O LICEU PARAIBANO ENTRE OS ANOS DE 1899 E 1903: uma visão sobre a crise a partir do discurso oficial Michelle Lima 1 Cláudia Engler Cury2 Primeiras palavras Tendo em vista a necessidade de ampliação dos estudos, sobre os oitocentos, o presente artigo é parte de uma pesquisa vinculada ao Grupo de História da Educação no Nordeste Oitocentista – GHENO. O projeto tem o título de História da Educação na Paraíba entre os anos de 1889 a 1910, transições e conexões da monarquia para a república e o plano de trabalho é: A educação nos relatórios dos presidentes de província e nas mensagens de presidente de estado na transição da monarquia para a república, constituindo o projeto PIBIC 2010/2011. Nossas fontes são as mensagens enviadas pelos presidentes de estado a Assembléia Legislativa Estadual, entre os anos de 1889 e 1910; a observação da crise enfrentada pelo Liceu paraibano entre os anos de 1899 e 1903 constitui o foco, do presente artigo. Nossas observações serão feitas a partir do discurso oficial, mais precisamente as mensagens supracitadas, onde buscaremos entender, as causas que levaram a tal crise, bem como a visão que o estado tinha a respeito das mesmas. Buscaremos compreender os artifícios utilizados pela oficialidade para evitar a supressão total do Liceu Paraibano. Esse estudo tenta dar a sua contribuição para a constituição de uma historiografia da educação nesse período de transição do Império para a República, uma vez que a produção sobre essa temporalidade, ainda tem muito para ser pesquisada. No sentido de aguçar futuros trabalhos tentamos aqui, suscitar questões que talvez nem sejam respondidas, devido à inexistência de pesquisas sobre a referida crise. Paralelo a referida pesquisa temos o aprofundamento bibliográfico, bem com o as discussões teóricas no Grupo de Pesquisa citado anteriormente (GHENO), que fomentam a reflexão teórica e elaboração de artigos como o que está sendo apresentado, no sentido de contribuição para uma constituição de uma historiografia educacional paraibana. 1 Graduanda em História UFPB – Autora –email: [email protected] 2 Professora Orientadora - PPGH Histórico do liceu paraibano no oitocentos A criação do Lyceu Provincial Paraibano em 1836, estava ligado a um amplo plano de construção de uma nação, uma vez que o Brasil havia acabado de deixar de ser domínio Porugal, e como na instauração de qualquer novo regime político, a instrução seria um dos pilares para a efetivação desse projeto.O ensino na referida instituição visava o ensino secundário, e no seu inicio havia um dilema, se haveria um ensino tecnicista, ou voltado para os exames preparatórios para o ingresso, nas faculdades de ensino superior recém criadas, a segunda opção foi a vencedora, por algumas motivações que cabe aqui ressaltar, dentre as quais podemos citar: havia uma elite, que necessitava de uma escola para ocupar seus filhos, uma vez que até aquele momento grande parte da educação das crianças das família mais abastadas era realizada, em casa mesmo, a criação de uma escola desse porte conferia status e poder para o projeto de nação que se pretendia, e nada melhor que ser iniciada pela educação, e também porque os professores do Lyceu eram as pesssoas que compunham, parte das famílias mais importantes, ser um lente do Liceu conferia prestígio para quem exercesse tal cargo. Entre esses “privilegiados” estavam os padres, que tembém faziam parte do quadro de lentes do Lyceu como nos informa Cury, 2008, p. 94. Os lentes da referida instituição foram, em sua grande maioria padres que, como a pesquisa tem indicado, também tiveram papel importante na composição do quadro de mestres de primeira letras.Além de sua condição de mestres, foram responsáveis pela elaboração dos compêndios utilizados pelos alunos. Observamos que a igreja esteve engajada, juntamente com o governo imperial, no novo projeto educacional, obtendo grande participação nas atividades do Lyceu. Iniciava-se então um modelo educacional que