Os custos da qualidade no processo de identificação, mensuração e eliminação dos desperdícios em supermercados varejistas. Um estudo da comercialização e distribuição dos hortifrutigranjeiros em Taguatinga-DF Autor RENÊ SIQUEIRA LIRA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA - UCB Resumo Torna-se cada vez mais importante o controle de desperdícios nos supermercados varejistas, pois existe uma acirrada concorrência pela preferência do consumidor, conforme proposto por Vilela (2003). O objetivo principal deste trabalho é analisar quais as ferramentas de gestão da qualidade estão sendo utilizadas na seção de hortifrutigranjeiros pelos supermercados varejistas de Taguatinga-DF no controle dos desperdícios. Procura-se também verificar quais os principais motivos que geram desperdícios e as providências tomadas para o controle. A pesquisa foi realizada através da aplicação de um questionário aos profissionais diretamente comprometidos com a operação dos produtos da seção de hortifrutigranjeiros. Para o levantamento da pesquisa de campo foram visitados cerca de 60% dos supermercados de Taguatinga cadastrados na Associação dos Supermercados de Brasília (ASBRA). Depois da análise dos dados chegou-se a conclusão de que todos os supermercados usam o método Just in Time (estoque zero) para tentar o controle de desperdícios. A principal causa é o manuseio do consumidor, a maior porcentagem encontra-se realmente no setor de hortifrutigranjeiros (entre 6% e 10%) e a maioria usa como ferramenta de gestão da qualidade, o treinamento de pessoal. Palavras-chave Controle, Desperdícios, Frutas Legumes e Verduras (FLV), Hortifrutigranjeiros, Just in Time, Qualidade, Supermercados. 2 The costs of the quality in the process of identification, measurement and elimination of the waste in the retail trade supermarkets. A study of the commercialization and distribution of the vegetables in Taguatinga Federal District Abstract It becomes each time more important the waste control in the retail trade supermarkets, because there is a fiercing competition for the preferements of the consumer, like proposed for Vilela (2003). The main objective of this assignment is to analyze which quality management tools are been used in the vegetables section by the retail trade supermarkets of Taguatinga in the waste control. It will try to check too what are the main reasons that generate the waste, and the measures taked for the control. The research was made through the aplication of one questionnaire to the professionals directly compromised with the products operation in the vegetables section. For the survey of the field research was visited around 60% of the supermarkets in Taguatinga listed in Brasilian Supermarket Association (ASBRA). After the analysis of the research data, was reached the conclusion all the supermarkets use the “Just in Time” ( zero stock) for try the control, the main reason is the consumer handling, the bigger percentage is realy find in the vegetables sector (between 6% and 10%) and the bigger part uses as quality management tools, the staff training. Key-words Control, Waste, Fruits, Vegetables and Greens, Vegetables, , Just in Time, Quality Supermarkets. 1. Introdução Segundo a Associação Brasileira de Supermercados - ABRAS, os supermercados varejistas são importantes comercializadores e distribuidores de alimentos no Distrito Federal, sendo o setor supermercadista responsável por mais de 85% do volume total de vendas de produtos de largo consumo (alimento, higiene e limpeza.). Conforme dados da Pesquisa Nacional de Prevenção de Perdas no Varejo Brasileiro, realizada em 2002 pelo Grupo de Prevenção de Perdas - GPP ligado ao Programa de Administração de Varejo - PROVAR “a prevenção de perdas é uma variável imprescindível e de extrema importância na obtenção de resultados superavitários das empresas, podendo significar, inclusive, a sobrevivência de muitas”. Garrison (2001, p. 625) explica que “a expressão custo da qualidade se refere a todos os custos em que se incorre para prevenir defeitos ou em que se incorreu em resultado da ocorrência de defeitos”. 