vw vww Adão Manoel da Silva, 29 anos, casado e pai de três filhos, foi friamente assassinado Q^Jj ^-gl ^^1 .OPINIÃO .ANALISE , . INFORMAÇÃO corn unn t ro na ca :) ' ' eça durante a repressão da Guarda Civil Metropolitana à ocupação dos sem terra em uma área da prefeitura de São Paulo w " no Itaim Paulista. ^^_ Adão é um dos mais de 1^3 100 mil moradores sem teto que vem ocupando, desde o início do mês, terrenos ociosos (da prefeitura. Estado e especuladores imobiliários) em Guaianazes, Itaim Paulista, Ferraz de Vasconcelos, Itaquera, São Miguel. São 25 mil famílias que foram despejadas de p4l suas casas de aluguel, ou perderam suas casas por atraso de pagamento ou ainda ficaram sem teto por causa das enchentes. O Movimento dos Sem Terra da Zona Leste vem tentando persistentemente negociar junto ao "Governo Quércia" uma solução para essa situação. A resposta que o governo vem dando: derrubada dos barracos, espancamento de crianças, jovens, trabalhadores, mulheres, aposentados, destruição e roubo dos móveis e demais pertences das /, famílias e utilização de todo aparato policial, inclusive cães. ' S Todo esse disparate, frente ^■4 aos que apenas estão ^^- lutando por condições mínimas de moradia, prosseguiu até o assassinato do pedreiro Adão. %H^ É essa a solução dos nossos Ç^ governos. A mesma dada a milhares de trabalhadores do campo e da cidade do país inteiro. O problema persiste e se agrava a cada dia. Os assassinos dos trabalhadores devem ser punidos. Publicação Quinzenal do CENTRO DE PASTORAL VERGUEIRO Eleições Metalúrgicos de Sao Paulo .páginas 2, 3, 4, 5, 6 e 7 circulação interna -*/- 4& \< ^\^ ETALÚRGICOS DE SÃO PAULO Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Paulo t-u-mirfVi^l—éiUMktihwMÓiiuSuiHtl** UtttfH,». Rm * tr lt*4.*í4í#M**<lMM--h'» • WJf*'.'^!-* São Paulo, março de 1987 PREZADO(A) COMPANHEIRO(A): Este ano é ano em que teremos eleições para renovação da diretoria do nosso sindicato. Por exigência da nova lei que regulamenta as eleições sindicais será preciso modificar os Estatutos do Sindicato, adequando-osx às normas legais. Para promover as alterações necessárias estamos convocando uma Assembléia Geral dos Associados, para democraticamente decidirmos as alterações necessárias. A Assembléia Geral será realizada dia 20 de março, sexta-feira, às 19 horas, em nossa sede na rua do Carmo, 171. Sua presença na Assembléia é muito importante para garantirmos nos_ sos direitos, uma vez que a oposição vai propor que nos novos estatutos os aposentados sejam proibidos de votar nas eleições do nosso Sindicato. Este seria um primeiro passo no caminho para futuramente suspenderem até a assistência médica, bem como os demais serviços prestados pelo Sindicato. Companheiro, contamos com sua presença na Assembléia - dia /U, sex ta-feira às 19 horas, na Rua do Carmo, N9 171, para juntos impedirmos qualquer tipo de de cisão quê venha tirar direitos de companheiros aposentados que como você tanto trabalharam e tanto lutaram na construção do nosso grandioso Sindicato. Desde já contando com a sua presença, nos colocamos ao seu dispor para qualquer informação. Atenciosamente QUIM DO Preaiden O» ANDRADE icenciado A categoria assiste briga na diretoria DE MEDEIROS Presidente em Exercício LULÍJANTONIO Â oposição vai ganhar Jornal da Coordenação Provisória do Processo Eleitoral Metalúrgicos da CUT MARÇO 87 ASSINATURAS - Pirí miliumcj sem cond.cSes fmíncejr.si C2$ M.OO (por « mtm) c CZ$ 120.00 (por 12 rneM»). - Par» CUT. grupo sem verb* própria, militamei com condiçlo linanceirai CZ5 10,00 e 160,00. - Sindicatos, pastorais, grupos com verba própria e assinatura de apoio: CZS 120,00 e 2»0,00. - Exterior (via aérea): US$ 32.00 (por í meses) e US$ í«,00 (por 12 meses). O pagamento deverá ser leito com cheque nominal, cruzado, em nome do Centro de Pastoral Vergueiro. Também aceitamos vale postal em nome do Centro de Pastoral Vergueiro desde que seja endereçado para a agência do correio de Vila Marlana - CEP 0*2»9 - código da agência na ♦0M20. ♦•• preços validos ate 30/abril/t7 •" Na Assembléia de sextafeira, convocada para discussão dos Estatutos do Sindicato, os metalúrgicos assistiram mais um capítulo da luta mesquinha que vem ocorrendo no interior da atual diretoria de nosso Sindicato. A disputa pelo controle do aparelho e pelo loieamento de cargos dentro do Sindicato chegou a QUINZENA - PublicaçXo <fo Centro d« Pastoral Vergueiro Telelonesi (011) 273-4J33 e 273.»322 C«ix» Postal «2.7ÍI - CEP C<»2»9 S. PAULO - SP - Brasil QUINZENA TRABALHADORES um ponto extremo: os diretores do Sindicato terminaram a Assembléia em pancadaria. De um lado estava Luiz Antônio, presidente, mais 13 diretores, de outro, estava Walter Schiavon, li' secretário, mais 10 diretores. Estes filhos da Nova e da Velha República trocaram lapas, socos, cadeiradas e até tiro. O mais absurdo de tudo isso é o fato de até 10 dias atrás estarem todos juntos, na mais perfeita harmonia, falando alto com os trabalhadores e afinando diante dos patifes. A RAZÃO ÜA BRIGA Os diretores do Sindicato estão lançando para a categoria uma polêmica mentirosa. Se acusam mutuamente, e cada qual tenta vender a idéia de que é mais democrático que o outro. Uns por estarem propondo uma diretoria com 105 membros, outros com 74. Ora, isto é uma mentira grossa! controlando o Sindicato e traindo a categoria. Para isso lançam mão de divergências que não existem e que nunca apareceram nos últimos 3 anos. NOSSAS PROPOSTAS Há muito tempo nós vimos alertando a categoria para o loteamento que está ocorrendo dentro do Sindicato. Este lotcamento só tem atravancado nossas lutas e facilitado a vida dos patrões. O Movimento de Oposição tem defendido desde o 8" Congresso da categoria a necessidade de democratizar o Sindicato e de colocá-lo a serviço dos trabalhadores. Esta democratização pressupõe: — Divulgação do Edital de convocação das eleições 120 dias antes da data de votação para que todos os metalúrgicos possam participar. — Formação de uma Coordenação eleitoral paritária com a participação de todas as chapas. — Divulgação da lista de votantes a todas as chapas concorrentes num prazo mínimo de 120 dias antes da votação. — Participação das fábricas na direção e condução do Sindicato A última Assembléia, além de terminar aos tapas entre os diretores, foi marcada por manobras por pane da mesa,que impediram a apresentação das propostas divergentes as da diretoria, inclusive o companheiro Reny — da BEKUM — foi também impedido de apresentar a proposta do Movimento de Oposição. Por tudo isso exigimos a convocação de uma npva Assembléia, onde todas as propostas possam ser apresentadas e discutidas. Sem isto a democracia deste processo eleitoral já está de saida comprometida. Vamos acabar com o loteamento do Sindicato I Vamos colocar a CUT na direção. Número de cargos nunca foi critério de democracia em nenhum sindicato. Tanto faz para a categoria uma diretoria com 70, 90 ou até 200 companheiros, pois a democracia é determinada pelo controle que a categoria tem sobre o Sindicato e sobre suas lutas, pela participação direta dos Grupos e Comissões de Fábrica dentro de Sindicato. Na verdade os diretores do Sindicato nunca estiveram interessados em democracia, o que eles querem é simplesmente mais cargos para continuar -ELEITA A COORDENAÇÃO PROVISÓRIA Nesta sexta-feira, dia 13, os metalúrgicos das principais fábricas de Sâo Paulo realizaram a primeira Assembléia dando a largada ao processo de construção da chapa única da oposição. CHAPA ÚNICA DA CUT Jornal da Coordenação Provisória do Processo Eleitoral Metalúrgicos da CUT MARÇO 87 O espirito da esmagadora maioria dos presentes era um só: construir a chapa única da CUT. Desta maneira foi recusada qualquer proposta de chapa com atuais diretores do Sindicato, responsáveis por toda história de traição à luta da categoria e dos trabalhadores de uma forma geral. Foi também denunciada a manobra de alguns setores da atua! diretoria que querem na última hora passar por oposição. Isto depois de terem compactuado durante 3 anos com toda sorte de manobras contra os trabalhadores. Agora que a canoa co- meça a afundar eles querem abandonar o barco. limite de 3, apresentados na ordem de prioridade. CONVENÇÃO FINAL ABERTA Nas assembléias regionais — para cada 2 reuniões com quorum realizadas na região E para cada 15 metalúrgicos presentes na assembléia eleger um précandidato. Sobre a forma como deverá ser escolhida a chapa da CUT a Assembléia também se posicionou. Os companheiros da Executiva do Movimento de Oposição defenderam uma Convenção Final aberta à todos os metalúrgicos da capital. Esta proposta foi aprovada, e partiu de uma sugestão do Presidente da CUT Nacional — companheiro Jair Meneguellí. O critério da eleição dos précandidatoi; que formarão a chapa da CUT ficou definido assim: Nas rcun>iücs de fábrica — para cada 15 companheiros presentes eleger um' pré-candidato até o COORDENAÇÃO ELEITORAL Participam das assembléias regionais todos os metalúrgicos que concordem integralmente com o programa da chapa. Ao final foi eleita uma Coordenação Eleitoral Provisória formada por 28 companheiros representando as maiores e mais importantes fábricas da capital. Esta Coordenação é a partir de agora a direção do processo eleitoral, econduzirá os metalúrgicos de São Paulo à vitória. QUINZENA TRABALHADORES (I) Carta dos Diretores do Sindicato - Março/87 VAMOS MUDAR NOSSO SINDICATO! Companheiros e Companheiras: Nossa categoria em suas lutas, congressos e convenções tem manifestado sua vontade de mudança e participação nos destinos do Sindicato. Estas mudanças que propomos a seguir visam ampliar a participação dos trabalhadores metalúrgicos da ativa e aposentados em nosso sindicato, trazendo mais força e unidade em nossas lutas contra os patrões e o governo. O metalúrgico quer mandar em seu sindicato: O metalúrgico vai mandar em seu Sindicato1 PROPOSTAS da 1. Participação paritária (igual) das chapas inscritas para a eleição Diretoria no controle do processo eleitoral. 2. Ampliação do número de Diretores do sindicato, com a criação do Conselho Sindical. A diretoria deve ter 105 membros, 15 dos quais na Executiva 3. Os aposentados terão 5 representantes na Diretoria. Anualmente será des tinada à Associação dos Trabalhadores Metalúrgicos Aposentados - ATMA/SP uma verba do orçamento do Sindicato para o fortalecimento das lutas dos companheiros aposentados. VIVA O SINDICATO DOS METALÜRGICOS DE SAO PAULO! São Paulo, 20 de Março de 1987. DIRETORES DO SINDICATO Walter Schiavon, João Carlos Gonçalves - Juruna, Manoel Jorge dos Santos , Nelson Aparecido Cardin, Eustáquio Vital Nolasco, Geraldino dos Santos Sil va, Geraldo Magela Campos Mota, Nair Maria de Jesus Goulart, Neleu Alves , Cândido Hilário G. Araújo - Bigode, João Paulo Kulesca. Mudar Estatutos e Criar Conselho Sindical A estrutura sindical brasileira prejudica o avanço da luta dos trabalhadores. Para uma categoria como a nossa, por exemplo, com mais de 370 mil metalúrgicos espalhados em cerca de 13 mil fábricas, só é permitida uma diretoria composta por 2^ membros. Isso precisa mudar! E é para ampliar a participação dos trabalhadores na direção do Sindicato, conforme decisão do 89 Congresso dos Metalúrgicos, que no próximo dia 20 de março, sexta-feira, às 18:30 horas, será realizada uma importante Assembléia, onde decidiremos sobre a criação do Conselho Sindical, que vai dirigir nosso Sindicato junto com a Diretoria. 0 Sindicato tem caminhado para uma participação cada vez maior dos trabalhadores metalúrgicos. Não é a toa que aumentamos a nossa organização por regiões, criando subsedes onde os companheiros podem se reunir para denunciar problemas e preparar a sua mobilização. MAS ISTO AINDA NÃO É SUFICIENTE Precisamos trazer mais metalúrgicos para dirigir o Sindicato. Por isso vamos decidir juntos sobre a criação de um Conselho Sindical com representantes das fábricas para ampliar a representatividade e a atuação do Sindicato junto a categoria. Por isso é essencial que o companheiro esteja presente na Assembléia do dia 20. Vamos democratizar e fortalecer o Sindicato! Obs: Traga sua carteira de sócio ASSEMBLÉIA GERAL O Metalúrgico Boletim do Sindicato 11.03.87 TRABALHADORES QUINZENA Carta dos Diretores do Sindicato - Março/87 A ASSEMBLÉIA DECIDIU POR UNANIMIDADE 0 SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE SAO PAULO JA TEM NOVO ESTATUTO; i Os metalúrgicos mostraram na Assembléia Geral realizada sexta feira, dia 20 Março, quem manda no Sindicato de Foi uma assembléia igual ã de Campanha Salarial. Mais de_2.000 metalúrgicos da ativa, muitos aposentados, todos sindicalizados, aprovaram, por unanimidade, levantando as carteirinhas de sócio, as seguintes propostas, que desde já tem que ser incorporadas aos estatutos do Sindicato: 1' Participação paritária (igual) das chapas inscritas para a eleição da Direto ria no controle do processo eleitoral; 2' Uma direção de 105 membros pára dirigir o sindicato, sendo: 15 diretores da executiva, 6 do Conselho Fiscal, os representantes na Federação e um Conselho composto por 5 companheiros aposentados e 76 companheiros da base. 3' Anualmente será destinada a Associação dos Trabalhadores Metalúrgicos Aposen tados -ATMA-SP. uma verba do orçamento do sindicato, para o fortalecimento das lutas dos companheiros aposentados. A Assembléia prevista para ser realizada dentro do prédio do Sindicato, teve que se deslocar para a Rua do Carmo, devido ao grande número de participantes. Quando os"companheiros votaram, eles rejeitaram tanto a proposta de um Conselho fantoche e fajuto, que não atendia aos anseios dos trabalhadores aposentados e do conjunto da categoria; e rejeitaram a outra proposta, que nada mais fazia do que reproduzir o que está na CLT (enquadrada). Depois do voto unânime com a cnrteirinha de sócio na mão, temos que registrar em ata o que queremos para orientar as mudanças em nossos estatutos, o que queremos que mude em nosso Sindicato. Nenhuma manobra, nenhum cambalacho pode violar esta vitória dos metalúrgicos. A Presidência da Assembléia, que se responsabilizou pelo encaminhamento das votações e soube enfrentar as ameaças de tumulto dos inimigos dos metalúrgicos, vai garan tir, junto com os companheiros, que ninjjuém fraude a decisão dos trabalhadores. Conclamamos a todos os companheiros e companheiras nas fábricas a reafirmarem | estas resoluções da Assembléia que são a expressão da vontade de luta, de mudança, de uni dade e democracia dos metalúrgicos de São Paulo. VIVA A UNIDADE DOS METALÚRGICOS . VIVA O SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE SAO PAULO. São Paulo, 21 de Março de 1987 WALTER SCHIAVON -Presidente da Assembléia MANOEL JORGE DOS SANTOS-escrutinador NAIR JESUS GOULART-escrutinadora JOÃO CARLOS GONÇALVES - JURUNA- diretor GERALDINO S. SILVA - diretor NELEU ALVES- diretor LÚCIO BELLENTANI-Secretário EUSTAQUIO VITASL NOLASCO-escrutinador CÂNDIDO HILÁRIO GARCIA DE ARAUJO-escrutinador NELSON A. CARDIM-XEPA- diretor GERALDO MAGELA - diretor JOÃO PAULO KULESKA- diretor TRABALHADORES QUINZENA mm METALÚRGICOS DA CUT CONSTRUIR A CUT PELA BASE MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO SINDICAL METALÚRGICAOE S.P. PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DOS ESTATUTOS. ESTAS SÀO AS PRINCIPAIS PROPOSTAS QUE DEFENDEMOS PARA GARANTIR A DEMOCRACIA NAS ELEIÇÕES DO SINDICATO: 1) A diretoria do sindicato será composta de 21 membros, sendo 7 diretores efetivos, 7 suplentes, 3 membros do Conselho Fiscal com respectivos suplentes e 2 Delegados ao Conselho de Representantes ' na Federação com respectivos suplentes. 2) As eleições para a Diretoria, Conselho Fiscal e Delegados Representantes no Conselho da Federação, serão realizadas no prazo má ximo de 30 (trinta) dias que antecedem ao término dos mandatos vi gentes. 3) As eleições serão convocadas pelo presidente do sindicato por edital, com antecedência MÁXIMA DE 120 (cento e vinte) DIAS e MÍNIMA DE 90 (noventa) DIAS antes da data de realização do pleito. 1) 0 prazo para regisrro de chapas será de 30 (trinta) dias, contados da data de publicação do Aviso Resumido do Edital/ 5) No ato de encerramento do registro de chapas será constituída a COMISSÃO ELEITORAL, com 2 (dois) representantes de cada chapa ins crita, com o fim exclusivo de encaminhar todo o processo eleitoral. 6) No prazo de 30 (trinta) dias a partir da sua constituição, a COMISSÃO ELEITORAL está obrigada a elaborar e entregar a listagem ' dos associados do sindicato, relacionados por empresa, e dos aposen tados, com os respectivos endereços residenciais, para todas as cha pas inscritas. 7) A COMISSÃO ELEITORAL distribuirá igualmente entre as chapas ' concorrentes os recursos disponíveis destinados pelo sindicato para fins eleitorais. 8) Na apuração, o presidente da mesa apuradora verificara, pelas listas de votantes, se participaram da votação mais de 2£5 (dois ' terços) do total de eleitores inscritos, procedendo, em caso afirmativo, a abertura das urnas para a contagem das cédulas de votação. 