Sociologia Clássica II
Pós-graduação Lato Senso em Sociologia da UGF/SP
Profa. Dra. Mirlene Simões Severo
Índice
Introdução
Parte I
1) Vida e obra de Max Weber
2) Cronologia
3) Introdução à teoria de Max Weber
4) Weber e a sociologia da música
5) Política como vocação e Ciência como vocação
6) A religião na obra de Weber
Parte II
7) Sociologia brasileira: um breve histórico
8) Florestan Fernandes e a sociologia no Brasil
9) Octavio Ianni e o Brasil moderno
10) Sociólogos brasileiros contemporâneos
- Chico de Oliveira
- José de Souza Martins
- Maria da Glória Gohn
Parte III
11) Considerações finais
Parte IV
12) Bibliografia
1
Introdução
No curso de Sociologia I vimos como a sociologia nasceu e os
caminhos que Comte e Durkheim seguiram para que esta ciência pudesse
ganhar seu espaço na sociedade industrial que surgira na época deles. Vimos
também, nesta primeira parte do curso, que a França foi onde se concentrou
estas discussões acerca da ciência que propunha estudar a sociedade.
No curso que agora iniciamos (inserir vídeo Gama Filho) veremos
que a Alemanha deste período também tinha núcleos de pesquisadores
interessados em desvendar e explicar as mudanças sociais que estavam
acontecendo. Max Weber é um destes estudiosos e, com o mesmo intuito de
Comte e Durkheim queria fundar uma ciência social que interpretasse os
movimentos populares, que aprofundasse as relações agora existentes no
Estado Moderno como a democracia os partidos e as lideranças políticas.
Weber queria também estudar as estruturas religiosas e de qual forma
influenciavam na vida econômica da sociedade.
Estudou e buscou estas respostas por meio do empirismo e da
comparação entre sociedades e instituições.
Embora Durkheim e Weber fossem contemporâneos, nunca se
conheceram ou leram um a obra do outro. Weber fecha a trinca de
pesquisadores fundadores da sociologia. Karl Marx surge com outras
interpretações e metodologias e inaugura outro momento de investigação
sociológica, apoiada pela observação social a partir do sistema econômico.
Nesta primeira parte vamos estudar a teoria e obra de Max Weber e
depois partiremos para a Sociologia e os sociólogos no Brasil.
2
Marx dizia que aquele que estuda a sociedade não pode colocar-se na mesma
posição de um físico ou químico, pois lhe falta a possibilidade de experimentação e os
instrumentos disponíveis para esses cientistas. Assim, é preciso, (...) utilizar a
“faculdade da abstração”. Neste sentido, Marx rompe com a tese do positivismo
clássico de Comte e Durkheim a respeito da unidade metodológica entre ciências
naturais e ciências humanas (se bem que ele não colocava a questão nesses termos, já
que essa não era uma preocupação dele). Apesar de ver a diferença entre o estudo
da natureza e o estudo da sociedade, ele não tinha uma posição semelhante a
Weber, já que para ele era possível a explicação das relações sociais e cabia ao
pesquisador constituir conceitos, compreendidos por Marx não como “tipos ideais”
(construções subjetivas que raramente se encontram em estado puro na realidade), e
sim como “expressão da realidade”, isto é, como uma expressão mental de algo que
existe realmente. Marx propunha partir do concreto-dado para chegar ao concretopensado por via da abstração. É preciso ressaltar que Marx pensava em termos de
“concreto-dado”, e não de “empírico”. O empírico, tal como se vê em Durkheim e
Weber é o que é perceptível via experiência. Isso se deve ao fato de que Marx, em
razão de sua formação filosófica, não tina uma visão ingênua de experiência. Ele
sabia que a experiência é histórica, constituída socialmente. Daí ser impossível tratar
as relações sociais, ou “fatos sociais”, como coisas, tal como um cientista natural. (...)
Assim, o método dialético se distingue tanto do objetivismo de Durkheim quanto do
subjetivismo de Weber. (...) Por conseguinte, observamos aqui a diferença
metodológica entre Marx e os demais clássicos da sociologia. Para Marx, o
pensamento deve ir aumentando progressivamente a concreção, chegando ao
concreto-determinado, uma “síntese de suas múltiplas determinações”. (...)
Desta forma, Marx, ao contrário de Durkheim e Weber não buscou lançar as bases da
sociologia. No entanto, ele passou a ser considerado um clássico da sociologia. Como
isso é possível? Isso ocorreu por dois motivos básicos: um de natureza intelectual e
outro de natureza social. Do ponto de vista intelectual, a obra de Marx abordava os
mesmos temas que a Sociologia nascente (...) e produziu uma complexa teoria da
sociedade capitalista. (...) O outro motivo, de caráter social, reside na influência
crescente de Marx no movimento operário e nos partidos social-democratas que
surgiram no final do século XIX e inicio do século XX (...).
Nildo Viana, 2006
3
Max Weber – Ilustração: André Toma (Revista Cult – Dossiê Jan. 2011
Parte I
1)
Vida e obra Max Weber
Karl Emil Maximilian Weber nasceu em Erfurt em 1864, filho de pais
protestantes. Weber viveu em um ambiente culto, seu pai era advogado e sua
mãe de profunda erudição. Aos treze anos, Weber já escrevia ensaios
históricos. (inserir apresentação Gama Filho)
Em 1869 muda com a família para Berlim, seu pai foi deputado e por
isso Weber desde cedo convivia com políticos e filósofos que freqüentavam
sua casa. Em 1882 ele cursou direito em Heidelberg, no ano seguinte muda
para Estrasburgo para servir o exército, retoma seus estudos universitários em
Berlim, onde 1886 se submete ao primeiro exame de direito.
4
Em 1889 termina sua tese de doutorado sobre o desenvolvimento
das sociedades comerciais na Itália da Idade Média. No ano seguinte se fixa
como advogado em Berlim.
Em 1893 assume o cargo de professor de história do direito na
Faculdade de Berlim. Casa-se com Marianne Schnittger, militante do
movimento feminista na Alemanha. Ela terá importante papel na publicação de
sua obra, principalmente na edição e supervisão dos escritos póstumos. Em
1894 assume a cadeira de Economia na Universidade de Friburgo.
Com esgotamento mental e depressões agudas, Weber em 1898
adoece gravemente o que o faz afastar-se dos trabalhos acadêmicos. Volta
para Heidelberg somente em 1901, onde reassume parcialmente as atividades
de docente. Sua volta o faz reavaliar as concepções teóricas que tinha e irá se
dedicar a sociologia a partir deste ano. Esta reinterpretação intelectual será o
momento onde publicará suas principais obras para a ciência social.
Em 1903 junto com Werner Sombart1 assume a direção da revista
Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik a mais importante da Alemanha
em sua época.
Weber viaja para os Estados Unidos em 1904 para que pudesse
entender o papel das burocracias na democracia. Impressiona-se bastante com
o desenvolvimento norte-americano e de volta à Alemanha, escreve A ética
protestante e o espírito do capitalismo.
Em 1910 funda a Sociedade Alemã de Sociologia e após a Primeira
Guerra Mundial, na qual Weber participou ativamente, muda-se para Viena.
1
Sombart (1863-1941) foi da escola histórica alemã, pensador controverso da ciência
social e seguidor da sociologia compreensiva de Weber. Poucas obras suas estão
traduzidas
para
o
português,
para
pesquisar
sobre
este
autor,
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218651140W1vYN9cb0Dw02MR6.pdf
5
Já em 1919 vai para Munique onde ocupou a cátedra de sociologia,
e onde também irá proferir suas duas principais palestras, que posteriormente
foram editadas e publicadas A Ciência como Vocação e A Política como
Vocação.
Weber morreu em junho de 1920, vítima de uma pneumonia.
2)
Cronologia
Cronologia de Max Weber
1864 - Max Weber nasce em Erturt, Turíngia, a 21 de abril.
1869 - Muda-se para Berlim com a família.
1882 - Conclui seus estudos pré-universitários e matricula-se na Faculdade Direito de
Heidelberg.
1883 - Transfere-se para Estrasburgo, onde presta um ano de serviço militar.
1884 - Reinicia os estudos universitários.
1888 - Conclui seus estudos e começa a trabalhar nos tribunais de Berlim.
1889 - Escreve sua tese de doutoramento sobre a história das companhias de comércio
durante a Idade Média.
1891 - Escreve uma tese com o tema A História das Instituições Agrárias.
1893 - Casa-se com Marianne Schnitger.
1894 - Exerce a cátedra de economia na Universidade de Freiburg.
1896 - Aceita uma cátedra em Heidelberg.
1898 - Consegue uma licença saúde na universidade
1899 - É internado numa casa de saúde para doentes mentais, onde permanece
algumas semanas.
1903 - Participa, junto com Sombart, da direção de uma das mais destacadas
publicações de ciências sociais da Alemanha.
1904 - Publica ensaios sobre os problemas econômicos das propriedades dos Junker,
sobre a objetividade nas ciências sociais e a primeira parte de A Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo.
1905 - Parte para os Estados Unidos, onde pronuncia conferências e recolhe material
para a continuação de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
6
1906 - Redige dois ensaios sobre a Rússia: A Situação da Democracia Burguesa na
Rússia e A Transição da Rússia para o Constitucionalismo de Fachada.
1914 - Início da Primeira Guerra Mundial. Weber, no posto de capitão, é encarregado
de organizar e administrar nove hospitais em Heidelberg.
1918 - Transfere-se para Viena, onde dá um curso sob o título de Uma Crítica Positiva
da Concepção Materialista da História.
1919 - Pronuncia conferências em Munique, que serão publicadas sob o título de
História Econômica Geral.
1920 - Falece em conseqüência de uma pneumonia aguda.
Coleção Os Economistas, 1997
3)
Introdução a teoria de Max Weber
A obra de Weber é um dos fundamentos da metodologia na
sociologia moderna. O seu pensamento foi influenciado por um conjunto de
situações presentes na Alemanha como as discussões familiares na área da
política e religião (em especial com sua mãe), pelo clima universitário e político
da Alemanha do começo do século vinte e pelas viagens que fez, com
destacada atenção à viagem para os Estados Unidos da América. (inserir filme
I)
Berlinck credita à este conjunto de situações o sentido do
pensamento de Weber e sua principal motivação: a racionalidade.
Para Weber a racionalidade diz respeito a uma equação
dinâmica entre meios e fins. Nesse particular, ele acreditava
(e essa crença permeou o pensamento dos sociólogos
funcionalistas
contemporâneos,
tais
como
Parsons,
Williams, Homans, etc.) que toda ação humana é realizada
7
visando a determinadas metas – concepções afetivas do
desejável – ou valores. Tais valores são fenômenos culturais
e possuem bases extra-científicas. Em outras palavras, as
definições do que é bom e do que é mau, do que é bonito e
do que é feio, do que é agradável e do que é desagradável
constituem proposições extra-empíricas. (WEBER, 1993, p.
10)
Sua teoria sempre esteve com a preocupação em determinar a ação
do homem, e segundo Weber esta ação pode ser critério para a determinação
de valores.
Max Weber foi o fundador da sociologia em sua terra natal a
Alemanha. Dedicou-se a fundamentar a nova ciência por meio do objeto e
métodos próprios. A tradição filosófica da Alemanha permitiu que ele pudesse
realizar uma reflexão mais acentuada na cientificidade do saber e de sua
aplicação na nova sociedade. Este raciocínio fez com que o positivismo
comtiano em seu país fosse rapidamente superado.
Weber é fortemente influenciado pela teoria de Kant “ele defende a
tese da distinção entre ciências naturais e ciências humanas – uma vez que as
primeiras buscam a explicação, as leis, e as ciências do homem buscam a
compreensão dos fenômenos singulares” (VIANA, 2006, p. 39). Weber busca
compreender os fenômenos e não se preocupa especificamente com as leis
que regem a sociologia ou as ciências humanas na busca da interpretação da
sociedade.
E por se preocupar fundamentalmente com a interpretação dos
fenômenos é que vai criar o conceito de tipo ideal, que corresponde aos
aspectos da realidade individual. Os tipos ideais são os modelos abstratos da
sociedade contemporânea,
8
são por um lado, ‘o especialista sem espírito’, que tudo sabe
acerca do seu pequeno mundo de atividade e nada sabe
(nem quer saber) acerca de contextos mais amplos que
determinam seu pequeno mundo, e, por outro lado, o
‘homem do prazer sem coração’, que tende a amesquinhar
seu mundo sentimental e emotivo à busca de prazeres
momentâneos e imediatos. (...) A percepção do indivíduo
moderno como suporte das ilusões da independência
absoluta e da própria perfeição narcísica quando, na
verdade, realiza, sem saber, todas as virtualidades de uma
razão
instrumental
que
termina
em
consumismo
e
conformismo político (...). (SOUZA, 2008, p. 44)
O tipo ideal é um elemento de análise a partir dos elementos que
constituem a sociedade, tais como religião, economia, burocracia, capitalismo,
e a história social. Segundo Weber captar a realidade como um todo é difícil,
portanto os tipos ideais são fundamentais para o sociólogo fazer sua análise.
O tipo ideal é um recurso metodológico para que o cientista possa
restringir sua busca na diversificada realidade social. “Por isso mesmo esses
tipos necessitam ser construídos no pensamento do pesquisador, existem no
plano das idéias sobre os fenômenos e não nos próprios fenômenos. (COHN,
1979, p. 08)
Segundo Weber o sociólogo deve ser neutro em sua análise, não
deve indicar qual modelo ou estrutura ideal para a sociedade e sim indicar, com
sua pesquisa, os caminhos de uma vida melhor em sociedade. Muitos
intelectuais das ciências sociais relacionaram o racionalismo weberiano com o
marxismo crítico do sistema capitalista para analisar a sociedade do século
9
passado. Daí surgiu a interpretação de que o método de pesquisa weberiano é
o método compreensivo.
Enquanto objeto da ciência, Weber definiu a ação social para seus
estudos. A ação para o autor é toda aquela que o indivíduo atribui um sentido
que está relacionado com os outros. Toda ação leva em conta comportamentos
e reações das pessoas de acordo com seus costumes e cotidiano. “A ação
social pressupõe um sentido e, mais que isso, que ele esteja voltado para os
outros. Se um homem faz uma serenata para uma mulher, temos aí uma ação
social, já que o sentido da ação estava voltado para outra pessoa” (VIANA,
2006, p. 40).
Ele queria estabelecer por meio desta interpretação que a sociologia
deveria compreender a ação dos indivíduos e não, como forjado pelos estudos
anteriores, a partir das instituições ou dos grupos sociais. Isto atribuía à sua
metodologia de pesquisa o oposto do que propunha o positivismo, isto porque,
em sua metodologia o sociólogo elabora o conhecimento, enquanto no
positivismo o sociólogo apenas registra os acontecimentos. A ação humana
sempre em Weber terá um sentido dominantemente cultural.
Ele procura entender o que legitima as ações dos indivíduos e de
qual forma surgem as relações sociais. Já que o indivíduo na teoria weberiana
sempre está em ação, então toda ação terá um sentido que são os atos
parciais encadeados entre si.
Na ação social, Weber atribui quatro tipos principais, que são: a
ação social afetiva que pode ser expressa no amor, no ódio ou na amizade; a
ação social tradicional que vem dos costumes e tradições; a ação social
10
racional com relação a valores que se orientam por entendimentos de valores e
a ação social racional com relação a fins que se orienta pela racionalidade.