durou todo o período imperial. Nessa nova perspectiva foi criado em 1849 o cargo de Diretor da Instrução Pública , que teria a função de verificar, as atividades não só do Lyceu mas da educação paraibana em geral, o ocupante desse cargo tinha a função de enviar relatórios anuais aos presidentes de província relatando a situação da instrução, e requisitando melhoramentos; também houve a criação do cargo de Comissário da Instrução Pública como uma forma de controle sobre as atividades escolares. A criação da cadeira de história em 1837, constituiu, um alento na consolidação do projeto de nação que se queria instaurar no Brasil, ou seja, a criação dos grandes nomes e benfeitores, do imperio, a serem propagados no meio escolar, uma vez que aquelas crianças seriam os futuro da jovem nação. Nesse contexto vamos ter a criação Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro que se tornou a mola propulsora na elaboração de uma história genuinamente brasileira, bem como o a difusão da escola literária romântica com os seus ideais nacionalistas. Com um olhar mais atento, podemos perceber que a criação do Lyceu, esteve vinculada a um projeto maior, de elaboração de um estado nacional. A educação na transição Império República Consideramos em nossa pesquisa os primeiros vinte e um anos (1889-1910) do regime republicano como fazendo parte de um período de transição, uma vez que não vamos ter mudanças profundas na instrução paraibana, pelo contrário, muitas foram as permanências do regime monáquico. O projeto a qual este trabalho está vinculado, tinha como principais fontes as mensagens dos presidentes de estado, e os períódicos que circulavan no período. Dessa forma encontramos, nas falas oficiais sobre a educação, diversas referências que nos indicam as constâncias do regime monárquico, entre as quais podemos citar: em mensagem de 1892, o Presidente afirma que a Instrução permanece “atrofiada e improfícua”, corroborando para mostrar a situação escolar na Paraíba. Ainda na Mensagem de 1892, verificamos a descrição de decretos que foram instituídos pela Junta Governativa no ano anterior. Desses decretos temos os seguintes assuntos referentes à Instrução: enxugamento da folha do estado, a reorganização do ensino normal, indicando que homens também poderiam freqüentá-lo, estímulo para os professores que não eram concursados, o que não influenciaria nos gastos públicos de imediato, uma vez que os presidentes afirmavam que apenas melhores salários, estimulariam os professores. No sentido de melhorar a situação da instrução, é importante observar que não existe nas mensagens analisadas até agora, a afirmação de que a instrução está mal, porque, não existem recursos, mas pelos regulamentos – o regulamento que regia a instrução era o de 1886 - que o regem, ou seja, para o discurso oficial, os recursos são mal utilizados, porque não são compatíveis com a legislação escolar vigente. O regulamento que restabelece a cadeira de ciências físicas e naturais ilustra o que queria exatamente o regime republicano, um reordenamento político não teria local mais apropriado para ser iniciado, do que através da educação, uma vez que esse novo discurso faria surgir novas culturas e conseqüentemente, haveria um reflexo na sociedade que refletiria positivamente para o novo regime. Dessa forma pudemos observar a situação da instrução, a partir do poder oficial. Para ampliar a nossa visão segue um quadro demonstrativo da instrução paraibana nos anos que abrange a nossa pesquisa. Quadro I – Demonstrativo da situação no estado da Paraíba entre os anos de 1889 e 1910 ANO 1889 1890 1891 PRESIDENTE DE ESTADO INFORMAÇÕES SOBRE A INSTRUÇÃO Venâncio Augusto de Magalhães Neiva // // Não existe mensagem ou relatório 1892 Álvaro Lopes Machado 1893 // 1894 // 1895 1896 // // 1897 Antônio Alfredo da Gama e melo 1898 // // Existe a mensagem, mas não há referência à instrução. Decretos, realização de obras (Liceu e Escola Normal, funcionamento de 128 