O Corpo ISSN: 2236-8221 Edição n. 26 04.08.2013 ISSN: 2236-8221 Jornal de popularização científica EXPEDIENTE DE O CORPO Edição n. 26 Vitória da Conquista, 31.10.2013 [email protected] http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm O corpo é discurso Editores Nilton Milanez Tyrone Chaves Filho Organizador Tyrone Chaves Filho Editoração eletrônica Nesta edição, O Corpo é discurso divulga o grupo de pesquisa GPEA, da Universidade Federal de Uberlândia. O Corpo traz, também, um artigo de Danilo Vizibeli e Maria Regina (MARCA DE FANTASIA) Henrique Magalhães Momesso, da Universidade de Franca; Um artigo de Edileide Godoi, da Universidade Federal da Paraíba; Uma entrevista com Consuelo de Paiva Godinho Costa, docente e pesquisadora da UESB; Uma resenha de Clara Marques Dulce Pereira e Emias Oliveira da Costa, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; Informações sobre o lançamento do segundo volume da REDISCO - Revista Eletrônica de Estudos do Discurso e do Corpo, além de notícias do universo acadêmico e da Análise do Discurso, no Brasil. CONSELHO EDITORIAL Dr. Elmo José dos Santos (UFBA) Dra. Flávia Zanutto (UEM) Dra. Ivone Tavares Lucena (UFPB) Dra. Maria das Graças Fonseca Andrade (UESB) Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA) Dr. Nilton Milanez (UESB) Dra. Simone Hashiguti (UFU)) Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco Laboratório de Estudos do Discurso e do Corpo - LABEDISCO - coordena do pelo Prof. Dr. Nilton Milanez - UESB Nós do Insólito - coordenado pelo Prof. Dr. Flavio García - UERJ O GPEA - Grupo de Pesquisas em Espacialidades Artísticas - toma como centro de suas investigações o estudo acerca das espacialidades na literatura e em outras formas artísticas por entender que o espaço possui imensa relevância na construção de sentidos das obras de arte. O grupo, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, foi criado em 2008 e possui sede na Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Para o filósofo francês Michel Foucault, a crítica literária ateve-se por muito às questões ligadas ao tempo ficcional pelo fato de a linguagem ter um grande parentesco com o tempo. A linguagem, diz Foucault, funciona no tempo; mas, se a função da linguagem é o tempo, seu ser é o espaço: "porque cada valor semântico de cada expressão é definido por referência a um quadro, a um paradigma". Assim, a assunção do espaço enquanto ser da linguagem aponta para a relevância de estudos que investiguem a relação entre os espaços construídos pela literatura e sua relação com práticas discursivas e com os modos de subjetivação. Quatro são as suas linhas de pesquisa: 1) Espaço discursivo; 2) Espaço e artes visuais; 3) Espaço e narrativa; 4) Espaço fantástico. O Grupo realiza reuniões quinzenais de estudo, pondo em debate textos que convergem sobre os temas de suas linhas de pesquisa. Parcerias e diálogos com outros grupos de estudo Página 2 II), que teve participação de oito professores pesquisadores da literatura fantástica, oriundos de várias universidades brasileiras. Os trabalhos apresentados no CENA II foram publicados no e-book intitulado “História e ficção no universo do fantástico”, editado pelo LABEDISCO. TOPUS - Grupo de Pesquisa sobre Espaço, Literatura e outras Artes - coordenado pelos Profs. Drs. Sidney Barbosa e Ozíris Borges Filho UnB/ UFTM Vertentes do fantástico na literatura coordenado pela Profa. Dra. Karin Volobuef - UNESP Grupo de Estudios sobre lo fantástico - GEF - coordenado pelo Prof. Dr. David Roas Universidad Autónoma de Barcelona Laboratório de Estudos Discursivos Foucaultianos - LEDIF - coordenado pelo Prof. Dr. Cleudemar Alves Fernandes - UFU GEADA - coordenado pela Profa. Dra. Maria do Rosário Gregolin - UNESP Produções O GPEA realizou, em 2008, o "I Colóquio de Estudos em Narrativa: o Espaço" (CENA I), na