A principal obra de Weber é A ética protestante e o espírito do
capitalismo, é nesta obra que Weber irá apresentar a importância da ação
social racional. Parte do princípio que o catolicismo não permitia que o
capitalismo se desenvolvesse porque, os valores sociais dos católicos se
baseavam na partilha entre o grupo, em oposição ao individualismo. Já o
protestantismo, segundo Weber, era a realização da ação social racional, pois
era movido pelo trabalho e pelo asceticismo que moviam o desenvolvimento
das atividades capitalistas. “Assim, a ética protestante, que era uma ação
racional com relação a valores, abriu caminho para a racionalização, o
racionalismo de tipo ocidental, isto é, uma ação social racional com relação a
fins” (VIANA, 2006, p. 41).
A análise das religiões tinha papel central nos estudos de Weber,
pois ele acreditava que as tendências religiosas poderiam interferir na
economia geral da sociedade, assim como nos esclarece Martins,
Este seu trabalho jamais teve a intenção de afirmar, como
interpretaram erroneamente alguns de seus críticos, que a
causa explicativa do capitalismo era a ética protestante, ou
que os fenômenos culturais explicariam a vida econômica.
Sua pesquisa apenas procurou assinalar que uma das
causas do capitalismo, ao lado de outras, como os fatores
políticos e tecnológicos, foi a ética de algumas seitas
protestantes. (MARTINS, 1982, p. 68)
11
Max Weber não tinha um posicionamento crítico com relação ao
sistema capitalista, ele acreditava que algumas instituições, principalmente as
grandes empresas, eram exemplos de organização racional da sociedade, e
considerava que os empresários eram revolucionários que puderam intervir na
história da sociedade de sua época. O capitalismo para o autor se expande
pela relação de valores étnicos doutrinários da burguesia protestante,
trabalhando para o lucro e universalizando o capital.
A ética é o próprio exercício da dominação, não é um sistema e por
isso a legitimação do capitalismo passa por ela, na aceitação ou permissão dos
dominados. A ética está presente na ação e não na instituição.
As forças de expansão do sistema capitalista, diz Weber, tem soma
de capitais e interesses associados aos industriais, e a política financeira está
atrelada às instituições internacionais que tem seus interesses próprios. Ele se
afasta do conceito de materialismo-histórico de Marx para encontrar um curso
próprio e determinado dos processos históricos. “Weber está enfatizando a sua
idéia básica de que não é possível encarar um período histórico como se nele
estivesse já configurada a época seguinte (...). (CONH, 1979, p.14)
A sua análise social era, muitas vezes, melancólica, influenciada em
parte pelo filósofo alemão Nietzsche2 (1844-1900), que considerava que a
crescente racionalização da sociedade, advinda do capitalismo, fazia com que
a intuição do pensamento e da imaginação do homem deixasse de existir em
detrimento ao mecânico e racional.
2
Friedrich Nietzsche abordava em suas obras temas como a razão entre os homens,
as religiões, a cultura ocidental e principalmente a crítica à ciência. A obra mais
conhecida é Assim falou Zaratrusta de 1883 que narra os ensinamentos de um
filósofo, por meio de uma linguagem poética. Sobre este autor, Citações e
Pensamentos de Friedrich Nietzsche. Paulo Neves da Silva (org.), Leya, 2011.
12
Weber quer apresentar aos pesquisadores sociais que a sociologia
tinha um método próprio de análise da sociedade: o método compreensivo.
Desta forma ele apresentou uma metodologia exposta e exemplificada em
várias obras de sua autoria. Compreender é o condicionante ético intelectual
que visa o saber científico, distante das posições políticas que se constituem
no interior da sociedade. É a conduta ética intelectual é que legitimará a
humanidade.
Assim como Durkheim, Weber buscou institucionalizar a sociologia
na academia, e em 1910 fundou a Sociedade Alemã de Sociologia, importante
espaço de discussão de pesquisadores alemães na época. Mas na teoria
Weber se contrapôs a Durkheim principalmente porque este via na divisão do
trabalho a suavização da luta social, enquanto Weber vê no confronto de
interesses, entre dominação e poder, valores inconciliáveis (CONH, 1979).
Ele não propõe uma revolução científica ou um novo paradigma
científico, ao contrário de Comte e Durkheim, Weber não tinha discípulos e
pesquisadores que colaboravam com suas pesquisas,
A influência da obra de Weber, embora crescente ainda
quando ele estava vivo, não era do tipo que possibilitasse
uma escola. Mesmo essa influência foi drasticamente
interrompida, na Alemanha, 12 anos após sua morte, pela
chegada dos nazistas ao poder. (MISSE, 2011, p. 02)
Mesmo sem os autores da sociologia definirem uma “escola
weberiana”, suas interpretações influenciaram grandes intelectuais como Karl
Mannheim (1893-1947), Georg Lukács (1885-1971), Talcott Parsons (190213
1979), Alfred Schutz (1899-1959), Wright Mills (1916-1962), entre outros.
“Parsons procurou aproximar Weber do funcionalismo durkheimiano, Wright
Mills fez aproximação com a tradição marxista, extraindo daí não só uma
interpretação, mas um efeito – em suas próprias obras – crítico e politicamente
renovador”. (MISSE, 2011, p. 03).
A sociologia norte-americana, iniciada pela obra de Parsons, ainda
tem forte influência dos conceitos weberianos e se apóia na recuperação
constante deste autor. São vários os intelectuais da sociologia norte-americana
que ainda hoje levantam as hipóteses de Weber na discussão atual da
sociedade como, por exemplo, David Landes. Assim também foi com a Escola
de Frankfurt3, onde a influência de Weber é direta principalmente em
Habermas. (inserir filme II)
No Brasil segundo Souza (2008) a influência de Weber entre os
intelectuais não só da sociologia mas da ciência social, do direito e da filosofia
se deve ao desenvolvimento conceitual deste autor acerca do racionalismo
ocidental,
‘Racionalismo’ significa a forma, culturalmente singular, de
como uma civilização específica e, por extensão, também os
indivíduos, que constituem sua forma de pensar e agir a
partir desses modelos culturais, interpreta o mundo. Isso
implica, antes de tudo, que não existe definição ‘universal’
possível acerca do que é ‘racional’ ou do que seja
‘racionalidade’. A forma como a racionalidade vai ser
definida em cada sociedade específica depende, desse
modo, da matriz civilizacional a qual essa sociedade
3
A escola de Frankfurt é a denominação informal que se dá para uma série de
intelectuais que se uniram na Universidade de Frankfurt, na Alemanha, para estudar
as reinterpretações da teoria Marxista. Fazem parte deste conjunto de autores:
Theodore Adorno, Jürgen Habermas, Axel Honneth, entre outros. Sobre esta escola
ver: A Escola de Frankfurt, Paul-Laurent Assoun, Ática, 1991
14
particular pertença. Em relação à civilização ocidental
moderna, Weber irá definir seu racionalismo específico
como sendo o do “racionalismo da dominação do mundo”
(SOUZA, 2008, p. 42)
Neste trecho Souza quer mostrar que Weber transforma a
racionalidade objetiva independente da vontade e por isso há de existir a
sociologia compreensiva para estudar este sentido subjetivo nos homens. Este,
para Souza, é o fator decisivo de interpretação de Weber para os intelectuais
brasileiros.
Weber relaciona o funcionamento do Estado racional e do mercado
como fatores decisivos para a eficiência dos mecanismos de racionalização, de
aspectos subjetivos e objetivos. Por isso a literatura acerca de sua teoria no
Brasil permeia as interpretações liberais. Para Souza, esta imprecisão em
analisar a teoria weberiana ocupa lugar em diversas obras, e segue por outros
conceitos como: estamento e burocracia. “(...) a marca da riqueza da reflexão
weberiana é precisamente perceber a ambigüidade constitutiva dessas
instituições (...), e, com isso, perceber a ambigüidade imanente ao próprio
racionalismo ocidental. (SOUZA, 2008, p. 46).
Ainda segundo Souza, é necessário uma nova abordagem de Weber
no Brasil a partir do seu conceito de patrimonialismo para que também seja
reavaliado o Estado e o mercado e deste as condições precárias de vida de
uma grande parcela da população.
Weber vê na administração burocrática o nascimento do Estado
ocidental moderno. Analisa a burocracia a partir da democracia já que a
impessoalidade, a universalidade e o procedimento dependem da burocracia. A
15
pergunta que ele faz é de que forma este processo pode ser ágil, sem
complicações e permanecer intocada a democracia. (inserir simulador)
Mas as conexões entre democracia e burocracia têm
desdobramentos mais complexos na sociologia política de
Weber. Em particular, a peculiar posição em favor de uma
democracia plebiscitária, em que lideranças carismáticas
capazes de se dirigir com êxito às massas possam
justamente prevalecer sobre o espírito burocrático, embora
devam ser controladas institucionalmente pelos poderes
parlamentar e judiciário e manter-se em equilíbrio com eles
(devendo mesmo emergir e amadurecer através da carreira
parlamentar). (REIS, 2008, p. 51)
Ele conceitua Estado sem atribuir-lhe um caráter substantivo,
obrigatoriamente tem que estar atrelado às ações concretas dos indivíduos.
Weber credita ao Estado as formas de gerir os controles materiais, e a
racionalização surge nas instituições burocráticas não na materialização do
capitalismo no Estado.
Enquanto Marx fala da ditadura do proletariado no Estado, Weber,
em oposição, propõe que o funcionalismo controle o Estado, já que, toda
relação se passa na burocracia e o funcionário é fundamental para existir esta
relação. Para Weber a saída da burocratização é a existência de um
parlamento forte.
Ainda dentro deste tema, Weber considera que os partidos políticos
criam máquinas como no caso norte-americano em que a estrutura partidária
16
garante cargos ou privilégios econômicos. Aprofundaremos este conceito
weberiano mais adiante.
Outro tema abordado na obra de Weber são as instituições
democráticas e a dominação. Segundo Weber existe legitimidade na
dominação e os dominados acreditam nela. Sendo assim, uma relação de
dominação também pode ser legítima.
Com relação ao tema da racionalidade e da ética, em que Weber
considera, como abordado brevemente nas páginas iniciais deste texto, que
existem dois tipos fundamentais: a racionalidade com fins e a racionalidade de
valores. Weber não contrapõe o mundo das normas e o mundo da
racionalidade,
A questão geral das relações entre racionalidade e ética é
sem dúvida complicada. De toda forma, há um claro ganho
de entendimento se partirmos de reconhecer que toda
racionalidade
é
instrumental:
a
noção
mesma
de
racionalidade envolve por força a idéia da articulação entre
meios e fins, e a natureza dos fins é irrelevante para a
caracterização da racionalidade como tal. (REIS, 2008, p.
54)
Desta forma Weber propõe uma racionalidade que envolve
complexas cadeias de fins e meio que envolvem ideais, é uma solução
alternativa para ser alcançada.
4)
Weber e a Sociologia da música
Weber foi o criador da sociologia da música, que no início de seus
estudos tinha como princípio a sociologia da arte. O livro póstumo Os
17
fundamentos racionais e sociológicos da música foi publicado em 1920 e revela
a organização geral da sociologia weberiana.
Sua
investigação
partiu
da
música
moderna
ocidental
em
comparação com o racionalismo ocidental, “Isso significa que compreender a
moderna música do ocidente implica, em primeiro lugar, reconhecer sua
peculiaridade (...) e, em segundo lugar, reconhecer a multiplicidade de
possibilidades de racionalização (...) (WAIZBORT, 2008, p. 55). (inserir filme III)
Weber define que o desenvolvimento da arte depende do
desenvolvimento da técnica e que as condições de caráter econômico que
possibilitarão a organização artística. Para ele a sociologia da música deve
estudar os meios técnicos dessa expressão, pois são neles que a investigação
empírica aparecerá.
A importância que atribui à música aparece nas notas dos Escritos
reunidos de sociologia da religião em que destaca a música como fundamental
para o racionalismo ocidental.
Portanto, a sociologia da música trata de investigar os meios
técnicos e seus desenvolvimentos, assim como suas
influências na volição artística, como domínio empírico e
liberto de qualquer valoração estética. Esse ponto é
absolutamente central, pois com a exclusão da valoração
estética tornou-se possível “fundar epistemologicamente um
comparatismo transcultural e trans-histórico dos fatos
artísticos”, como disse Phillipe Despoix. (WAIZBORT, 2008,
p. 57)
18
Para Weber a racionalização está nos meios artísticos e assim o
sociólogo deverá em sua pesquisa abordar os critérios de racionalização, e
qual a sua direção. Este processo de racionalização que resultou na música
ocidental moderna.
5)
Política como Vocação e Ciência como Vocação
Wolfgang Schluchter aventa a hipótese de que as conferências “são textos filosóficos
que pretenderam levar os ouvintes e, logo, os leitores a reconhecer fatos e encorajar a
auto-reflexão, a fim de ganhá-los para esforços responsáveis dirigidos para uma
causa realista”. A questão estaria definitivamente associada às circunstâncias
históricas e à posição de Weber quanto à construção da nação alemã, que
propugnava por um estado nacional moderno dependente da prontidão dos
indivíduos de se engajar em tarefas que exigiam auto-renúncia e distanciamento. (...)
Os traços comuns às duas conferências não as configuram enquanto uma unidade.
“Ciência como vocação” destacou-se e teve recepção bem diferente da conferência
“Política como vocação”. Causou grande impacto, não só aos ouvintes, como aos
leitores, depois de sua publicação em 1919, provocando uma polêmica apaixonada da
qual fizeram parte Ernst Robert Curtius, Erich Von Kahler e Arthur Salz, (...), cujo
tema era o papel da ciência no mundo moderno. O cerne do debate dizia respeito à
necessidade de reafirmar uma unidade para a ciência e abandonar o relativismo
frouxo de Max Weber, que pregava o politeísmo e a batalha dos deuses. (...) “Ciência
como vocação” foi, portanto, proferida aos estudantes em um contexto de mudanças
políticas e sociais profundas, e de rompimento de Weber com seus “aliados” (...) quer
mostrar aos estudantes que o trabalho intelectual enquanto profissão significa uma
vida cheia de renúncia e não de reconciliação. O que mais causou mal-estar entre os
estudantes (...), teria sido justamente sua insistência na base ascética das ações
profissionais. Elas não poderiam estar mescladas com ideais, sobretudo com ideais de
ordem política. Profissão como auto-limitação era a mensagem que Weber queria
transmitir aos estudantes. Com o intuito de provar a base secular das profissões,
Weber associa profissão e renúncia a um terceiro termo – personalidade. (...) Weber
acredita que a ciência como vocação exigia uma vocação interna. O fundamento da
19
conferência, no que diz respeito à ciência como profissão/vocação, encontra-se em A
ética protestante e o “espírito” do capitalismo (1905). (...) Em “Ciência como
vocação”, Weber questiona mais uma vez o surgimento da profissão e da
especialização no mundo da cultura e de uma ciência livre de valores. Como
combinar a formação com os rigores e limites de uma especialização no âmbito das
universidades? Essa questão perpassa o seu pensamento e sua obra. Quanto à
“novidade” do tom dramático com que se refere ao problema, isto sim talvez possa
ser compreendido pela dúvida de Weber em voltar para o mundo acadêmico para o
qual muitas vezes dizia que não era “talhado”, ou dirigir o sentido de seu dever para
a ação política, sabendo de seu insucesso como homem político, desligado dos
partidos e defensor da ética da responsabilidade que não empolgou os políticos nem
tampouco os estudantes que o ouviram na Universidade de Munique.