escolas, regulamento de 1886, exemplo da educação na Suíça, regulamento não compatível com a situação financeira do estado, constatação de que o ensino continua atrofiado Existe a mensagem, mas não há referência à instrução // Não existe mensagem ou relatório Ofício enviado por professor, gastos do estado com a instrução, construção de um novo prédio para a Escola Normal, e reforma do Liceu Paraibano. Reconstrução de parte do teto da Escola Normal, menção ao relatório do diretor da instrução pública, altas somas investidas na instrução que não corresponde. Ensino primário necessita de professores, informa que o ensino secundário só será elevado se os exames preparatórios forem DATA DA MENSAGEM 25 de junho de 1891 1 de julho de 1892 3 de agosto de 1893 29 de outubro de 1894 15 de fevereiro de 1896 2 de setembro de 1897 2 de setembro de 1898, 1899 // 1900 // 1901 José Peregrino de Araújo 1902 // 1903 // 1904 // 1905 Álvaro Lopes Machado modificados. Necessidade de atenção pela assembléia 9 de junho de legislativa, condições satisfatórias da 1899 Escola Normal, preocupação com a situação de decadência do Liceu, falta de incentivo para os jovens ingressarem no Liceu, proposta de mudanças radicais no mesmo. Proposta de ação simultânea dos poderes 1 de maio de municipal e estadual para melhoria da 1900 instrução, aumento no número de cadeiras no Liceu como forma de incentivo para melhoria da sua freqüência. A deficiência na instrução é devido aos 1 de outubro de programas de ensino, os lentes do Liceu 1901 não tem para quem dar aula, demonstração de dados do relatório do diretor da instrução pública, mesmo com a crise no Liceu a proposta é mantê-lo funcionando, promulgação de decreto mantendo os custos com o Liceu. Menciona a possibilidade de fechamento 1 de outubro de do Liceu, havia várias cadeiras em que 1902 não existiam alunos matriculados, na Escola Normal ocorria o contrário, onde o número de matriculadas era alto, relata as modestas condições em que se encontrava a Biblioteca Pública, aumento das verbas para a instrução Ineficiência da instrução em relação ao 1 de outubro de que era investido, para ratificar o que está 1903 falando o Presidente de Estado coloca trechos do relatório do diretor da instrução, mostra o número de matriculados no Liceu, os resultados com o ensino primário também não eram satisfatórios, fala que o fechamento não é a melhor saída para o Liceu. Fala sobre a recuperação do Liceu, 1 de setembro melhorias na Escola Normal, de 1904 estabelecimento de um novo regulamento deste mesmo ano para a instrução como intuito de melhoria da instrução e estímulo para os professores. Diversas referências a recuperação do 20 de outubro Liceu, fala sobre as recém formadas na de 1905 Escola Normal que não queriam assumir 1906 Walfredo Soares dos Santos Leal 1907 // 1908 // 1909 1910 João Machado turmas no interior, aquisição de coleção de mapas de história natural para a Escola Normal. Separação dos prédios da Escola Normal, uma para homens e outra para mulheres, enumera que existem 76 cadeiras funcionando no estado, fala sobre a necessidade de um instituto de ensino técnico para favorecimento das crianças pobres informa que a verba para a instrução no ano de 1905 ocupou o quarto lugar no orçamento geral. Menciona que os custos com a instrução estavam sendo divididos com os poderes municipais, os recursos financeiros não permitiam largos investimentos na instrução, atendimento a necessidade dos professores com relação ao mobiliário escolar, o regulamento de 1904 auxiliou nas melhorias das condições da instrução. Apresenta leis decretos e nomeações Lopes Fala sobre o descaso com o qual os administradores municipais tratavam a instrução, necessidade de criação do corpo de inspetores ambulantes remunerados, cogita a possibilidade de construção de prédios específicos para o ensino primário, Nessa mensagem é tratada a possibilidade da divisão dos distritos escolares, reconstrução do prédio da Escola Normal, criação da Escola de Aprendizes e Artífices. 