9) Finda a apuração, o presidente da mesa apuradora proclamará _ eleita a chapa que obtiver, na primeira votação, a maioria absoluta de votos (50X + 1) em relação ao total dos votos apurados, e maio ria simples nas votações seguintes, e fará lavrar ata dos trabalhos eleitorais. s-0 paulo> 20 de març0 de lg87 Metalúrgicos de SP A luta pela chapa única Ida CUT Declaração do PT n § n 00 0) t DIRETÓRIO REGIONAL si. DO PT/SP Para: DIRETÓRIOS DISTRITAIS. VI r+ 0) MUNICIPAIS E PARLAMENTARES Assunto: ELEIÇÃO METALÚRGICOS o DE SAO PAULO. —■ I 00 VI Companheiros: O Diretório Regional em sua reunião ordinária dia 21 de fevereiro do ano corrente ouviu o informe da Executiva Estadual que realizou uma reunião com petistas metalúrgicos de São Paulo que participam de diferentes articulações para disputar as eleições do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Informado da posição de cada articulação, MOMSP, ALTERNATIVA SINDICAL E CONVERGÊNCIA SOCIALISTA, o Diretório Regional decidiu após avaliar a situação atual o seguinte: 1. Manter a Comissão nomeada pela Executiva Estadual (...) 2. Autorizar a Comissão a entrar em contato com os petistas da CUT Estadual e Nacional para avaliar o processo; 3. Reafirmar sua decisão de trabalhar para uma chapa única no campo cutista, evitando por todos os meios que saia mais uma chapa com participação de cutistas e petistas; 4. Proibir e desautorizar que qualquer instância do partido, núcleos, diretórios e bancadas tomem posição a favor de tal ou qual articulação. Sem prejuízo da posição individual de cada filiado e militante; 5. Continuar trabalhando pela unidade e trazer para uma próxima reunião do Diretório Regional uma proposta de política para todos os petistas com relação a estas eleições e com relação ao processo de tiragem de uma chapa unitária. PT SAUDAÇÕES! DIRETÓRIO REGIONAL DO PT/SP 24.02.87 TRABALHADORES QUINZENA Convocatória dos metalúrgicos da CS Preocupados com os rumos que vem tomando o processo de formação da chapa da CUT para as eleições da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, os metalúrgicos da Convergência Socialista convocaram uma reunião para a última quarta-feira, 18 de março. Esta é a nota convocatória distribuída na categoria: "Depois de anos de ditadura, peleguismo, traição, chegou a hora de varrer Joaquinzão e sua diretoria. Chegou a hora dos metalúrgicos tomarem de volta seu sindicato. Nas próximas eleições, precisamos colocar uma chapa única da CUT na diretoria. Uma chapa disposta a organizar a categoria, disposta a transformar o sindicato no mais poderoso instrumento de luta contra o governo e os patrões. Os metalúrgicos querem salários, melhores condições de trabalho e de vida. querem democracia na sociedade e no seu sindicato. Para obter tudo isso é necessário uma chapa única da CUT. Infelizmente, a CUT ainda não está unida, isso porque as duas principais correntes, a "Alternativa Sindical" e o "Movimento de Oposição Metalúrgica", degraçadamente estão priorizando quem é maioria e quem dirige a chapa da CUT acima de qualquer coisa. Por isso chamamos todos aqueles que estão por uma chapa única da CUT. sem nenhuma pré-condição. a uma reunião onde possamos organizar um forte movimento que consiga reverter o atual quadro de divisão no seio dos metalúrgicos cutistas, impondo uma convenção unitária e democrática da categoria que defina todo o processo eleitoral e eleja uma chapa única da CUT para derrubar esta diretoria pelega." BANCÁRIOS Até o fechamento desta edição não tínhamos os dados finais da greve dos bancários que prosseguia por todo o país. Na sexta-feira, 27, a greve que havia começado fraca já se ampliava no Rio e em São Paulo, impedindo o funcionamejn to das bolsas de valores. A Compensação de cheques está ocorrendo de foram precária. Em S. Paulo, segundo a imprensa burguesa, uma passeata reuniu na praça da Sé cerca de 25 mil bancários. O Exército foi, mais uma vez, colocado de sobreaviso e 25 mil soldados estão de prontidão No Paraná, a greve está contando com o apoio de agricultores que colocaram máquinas e tratores nas portas das agências de Guarapuava e Paranavaí. A Federeação dos Bancários (pelega) - vide matéria na seçãc Curtas) está criticando o encaminhamento dado pela CUT e pelo sindicato dos bancários de S. Paulo. No próximo número daremos cobertura e análise completa. Veja matéria nesta edição. O vigilante da refinaria Duque de Caxias, Carlos Alberto Silva, foi preso sob a acusação de ter feito "gestos obscenos e proferido palavrões de baixo calão". A detenção*foi feita pelo Exército, dentro da empresa. METALÚRGICOS DE SP Pipocam as greves por fábricas: **■* Landroni - Quatrocentos funcionários. Em 9 de março ehtraram em greve exigindo 50 % de aumento, equiparação salarial, estabilidade e jornada de ^0 horas. *** CVR - Cento e vinte funcionários. Iniciaram a greve em 10 de março com a reivindicação de aplicação do gatilho de fevereiro que ainda não foi pago. METALÚRGICOS DO ABC A Black & Decker, em Santo MARÍTIMOS André, com 2600 trabalhadores, Conforme noticiamos no fez greve de 2^ horas em número anterior, os marítimos virtude da insatisfação provocada de quase todos os portos do país por defasagem salarial entraram em greve. constatada no demonstrativo Nos portos do Rio os de pagamento da empresa. fuzileiros navais ocuparam as instalações para garantir o TREZENTOS MIL EM GREVE abastecimento de petróleo. No Mais de 300 mil trabalhadodia 10 ela já durava 11 dias. res cariocas estiveram em No navio Henrique Leal greve nesta quinzena. houve 10 demissões "por justa *** Nos Estaleiros Mauá, de causa" e o navio Felicidade Ferraz foi ocupado por militares propriedade do futuro secretário de Minas e Energia do Rio, os armados e os tripulantes foram acusado de "sabotagem térmica" metalúrgicos (5000) reivindicam reajuste de 60%. Parou também Em Belém o comando geral a Estaleiros Começo. da greve permitiu que se descarregasse o gás de cozinha para evitar colapso no abastecimento. Veja matéria especial nesta edição. Apesar de tudo, algumas empresas assinaram acordos isolados que reverteram em aumento de 120% sobre o piso atual. PETROLEIROS Além das ocupações militares da Marinha e dos fuzileiros navais, também o exército ocupou as refinarias de petróleo de quase todo o país numa ação preventiva para se contrapor a "operação vigília" dos petroleiros. ■*■** Cia. de Navegação do Estado do Rio (^00) os metalúrgicos cruzaram os braços exigm do benefícios que irão dobrar os salários. *** Trabalhadores de 22 empresas de fiação e tecelagem do Rio reivindicam 100% de reajuste além dos 20% do gatilho. *** Trinta e cinco mil vigilantes exigem o mesmo percentual. *** Padeiros da Baixada Fluminense exigem 100% em greve. Q TRABALHADORES QUINZENA *** Construção civil de Duque de Caxias também exigem 100%. UNIVERSIDADES FEDERAIS As Universidades federais de São Carlos - SP, Ouro Preto MG e de Brasília (vide matéria abaixo) entraram em greve em 20/03 apresentando extensa pauta de reivindicações que já haviam sido entregues ao MEC há 6 meses. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Os professores da UnB entraram em greve em 13/03 por tempo indeterminado. Eles reivindicam maiores salários e mais recursos para o ensino superior. Com isso, pretendem que o salário vá para a faixa de Cz$ 21 mil a Cz$ 51 mil em regime de dedicação exclusiva. FUNCIONÁRIOS DA USP Os servidores da Universidade de São Paulo realizaram greve de 2^ horas contra a não inclusão de todos os servidores no projeto de carreira da Universidade que prevê progressão anual de salários. Em caso de não atendimento eles pretendem entrar em greve por tempo indeterminado. MARCENEIROS EM GREVE * 300 funcionários da Móveis UAtelier entraram em greve dia 09/03 e assim permaneceram por mais de 0^ dias reivindicando 25% de aumento sobre os salários de janeiro. A empresa oferece 25% sobre os salários de dezembro. * Na Tapeçaria Chie (^50) os trabalhadores exigem piso de Cz$ 4 mil, instalação de creches nos locais de trabalho, jornada de 'tO horas, pagamento de insalubridade na seção de pintura e melhoria na alimentação. * Fergo (300) pararam por salários atrasados. ELETRICITARIOS DA BA O Sinergia-BA nos informa que: * 150 dos 187 empregados da SANGEL que trabalham para a CHESF em Sobradinho fizeram paralisação de 2 horas em 09/02 e 3 horas em 10/02 reivindicando o pagamento do adiantamento da metade do 135 que sempre foi pago nessa época. Reivindicavam também o adicional de penculosidade. Em comissão de negociação, as duas reivindicações foram conquistadas. * Na Coelba em assembléia realizada no dia 11/02 deliberou-se paralisações de uma hora em cada expediente todos os dias em todo o estado. LIXEIROS DA BA Os ^.600 trabalhadores na limpeza urbana de Salvador paralisaram a coleta de lixo em 17/03 exigindo 100% de aumento, estabilidade por um ano e equipamento de segurança como botas, luvas e macacões. GREVE NA USINA NUCLEAR 1200 trabalhadores da construção das usinas nucleares pararam por falta de pagamento das horas extras e não cumprimento deis bases de um acordo salarial negociado em agosto. Os grevistas exigem de Furnas e da Nuclen aumento de 100%, semana de 40 horas e cumprimento integral do dissídio. A greve não afetou o fornecimento de energia que está paradlo há k meses. Na verdade a Usina está quebrada. SAÚDE DE PE 16.500 trabalhadores de PE paralisaram 9 hospitais e 600 unidades de saúde. Eles, juntamente com os professores, (vide matéria abaixo) reivindicam o disparo o gatilho e mais 50% de abono de emergência. EDUCAÇÃO DE PE 80% das escolas oficiais do Recife paralisaram em virtude de greve dos professores da rede estadual. No interior de Pernambuco a paralisação foi de apenas 10%. Os professores reivindicam o disparo de dois gatilhos e mais 50% de abono emergencial. O governo disse que não concederá aumentos. SERVIDORES - PB Os servidores da Paraíba fizeram greve de mais de 40 dias exigindo aumento salarial. Em 19 03 eles resolveram, com exceção dos professores, voltarem ao trabalho numa trégua de 50 dias. GREVE NO ACRE No mês de fevereiro os Servidores Estaduais do Acre fizeram greve por reposição salarial de 294% correspondente à perda dos últimos 10 anos. Enquanto o governo deu a si mesmo 200 a 250% em janeiro, para os servidores vieram apenas magros 25%. Participaram da greve 75 a 95% da categoria. O governo vem usando força policial e prendeu o carro da Associação de Professores, bem como demitiu 19 grevistas do comando unitário de greve (CUT, CGT, PC, PCdoB, PT). Há mais ameaças de demissão. IBGE EM GREVE 7.500 funcionários do IBGE (o mesmo instituto que calcula o índice oficial de inflação) entraram em greve neste mês reivindicando 35% de reposição além do gatilho, enquanto a direção do instituto oferece 32,5% já incluído o gatilho. Enquanto isso os diretores desse instituto tiveram 100% de aumento. A m^^^^^^^^^m VM _ TRABALHADORES QUINZENA BOIAS FRIAS - SP 600 bóias-fnas da região de Guararapes e Araçatuba no jnterjor do estado de SP bloquearam rodovias durante uma greve neste mes. Eles exigem que o algodão colhido tenha o preço da arroba (15 kilos) majorado de C2$ 15,00 para Cz$ 25,00: Os fazendeiros alegam que têm prejuízo pois o governo fixou o preço da arroba em Cz$ 100 e o custo declarado é de Cz$ 135. CURTAS CUT/PA INFORMA Em eleições realizadas no final do mês passado, a chapa 2 de Oposição venceu as eleições para a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará. A Federação desde os anos 70 estava atrelada aos fazendeiros e latifundiários e deixou de lado os interesses dos trabalhadores nesse tempo todo. Agora, os assassinatos, as ameaças de pistoleiros e dos jagunços da UDR Gazeta Mercantil 05.03.87 terão respostas, é mais porThaUBoitot dos por greves, saltando de uma federação alinhada de Brasília 387 movimentos em 1985 com a CUT, para 737 em 1986. Minas 0 ano de 1986 registrou Gerais ocupa o segundo lu- encabeçada pelo 1.493 greves em todo o gar, com 125 greves duran- lavrador 3osé Dias País, 77% a mais que no te o ano passado, seguida ano anterior. A análise fei- do Rio de Janeiro, com 114 Moreira (Zelito). ta no Ministério do Traba- paralisações. Registradas lho (MTb) indica que em enquanto greves de âmbito épocas de crescimento eco- nacional estão 25 movimen- DEU CUT NO nômico o movimento sindi- tos, pouco mais do que o re- SINERGIA/BA cal encontra mais terreno gistrado em 1985, quando 22 para forçar uma distribui- greves atingiram, simultação de renda, o que foi neamente e dentro da mesQuem nos escreve é possível em função de a ma categoria, todo o terri- o companheiro 3ose economia ter crescido con- tório brasileiro, i sideravelmente no período As greves na indústria to- Carmo dos Reis pós-Plano Cruzado. talizaram quase a metade noticiando que a Em contraposição ao au- (48,8%) dos movimentos mento das greves, dimi- registrados em 1986, segui- Chapa Única com nuiu o número de grevistas das das paralisações no se- apoio da CUT venceu por movimento, uma mé-» tor público, cuja participadia utilizada nas estatísti- ção no total foi de 12,9%.<0 as eleições para o cas do MTb para medir a comércio participou eta Sindicato dos amplitude dos movimen- 5,8% dos movimentos gretos. Durante 1985, o total da vistas durante o ano de Eletncitános da BA. A diretoria homens/dia paralisados foi 1986, com 87 greves. " de mais de 48 mil, enquanto Em contingente de traba- tomou posse em 30/01. em 1986 esse número não lhadores paralisados, por chegou a 33 mil, represen- outro lado, os funcionários tando uma redução de 34%. públicos ocupam o primei- PASSO FUNDO, UM O fato corrobora a mudan- ro lugar, com participação ça de estratégia dos sindi- de 17,6 milhões de grevis- PASSO A FRENTE catos, que em 1986 passa- tas, ante os 5,7 milhões da ram a realizar mais greves indústria ou 549 mil bancáDuas eleições, duas por empresa do que por ca- rios. tegoria. vitórias. Esta foi a vez A expressiva ' partléiCada movimento grevis- pação dos funcionários pú- dos metalúrgicos ta,.que em 1985 significava blicos em movimentos gre7,4 dias de paralisação, em vistas no decorrer de 1986 gaúchos chutarem para 1986 registrou apenas 4,5 vai frontalmente de encon- fora do Sindicato o dias, demonstrando maior tro à proibição, contida em rapidez na concretização lei, ao direito de greve pata pelego que estava lá dos acordos trabalhistas. esta categoria. Os servido- há dezoito anos. A São Paulo continua lide- res públicos não têm serando, dentre todos os esta- quer o direito formal á sin- chapa de oposição, dos, a lista dos mais afeta- dicalizaçSo. encabeçada por Elpédio de Oliveira levou a campanha com base nas bandeiras da CUT e venceu as eleições por 321 votos contra ^6 da chapa da CGT e 19^ da chapa dos patrões. A nova Ministério divulga o balanço das greves diretoria pretende encaminhar em assembléia a filiação do Sindicato à CUT. Os bancários também obtiveram vitória colocando para fora outro pelego. A chapa encabeçada por Luciano Fronza conseguiu 380 votos contra 1%. Além de Passo Fundo, os municípios de Lagoa Vermelha, Guaporé e Getúlio Vargas também pertencem à base do Sindicato. SERROTE VITORIOSO Mais uma diretoria pelega é derrubada em Pernambuco. Desta vez os marceneiros que, desde 1985 se reuniram e criaram o grupo de oposição SERROTE, venceram as eleições sindicais, realizadas nos dias 22 e 23 de janeiro último. A diretoria pelega estava à frente da entidade há 23 anos e, durante este período, traiu a categoria. Agora, assumindo o sindicato o grupo Serrote pretende cumprir seu dever de trabalhar e lutar para que a categoria se organize sempre mais, consiga salários mais justos e melhores condições de vida, para os marceneiros, mas também, para toda a classe trabalhadora. (Construir n» 37,fev/mar/abr-87) 49 ENCONTRO DE LIDERANÇAS Os povos Guarani e Kaiowá se reuniram nos dias 22 e 23 de novembro, em memória do 32 ano do assassinato do lider Marcai de Souza. Presentes índios Guarani do litoral de São Paulo, do RS e do PR e uma representante da UNI, índia potiguara da Paraíba. Na oportunidade, as mulheres também se reuniram resolvendo "tornar público a nossa aliança aos nossos esposos e fazermos a 19 reunião de mulheres". Discutiram e tomaram decisões relativas às áreas , da Saúde e da Educação. w mm QUINZENA E completaram com "reivindicações gerais" como: Respeito à identidade indígena, imediata demarcação das terras, punição ao assassinado de Marcai. (Mensageiro - Jan/ Fev/87) ENCONTRO NACIONAL DOS SEM TERRA Em Piracicaba/SP , de 19 a 23 de janeiro, o Movimento dos Sem Terra realizou o seu 32 Encontro Nacional. A Assembléia reuniu cerca de 700 lavradores de 18 estados. Abaixo, algumas das resoluções tomadas no encontro a) estimular a participação sindical dos trabalhadores rurais em todos os níveis; b) articular-se com as organizações dos trabalhadores da cidade, especialmente os operários; c) articular-se com o movimento sindical rural na construção da CUT; d) articular-se com os pequenos proprietários e assalariados rurais na defesa dos interesses comuns; e) estimular a participação político-partidária de todos os lavradores; f) consolidar as coordenações municipal, estadual e nacional; g) expandir o Movimento para todos os estados e estimular a participação das mulheres e dos jovens; h) ampliar e aprofundar o trabalho de formação política das lideranças e dos lavradores em geral. (Jornal dos Sem