Gláucia Villas Bôas, 2008
Em A política como vocação, Weber está preocupado com as
condições essenciais ao funcionamento do Estado moderno, ressaltando a
burocracia como regulamentadora do sistema quanto da sociedade. Para ele
as lideranças políticas são características próprias de cada sociedade, e as
organizações administrativas manterão estas lideranças. Estas organizações
vão exercer um maior ou menor controle do sistema político ou, nas palavras
de Weber vão determinar a racionalidade do sistema e poder sobre a
sociedade.
A racionalidade do sistema político gera a distinção entre viver para
a política e viver da política, são duas formas de vocação política. Este
contraste para Weber é uma distinção econômica, viver para a política implica
que não se aproveita dos privilégios da política, e viver da política garante-se o
controle dos políticos por meio de uma renda. Assim como nos explica Berlinck,
20
Ainda que Weber não o afirme categoricamente, essa
distinção ajuda a compreender as motivações da ação
política e, por sua vez, gera o problema da corrupção, na
organização política. Em segundo lugar, a racionalidade do
sistema político aumenta na medida em que ocorrem uma
diferenciação de
status-papéis e uma especialização
funcional dentro das organizações administrativas. A
brilhante e erudita análise de Weber sugere que a
diferenciação ocorre quando há uma especialização entre a
administração, que deve ser exercida sine ira et studio, e a
liderança política, cuja ação é, por natureza, fundamentada
na ira et studium. Essa especialização, por sua vez, tende a
mudar os critérios de alocação de status-papéis na
organização política. Os critérios deixam de ser plutocráticos
e passam a basear-se no desempenho e no conhecimento
especializado. Não há portanto, nessa nova organização,
lugar para o diletante, pois o seu “sucesso” depende, cada
vez mais, da ação especializada. (WEBER, 1993, p. 12)
Weber em A política como vocação tem o objetivo de demonstrar,
como exposto acima, que a especialização restringe o papel diversificado que a
liderança política tem que exercer. A política para o autor tem duas
características. Uma tem o sentido mais amplo de liderança política e que
independe da ação, o outro é a política restrita onde a liderança representa
uma associação, ou o próprio Estado. (inserir filme IV)
A liderança política tem como atividade principal e exclusiva o
recrutamento de novos agentes. Para Weber esta liderança tem como objetivo
o Estado, vê a partir de seu território os meios para tentar controlar o
21
monopólio da força física. O Estado para este autor é um instrumento de
legitimação das pessoas enquanto para Marx é um instrumento de dominação.
A liderança política tem ainda que ter carisma e vocação. Em sua
obra Weber divide em três tipos de liderança política: o profeta que explica tudo
pelo sobrenatural; o senhor da guerra que é uma liderança de coragem e
transmite confiança; e o condottiere que lidera pessoas desajustadas, foras da
lei. Além destas características da liderança política, outras duas se destacam
no estado moderno, e são: 1) o demagogo que convence a sociedade através
da oratória e 2) o líder partidário que aparece junto às eleições e são figuras
decisivas no papel social pois representam as formas de poder.
O estado moderno, segundo Weber, é uma associação compulsória
que organiza a dominação e sua forma principal é a liderança política. Diante
disto, os políticos profissionais surgem durante o processo de busca do líder.
Ao contrário dos líderes por vocação ou dos líderes carismáticos, estes não
querem se colocar a serviço de um senhor político.
O homem político profissional, que vive “da” política, pode
ser um puro “beneficiário” ou um “funcionário” remunerado.
Em outras palavras, ele receberá rendas, que são
honorários ou emolumentos por serviços determinados –
não passando a gorjeta de uma forma desnaturada, irregular
e formalmente ilegal dessa espécie de renda – ou que
assumem a forma de remuneração fixada em dinheiro ou
espécie ou em ambos ao mesmo tempo. O político pode
revestir, portanto, a figura de um “empreendedor”, à maneira
do condottiere, do meeiro ou do comprador de carga ou
revestir o aspecto de boss norte-americano que encara suas
despesas como investimento de capital, que ele transforma
em fonte de lucros, mercê da exploração de sua influência
22
política; ou pode ocorrer que ele simplesmente receba uma
remuneração fixa, tal como se dá com o redator ou
secretário de um partido, com o ministro ou funcionário
político modernos. (...) As lutas partidárias não são,
portanto, apenas lutas para consecução de metas objetivas,
mas são, a par disso, e sobretudo, rivalidades para controlar
a distribuição de empregos. (WEBER, 1993, p. 69)
Os políticos ocasionais são aqueles que não se dedicam às relações
de poder para exercê-la. Todos nós, portanto, somos políticos ocasionais,
participamos de abaixo-assinado, vamos a comícios ou manifestações, ou seja,
é uma atividade ocasional e não fundamental.
Para Weber, são três as características do homem político: a
paixão, o senso de responsabilidade e o senso de proporção. A paixão é a
dedicação objetiva a uma causa, tendo que ser diferenciada da situação estéril
que pode provocar uma revolução e cair num vazio isento de responsabilidade.
O senso de proporção é a responsabilidade psicológica de saber escolher o
que em uma ação pode acontecer com relação aos homens.
Weber indica ainda que a vaidade no homem político é um defeito
fatal já que ela impede a dedicação deste homem à uma causa, assim como a
falta de objetividade e de responsabilidade. A responsabilidade é a relação
entre ética e política, e a ética deve permanecer para que se possam
estabelecer critérios entre o “tudo ou nada” da política. Ter ethos na política
para Weber é a causa que dá qualidade e liderança.
Weber classifica em tipos os políticos profissionais, a saber: 1) clero
alfabetizado/celibatário, controladores e administradores do príncipe; 2) os
literatos de educação humanista; 3) nobreza cortesã atraída pela política
23
diplomática; 4) gentis-homens, específico na Inglaterra4; 5) juristas de formação
universitária5; 6) demagogo é aquele que usa a palavra oral ou escrita para
convencer e 7) funcionários de organização política que se interessam pelo
controle político.
O partido no estado moderno é a reunião de aristocratas e se
mantém vivo pela rotatividade das eleições, só por meio desta que se torna
necessário a organização política.
Para Weber a organização partidária na Inglaterra deu origem ao
agente político e ao partido de organização empresarial, isto porque, no século
XIX os notáveis, pilares fundamentais da organização política daquele país,
que eram profissionais da organização política, entram para a estrutura do
estado por meio da distribuição de cargos. Surge também neste período os
comitês e a democracia de marcas que rigidamente mantém o controle
partidário.
Com os comitês se fundamenta a contratação de funcionários
remunerados introduzindo a máquina política com a estrutura político-eleitoral
de representação. A partir do momento que se monta a máquina política tem
que financiar esta estrutura e, assim sendo, recorrer ao mundo financeiro para
sua manutenção.
Segundo Weber, nos Estados Unidos em 1824 a máquina partidária
começa se devolver a partir de uma estrutura de distribuição de cargos do
4
Por conta das guerras feudais a nobreza feudal sumiu surgindo outra, sem tradição.
Eles tinham um poder social que salvou a Inglaterra da burocratização que a Europa
passava.
5
Estes juristas buscavam referências da estrutura do Estado Moderno, racionalizando
as regras do novo mundo (o racionalismo jurídico é fundamental para o Estado
Moderno). A moderna democracia advém da jurisprudência, controlando grupos
influentes através do treino da palavra e da escrita e, assim, tendo privilégios na
política. A palavra é um instrumento do advogado que o funcionário público não a tem.
24
poder executivo. Considera que nesta estrutura os candidatos obrigatoriamente
passam pela máquina partidária e o chefe político é o capitalista político, ou
seja, o fornecedor de votos. Weber utiliza os Estados Unidos como exemplo
para demonstrar que a máquina partidária capitalista não permite políticos
principiantes em sua organização.
Estamos, portanto, diante de uma empresa política dotada
de forte estrutura capitalista, rigidamente organizada de alto
a
baixo
e
apoiada
em
associações
extremamente
poderosas, tais como o Tammany Hall. Essas associações,
cuja linhas lembram as de uma ordem, não tem outro
propósito, senão o de tirar proveito da dominação política,
particularmente no âmbito da administração municipal – que
constitui, nos Estados Unidos da América, a melhor porção
dos despojos. Essa organização dos partidos só foi possível
porque os Estados Unidos da América eram um país
democrático e porque eram um “país novo”. Essa conjuntura
privilegiada faz, entretanto, com que, em nossos dias, esse
sistema esteja condenado a morrer lentamente. Os Estados
Unidos da América não podem continuar a ser governados
exclusivamente por diletantes. Há cerca de quinze anos,
quando se perguntava aos trabalhadores norte-americanos
porque eles podiam deixar-se governar por homens que
confessadamente desprezavam, obtinham-se a seguinte
resposta: “Preferimos ser governados por funcionários sobre
os quais podemos escarrar a ser governados por uma casta
de funcionários que, tal como na Alemanha, escarra sobre
os trabalhadores”.
Era
o velho ponto
de vista
da
“democracia” americana, mas, já por aquele tempo, as áreas
socialistas do país tinham outra opinião. (WEBER, 1993, p.
99)
25
Em sua terra Natal, na Alemanha os partidos são subordinados aos
políticos tradicionais e se tornaram associações sem deixar de se destacar as
lideranças políticas. Segundo Weber isto fez com que a Alemanha tivesse uma
característica diferente em sua estrutura política comparada a outros países.
Temos então, a democracia com lideranças e com máquina
partidária e a democracia sem líder onde os políticos profissionais sem
vocação e sem carisma dominam esta máquina partidária, de acordo com o
calendário eleitoral o que fortalece a máquina partidária.
Em A ciência como vocação Weber quer mostrar o quanto a
ciência interfere na vida de cada pessoa já que ela impulsiona a tecnologia e
desenvolve os métodos de pensamento. A ciência indica os meios para se
alcançar determinadas metas e a prática científica se torna o exercício da
racionalidade. Segundo Berlinck, a racionalidade em Weber assume condição
formalista já que ela se adequa na explicação dos meios para os fins, sem uma
análise crítica dos fins.
Weber expõe que a distinção do homem em detrimento a ciência e
sua postura em reconstruir somente os fatos significativos e universais, deve se
basear na distinção em ser do deve ser, desta forma,
A razão pela qual em todas as ocasiões eu argumento tão
enfaticamente e talvez polemicamente contra a fusão entre
o ‘ser’ e o ‘dever ser’ não reside em que eu subestime as
questões relativas ao ‘dever ser’, mas pelo contrário, em que
eu não posso suportar quando problemas da mais alta
importância, do maior alcance intelectual e espiritual sejam
transformados aqui em questões de uma ‘produtividade’
técnico-econômica e sejam convertidas em tópicos de
26
discussão de uma disciplina técnica como a economia.
(CONH, 1979, apud Weber, 1977, p. 20)
Para Weber a ciência não pode propor o fim da ação prática, ela
pode mostrar os valores envolvidos e não a concepção de mundo. Tem que se
distinguir com rigor o que na ciência exprime ‘conhecimento empírico’ e o que é
apenas ‘juízo de valor’. Já o objeto do conhecimento social é formado pelo
pesquisador e seu método. O pesquisador deve ordenar racionalmente a
realidade empírica, ou seja, dar ordem ao que está como experiência e a
multiplicidade de fenômenos.
Em sua palestra, Weber está preocupado, assim como na Política
como vocação, em transmitir aos jovens qual a postura de um cientista, a
singularidade e a especialização da ciência. Assim ele diz,
Creio que, em verdade, os senhores esperam que eu lhes
fale de outro assunto, ou seja, da vocação científica
propriamente dita. Em nossos dias e referida à organização
científica, essa vocação é determinada, antes de tudo, pelo
fato de que a ciência atingiu um estágio de especialização
que ela outrora não conhecia e no qual, ao que nos é dado
julgar, se manterá para sempre. A afirmação tem sentido
não apenas em relação às condições externas do trabalho
científico, mas também em relação às disposições interiores
do próprio cientista, pois jamais um indivíduo poderá ter a
certeza de alcançar qualquer coisa de verdadeiramente
valioso no domínio da ciência, sem possuir uma rigorosa
especialização. (...) Só a especialização estrita permitira que
o trabalhador científico experimente por uma vez, e
certamente não mais que por uma vez, a satisfação de dizer
a si mesmo: desta vez, consegui algo que permanecerá. Em
nosso tempo, obra verdadeiramente definitiva e importante é
27
sempre obra de especialista. Conseqüentemente, todo
aquele que se julgue incapaz de, por assim dizer, usar
antolhos ou de se apegar à idéia de que o destino de sua
alma depende de ele formular determinada conjetura e
precisamente essa, a tal altura de tal manuscrito, fará
melhor em permanecer alheio ao trabalho científico. Ele
jamais sentirá o que se pode chamar a “experiência” viva da
ciência. (...) Com efeito, para o homem, enquanto homem,
nada tem valor a menos que ele possa fazê-lo com paixão.
(WEBER, 1993, p. 24)
A ciência para Weber era o caminho para se conhecer a realidade
sobre a existência humana, e que essa realidade tem que ser provada. Como
em sua obra tudo é compreensível por meio das relações racionais, a ciência
também, obrigatoriamente, tem que ser provada. “A ciência weberiana vinculase a consciência daquilo que não é conhecido.” (JASPERS, 2007, p. 123).
A relatividade da ciência pressupõe na concepção de Weber o
nascimento da consciência. A separação da ciência entre natural e social é
fundamental na teoria de Weber, tinha-se que se compreender o fenômeno
social em sua ação humana.
6)
A religião na obra de Weber
Os estudos sobre a sociologia da religião de Weber causaram um
profundo impacto nos estudos acerca da sociedade. Em A ética protestante e o
espírito do capitalismo, Weber procurou demonstrar a relação entre a religião
28
protestante e a idéia de vocação e o impulso para o lucro por meio do êxito
empresarial. (inserir filme V)
Weber procurava com esta obra os modernos costumes da
sociedade e o significado para a economia mais particularmente o que poderia
ser uma regulação racionalista da vida. Assim como ele próprio descreve,
A gênese do espírito capitalista no meu sentido do termo
pode ser pensada como a passagem do romantismo das
aventuras econômicas para a conduta racional da vida
econômica, (...) parece haver uma espécie de afinidade
entre certos princípios conceituais importantes para a
regulação racional da conduta e o modo de pensar
protestante. (CONH, 1979, apud Weber, 1977, p. 24)
Weber demonstra que sem a presença da religião protestante o
desenvolvimento do capitalismo moderno seria concebido de outra forma, isto
porque, o autor compara com religiões diferentes desta em outras sociedades e
demonstra que o capitalismo se desenvolveu de forma diferente. Analisa os
casos do budismo, do judaísmo, do hinduísmo e do islamismo. O que
procurava responder através destas comparações era saber qual era a ética
econômica destas religiões.
Em A ética protestante Weber constrói o tipo ideal na conduta
religiosa que possibilitou o desenvolvimento do capitalismo. Este era seu novo
objeto de análise sociológica: a religião e não o sistema capitalista.