1 de setembro de 1906 1 de setembro de 1907 1 de março de 1908 1 de setembro de 1909 1 de setembro de 1910 Nos periódicos em circulação no estado da Paraíba, vamos ter os mais diversificados assuntos acerca da instrução, entre os quais podemos citar: abertura, fechamento e suspensão de cadeiras, matrículas dos estudantes e organização dos horários das aulas, aplicação da moralidade, preocupação com o bem da Educação Cívica (tema em diversas notícias), e com a higiene; nestas informações podemos observar uma inquietação com a adequação escolar ao novo regime instituído. Vale lembrar que a maioria das pessoas que compunham esses jornais estavam ligados ao jogo de interesses da política paraibana. Dessa forma podemos inferir que os periódicos, tinham uma escrita com um objetivo além de informar, tinha na maioria das vezes um posicionamento político. A crise no liceu paraibano Com o advento republicano era necessária uma reformulação na educação, de forma que esta se adequasse aos anseios do novo regime, mas na prática o que ocorreu, nos primeiros anos, que a presente pesquisa abrange foi a continuação das práticas do período imperial. A partir de 1899, vamos ter as mensagens mencionando uma crise que “circunda” o Lyceu paraibano, e a extrema preocupação das autoridades em manter tal estabelecimento funcionando, diferente da Escola Normal que estava em pleno funcionamento com várias matrículas. Em mensagem de 1900, vamos ter mais alguns detalhes da conjuntura que estava se formando, o que tentaremos entender são os motivos que levaram a referida crise, se naquele momento o Liceu havia passado por reformas, bem como tinha se equiparado ao Gynnasio Nacional, tal problemática foi explicitada da seguinte forma pelo Presidente de Estado: Um longo curso que se compõe do estudo de numerosas disciplinas não constitue incentivos para os alumnos que nesta capital se dedicam aos estudos de preparatórios. E’ certo que esta é a condição exigida para a validade dos exames nos cursos superiores. Se o estabelecimento, porem, não tem freqüência ou a tem quase nulla, melhor é reformula-o estabelecendo um curso modesto do que vel-o fenecer, não havendo alumnos que o freqüentem, e prestem exames [PARAHYBA do Norte, Estado da, 1900, p.9]. Como o curso secundário do Lyceu Paraibano não era serial, os alunos poderiam se matricular nas cadeiras, freqüentando todos os anos ou se matricular em disciplinas específicas, o que não estava ocorrendo. Partindo do exposto podemos perceber que não ter um curso como o do Liceu com matrículas regulares, era ferir o sentimento da elite paraibana, uma vez que tal estabelecimento conferia status, na teia de interesse da primeira república; uma vez que este havia se equiparado ao Gynnasio Nacional. Desse modo tinha–se um “fracasso” ao novo projeto educacional republicano, que na prática só existia no plano das idéias; a partir desse momento de crise, o governo passa a perceber que só uma mudança na organização escolar geral paraibana, é que mudaria tal quadro, consideramos que tal momento foi reflexo, da inoperância do estado, em todos os níveis de ensino. Para as elites manter o liceu em pleno funcionamento, significava poder e prestígio, uma vez que os “filhos da terra”, não necessitavam se deslocar para outros estados, para a realização dos exames preparatórios como havia sido durante quase todo o período imperial; mas o que estaria ocorrendo no Liceu? Antes de adentrarmos em tal problemática, faz-se necessário uma justificativa, pois a proposta inicial deste trabalho era o confronto entre os textos contidos nas mensagens, e os textos jornalísticos, referente a temporalidade estudada, não obtivemos nos periódicos, nenhuma menção a crise vivenciada pelo Liceu paraibano, entre os motivos podemos destacar: alguns jornais eram de cunho conservador, e que acreditamos não fariam tal tipo de comentário, uma vez que estariam colocando em cheque a