3 Dados da Pesquisa Nacional de Prevenção de Perdas no Varejo Brasileiro revelam que os perecíveis contribuíram com 57% das perdas do segmento em 2002. “Os desperdícios nos supermercados tornam-se expressivos e são agravados pelo grande volume de pessoas que o utilizam diariamente e por lidar com produtos extremamente perecíveis como é o caso das frutas, legumes e verduras”. (FLV..., 2003). Torna-se cada vez mais importante o controle de desperdícios nos supermercados varejistas, conforme proposto por Vilela (2003). Surgiram, então, organizações preocupadas com os desperdícios no Varejo Brasileiro como, por exemplo, o GPP. Robles Júnior (1994, p. 17) defende em sua teoria que “como desperdício entende-se a perda a que a sociedade é submetida devido ao uso de recursos escassos”. Os hortifrutigranjeiros devido aos desperdícios tornam-se mais caros e conseqüentemente menos acessíveis a sociedade. A Associação ECR Brasil, no seu boletim Nº 2, sobre eficiência empresarial sugere que “Prevenir as quebras e perdas aumenta a eficiência das operações e permite manter a lucratividade com margens menores, o que se reflete no preço final das mercadorias” (ECR BRASIL, 2001). Para Correia (2003, p. 50) “a diferença entre perda e desperdício é que este é mais abrangente, engloba as perdas, que são as anormalidades involuntárias, e ainda todas as ineficiências do processo”. Dados da pesquisa realizada pelo PROVAR (2003), revelam que em 2003 a média de perdas nas lojas chegou a registrar índices de 10% na seção de frutas, legumes e verduras (FLV). Viticov (2003) citado pela (FLV..., 2003) coloca que “Este índice é altíssimo e causa um impacto muito negativo na rentabilidade total da loja”. Segundo Garrison (2001, p. 625) os custos da qualidade oferecem algumas ferramentas no controle de defeitos e desperdícios nas empresas como, por exemplo, “os custos de prevenção e inspeção os quais ocorrem por causa do esforço para evitar que produtos defeituosos cheguem às mãos dos consumidores”. As demais ferramentas envolvem “os custos de falha interna e externa os quais ocorrem porque defeitos existem, apesar dos esforços para prevenir a sua ocorrência”. O objetivo principal deste artigo é responder a seguinte questão: quais as ferramentas de gestão da qualidade estão sendo utilizadas no controle de desperdícios no setor de hortifrutigranjeiros pelos supermercados varejistas de Taguatinga? Além desse foco, o presente artigo tem como objetivo específico verificar se estão sendo utilizadas as ferramentas oferecidas pelos “custos da qualidade” na identificação das possíveis restrições que geram desperdícios. As restrições nos supermercados seriam todas as ineficiências ligadas ao processo de distribuição e comercialização dos hortifrutigranjeiros. Para Garrison (2001, P. 13) “restrição é qualquer coisa que impeça a obtenção daquilo que se deseja”. A avaliação desses aspectos foi realizada mediante coleta de dados resultante da aplicação de questionário aos funcionários envolvidos no processo de distribuição e comercialização de hortifrutigranjeiros nos supermercados de Taguatinga-DF. Depois da análise dos dados chegou-se a conclusão de que a maioria dos supermercados usa como ferramenta de gestão da qualidade o treinamento de pessoal, todos usam o método Just in Time para tentar o controle de desperdícios, a principal causa é o manuseio do consumidor, a maior porcentagem de perdas encontra-se realmente no setor de hortifrutigranjeiros (entre 6% e 10%). 4 O artigo está estruturado em cinco seções: será apresentado primeiro o referencial teórico que levou a formulação do problema, em seguida a metodologia, a amostra utilizada na pesquisa, análise dos dados e por último as conclusões. 