É que tanto a moralidade quanto a necessidade de
compreensão do mundo, para Weber, nascem como
movimentos endógenos à racionalização religiosa. Daí que
Weber, ao procurar as raízes da especificidade da cultura
29
ocidental,
tenha
dado
especial
atenção
ao
estudo
comparativo das grandes religiões mundiais. (SOUZA, 1998,
p. 02)
Weber procura na interpretação das religiões a interação do homem
no meio social e natural, e por isso a história e análise das religiões será
fundamental para saber até que medida pode influenciar na ação deste
homem. Novamente recorremos a Souza para exemplificar esta teoria
weberiana,
Ao falar da gênese das religiões, Weber esclarece que não
pretende tratar da "essência" da religião, senão apenas
indagar sobre as condições e efeitos deste tipo de ação
comunitária. De acordo com o seu enfoque compreensivo, o
ponto de partida são sempre as vivências e representações
subjetivas dos indivíduos atores, ou seja, o "sentido" dado à
ação pelos sujeitos (Weber, 1985, p. 245). Esse "sentido",
pelo menos nas primeiras manifestações da religião e da
magia, é dirigido a "este mundo" criado pela expectativa de
que as coisas possam "ir bem e que se viva longos anos"
(ibid). O elemento religioso ainda se encontra entranhado
nos outros aspectos da vida cotidiana, especialmente o de
natureza econômica. Esse é o reino do naturalismo préanimista, onde coisas e significados ainda não se separaram
e o "sentido do mundo" como problema ainda não aparece.
Apenas a maior ou menor cotidianidade dos entes é objeto
da cognição mágica. O elemento apartado da familiaridade
imediata do cotidiano é o que Weber chamará de "carisma"
(idem, p. 247). (SOUZA, 1998, p. 03)
30
O racionalismo ocidental é explicado pela religiosidade, onde a ética
é fundamental, e segundo Weber é originária da ética judaica antiga, que
enfatiza a tensão com o mundo. O calvinismo, de todas as seitas protestantes,
foi o que esteve presente nos países capitalistas desenvolvidos e influenciou
com base na certeza da salvação, uma vida metódica que se valha como meio
para a glória divina. (Souza, 1998)
Weber considera que é preciso entender os dogmas religiosos para
que se possa compreender a conduta dos homens e com especial atenção às
relações econômicas. Ele procura identificar o tipo de religião para que o
capitalismo racional ocidental pudesse ter êxito em outros países. Weber
relaciona o espírito do capitalismo e o espírito protestante com a formação da
sociedade ocidental. (Aron, 2008)
Na sociedade contemporânea o profano ou o mítico não explicam a
sociedade e por isso o processo de racionalização se constitui. A relação da
religião com a formação social e o capitalismo cria um tipo de desenvolvimento
econômico. A partir de todos os elementos da religião, Weber os compara e
procura abranger o objeto estudado da diversidade presente.
De fato, o summum bonum dessa ética, o ganhar mais e
mais dinheiro, combinado com o afastamento estrito de todo
prazer
espontâneo
de
viver
é,
acima
de
tudo,
completamente isento de qualquer mistura eudemonista,
para não dizer hedonista; é pensado tão puramente como
um fim em si mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou
da utilidade para o indivíduo parece algo transcendental e
completamente irracional. O homem é denominado pela
geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final de
vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao
homem como um meio para a satisfação de suas
31
necessidades
materiais.
Essa
inversão
daquilo
que
chamamos de relação natural, tão irracional de um ponto de
vista ingênuo, é evidentemente um princípio-guia do
capitalismo, da mesma forma que soa estranha para todas
as pessoas que não estão sob influência capitalista. Ela
expressa ao mesmo tempo um tipo de sentimento que está
intimamente ligado a certas idéias religiosas. (WEBER,
2004, p. 49)
Weber nesta obra demonstra que o capitalismo força os indivíduos a
se conformarem com as regras do sistema de mercado. A religião impulsiona
estes mesmos indivíduos a aceitarem tais regras no sentido de conduzir seus
lucros e ganhos em uma conduta ideal de suas vidas.
Para finalizar, nas palavras de Weber,
Por outro lado, contudo, não temos qualquer intenção de
sustentar uma tese tola e doutrinária, pela qual o espírito do
capitalismo (...) possa ter surgido apenas como resultado de
certos efeitos da Reforma, ou mesmo que o capitalismo,
como sistema econômico, seja efeito da Reforma. O fato de
que certas formas importantes de organização capitalista
dos negócios são sabidamente mais antigas que a Reforma
bastaria, por si só, para refutar tal afirmação. Ao contrário,
queremos apenas nos certificar se, e em que medida, as
forças religiosas tomaram parte na formação qualitativa e na
expansão quantitativa desse espírito pelo mundo. Além
disso, verificar que aspectos de nossa cultura capitalista
podem apontar para aquelas. Tendo em vista a tremenda
confusão das influências interdependentes das bases
materiais, as formas de organização social e política e as
idéias vigentes no tempo da Reforma, apenas poderemos
investigar se, e em que pontos, podemos considerar certas
32
correlações entre as formas de crença religiosa e as práticas
éticas. Ao mesmo tempo, na medida do possível serão
esclarecidas a maneira e a direção geral em que por força
de
tais
relacionamentos,
os
movimentos
religiosos
influenciaram o desenvolvimento da cultura material. Só
depois de o termos determinado com precisão razoável
poderemos tentar avaliar em que medida o desenvolvimento
histórico da cultura moderna pode ser atribuída a tais
religiosas e em que medida podem ser relacionadas a elas.
(WEBER, 2004, p. 75).
Parte II
7)
Sociologia brasileira: breve histórico
O desenvolvimento principal da ciência sociologia ocorreu na
França, posteriormente na Alemanha e em seguida nos Estados Unidos. No
Brasil assim como outros países (tais como Inglaterra, Itália, Rússia) demorou
um pouco mais para se solidificar. (inserir apresentação Gama Filho)
Para Viana (2006), a sociologia tanto no Brasil como na América
Latina passou por quatro momentos distintos, o primeiro até 1930, passou por
uma fase sem elaboração teórica, apenas com reprodução das teorias
sociológicas européias. O segundo, entre 1930 e 1945, compreende os
primeiros passos para a institucionalização da sociologia, com a inauguração
da Escola Livre de Sociologia e Política,
Surgem os primeiros livros didáticos de Sociologia, escritos
por Arthur Ramos (1903-1949), Delgado de Carvalho (19011951), Fernando de Azevedo (1884-1974), Carneiro Leão
33
(1887-1966), etc., bem como a tradução de As regras do
método sociológico de Durkheim e a fundação da Sociedade
de Sociologia de São Paulo. Também a vinda de intelectuais
estrangeiros, como Roger Bastide (1898-1974), Jacques
Lambert (1901-), Levi Strauss (1908-2009), entre outros,
marcam
um
processo
institucionalização
da
de
aprimoramento
Sociologia
no
Brasil.
da
Outras
publicações como as de Caio Prado Júnior (1907-1990) e
Gilberto Freire (1900-1987) marcam um processo de
formação
de
um
pensamento
mais
elaborado
e
fundamentado em relação ao existente antes dos anos 30.
(VIANA, 2006, p. 102)
O terceiro momento da sociologia no Brasil, segundo Viana (2006),
tem início em 1945, é a consolidação desta ciência em nosso país. Os
pesquisadores começam usar técnicas próprias para o estudo da sociedade. O
referencial teórico ainda é o europeu, aplicado à realidade brasileira, mas isto
se deve também ao nascimento da sociologia em um ambiente de
subordinação econômica vivida em nosso país, o que impactou na publicação
de artigos originais e inovadores.
A sociologia subordinada brasileira nunca teve grande
originalidade e foi sempre influenciada pelas tendências
norte-americanas
e
francesas,
principalmente.
Nesse
período, surgem obras importantes na história da sociologia
brasileira: A revolução brasileira, de Caio Prado Júnior;
Sociedade de classes e subdesenvolvimento, de Florestan
Fernandes
(1920-1995);
Industrialização
e
atitudes
operárias, de Leôncio Martins Rodrigues; Brancos e negros
em São Paulo, de Florestan Fernandes e Roger Bastide,
(...). (VIANA, 2006, p. 102)
34
No quarto momento há o desenvolvimento da sociologia tanto com
sua institucionalização pelo Brasil como também pela abordagem, com maior
complexidade nas interpretações da realidade brasileira.
Octavio Ianni considera que a produção sociológica brasileira após
1945 encontrou três ciclos para sua solidificação. Um que diz respeito à crise
de transição do capitalismo agrário para o capitalismo industrial, o segundo que
se refere a reinterpretação social da história do país e o terceiro diz respeito às
transformações sociais, a revolução burguesa. (IANNI, 1989)
Muitos artigos, ensaios e monografias, sobre os mais
variados temas, relacionam-se de alguma forma a esses
três núcleos principais de problemas. Seja a análise do
populismo ou a do golpe de Estado, seja a polêmica sobre
os modelos políticos do desenvolvimento econômico ou a
controvérsia
metodológica
relativa
a
questões
de
objetividade e amplitude das interpretações, em quase todos
os casos é evidente que a produção sociológica brasileira
está polarizada em torno desses núcleos. Isto porque a
sociologia (como as outras ciências sociais, principalmente a
economia política) nessa época está recebendo fortes
solicitações e influências das classes sociais hegemônicas e
subalternas que se movimentam no cenário político e
cultural do país. As “novas” classes sociais, de base urbanoindustrial, pressionam e influenciam todas as esferas da
produção
cultural,
suscitando
novos
problemas
e
perspectivas para pesquisa, análise e discussão. (IANNI,
1989, p. 08)
35
Ainda segundo Ianni, a sociologia constitui o tipo de capitalismo que
se formou no Brasil e após 1945 foi um forte instrumento que apresentou os
movimentos das classes sociais e suas perspectivas.
Liedke Filho (2005) considera que, assim como os filósofos sociais
na Europa foram precursores da sociologia, também no Brasil tivemos um
período pré-científico para a teoria social que se estendeu até o início do
século XX. Sob influência das teorias de Comte, Spencer, Cousin, os políticos
ou pensadores autodidatas brasileiros procuravam soluções para problemas
sociais da época, tais como: a oposição entre liberais e autoritários, a
identidade nacional e a questão racial.
A sociologia como ciência, assim como pontuamos acima, iniciou por
volta de 1920, quando a sociologia foi introduzida nos cursos de direito e
economia. O movimento da Escola Nova, por volta de 1924, também
influenciou o ensino de sociologia, haja visto que, publicavam manuais de
sociologia e se ensino.
Azevedo (1951), enfocando esta fase de introdução do
ensino da Sociologia em escolas do país (1928-1935),
argumenta que a origem da consolidação da Sociologia na
mesma deve ser procurada, não em uma única causa
determinante, senão em múltiplas causas que estão
estreitamente
ligadas,
sendo
possível
distingui-las
unicamente para fins analíticos. A multiplicidade de fatores
decorrentes dos contatos, conflitos e acomodações de
povos e culturas diversas; o contraste entre as sociedades
em mudança e as culturas de folk remanescentes em toda a
vasta extensão territorial; a variedade de paisagens culturais
e a contemporaneidade ou justaposição nas realidades
concretas, de séculos ou de “camadas históricas”, deveriam
36
certamente sacudir a atenção e despertar o interesse pelo
estudo científico dessas realidades sociais vivas e atuais,
postas sob os olhos de todos e que não escaparam, pela
intensidade dos fenômenos, aos observadores menos
atentos. (...)
O primeiro surto industrial, em 1918, em conseqüência da
guerra mundial, as transformações da estrutura econômica e
social que daí resultaram, e a revolução de 1930 que,
provocada por essas mudanças, contribuiu para intensificálas repercutindo nas esferas culturais, devem estar na
origem da nova atitude crítica na mentalidade das elites
novas, dos movimentos de renovação em diversos setores,
como nos das letras e das artes, da educação e da política,
e do interesse crescente pelos estudos científicos das
realidades sociais. (LIEDKE, 2005, p. 382)
A sociologia como ciência no Brasil começou a ser discutida em 1934,
mas seu apogeu ocorreu somente em 1950. Como vimos acima, a primeira
experiência de institucionalização foi com a Escola de Sociologia e Política em
São Paulo. A criação desta Escola tinha como objetivo formar e organizar a
elite a partir de métodos científicos elaborados na Europa. A partir de seus
estudos, publicaram pesquisas com relação a comunidades, baseadas nas
teorias da Escola de Chicago e que podem ser consideradas como as
primeiras pesquisas sociológicas no Brasil. Com o advento da industrialização
a partir de 1920 e a revolução de 1930 foram criados os motivos por novos
movimentos e pelo estudo da situação social brasileira. (inserir filme VI)
A Escola de Sociologia da USP (Universidade de São Paulo) surgiu em
1955 sob a liderança de Florestan Fernandes que desenvolveu pesquisas
37
sobre as relações raciais brasileiras. Mas a sociologia cientifica ainda tinha um
longo caminho para percorrer no Brasil,
A emergência dos “novos” regimes autoritários latinoamericanos, a partir da década de sessenta, e seus
impactos negativos sobre a práxis sociológica na região
vieram a ser interpretados como “obstáculos” à consolidação
da sociologia científica (Germani, 1969; Fernandes, 1977).
Uma “crise” da Sociologia seria interpretada seja como um
sinal de “imaturidade” das ciências sociais ou como uma
disfunção entre os requisitos universais-normativos da
ciência e os interesses e atitudes sociais, sendo concebida
em ambos os casos como uma fase transitória que, uma vez
superada implicaria no florescimento pleno da “Sociologia
Científica”. (LIEDKE, 2005, p. 390)
Várias abordagens se sucederam após a sociologia científica se
institucionalizar no Brasil. Pensava-se em uma sociologia nacional, que
enfatizasse a democracia nacional e representasse a realidade da sociedade.
Esta corrente da sociologia criticava o cientificismo, creditando a este a
alienação das pesquisas elaboradoras sobre o Brasil.
A alienação da Sociologia brasileira decorre de que ela não
é, em regra, fruto de esforços tendentes a promover a
autodeterminação de nossa sociedade, sendo que o
sociólogo brasileiro tem realmente assumido uma atitude
perfeitamente equivalente à do estrangeiro que nos olha a
partir de seu contexto nacional e em função deste nos
interpreta (LIEDKE FILHO, 2005, p. 393)
38
Em 1960 ambas abordagens sofreram críticas marxistas que
provocou um novo campo de análise da sociologia com novas interpretações
metodológicas sobre a realidade brasileira. Desta forma e diante da crise
democrática que o país vivia, a diversificação da sociologia ocorreu
rapidamente. Após o golpe de 1964, mesmo com os impactos repressivos
sobre associações e institutos de sociologia, observou-se um aumento na
institucionalização da mesma, principalmente após 1969, data da reforma
universitária. (LIEDKE FILHO, 2005)
Após o período militar, a ênfase nas pesquisas mudou e a
abordagem passou para a sociedade civil, com destaque aos movimentos
sociais. A sociologia brasileira de 1960 para 1990 passou da temática macroestrutural com relação ao sistema econômico e político, para a análise da
transição democrática e o papel dos movimentos sociais.