UFU, contando com a participação de pesquisadores de todas as regiões do Brasil. O CENA I desencadeou duas publicações: 1) O livro "O espaço (en) cena" (Editora Claraluz, 2008), contendo os textos apresentados nas mesas e palestras, editado - com o apoio da FAPEMIG; 2) O e-book "O Espaço: Colóquio de Estudos em Narrativa" (EDUFU, 2009), contendo os textos expostos nas comunicações orais e painéis. Em 2010, o grupo realizou o "II Colóquio de Estudos em Narrativa: História e ficção no universo do fantástico" (CENA O espaço (en)cena Marisa Gama Khalil, Jucelen Moraes Cardoso e Rosana Gondim Rezende (orgs.) O CENA III, realizado em março de 2013, teve como tema as literaturas infantil e juvenil e também reuniu diversos pesquisadores do Brasil. No evento, foram homenageadas a obra de Lygia Bojunga e de Bartolomeu Campos de Queirós. O livro “As literaturas infantil e juvenil ... ainda uma vez”, que teve o apoio financeiro da CAPES e foi publicado pela Composer/ GPEA, reúne os trabalhos apresentados nas mesas e palestras do evento, além de apresentar um importante texto da Profa. Dra. Graça Paulino sobre o letramento literário e uma carta da escritora Lygia Bojunga, num capítulo conclusivo intitulado “Pra você que nos lê”, que faz menção ao “Pra você que me lê”, encontrado nos livros de Bojunga editados pela sua editora Casa Lygia Bojunga. As comunicações do CENA III serão publicadas num e-book que estará disponível na página do evento: http://www.gpea.ileel.ufu.br/cena/ Para maiores informações sobre o grupo, acesse o site www.gpea.comunidades.net O Corpo O Colegiado de Letras do Centro de Estudos Superiores de Tefé/UEA realizará no período de 21 a 23/11/2013 o I Simpósio Regional de Estudos Linguísticos e Literários no Médio Solimões (SIRELLMS), que tem como tema “Nhengare: Diálogos e pesquisas em Estudos Linguísticos Literários”. O evento está sendo organizado pelo grupo de pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Linguística Aplicada à Educação (NEPLAE) e da Cátedra Amazonense de Estudos Literários e tem o apoio da FAPEAM através da aprovação do Edital nº 007/2012 PAREV. O simpósio tem como foco congregar estudiosos das áreas de Estudos Linguísticos, Literários e de áreas afins para discutir e partilhar os resultados de suas pesquisas e dos trabalhos desenvolvidos. A programação será constituída de conferências, mesas-redondas, sessões de comunicação oral, relatos de experiência e exposição de banners. Em breve a comissão organizadora divulgará maiores informações., que serão disponibilizadas no site http://1sirellms.blogspot.com.br/ O I Fórum de Estudantes de Línguas Indígenas (FELI) tem como objetivo promover a discussão de ideias e a maior interação entre os pesquisadores dessa área de pesquisa. Nesse sentido, pretendemos compartilhar conhecimentos relacionados aos estudos de Linguística Indígena por meio de um fórum que integre, debata e divulgue a produção acadêmica a respeito dos atuais desenvolvimentos metodológicos e científicos em pesquisas com línguas indígenas. O público alvo deste fórum será todos os estudantes de línguas indígenas – das investigações em iniciação científica aos estudos de pós-graduação, jovens doutores e estudiosos mais experientes. Dada a natureza interdisciplinar inerente aos estudos dessa área de pesquisa, o I FELI também busca aproximar os estudos linguísticos com os conhecimentos antropológicos, mais especificamente, etnográficos. O evento contará com minicursos, conferências, comunicações orais e pôsteres. O I FELI é um evento organizado pelos alunos do curso de Pós-Graduação em Linguística (Línguas Indígenas), do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – com o apoio do Centro de Estudos de Línguas e Culturas Ameríndias (CELCAM) e do Departamento de Linguística (DL/ IEL/ UNICAMP). Para maiores informações, acesse