Adriana Veleda Os benefícios da Informática para o 1.º Ciclo Introdução Usar ou não as TIC com aprendentes do 1.º Ciclo do Ensino Básico – e, se sim, como – é um assunto crítico para pais e educadores. Numa sociedade cada vez mais informatizada, importa, pois, perceber a importância do ensino de Informática nos níveis elementares de aprendizagem e saber até que ponto a aprendizagem de certas competências pode (ou não) ser benéfico para o desenvolvimento do aluno. O presente artigo tem como base um estudo conduzido ao longo dos primeiros dois trimestres do ano lectivo de 2004/2005, junto de várias instituições (públicas e privadas) que adoptaram já o ensino de Informática como disciplina curricular ou, na maior parte dos casos, como disciplina extra-curricular. O objectivo final do estudo é perceber quais as vantagens da introdução desta disciplina no currículo. Os benefícios do ensino de Informática no 1.º Ciclo Numa primeira análise, ensinar Informática aos alunos do 1.º ciclo pode parecer precoce, mas uma análise mais cuidada depressa desfaz a ideia. Investigações recentes (Papert: 1998; Haugland: 1992) demonstraram que os computadores têm um impacto extraordinário no desenvolvimento da criança, desde que as actividades desenvolvidas no computador sejam adjuvantes aos principais objectivos programáticos. Embora os benefícios das TIC no 1.º ciclo estejam inteiramente dependentes do tipo de experiências tecnológicas oferecidas e da frequência com que as crianças têm acesso aos computadores, existem e são facilmente perceptíveis. Em primeiro lugar, levar os alunos a utilizar tão cedo as tecnologias de informação e comunicação é construir hábitos de trabalho e de estudo que os acompanharão ao longo de toda a vida, ao mesmo tempo que sedimenta o conhecimento tecnológico, imprescindível na vida futura académica (e não só) do aluno. Os computadores devem ser utilizados e encarados como outra qualquer ferramenta de estudo, tal como uma régua, um lápis ou um caderno. Usados correctamente, estes meios tecnológicos podem apoiar e conceder poder aos alunos, bem como construir mentalidades de estudo integradoras de todas as possibilidades. Em segundo lugar, em comparação com alunos que não frequentam aulas de Informática, os alunos que frequentam mostram capacidades motoras mais estimuladas, 1 A Adriana Veleda maior rapidez no pensamento lógico-matemático, maior criatividade e motivação e um maior controlo das capacidades linguísticas. Entre outros factores, está também provado que o uso dos computadores aumenta o auto-conceito da criança e faz com que esta demonstre maiores índices de comunicação e cooperação interpessoais. No entanto, é necessário frisar que os computadores apenas surtem impacto quando oferecem experiências concretas (Papert: 1998), daí que a planificação curricular seja de uma importância extrema e o professor tenha de permanecer atento às necessidades dos alunos. Em terceiro lugar, a aprendizagem das TIC é vantajosa para o desenvolvimento da autonomia do aluno. Em termos didácticos, o trabalho individual pode ser uma constante (embora, por vezes, se possa adoptar outras formas de interacção, como trabalho de pares ou grupo) e o aluno tem a oportunidade de controlar as suas experiências de aprendizagem, ao seu ritmo e de realizar as tarefas da forma que achar mais conveniente. A figura do professor, sempre presente, tem, quase obrigatoriamente, apenas um papel de facilitador do processo e/ou auxiliador, nunca directivo ou autoritário. Acima de tudo, facilita uma postura pró-activa no aluno e ajuda-o a assumir papéis de liderança mais frequentes (Cardelle-Elawar & Wetzel: 1995), bem como treina competências básicas de resolução de problemas e fornece oportunidades valiosas para experimentar e pôr em prática várias alternativas para atingir os objectivos propostos. Por último, a Informática pode tornar-se uma disciplina transversal, integradora de todas as outras no Currículo Nacional, já que o professor poderá planear aulas ou blocos didácticos, nos quais se estude, por exemplo, a Língua Portuguesa, o Inglês ou a Matemática através dos computadores. Da mesma forma, caberá aos professores introduzir o uso de certas ferramentas multimédia (processadores de texto, Internet, jogos didácticos, etc.) como auxiliares de ensino nas suas aulas. Nas aulas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, os computadores devem ser utilizados para actividades mais directas, que vão ao encontro de objectivos de aprendizagem específicos. Por exemplo, para desenvolver as capacidades linguísticas dos alunos ou trabalhar tipologias textuais específicas, os alunos poderão organizar e escrever uma carta a um amigo ou familiar. Objectivos gerais da Informática no 1.