Terra fev e mar de 1987) FRAUDE NO ABC A DRT até agora não TRABALHADORES tomou conhecimento das denúncias de fraude na eleição dos bancários do ABC. A atual diretoria pelega (chapa 1) se nega a responder as acusações e sumiu com as provas da fraude, que eram as listas de votação. Santo André se torna assim, um dos antros de corrupção sindical uma vez que este não é o único exemplo, já que os comerciários também foram esbulhados nas eleições de 86. A Chapa 1 corrupta da atual diretoria bancária foi empossada apesar de todas as irregularidades. Oh, Pazzianoto, isso você não vê nãol ENCONTRO DE MULHERES Recife. Compromisso sério assumido neste encontro: pressionar os deputados e senadores constituintes para que a nova Constituição reconheça os direitos dos pescadores artesanais. FEDERAÇÃO DOS BANCÁRIOS A Fed. dos Bancários de SP, MT e MS vai continuar nas mãos dos pelegos por mais 3 anos. A estrutura fascista do sindicalismo brasileiro garantiu a vitória da pelegada. A lista de fraudes e mentiras é longa: Ribeirão Preto, Goiânia, Sorocaba, Taubaté, Barretes, Araçatuba e ABC. Em todos estes lugares os bancários foram impedidos de escolherem seus representantes verdadeiros. Reivindicando a Reforma Agrária imediata e o fim da discriminação como mulher e como trabalhadora, mais de 20 mil mulheres gaúchas, de 210 municípios e representando 232 sindicatos, se reuniram dia 07 de março, em Porto ': '. Alegre-RS, no II Encontro Estadual de Trabalhadoras AMERICANOS NA AMAZÔNIA Rurais, dentro das comemorações do Dia Internacional da Mulher. Ao mesmo tempo que a FUNAI observa a construção MULHERES MINEIRAS da casa do crente norte-americano 3osef Harold De 16 a 18 de janeiro, em Hill da Missão Evangélica da Belo Honzonte/MG, aconteceu ( Amazônia (MEVA), ela expulsa I Encontro da Mulher os missionários Egydio e Doroti Trabalhadora Rural do Estado Schwade da aldeia na área de Minas Gerais. Participaram Waimiri-Atroan. A penetração 75 mulheres. Algumas das da Missão Evangélica é ponta questões discutidas: A mulher de lança da penetração sempre foi marginalizada? capitalista. A FUNAI Como era a vida das assassina está conivente com o mulheres nos tempos bíblicos? genocídio praticado contra essa Qual o papel que ela deve nação indígena. O "Projeto desempenhar hoje na Calha Norte" joga papel sociedade? importante nesse processo. MO SAIV NO JORNAL PESCADORES ASSASSINATOS NO MT A Comissão Pastoral da Pesca do litoral do Estado de São Paulo, promoveu mais um encontro de 05 a 08 de fevereiro, em Mongaguá. Pescadores artesanais de várias Colônias de Pesca aprofundaram e discutiram suas propostas à Constituinte. Esteve presente também frei Alfredo Schnnettgen, coordenador nacional da CPP, sediada em Entre 18 e 22/12/86, 38 famílias de lavradores foram despejados pela PM no Mato Grosso com ordem judicial. O despejo foi violento, casas foram queimadas, lavouras destruídas, matança de animais, oito lavradores exterminados e seis desaparecidos. Quatro foram encontrados jogados no Rio Alegre, com as mãos amarradas às costas, garganta w ... ■■,,,;......-.■.•. .■.;■...-. ,■■.■■■ TRABALHADORES QUINZENA cortada e o abdomem aberto. Dois lavradores, Hugolino de Souza e Manoel Ribeiro dos Santos foram presos pela PM e não mais se teve noticias deles. A Secretaria da Segurança do MT encobre os policiais assassinos e até hoje não se preocupou em punir os culpados pelo massacre de Mirassolzinho (Quinzena n9 21) onde a polícia teve participação direta. E aí Brossard DIOCESE DE PROPRIA/SE Quem nos escreve é D.José Brandão de Castro, bispo de Propná-SE que vem a público chamar atenção para: * O proprietário da fazenda Cadoz em Neópoles-SE está pressionando os posseiros que residem em terras da CODEVASF a abandonarem suas plantações de arroz que fazem divisa com suas terras. Até a CODEVASF concorda que a posse pertence à Associação dos Posseiros do Mundéu da Onça e que a tentativa dos fazendeiros é de grilagem. *-No município de Canhoba estão acampadas 56 famílias na fazenda Borda da Mata já desapropriada por Sarney. Correm ameaças veladas de que 2 lavradores serão assassinados. Ameaças semelhantes sofre Frei Enoque Salvador em Poço Redondo e São Franciso da parte dos latifundiários e políticos locais inconformados com a ação da . Igreja. "Pedimos garantia de vida a todos" VIOLÊNCIA EM ABAETETUBA casas e efetuaram prisões de mais de 30 trabalhadores rurais sem terra e sem casa, alguns deles membros da comissão de negociações. O crime? A reivindicação de direito à moradia num bairro pobre e sem infra-estrutura em Abaetetuba/PA. E viva a "Novelha República" CUT E CPT - AMAPÁ Os companheiros da CUT e da CPT nos enviam longo documento (disponível para cópia Xerox), onde denunciam que 35 famílias de posseiros de "Pau Furado" no Amapá estão sendo invadidos pela BRUMASA uma empresa do A CUT-Guajanna nos informa grupo CAEM1 com ajuda da Polícia Militar local. que em 9/03, mais um ato de Muitas casas foram violência foi praticado pela derrubadas e a "justiça" deu polícia local com a participação reintegração de posse para direta do Prefeito João a empresa. Bitencourt e do dep.estadual No rio Jari muitas Marinadir Santos. Nesse dia, comunidades estão sendo um delegado do DOPS e uma ameaçadas pela JARI, empresa guarnição de policiais de de exploração de madeira na Abaetetuba e Barcarena, região. A justiça fecha os olhos. espancaram pessoas, destruíram BRASIGUAIOS-a luta pela terra perdida Cadernos do CEAS n9 107 - Jan/Fev/87 3. NO PARAGUAI, A HISTÓRIA SE REPETE Marilda Aparecida de Menezes* O migrante, tinha vindo do Sul ou de Minas, do Nordeste ou de São Paulo, colonizou o Paraná, mas nío conseguiu se fixar na terra. Ir para o Paraguai aparece como uma nova tentativa de buscai a terra, que parece sempre estar ao alcance das mios dos colonos, mas lhes escapa, como num passe de mágica. SSo as mesmas empresas colonizadoras do Paraná que abrem o caminho para a entrada no Paraguai, antecipando-se aos migrantes. As colonizadoras brasileiras atuam com total apoio do Instituto de Bien Estar Rural, o IBR. O Paraguai passa a representar, assim, a continuidade da fronteira agrícola do Paraná. A seguir, faremos um breve relato das condições de vida e trabalho dos brasileiros no Paraguai. SITUAÇÃO DA TERRA E COMERCIALIZAÇÃO Os brasileiros, em geral, tiveram acesso à terra de três formas: 1. Compra da terra: neste caso, a dificuldade maior é de se obter o título da terra. É freqüente se pagar duas, três vezes a mesma terra e não se obter o título definitivo. Outras são vítimas de títulos falsos. 2. Direito de posse: através de um documento provisório chamado permisso, que dá direito ao colono usar a terra e pagar anualmente uma taxa, porém nunca se torna proprietário. Em geral, este sistema é utilizado em áreas virgens, de matas, onde se repete o famoso modelo o homem amansa a terra e é expulso. Tal é o caso da colônia Carapa, onde os colonos trabalham durante mais de 10 anos derrubando mata, cultivando lavoura e criando a infra-estrutura. No ano de 1985, a terra foi comprada pela Colonizadora Norte do Paraná, que está dividindo e vendendo os lotes. Os colonos, já vivendo em situação de crescente expropriação, não têm, em geral, condições de adquirir um lote e são obrigados a abandonar a terra com todas as benfeitorias e tocar adiante. A ação das colonizadoras brasileiras é res: ^ paldada pelos militares paraguaios. Segun- ^ QUINZENA TRABALHADORES do os colonos, a sede da colonizaçío estava no quartel e os funcionários — agrimensor, escritório e outros — eram paraguaios. Deus quiser, que Deus ajudar de nós vencer a vitória, e tendo o apoio de nosso governo, acho que vamo adquirir. E é isso. (brasiguaio) A colonizadora comprou as terras do Governo Paraguaio para revender para o povo que estava ali, os posseiros, mas não aparecia brasileiro nenhum. Era os militares que administrava as fazendas. A imobiliária deles era dentro do quartel mesmo. Todo mundo desconfiava. O povo pegou a despencar, a despencar... Porque tinha que pagar e não podia. Tinha que desocupar, (brasiguaio) Os produtos cultivados para a exportação - soja, algodão, hortelã - sofrem com os mecanismos de ajustes das transnacionais. A queda nos preços desestimulou os pequenos proprietários, que começaram a vender as terras a qualquer preço ou até as abandonavam. 3. Arrendatário: em geral, esta relação de trabalho se dá em terras já desbravadas. As famílias fazem contratos com os donos da terra por períodos de 1 a 3 anos, pagando 20% da produçío ao proprietário e 5% ao comissário da polícia paraguaia. O imigrante brasileiro é obrigado a ter um permisso, renovável a cada 3 meses. O Além da questío de regularização da terra e da extorsão da produção nos contratos de arrendamentos, os colonos ainda são muitas vezes submetidos a trabalho forçado. Tal é o caso de Waldomiro Henriques, 32 anos, que ficou 5 anos em Porto Adela, Paraguai. Ele conta que nos dois primeiros anos — juntamente com outros brasileiros — era obrigado, por um tal capitão Ayalla, chefe do destacamento local, a trabalhar pelo menos um dia por semana, de graça, na limpeza do quartel ou no sítio desse oficial: Quando a gente faltava um dia, era obrigado a trabalhar oito dias seguidos, e os milicos armados iam buscar a gente em casa. Uma vez, mais de cinqüenta brasileiros ficaram presos por oito dias no sítio desse capitão. Então, nós conseguimos apoio do consulado brasileiro e fomos numa turma de mais de quinhentos brasiguaios até o sítio do capitão. Quando o capitão viu autoridade brasileira no nosso meio, ficou encarregado e mandou todo mundo embora. Aí, nós nos livramos desse trabalho escravo. Mas, para compensar, passamos a pagar 5% da nossa produção para o quartel. Ou melhor, para o capitão e a turminha dele1. A questão da comercialização é outro grande problema. Em abril de 1986, os colonos vendiam um saco de arroz em casca de 60 kg por CzS60,00, enquanto um pacote de 5 kg, no supermercado, custava CzS40,00. Mesmo o colono tendo uma boa produção, a renda obtida é insuficiente para sua manutenção. Quando entrei era sertão, não tinha pra quem vender um produto. Depois que colonizou, que foi entrando o comércio, não tinha preço. Tem um porco pra vender, não vende. O produto não adianta plantar, porque a gente não tira pra despesa de colher dele. Nunca sobra pra gente adquirir um pedacinho de terra pra trabalhar. E agora chegou o aperto de um lado e outro, sobre documento, sobre outra coisa, pra lá e pra cá, uma coisa e outra. Então não se agüenta mais, não tira pra comida. Então a gente se obriga a sair pro nosso Brasil, pra ver se a gente adquire um pedacinho de terra. E se PROBLEMAS DE DOCUMENTAÇÃO de arrendamento, ameaçando, muitas vezes, os pequenos proprietários e arrendatários até de perderem o ano agrícola. Até o momento, não existe uma pesquisa ampla que retrate as reais condições de vida dos brasileiros no Paraguai. Por isto, torna-se difícil saber quantos estariam dispostos ou na iminência de retomar ao Brasil. Entre os brasiguaios acampados, é freqüente ouvirmos falar que não ficará nenhum brasileiro no Paraguai, que a saída de todos ou da maioria é só uma questão de tempo. Apesar de ser apenas uma intuição por parte daqueles que estão saindo, acreditamos que ela tem*-um fundo de verdade, já que é uma avaliação frente às condições de vida dos colonos brasileiros no Paraguai. A tendência que se esboça é, portanto, realmente um fluxo intenso e contínuo de retorno ao Brasil. 7 Folha de São Paulo, 22. setembro. 1985. o 42. 4. O MITO DA TERRA último valor era de Cz$60,00 por pessoa (abril de 1986). Além disto, pagam ainda a livreta, imposto que dá direito a transitar. O valor é diferenciado por tipo de veículo: a pé, de bibicleta, de burro, de carro. Como os colonos não têm condições financeira de manter em dia todas estas taxas, estão sempre ameaçados pela polícia. Se vai preso, só é libertado mediante o pagamento em dinheiro ou a entrega de bens. Há inúmeras histórias de famílias que perderam seu parco patrimônio — porcos, galinhas — para soltar um parente ou amigo da prisão. Além destes problemas, os brasileiros ainda sofrem com a falta de uma assistência médica, tendo que recorrer sempre ao Brasil. Há também uma falta total de escola. Os depoimentos dos brasiguaios evidenciam muito as restrições legais (documentação) e perseguição policial; porém, isto não pode se esconder como mera hostilidade nacionalista. O que está em jogo é a defesa do projeto capitalista, que se implanta ali, sob a conivência dos comissários, autoridades paraguaias, com os empresários brasileiros, latifundiários. O camponês sem terra do Paraguai no Brasil e o camponês sem terra do Brasil no Paraguai são vítimas da mesma exploração. As tentativas de organizar a produção alternativamente em cooperativas de pequenos proprietários foram infrutíferas, pois as mesmas passaram a defender os interesses dos grandes. As cooperativas - Copasagur, Agrochaco - restrigem a venda de sementes á apresentação do documento da terra, título ou contrato Convivendo com os brasiguaios, fica evidente o sonho de todos pela terra, onde possam sentar raízes e criar seus filhos. Este sonho vem sendo perseguido em sua história migratória. A gente chega, não tem terra de ano em ano, nós ia passando, nós ia nas safra de algodão e soja no terreno dos fazendeiros. Quando a gente arrumava a terra, então tem que ir para diante, pois fica bom de passar o trator (...) Até hoje estou lutando assim. Estou aqui ver se no dia de amanhã a gente possa morar num pedacinho de terra (brasiguaio). O que há com a terra? Está cativa, presa ao projeto capitalista, desde a invasão e ocupação européias. Terra cativa significa povo desterrado, disperso, desorientado. Na agricultura brasileira, ao mesmo tempo que há um processo de transformação do colono, arrendatário, parceiro e pequeno proprietário em bóia-fria, há também, devido à imensidão do país, uma incorporação de novas terras, através da ocupação da fronteira agrícola. A busca da terra é uma forma de lutar para não tomar-sc bóia-fria, trabalhador que fica sem raiz e sem rumo, ao perder o vínculo com a terra. Quem não tem terra não sabe se vai morrer hoje em cima de uma colocação e não pode dizer se vai morar dois anos. Já nasceu tatu. Essa é a vida do volante. O patrão dá a conta prá ele. Ele tem que sair _ para arrumar outra terrinha para morar, os filhos pra trabalhar. Não tem parada nenhuma. Quer dizer: se o pobre não tiver o que criar da terra, porque a terra cria de tudo, cria a lavoura, as criações, aí tem conforto. E de bóia-fria, como é que nós pbntamos? Nem um pé de cebola para preparar uma comida. Não tem condição, (brasiguaio). QUINZENA TRABALHADORES A exaltaçffo à terra se contrapõe à condição de bóia-fria, trabalhador completamente expropriado, dependendo exclusivamente do salário para a sobrevivência. O brasiguaio é um povo que experimentou várias migrações no Brasil, sempre pelejando por uma terra de trabalho. Algumas vezes caindo na cidade ou sujeitando-se ao trabalho de volante, formas que lhe foram impostas e nunca aceitas. Mas o seu sonho, o seu desejo mais profundo, está colado à terra, fonte de vida, no seu sentido mais amplo. A busca da terra é também uma luta contra o tomar-se operário na cidade;/! vida de empregado é cansada. Então em toda vida, se eu moro na cidade como eu já morei, tem vez de eu sonfiar estar cortando melancia no meio do arroz pra chupar, colhendo abóbora. Isto tudo é um sonho pesado, sabe... E no outro dia trabalhava na fábrica, naquelas máquinas, nervoso, com vontade de ir embora. E eu falava prós companheiros: eu vou embora, eu vou embora. E quando eu pegar a minha carteira com o patrão, invés de ele assinar com alta que nem prometeu que pagava o salário, vem com um salário abaixo, rebaixando a minha carteira. Eu peguei enraivei, pedi minha conta na hora e vim embora, (brasiguaio). Para o camponês, a terra não é so meio principal de vida, mas tambe'm sinal, significado, sentido da vida. Há uma relação estreita com a natureza. £ ela que, além de fornecer o meio principal de sobrevivência do homem, ainda comanda toda a organização da vida. Define o dia e a noite, o ritmo do trabalho, o jeito de produzir nos vales, nas montanhas, na planície, no seco, no úmido. Os animais de criação do camponês são rodeados de um cuidado e carinho especial, pois são parte inseparável de reprodução da família. A organização do trabalho da família e as festas culturais e religiosas obedecem ao ritmo da natureza, como exemplo o dia de São João, comemorado na Região Nordeste por ocasião da safra. 