o site www.iel.unicamp.br/feli. Edição n. 26 Página 3 REINVENTANDO SENTIDOS PARA O LIVRO NO BLOG DO FOLHATEEN: ESCRITA, LEITURA E AUTORIA Danilo Vizibeli Maria Regina Momesso Blogs de/para adolescentes: um cenário de escrita e leitura Tornou-se discussão comum falar nas práticas de leitura e escrita na era da virtualidade. Em torno dessa discussão, surge a preocupação dentro da prática pedagógica de incentivar os alunos a lerem. Há nesse entremeio problematizações que precisam ser vasculhadas sobre o que é leitura? Muitos consideram uma defasagem nas práticas de leitura devido ao uso das novas tecnologias, mas percebe -se que a partir da prática de escrita sustentada pelo suporte virtual há também uma prática de leitura que ocorre simultaneamente a essa escrita. Este suporte e este espaço propiciam maior acesso às informações, aos livros, à interação e uma maior disponibilização do acesso à leitura e à escrita. É nesse sentido que em nossos estudos tem se discutido a constituição do sujeito-leitor enquanto “escrileitor”, numa prática híbrida em que se movimentam tanto leituras quanto escrituras na afirmação do sujeito do discurso enquanto leitor e autor. Para Chartier, “por sua complexidade, sua imprevisibilidade, pelos caminhos frequentemente encobertos que tomam, as práticas de leitura emanciparamse frente às ordens e normas – assim como fizeram as práticas sexuais” (1998, p.113). O adolescente é um dos sujeitos que está cada vez mais submetido ao jogo de se estimular a escrita, porque será cobrado em avaliações, em provas, como ENEM, vestibulares e outros. Tomando a Página 4 citação acima de Chartier é sempre uma ordem ou uma norma, ou várias delas, que está a se definir e modelar as leituras de um adolescente, porém há no contexto contemporâneo a emancipação da leitura e da escrita e um adolescente tem acesso a As práticas de leitura emanciparam-se frente às ordens e normas – assim como fizeram as práticas sexuais... um enorme arquivo, podendo ler e escrever sobre o que bem quiser. E assim nessa escolha de leituras e escritas ele se marca também como sujeito autor. As pesquisas empreendidas mostram que os blogs são um espaço de ressignificação das subjetividades adolescentes e para isso tomamos o Blog do Folhateen, como um exemplo de um espaço onde se entravam diálogos e onde o adolescente exerce a sua função-autoral colocando a sua alma em trasbordamento na “escrita de si” (FOUCAULT, 2006). O Blog do Folhateen era um espaço da coluna Folhateen, que é veiculada às segundas na Folha Ilustrada, escrito por adolescentes do Grupo de Apoio da Folha de São Paulo o qual foi veiculado até o final de 2011, mas ainda está no ar, revelando um grande dispositivo com “escrileituras” de adolescentes. Escrever sobre as Fanfics no blog: dar voz ao sujeito-autor Em 29 de março de 2011, Rebeca Magalhães uma das adolescentes do grupo do Folhateen publica o texto: “Fanfics”. Nele é abordada a temática das Fanfictions que são mecanismos ou sites em que é possível comentar uma obra literária ou até mesmo outros assuntos como músicas, bandas e outros e dar um novo final para a história e daí a explicação para o termo em inglês que se traduz: “ficção criada por fãs”. O grande comentário no post é da obra de Harry Potter. O sujeito escrileitor Rebeca Magalhães – autora do post – se posiciona como um escrileitor de fato. Ocupa uma posição de leitora e autora que está insatisfeita com as tramas criadas por autores de ficção tradicionais, como os clássicos de Machado de Assis, de Guimarães Rosa, de José de Alencar e outros e, ao mesmo tempo, luta inconscientemente contra a mesmice dos finais e/ou o término da leitura considerada “boa” promovida pelas obras literárias. Sabe aquele sensação de quando você acaba um livro? Aquela que dá um certo nó na garganta ou até mesmo um desconforto pelo corpo? Essa