De forma muito rápida, em meados da década de 1990, esta
temática também mudou para as pesquisas dedicadas a identidade e
representação social. Na atualidade, dentro de um contexto de busca de uma
nova identidades das ciências sociais brasileiras, “pode (se) constatar face à
expansão e diferenciação dos grupos de pesquisa constantes do Diretório de
Grupos de Pesquisa do CNPq, novos temas e novas abordagens (que) vieram
a ser propostos para a explicação e/ou compreensão da situação social
brasileira.” (LIEDKE FILHO, 2005, p. 426)
Para Schwartzman com a profissionalização, o sociólogo perdeu
credibilidade, isto porque, a sociologia está entre a economia e a política com a
diferença que não possui os mesmos instrumentos técnicos para análise social
39
que estas outras ciências têm. Para este autor, as transformações sociais com
o fim do socialismo geraram a perda de referenciais outra defendidos pelos
sociólogos,
o fundamento moral da ação intelectual e profissional do
cientista social, antes baseado no engajamento político em
favor de um projeto claro de transformação social, também
se fragmentou e diversificou. Para muitos dos que
continuam na militância política e social, a ética dos direitos
individuais, subjetivos e imediatos toma o lugar dos projetos
globais e de longo prazo de transformação, e os interesses
dos grupos e movimentos em que participam passam a ser
interpretados como se fossem de interesse geral. Para
outros, sobretudo nas universidades, prevalecem os valores
da produção científica e intelectual, medida de forma
empobrecida
pelos
indicadores
convencionais
de
desempenho acadêmico; para os poucos que se dedicam ao
trabalho profissional para clientes públicos e privados, são
os valores do sucesso profissional, expresso nas carreiras
em
empresas
e
organizações,
assim
como
nas
recompensas salariais, que adquirem primeiro plano. E
existem ainda os que escrevem e se comunicam com o
grande público, através de jornais e livros de cunho geral, e
que valorizam, sobretudo, o papel que possam ter como
formadores de opinião. (SCHWARTZMAN, 2009, p. 272)
A fragmentação da sociologia, tanto no Brasil como em outros
países, pode ser analisada de duas formas, ou seja, tanto pode significar um
retrocesso para esta ciência como também pode indicar novas formas de
pesquisa e análise sociológica. Schwartzman aponta como campo para a
sociologia a sociedade civil.
40
Diante desta afirmação, Burawoy propôs que existiam quatro tipos
de sociologia, assim indicado: a primeira é a sociologia profissional presente na
academia; a segunda é a sociologia crítica também presente na academia, mas
com a preocupação de saber a natureza da sociologia; a terceira é a sociologia
aplicada que tem o intuito de estudar políticas publicas, e a última é a
sociologia pública onde a presença do sociólogo está além da academia.
A preocupação fundamental de Schwartzman é demonstrar que a
sociologia no Brasil cresceu, mas ainda falta campo de trabalho já que
fundamentalmente o sociólogo exerce sua profissão em universidades, como
professor, assim relata
Minha hipótese é de que os principais campos de trabalho
para os sociólogos brasileiros, hoje, são as organizações
não-governamentais da sociedade civil, o trabalho na
administração
pública
e
a
carreira
acadêmica.
Diferentemente de Burawoy, acredito que é no mundo
acadêmico, da liberdade de pesquisa e do rigor científico,
que deveria estar a âncora que desse ao sociólogo a
liberdade de trabalhar com autonomia e independência
intelectual nos outros setores. A questão que se coloca é se
essa âncora realmente funciona, ou se, ao contrário, são as
agendas das organizações da sociedade civil e das
burocracias
públicas,
assim
como
dos
partidos
e
movimentos políticos que permeiam as instituições, que
acabam determinando o que ocorre no âmbito da pesquisa
acadêmica e profissional. Não há dúvida de que uma
sociologia aberta para o público, com temas trazidos pela
sociedade e cujas conclusões são testadas e discutidas pela
sociedade, é muito mais rica e interessante que uma
sociologia trancafiada nos muros disciplinares e dedicada
aos rituais dos jogos de poder e prestígio da academia. O
desafio que vejo para os sociólogos no Brasil é o de estarem
41
atentos e sintonizados com essa agenda pública e, ao
mesmo tempo, consolidar uma sociologia que mantenha sua
independência e sua relevância, tanto em relação aos rituais
acadêmicos
quanto
em
relação
às
organizações
e
movimentos sociais com os quais dialoga ou dos quais
participa. Existem duas condições para que isso possa ser
feito. A primeira é que o campo do espaço acadêmico possa
se fortalecer cada vez mais, fazendo com que os valores e
os benefícios do trabalho e da independência intelectual
prevaleçam sobre outras motivações e interesses. O
segundo é que a sociologia consiga retomar, de forma
criativa e significativa, seu espaço intelectual e sua
relevância para a sociedade. (Schwartzman, 2009, p.277)
Para este autor, os sociólogos brasileiros têm que pensar no sentido
de colaborar com a transformação do estado nacional, bem como das
instituições públicas, mesmo que estes não sejam mais objetos exclusivos da
sociologia.
O objeto e o tema de pesquisa tem sido recorrente na sociologia. A
certeza é que, de forma geral, as relações entre ciência e sociedade tem se
realizado pela sociologia. No Brasil isto assume formas de temas de pesquisa
que, segundo Liedke Filho, se concentram em sete grandes eixos, a saber: 1)
as etapas da institucionalização da sociologia para alcançar o status
acadêmico-científico; 2) a tipologia da evolução institucional do trabalho
sociológico; 3) as periodizações da sociologia na América Latina; 4) a situação
vivida sob o regime autoritário não só no Brasil mas em toda América Latina; 5)
o conceito de comunidade acadêmico-científica; 6) a presença da sociologia
em Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq); 7) a
42
capacidade da sociologia de enfrentar teórico-metodologicamente os desafios
temáticos e históricos que as sociedades apresentam. (LIEDKE FILHO, 2003)
A seguir acompanharemos a trajetória dos principais sociólogos
brasileiras da contemporaneidade. Faremos uma recuperação dos principais
temas abordados em suas obras como também da importância de seus
métodos científicos para a sociologia nacional. Começaremos por Florestan
Fernandes.
8) Florestan Fernandes e a Sociologia no Brasil
Florestan Fernandes em entrevista (fonte: novaescola.com)
A evolução das orientações teórico-metodológicas e das preocupações temáticopolíticas que caracterizam a obra de Florestan Fernandes, permitem a identificação
de quatro etapas distintas: Etapa de Formação Intelectual (1941-1952); Etapa da
Sociologia numa Era de Revolução Social (1952-1967); Etapa da Reflexão sobre a
43
Revolução Burguesa no Brasil (1967-1986) e Etapa da Militância-Cidadã (1986-1995).
(...) A Etapa de Formação Intelectual de Florestan Fernandes estende-se do seu
ingresso na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo em 1941, até o
momento em que assume a Cadeira de Sociologia I em 1953. Destacam-se, nessa
etapa entre os estudos empíricos, os levantamentos acerca do Folclore e da Mudança
Social em São Paulo (1976a), A Organização Social dos Tupinambás (redação em
1947 e primeira publicação em 1949; 1963), A Função Social da Guerra na Sociedade
Tupinambá (1949; republicado 1970). Entre os estudos teórico-metodológicos,
merecem destaque a introdução, de sua autoria, para a tradução, da Contribuição à
Crítica da Economia Política de Marx, realizada em 1946, como “tarefa” de sua,
então, militância no movimento trotskista, e a monografia acerca da “Concepção de
Ciência Política de Karl Mannheim” (In 1974b), redigida em 1946, sob orientação do
Professor Emílio Willems, como trabalho da Cadeira de Antropologia da Pósgraduação na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Destaque cabe
também ao texto “O Problema do Método na Investigação Sociológica” (1947, in
1971), no qual se configura a originalidade da formulação teórica inicial da obra de
Florestan, a qual imantou a organização da “Escola de Sociologia da USP”. (...)
Uma segunda etapa da obra de Florestan - Etapa da Sociologia numa Era de
Revolução Social (1952-1965) – tem por base a historicização da problemática
original da obra de Florestan Fernandes, a qual passa a ser nucleada na relação
entre razão e possibilidades de construção da ordem social, industrial e democrática
no Brasil, cabendo, neste processo de intervenção, um papel relevante à Sociologia
Aplicada. Florestan Fernandes, no texto “Desenvolvimento Histórico-Social da
Sociologia no Brasil” (1957, in 1977), propôs uma periodização da evolução da
Sociologia no Brasil tendo por base o objetivo dominante da produção de
conhecimentos sociológicos, o que permite compreender o significado que ele atribuía
à Sociologia e ao seu próprio trabalho intelectual nesta etapa. (...)
Em 1952, Florestan Fernandes assumiu a Cadeira de Sociologia I, em substituição a
Roger Bastide que retornava então à Europa, e deu início à organização de um
grupo de colaboradores, constituído inicialmente por Fernando Henrique Cardoso,
Octavio Ianni e Renato Jardim Moreira, originando a “Escola de Sociologia da USP”.
Por “Escola de Sociologia da USP” ou “Escola de Sociologia de Florestan Fernandes”
entende-se o grupo de cientistas sociais que trabalharam ligados a este sociólogo no
período de 1954 a 1969, na antiga Faculdade de Filosofia da USP, desenvolvendo
uma série de projetos de pesquisa comuns, abrangendo temas referentes (1) às
44
relações raciais no Brasil, (2) à empresa industrial em São Paulo e (3) à análise
sociológica do desenvolvimento no Brasil, (...)
A reflexão acerca da Sociologia Aplicada ocupa lugar de destaque na produção
intelectual de Florestan Fernandes nesta etapa, sendo a mesma concebida como a
“análise dos efeitos disnômicos da vida social e das condições previsíveis de
intervenção racional no controle das situações em que elas emergem socialmente”,
sendo uma das exigências fundamentais da mesma, que seja uma análise do
presente. (1971, p. 151). São desta etapa da obra de Florestan, expressando suas bases
teórico-metodológicas, os textos “O Método de Interpretação Funcionalista em
Sociologia” (Tese de Livre-Docência à Cadeira de Sociologia I, defendida em 1953); “O
Problema da Indução na Sociologia” (1954) e “A Reconstrução da Realidade nas
ciências sociais” (1957), publicados na coletânea Fundamentos Empíricos da
Explicação Sociológica (Fernandes,1980a). (...)
Uma terceira etapa da obra de Florestan Fernandes – Etapa da Reflexão sobre a
Revolução Burguesa no Brasil – inicia-se sob o impacto do movimento de 1964,
quando se realiza uma ruptura radical com a problemática até então vigente na sua
produção intelectual. A dignidade intelectual de Florestan Fernandes nos dramáticos
momentos que se seguiram a 1964, está registrada em seu discurso de paraninfo da
turma da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de 1964, intitulado “A Revolução
Brasileira e os Intelectuais” (1965, in 1969), e, particularmente, em sua “Autodefesa”,
carta enviada ao Encarregado do Inquérito Policial-Militar junto à Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da USP e que precedeu sua prisão por três dias em
setembro de 1964, carta esta publicada como “Apêndice” ao texto “Em Busca de
Uma
Sociologia
Crítica
e
Militante”
(1977).
“Sociedade
de
Classes
e
Subdesenvolvimento” (1967, in 1969) é o texto-marco dessa ruptura, enquanto
instauração da problemática do subdesenvolvimento como forma específica de
realização do capitalismo mundial, a qual se apresenta como uma forma particular
de Revolução Burguesa, despojada de qualquer impulso construtivo e revolucionário.
O referido texto, que dá o nome à coletânea em que foi publicado, distancia-se
profundamente dos demais textos desta, os quais, redigidos entre 1965 e 1967, ainda
se encontram dentro dos marcos teóricos da problemática anterior da produção de
Florestan Fernandes, tendo o conceito de Dilema Social como conceito explicativo
principal. Ressalte-se, todavia, que o caráter particular da Revolução Burguesa no
Brasil, a partir da formação histórica da sociedade brasileira, adquire importância
45
crescente ao longo desses textos redigidos entre 1965 e 1967, vindo a culminar na
referida ruptura. (...)
Ainda em 1986, com a aceitação do convite formulado pelo Partido dos
Trabalhadores para concorrer à Câmara dos Deputados, tem início uma quarta
etapa – Etapa da Militância-Cidadã, em que, junto com a crítica ao jogo político das
elites para a manutenção de seus privilégios durante a fase Constituinte, à Nova
República e à eleição presidencial de 1989, vieram a ocupar lugar de destaque as
intervenções de Florestan Fernandes como Deputado Federal Constituinte e membro
da Comissão de Educação, a favor de uma educação verdadeiramente popular e
democrática, tendo proposto a lei que estabelece um percentual para a educação e
ciência. Nessa etapa, destacam-se os livros Que Tipo de República? (1986), O Processo
Constituinte (1988), Florestan Fernandes - Pensamento e Ação - O PT e os Rumos do
Socialismo (1989), A transição prolongada (1990), Democracia e Desenvolvimento - A
Transformação da Periferia e o Capitalismo Monopolista na Era Atual (1994) e
Tensões na Educação (1995).
Riedke Filho, 2005
A USP (Universidade de São Paulo) em 1934 surgiu das novas
concepções vindas das elites políticas paulistas tradicionais e de projetos
educacionais avançados. Este espaço foi importante para a formação de
cientistas que poderiam se dedicar exclusivamente à docência e à pesquisa
acadêmica, e desta forma as ciências sociais puderam se institucionalizar de
forma moderna e transformadora. (ARRUDA, 2010)
Florestan Fernandes (1920-1995) foi um dos primeiros cientistas
sociais formado pela USP e que em seguida ingressou no corpo docente da
faculdade. (inserir apresentação Gama Filho)
Nenhum dos seus contemporâneos identificou-se, como ele,
com a missão de edificar as bases científicas da sociologia
46
no Brasil; tampouco a nenhum da sua geração pôde-se
atribuir papel de tal proeminência no campo da teoria, da
pesquisa
sociológica,
da
atuação
institucional
e
do
entendimento da dimensão profissional do métier. Por essa
razão, a imagem do sociólogo brasileiro, hoje difundida,
inspirou-se
largamente
na
sua
trajetória
pessoal
e
institucional, estilo que vinha se desenvolvendo desde, pelo
menos, o meio século XX, como decorrência da fundação da
Universidade de São Paulo e do modelo de pesquisa
introduzido pela Escola Livre de Sociologia e Política de São
Paulo, criada em 1933, combinados à tradição brasileira do
intelectual público, especialmente marcante no Rio de
Janeiro. O perfil do cientista social compôs-se, portanto, no
encontro entre essas diversas tradições, que pressupôs o
ensino sistemático das disciplinas em moldes científicos e o
envolvimento com as questões públicas do país. (ARRUDA,
2010, p. 11)
Foi em São Paulo que ocorreu as maiores e mais rápidas mudanças na
sociedade brasileira, dadas a crescente industrialização e a grande
representatividade de forças políticas e intelectuais. E por isso, e não podia ser
diferente, foi onde a sociologia primeiro se desenvolveu. Segundo Arruda, o
tema dos intelectuais deste período era a mudança social, isto porque “A
sociologia no Brasil bebeu na fonte da modernização em curso e elegeu como
problema fundamental da reflexão a formação da sociedade moderna no país:
suas possibilidades, tensões, impasses e dilemas no desenrolar das
transformações. (ARRUDA, 2010, p. 12)
Em meio a estas transformações que Florestan Fernandes começou
suas pesquisas
47
As concepções sociológicas de Florestan hauriram da
sociologia
mannheimiana
parte
essencial
das
suas
motivações, evidenciadas no significado que atribuiu ao
papel dos intelectuais na vida das sociedades, presentes
nas suas formulações sobre a “civilização científica”,
resultaram também das análises sobre os dilemas da
modernização no Brasil. A consciência de que a nossa
formação
moderna
era
particular
não
o
impediu,
especialmente ao longo dos anos de 1950, de admitir a real
possibilidade de se criar no país princípios de uma
modernidade ancorada em valores democráticos. Nos seus
termos, apesar de a “transplantação da civilização ocidental
para a zona tropical” constituir-se “em processo penoso,
cheio de dificuldades e de transtornos”, era viável a
construção da civilização moderna no país, caso certos
requisitos como o da expansão da educação e o da
intervenção racional das ciências sociais fossem realizados
(Fernandes, 1974. p. 311 – as referências seguintes a essa
obra seguirão a segunda edição). (ARRUDA, 2010, p. 13)
Quando Florestan foi admitido, em 1945, na USP como docente sua
pesquisa apontou variações na análise do processo de formação do Brasil.
