GEOGRAFIA – PROF. ADRIANO
1ª SÉRIE – ENSINO MÉDIO
PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS
O globo terrestre é a representação mais fiel do planeta. No
entanto, além da dificuldade de ser manuseado, o globo apresenta
algumas limitações, pois impossibilita a visão de toda a Terra
simultaneamente e sua curvatura acaba dificultando possíveis
medições de distâncias. Assim, apesar da semelhança de forma, o
globo não é funcional para muitas finalidades e precisa ser
substituídos por mapas.
Os mapas, por sua vez, constituem uma representação plana e
reduzida – total ou parcial – da superfície terrestre. Entretanto, a
construção de um mapa apresenta dois grandes desafios:

representar a curvatura do geóide (formato da Terra) num
plano;
 representar as gigantescas dimensões da superfície terrestre
numa folha de papel infinitamente menor.
Para tentar solucionar esse problema geometricamente, a
Cartografia desenvolveu algumas técnicas, conhecidas como
projeções.
Projeção é o processo utilizado para a elaboração dos mapas.
Uma projeção é o resultado de um conjunto de operações que
permite representar no plano, por meio de paralelos e meridianos,
os fenômenos que estão dispostos na superfície da Terra. Em
outras palavras, pode-se afirmar que uma projeção baseia-se na
utilização de uma fonte de luz dentro de um globo transparente. A
luz projeta as sombras dos paralelos, meridianos e outras
características geográficas sobre uma superfície colocada
tangencialmente ao globo.
Esse princípio da
geometria permitiu que
muitos mapas fossem
criados. As sombras
projetadas no plano
facilitam a visualização
e a interpretação do
globo terrestre.
Na projeção cilíndrica, as distorções aumentam à medida que nos
afastamos da região do Equador.
Os atuais mapas-múndi (planisférios) são criados a partir de
uma projeção cilíndrica aperfeiçoada, uma vez que os atuais
instrumentos e técnicas permitem maior precisão.
1.2. Projeções cônicas: Essa projeção consiste em projetar a
sombra dos paralelos e meridianos sobre um cone que envolve o
globo terrestre. Neste caso, destacam-se as seguintes
características:
 somente um dos hemisférios pode ser cartografado;
 as terras mais próximas do polos e do Equador apresentam
maiores distorções;
 as regiões temperadas podem ser melhor representadas.
Essa projeção é muito utilizada para cartografar, por exemplo,
a Europa e os Estados Unidos, pois a maior parte de seus
territórios se encontra nessa região. Por outro lado, não se
recomenda o uso dessa projeção para cartografar países como o
Brasil, localizados nas áreas tropicais do planeta.
CLASSIFICAÇÃO DAS PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS
1. Quanto à figura geométrica empregada
construção (superfície de desenvolvimento)
em
sua
Atualmente, existem mais de duzentas formas de projeções,
com infinitas variações. Para compreender essa diversidade, serão
analisadas as três principais superfícies de desenvolvimento na
elaboração de mapas.
1.1. Projeções cilíndricas: Quando projetamos a sombra das
linhas imaginárias sobre um cilindro que envolve o globo terrestre,
a “esfera” terrestre é transferida para uma superfície plana, onde
são marcadas as coordenadas geográficas (latitude e longitude)
dos continentes e oceanos. Essas projeções apresentam algumas
características marcantes:

a linha do Equador é a única coordenada que mantém a
dimensão original;

os outros paralelos e meridianos são distorcidos, para
acompanhar a dimensão do Equador. Por isso, as regiões
localizadas em altas latitudes, especialmente as áreas polares,
praticamente não são representadas;
assim, quanto mais perto do Equador, menor é a distorção;
nas áreas mais distantes, as distorções são maiores;
na apresentação da projeção os paralelos e meridianos
formam ângulos retos (90°), mas na realidade as linhas são
curvas.


Esse tipo de projeção tem uma utilização restrita no Brasil.
1.3. Projeções planas: também chamadas de azimutais ou
polares, as projeções planas enviam a sombra das coordenadas
para uma folha que toca o globo somente em um ponto. Essa
projeção tem como características principais:



o centro do mapa pode ser localizado em qualquer parte do
planeta; por isso, é utilizada para navegação aérea, já que
permite estabelecer rotas e rumos com precisão.
são comuns as derivações dessa projeção na tela de radares e
outros instrumentos de localização;
é também chamada de polar, pois constitui uma técnica
adequada para representar os polos terrestres, onde os
meridianos aparecerão como linhas retas que partem do
centro do mapa, e os paralelos surgirão como círculos.
visão
eurocêntrica
do
mundo,
acabou
expressando
cartograficamente o etnocentrismo europeu. Durante séculos, foi
uma das projeções mais usadas na elaboração de planisférios.
2.2. Projeção equivalente: é aquela que mantém a
proporcionalidade das áreas em todo o mapa, mas distorce as
formas da superfície terrestre. Esse método despreza a curvatura
da Terra e, portanto, cria uma grande deformação dos ângulos das
coordenadas e das distâncias reais. Sua utilização é quase
exclusivamente voltada para a comparação entre as terras
emersas; esses mapas não devem ser usados para localização ou
para estabelecimento de rumos a serem seguidos durante uma
viagem.
As projeções equivalentes são bastante usadas para mapas
temáticos, que mostram distribuição de cenários, como população,
distribuição de terras agricultáveis etc.
Um dos primeiros a utilizar essa técnica foi James Gall, em
1855, e, posteriormente, na década de 1970, o professor alemão
Arno Peters.
O mapa de Gall
A aplicação dessa projeção é ainda restrita a especialistas e
técnicos da área de navegação e aviação.
2. Quanto às propriedades
relação globo-mapa
geométricas
presentes
na
2.1. Projeção conforme: construída a partir de uma malha de
paralelos e meridianos que se cruzam perpendicularmente, a
projeção conforme é aquela na qual os ângulos no mapa-múndi ou
regional são idênticos aos do globo. Neste tipo de projeção, as
formas terrestres (continentes e ilhas) são representadas sem
distorção, já que sua principal preocupação é manter a posição dos
contornos dos continentes exatamente na latitude e longitude
correspondentes. No entanto, há uma distorção (alteração) nas
áreas dos continentes na medida em que se aumenta a distância
em relação ao Equador. Isso faz com que seja necessária a
utilização de diferentes escalas para o mapa inteiro.
A mais conhecida projeção conforme é a de Mercator (15121594), cartógrafo e matemático belga cujo nome verdadeiro era
Gerhard Kremer. Em 1569, Mercator abriu novas perspectivas para
a Cartografia, ao construir uma projeção cilíndrica conforme que
imortalizaria seu codinome.
Em 1855, o religioso escocês James Gall elaborou um mapa
cuja principal preocupação consistia em retratar as reais
proporções das terras emersas. Ele considerou a Terra uma esfera
perfeita, e por isso sua técnica foi muito criticada, pois no século
XIX a Terra já era apresentada com os polos achatados. Nesse
período a projeção de Mercator e suas derivações eram as mais
utilizadas
pela
Cartografia.
Vigorava
culturalmente
o
eurocentrismo, e qualquer mudança nas relações de dominação
não era bem-vinda.
Assim, podemos afirmar que o mapa de Gall contestava essa
dominação, de certa forma, pois a Europa seria retratada com sua
real dimensão, ou seja, bem menor do que a sua representação
pela projeção de Mercator, por exemplo.
Se a Europa é menor do que sugere a projeção de Mercator, o
que poderiam pensar os povos dominados? Talvez acreditassem
que o continente europeu não é tão forte e que poderiam lutar
contra a sua opressão. Nota-se, assim, um caráter ideológico na
“leitura” política da cartografia do período.
Projeção cilíndrica equivalente de Gall
O mapa de Peters
Essa representação foi elaborada na época em que os
europeus comandavam a expansão marítima, conquistando novos
territórios e dominando outros povos. Foi construída para facilitar
a navegação, pois possibilitava representar com precisão, no
mapa, os ângulos obtidos pela bússola. A precisão das áreas não
era, nesse caso, tão importante. No mapa-múndi de Mercator a
Europa está numa posição central, superior e, por se situar em
altas latitudes (distante do Equador), proporcionalmente maior do
que era na verdade. Essa representação, por se tratar de uma
Na década de 1970, o professor Amo Peters idealizou um mapa
que representava um novo tipo de visualização de mundo. Seu
mapa era muito parecido o mapa de Gall do século XIX. Peters
partiu de um formato elipsóide da Terra e, após muitos cálculos,
estabeleceu um critério único para retratar todas as partes do
planeta, inclusive os polos.
Assim, o mapa de Peters se aproximava também das reais
proporções das terras emersas do planeta. Muitos consideraram
sua criação uma inovação, mas na realidade ele retomava a
técnica criada por James Gall havia mais de um século. Como o