2. Referencial Teórico Robles Júnior (1994, p. 17) no início de sua teoria diz que “A questão dos desperdícios deverá passar para o conjunto de problemas prioritários de muitas sociedades”. Basta observar atentamente que vemos muitos produtos serem desperdiçados e setores menos favorecidos na sociedade sem condições de acesso a esses produtos por diversas razões, seja pela baixa qualidade de vida ou reflexo de sua condição econômica. Para Robles Júnior (1994, p. 38), “desperdícios seria todo o material que se perde, ou evapora, ou é resíduo que não tem valor de recuperação mensurável. Exemplo: gases, poeira, fumaça e resíduos invendáveis”. Uma vez estragados os hortifrutigranjeiros são invendáveis, para o público em geral. É preciso fazer algumas distinções entre os termos relacionados à gestão da qualidade: desperdício, refugo e unidades defeituosas. Refugo é a produção que não satisfaz a padrões dimensionais ou de qualidade e, portanto, é refugado e vendido por seu valor de disposição. Unidades defeituosas é a produção que não satisfaz aos padrões dimensionais ou de qualidade e é subseqüentemente retrabalhada e vendida através dos canais normais como mercadoria de primeira ou segunda. (ROBLES JÚNIOR, 1994, p. 30). Teoricamente, o primeiro (desperdício) não tem valor comercial, já o segundo (refugo) e o terceiro (unidades defeituosas) tem, pois são vendidos a preço de custo ou retrabalhados. Bornia (2002, p. 41) destaca ainda que “o desperdício é o bem ou serviço econômico que não agrega valor ao produto da empresa nem serve para suportar diretamente o trabalho efetivo”. Geralmente gera custos e prejuízos desnecessários. De acordo com a teoria, Vilela (2003) coloca que a eliminação dos desperdícios contribui para um maior aproveitamento do supermercado com relação aos custos e gera benefícios para os clientes, graças à oferta de maiores quantidades gerando menores preços de mercado. Desperdícios neste artigo terão como base o conceito de Correia (2003, p. 50) onde “a diferença entre perda e desperdício é que este é mais abrangente, engloba as perdas, que são as anormalidades involuntárias, e ainda todas as ineficiências do processo”. Outro aspecto interessante do estudo desse tema é ressaltado Por Vilela (2003, p. 522) “para que haja disponibilidade de alimentos para todos os estratos da população, torna-se imprescindível à participação da sociedade em programas educativos e de transferência e adoção de tecnologias para redução de perdas e desperdícios”. Essa questão também é relevante do ponto de vista da capacidade competitiva da empresa, conforme ponderado por Faria (2003, p. 01) “quando a empresa desperdiça seus recursos, está comprometendo seu futuro, pois não estará agregando valor para si ou para seus clientes”. 5 Segundo o PROVAR (2003), a cadeia de frutas, legumes e verduras (FLV) registram perdas em todas as suas etapas: da colheita à mesa do consumidor (FLV..., 2003). Os custos da qualidade oferecem ferramentas as quais tentam minimizar os efeitos prejudiciais dos desperdícios, tanto do ponto de vista da empresa quanto dos benefícios para a sociedade em geral. Sobre a gestão da qualidade, Robles Júnior (1994, p. 18) pondera que “a eliminação dos desperdícios está intimamente associada à questão da qualidade. Através da redução dos desperdícios, a empresa pode gerar recursos para alavancar seu sistema de melhoria da qualidade”. Ainda Robles Júnior (1994, p. 21) narra que “a preocupação com a qualidade não é recente. As empresas têm-se preocupado com a qualidade do produto desde os primórdios da era industrial”. Em sintonia com esse raciocínio, Garrison (2001, P. 10) narra que “A gestão da qualidade total tem duas características principais: (1) foco no atendimento aos clientes e (2) resolução sistemática dos problemas por meio de equipes constituídas de empregados da linha de produção”. Nesse sentido, os custos da qualidade abrem um “leque” de opções para tentar o controle sobre as ineficiências que geram desperdícios. Para Garrison (2001, p. 625) “são exemplos de Custos de Prevenção: Engenharia da qualidade, treinamento para a qualidade, projetos de melhoria da qualidade”. O modo mais eficaz de minimizar os custos da qualidade e ao mesmo tempo manter a alta qualidade do produto é primeiro evitar a ocorrência de problemas da qualidade. É esse o objetivo dos custos de prevenção, os quais se referem a qualquer atividade que reduza o número de defeitos dos produtos