Neste mesmo ano Florestan escreve o livro Tiago Marques Aibopureu: um
bororo marginal para um seminário sobre os índios no Brasil. Neste artigo, é
destacado o tratamento de conflito entre homens e sociedade, como também a
história de herança e negação junto às escolhas individuais. Estes caminhos
percorridos por Tiago, segundo Arruda também representaram os caminhos de
Florestan que,
situado entre dois mundos – o das classes populares e o da
Universidade –, diferentemente do Índio Bororo, construiu
48
uma
“solução
ativa”
que
lhe
permitiu
romper
o
estranhamento inicial, gestado na natural dificuldade de uma
pessoa
socialmente
desenraizada
conviver
com
um
ambiente bastante elitizado da Faculdade de Filosofia, nos
seus primeiros tempos. (ARRUDA, 2010, p. 14)
Com muito empenho Florestan rompeu preconceitos e fez uma
construção de si mesmo diante dos novos desafios que lhe era apresentado.
Sua obra intelectual demonstra isso, ou seja, a preocupação em construir a
moderna sociedade brasileira. A década de 1950, acompanhado pelo momento
político brasileiro de modernização e transformação, foi o período de maior
destaque da sociologia de Florestan. A sociedade durante anos acreditou no
potencial transformador dessas idéias vindas do conhecimento social, e por
isso, a sociologia ganhou espaço entre as promessas e estudos organizados
para este novo momento. (ARRUDA, 2010) (inserir filme VII)
A Escola Paulista de Sociologia, no entanto, buscou
demarcar, com muita nitidez, as diferenças entre a atuação
pública do cientista social do seu compromisso com o
conhecimento rigoroso, seguindo a orientação de Florestan,
que não se alforriava da ciência e para qual dirigia a maior
parte de suas energias, projeto, aliás, comum a outros
cientistas sociais da América Latina que tiveram papel
central na renovação das disciplinas, delineando seus rumos
vindouros, como foi o caso de Gino Germani, na Argentina
peronista (cf. Neiburg, 1997, pp. 157-184). Por todos os
motivos assinalados, esses cientistas sociais tiveram que
moldar os novos papéis, modelar a nova figura, em um
espaço
aberto
a
estilizações.
Não
por casualidade,
Florestan e Germani eram representantes típicos da
49
condição outsider: o primeiro por ser originário dos estratos
inferiores das camadas populares; o segundo em função da
sua
condição
de
recém-emigrado
que
“não
era
individualmente conhecido [...] nem estava conectado com
algum movimento intelectual visível” (Blanco, 2006, p. 244).
A compreensão do potencial de inovação requeria, portanto,
o tratamento das disposições diversas aos sujeitos imersos
no processo, bem como a maneira como aderiam ao novo
estilo e identificavam-se com as instituições. (ARRUDA,
2010, p. 16)
A preocupação científica de Florestan com a sociologia revelava sua
consciência em fazer desta ciência uma agenda de pesquisa com implicações
à própria sociologia. Ele propunha fazer desta ciência no Brasil novos métodos
para que se conseguisse abordar as sociedades heterogêneas presentes em
nosso país. Todo este projeto passava pela universidade que poderia legitimar
a sociologia no Brasil.
Outra obra que marcou a produção teórica de Florestan foi A integração
do negro na sociedade de classes. Esta foi sua tese para o concurso da
cátedra de sociologia na USP, apresentada em 1964. Neste trabalho Florestan
retoma a temática das relações raciais e revela o amadurecimento da reflexão
sociológica com questões sobre a constituição do Brasil moderno
Explicita-se, (...) o entendimento da particular realização da
sociedade moderna no Brasil, como processo complexo e
de resultados híbridos, uma vez que, a despeito do ritmo
das transformações, padece de uma sorte de fraqueza
congênita, comprometendo todo o seu desenvolvimento
ulterior. As análises sobre a herança da escravidão
50
inseriam-se, dessa maneira, na busca de compreender
como os fundamentos da sociedade brasileira produziam
bloqueios à plena consecução de princípios civilizados,
verdadeiros anteparos à pura modernidade capitalista. O
projeto de investigar o papel das relações escravistas no
Brasil na constituição da sociedade nacional desdobrou-se
nos trabalhos escritos por seus assistentes, como Fernando
Henrique Cardoso, Octávio Ianni, Maria Sylvia de Carvalho
Franco, entre outros colaboradores. A articulação dos temas
de pesquisa deu frutos e produziu afinidades intelectuais ao
grupo reunido por Florestan, justificando a identificação
posteriormente construída e sintetizada na expressão
Escola Paulista de Sociologia, apesar de a convivência não
ter sido sempre apaziguada e comportar diferenças internas
entre os participantes. (ARRUDA, 2010, p. 19)
Nesta obra, Florestan identifica que o imigrante em São Paulo teve
relativa aceitação e sucesso em sua incursão, diferente do grupo negro que
teve um processo de lenta integração. O autor reconstrói o passado destes
grupos por meio da análise de sua história econômica e social. Verifica que o
fim da escravidão e o crescimento rápido da cidade de São Paulo ao foram
motivos de inclusão dos negros aos postos de trabalho. “É justamente sobre
este “drama histórico” que se concentra a maior parte da reconstrução histórica
apresentada em A integração do negro na sociedade de classes.” (BRASIL JR.,
2010, p. 182)
O elevado número de imigrantes que entrou na capital paulista
representou, segundo Fernandes, um impacto demográfico e econômico que
gerou diferenças e desigualdades na estrutura social.
51
O fato de a urbanização e a industrialização se darem, em
grande parte, como consequência da imigração concedia ao
imigrante uma posição altamente vantajosa em relação ao
elemento nacional e, em segundo lugar, quase anulava as
possibilidades de competição do negro e do mulato,
automaticamente deslocados para
os setores menos
favorecidos do conglomerado nacional. (FERNANDES, 2008
apud BRASIL JR., 2010, p. 183)
Os imigrantes estrangeiros ou de outros estados do Brasil tinham
garantido postos de trabalho melhores que os dos negros. Florestan através
desta afirmação, responde sociologicamente, com a análise de que os negros
não tinham ainda se ajustado as novas regras do mercado de trabalho, o que
tornava um caminho quase que impossível dissociar a pessoa humana do
trabalho que agora era livre e com contrato, onde o que se vende a força de
trabalho.
para manter a pessoa intangível, procuravam cumprir as
obrigações
contratuais
segundo
um
arbítrio
que,
formalmente, prejudicava os interesses do contratante, por
causa das incertezas e imprevistos que se introduziam na
relação patrão-assalariado. A recusa de certas tarefas e
serviços; a inconstância na frequência ao trabalho; o
fascínio por ocupações real ou aparentemente nobilitantes;
a tendência a alternar períodos de trabalho regular com
fases mais ou menos longas de ócio; [...] essas e outras
“deficiências” do negro e do mulato se entrosavam à
complexa situação humana com que se defrontavam no
regime de trabalho livre (FERNANDES, 2008 apud BRASIL
JR., 2010, p. 184).
52
A expansão do capitalismo na cidade de São Paulo teve seu ajuste a
partir de uma desigualdade entre negros e imigrantes. Florestan certifica que
os negros não tiveram a experiência de uma nova sociedade, mais moderna,
pois as mudanças sociais trazidas com os imigrantes bloquearam este
trabalhador (BRASIL JR, 2010), desta forma, a industrialização de São Paulo
não permitiu a integração de todos os grupos sociais na esfera econômica do
período.
Florestan Fernandes em A integração do negro na sociedade de
classes dá um destaque à constituição familiar, considera que os negros
tinham uma família incompleta, pois em uma sociedade de classes a família
era o único apoio que o indivíduo tinha
Sem um mínimo de cooperação e de solidariedade
domésticas, ninguém podia vencer naquela “selva
selvagem”; a “competição individualista”, irrefreada ou
não, requeria um complexo substrato institucional, de
que a família integrada constituía o patamar. Os
exemplos dos imigrantes são conclusivos, pois entre
eles a família sempre servia, direta ou indiretamente,
de alicerce à rápida ascensão econômica, social e
política. (FERNANDES, 2008 apud BRASIL JR., 2010,
p. 196)
Fernandes sugere que os grupos negros foram os mais
prejudicados por este processo de modernização em São Paulo, mas
considera também que outros grupos, definidos pelo autor como rústicos, foram
excluídos deste processo de mudança sócio-econômica.
53
Outra abordagem relevante que o autor faz na obra A integração
do negro na sociedade de classes é com relação aos movimentos sociais dos
negros. Florestan considera que estes movimentos estavam ligados aos
setores mais frágeis da sociedade, pois não conseguiam envolver outros
grupos e a própria sociedade de forma completa. “Neste ‘drama histórico’, a
sociedade brasileira teria deixado aos negros a ‘responsabilidade de se fazer
justiça com as próprias mãos’, condenando ao malogro as tentativas de
democratização da sociedade.” (BRASIL JR., 2010, p. 209)
A revolução burguesa no Brasil, outra obra de destaque, publicada
em 1975, revela, além de seu conteúdo científico, o percurso intelectual de
Florestan. Neste livro, ele analisa a formação da sociedade burguesa no Brasil,
assim exposto,
É preciso que o leitor entenda que não projetava fazer obra
de “Sociologia acadêmica”. Ao contrário, pretendia, na
linguagem mais simples possível, resumir as principais
linhas da evolução do capitalismo e da sociedade de classes
no Brasil. Trata-se de um ensaio livre, que não poderia
escrever se não fosse sociólogo. Mas que põe em primeiro
plano as frustrações e as esperanças de um socialista
militante (FERNANDES, 1958 apud ARRUDA, 2010, p. 20).
Florestan aborda a construção da sociedade de classes e a
formação da racionalidade burguesa brasileira, assim como explica
[...] trata-se [...] de determinar como se processou a
absorção
de
um
padrão
estrutural
e
dinâmico
de
organização da economia, da sociedade e da cultura. Sem a
54
universalização do trabalho assalariado e a expansão da
ordem social competitiva, como iríamos organizar uma
economia de mercado de bases monetárias e capitalistas? É
dessa perspectiva que o “burguês” e a “revolução”
aparecem no horizonte da análise sociológica. Não tivemos
todo o passado da Europa, mas reproduzimos de forma
peculiar o seu passado recente, pois este era parte do
próprio processo de implantação e desenvolvimento da
civilização ocidental moderna no Brasil. Falar em revolução
burguesa, nesse sentido, consiste em procurar os agentes
humanos das grandes transformações histórico-sociais que
estão por trás da desagregação do regime escravocratasenhorial e da formação de uma sociedade de classes no
Brasil. (FERNANDES, 1958 apud ARRUDA, 2010, p. 21)
Desta forma Florestan busca, por meio da recuperação da história
das classes sociais, se certificar sobre a formação do Brasil moderno, e assim
responder questões da origem e da identidade brasileira e os caminhos para
superar o tradicionalismo existente. A revolução burguesa no Brasil é atual e
suscita discussões e referências pois, “Florestan localiza o problema da nossa
história na incapacidade ou impossibilidade de superar os princípios inerentes
à ordem social anterior. As noções de capitalismo dependente e ordem social
competitiva estruturam a análise, permitindo-lhe compreender os limites do
‘estilo competitivo de vida social’ e da ‘mentalidade econômica racional’.”
(ARRUDA, 2010, p. 22)
Com relação a formação do homem enquanto modelo de
competição,
Florestan
recupera
no
período
escravocrata
brasileiro
o
comerciante de escravos e seu papel externo e interno no mercado com
55
relação ao senhor de escravos. Segundo o autor este foi o início do agente
humano competidor, assim como justifica Florestan,
Não obstante, esse agente humano interessa seriamente à
análise sociológica. É que ele está na raiz da formação do
modelo brasileiro de “competição”. Seria injusto subestimar
o esforço criador – no sentido puramente econômico – do
agente humano envolvido no “alto comércio” de exportação
e de importação. Mas também seria ingênuo tentar
compreendê-lo como se ele estivesse à testa de processos
econômicos de um desenvolvimento
capitalista
auto-
sustentado, auto-suficiente e hegemônico. Ele era um
produto acabado da “pirataria” e do caráter extorsivo do
comércio neocolonial, que a indirect rule inglesa espalhou
pelo mundo. Havia um substrato econômico nos “termos de
negócio”. Todavia, o mais importante não estava aí. Isso
aconteceria se os “termos de troca” constituíssem uma
operação estritamente econômica nos moldes do mercado
capitalista
especificamente
moderno.
No
comércio
neocolonial contava, essencialmente, a capacidade de ditar
ou de determinar as condições dos “termos de troca”. Como
o setor agrário, o “setor mercantil” iria definir a sua
compreensão da “iniciativa privada” e da natureza da
“competição” em termos estamentais: como um privilégio, ou
seja, como a faculdade de influenciar ou de estabelecer as
condições dentro das quais as relações e os processos
econômicos deveriam
ser
adaptados à
situação
de
interesses do agente econômico. Dessa perspectiva, este
não realizava o seu destino econômico no e através do
mercado, mas fora e acima dele, pela manipulação de
estruturas de poder suscetíveis de regular, direta ou
indiretamente, o fluxo dos custos, dos preços e dos lucros.
Essa representação puramente instrumental da “iniciativa
privada” e da “competição” deturpava a ação econômica,
pois a privilegiava e a potencializava independentemente
56
das “forças do mercado” (e, conforme as circunstâncias, até
contra elas). Contudo, ela não só alimentou a integração
política do setor, como perdurou ao longo da evolução
posterior do mercado capitalista no Brasil. (FERNANDES,
2006, p. 224)
Florestan reitera o surgimento e a formação da sociedade de
classes, principalmente da origem da burguesia no Brasil. O estado, segundo o
autor, foi o transformador desta sociedade já que não era fundamental para a
classe burguesa o processo de industrialização. Mas, ao mesmo tempo, a
dependência econômica levou a burguesia romper com as relações externas
pois não era possível uma organização nacional com implicações externas. “É
por esse motivo que a análise da “revolução burguesa no Brasil consiste na
crise do poder burguês, que se localiza na era atual e emerge como
consequência da transição do capitalismo competitivo para o capitalismo
monopolista” (ARRUDA, 2010, p. 23)
Além dos livros acima abordados Florestan Fernandes deixou uma
vasta obra para a sociologia brasileira, nos atemos em maior parte A revolução
Burguesa no Brasil, pois simboliza a profundidade e o rigor científico do autor e
seu compromisso com a superação dos problemas sociais brasileiro.