capacidade do poder oficial. Outra causa que poderíamos apontar é com relação ao desgaste sofrido pelos jornais devido à ação do tempo, o que não nos foi permitido acessá-los. Salvos estas ressalvas tentaremos a partir das mensagens traçar um panorama do que significou esta conjuntura para o recém instaurado regime republicano. Em mensagem de 1901, período em que a crise é agravada, o Presidente de Estado, primeiramente informa que trata-se de uma momento vivenciado por todo o ensino público da Paraíba, mas sempre lembrando o esforço feito pelo poder público para responder as demandas do ensino, o mesmo repassa a responsabilidade para a capacidade dos professores, bem como para os regulamentos existentes na Paraíba no período supracitado. Observamos que há uma preocupação por parte do poder público com os lentes do Liceu, uma vez que, estes não tinham para quem dar as suas aulas, o que nos leva a perceber o quanto era difícil para a elite paraibana, uma vez que –como mencionamos anteriormente - o interesse maior na manutenção das aulas era o prestígio que a mesma trazia para os lentes, que na maioria das vezes eram padres, bacharéis, pessoas ligadas diretamente a política paraibana, portanto interessadas em um projeto educacional coerente com o ideário republicano, e que tivesse êxito. Abaixo temos um quadro representativo da situação no Liceu Paraibano. Quadro II – Matriculados no Liceu Paraibano no ano de 1901 Matriculados no Liceu 5 alunos no curso 11 nas aulas avulsas Total: 16 Neste quadro observamos que a maioria dos matriculados, será nas aulas avulsas, uma vez que estas estavam voltadas diretamente para os exames preparatórios, das faculdades existentes no país, e apenas cinco matriculados nas aulas regulares, tal indicativo, seria a corrosão da regulamentação educacional paraibana? Na visão do poder oficial sim, como veremos mais adiante. No nosso entendimento, inferimos que uma das causas seria o desuso da regulamentação, que ainda trilhava os caminhos imperiais, mas também poderia haver a falta de interesse dos pais que poderiam manter seus filhos na escola apenas no período dos exames preparatórios. Nesse contexto o Presidente de Estado, discorre que mesmo com a crise, fazia-se necessário manter o Liceu funcionado, uma vez que este tinha conseguido a equiparação ao Gynnasio Nacional, ao mesmo tempo em que, propõe reformas na constituição das aulas, pois apresenta uma proposta de uniformização do Liceu, o que está alicerçado nos ideais republicanos. Para garantir a não supressão do dessa instituição, o Presidente de Estado promulga um decreto, afirmando que, fechar as portas da referida escola, não compensaria o prejuízo. Defender o funcionamento do Liceu era manter, um dos símbolos do poderio estatal, e até mesmo a manutenção do jogo de interesses na primeira república, e podemos perceber tal fato nas próprias mensagens, pois o próprio presidente informa que a pessoa responsável pela imprensa oficial, era um lente do Liceu, o que claramente envolve uma gama de interesses. Dessa forma podemos apreender que manter o Liceu funcionando não era apenas, uma preocupação com a educação paraibana. Em 1902, a situação chega a tal ponto que o discurso oficial muda, pois se passa a discutir a possibilidade de fechamento total do Liceu Paraibano, informando que seria “pura perda de tempo” mantê-lo funcionando, uma vez que o número de matriculados estava muito baixo. Neste ano, várias cadeiras ficaram sem nenhum matriculado, o que onerava grande custo para o estado, que tinha que sustentar tal instituição. Na mesma mensagem temos um contraponto, pois ocorria exatamente o contrário na Escola Normal, voltada para a formação de professoras. Mesmo cogitando a supressão da principal instituição secundária da Paraíba, o Presidente, enumera motivos para o não fechamento da mesma, que eram: pouca economia para o estado, e a perda do nível de comparação ao Gynnasio Nacional, o que nos mostra que verba existia, para