sensação pode ser causada por diversas coisas: ou porque a história não se desenvolveu e acabou da maneira como imaginávamos, ou simplesmente porque o livro era tão bom que você queria que houvesse mais mil páginas (BLOG DO FOLHATEEN, 2012, online). O Corpo Esse trecho mostra uma subjetividade adolescente que dialoga com os livros lidos e que corroborando com os pressupostos de Chartier (1998) tem as práticas de leitura e escrita remodeladas na contemporaneidade, por meio da inscrição das mesmas em outros suportes. O arquivo de cada leitor emerge no momento da leitura e não há uma leitura única, um único sentido estático e parado. A escrileitora Rebeca Magalhães ilustra o quadro de que os sentidos sempre são múltiplos. A esse respeito Chartier afirma que “a mesma (obra) quando inscrita em formas distintas, ela carrega a cada vez, um outro significado” (1998, p.70). Essa ressignificação está sendo constante e o discurso produzido por Rebeca emerge numa época em que a leitura está transformada pela virtualidade da internet. Esse contexto é apresentado nos comentários que seguem o post. São 13 ao total. Os escrileitores dos comentários ocupam uma posição, muitas vezes ocupada pelos professores em sala de aula, na qual avaliam o texto de Rebeca como sendo bom. A tia de Rebeca, Fernanda Nóbrega produz o enunciado: “estou super orgulho- escrileitor se sente qualificado para abor- suporte conhecido e de um jornal renomado gera capital social para o escrileitor, status e a ilusão de que ele é fonte do seu dizer (PÊCHEUX, 2002). Os demais escrileitores dos comentários criam uma proximidade e identificação com a autora proporcionada pelo seu discurso acerca da leitura de livros mediada pela Internet. Chamam-na pelo apelido “Becky”. Robin Severus, um dos comentaristas do post, escreve que “seu texto está gato”. O uso do termo “gato” refere-se ao sentido de que o texto está lindo, perfeito e, além disso, remete a uma interdiscursividade com a música do cantor Wando quando afirma a positividade de se fazer fanfics: “Fanfics são luz, estrela e luar”. Ao comentar sobre determinado tema num espaço jovem e jornalístico o As pessoas estão inseridas em um universo social em que se configuram novas representações para as práticas de leitura e escrita. O paradoxo ou você lê a obra ou você assiste ao filme, não é mais a única contradição entre a inscrição de uma obra literária em um dado suporte ou noutro. Agora, ler é possível no tablet, no iPhone, em tecnologias e suportes diversos. Teve-se a intenção de mostrar nesse trabalho como a representação do adolescente, mostrando sua alma em transbordamento, delineia uma posição autor, não mais aurificada, conquistada com maior fluidez nos espaços da Web 2.0. Nesses dispositivos é possível reinventar as posições do sujeito discursivo com um grau um pouco maior de escape, derivando e dispersando ainda mais, já que na rede os sa de ver a minha sobrinha escrevendo na página da Folhateen”. A escrita em um Edição n. 26 dar as questões e por isso se marca como autor. Leitores, Autores ou Escrileitores: possibilidades para o sujeito Nesse movimento de tentar estabelecer sentidos outros para o livro há a instauração de micropoderes que se encaminham à ordem do discurso e tentam desestabilizar sentidos já naturalizados, jáditos e já-lá, sobre o que é um livro, o que é um autor e como deve ser a prática de leitura. A mesma (obra) quando inscrita em formas distintas, ela carrega a cada vez, um outro significado sentidos estão postos em movimento. Entre subjetividades adolescentes, o escrileitor do Blog do Folhateen se marca e assume a posição-autor (ou não) frente ao cenário da comunicação global. A completude é uma ilusão: sempre será uma constante vasculhar e encontrar sempre nesse suporte analisado rastros desse sujeito cindido que pode discursivizar e ler o mundo de formas distintas. REFERÊNCIAS BLOG DO FOLHATEEN. Disponível em: <http:// blogdofolhateen.folha.blog.uol.com.br/>. Acesso em: 1º outubro de 2013. CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Tradução de Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Unesp/ Imprensa Oficial, 1998. FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Tradução de António Fernando Cascais e Eduardo Cordeiro. 