY Recomendação da OMS: 2x PIB /capitaPPP/DALY >taxa aceitável de CE < 3x PIB /capitaPPP/DALY Brasil – PIB per capita ajustado pela paridade de poder aquisitivo 2011: ~ US$ 11.700,00 Deveria estar entre US$23.400 e US$35.100 Assim, são raras as vezes em que ocorre economia para o sistema de saúde! No geral, há um incremento da qualidade do tratamento as custas de um custo maior. Economia da saúde não é economia de custos Source: WHO Commission. Macroeconomics and health: investing in health for economic development.. Report of the Commission on macroeconomics and Health. Geneva: World Health Organization; 2001; MF Drummond, 2005 & IBGE p43 Exemplo análise completa p44 ATS sozinha não é solução! p45 Avaliação de Tecnologias em Saúde Muito obrigado, [email protected] Avaliação de Tecnologias em Saúde: Evidência Clínica, Análise Econômica e Análise de Decisão. Artmed, 2010 p46 Nita ME; Campino A; Secoli, S; Sarti FM; Nobre M; Costa A; Carrilho F e Ono-Nita SK.