manter uma instituição que representava o poder local e possibilitava uma trama de interesses, e faz cair por terra a afirmação do poder oficial de que as causas do não desenvolvimento educacional paraibano, seriam apenas pelo regulamento que não atendia aos interesse da educação moderna, e do despreparo dos professores. Na mensagem de 1903, temos um trecho do relatório do Diretor da Instrução Publica, que se expressa da seguinte maneira com relação ao estado em que se encontrava a dita instituição: Uma judiciosa sentença que, pela sua continua applicação e sempre cheia de verdade, tornou-se popular, que felizes são os povos que não têm historia porque a historia dos povos é a narração de suas lutas, de suas conquistas, de seus soffrimentos e de suas misérias. Fosse, porem, tal sentença applicavel a outras manifestações, da vida, e eu diria a V. Exc. para cumprir o que em circular de 12 de Agosto, findo, sob o n. 278 me foi por V. Exc. ordenado que, como os povos muito feliz era o Lyceu Parahybano, porquanto não teve elle historia durante o anno que se escuou da apresentação do meu ultimo relatório até esta data. Infelismente, porem, assim não é, e o sentido inverso d’aquella sentença é que é aqui uma verdade. E que satisfação não teria eu Exmo. Sr. se de apresentar a V. Exc. uma exposição movimentada, cheia de vida e calor em que não faltaria certamente a narração de irriquieta e quiça petulante travessura a nossa mocidade! Nessa explanação apreendemos que a crise no Liceu, foi o despertar para mudanças mais profundas na educação paraibana, que iria atingir todos os níveis de ensino, culminando em 1916 com a criação do primeiro Grupo Escolar na Paraíba do Norte. Entendemos que o Liceu era portador de uma construção do que seria “ser paraibano”, pelo menos na visão da elite, do estado, uma vez que o mau funcionamento do da principal instituição do Estado, seria a não existência de uma história paraibana, como um todo. Na exposição acima dá pra se perceber a importância social conferida ao Liceu. Nesse mesmo ano temos o mais baixo índice de freqüência - cremos que da história do Liceu – como poderemos observar a seguir: Quadro III – Matriculados no Liceu no ano de 1903 1 aluno no primeiro ano do curso 1 aluno na aula de inglês 1 aluno nas aulas de Geografia, História Universal, e Inglês Mais uma vez tem-se mais matriculados nas aulas avulsas, o que leva o governo a implantar mudanças no ensino secundário, pois vamos ter no ano de 1904, um novo regulamento para a instrução pública, que também oferece diversos incentivos para os professores. Dessa forma verificamos que foi necessária uma crise que atingisse a elite, para que se realizasse algo que contemplasse a maioria desfavorecida, mas cabe lembrar que não foram transformações realizadas do dia para a noite, foram precisos mais alguns anos. Essas mudanças não colocaram o ensino como um todo em ótimas condições, mas retiraram-se algumas praticas do período imperial. Considerações finais Como nossa pesquisa segue a linha da história cultural, temos buscando realizar cruzamentos entre as falas oficiais e as “oficiosas”, de forma a apreendermos qual era a (in) visibilidade que a instrução tinha para o novo regime político, identificando práticas e permanências do período imperial, e quais as motivações que levaram o poder oficial a empreender mudanças. Diante do exposto, ainda tem-se uma pesquisa incipiente sobre esse a transição Império/República e suas problemáticas na Paraíba. O que nos leva a deixar um espaço para futuros trabalhos, pois estamos dando o primeiro passo, com intuito de desmistificar a historiografia tradicional de que o país tornou-se republicano, de uma hora para outra, e que observamos ser uma constante nos livros didáticos atuais, uma vez que o nosso exercício documental insere-se na elaboração de uma visão acerca da transição para a república. Referências ANANIAS, M. SILVA, A.S. 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