ou serviços. (GARRISON, 2001, p. 626). Quaisquer peças e produtos defeituosos devem ser localizados o mais precocemente possível. Os custos de inspeção, também chamados custos de avaliação, ocorrem para que se identifiquem os produtos defeituosos antes que eles sejam enviados aos clientes. São exemplos de custos de inspeção: teste e inspeção dos materiais recebidos, supervisão das atividades de teste e inspeção, Suprimentos utilizados no teste e na inspeção. (GARRISON, 2001, p. 626/627). Uma opção para o controle de desperdícios nos supermercados, notadamente, no setor de hortifrutigranjeiros é preconizada por Maher (2001, p. 49) onde “No método Just in Time cada unidade é fabricada ou adquirida exatamente antes de ser utilizada, mantendo estoques em níveis mínimos”, pois se trata de produtos altamente perecíveis. No meio varejista existe uma definição muito importante, a saber, que é o conceito de quebras. “Quebras ou quebras operacionais, são as mercadorias, devidamente identificadas, danificadas quer por ação de terceiros ou pela má gestão de produtos na empresa”. (ECR/Brasil, 2001). Do ponto de vista varejista, podemos dizer que uma restrição em relação à questão da gestão da qualidade na seção de hortifrutigranjeiros são as “quebras”. Segundo Maher (2001, p. 51) “A teoria das restrições é um método gerencial que focaliza a maximização de lucros mediante a identificação de restrições de capacidade e aumento da capacidade”. Então, essas quebras que nada mais são que desperdícios gerados pelas ineficiências no processo de comercialização e distribuição dos produtos é a restrição na capacidade de venda dos supermercados. Quebras, do ponto de vista contábil, para Sumita (2003, p. 6 ) “são todas as diferenças observadas entre o estoque físico e contábil, geradas através de furtos, erros, ineficiência 6 administrativa, deteorização, violação de produtos, má manipulação e deficiência na armazenagem”. Faria (2003, p. 04) diz que “os produtos que não são vendidos, geram um estoque desnecessário, e isso irá impactar negativamente o resultado, pois incorrerá em custos de estocagem”. 3. Metodologia e Amostra Esta pesquisa de acordo com a sua natureza ela é aplicada porque objetiva gerar conhecimentos práticos para a solução do problema específico. Do ponto de vista da forma de abordagem do problema é quantitativa porque foi usado recursos e técnicas estatísticas. Quanto ao seu objetivo é descritiva por descrever as características de uma determinada população (Taguatinga). Com relação aos procedimentos técnicos foi realizado um levantamento no setor de hortifrutigranjeiros dos supermercados de Taguatinga-DF, através da aplicação de um questionário visando um conhecimento detalhado sobre os desperdícios. Para o recolhimento das informações foram pesquisados os supermercados mais conhecidos de Taguatinga, por conveniência, facilidade de acesso aos dados e pela indisponibilidade de informações para padronização que possibilitasse a definição da amostra aleatória. O questionário foi aplicado em cerca de 20 supermercados de Taguatinga-DF, que correspondem aproximadamente a 60% do total de 34 supermercados cadastrados na ASBRA, onde foram entrevistados os profissionais diretamente comprometidos com a operação dos produtos da seção de hortifrutigranjeiros (ou FLV). Não serviram de base para esta pesquisa nem os hipermercados nem os mercadinhos de pequeno porte ou mercearias a fim de facilitar a comparação dos dados e por manterem características as quais poderiam causar distorções nos resultados. Foram aplicadas 8 (oito) perguntas organizadas em dois blocos sendo: O primeiro bloco contendo 3 (três) questões sobre gestão da qualidade e o segundo bloco contendo 5 (cinco) questões sobre identificação, mensuração e eliminação dos desperdícios. De posse dos dados foi elaborada a análise gráfica das respostas dos entrevistados com os respectivos percentuais. Foi utilizada a estatística descritiva para a análise do comportamento das principais variáveis. Parte-se do pressuposto que os supermercados usam estoque zero (Just in Time) no setor de hortifrutigranjeiros como forma de conter maiores desperdícios, mas existem outras ferramentas de gestão da qualidade que podem utilizar. No apêndice, encontra-se a relação de supermercados pesquisados e o questionário aplicado. 