6. ed. Lisboa: Nova Veja, 2006. PÊCHEUX, Michel. Discurso: estrutura ou acontecimento? Tradução de Eni Puccinelli Orlandi. 3. ed. Campinas: Pontes, 2002. VIZIBELI, Danilo. Leitores e autores do Blog do Folhateen: adolescentes como sujeitos discursivos promovendo a escrileitura na cibermídia. Dissertação de Mestrado. Unifran: Franca (SP), 2013. Página 5 O DISCURSO DA TATUAGEM, CONSTRUINDO SUJEITO E SENTIDOS Edileide Godoi (PROLING/UFPB) Introdução Como se coloca uma escrita marcada, “para sempre”, na pele em uma sociedade de enunciados efêmeros, sujeita as “tramas da mídia”? Como essa prática ganha adeptos estando fora/dentro dos processos midiáticos? A construção do sujeito tatuado Em um quadro em que a mídia propõe os sujeitos relacionados aos mais variados modo de subjetivação “sofremos”, constantemente, uma grande modificação social adaptativa. Somos empurrados a explorar e a nos adaptar a muitas formas de comportamentos distintos. A noção de identidade não é mais representada de forma estável, por uma ideologia, uma bandeira comum, uma língua, uma escrita, um mito. Não compartilhamos de uma única liderança e nem cultivamos uma ideologia comum que nos une todos à mesma nação social. Esse processo causa no sujeito o desejo de inserir-se em grupos que acolhendo-o, legitima, por sua vez, sua existência. Para Orlandi (2006), é mais do que símbolos comuns é o mesmo tipo de imaginário que solda o grupo. Contestando a cidade, a moda, o sistema de vida burguês e a organização política e religiosa estabelecida nas cidades, muitos jovens, nos anos 60 e 70 e 80 aderiram a grupos de vida alternativa. Os hippies, os choppers ou bikers, os Abutre’s - Raça em Extinção, o movimento punk . Extravagantes em sua apresentação corporal a tatuagem é uma das opções de interferência no corpo. Jaquetas de couro preto e roupas rasgadas e desbotadas misturavam-se às mutilações corporais, Página 6 como pequenas queimaduras com tocos de cigarro, escarificações faciais com agulhas, piercing no nariz, lábios e peito, e tatuagens pelo corpo todo. Os participantes dessas manifestações reivindicavam uma nova maneira de ser e viver, mais livre e menos ligada aos valores capitalistas. Nesse contexto de acontecimento percebe-se que a tatuagem O sujeito dá continuidade a esses processos de significação do eu na pele. sai das práticas ritualisticas e ganham novas significações na nossa sociedade, no entanto, embora os adeptos a Body Art tenham criados novas formas de provocação contra a cultura e a moral estabelecida, esse adornos, conforme Courtine (2009) e Pires (2005) não demoraram muito para sair dos guetos e cair nas redes da moda. Esse fato se deve, economicamente, a multiplicação das lojas especializadas no início da década de 80 como “está relacionado ao crescimento de toda uma cultura do fetichismo erótico e em particular do sadomasoquismo, até então reservado a práticas confidenciais” (COURTINE, 2009, p.176). Para Pires (2005), foram os avanços tecnológicos, médico, científico, juntamente, com a diversidade e o pluralismo criado na pós-modernidade que possibilitaram e incentivaram o indivíduo a exe- cutar em seu corpo modificações de forma, dimensões, tonalidades e texturas. (PIRES, 2005, p.78). Ela acrescenta que: a tatuagem foi a primeira técnica de modificação considerada pela sociedade e incorporada pela moda nos anos 70. Daí sai da clandestinidade, deixando de ser vista como uma marca underground.