0 contato íntimo do homem com a natureza na vida camponesa faz com que o significado místico da vida tenha uma presença determinante na própria vida concreta. Quando se corta a ligação do homem com a terra, transformando-o em bóia-fria ou operário na cidade, destrói-se pela raiz toda uma organização de vida baseada na relação do homem com a natureza e se impõe uma organização comandada pelo ritmo do capital, ou seja, um ritmo que obedece primordialmente à necessidade de aumentar os lucros dos patrões, através da intensificação da exploração do trabalho. Pelos vários depoimentos apresentados, vimos que os brasiguaios são um povo que traz no coração o sonho da terra e vive, no seu peregrinar, a busca dessa terra. Assim, a permanente procura da terra representa uma forma de resistência a se tornarem meros trabalhadores volantes, andando de um lado a outro, mendigando um emprego subhumano, ou a migrarem para a cidade, submetendo-se a um ritmo de vi- acampadas em Mundo Novo, 147 em Sete Quedas e mais 78 em Naviraí, todos no Estado de Mato Grosso do Sul. Depois de 6 meses, os acampados de Mundo Novo foram assentados no município de Ivinhema. No Projeto de Sete Quedas, em junho de 1986, 150 famílias foram assentadas e 300 continuam acampadas. da que lhe rouba a liberdade, na maioria das vezes em condições de sobrevivência ainda inferiores ás do campo. A ida para o Paraguai representou mais uma etapa neste peregrinar em busca da terra. A gente tinha que viver rolando assim por não ter um pedaço de terra prá traballiar. E a notícia do Paraguai era boa. Aí a gente foi indo, foi indo, até que cruzou a fronteira pro outro lado. (brasiguaio). E mais uma vez o sonho se desfez em ilusão. O projeto do povo brasiguaio defrontou-se com o projeto do grande capital. No Brasil ou no Paraguai, o colono é utilizado apenas como um meio de valorizar a mercadoria terra, destruindo qualquer possibilidade dela se tomar a fonte de vida para milhões de desterrados. Cada avanço do capital vai significar o enterro do sonho do camponês. Enterra, porém não mata. O sonho camponês inqueita e perturba as certezas e verdades do dominador. Os brasiguaios se rebelam contra a exploração e opressão sofrida no Paraguai e perseguem o seu velho sonho — a busca da terra, agora de volta à pátria natal. Esta vez é bem diferente das anteriores, pois não seguem mais o rastro dos fazendeiros do café do Paraná ou das coionizadoras brasileiras no Paraguai, mas se inspiram no exemplo de seus irmãos no Brasil, conquistando a terra, através da união e organização. 5. ACAMPAR É A SOLUÇÃO O agravamento das condições de vida, aliado à acentuação do sofrimento e perseguição sofridos pelos brasileiros no Paraguai, fez com que se iniciasse um processo de organização entre as famílias de brasiguaios. Eles dizem que a vontade de voltar ao Brasil começou a crescer quando ouviam pelo rádio que o governo estava fazendo a reforma agrária. O contato permanente dos brasiguaios com os municípios de fronteira fez com que tomassem conhecimento do Movimento dos Sem Terra no Estado do Mato Grosso do Sul. Pressionados por tantos fatores de expulsão, os brasiguaios decidem caçar terreno de roça no seu país, de onde foram expulsos. A romaria dos desterrados se avoluma, a conjuntura política de promessa de Reforma Agrária bole com a precisão do povo. Os primeiros acampamentos ocorreram em julho de 1985. Foram 940 famílias O retorno dos brasiguaios continua. Alguns se alojam em casa de parentes, amigos; outros, engrossando o contingente de bóias-frias, seguindo o roteiro da fronteira agrícola, se dirigem para a região Norte, principalmente Mato Grosso e Rondônia. Em abril de 1986, fruto da continuidade da organização das famílias brasigunias, novo acampamento é organizado em Mundo Novo. No dia 19 de abril de 1986. 10 representantes de 4600 famílias, com o apoio de algumas entidades, conseguiram uma audiência com o ministro da Reforma Agrária e Desenvolvimento, Sr. Nelson Ribeiro. Aí deixaram claro que, com apoio ou não dô governo brasileiro, as famílias voltariam para o Brasil. Dizia uma brasiguaia: Gostaria de saber se o governo brasileiro mi nos receber como bandidos ou como filhos. Apesar da promesa de apoio do Ministro, os brasiguaios sofreram a perseguição da polícia paraguaia c brasileira e o impedimento por parte do Prefeito de Mundo Novo de fazerem o acampamento neste município, no mesmo local do acampamento de 1985. O primeiro caminhão que saiu do Paraguai na madrugada do dia 25 de abril de 1986, com 6 famílias, foi barrado pela polícia paraguaia, que ameaçou de bater de chicote nas famílias. Depois de muita conversa, as famílias conseguiram prosseguir viagem. Em Mundo Novo, depois de ter armado as barracas no terreno ao lado da Prefeitura, a polícia chegou a mando do Prefeito, ordenando a desmontagem das barracas e expulsando os brasiguaios para o município vizinho de Eldorado. Um outro grupo de famílias que havia chegado dias antes e acampado no terreno de um amigo, em Mundo Novo, sofreu três prisões de chefes de família e mais do dono do terreno. As famílias montaram o acampamento ao lado da Prefeitura e foram despejados violentamente, onde crianças e mulheres nâo escaparam dos socos, puxões de orelha, pontapés e ofensas morais. Os brasiguaios foram, então, obrigados a acampar no município de Eldorado, vizinho a Mundo Novo. A polícia paraguaia e a brasileira, sabendo que havia um número grande de família (em torno de mil) dispostos a acampar, intensificaram o controle na fronteira, desde a cobrança de taxas absurdas - é o caso de um caminhão de que a polícia paraguaia cobrou CzS2.000,00 para liberar a passagem — até a proibição de cruzamento da fronteira, fazendo com que o ^ TRABALHADORES QUINZENA caminhío retornasse à origem. Dentre os perseguidos, os mais atingidos s5o os líderes, na fronteira e nos lugares públicos, que tiveram estampados seus nomes e ás vezes suas fotos, como se fossem bandidos. Um artigo da Follia de São Paulo de 22/09/85 dizia: estõo voltando os últimos exilados. Ao contrário dos primeiros, eles não são esperados nos aeroportos com aplausos, bandas de nnislca e faixas de boas-vindas. Não há aviões nem aeroportos. Eles voltam em caminhões, carroças e até mesmo a pé. Referia-se ao acampamento de 1985 em Mundo Novo. Agora, no acampamento de abril de 86, os brasiguaios nío só foram exilados de sua terra, como estSo sendo violentamente impedidos de retomar a ela. Assim, sffo tratados nffo como filhos desta terra, que ajudaram a erguer com suor e sangue, mas como bandidos. Mas a precisão e a decisão de sair do Paraguia é maior do que qualquer repressão imposta pelos militares daquele país, e os brasiguaios conseguem furar os esquemas de controle, seja passando por outras fronteiras, seja vindo de forma espalhada, e vão engrossando o número de acampados. No dia 15 de junho de 1986, o acampamento no município de Eldorado já contava com 150 famílias e a perspectiva é que continue crescendo. É o que dizem os acampados que esperam ansiosos por seus irmíTos que ainda estío sofrendo no Paraguai. A chegada contínua de famílias representa uma vitória para os brasiguaios e para os trabalhadores sem terra do Estado do Mato Grosso do Sul, pois e uma prova de resistência às ameaças do governo do Estado em impedir por toda força o surgimento de novos acampamentos. A alegria de cada caminhão que chega, trazendo 5 ou 6 famílias, e estampada no semblante sofrido, cansado mas esperançoso deste povo que ainda encontra ânimo para continuar buscando a vida. A chegada ao acampamento e' a primeira grande vitória, comemorada com rojões. Os brasiguaios, ao acampar como forma de reivindicar a reforma agrária, tomam o único caminho eficaz para conseguir a terra. Já em 1979, os bispos preconizavam esta solução. O Encontro de Pastoral das Migrações Limítrofes, que reuniu em Foz do Iguaçu, de 3 a 6 de julho de 1979, os bispos das dioceses limítrofes da Argentina, Paraguai e Brasil, contando com a presença de D. Ivo Lorscheiter, Presidente da CNBB, concluía taxativamente: que a CNBB atue junto ao governo brasileiro para que este tome providência no sentido de solucionar no Brasil mesmo os problemas demográficos brasileiros, através de uma adequada reforma agrária, e uma correspondente política econõmi- oa-agrària em beneficio do povo1. Passaram-se 7 anos e a Reforma Agrária nío chegou para solucionar a situação dos brasiguaios. A única saída foi, portanto, inspirar-se no modo dos trabalhadores sem terra fazer a reforma agrária. A volta ao Brasil representa a integraçSo real à sua pátria, já que nunca se sentiram parte do Paraguai, convivendo sempre com a sua dupla personalidade de brasiguaios. Porém, a forma como retomam dá um caráter muito mais amplo do que uma simples reintegração à pátria, pois trata-se de uma luta por uma fixação real e definitiva na terra. É uma forma de ocupar um espaço não meramente geográfico do Brasil, mas um espaço de fato, onde possam garantir condições dignas de vida para si c seus filhos, fixar raízes, fazer cultura e assim se tornarem verdadeiros cidadãos, com direitos econômicos, sociais, culturais, jurídicos e políticos. 8 DWNGELIS, W.R. e MAZZAROLLO, J.: "A Migração Brasileira no Paraguai", in Cadernos da Comissão Justiça e Paz do Paraná, ano 2, n. 2,junho 1981, p. 21. *A Autora é pesquisadora do CEM Centro de Estudos Migratórios 'ímmrnm. ECONOMIA O Globo - 22.03.87 Quem continua com medo da recessão? Aloysio Biondi 0 estado de pânico em que a sociedade brasileira passou a viver, desde o final de 1986, chegou ao seu auge em princípios de fevereiro. Previsões catastrófistas, surgidas diariamente de todos os cantos, não deixavam por menos: o País caminhava para niperinflação e para a hiper-recessão. Na época, esta coluna procurou demonstrar que nenhum dos dois fenômenos era inevitável, como se apregoava: a inflação poderia até cair em fevereiro, e a recessão pode- ria ser evitada através de medidas do Governo. Em ambos os casos, as ponderações desta coluna estão plenamente confirmadas: a inflação de fevereiro ficou abaixo dos 14%, contra os 20% ou 25% previstos pelos catastrofisfas. E, na quinta-feira, o Governo anunciou medidas para evitar que a política adotada nas últimas semanas para "esfriar" a economia (agradando aos credores internacionais) passe dos limites desejados desembocando em recessão. 0 caminho escolhido pelo Governo para evitar a desaceleração violenta da economia é bastante óbvio: devolver parte do poder de compra à população, de forma direta e indireta. No primeiro caso, houve a redução da cobrança do Imposto de Renda na fonte, que deixará mais dinheiro para consumo, ao reforçar os orçamentos familiares. No segundo caso, de aumento indireto do poder de compra, enquadra-se a ampliação do número de prestações nas compras a crédito, que estava limitado a quatro pagamentos mensais, e agora pode chegar a até doze, pagamentos. Alguns líderes empresariais e analistas consideraram as medidas do Governo muito "tímidas" e insuficientes para reverter o quaàro de queda nas vendas e nas atividades econômicas, desenhado a partir de fevereiro último. Será mesmo? Na verdade, o Governo não poderia ter avançado mais, sob o risco de criar problemas dentro da economia, como a volta ao "consumismo" e novas pressões inflacionárias. A verdade é que, ao contrário do que diziam e dizem os "catastrófistas", já existiam, dentro da economia brasileira, vários fatores capazes de impedir uma recessão. Entre eles: o "gatilho salarial", que, a partir do momento em que foi acionado pela primeira vez, em janeiro último, passou a devolver poder de compra a população; ou a correção monetária para os preços mínimos da agricultura, que mantém a renda do interior a níveis estabilizados; ou a queda dos preços de alimentos básicos (carne, frango, verduras e legumes) a partir da segunda quinzena de fevereiro, pesando menos nos orçamentos familiares. A esses fatores, concretos, viria somar-se um outro, já no começo de abril: a injeção de mais dinheiro, no economia, por parte do Governo, com maior aisponibilidade de crédito para as empresas e possível redução nas taxas de juros (um dos fatores de desaceleração no consumo, por parte da população, e de redução nos negócios, por parte das empresas, nas últimas semanas). Por qué haveria essa mudança? Conforme já se explicou, o Governo reduziu emissões, provocando um "aperto" no crédito, nestes primeiros meses do ano, aplicando a tradicional cartilha do FMI, para "esfriar" a economia e evitar que os preços explodissem na I^^Í^^^^^^^W^Í^^V^ív:^:^ ECONOMIA QUINZENA fase de passagem do congelamento de preços para o realinhamento geral. A partir de abril, porém, essa política tenderia a ser abrandada devido ao início do período de comercialização de novas colheitas, que exige a colocação de bilhões e bilhões de cruzados à disposição do setor. Resumindo: já existiam, dentro da economia, condições reais ou em perspectivas para provocar o revigoramento do ritmo dos negócios. Ao optar por medidas destinadas a reanlmar o consumo, o Governo precisaria, mesmo, dosá-las cuidadosamente, sob pena de perder o controle da economia. Mesmo porque as conseqüências concretas das decisões são, talvez, menos importantes do que o efeito psicológico que elas tendem a provocar. No clima de "catastroflsmo" em que o País tem vivido, era essencial que o Governo demonstrasse, através dos atos, que não está disposto a atirar o País em uma re- cessão, procurando, ao contrário, evitá-la. É é esse o significado das decisões. Para os chefes da família, empresários, donas-de-casa que viveram apavorados pelos "catastrofistas", nos últimos meses, resta a conclusão: em economia, não se deve acreditar somente nas análises emocionais, que vivem acenando com o caos. Correio Braziliense 22.03.87 FGV já registra evidência de que a recessão começou WALTERDIOGO Correspondente Rio — O diretor de Pesquisas da Fundação Getüllo Vargas, Jullan Chacel, disse ontem que já existem evidências de que o Pais Iniciou uma fase de recessão e atribuiu a queda de produção de vários setores industriais à falta de matériasprimas, componentes, partes e peças Importadas, e as altas taxas de juros. Segundo Chacel, a política de contenção das Importações que o Governo vem adotando desde outubro, para garantir saldos comerciais positivos e reduzir as perdas de reservas cambiais, demorou a Influir na economia. Mas agora já deu frutos e ficou evidente com a escassez de produtos para atender o setor industrial e a tendência de queda gradativa da produção. "Mesmo que o Governo libere com certa agilidade as importações necessárias ao setor industrial, a escassez ainda vai afetar as atividades durante um certo tempo, porque as empresas estão sem estoques. As empresas vinham consumindo quase todos os estoques disponíveis e acumulados no ano passado. Agora vão reduzir as atividades produtivas", comentou. Para Chacel, a inflação tende a diminuir nos próximos meses como conseqüência da recessão. Ele observou que as taxas de juros estão elevadas e já provocaram uma queda brusca no consumo. A união desses dois fatores — taxas de Juros elevadas e a falta de produtos Importados — está provocando a desaceleração da economia e também a queda das taxas de Inflação. Na sua opinião, as medidas adotadas pelo Governo, na última reunião do Conselho Monetário Nacional —• aumento do prazo de financiamento de bens e estímulos para Investimentos no mercado acionário — não são suficientes para reativar a economia. Chacel estima também que a infiaçã deverá declinar nos próximos meses como conseqüência dessa deliberada recessão que o Governo está provocando por alguns meses. Ele acredita que a taxa de inflação de março será bem inferior à de fevereiro, mantendo-se a tendência de declínio acelerado até junho. "Não faço previsões mensais porque isso resulta em grandes erros. Acho que o Pais não está vivendo uma fase de hlperinflação. Basta observar que centenas de produtos industriais que ficaram sem aumento durante lü meseí'estão sendo reajustados na base de 35 a 40 por cento. Nesta fase de realinhamento a taxa de Inflação é elevada. Depois virá um período normal. Com a economia desaqueclda e sem muita matéria-prima, as empresas não tentarão grandes aumentos de preços. A tendência da inflação é cair", comentou. Segundo Chacel, o melhor exemplo é a indústria aulomobilistica, cujos aumentos autorizados pelo CIP não conseguem ser aplicados. Ele cita também como exemplo a queda nos preços dos imóveis e dos aluguéis. A dívida externa passada a limpo Joelmir Beting O Senado vai colocar hoje em órbita uma comissão especial com vocação para CPI. Ela vai investigar os miolos da divida externa e colocar o Congresso Nacional em posição de participar, futuramente, da renegociação dos contratos da divida no calibre dos interesses nacionais. Principal articulador da comissão, o senador Carlos Chiarelli, líder do PFL, diz que o Senado deve não apenas sondar o que nos espera na esquina da moratória, mas também repassar o que o Brasil fez ou deixou de fazer com os US$ 107 bilhões da divida externa. A comissão pretende convocar —e íem poderes para isso— ministros dos governos anteriores, começando por dois ilustres constituintes do PDS: o senador Roberto Campos e o deputado Delfim Netto. Quem deve abrir a fileira dos depoimentos, para falar do futuro e não do passado, é o ministro Dilson Funaro. Um teto baixo O sufoco cambial da divida externa, com ou sem moratória parcial, impõe como teto para as importações de 1987 alguma coisa ao redor de US$ 8 bilhões —na impossibilidade que temos de duplicar as exportações. Folha de São Paulo 18.03.87 O desafio, no caso, é político: como enxugar as compras externas pela metade sem assumir o risco da recessão interna ? Até para aumentar a produção agrícola —que substitui importação e amplia a exportação— é preciso importar adubos e produtos químicos. A indústria em geral depende da importação de matérias primas, componentes e produtos finais. E os estoques estão praticamente zerados. O suspiro é de um assessor do ministro João Sayad: a pauta de importações do Brasil é de baixo teor de compressibilidade. O supérfluo e o postergável representam menos de um décimo das compras lotais. E a economia brasileira não está com a corda da auto-suficiência para contentar-se com importações equivalentes a apenas 2,5% do PIB. Com recessão? Com ou sem moratória, o ajuste de fora para dentro, por exigência do serviço da dívida, é recessivo por natureza. Os projetos do Plano de Metas, no setor público, estão sem garantia de recursos. A poupança interna, além de curta, é mal reciclada. Ela se localiza no sistema de crédito e não no mercado de capitais. E com os juros no alto e em alta, esse recurso interno, além de insuficiente, é o mais caro do mundo para investimento. A contagem regressiva da recessão já foi liga da. Pode ser ira vada ? Uma tentativa Converíer um (erço da dívida externa em títulos brasileiros de sele anos com rentabilidade real de 3% ao ano é o sonho dourado do economista Stephen Charles Kanitz, assessor especial da Seplan para assuntos da dívida externa. Os títulos brasileiros seriam colocados, de preferência, nas carteiras dos fundos de pensão dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Tais fundos, entendidos como instrumentos de "socialização" da acumulação capitalista, totalizam um patrimônio mastodônlico de centenas de bilhões de dólares nos dois lados do Atlântico Norte. Na Alemanha Ocidental, os fundos de pensão, patrimônio dos trabalhadores, controlam 54% do capital social da indústria germânica. Kanitz acaba de consultar 240 fundos americanos e europeus. A maioria diz que faria posição em títulos brasileiros. • :ÍIÍÍÍÍE|:|Í1Í ^■k£^y^'*w. ■■■>y.'