9)
Octavio Ianni e o Brasil moderno
57
Octavio Ianni proferindo palestra (fonte:universia.com)
A Sociologia de Florestan Fernandes inaugura uma nova
época na história da Sociologia brasileira. Não só descortina
novos horizontes para a reflexão teórica e a interpretação da
realidade social, como permite reler criticamente muito do
que tem sido a Sociologia brasileira passada e recente.
Permite reler criticamente algumas teses de Silvio Romero,
Oliveira Vianna, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freire
entre alguns outros. Simultaneamente, retoma e desenvolve
teses esboçadas por Euclides da Cunha, Manoel Bonfim,
Caio Prado Júnior, entre outros. A partir desse diálogo com
uns e outros, a Sociologia de Florestan Fernandes inaugura
uma nova interpretação do Brasil, um novo estilo de pensar
o passado e o presente. (IANNI, 1996, p. 25)
Com estas palavras Octavio Ianni (1926-2004) inicia um de seus
artigos que irá traçar a obra e a teoria de seu professor Florestan Fernandes.
Ele participou junto com Florestan da escola de sociologia paulista, escreveu
vários livros, e antes de sua morte se dedicou ao tema da globalização, da
dinâmica social e da modernidade expressa na contemporaneidade brasileira.
Ocupou a cadeira de sociologia I, outrora de Florestan, na
Universidade de São Paulo (USP). Muitos de seus artigos abriram caminhos
58
para novas pesquisas na sociologia, como O colapso do populismo no Brasil de
1968. “Desenvolveu uma agenda de trabalho panorâmica e diversificada,
pontuada de interesse pela questão racial, pelo desenvolvimento, pela
industrialização, pela formação do Estado nacional, pela globalização”.
(DOSSIÊ, 2004, p. 167) (inserir filme VIII)
Ianni tinha a preocupação de unir o rigor metodológico com a
simplicidade para que o público fora da academia tivesse contato com as
teorias sociais. Raça e mobilidade social em Florianópolis de 1956 e, As
metamorfoses do escravo de 1926 são reflexões que destacam o contexto da
escola de sociologia paulista da qual Ianni fazia parte.
Ainda na primeira metade da década de 1960, publicou duas
obras que revelam a presença de nova inclinação
intelectual: A industrialização e desenvolvimento social no
Brasil, em 1963, e o Estado e o desenvolvimento econômico
no Brasil, em 1964. Textos fundamentais à compreensão
das mudanças em curso, as análises absorveram o debate
dominante no período, tendo exposto, comitantemente, a
importância do chamado Seminário Marx na reorientação
das suas reflexões, apresentando, sobretudo, o modo como
os
jovens
professores
da
Faculdade
de
Filosofia
participavam do crescente engajamento que marcava a
cultura do tempo. Com a edição do livro O colapso do
populismo no Brasil, em 1968, Octavio Ianni coroou as suas
preocupações com os acontecimentos da história recente,
absorvendo a reflexão da política no entendimento dos
impasses do modelo de desenvolvimento implementado até
a queda do governo João Goulart. (DOSSIÊ, 2004, p. 170)
59
Professor da USP até 1969, Ianni teve sua aposentadoria
compulsória dada pelo regime militar, por conta disso, passou pelo Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC) e por fim na Unicamp.
Buscou compreender e interpretar o Brasil moderno, tendo este
como tema principal de sua sociologia. Sua teoria é a análise da realidade
social, política e econômica brasileira. Outro tema relevante de suas pesquisas
diz respeito
à industrialização,
tendo publicado
Industrialização
e
o
desenvolvimento social no Brasil de 1963 e Estado e capitalismo no Brasil de
1965. Para Costa Lima (2005) Octavio Ianni está entre os pensadores sociais
brasileiro de maior destaque e figura entre os fundadores da sociologia
nacional como Florestan Fernandes, Antonio Candido, Guerreiro Ramos, entre
outros.
Em sua análise da monarquia e da oligarquia brasileiras,
Ianni introduz a persistência do caráter autoritário do poder
estatal no país, apontando, desde a Independência, a
reiteração
das
estruturam
o
soluções
estado
autoritárias,
brasileiro
pelo
segundo
alto,
que
interesses
oligárquicos, burgueses e imperialistas. E afirma: “o que se
revela, ao longo da história, é o desenvolvimento de uma
espécie de contra-revolução burguesa permanente”. E
aponta Frei Caneca, já em 1824, denunciando o caráter
antidemocrático da constituição outorgada por D. Pedro I;
mais adiante, Quirino dos Santos em 1869, ao afirmar que o
povo não aparecia nas cogitações dos governantes. Em
1877, Tobias Barreto, que lamentará que o povo não tivesse
forças para se afrontar com o Estado organizado, que não é
a nação, pois o povo permanece “amorfo” e “dissolvido”.
Este desleixo só se alterava no momento de reagir
60
negativamente
às reivindicações populares,
donde
a
repressão no Nordeste, no Rio Grande do Sul, no Rio
Grande do Norte, todas elas violências cometidas na década
de 1870 e que irão culminar em Canudos, em 1897. Sob
vários aspectos, conclui Ianni, “a brutalidade do estado
monáquico foi a contrapartida das reivindicações, protestos
e lutas de forças populares no campo e na cidade”. (COSTA
LIMA, 2005, p. 05)
Para Costa Lima Ianni interpreta as teses racistas perpetradas pelo
período monárquico para relacionar com a formação do Estado no Brasil.
No artigo publicado em 2000 sob o título de Tendências do
pensamento brasileiro Ianni através da história do Brasil, recupera os
intelectuais nacionais e suas interpretações sobre nosso país.
A pergunta inicial deste artigo diz respeito aos motivos que a
intelectualidade e os diversos campos de pesquisa da sociologia reiterada e
continuamente se perguntam sobre o que tem sido o Brasil ao longo de sua
história. Segundo o autor, muitas vezes a teoria passa por cima da história,
como ideologia ou como utopia. Muitas vezes a causa desta busca se dá pelos
problemas vividos no presente e suas relações com o futuro.
Um dos temas na sociologia brasileira em que se faz a referência tal
como descrito acima é o Estado, sua organização e poder. Ianni explica da
seguinte forma,
Implícita ou explicitamente, essa tese estabelece que a
sociedade civil é débil, pouco organizada, gelatinosa. É claro
que os argumentos variam. Há argumentos nos quais
61
sobressaem as raízes coloniais e
escravocratas
da
sociedade nacional, compreendendo tradições patrimoniais,
coronelismos, caciquismos, políticas de campanário. Outros
são abertamente evolucionistas, ou mesmo situados na
linha do darwinismo social, apelando para o racismo, o
arianismo, uma europeização imaginária. Em geral tomam
escritos europeus como se fossem expressões indiscutíveis
da formação das nações européias, modelos definitivos para
as outras sociedades. Idealizam o que, em certos casos, os
europeus também idealizam. Nessa linha de pensamento
encontram-se Alberto Torres, Oliveira Vianna, Azevedo
Amaral, Francisco Campos, Hélio Jaguaribe, Oliveiros
Ferreira, Bolivar Lamounier e alguns outros. Sempre com
variações em seus argumentos, inclusive no que se refere
ao caráter mais ou menos autoritário do estado, em suas
relações com a sociedade civil como um todo e com seus
diferentes setores sociais: classes e grupos sociais, agrários
e urbanos, civis e militares, partidos políticos e sindicatos,
movimentos sociais e correntes de opinião pública. Esta
tese é antiga e nova, periodicamente renovada. Tem raízes
em várias conjunturas históricas. Nasce dos problemas com
os quais se defrontam os governantes, ou blocos de poder,
quando se defrontam com uma sociedade civil muito
especial: três raças tristes, escravos e livres, índios, negros
e brancos, imigrantes e nacionais, regiões mais ou menos
isoladas, economia primária exportadora decisivamente
influenciada
por
relações
do
tipo
imperialista
e
remanescentes colonialistas. Diante dessa realidade, o
modelo jurídico-político de estado-nação adotado é o
europeu com ingredientes norte-americanos, inspirado no
liberalismo, constitucionalismo, divisão dos três poderes,
democracia e cidadania; sem maiores compromissos com a
efetivação desses princípios ou ideais. Essa a visão da
história de boa parte das “elites” deliberantes e governantes,
visão essa na qual está implícita ou explícita a idéia de que
o povo, enquanto coletividade de cidadãos, precisa ser
criado e tutelado, de cima para baixo. Inclusive porque a
62
composição índios, negros e brancos, isto é, escravos e
livres, ou dominantes e subalternos, pode ser explosiva.
(IANNI, 2000, p. 58)
Ianni confirma que ao longo dos séculos XIX e XX no Brasil o tema
do Estado está presente como organizador da sociedade e da história nacional
e isto é comprovado pelo pensamento social e pelas pesquisas sociológicas.
Ainda no artigo Tendências do pensamento brasileiro, Octavio Ianni
considera que além do Estado outro tema de importância no pensamento social
em nosso país é a formação e a mudança da sociedade. O autor exemplifica,
demonstrando que a partir do século XX, com um novo ciclo do capitalismo há
um novo arranjo entre os políticos, as oligarquias patriarcais e o estado. Estas
oligarquias ganham novos contornos, se modernizam no sentido de se
associarem a empresas de mídia em geral, por exemplo.
Na história do pensamento brasileiro debruçado sobre a
sociedade e sua cultura, são freqüentes e às vezes notáveis
os tipos que se criam e recriam, taquigrafando a difícil e
complexa realidade. Assim, a história aparece como uma
coleção de tipos relativos a indivíduos e coletividades, a
situações e contextos marcantes, a momentos da geohistória que se registram metafórica ou alegoricamente.
Esclarecem ou ordenam o que se apresenta complexo,
contraditório, difícil, como é habitualmente a realidade
histórico-social, em suas formas de sociabilidade e em seus
jogos de forças sociais.
Na
história,
geografia,
antropologia,
ciência
política,
psicologia, teatro, romance, poesia e outras linguagens são
freqüentes as construções típicas. Algumas estão rentes ao
universo empírico, outras captam tipos médios, mas há as
63
que elaboram tipos extremos. Poderiam ser tomados como
naturalistas, realistas, impressionistas, surrealistas ou de
outros estilos. São taquigrafias de uma história difícil.
(IANNI, 2000, p. 60)
Para Ianni há uma complexa rede de tipos idealizados que fazem
parte da cultura social, da política, da economia e do inconsciente coletivo.
Estes tipos interferem no compromisso da interpretação social, segundo Ianni,
eles são vividos e formulados em uma sociedade que viveu quatro séculos de
escravismo. Com a abolição, continua Ianni, toda a cultura do trabalho é
redefinida a partir de um complexo processo social, “daí os tipos, como
estereótipos sátiros, irreverentes e críticos, inocentes e negativos, com os
quais se taquigrafam e exorcizam traços, figuras e figurações, ou modos de
ser, que a nova ideologia dominante rejeita.” (IANNI, 2000, p. 61)
Em Tendências do pensamento brasileiro, Ianni irá apontar a religião
como presença constante e poderosa no pensamento social e nas formas de
sociabilidade. Para o autor a religião tem sido o tema mais envolvente para
intelectuais pois é fundante da história do Brasil, desde a catequese dos
indígenas, promovido pelos colonizadores portugueses, até o Golpe de 1964
com as Marchas com Deus, Pátria e Família.
O catolicismo tem sido, desde o princípio da história no
Brasil, uma poderosa argamassa na tecitura das
formas de sociabilidade e na tecitura das relações entre
as “elites”, as esferas de poder, em especial os
aparatos estatais, com a sociedade civil, principalmente
em seus setores sociais subalternos, rurais e urbanos.
64
Esse tem sido um catolicismo herdeiro da ContraReforma e fortemente enraizado e constituído ao longo
de séculos de organização social e técnica do trabalho
em termos de escravatura. Portanto, séculos de uma
formação social de castas, na qual distinguem-se
jurídica, política, social e culturalmente o “senhor” e o
“escravo”, envolvendo em geral indígenas, africanos e
brancos, em suas mesclas e descendências. É óbvio
que essa antiga e poderosa tradição pesa nas décadas
posteriores à Abolição da Escravatura, quando se
desenvolve a sociedade de classes, apoiada em outro
tipo de organização social e técnica de trabalho “livre”.
Em várias ocasiões cruciais da história da sociedade
brasileira, durante a República, a alta hierarquia da
Igreja tem estado solidária com as “elites” dominantes,
deliberantes; sem prejuízo de que alguns setores do
clero sempre estiveram e continuam solidários com
setores sociais subalternos, na cidade e no campo.
(IANNI, 2000, p. 62)
O catolicismo predomina em símbolos públicos como também na
mídia em geral, e isso para Ianni é desconsiderar e desrespeitar as outras
religiões, crenças e credos dos brasileiros.
Com relação a formação do capitalismo nacional, Ianni considera
neste artigo que este capitalismo encontrou fases bem definidas, que os
intelectuais das ciências sociais dividiram em: gênese, prosperidade, êxito,
problemas, contradição, declínio e esgotamento. E, com relação ao capitalismo
transnacional no Brasil outras fases distintas de interpretação se fizeram
presentes, e se sucederam da seguinte forma: combate ao nacionalismo,
65
presença da ideologia internacionalista e multiculturalista, e no final do século
XX, a globalização.
A globalização para Ianni é um pensamento que envolve uma rede
de técnicos e intelectuais que propagam e defendem os ideais globalizantes,
envolvendo economistas, sociólogos, administradores, empresários, cientistas
políticos, e outros.
O que está em causa é a primazia do “mercado”, em
do
detrimento
“planejamento”.
Os
autores
e
atores
empenhados na crítica e no desmonte do projeto de
“capitalismo nacional” preconizam a associação ampla com
o capitalismo norte-americano, europeu, japonês e outros,
isto é, a franca, rápida e ampla “inserção” da economia
brasileira
na
colaboração,
economia
associação
mundial.
ou
Assumem
fusão
de
que
a
empresas,
corporações e conglomerados, compreendendo nacionais e
estrangeiros, é o melhor caminho para o desenvolvimento, o
progresso, a modernidade, o “primeiro mundo”. (IANNI,
2000, p. 65)
Em contraposição tanto ideológica quanto prática desta concepção,
é apontada por Octavio Ianni a tese do socialismo, onde ele descreve que
inúmeros autores da sociologia que seguem esta corrente do pensamento
social, interpretaram e sugeriram alternativas aos problemas sociais brasileiros
a partir desta teoria.
Estas são algumas das interpretações teóricas de Octavio Ianni
sintetizadas em um artigo. Percebemos que sua obra influenciou gerações e
66
poderá influenciar outras haja visto que sua pesquisa foi um marco para a
sociologia brasileira.
Mostraremos nos próximos tópicos alguns dos sociólogos da
contemporaneidade que de alguma forma foram influenciados tanto pela teoria
de Ianni quanto de Florestan Fernandes em suas pesquisas.
10)Sociólogos brasileiros contemporâneos
(inserir simulador)
- Francisco de Oliveira
Francisco de Oliveira (Recife, 1933) é professor aposentado da
USP, fundador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Em
2010 recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da
Paraíba. Entre suas obras destacamos O Ornitorrinco (1972), A economia
brasileira: crítica à razão dualista (1973), Elegia para uma re(li)gião (1977), Os
direitos do antivalor (1998), Os sentidos da democracia: políticas do dissenso e
hegemonia global (em colaboração com Maria Célia Paoli – 1999), Os sentidos
da democracia (em colaboração com Maria Célia Paoli – 2000), Hegemonia às
Avessas (em colaboração com Ruy Braga e Cibele Rizeck – 2010).