mapa de Gall, tratava-se de uma projeção cilíndrica equivalente
que não poderia ser utilizada para a navegação; e os cálculos
resultaram em um alongamento das terras emersas no sentido
norte-sul.
Como a distorção era a mesma para todos os países, nações
subdesenvolvidas enxergaram nessa projeção uma forma de
igualdade com os países desenvolvidos. Graças a essa técnica, os
países de grandes dimensões localizados na Zona Intertropical
(México, Brasil, Índia, República Democrática do Congo) deixaram
de ter seus territórios subestimados, como ocorria em outras
projeções.
O professor Peters acusava aqueles que popularizaram
Mercator, bem como todos os cartógrafos, de não alertarem os
estudantes, durante séculos, das distorções criadas por essa
antiga projeção. Ele acreditava, inclusive que Mercator não se
preocupou
com
questões
políticas,
como
ressaltar
o
Eurocentrismo, mas com soluções geométricas tradicionais, como
transferir pontos da esfera para o plano.
Os avanços da tecnologia permitiram que o professor realizasse
cálculos precisos para a representação correta da dimensão dos
continentes.
usando preciosas informações conseguidas por satélites que
investigam a superfície do planeta com equipamentos de
sensoriamento potentes e preciosos, bem como outras fontes de
informações eletrônicas. Vamos conhecer algumas dessas
sofisticadas projeções.
Projeção de Robinson: Essa projeção foi criada em 1961 para
melhorar as características de projeções existentes, como a de
Mercator. É considerada afilática ou arbitrária e não preserva
nenhuma das propriedades de conformidade, equivalência ou
eqüidistância. Trata-se de uma combinação das situações positivas
de várias outras projeções, resultando em distorção mínima da
maioria das massas de terra do globo. Embora apresente a
Antártida e as massas mais setentrionais distorcidas, esta projeção
é considerada por muitos especialistas a melhor no que se refere à
representação do tamanho e da forma dos países e continentes.
É importante lembrar ainda que o mapa de Peters surgiu em
1973, época em que muitos países se livravam das amarras do
colonialismo. Tornou-se, então, uma afirmação de liberdade na
Cartografia, sendo chamado pelo próprio Peters de “Mapa para um
mundo mais solidário”.
2.3. Projeção equidistante: é aquela que mantém a igualdade
das distâncias. Elaborada pela primeira vez por Guillaume Postel,
em 1581, essa projeção adota como centro um ponto qualquer do
planeta para que seja possível medir a distância entre esse ponto
e qualquer outro lugar. A projeção azimutal ou plana pode ser
considerada equidistante.
A projeção azimutal equidistante é, entre todas as projeções,
aquela que tem o mais intenso caráter geopolítico. Ela é adequada
ao interesse dos Estados Nacionais, pois permite a centralização
do mapa em qualquer país do mundo. Ou seja, pode-se construir
tantos mapas quantos países existirem. Essa projeção não tenta
esconder sua parcialidade, tampouco sua finalidade, quando usada
pelos Estados Nacionais. Geralmente apresenta um caráter
ideológico, que atende aos interesses dos governantes do país
cartografado.
Projeção plana (azimutal) equidistante com foco no Polo Norte
Mediante cálculos das coordenadas geográficas, essa projeção
adotou a distorção dos polos e a representação em superfície nãoplana para melhor representar os continentes.
Projeção de Mollweide (1805): Essa é uma projeção cilíndrica
equivalente convencional. Porém, representa a Terra inteira dentro
de uma elipse. Assim, os paralelos, que identificam as latitudes,
são linhas retas paralelas ao Equador. O espaçamento dos
paralelos ao longo do meridiano central é calculado para assegurar
que todas as áreas no mapa sejam iguais às áreas
correspondentes no esferóide. Assim, a distorção é mínima perto
da interseção do equador com o meridiano central e aumenta na
direção das extremidades do mapa.
Na projeção de Mollweide a distorção aumenta rumo às
extremidades.
Projeção de Mollweide com o continente americano no centro.
QUAL É A MELHOR PROJEÇÃO?
Projeção plana (azimutal) equidistante com foco no Brasil
OUTRAS PROJEÇÕES E FORMAS DE CONSTRUÇÃO
Com a evolução da tecnologia, surgiu uma série de novas
técnicas de construção de mapas. Elas são baseadas em modelos
matemáticos que foram aperfeiçoados pelos cartógrafos, desta vez
Nenhuma
projeção
atende
à
necessidade
de
uma
representação exata da Terra. Cada projeção tem uma finalidade
específica e sempre trará algum tipo de distorção, seja nas áreas,
nas formas ou nas distâncias das regiões representadas. Dessa
forma, conclui-se que não existe uma melhor projeção. Elas devem
ser escolhidas a partir da finalidade de um referido mapa.
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O globo terrestre é a representação mais fiel do planeta