<->y<^^ QUIN2 v- > ECONOIVTIA ÍNA Salários e dívida externa Folha de SSo Paulo, 2^.03.87 DOMINGO Z. ÓCIO Existe atualmente um dilema claro entre a manutenção do nível de emprego e dos salários, incorporando os ganhos trazidos pelo Plano Cruzado, com saldos comerciais reduzidos, insuficientes para cobrir as despesas com os juros da divida externa, e a opção por uma política de ajuste convencional que exigiria a redução dos salários reais e do consumo interno, capaz de gerar superávits muito maiores. A primeira alternativa exigirá a renegociação adequada da divida externa e contra ela se levanta a ira dos credores e o pensamento conservador político e econômico. Contra a segunda estão os trabalhadores; os sindicatos; a maioria da sociedade que sentiu os benefícios do Plano Cruzado; os partidos de esquerda, inclusive a moderada, e os segmentos sociais mais progressistas que há muito tempo, mesmo sem serem iconoclastas, clamam por reformas que tornem nossa sociedade um pouco mais justa. O quadro n" 1 demonstra que a partir do início da recuperação da economia no segundo semestre de 84, os salários reais de todas as categorias profissionais subiram significativamente. Em omédia este aumento foi de 9,4% no I trimestre de 85. Já Desta vez o aumento geral da renda do trabalho promovido pelo Plano Cruzado parece ter sido especialmente democrático pois os elevados percentuais também se aplicaram às categorias inferiores da estrutura ocupacional, operários e trabalhadores dos escritórios. Contudo não houve a tão celebrada redistribuição de renda. A profunda disparidade na distribuição da renda do trabalho permanece inalterada, como o mostra o quadro n" 2, e o mesmo se poderia dizer da distribuição funcional da renda. Os benefícios dá recuperação econômica são mais significativos em relação ao emprego do que em relação à distribuição da riqueza. Em dezembro de 84, os operários não qualificados do setor formal-moderno recebiam em média 3,5 salários mínimos e em setembro/outubro apenas 3,2. Os qualificados passaram de 6,5 mínimos para sete, no mesmo período, um aumento de 7,7%. Já o aumento dos ordenados de direção c gerência em salários mínimos foi de 20,6% e 8,7% respectivamente. Estas breves referências indicam que mais uma vez os ordenados cresceram à frente dos salários nas fases de expansão e se nas de recessão podem cair mais intensamente, seus detentores são no segundo semestre o conjunto apresenta uma queda real de 2,4%, devido provavelmente à aceleração da inflação que começara o ano no patamar dos 200% a.a. para acabá-lo no limiar dos 250%. No relatório de março de 86, que inclui as correções impostas pelo plano de estabilização, os salários reais das dez categorias são em média 11,6% superiores aos de dezembro. Se a este número adicionarmos o aumento do emprego e das horas extras trabalhadas, teremos a explicação para o crescimento da massa real de salários que, segundo fontes oficiais, girou em torno de 20% a 25% nos doze meses contados desde o último trimestre de 85. No período de março a setembro/outubro de 86 as remunerações reais do trabalho permaneceram relativamente estáveis, registrando para as empresas da amostra uma ligeira elevação de apenas 0,4%, o que parece contradizer a opinião geral de que, apesar do congelamento de preços, os salários continuaram subindo. O emprego e a quantidade de horas trabalhadas continuaram em ascensão, porém os salários nominais apenas acompanharam os preços, o que também é comprovado pelo índice de salários reais da Fiesp. Quadro n.0 i ÍNDICE DE SAÍ .ÀRIO REAL POR CATEGORIAS PROFISSIONAIS Categorias Profissionais Diretores Gerentes Chefes de Administração Chefes de Produção (Mensalistas) Chefes de Produção (Horistas) Técnicos Trabalhadores de Escritório Operários Qualificados Operários Semi-qualificados Operários Não-qualificados Variação média em relação ao período anterior Dez 84 Junho 85 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,18 1,19 1,13 1,18 1,04 1,09 1,05 1,07 1,11 0,90 % 18 19 13 18 4 9 5 7 11 -10 9,4 Dez 85 % 1,19 1,08 1,06 1,12 1,09 1,00 1,02 1,00 1,08 1,12 Março 86 0,8 -9,2 ■6,2 -5,1 4,8 -6,4 ■4,8 0,9 0,9 0,0 -2,4 1,27 1,23 1,20 1,24 1,19 1,19 1,12 1,21 1,17 1,05 % 6,7 14,0 13,2 10,7 9,2 16,7 12,0 12,0 4,5 16,7 11,6 Set/Out. 86 1,34 1,21 1,24 1,29 1,21 1,18 1,12 1,18 1,16 1,00 % 5,5 •1,6 3,3 4,0 1,7 -0,8 0,0 ■2,5 -0,8 -4,8 0,4 Amostro de 85 empresas, em médio, da Indústria de Transformação Deflotor: 1NPC para todos os períodos, exceto poro Setembro/Outubro 86 qdo. foi usado o IPC Foote: PRIL - Pesquisas em Relaçies Induslriais Lida Quadro n.0 2 DISTRIBUIÇÃO DA RENDA DO TRABALHO POR CATEGORIAS PROFISSIONAIS EM NÚMERO DE SALÁRIOS MINI [MOS DE CADA PERÍODO Categorias Profissionais Dezembro 84 Junho 85 Derembro 85 Março 86 Diretores Gerentes Chefes de Administração Chefes de Produção Mensalistas Chefes de Produção Horistas Técnicos Trabalhadores de Escritório Operários Qualificados Operários semi-Qualificados Operários não-Qualificados 54,4 28,8 16,0 16,1 10,5 11,5 5,5 6,5 4,6 3,5 56,9 30,1 15,5 16,9 9.4 11,7 5,1 6,3 4,4 2,9 60,2 28.5 15,2. 16,7 10,0 10,6 5,0 6.5 4,6 3,1 57.1 29.1 15.4 16.5 9.8 11.3 5.0 6.5 4,3 3,1 Fonl«: PRIL-Pesquisas em Relações Industriais Uda Setembro/ Outubro 86 65.6 31.3 17.3 18,8 10,6 •. 12,1 5,4 7,0 4,7 3,2 % no período 20,6 8,7 8,1 16,8 1,0 5,2 ■1,8 7,7 2,2 -8,6 Salário Médio do Período em n.0 de Sal. mínima Sal base 18,61 58,80 9,35 29,56 5,03 15,88 5,38 17,00 3,18 10,06 3,62 11,44 1.65 5,20 2,08 6,56 1.43 4,52 1,00 3,16 m^m IVÍ^IN r; "- »v. .v;<-. .%•-■: -. ' v ^ : :^^:^L^::.x:o^::;■:-^::^^^:^:::■:■^:■;■:■:•:■^:■x^-:-■ :■:■:■:.:■::■: m *svKsviiS,isvis'iss^s-»i%^% ■»;■;•;■> :vXvM-x% v '.■A:-:-.-:-. "■•■•íüJ •■■■■■ QUINZENA menos afetados pelo desemprego. Diríamos que na recessão o índice de salários dos operários está superestimado pois nSo incluí o salário menor dos que passaram para o setor informal, ou o salário nulo dos que perderam o emprego. ECONOMfA das ocupações, são proporcionalmente muito elevados. Acreditamos que a manutenção do crescimento econômico é fundamental para preservar os ganhos conseguidos nas relações de trabalho. O ajuste da economia não deverá passar pela recessão. Os salários baixos deverão incorporar os ganhos de produtividade aos quais poderão incorporar-se benefícios sociais sob a forma de salário indireto, financiados com impostos sobre as rendas mais elevadas. No momento a tentativa de Com relação à estrutura salarial, estimada pelo salário médio do período em número de salários mínimos ou em salários de base (o salário do operário não qualificado do setor formal-moderno), verificamos que as disparidades entre as dez categorias relacionadas são marcantes e permanentes,, o que pode caracterizar uma estrutura hierárquica rígida com escassa mobilidade social, ou ampla segmentação do mercado de trabalho. De uma forma geral os salários dos operários, que representam aproximadamente 70% do quadro de funcionários, são muito baixos, ao passo que os ordenados da alta administração, com 1,5% a 2% enfrentar a crise externa com políticas de estabilização convencionais nos parece ineficaz devido à imensidão dos valores devidos, à exiguidade .dos prazos e às tendências desfavoVáveis do comércio internacional, além de temerária do ponto de vista político e social. Provavelmente haverá maior apoio político para um confronto além-fronteiras do que intramuros. DOMINGO I. ÓCIO. 39, é prolesiof do Fundoçâo Gorülio Vorjo» (SP). Credores podem perder até 60%do patrimônio Levantamentos realizados por escritórios de contabilidade dos Estados Unidos mostram que os grandes bancos americanos têm no Brasil parcelas importantes de seu patrimônio líquido (ver tabela). O Citicorp, o Chase Manhattan, o Bank of America, o Manufacturers Hanover e o Chemical podem perder 50% ou mais de seu patrimônio líquido na hipótese remota de todos os empréstimos serem declarados como de difícil recuperação (moratória de fato). Fatalmente, esses bancos quebrariam ou ficariam tão debilitados que perderiam a posição de liderança que ostentam no mundo financeiro há 30 anos. Na hipótese menos dramática de só 30% dos empréstimos ao Brasil serem declarados como de difícil recuperação, a perda desses grandes bancos iria de 15 a 20% de seu patrimônio. Fontes dos principais escritórios de consultoria estrangeiros no Brasil reconhecem como praticamente impossível a mudança na legislação bancária americana para permitir maior flexibilidade na absorção dos problemas gerados pelos créditos ao Brasil. As normas contábeis gerais aplicadas a instituições financeiras e empresas comerciais e industriais são fixadas pelo equivalente ao Instituto Brasileiro dos Contadores (Ibracon), o Financial Accounting Standards Board (Fasb). Em primeiro lugar, os bancos são obrigados a constituir reservas para ris- A posição dos principais credores • O■ CM <N «3 SC O n > 0 IA ü Grandes bancos Citicorp Chase Manhattan Bank of America Manufacturers Hanover J. P. Morgan Chemical Bankcrs Trust First Chicago % em relação ao patr imônio liquido 50,8 57,3 67,4 61,1 37,0 45,7 32,2 33,6 Créditos ao Brasil em US$ milhões* 4.600 2.800 2.723 2.200 1.900 1.425 876 789 Bancos regionais Wells Fargo Security Pacific Firsl Interstate Norwest Texas Commercn First Bank System Bank of New England First Wachovia C itizensand Southam Suntrust 621 685 503 175 110 102 76 52 25 20 26,5 20,3 18,2 13,4 9,5 7,2 8,5 4,4 2,3 1.4 Fonle: Donatdson, Lulikin & Jenretle, dados em 30 de setembro de 1986. ' Exclui operações em cruzados leitas por fíliais o controladas no Brasil. : .■ -ir-yyXi ■MM cos de transferências. Quando as reservas são inferiores às perdas, os bancos devem fazer provisões para perdas em empréstimos. Nos EUA, os efeitos de um risco mal tomado podem ser descritos aos acionistas de três formas: • Disclosure. E a revelação completa das operações com o Brasil, incluindo tomadores finais e condições de iuros. • Non aceruai status (no caso da suspensão do reconhecimento das receitas de juros, que se aplicaria a uma moratória mais demorada sobre o pagamento). As operações entram em fase em que o simples disclosure de sua natureza não é suficiente. Mas também não é o caso de declaração de perdas. • Loss. As perdas são registradas quando há redução dos juros sobre o montante da dívida a vencer; postergação (ou capitalização) dos vencimentos com juros inferiores à taxa de mercado, ainda que com a contratação de um novo crédito; e com redução do montante dos juros considerados até então (capitalização) ou do valor original para a liquidação do empréstimo. No balanço de 31 de dezembro do ano passado, tiveram de ser considerados como perdas 90% dos créditos ao Sudão; 85%, à Nicarágua; 75%, ao Zaire; 50%, á Bolívia; 45%, à Polônia; 40%, à Libéria; e 30%, ao Peru. Se o Brasil estava em dia com o pagemento de seus encargos quando suspendeu em fevereiro o pagamento dos juros, as exigências do Fasb podem se limitar à abertura de informações sobre fííiíiíííííífíHíííífíi y.-y.-y.-y.wy.-y.-y/.' mmmmmmíi QUINZENA os contratos. No dia 31 do março, no entanto, us bancos precisam concluir o primeiro dos quatro informativos trimestrais aos acionistas sobre 1987. Tais informativos não são auditados. Mas os ECONOMIA 18 bancos não poderão deixar de reconhecer perdas que tiverem ocorrido sobre os ativos reconhecidos até 31.12.86. Os especialistas em balanços de bancos estrangeiros acreditam que o período entre maio e agosto - a partir de O plano de Sayad e as lições de sua queda EDUARDO MATARAZZO SUPLICY Na primeira parte deste artigo, publicada na edição de ontem, observamos que o Plano Sayad se constituía num avanço político na medida em que (1) propunha as linhas de um projeto de lei para ser debatido pela sociedade civil antes de ser aprovado pelo Congresso Nacional, mas que (2), por outro lado, contém um tratamento assimétrico com relação a salários, preços e aluguéis. A diferença de tratamento é, pois, a seguinte: os trabalhadores têm os seus salários reajustados com uma defasagem de três meses em relação aos preços; os proprietários do capital têm a sua remuneração reajustada de maneira concomitante aos salários. O que, em suma, coloca a proposta de Sayad próxima dos programas estabilizadores da Velha República. Obviamente, fazendo o crescimento dos salários se defasar em relação %os preços, mantendo-se uma política de minidesvalorização ao ritmo, pelo menos, da variação dos preços, cria-se a condição de competitividade crescente das exportações. O custo de produzir os bens exportáveis estaria se defasando em relação à remuneração dos empresários exportadores. Desta maneira se produziria o saldo na balança comercial e as condições de pagamento do serviço da dívida. Mas justamente aqui vem a questão omitida por Sayad: quanto da dívida deveremos ou não pagar? quando estourariam os prazos de 90 dias para que os juros em atraso não forcem a declaração das opereções a que se referem como perdas - será a fase mais crítico da renegociação. Foiha de sao Pauio 20.03.87 -^ICM» CAS li S#1 O Senado Federal está instalando uma comissão para justamente discutir a natureza de nossa divida externa. Seria importante que a Câmara dos Deputados, ou melhor, que o Congresso constituinte destrinchasse todos os aspectos da dívida externa brasileira, revelasse os abusos cometidos, as condições de super-remuneração dos credores internacionais, para que então chegássemos a uma decisão soberana com grande respaldo. Qualquer programa de estabilização dos preços e de crescimento vai ter que considerar este ponto que passou a ser o principal da pauta de conversações entre Brasil e Cuba. È de se temer, entretanto, que aquela comissão do Senado, presidida pelo PFL, só coloque panos quentes nos mais graves procedimentos perpetrados pelos administradores de nossa dívida externa nas últimas décadas. O ex-ministro João Sayad incluía ainda um procedimento de estrito controle monetário e do déficit público que daria muito maior força ao Congresso Nacional. Pois, a cada quatro meses, caso o Banco Central não seguisse as diretrizes de aumentar a oferta de moeda, consideradas as variações sazonais, de acordo com a variação do IPC, acrescido de fator proporcional ao crescimento estimado do PIB, estaria a sua direção sujeita à moção de censura pelo Congresso, o que poderia acarretar a sua substiluiçao pelo presidcnti- da República. De fato, como o cx minis tro sabe porfeitamente quo as decisões de polilica monetária estão sob o controle do ministro da Fazenda, esta proposta significaria Colocar este último, seu companheiro de Ministério, sob a possibilidade de sofrer a moção de censura pelo Congresso Não propôs o equivalente para o seu próprio poslo no que diz respeito aos desvios da proposta orçamentária. O que obviamente deve ter contribuído para a sua substituição. Fica. entretanto, um saldo O ministro Dilson Funaro. da Fazenda, está com a responsabilidade de propor um plano alternativo, de pronto. Que siga o procedimento de amplo debate prévio e evite o decreto-lei. (OUAROO MATABAIIO SUPtlCT 4i àvuloi i-m líc*H><n..l pelo UmvPf^-dode de M.eh.gon (£UA1 c prolunof MutOf "a iundotòo Oen/1'0 Vo<90, lSf| Io' depuiodo li-.ferol pw Soo Paulo e ómombiodo tiecuiivo Nocioool do P' POLíTICA NACIONAL O velho front Senhor 