Destacamos aqui o artigo de Francisco de Oliveira na obra que
também é organizador Os sentidos da democracia: politicas do dissenso e
hegemonia global, intitulado Privatização do público, destituição da fala e
anulação da política: o totalitarismo neoliberal.
Neste artigo Chico de Oliveira, indica que o individuo é a referência
histórica para a realização da sociabilidade, e o mercado aparece como única
67
instituição reguladora das relações sociais. Neste sentido o mercado é a soma
das vontades individuais. Oliveira recupera o conceito de esfera pública,
originário em Hegel, usado também em Marx e que hoje novamente é
abordado em decorrência dos sujeitos coletivos representantes de classe.
Oliveira também vai recolocar o debate acerca do estado de bem
estar social, sua naturalização e a preocupação com o abandono da militância
política. Para o autor onde a política se torna nula e a administração do estado
de bem estar se torna consenso, a geração de políticas públicas sociais é um
resultado mínimo.
- José de Souza Martins
José de Souza Martins (São Caetano do Sul, 1938) é professor
aposentado de sociologia da USP onde em 2008 recebeu o título de Professor
Emérito. Foi aluno tanto de Florestan Fernandes quanto de Octavio Ianni, em
2009 recebeu o prêmio Jabuti de Ciências Humanas.
Dentre seus livros, destacamos: Imigração e a crise do Brasil Agrário
(1973), Os Camponeses e a Política no Brasil (1981), O Poder do Atraso
(1994), Fronteira - A degradação do Outro nos confins do humano (2009),
Florestan - Sociologia e consciência social no Brasil (1998), O Cativeiro da
Terra (2010), Exclusão Social e a Nova Desigualdade (2007), A Sociabilidade
do Homem Simples (Cotidiano e História na Modernidade Anômala – 2008).
Destacamos nesta última obra alguns referencias teóricos principais
que Martins aborda. O objetivo do livro é verificar a vida do homem simples e
os aspectos de alienação que fazem deste homem criar uma distorção com
relação à história e ao seu destino. O autor quer que o homem comum se torne
68
agente ativo de seu destino e a partir disto analisa a esperança como mediação
entre o viver e o sonhar.
Para Martins as contradições da modernidade no Brasil estão
presentes na realidade social. Esta realidade reflete a consciência da
transitoriedade do novo e do atual.
A modernidade se apresenta quando o conflito é cotidiano,
sobretudo na forma de conflito cultural, ela é a expressão do ser e não do viver.
A crítica de Martins à modernidade está posta no sentido de ser uma
resistência ao novo, sem a perspectica de criar doutrinas.
- Maria da Glória Gohn
Maria da Glória Gohn professora da Unicamp, tem como linha de
pesquisa os movimentos sociais no Brasil e na América Latina.
Em Movimentos Sociais e redes de mobilização civis no Brasil
contemporâneo, publicado em 2010, a autora idenfica as formas pelas quais é
tratado as causas da desigualdade social como diferença social. Segundo a
autora são conceitos distintos e que na abordagem dada desloca-se o foco da
desigualdade.
A autora relata ainda que há uma geopolitica criada a partir da
globalização que interfere na vida social, como por exemplo, a geopolitica das
drogas, do tráfico de seres humanos, das armas, entre outras.
Gohn ainda reflete sobre a distinção entre os movimentos sociais e
as organizações não governamentais, que segundo ela a difernça está, por
exemplo, em uma ação coletiva iniciada por um movimento social que se
institucionaliza, já nas organizações não governamentais o caminho é da
69
conquista de direitos. Ainda com esta temática, Gohn demonstra que há uma
disputa ente grupos sociais na busca de novos conceitos.
As práticas e experiências locais tem relevância política e teórica.
Segundo a autora há a necessidade de superação da definição de participação
política como produção de consenso.
Parte III
11)Considerações finais
Os exemplos acima são alguns diante dos vários sociólogos
brasileiros contemporâneos que pensam e criam alternativas aos problemas
sociais. Poderíamos ainda citar Vera da Silva Telles, Marco Aurélio Nogueira,
Maria Arminda Arruda, Maria Angela D’Incao, Dulce Whitaker, Augusto CacciaBava, entre outros.
A sociologia no Brasil em muito tem ajudado para a interpretação e
intervenção da sociedade na democratização social, tem sido também
ambiente de reflexão para a libertação nacional e continua no caminho da
reflexão dos novos problemas apontados pelo momento que vivemos como a
violência, as novas organizações do trabalho, a juventude, entre outras.
A sociologia vive hoje um período de desenvolvimento, não só no
Brasil mas em todo o mundo. Após ter sua fase formativa em que filósofos
sociais como Saint-Simon, Comte, Proudhon se empenharam para elaborar
uma ciência social, os clássicos, Durkheim, Weber e Marx apontaram métodos
de análise que permanecem atuais em nossos dias.
70
Falar em desenvolvimento da sociologia é pensar em uma fase
complexa, “uma vez que o desenvolvimento do pensamento sociológico está
intimamente ligado ao que ele estuda, isto é, à sociedade, e por isso possui
avanços e retrocessos, está ligado a interesses, a relações de poder, e a um
conjunto complexo de relações sociais.” (VIANA, 2006, p. 104).
E é por isso que devemos a partir destas indicações, e também
como
sociólogos
de
formação,
procurar
leituras
que
abordem
o
desenvolvimento da sociologia para que as pesquisas sociais sejam mais
completas e possam revelar o produto social da qual a ciência sociologia é
capaz de apontar.
Parte IV
12)
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Nova Cultural. 1997. Coleção Os Economistas
73
QUESTÕES DISSERTATIVAS E DE MÚLTIPLA ESCOLHA
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
DISSERTATIVAS
Questões fórum de discussão:
1) Max Weber fundou a sociologia na Alemanha. Dentre sua principal
contribuição, destaque-se a metodologia de pesquisa em ciência social.
Descreva o que significa o tipo ideal em Weber e de que forma este conceito
pode ser usado para as pesquisas sociológicas contemporâneas.
2) Muitos autores consideram que a pesquisa sociológica no Brasil iniciou
tardiamente. Isto pode ser explicado através da história nacional de
subdesenvolvimento e dependência. A partir dos estudos de Viana (2006)
comente as quatro fases da sociologia no Brasil.
Questões avaliação final:
1) Na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo Weber procura
através da religião analisar sociologicamente o capitalismo nos Estados
Unidos. Identifique as principais interpretações do autor acerca desta
afirmação.
2) Florestan Fernandes no Brasil inaugurou a sociologia moderna, com novas
técnicas de análise da realidade social. Descreva a partir da obra A integração
do negro na sociedade de classes, as principais interpretações deste autor
sobre o Brasil.
MÚLTIPLA ESCOLHA
OBS: as alternativas corretas estão em negrito
1) Qual a principal preocupação da sociologia de Weber
a) criar uma escola de sociologia weberiana
b) determinar a ação do homem
c) comparar a sociologia Alemã com a sociologia Francesa
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d) nenhuma das questões anteriores
2) Weber teve influência da teoria de Kant, e por isso procurou em sua
metodologia científica
a) aplicar o positivismo
b) relacionar as ciências naturais e as ciências humanas
c) formular a tese da vinculação das ciências
d) distinguir as ciências naturais das ciências humanas
3) Resumidamente, qual o conceito de tipo ideal?
a) o tipo ideal corresponde a realidade individual, são modelos da sociedade
contemporânea
b) o tipo ideal é um elemento de análise a partir das instituições que compõem
a sociedade
c) o tipo ideal é um método de análise para que o sociólogo restrinja seu
campo na realidade social
d) todas as alternativas estão corretas
4) Assinale a alternativa que corresponde a definição de ação social em Weber
a) ação é toda aquela que o indivíduo atribui um sentido e que está
relacionado com outros indivíduos
b) a ação social está relacionada restritamente a interação do individuo com
sua família
c) a ação social está relacionada somente ao próprio individuo
d) a ação social não deve analisar a cultura dos indivíduos e sim os seus
grupos
5) Qual o objetivo de Weber quando conceitua ação social?
a) convencer sociólogos para sua teoria social
b) vincular ciências jurídicas e sociais em um só método científico
c) queria estabelecer que a sociologia deveria compreender a ação dos
indivíduos e não somente os grupos e instituições
d) relacionar as ações entre grupos de sexos opostos
6) Assinale os quatro tipos de ação social definidos por Weber
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a) positiva, de observação, afetiva, tradicional
b) afetiva, tradicional, racional de valores, racional a fins
c) racional de valores, de parentesco, de amor, comunitária
d) racional a fins, tradicional, relacionamentos, grupos
7) Para Weber o estudo da religião era fundamental nas sociedades, isto
porque,
a) as tendências religiosas podiam interferir na economia geral da
sociedade
b) as religiões são a base de todas as sociedades pós-industriais
c) as sociedades estão estruturadas em grupos de religiões
d) de acordo com o desenvolvimento da religião também se dá o
desenvolvimento da sociedade
8) Assinale a alternativa que melhor define o conceito de ética em Weber
a) a ética são os valores que os indivíduos atribuem ao sistema social
b) a ética é um conjunto de ações atribuídas aos indivíduos
c) a ética são as relações sociais entre familiares e a sociedade no geral
d) a ética é o exercício da dominação, está presente na ação e não na
instituição.
9) Sobre o método compreensivo de Max Weber, assinale a alternativa correta
a) compreender os indivíduos para depois analisá-los
b) o método compreensivo é o distanciamento do cientista das questões
políticas da sociedade
c) valorizar a compreensão sociológica acerca das diversas interpretações
sociais existentes
d) buscar por meio da compreensão científica a explicação social
10) Qual o desenvolvimento da arte que Weber considera fundamental?
a) a reunião de um maior número de grupo de músicos se apresentando
b) o desenvolvimento da arte é parte do desenvolvimento das escolas livres de
música
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c) o desenvolvimento da arte depende do desenvolvimento da técnica e
as condições econômicas que possibilitarão a organização artística
d) o desenvolvimento da arte é um processo complexo e demorado
11) Assinale o conceito de liderança política em Max Weber
a) a liderança política tem como atividade principal o recrutamento de
novos agentes políticos, tem que ter carisma e vocação
b) a liderança política é o eleito pelo povo para ocupar um cargo no poder
executivo
c) a liderança política é o agente que na sociedade identifica os problemas no
Estado nacional
d) a liderança política é um instrumento organizador da sociedade
12) Para Weber são três as características do homem político, assinale abaixo
quais são elas,
a) a elegibilidade, a popularidade e a responsabilidade
b) a popularidade, a responsabilidade e o zelo público
c) a paixão, o senso de responsabilidade e o senso de proporção
d) a paixão, a elegibilidade e o senso de proporção
13) Com relação a ciência, Weber considera que
a) a ciência deve ocupar seu espaço acadêmico sem interferir na sociedade
b) a ciência deve ser separada entre as ciências naturais e sociais, deve
ser comprovada e ter singularidade
c) a ciência não pode ser especializada, deve sempre acompanhar o método
das ciências físicas e naturais
d) a ciência não deve pesquisar os fenômenos humanos por serem múltiplos e
variados
14) Qual o objetivo de Weber em estudar a religião protestante nos Estados
Unidos?
a) entender a religião para compreender a conduta dos homens e suas
relações econômicas
b) identificar a religião que o capitalismo ocidental teve êxito
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c) relacionar o espírito do capitalismo e o espírito protestante com a formação
da sociedade ocidental
d) todas as alternativas anteriores estão corretas
15) Assinale os quatro momentos ou etapas da sociologia no Brasil
a) 1) formação e instituição; 2) desenvolvimento; 3) análise de teorias internas;
4) solidificação teórica;
b)
1)reprodução
teórica;
2)
institucionalização
da
sociologia;
3)
consolidação da sociologia; 4) desenvolvimento da sociologia
c) 1) primeiras análises sociológicas; 2) desenvolvimento sociológico; 3)
interpretação dos clássicos; 4) segunda etapa de desenvolvimento;
d) 1) reprodução; 2) elaboração de teorias internas; 3) institucionalização; 4)
solidificação teórica;
16) Após 1945, fase de consolidação da sociologia no Brasil, Ianni descreve
que existiram três ciclos para esta consolidação, assinale abaixo quais foram
estes ciclos,
a) 1) análise da conjuntura; 2) associação aos centro de sociologia no mundo;
3) análise social brasileira;
b) 1) analise dos trabalhadores do campo; 2) modelos sociais alternativos ao
sistema vigente; 3) economia e sociedade;
c) 1) crise de transição do capitalismo agrário para o industrial; 2)
reinterpretação social da história; 3) transformações sociais;
d) 1) transformações sociais ; 2) análise da conjuntura; 3) economia e
sociedade.
17) Segundo Riedke Filho a sociologia de Florestan Fernandes tem quatro
momentos distintos, etapas teóricas de estudo. Assinale abaixo quais são estas
etapas;
a) 1) críticas ao estado; 2) sociologia numa era da revolução social; 3) estudo
de grupos sociais; 4) estudos da política social;
b) 1) formação e introdução da história social; 2) reflexão sobre a revolução
burguesa; 3) críticas ao estado; 4) sociologia moderna
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c) 1) formação intelectual; 2) críticas ao estado; 3) introdução à história social;
4) sociologia e política;
d) 1) formação intelectual; 2) sociologia numa era da revolução social; 3)
reflexão sobre a revolução burguesa no Brasil; 4) militância cidadã.
18) Um dos temas relevantes para a teoria de Florestan Fernandes é da
Sociologia numa Era de Revolução Social. Esta etapa de Florestan
compreende
a) é a sociologia baseada em teorias européias com aplicação à realidade
brasileira
b) é a recuperação dos clássicos da sociologia (Comte e Durkheim) para
interpretar a sociedade plural no Brasil
c) tem por base a historicização da problemática original da sua obra com
relação a construção social, industrial e democrática do Brasil.
d) é o estudo das relações sociais atuais sem a análise histórica e social
19) Com relação a obra A integração do negro na sociedade de classes de
Florestan Fernandes, há uma diferença entre o negro e o imigrante estrangeiro,
assinale qual alternativa está correta,
a) os negros não tinham ainda aprendido, tanto formalmente quanto
culturalmente, as novas regras do mercado de trabalho
b) quase não existia negros em São Paulo neste período para venderem sua
força de trabalho
c) os imigrantes vieram para São Paulo pois os negro não aceitavam o trabalho
por contrato
d) os negros paulistas não vendiam sua força de trabalho para brancos
paulistas.
20) Octavio Ianni critica na Tendências do pensamento brasileiro, a criação de
tipos sociais pelos intelectuais no sentido de qualificar as mudanças da
sociedade na história do Brasil, segundo sua teoria,
a) estes tipos podem ajudar no entendimento da sociedade brasileira que é
heterogênea e multicultural;
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b) estes tipos interferem no compromisso da interpretação social pois
eles são vividos em uma sociedade que viveu quatro séculos de
escravidão, daí poderem aparecer como sátira ou negativos
c) os tipos são criações de sociólogos brasileiros para demonstrar que a
sociedade brasileira continua por anos da mesma forma;
d) para caracterizar as transformações sociais é necessário no Brasil criar tipos
para popularizar a sociologia entre a população.
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1 Sociologia Clássica II Pós-graduação Lato Senso em Sociologia