º Ciclo Antes da introdução da Informática no 1.º Ciclo, deverão ser ponderados quais os objectivos e actividades a desenvolver junto dos alunos. Passamos a referir alguns 2 Adriana Veleda (que deverão ser encarados como um exemplo e não como uma receita), sem antes esclarecer que estes não devem ser encarados como uma sequência linear, mas antes um conjunto de capacidades que permitiram aos alunos fazer uma decisão informada quando precisem de escolher a ferramenta correcta para a realização de uma tarefa. • Reconhecer e utilizar terminologia específica relacionada com computadores. • Utilizar menus para abrir um programa, fechar um programa ou outras opções. • Utilizar ícones para imprimir, guardar ou abrir documentos. • Aplicar os conhecimentos necessários para fazer a manutenção de uma pasta pessoal. • Reconhecer e usar teclas específicas – caps lock, enter, barra de espaços, delete, etc. • Utilizar o rato como uma ferramenta de desenho e para seleccionar, arrastar e mover objectos. • Reconhecer os diferentes caracteres no teclado. • Reconhecer e utilizar as ferramentas básicas de desenho. • Aplicar os conhecimentos necessários para formatar imagens. • Utilizar um processador de texto para escrever pequenos textos. • Aplicar as ferramentas necessárias à formatação básica de texto (tipo de letra, tamanho, cor, alinhamento, etc.). • Criar tabelas e utilizar as ferramentas necessárias com destreza. • Aplicar os conhecimentos necessários para a criação de uma apresentação. • Utilizar atalhos para facilitar o processo (Ctrl+C, Ctrl+V, Ctrl+Z, etc). • Aplicar os conhecimentos previamente adquiridos para realizar as tarefas de forma autónoma e eficaz. • Interagir de forma eficaz com o professor e colegas. • Cooperar com os restantes alunos. Os objectivos podem (e devem) variar de sala de aula para sala de aula, bem como os meios implementados e as actividades, pois dependem das necessidades dos alunos e dos objectivos de cada professores. No entanto, interessa ressalvar que devem sempre ser adjuvantes do Currículo em vigor. 3 Adriana Veleda Conclusão A implementação da disciplina de Informática no 1.º Ciclo do Ensino Básico (seja como disciplina extracurricular ou como parte integrante dos conteúdos programáticos) deve ser ponderada por professores, pais e restantes membros da comunidade escolar. A reflexão é absolutamente necessária face aos objectivos, actividades, formas de interacção e carga horária a estipular. Para os alunos do ensino primário, aprender Informática é um estímulo equiparado a muito poucos, que traz a si associado um imenso leque de benefícios. Desta forma, o ensino/aprendizagem das TIC deve ser encarado pelos professores não apenas como um mecanismo de enriquecimento curricular, mas como uma disciplina que irá fazer com que os seus alunos cresçam de forma mais equilibrada e desenvolta. Bibliografia CARDELLE-ELAWAR, M., & WETZEL, K., “Students and computers as partners in developing students' problem-solving skills.”, in Journal of Research on Computing in Education, 27(4), (1995). HAUGLAND, S. W., “The effect of computer software on preschool children's developmental gains”, in Journal of Computing in Childhood Education, 3 (1), 1992. http://www. mff.org/edtech/article.taf?_function=detail&Content_uid1=106 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Currículo Nacional do Ensino Básico – competências essenciais, Lisboa, 2001. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Ensino Básico. Programa do 1.º Ciclo, Lisboa, 1990. 4