17.03.87 A Marinha e o Exército saem dos quartéis. Os inimigos são, mais uma vez, os movimentos sindicais Antônio Carlos Prado' O Exmiio c a Marinha saíram cios quartns, tom uma inovimcntacão de tropas cm todo o Pais jamais vista ilcstlc o golpi' tit' 1964. Os primeiros protagonistas dessa guerra loram os luzilciros navais. Eles haviam sido manchetes de jornais, pela última vez, em marco cie 64, c|uanclü, amotinados, exigiram a renúncia do então ministro Sílvio Mota. Embora reprimidos pelo Exército, ao qual se entregaram a pedido do presidente João Goulart, os lu/ileiros navais altanc.aram seu 'Colaboraram:Joié Carloi Dardawil e liara Violli, de Brasüia, ejoáo Carloi Leal, do Rio objetivo: Silvio Mota loi demitido. No último domingo, dia 8, servindo ao governo sucessor do regime autoritário que derrubou Goulart, eles voltaram a ser noticia - só que, desta vez, no papel de repressores. Por ordem do ministro da Marinha, almirante Henrique Saboia, 1.300 fuzileiros navais ocuparam os principais portos do Brasil, intimidando a greve dos 40 mil marítimos deflagrada no dia 27 de fevereiro e que chegou a paralisar 177 navios em toda a costa brasileira. A senha que detonou a ocupação dos portos pelos fuzileiros foi dada 24 horas antes, com o julgamento da ilegalidade da greve dos marítimos pelo Tribunal Superior do Trabalho. Ocorrida a oiupacão, 4S horas depois, na teica-leira, dia 10, loi a vez do Exérc ito sair às ruas e tomar dez relinarias e seis centros produtores de petróleo no Pais. O pedido de iniciveiicão militar, nesse caso, loi QUINZENA listo pelo presidente cia Peirobrás, O/ires Silva, e pelo ministro das Minas e Energia, Aureliano Chaves. No mesmo dia em que a greve dos marítimos era julgada ilegal, o ministro-diele do SNI, generaJ Ivan de Souza Mendes, lamentava, segundo o jornal 0 Estado de S. Paulo, 3ue a sociedade se tornara "reivinicatória demais". Na ter^a-feira, ao mesmo tempo em que as refinarias eram ocupadas pelo Exército, milhares de proprietários de tena bloqueavam estradas, atravancavam o trânsito de cidades em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, e fechavam portas de bancos com seus tratores e máquinas agrícolas. A onda reivindícatória englobava, na verdade, desde a greve dos marítimos e o temor de que viesse a oconer urna paralisação dos petroleiros até as manifestações dos agricultores e o lockaul dos donos de postos de gasolina. Pela ação do governo, porém, depreende-se que por "reivindicHtória demais" ficou entendida, mesmo, somente o movimento dos marítimos e dos petroleiros - não se tem notícia de que a repressão tenha andado nos calcanhares dos agricultores ou nos dos proprietários de postos. Assim, o País viveu, na semana passada, dias bastante agitados. Ao determinar a invasão dos portos pelos fuzileiros, o ministro Sabóia ancorou-se a um entulho autoritário: a distinção entre greves reivindicatórias e políticas onde, no final das contas, todas são condenadas como políticas e, dessa forma, ilegais e passíveis de repressão. No caso dos petroleiros, a condenação se deu sem que ao menos eles estivessem em greve. Se já no episódio dos marítimos não se justifica a repressão, a ação contra os petroleiros foi no mínimo um nostálgico delírio baseado num novo eufemismo. "Todas as refinarias do País estão ocupadas pelo Exército por determinação superior", disse o ministro do Exército, general Leònidas Pires Gonçalves. "Essa greve não é política, mas tem conseqüência econômico-social." A\ greve à qual o general Leònidas se referiu era, até quarta-feira passada, um dia depois da ocupação das refinarias, um mero arremedo. Por quererem um aumento de 94,4296, o mesmo que a Pctrobrás deu aos técnicos superiores, os petroleiros ameaçavam com "operações tartaruga" e "operações de vigília", nas quais não abandona- POLÍTICA NACIONAL riam o local de trabalho quando encerrados os seus turnos. Foirnas das mais primárias de mobilização, mas que foi o bastante para o Exército cercar com tanques de guerra. canos blindados, bazucas, morteiros c homens armados de metralhadoras refinarias em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Sergipe, Bahia c Ceará. Ao agir assim, o governo acinou os ânimos e a própria disposição de luta dos petroleiros. "É impossível negociai- com os trabalhadores acuados pelo Exército", declarou o presidente do sindicato das cidades paulistas de Paulínia e Campinas, Salvador Boteon, que viu desfilar diante de si mais de 19 tanques. "A nossa primeira exigência é a retirada' das tropas, caso contrário será deflagrada uma greve imediatamente." Também para o presidente do Sindicato dos Petroleiros de Mauá, Elid Ferreira, os trabalhadores não aceitam os 65% oferecidos pela Petrobrás. Reunidos na sede do Dieese, cm São Paulo, oito dos 16 sindicatos da categoria existentes em todo o Brasil decidiram manter suas reivindicações salariais e exigir a retirada das tropas. Se isso não acontecer. Peneira considera que os 55 mil petroleiros do País não hesitarão em cruzar os braços. A primeira manifestação concreta de greve aconteceu na quinta-feira, na Replan, em Paulínia, onde trabalham 1.200 petroleiros. O impasse ao qual se chegou diante de uma greve sequer consumada parece ter sido causado pelo pouco tato do presidente da Petrobrás - o que mostrou, mais uma vez, que a questão social no Brasil. passa antes pela mira de um fuzil do que pelo gabinete do ministro do Trabalho. Segundo fontes do Palácio do Planalto, Ozires Silva procurou Aurelinao Chaves para confessar suas preocupações. Não é de hoje que toda vez que um assunto chega aos ouvidos de Aureliano chega também aos gabinetes militares. Depois dcouvirem Aureliano, os ministros fardados bateram à porta do gabinete do presidente Sarnev com a solução - ou seja, deveria haver intei-venção. Assim, Sarncy teria tomado conhecimento de tudo, v tudo autorizado, na segunda-feira, numa conversa com o ministro do Exército, general Leônídas. Se numa .democracia verdadeira o ministro Almir Pazzianotto seria o primeiro a tratar da questão, na Nova República ele foi o último a saber - e, quando procurado, não lhe informaram da intervenção mas apenas lhe perguntaram quais seriam as conseqüências de uma ocupação das refinarias pelos petroleiros. Pazzianotto indicou o caminho do bom senso: o da Justiça do Trabalho. Obviamente, era impossível segui-lo, já que nada estava acontecendo: nem greve, nem ocupação. Prevaleceu o vício da força. Um dia depois da ação do Exército, o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Jair Meneguelli, reconhecia que, se todas as decisões de intervenção militar, dos fuzileiros navais e tio Exercito, tivessem antes passado pelo crivo de Pazzianotto. 'certamente não teriam ocorrido". \J presidente da Petrobrás preleriu, de certa forma, primeiro pór as tropas nas ruas para depois ver se haveria gueira. O certo é que ele conseguiu aquilo que, geralmente, se atribui às lideranças sindicais: radicalizar as posições. Os petroleiros passaram então a falar abertamente em greve geral. E Ozires Silva, que suspendeu a intervenção cm refinarias como as de Cubatão, Mataripe, Alberto Pasqualini c Manaus, para 24 horas depois ocupá-las novamente, matinha-se até a última quinta-feira muito distante do diálogo. "Nossas respostas serão à altura da provocação deles", afirmava Ozires. E, veladamente, lançava um desafio: "Eles ameaçaram com vigília e paralisação, nós respondemos com intervenção das tropas. O próximo passo é deles. Espero que seja de concórdia." Diante do fantasma da greve e da realidade das inteivenções, vozes do passado vieram em socono das medidas arbitrárias. O ex-chefe do ^ POLÍTICA SNI, general Octávio Medeiros, declarou que faltava pulso forte ao governo mas depois negou que sua frase tivesse como enderet;o o governo de José Sarney. Já o expresidente João Figueiredo, que deixou o governo pela porta aos fundos do Palácio pedindo para que o povo o esquecesse, animouse a sair do ostracismo nos últimos dias para apoiar as intenenções. Enquanto a situarão dos petroleiros continuava indefinida, os marítimos, apesar de verem seu movimento relluir para 150 navios paralisados na quarta-feira, mas, ainda assim, causando um prejuízo de cerca de CzS 500 milhões aos armadores, insistiram na greve. Passados os dias mais diliceis, quando, isolados nos navios, não recebiam nem água nem alimentação, conseguiram manter-se organizados. Em Santos, 270 tripulantes de dez navios engrossaram a "operação andorinha", com a qual ameaçam os annadores de se demitirem coletivamente caso oconam represálias. No Rio de Janeiro, onde a Companhia Vale cio Rio Doce demitiu tripulantes de três de seus navios, os grevistas contaram com passeatas e manilestações de apoio a seu movimenio. Na quima-leira, duas companhias de navegação, a Global e a Fleumar, rompiam a unidade dos patrões concedendo aumentos de 120%. V^s principais portos tomados pelos fuzileiros navais lòram os de Santos, Rio de Janeiro, São Sebastião, Salvador e Paranaguá. Mas, a exemplo dos petroleiros, a força militar não intimidou a maioria dos grevistas. Após cinco horas de reunião com o ministro Pa/zianoito e o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação, Meton Soares Júnior, na quarta-feira, no Tribunal Regional cio Trabalho do Rio de Janeiro, as lideranças dos marítimos recusaram os 80% oferecidos por Meton. Segundo o presidente da Federação Nacional dos Marítimos, Mauricio Santana, "não obiivemos nada de concreto". E, mesmo depois dos acordos isolados, a greve continuava na quintaliara, nas 42 empresas ligadas ao Sindicato Nacional das Empresas de Navegação, na Docenave, na Fronape e no Lloyd Brasileiro. Os 120% concedidos pela Global e pela Flumar se tomaram a nova referencia para as negociações. O ministro do Trabalho, porém, voltou a reiterar que não pretende intervir nos sindicatos que ainda estão em greve. "A inteivenção é uma lei velha e improdutiva na prática", diz Pazzianotto. Para os annadores, o fato mais lamentável é que os ministros do Trabalho e dos Transportes tenham demorado tanto para reconhecer o "estado de greve', o que só ocorreu na quarta-feira de cinzas, enquanto o movimento havia se iniciado quatro dias antes. Legitima para os marítimos, que pleiteiam 150% de aumento e já conseguiram quebrar a unidade dos annadores, a greve é, para o ministro Henrique Sabóia, 'um atentado contra o povo brasileiro, pela forma irresponsável como vem sendo conduzida e urna vez que já foi decretada ilegal pela Justiça do Trabalho". Saída de Brasília para todo o País, a intervenção dos fuzileiros navais e do Exército repercutiu nas duas maiores centrais sindicais do Brasil. Mas a CGT está inais preocupada com a suspensão do pagamento dos juros da dívida externa. Seu presidente, Joaquim dos Santos Andrade, enviou aos Estados Unidos o presidente do Sindicato dos Lixeiros de São Paulo, Roberto Santiago, para ler uma mensagem sua no Congresso americano contra a política de "espoliação" dos países credores. Por intermédio de seu assessor de educação, Valmir Dantas, a CGT considera porém que a intervenção militar "vicia a democracia". Para o presidente da CUT, Jair Meneguelli, a atuação do governo em relação aos marítimos e aos oetroleiros "mostra que nada mudou do regime anterior para o NACIONAL atual"! , "A rigor, as coisas estão piorando", diz Meneguelli. "Antes, havia um processo de discussão. Agora, vem a intervenção antes que a greve aconteça." Para o presidente da CUT, a atuação dos militares pode ser entendida, também, como uma forma de marcar, osicnsivamciuc, sua presença na hora em que alguns constituintes querem discutir o verdadeiro papel das Forças Armadas no Brasil, "que deve ser o de cuidar da delesa externa e não agredir os trabalhadores". Outro objetivo, segundo Meneguelli, é o de intimidar as categorias que começam suas campanhas salariais, principalmente os metalúrgicos do ABC de São Paulo, a região operária mais combativa e organizada do País. iMão dá mais para ninguém suportar e o povo não se intimida com repressão", diz o presidente da Cut. Assim, para ele, nada impede aue, no dia 2 de abril, quando toas as centrais sindicais se reunirão em Brasília, sejam novamente retomados os planos de uma greve geral. "A greve é a arma que nos resta. E o caminho do sindicalismo brasileiro é de pelo menos lutar com ela nas categorias que estão organizadas", afirma Meneguelli. Entre essas categorias estão os bancários do Banco do Brasil e os 450 mil funcionários públicos federais, que pretendem parar no próximo dia 24. Para o presidente do PT, o deputado federal Luís Inácio Lula da Silva, o mais votado do País em 15 de novembro passado, as intervenções militares fazem parte de uma estratégia conservadora do poder para ameaçar a própria Constituinte. "Ela mostra que os militares estão aí mesmo e isso assusta muita gente", diz Lula. Já no Congresso, o vice-líder peemedebista Ibsen Pinheiro, do Rio Grande do Sul, subiu à tribuna para justificar as intervenções. Conseguiu desagradar até mesmo setores moderados do PMDB. "Não há regime 'democrático que sobreviva ás greves, se elas significam a ocupação das fábricas, porque isso é revolução e não democracia", disse Ibsen Pinheiro. Mais realista do que o príncipe do Planalto, ele alertou para o fato de que nenhum trabalhador fora molestado ou preso, e concluiu que as Forças Armadas têm responsabilidade com a ordem, "desde que subordinadas ao poder civil". Tal poder à paisana, no caso, é o presidente Samey, amparado pelas Forças Armadas. v : SÍÍ-X-I-X-A-;-; ■:-:-:■:■:■;■; .■■■:■:■:■:■:■:-:■:■■ :■::•:■:■■,:■:■:■:■:■.■:■:■■.■ ■ . x^^■^:•:■:■:■:■:■:■:■:■:■;■:■:■;■:■:-:■;■:■:■:■:■;■:■:-^:■;■:■;■: POLíTICA NACIONAL QUINZENA Os tanques do fracasso Senhor 2^.03.87 Quando tudo fracassar no Brasil, mande os tanques. Esta, pelo menos, foi a reação do presidente Samey, que ordenou a presença do Exército em dez refinarias de petróleo no dia 10 de março para que não fossem ocupadas por trabalhadores em greve. A Marinha não loi deixada de fora: os fuzileiros navais tomaram conta de 1! dos portos do Pais no dia 7 de março, depois que uma greve de •10 mil marinheiros mercantes deixou 180 navios descanegados encalhados no porto. As duas greves envolvem salários, e ambas mostram como a economia do País deteriorou-se desde que o antünllacionário Plano Cruzado fracassou no íinal de l!)8í). Os marinheiros enuaram em greve porque receberam uma oferta de um aumento nominal de salário de 108% e queriam 27.)% (a inllação está eni cerca de 400% ao ano); os .51 mil trabalhadores de relinarlas entraram em greve porque queriam um aumenio de 71% e em vez disso receberam uma oièrta de 38% da Petrobrás, a companhia estatal de petróleo. As greves não lèm objetivos Sinais de turbulência Relatório Reservado 16.03.87 Nada foi articulado. Mas a velocidade com que os fatos ocorreram revela um estado de espírito reinante em setores das Forças Armadas. A volta à cena do presidente Figueiredo, que desistiu de ser esquecido, o rompante do general Medeiros, que criticou o regime e o presidente da República, a entrevista do coronel políticos; mas são peças de um movimento de protesto contra a política econômica do governo, ou a falta desta. No mesmo Um de s e in a n a, os m a r i n h e i r o s mudaram-se para os poiios; cerca de 70% dos postos de gasolina no Estado de São Paulo lóram lechados por seus proprietários que exigiam o dobro de suas margens de lucro; e cerca de um milhão de agiiculiores proiesion no dia 10 de março contra a polilica de caie do governo. Knquanio o ministro da Fazenda, sr. Dilson limaro, iiiz turismo pelas capitais do mundo desenvolvido inutilmente buscando apoio para um "novo caminho" para os problemas da divida externa brasileira, o planejamento econômico em Hrasilia está em um estado de suspensão temporária de funções vitais. O sr. Sarnev usou o Exército pata ajudar a manter a ordem durante as greves de dezembro. Talvez se encontre dependendo cada vez mais dos soldados á medida que cnmeça a impor austeridade de qualquer maneira sobre uma economia iôra do controle. Brilhante Ustra e o desfile de tropas nas refinarias dão um recado claro: os duros hibernam, mas estão vivos; os mecanismos de força estão desativados, mas disponíveis. Os sinais da turbulência foram detectados por quem se ocupa da crônica diária sobre a área militar. Três oficiais, de Forças diferentes, ouvidos por esta coluna, foram unânimes em qualificar a ocupação das refinarias, por exemplo, como demonstração de força, desprovida de base técnico-militar mas plena de sentido político: a importância .v;^.;^':":^-:' ''' ''"':'::":';::x;::;'xvXv COò600^^^*j da força armada como instrumento de dissuasão indispensável à ordem interna. Uma espécie de demonstração endereçada à Constituinte. No episódio Medeiros, que se somou ao caso Ustra, algo mais delicado esteve em jogo: o instável equilíbrio entre correntes de opinião dentro do Exército, administrado até então com êxito pelo ministro Leônidas. Desativando a face repressora da comunidade de segurança, ocupando com seus próprios homens espaços habitados pelos duros e usando a ordem natural das promoções, o ministro arbitrara a paz interna, base de sua liderança, que esteve ameaçada. Foi a revitalização da teoria do porrete, idóia-força do ex-chefe do SNI, e a ressurreição de Figueiredo que motivaram o tom do discurso de Sarney, lembrando que prudência não é fraqueza. Na opinião dos três observadores, as palavras do presidente e o desmentido de Medeiros recompuseram o equilíbrio, o governo absorveu o golpe. Negando publicamente o que todo mundo sabe que ele disse, o general se autopuniu - o efeito do desmentido é desmoralizante -, evitando para o ministro até o desgaste da punição. O estado de espírito das correntes que se opuseram à transição, no entanto, foi revelado. E, concordam as três fontes, a disposição de revelá-lo, em quatro oportunidades distintas, não foi fortyita. Há mais gente, principalmente no Exército, que gostaria de se manifestar. Novos fatos virão. A militarização das greves 00 ■ PAULO SÉRGIO PINHEIRO O A Comissão independente que o governador José Aparecido O nomeou em Brasília para inves—« tigar os saques e tumultos em 27 de CL novembro do ano passado conclui que nenhuma entidade promotora da maO nifestação foi responsável pelos cri% minosos atentados. Apesar de não O terem sido identificados os baderneiros, seií perfil é de um grupo n organizado, com prováveis articulações com interesses insatisfeitos com a democratização. Pois bem, uma das principais recomendações desse relatório, refletindo sobre os riscos 1 ■.