7 4. Análise dos dados Observou-se que os funcionários envolvidos nesse processo possuem predominantemente escolaridade correspondente ao segundo grau (80%), não constando ninguém com o curso superior (terceiro grau). Os demais (20%) são possuidores de somente o primeiro grau completo. Também se pode constatar que a maioria dos entrevistados (60%) possuem pouco tempo de serviço, entre 1 e 5 anos e (50%) estão concentrados na faixa de 20 a 30 anos de idade. Com relação às perguntas baseadas na gestão da qualidade, os gráficos de 1 a 3 demonstram os principais resultados obtidos: 20% 80% GRÁFICO 1: O QUE REPRESENTA OS INVESTIMENTOS NA QUALIDADE FONTE: Questionário elaborado pelo autor Preocupação com a satisfação do cliente Combate aos desperdícios Conforme ilustração do gráfico 1 acima, o principal foco de atuação dos supermercados são os clientes. Para a maioria deles (80%) “a satisfação do cliente” é prioridade. Os investimentos em combate aos desperdícios não são expressivos mostrando uma certa acomodação por parte dos gerenciadores. Esse resultado é coerente com a opinião de Garrison (2001, Pág. 10), que em sua pesquisa, também constatou esta característica da gestão da qualidade a qual tem como foco a preocupação com o cliente. No que se referem às ferramentas utilizadas na gestão da qualidade temos o seguinte resultado: 8 25% 75% GRÁFICO 2: FERRAMENTAS UTILIZADAS NA GESTÃO DA Q UALIDADE FO NTE: Questionário elaborado pelo autor T reinamento de Pessoal para a Qualidade T estes nos produtos comprados Conforme o gráfico 2, a ferramenta mais usada na gestão da qualidade (75%) é o “treinamento de pessoal para qualidade” seguido dos “testes nos produtos comprados” (25%). Estes procedimentos são internos, no entanto, existem muitos outros problemas externos como, por exemplo, a quebra operacional causada por clientes a qual não é tratada com a devida importância, mesmo não sendo um fato desconhecido pelos supermercados. Quanto ao aspecto do método de gestão da qualidade utilizado a fim de se evitar os desperdícios, todos os supermercados foram são unânimes ao usarem o Just in time (estoque zero). O método Just in Time (estoque zero) é vantajoso, pois, o supermercado tem o controle diário do consumo das Frutas, Legumes e Verduras não sobrando estoques ociosos. Conforme alguns depoimentos, existem dias específicos de grandes movimentações e conseqüentemente um maior consumo, como é o caso da “quarta verde”, onde os hortifrutigranjeiros são vendidos a preços promocionais em um único dia da semana. Segundo depoimentos é muito difícil faltar produtos por erro de estimativa de consumo diário ou pelo aumento da demanda. Com relação a perguntas baseadas na identificação mensuração e eliminação dos desperdícios os principais resultados obtidos foram os seguintes: Houve também unanimidade, nas respostas apuradas com relação à etapa onde ocorre maior percentual de desperdícios. Todos responderam que é na “exposição dos produtos na loja”. Esse resultado é idêntico ao encontrado pela Vilela (2003, p. 534) estudando a rede varejista do Distrito Federal. Também é igual ao resultado encontrado pela (FLV..., 2003), em uma pesquisa realizada em São Paulo. Então, esta etapa precisa de uma atenção redobrada, porque a eliminação dos desperdícios deve começar por ela. Os investimentos em treinamento de pessoal para a qualidade deverão focar métodos para melhor exposição dos produtos no setor de hortifrutigranjeiros e tentar evitar o manuseio inadequado dos clientes e funcionários, a fim de evitar o problema do desperdício e, conseqüentemente, a elevação do custo do produto. 