¹ Ansiosos por romper com o puritanismo imposto pela igreja e pelo estado totalitário, a partir de 1968 jovens de diferentes países vêm buscando imagens e canais alternativos para expressar um governo de si, publicando seu “eu” no espaço público. As pichações, grafites ganham as ruas, a cidade, mas, “logo depois, talvez tenhamos percebido que a cidade era de todos, e o que é de todos, não é de ninguém”. (RAMOS, 2002). Assim, passamos a textualizar nosso próprio corpo, único canal posto, ilusoriamente, permanentemente à nossa disposição, fazendo do corpo um espaço de liberdade de construção de si. Orlandi (2006, p. 270), concebe que o sujeito dá continuidade a esses processos de significação do eu na pele. _____________ ¹ Underground ("subterrâneo", em inglês) é uma expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, do modismo e que está fora da mídia. Também conhecido como Cultura Underground ou Movimento Underground, para designar toda produção cultural com estas características, ou Cena Underground, usado para nomear a produção de cultura underground em um determinado período e local. A referência a essas expressões aparecem em Toni marques, Brasil tauado e outros mundos (Rio de janeiro, Rocco, 1997) O Corpo O sujeito acaba textualizando o próprio corpo: o pierceng, a tatuagem . Do lado de fora, o excesso transborda, tudo é texto, é escrita, e o sujeito se subjetiva escrevendo também para todo lado. Daí a voltar-se para si mesmo é um passo que é dado: o corpo se textualiza. Inscrição no corpo como anúncio/denúncia de que o confronto do simbólico com o político faz problema (reivindicação de si). Fora: várias camadas de publicidade, de pichações, de letras assinadas nas diferentes superficie[ ....] Isso representa como um trabalho do excesso do sujeito no sujeito: transbordando de um excesso de linguagem o tempo todo visível sobre o sujeito, que passa a necessidade de um excesso de marcas visíveis em si mesmo. A ideia do sujeito pós moderno (disperso, múltiplo, volátil) sustenta no indivíduo a construção de técnicas de si, o desejo de códigos, símbolos e estilos de viver. Este sujeito da ética de si, percebido no discurso da escrita na pele, ao modo foucaultiano, pode ser pensado a partir de novas ordens subjetivas do corpo. Segundo Foucault nas sociedades modernas o poder estar diretamente ligado ao corpo, uma vez que sobre ele que recaem todos os “flashes”. Para Foucault a modernidade se caracteriza por uma “anátomo-política do corpo” e uma “biopolítica da população” (FOUCAULT, 1988, p. 127-49). O primeiro trata dos mecanismos disciplinares que organizam os corpos nas escolas, prisões, clínicas, hospitais, empresas. Mecanismos que se incubem sobre o corpo ininterruptamente, “por isso, naturalizado e internalizado pelo sujeito” (GREGOLIN, 2004, p.132). A segunda expressão diz respeito ao controle regulador que traça as diretrizes da vida para a população: como se vestir o que comer, onde morar, como fazer sexo, como fazer para ampliar ou não a longevidade. Ter uma administração do “bem estar social”. Essas técnicas Edição n. 26 cada vez mais sutis vão evoluindo e se espalhando no corpo social, nas atividades da vida cotidiana. Então, é sob esse viés, que en- Não se trata de se contentar com o corpo que já tem, mas de modificar, acrescentar sua marca, mudar os seus fundamentos para que apareça a ideia que se faz dele. car, acrescentar sua marca, mudar os seus fundamentos para que apareça a ideia que se faz dele. O corpo seria uma forma incompleta, sem suas aspirações e desejos. “É preciso acrescentar-lhe a sua marca para tomar posse dele” (BRETON, 2004, p.9). Pensando em uma conclusão A escrita na pele vem substituir os limites de sentido criado ao corpo. Não mais se trata do corpo que fala, que trabalha, que cansa, que pratica esporte com suas funções