-.•.- r.- .-.■.-, v;'.-:v.> .■■•■■.■■• .----•.■. .-Xv^v^XwxV ■:■;■:■:■:■: ■;■:■: aue envolvem provocações, como a do "badernaço", é que o Estado não empregue as forças armadas para reprimir, ou mesmo simplesmente policiar, manifestações populares. O raciocínio da Comissão é cristalino : qualquer atrito entre manifestantes e forças militares pode ter conseqüências imprevisíveis, assumindo significados que hão convém à transição. Ora, ao contrário dessa ponderada e sábia reflexão temos assistido o generoso emprego das forças armadas em greves, com aparato que mesmo a ditadura (pelo menos na última fase) se pejava mostrar. Na última greve geral, com soldados com armas em riste ocupando a Central do Brasil e tanques nas ruas, no Rio, as fotos não se distinguiam de cenas de 1964. Levando-se em conta que, por mais valorosos que sejam os jovens recrutas, sua . familiaridade com as multidões é muito menor do que contingentes policiais enquadrados nessas tarefas. Com ar muito à vontade. Volta Redonda também foi ocupada militarmente e, em São Paulo, a Cosipa. Se o pretexto era a greve geral, aqui, os operários em Cuba tão, nem em greve estavam: a extemporânea invasão militar quase provoca, sim, um protesto por parte dos trabalhadores que há décadas não assistiam tais cenas. Na visita do presidente José Sarney a Itaipu vimos a utilização de carros de combate para conter grevistas, tarefa que a Polícia Militar poderia ter dado conta: um excesso de zelo dispensável. Agora nesse sábado assistimos a ocupação dos portos e dos navios atracados por fuzileiros navais, a chamada "operação greve-mar". Confesso cristalinamente que não tenho intenção de estabelecer nenhuma polêmica com o minsitro da Marinha. Sua Exa. tem demonstrado estar tão interessado na consolidação da democracia como todos os brasileiros. Portanto não se espantará com algumas perguntas sobre o cerimonial que em todas as democracias precedem essas ações militares. Ninguém contestará a gravidade da situação e a responsabilidade, que todos apreciamos, da Marinha pelos portos brasileiros. O que as democracias capitalistas, há pelo menos meio século, têm nos ensinado é que greve de marítimos não se acaba à força. Os EUA, a Inglaterra, a Espanha, a França, sazonalmente estão expostos a greves igualzinhas à que está ocorrendo no Brasil. Nesses países e em outras democracias, o recurso à força militar para lidar com o conflito sindical é algo que ocorre nas fronteiras do apocalipse. Levando a sério a nossa transição, assaltou-me uma terrível dúvida: declarada a ilegalidade da greve dos marítimos, é automática a ocupação militar dos portoáí Como curioso dos conflitos sindicais me inquieta saber em que dispositivo da lei civil se baseou o governo' para determinar a instalação do virtual estado de guerra nos portos. Estamos em estado de sítio e não avisaram? A situação, como todos os leitores e todas as leitoras hão de convir, é enorme. Porque a intervenção militar transforma um conflito sindical num confronto militar. Qualquer sinM$MM dicalista que não acate ordens de fuzileiro está automaticamente enquadrado no desrespeito às forças armadas. Pergunto-me se é possível em plena vigência das liberdades democráticas impedir o direito de circulação dos tripulantes dos navios, alimentação, seu direito de reunião e cercear, como foi feito, o direito de informação da população. Essas perguntas podem parecer filigranas irritantes, inconvenientes: se elas não puderem ser respondidas ficarei me perguntando com meu colega Jânio de Freitas: transição, para onde? A greve dos marítimos foi classificada como "um atentado contra o povo brasileiro pelo modo irresponsável como vem sendo conduzida". Geralmente os trabalhadores são irresponsáveis e os empresários sempre modelos de responsabilidade. Gostaria de conhecer melhor, discutir, mais a fundo, a atitude das companhias de navegação durante essa greve. Dado o desencontro entre as propostas (as tripulações reivindicam em média 200% e o Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima, Sindarma, oferece 25%) dificilmente a negociação podia caminhar. E não caminhará quando os empresários sabem que no horizonte, estímulo à sua intransigência, podem contar com a militarização do conflito. Vamos resistir que daqui a pouco os fuzileiros chegam. Como está ocorrendo. Na Velha República essas cenas que assistimos no sábado eram corriqueiras. Por qualquer toma lá dá cá essa palHa, greve dos carregadores do porto, mandava-se cruzadores e destróires para Santos. Ah, desculpem-me, estou falando da "primeira" Velha República, a de 1889. Todas essas décadas ensinaram (aqui e no mundo) que quanto mais osTeftfoA^' / oW^i* d/ wi grave e vital o setor atingido pela greve, mais' importante que as partes saibam negociar, empregados e patrões. Caso contrário o famoso critério de "interesse público" vái gervir para greves até dos combativos, já na Velha República, padeiros ou dos dedicados garis. Não é também se ameaçando de demissões os grevistas, como tem feito o antigo ministro da Marinha do governo Figueiredo e atual diretor de transporte da Petrobrás, almirante Maximiano da Fonseca, que a "responsabilidade" aumentará. Estamos todos lembrados da presença cordial e independente do almirante na última etapa da ditadura. Com toda a antiga simpatia, é bom lembrar-lhe que esfacelar movimento grevista à força não pode ser prática da transição democrática. Infelizmente, na democracia, estratégia militar para acabar greve não serve e não adianta. Evidentemente que em vasos de guerra e territórios militares a Marinha que aplique seus regulamentos. No conflito sindical, "sorry", não adianta nada. Melhor ajudar a negociação. È uma pena que a maioria dos nossos constituintes estejam ocupadíssimos na briga de braço do regimento, descrita aqui no domingo pelo senador Fernando Henrique Cardoso. Todas essas perguntas úleverjam estar sendo feitas por nossos representantes. Se não começarem^ se inquietar logo com o respeito à etiqueta da democracia, daqui a pouco será tarde demais e inútil. ■> . PAULO SÉRCIO PINHEIRO. «I, pral«»or d» Ciencio Político *íQ Univ«fildod« Cslodualr'. dé Campinoj (Untcomp). ó. olualmenl». o»ip$»or «special do governo do Estado de São Paulo. A missão interna Afinal 2^.03.87 HERMANO ALVES A coisa mais grave no caso do coronel Brilhante Ustra não é a publicação do livro Rompendo o Silêncio — Oban, DOI-CODI, mas a aprovação oficiosa que ele mereceu por parte do Exército. Que isto tenha ocorrido na hora em que tropas de fuzileiros da Marinha de Guerra ocupavam os portos e tanques do Exército eram fotografados (pela imprensa internacional) diante de refinarias, não passou de uma coincidência. Verifica-se, porém, que há alguns conceitos que as Forças Armadas parecem considerar intocáveis. Um deles, como se depreende da leitura do medíocre livro de Brilhante Ustra, é o de que, UJW^ num momento crítico, pára redução de riscos, podese torturar um prisioneiro revolucionário — ou, para usar o jargão do coronel, terrorista. Esse conceito foi desafiaW mm lliiv ^ ; fiiiiliiiilM ■^:•^:■^;x■^^:o:■^;■^:■^;-^:v^^^^^:•^:■^:■^:■^:^■■^^:■^:^■:■^!■^:■:■^^"^■x■■■^:■^:■^^:■•■ INTERNACIONAL QUINZENA " Paraguai: Grupos Sociais assumem papel de protagonistas na vida política Notícias Aliadas janeiro 1987 n2 I Sindulfo Guerrero "O povo paraguaio terminou o ano de 1986 suportando um recrudescimento da opressão, com quase 50 dirigentes sindicais, camponeses e políticos detidos e incomunicáveis nas prisões da ditadura..." Para os analistas políticos de Assunção, a não habitual escalada repressiva é "um grito desesperado, como de uma fera ferida" que a ditadura emite, tratando de frear o avanço obstinado das manifestações de rua, agravadas pela irreversível decomposição econômica e a participação cada vez maior dos novos movimentos sociais na vida política do país. Recentemente , durante a Semana Social Paraguaia, patrocinada pela Conferência Episcopal, o sociólogo Roberto Céspedes falou da "presença de novos atores sociais" na movimentação da política no país, citando os periódicos e grupos culturais -entre outros- que "lutam por novos espaços políticos". Posteriormente, por ocasião de um amplo debate na "Casa dei Pueblo", sede do Partido Revolucionário Febrensta, o Dr. Carlos Filizzola jovem médico de 27 anos e presidente da Associação de Médicos do Hospital das Clínicas, (dias antes de ser preso) formulou uma dura crítica aos partidos políticos de oposição, alegando que "durante muito tempo eles se mantiveram numa letargia de não nos mobilizar, de nos manter num regime burocrático que em nada favoreceu, durante muito tempo, a todos os setores populares". "O diálogo não foi feito para as ditaduras", enfatizou Filizzola. A ditadura não dialoga com ninguém. Devemos então estar conscientes de que a mobilização e a luta para derrubar a ditadura é o imperativo do momento. E são as lutas dos movimentos sociais que estão forçando uma nova situação e apressando um processo de mudança, acrescentou. A força dos novos movimentos sociais está atualmente concentrada, no setor camponês, no Movimento Camponês Paraguaio (MCP), que reúne a Assembléia Permanente de Camponeses Sem Terra, a Comissão de Familiares dos Desaparecidos e Assassinados do Paraguai, a Coordenação das Mulheres Camponesas e a Comissão de Juventudes Camponesas. Estas organizações conseguiram reunir em várias oportunidades, milhares de camponeses em diversos povoados do interior do país em aberta manifestação contra a ditadura e para reclamar as reivindicações de suas categorias. No plano operário, há anos vem alcançando uma força substancial o Movimento Intersindical de Trabalhadores (MIT), uma organização que nasceu como alternativa à oficial Conferência Paraguaia de Trabalhadores (CPT), que agrupa os principais sindicatgs e associações independer^ tes do país. Do ponto de vista estudantil, acaba de se constituir a Federação de Estudantes Universitários do Paraguai (FEUP), que reúne todos os centros estudantis que escaparam do controle do governo, inclusive setores do próprio Partido Colorado, mas que adotaram uma aberta postura anti-ditatonal. Além do mais, existe uma Coordenação de Movimentos Estudantis Independentes. Mas a lista não se esgota aqui. Também desenvolvem um papel de protagonistas as organizações de mulheres (Mulheres pela Democracia, União de Mulheres Paraguaias, Frente Ampla de Mulheres), os trabalhadores da cultura (como o Movimento do Novo Cancioneiro Popular Paraguaio), as juntas dos grupos populares da periferia, as organizações de direitos humanos e até meios de comunicação como a combativa Radio Nandutí e o diário que foi fechado ABC Color, sem contar os grupos de cristãos progressistas, que atuam com o apoio da poderosa e influente Igreja Católica Paraguaia. QUINZENA do, publicamente, por um admirável herói da 11 Guerra Mundial, oficial francês que serviu junto aos maquis, correndo muito mais riscos e perigos do que os nossos cinzentos burocratas da repressão militarista. Tratava-se do general Paris de La Bollardiere, aristocrata, egresso de Sainí-Cyr. Ele rejeitou a tortura dos prisioneiros na Argélia (terroristas, inclusive) e denuncioua. Tanto quanto o nobre coronel Picquart, que tudo enfrentou na defesa de Dreyfus, sendo perseguido, insultado, preso e marginalizado — simplesmente por ter uma coragem que faltava a companheiros mais oportunistas, conformistas e carreiristas. O prisioneiro, revolucionário ou terrorista, pouco importa, está sob a proteção do seu captor, que é responsável pela sua segurança física e psicológica. Não há coisa mais repugnante do que a tortura. AdolfHitler tinha um prazer todo especial de assistir aos filmes, sobre a lenta morte dos civis e militares que tentaram assassiná-lo e que foram estrangulados com fios de arame ou pendurados em ganchos de açougue. E, no entanto, a começar por outro admirável aristocrata militar, Claus Schentc, conde de Stauffenberg (um católico), eles estavam moralmente cobertos por São Tomás de Aquino e outros generais louvam os oficiais que torturaram prisioneiros(que, recordemos, não torturaram militares...), é a própria Nação que cora de vergonha. A propósito dos marítimos e dos trabalhadores em petróleo, veriftca-se que há outro conceito incompatível com a democracia. As Forças Armadas (a Força Aérea, felizmente, não ocupou empresas de aviação civil em greve) foram utilizadas, depois de apelos frenéticos do coronel Osíris Silva, da Petrobrás, e de outras personagens não identificadas, por ordem do presidente José Sarney. Tudo isso porque os incompetentes órgãos da comunidade de informações (SNI etc.) previram a ocupação dos locais de trabalho, navios e refinarias, por trabalhadores que poderiam cometer atos de sabotagem e depredação. Por definição, a classe operária, seja da CUT, da CGT ou da USI, é o inimigo interno. Um grande banqueiro pode fazer os maiores trambiques, um latifundiário tem o direito de sonegar bois, um industrial pode organizar lockouts, mas o inimigo, mesmo, são os trabalhadores. Exército e Marinha, convocados para enfrentá-los, com armas automáticas, canhões, tanques, granadas de mão, cães ferozes etc. (osfu- POLÍTICA NACIONAL zileiros usaram uniformes de camuflagem para a guerra nas selvas, sem atentar para o ridículo da situação), só encontraram uma justificativa, além do comprimento das ordens presidenciais — que, segundo alguns, vieram depois das solicitações do coronel Osíris. O general Leônidas Pires Gonçalves explicou que a greve podia causar prejuízos sócio-econômicos. As Forças Armadas, pelo visto, ainda não se acostumaram à idéia de que a democracia pressupõe o mais amplo direito de greve, inclusive de funcionários públicos e, como no caso da Holanda, até mesmo de soldados do contingente. É triste mas é verdade. O século XX está para acabar e as Forças Armadas brasileiras ainda'não sabem o que é democracia, muito embora vivam falando nela, para justificar a chamada missão interna. ^sSlSvrj LEIA O ENCARTE ESPECIAL NESSE NÚMERO w :Í:í;.S:í:2 ' ''í*«vs*X^s**'X'>:'X^vA\'>Jv^ X-^-I-.^-^-^-X^^X^/X-X**^ INTERNACIONAL. QUINZENA Equador: mm A RAZãO DA FORCA Quando tudo parecia indicar que a lógica eleitoral come cava a se impor e a condi| cionar a vida política eM quatoriana, um inesperado o | golpe de força colocou país face ao imperativo de dirimir um problema de fundo prévio: a grave crise institucional que afeta seu desenvolvimento democrático 0 golpe de força' aconteceu a 16 de janeiro/87, quando elementos da tropa da Força Aérea (FAE) acantonados na base de Taura seqüestraram o presidente da República , Eng.León Febres Cordero, e sua comitiva, para exigir que fosse libertado o ex Comandante Geral dessa arma castrense, Gen.Frank Vargas Pazzos, detido em razão do conflito militar registrado no mês de março (1986). meiro pretendeu capitalizar a "imagem" de vítima do pre sidente, a oposição reagiuante o fato de que a força se havia convertido na razão última para decidir os destinos do país. "No fundo - notava o Presidente do Congresso Nacional, membro do partido de oposição Esquerda Democrática - o que se produziu hoje foi uma anistia de fato, por que nSo se respeitou a de direito". Kl Naquela ocasião Vargas Paz^ zos dirigiu uma insurreição para exigir a destituição do ministro da Defesa e do Comandante em chefe-do Exér cito, acusando-os de atos de corrupção e de malversação de fundos públicos e de pessoal da Força Aérea. Mas, para chegar a tal ponto, existia uma série de an tecedentes que haviam provo cado tensões entre o executivo e os setores das forças armadas; todos eles relacionados com a atitude presidencial de desconhecer sistematicamente a Lei do Pessal das Forças Armadas afim de colocar na cúpula militar oficiais que apoiam incondicionalmente o seu g(D verno. Em todo caso, controlado o movimento de março, o ex-co mandante da FAE foi preso e passou a enfrentar um julg£ mento por insubordinação militar. No entanto, a 22 de setembro ele foi anistia do pelo Congresso Nacional, mas o presidente Febres Cor dero vetou essa decisão; o que mais tarde iria precip_i tar os acontecimentos de Taura. Ainda que em reiteradas oportunidades o Primeiro Mandatário houvesse manifestado que sob sua administração não se negociaria com seqüestradores, a 16 de janeiro ele aceitou o pedido du seus receptores de conceder a liberdade do general Vargas Pazzos e de não assumir represálias cor^ tra os sublevados. Cabe anotar que, Vargas Pazzos , de seu lado, se considerava seqüestrado pelo regime pois que este não acatou a anistia decretada em seu fa vor pelo Parlamento, como tão pouco o habeas corpus concedido pelo "Alcalde" da capital. Em face do golpe de força na base de Taura, os diversos setores políticos e sociais do país se pronunciaram pela vigência do regime constitucional, condenando o seqüestro. Os termos de seu desenlace, porém, repe_r cutiram numa maior agudização da polarização existente entre o oficialismo e a oposição. Com efeito, enquanto o pri%m-$%;% mmm Por outro lado, o periódico Hoy em seu editorial do dia seguinte ao seqüestro se ex^ primia nos seguintes termos: "Ninguém pode desconhecer que este triste acontecimeji to está situado num processo de deterioração institucional, cuja causa princi pai foi o estilo de governo que não quis admitir ser a pura sujeição à lei, o acatamento das decisões judj^ ciais e o respeito à divisão de funções e atribuições são as únicas bases firmes e duradouras da demo craciaV. 