9 Quanto ao aspecto das providências que estão sendo tomadas para o controle dos desperdícios, o gráfico 3 ilustra as opiniões: 5% 5% 30% 60% GRÁFICO 3: PRO VIDÊNCIAS PARA O CO NTRO LE DO S DESPERDÍCIOS FO NTE:Questionário elaborado pelo autor Controla a armazenagem dos produtos Compra de fornecedores selecionados Utiliza queima de estoques Utiliza equipes especializadas Observa-se que a maioria dos supermercados (60%) compra de fornecedores selecionados com o intuito de evitar que produtos de baixa qualidade cheguem até as prateleiras (gôndolas). E que apenas 30% dos supermercados estão preocupados com o controle de armazenagem dos hortifrutigranjeiros. Isto pode se explicar por causa dos estoques mínimos utilizados nos supermercados, não precisando de um controle intensivo da armazenagem dos produtos. Pouquíssimos supermercados utilizam a queima de estoques e equipes especializadas. Quanto ao objetivo específico de se verificar as principais causas dos desperdícios no setor de hortifrutigranjeiros, podemos visualizar no gráfico 4 abaixo: Falta de qualidade do produto Manuseio do consumidor 0% 20% 40% 60% 80% 100% GRÁFICO 4: MOTIVO DOS DESPERDÍCIOS FONTE: Questionário elaborado pelo autor 10 Fica evidenciado na ilustração acima, que o “manuseio do consumidor” é o maior causador dos desperdícios. Esse resultado é idêntico ao exposto na (FLV..., 2003), que também chegou a este mesmo resultado em São Paulo. Alguns supermercados já estão selecionando e embalando os hortifrutigranjeiros a fim de evitar maiores desperdícios com o manuseio do consumidor. Quanto às porcentagens de desperdícios nos setores de hortifrutigranjeiros, frios e produtos alimentícios não perecíveis, os gráficos abaixo ilustram da seguinte forma: 90% 80% 70% 60% 85% 50% 40% 30% 20% 10% 15% 0% 0%-5% 6%-10% GRÁFICO 5: NÍVEL DE DESPERDÍCIOS NO SETOR DE HORTIFRUTIGRANJEIROS FONTE: Questionário elaborado pelo autor Podemos observar no gráfico 5 que os desperdícios no setor de hortifrutigranjeiros, para a grande maioria dos entrevistados (85%), está entre 6% e 10%. Esse resultado é coerente ao encontrado pela (FLV..., 2003), que também observou a ocorrência de maiores desperdícios no setor de hortifrutigranjeiros ao estudar esse fato junto aos supermercados de São Paulo. 5% 10% 85% GRÁFICO 6: NÍVEL DE DESPERDÍCIOS NO SETOR DE FRIOS FO NTE: Questionário elaborado pelo autor 0%-5% 6%-10% 11%-20% 11 Observa-se no gráfico 6 que o nível de desperdícios no setor de frios (açougue, congelados), para a maioria dos entrevistados (80%), está entre 0% e 5%. Este índice não é muito alto quando comparado ao setor de hortifrutigranjeiros, principalmente devido a grande quantidade de trocas de produtos cuja data de vencimento está ultrapassada. Os produtos congelados possuem um desperdício mínimo, havendo uma pequena porcentagem nos produtos laticínios como iogurtes, queijos, massas, requeijão, etc, devido principalmente a violação das embalagens. 100% 80% 60% 90% 40% 20% 10% 0% 0%-5% 6%-10% GRÁFICO 7: NÍVEL DE DESPERDÍCIOS NO SETOR DOS PRODUTOS NÃO PERECÍVEIS FONTE: Questionário elaborado pelo autor Conforme o gráfico 7, fica evidenciado que o setor dos produtos alimentícios não perecíveis é o que apresenta menor nível de desperdícios quando comparado com os setores de hortifrutigranjeiros e frios. Os alimentos não perecíveis possuem um prazo maior de vencimento dos produtos e também são combinados com os fornecedores os procedimentos para a efetivação das trocas dos produtos com embalagens amassadas, com defeitos, etc. No que se refere ao monitoramento dos setores com maior desperdícios, todos foram unânimes em tentarem algum tipo de controle no setor de hortifrutigranjeiros. Mesmo com a tentativa de monitoramento, os investimentos na gestão da qualidade ainda são muito poucos, faltam mais investimentos em “custos de prevenção” e “custos de inspeção”. 5. Conclusão Em Taguatinga-DF, os desperdícios observados no setor de hortifrutigranjeiros ainda estão longe de atingirem níveis normais como são os dos países desenvolvidos que investem pesadamente no controle. Mesmo utilizando o método Just in Time (estoque zero) e a ferramenta de gestão da qualidade “treinamento de pessoal para qualidade” para tentar identificar, mensurar e eliminar os desperdícios, os supermercados visitados ainda possuem níveis entre 6% e 10%. O principal motivo que gera desperdícios é o manuseio do consumidor. Segundo depoimentos, não existe ainda uma solução para esse problema. Alguns supermercados tentam minimizar o manuseio do consumidor selecionando os hortifrutigranjeiros e embalando-os, mesmo assim o consumidor sente necessidade e o hábito de tocar no produto. 