0 critério do que aconteceu em Taura era uma seqüela do autoritarismo governamental e de sua sistemática violação das disposições constitucionais e da falta de re^ peito às decisões das demais funções do Estado, o que levou o Congresso Nacio nal, controlado pela oposição, a convocar um período de sessões extraordinárias para analisar a situação do país e a conduta do Execut_i vo. A EXORTAÇÃO DO CONGRESSO Ao cabo de dois dias de deliberações, o Parlamento se pronunciou por exortar o presidente Febres I Cordero para que renuncie a suas al^ tas funções e providencie a sucessão constitucional. Em função disso, além de enume rar uma série de circunstâ_n cias nas quais o Presidente teria violado a Constitui ção, argumentava: w •VíA-í x--.■>.-.'•:• Stótfiii&àivi-- .^iiiüii',.: :^ :-:^':^:-:-:^^a-Í$y4'^::. .. > ,ü^ ..A^..._.v.—\ .v:-ü^«^';V^íví^^^v;w^si:^v^yiW^V; QUINZENA INTERNACIONAL "Que as violações de normas constitucionais produziram um grave dano ao sistema de mocrático; Que desce o dia em que assu miu a presidência fez dã violência verbal e f£sica um instrumento de governo , que alterou a paz social , dividiu os equatorianos e o país; Que a corrupção se generaH zou afetando seriamente a moral pública; Que não foram levados em consideração os resultados do plebiscito de 12 de junho de 1986, que reprovou a maneira de conduzir o país, sem que tenha corrigido oportunamente a linha de governo; Que os condenáveis aconteci mentos ocorridos na base de Taura privaram o presidente da República da respeitabilidade sem a qual não é pos sível o exercício de tão ai ta magistratura; Que para preservar a paz e a unidade dos equatorianos é indispensável que cesse a perseguição política, se permita a volta à vida demo crática de todos os equatorianos e se produza uma mudança profunda na condução do país. Que a política internacio nal retirou prestígio e iso lou o nosso país no centro das nações; e Que é dever do Congresso,de acordo com a letra e) do Art.59 da Constituição fiscalizar os atos da função e xecutiva e tomar as providências necessárias para a manutenção do sistema constitucional e democrático". Na verdade, do ponto de vis ta formal, este pedido não tinha nenhuma validade; assim sendo, o Parlamento apresentou como uma condena- ção do caráter moral, esperando sensibilizar o primei ro mandatário. 0bviamente7 não foi o que aconteceu: es^ te afastou taxativamente tal pedido escondendo-se atrás considerações legais a nulidade do pedido, mas sem responder às questões de fundo. Em face desta situação, no Congresso existem setores que propõem um julgamento político do Presidente; enquanto este se esforça por demonstrar que é dono da sj^ tuação, a ponto inclusive de comprometer sua palavra de honra de não utilizar ne nhuma represália contra os revoltosos; no entanto, em seguida, com sua permissão não somente dissolveu o gru po de comandos que o seques trou, como ainda eles lá se encontram submetidos a um Conselho de Guerra. Equador : DIREITOS HUMANOS EM ESTADO GRAVE Noticias Aliadas 12.03.87 Quito - Os últimos acontecimentos de Taura, que incluí^ ram o seqüestro e maus tratos do presidente Leon Febres Cor_ dero, em meados de janeiro, perturbaram a vida política do Equador, deixando em suspenso o processo de democratização e a vigência dos direitos huma nos no país. Por causa destes acontecimentos, os vinte organismos agrupados na Frente Equatoriana de Defesa dos Direitos Humanos (FEDHU) reiteraram publicamente sua luta de apoio "pe Ia vigência real dos direitos humanos e de uma democracia onde reine a justiça". Os antecedentes diretos dos acontecimentos de Taura são, sem dúvida, as manipulações da Constituição e da Lei que o governo direitista de Febres Cordero vem fazendo desde 198^, assim como a corrupção, a política antipopuiar e a re- pressão contra diversas manifestações da oposição. Para muitos observadores Febres Cordero colheu ali o que ele mesmo semeara. Pouco antes destes acontecimentos a Comissão Ecumêni_ ca de Direitos Humanos (CEDHU) havia publicado um informe sobre violações de direitos civis e políticos durante 1986. De acordo com os dados apresentados, entre 1985-86 ha via triplicado o número de detenções arbitrárias; duplicado as violações de domicílio; os homicídios cometidos pelos agentes da ordem haviam aumentado em 50 por cento; e a tortura havia sido praticada com maior ou igual freqüência que em 1985. Em 1986, foram mortas 10 pessoas, supostamente militantes do grupo armado Alfaro W ve Carajo, incluindo vários importantes dirigentes. Os familiares destes jovens questionaram as versões governamentais is de que morreram em "confrontos". Segundo testemunhas, Fausto Basantes foi rodeado por um aparato policial ao uor_ te de Quito, ao sair de um taxi, sendo metralhado. A mãe de Arturo Jarrin, morto em ou tubro, declara que o cadáver de seu filho tinha marcas de tortura, confirmado em autópsia. Trata-se, então de "homicídios políticos" cometidos pelo Estado. Nos registros da CEDHU figu ram treze detentos da temível penitenciária do Litoral (Guayaquil), mortos durante o ano de 1986 quando "tentavam fugir", vá rios casos de mortes durante "investigações" do Serviço de Investigação Criminal (SIC); jovens baleados na rua pela polícia; assim como dois novos casos de "desaparecimento", um deles de um catequista da paróquia rural de Chauca, na província de Azuay. Os presos comuns e, em espe ciai indivíduos acusados de pertencer a Alfaro Vive, foram as vítimas mais freqüentes da tortura, porém não as únicas. Os golpes sistemáticos, queimaduras, . descargas elétricas, ameaças de W Üi^^íii^^l^^yyy. mm INTERNACIONAL QUINZENA morte e simulações de execução são os métodos mais freqüentes de tortura denunciados. ^ Entre as 165 detenções arbitrárias realizadas em 1986 e re gistradas pela CEDHU, figuram as de dirigentes trabalhadores da cidade e do campo, de sace^ dotes e de membros da CEDHU. Por outro lado, em 1986, qua tro policiais morreram em confrontos com Alfaro Vive. Uma análise da situação dos direitos econômicos e sociais no país, feita pelo sociólogo e jornalista Gonzalo Ortiz e publicada na Derechos dei Puebio - pu blicação da CEDHU- põe ênfase nos graves efeitos do crescimento do desemprego (12%) e subem prego (50%), e no persistente aumento do custo de vida, chegando a inflação anual aos 28%. Estes fatos, segundo Ortiz, se devem em parte à vertical queda dos preços do petróleo, que de mais de 21+ dólares/barril caiu aproximadamente à metade durante o transcurso do ano. Porém, outro elemento chave foi a aplicação estrita por parte do governo de políticas econôm_i_ cas neoliberais e receitas do FMI, como a flutuação das taxas e do dólar que provocaram estancamento nos setores produtivos, especialmente a indústria; assim como o cumprimento do compromisso da dívida externa (US$ 8.500 milhões, quase .... $1.000 por equatoriano), o que implica que se destina ao pagamento dela ^3% das divisas oriundas das exportações. Enquanto isso, de acordo com dados oficiais, aproximadamente ^0% das crianças do país sofrem de desnutrição; além disso, existem graves deficiências de habitação, de serviços básicos como água, esgoto, eletricidade e escolas. A grave situação social se aprofunda na região amazônica do país pela ususrpação de terras indígenas que o Estado vem efetuando assim como as empresas multinacionais de madeira, petróleo e pala africana, o que constitui um campo propício para maior violência e repressão oficiais. Por enquanto, o movimento Alfaro Vive mostra pouca atividade e pare ce estar num processo de rei^^5^\w*T>*vv<\v;srç*r-:>v^^^^^ organização em vista dos golpes sofridos no ano passado. Não só os organismos internos de direitos humanos como a CEDHU, o Tribunal de Garajn tias Constitucionais ou a Conrm são de Direitos Humanos do Congresso Nacional seguem de perto, com preocupação justificada a situação equatoriana, co mo também, instituições internacionais como a American V/atch, o Conselho de Assuntos Hemisféricos (COHA) e a Anistia Internacional. MAPUCHES NO EXÍLIO Por ocasião da visita do papa 3oão Paulo II ao Chile os índios Mapuche no exílio denunciam sua situação política. Os direitos básicos de vida independente e as terras foram tomados. A autonomia e a autodeterminação e os clamores por justiça foram ignorados. Em documento de 3 páginas (disponível no CPV para xerox) eles denunciam toda sorte de injustiças e violações de direitos humanos contra a nação Mapuche desde a época colonial. AMERICA LATINA 0 MOVIMENTO INDIGENISTA OO Cs > < < Deste ponto de vista, a terra aparece como a reivindicação central. Para dimensionar o seu alcance basta nos referirmos ao Manifesto lançado pelo Conselho Regional Indígena do Cauca -CRIC(Colômbia), setembro de 197^, que assinala: "Para nós, os índios, a terra não é somente um instrumento de trabalho e de subsistência, ela é também o centro de nossa existência, a base de nossa vida, o suporte de nossa organização social, ào mesmo tempo que a origem de nossas tradições e costumes". No entanto, como em qualquer movimento social, sua visão relativa ao futuro não está isenta de ambigüidades, discrepâncias e até mesmo contradições. No mundo andino, por exemplo, alguns consideram que a tarefa consiste na reconstituição do Grande Impe no Inca; outros, ao contrário, pensam que este é um projeto grandioso e cheio de romantismo, mas totalmente fora da realidade, posto que, sustentam eles, assim como não se pode apagar facilmente uma evolução histórica de gVftSS&KÇ^X^ v;:;:x:*::K:5ra--»-v!:x:v: W-íííí;: ;•: ■:::':::;' :-:->:-:':^:::':':-í:'í:V:':W::;^x' QUINZENA varios séculos de duração, tampouco é possível voltar a valores morais e a situações políticoeconômicas superadas. Mas existem também aqueles que receiam que um despertar dos indígenas na cena da história venha acompanhado de racismo e revanchismo. Ao passo que outros consideram que tudo isso não é mais do que uma cortina de fumaça que esconde as ambições de determinados líderes em vista de uma carreira política. Ou então, que se trata de uma manobra de diversão imperialista para debilitar a ação e as perspectivas do movimento popular. Não há dúvida de que um e outro destes ingredientes -romantismo, arrivismo, revanchismo, populismo, manipulação- se encontram presentes nos movimentos indígenas latino-americanos, mas, por acaso, não acontece o mesmo com outros movimen^ tos sociais? O que é certo é que a América Latina vive o que um autor já chamou "o despertar do mundo indígena". Lá pelos meados dos anos 70, um certo número de dirigentes indígenas, considerando que os povos indígenas não deviam mais ser manipulados por governos paternalistas ou reacionários e.que não valia a pena esperar uma evolução nas concepções dos revolucionários latino-americanos, -chegou à conclusão de que estava na hora de criar suas próprias organizações, seja sobre bases puramente étnicas, seja em aliança com a esquerda, mas conservando uma posição independente. Assim sendo, o trabalho organizativo entra na ordem do dia. Na Colômbia é criado o CRIC, no Equador o Ecuarunári, na Bolívia surge o movimejn to indigenista Túpa Katari (MITKA) e posteriormente o Movimento Revolucionário Tupac Katari (MRTK), no Peru o Movimento Indigenista Peruano que não consegue enraizar-se nas comunidades, na Guatemala o Comitê de Unidade Camponesa (CUC)... E já em 1980 (de 27 de fevereiro a 3 de março) realiza-se o Primeiro Congresso do de Movimentos Indigenistas da América do Sul, que dá nascimento ao Conselho Indigenista da América do Sul (CISA). Estabelecidos estes pilares, virá o estabelecimento de estruturas nacionais como a ON1C na Colômbia ou a CONAIE, recentemente constituída no Equador. Para despeito de todos aqueles que durante anos apregoaram o desaparecimento das diferentes etnias e nações em favor de uma gradual homogeneização, confiando quase religiosamente em que o "progresso" absorveria as particularidades das minorias (muitas vezes maiorias) étnico-nacionais consideradas como um produto do "atraso", a América Latina passa por um importante processo de desenvolvimento e consolidação do movimento indigenista. Longe de desaparecer, a questão indígena retomou força nos últimos anos, chegando inclusive a remover muitos pilares da ortodoxia empenhada em retirar importância ao fenômeno étnico, ao mesmo tempo em que ia ganhando em clarificação conceituai e prática. Faz pouco mais de uma década que os povos indígenas entraram numa fase de auto-afirmação e resgate de sua identidade, a exemplo, sabendo ou não, do grito lapidar que lançara Domitila Quispc em Azangaro (Peru): "Se índio foi o nome com que nos subjugaram, índio é o nome com o qual nos haveremos de rebelar". Precisar qual é o peso da população indígena no continente não é uma tarefa fácil. Numerosos INTERNACIONAL governos resistem em mostrar a importância real de suas minorias (ou de suas maiorias) dando-lhes uma definição restritiva. Nestas condições, os índios representam de 12 a 20% da população mexicana, de 36 a 60% no Peru, de 33 a 70% no Equador, de 59 a 80% na Guatemala? Mas, se as cifras comportam discussão, é incontestável que o mundo indígena não dá o braço a torcer. Cada vez mais, as declarações, os manifestos, a criação de organizações políticas, os congressos, etc, se multiplicam de leste a oeste e de norte a sul no continente. Através de todas estas manifestações suas reivindicações são precisas e inquestionáveis: reconhecimento da identidade cultural de seus diversos grupos e reconhecimento de seu direito a autodeterminação. Isto é, respeito e proteção de suas línguas vernáculas; de suas tradições, de seus costumes jurídicos, da medicina tradicional, de suas expressões religiosas e de sua particular organização s-ocio-econômica, como tambesm o respeito e reconhecimento integral à propriedade da infra-estrutura material desta identidade: o solo, o sub-solo, e todas as riquezas colocadas a serviço das comunidades . Sem embargo, o que acabamos de escrever não significa que se trate de um movimento único e homogêneo: são movimentos cujas origens, objetivos e alcances variam consideravelmente de acordo com os contextos nos quais se desenvolvem ainda que tragam em comum sua repulsa à exploração que pesa sobre seus membros enquanto camponeses, como também, a vontade de conservar suas particulares formas de vida e de organização, suas crenças e ritos e toda a bagagem cultural que como povos chegaram a desenvolver. E se hoje se pode falar de "despertar indígena" não é porque essa resistência tenha cessado em algum momento durante estes ^ séculos e meio de colonização, como sobretudo porque sua preser^ ça já naõ se limita ao campo mas começa a manifestar-se também nos centros urbanos e a projetar-se em nível nacional buscando se unir em causa comum com os demais setores populares. A VENDA NO CPV DEBATENDO A REFORMA URBANO Haroldo Abreu e Luiz César Q. Ribeiro Apoio Jurídico Popular e FASE/RJ O processo de urbanização, que vem acompanhando o desenvolvimento capitalista da So^ ciedade Brasileira, criou cidades que são verdadeiros monstros aglomerando milhões de homens em condições de vida brutalmente conflitivas. Um simples olhar nos revela o contraste entre uma minoria que desfruta de todos os direitos e privilégios que as cidades oferecem e a maioria sobrevivendo em periferias e favelas sem qualquer dire_i to de usufruir e/ou dispor da vida urbana. Os dois textos deste caderno debatem esta questão. Sem uma profunda reforma urbana, as soluções apresentadas são paliativas p£ ra os problemas urbanos. Formato meio-oficio, 35 páginas, Cz$ 10,00