12 Outra medida é a utilização de fornecedores selecionados, mesmo assim ainda há reclamações da falta de qualidade dos produtos que chegam até as prateleiras. Quanto ao objetivo específico de verificar se estão sendo usadas às ferramentas de gestão da qualidade oferecidas pelos custos da qualidade, observa-se que faltam investimentos por parte dos supermercados e maior divulgação destas ferramentas pelos Contadores, pois os profissionais ligados ao setor de hortifrutigranjeiros não as conhecem. Muitos nem sabem que a contabilidade estuda e oferece opções para o combate aos desperdícios. É preciso também maior cuidado e mudanças de hábito por parte dos consumidores, no sentido de não contribuírem para a deteorização dos hortifrutigranjeiros seja por descuido ou mania de tocar maltratando ou amassando os hortifrutigranjeiros. Realmente, precisamos da conscientização de todos a começar pelos consumidores os quais precisam ser treinados e educados para evitarem os desperdícios desde pequenos, com isso, quando atingirem a idade adulta poderão ter a consciência deste grande malefício entre nós chamado desperdício. Devido à relevância do tema, existem muitas áreas a serem exploradas com relação aos desperdícios. Por exemplo, estudar o motivo e o nível percentual dos desperdícios diretamente nos fornecedores, para constatar se refletem nos supermercados. Nos países desenvolvidos, os desperdícios nos supermercados giram em torno de 1,70% a 2,00% (UNIVERSIDADE DA FLÓRIDA, 2002), no Brasil constatamos a média entre 6% e 10%. Seria interessante abordar em trabalhos futuros o porque dessas diferenças. 13 8. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SUPERMERCADOS. Disponível em: <http://www.abrasnet.com.br> . Acesso em: 10 ago. 2004. ASSOCIAÇÃO DOS SUPERMERCADOS DE BRASÍLIA. Disponível em: <http://www.asbra.com.br>. Acesso em 20 set. 2004. BORNIA, Antônio Cezar. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. Porto Alegre: Bookman, 2002. CORREIA, Marta Verônica de Souza. Custos relevantes para tomada de decisões: um estudo no setor têxtil do segmento de fiação e tecelagem alagoano. João Pessoa, 2003. Dissertação (Mestrado em Controladoria) – Universidade Federal da Paraíba -UFPB, Paraíba, 2003. ECR BRASIL. Faturamento não depende só das vendas, Boletim ECR Brasil, n. 2, p.2-3, nov. 2001. Disponível em: <http://www.ecrbrasil.com.br>. Acesso em: 20 set. 2004. FARIA, Ana Cristina de. A Controladoria no Processo de Identificação, Mensuração e Eliminação dos Desperdícios/ Custos Logísticos Escondidos. São Paulo, 2002.Tese (Doutorado em Controladoria) – FEA/USP, São Paulo, 2002. FLV: a melhor operação, as menores perdas. Superhiper, São Paulo, p.72-76, abril 2003. MAHER, Michael. Contabilidade de Custos. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2001. GARRISON, Ray H.; NOREEN, Eric W. Contabilidade Gerencial. Rio de Janeiro: LTD, 2001. PESQUISA NACIONAL DE PREVENÇÃO DE PERDAS NO VAREJO BRASILEIRO, 3., 2002, São Paulo: PROVAR, 2002. 14 ROBLES JÚNIOR, Antônio. Custo da qualidade: uma estratégia para a competição global. São Paulo: Atlas, 1994. SUMITA, E.T. et al. A prevenção de perdas no pequeno e médio varejo supermercadista. São Paulo, 2003 47 p. Monografia (MBA/Varejo especialização em Administração) FEA/USP, São Paulo, 2003. UNIVERSIDADE DA FLÓRIDA. National Retail Security Survey. Flórida, 2002. VILELA, N.J. et al. Perdas na comercialização de hortaliças em uma rede varejista do Distrito Federal. Brasília: Caderno de Ciência & Tecnologia, v.20, nº 3, p.521-541, set/dez.2003. 15 Apêndice A Relação dos supermercados visitados em Taguatinga-DF 3 IRMÃOS BOM DE PREÇO CENTRO-OESTE CHAMPION COMPER GARÇA GOIANÃO MANAÍRA MARTINEZ OK PÁSCOA PREÇO BAIXO SERVE LAR SERVE MAIS SOLAR SOMAR SUPERCEI TÓKYO VENEZA VITÓRIA