biológicas, mas o corpo como unidade discursiva que produz conhecimento. Referências tendemos que o corpo é lugar de disciplinarização e criação de novos sentidos e que a escrita na pela, estando inserida dentro dessas práticas cotidianas permite construir um lugar para se pensar o problema da subjetividade, isto é, “a maneira pela qual o sujeito faz experiência de si num jogo de verdade, no qual se relaciona consigo mesmo.” (REVEL, 2005, p.85). A prática da tatuagem, na contemporaneidade, propõe ao sujeito tatuado um estilo de ser e aparecer. Tomamos como corpus para ilustrar esse espaço de constituição do sujeito a revista INKED. Essa revista propõe uma posição ou função sujeito que pode ser assumida por vários sujeitos. Primeiramente, ao se intitular como uma revista de cultura estilo e arte, temos a representação da tatuagem dentro dessa rede discursiva. Os sujeitos tatuados não apenas marcam a apele, buscando um lugar de visibilidade e rebeldia, mas a revista propõe um lugar para esse sujeito tatuado, ou seja, o sujeito tatuado agora assume a posição sujeito estiloso, sujeito da arte e símbolo de uma cultura. Para Breton (2004), não se trata de se contentar com o corpo que já tem, mas de modifi- BRETOM Le, Sinais de identidade:tatuagens, piercings e outras marcas. Trad.Tereza Frazão, 1ª ed.março, 2004. COURTINE, J. J.; CORBIN, A.; VIGARELLO, G. História do corpo. Petrópolis: Vozes, 2009. v. 3 (As mutações do olhar: século XX) FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: a vontade de verdade. Rio de Janeiro: tradução Maria Thereza da costa Albuquerque e J. A. Guilhon. Graal, 1988. GREGOLIN, Maria do Rosário. Foucault e Pêcheux na construção da Análise do Discurso: diálogos e duelos. São Carlos: Clara Luz, 2004. MARQUES, T. O Brasil tatuado e outros mundos – Rio de Janeiro, rocco, 1997 ORLANDI, Eni Pulcinelli. À flor da pele: individuo e sociedade; In:MARIANI, B. A escrita e os escritos: reflexões em análise do discurso e psicanálise. São Carlos, Clara Luz, 2006. PIRES, B. F. O corpo como suporte da arte: piercing, implante, escarificações, tatuagem – São Paulo, 2005 REVEL, Judith. Foucault: conceitos essenciais. São Carlos: Clara Luz, 2005. Página 7 Lançamento da REDISCO - Revista Eletrônica de Estudos do Discurso e do Corpo Com organização de Nilton Milanez, Ismara Tasso e Suzy Lagazzi, o volume 2 da REDISCO - Revista Eletrônica de Estudos do Discurso e do Corpo acaba de ser lançado. Com o título Corpo e Audiovisual, o número versa sobre as diversas manifestações discursivas ligadas ao corpo, em materialidade audiovisuais e na literatura. Destacamos, aqui, a apresentação, escrita pelos organizadores, e o sumário da obra, para que o leitor possa ter acesso rápido ao conteúdo da obra e, por conseguinte, buscar a leitura de importan- Página 8 tes colaborações de pesquisadores de todo o país. ******* Apresentação sons, barulhos, ruídos. Ouvindo o corpo podemos observar e descrever seus sintomas, identificar o lugar do qual o corpo fala e para quem fala. O que é audível no corpo é tudo aquilo que o corpo diz na forma da febre, da dor, da sede, da fome, do amor. Os sons do corpo como o ronco da barriga, o suspiro de alívio, o atchim do espirro, o tumtum do coração, o latejar quase inaudível da pulsação estão pulverizados em um domínio de ligações históricas. Cada barulho de um passo, mais forte, mais fraco, mais rápido ou de cautela, corresponde a uma intervenção da história de um presente íntimo com o momento do corpo e do sujeito que o faz ranger. Daí, o que era a priori biológico escorrega para o campo do discurso. Quando o som do corpo revela a história de um cotidiano comum temos o início da formação de uma bio-histórica, do corpo-história e, por sua vez, do corpo enquanto discurso, longa e forçosa “tarefa de ouvir o que já foi dito” (FOUCAULT, 1977, p. XV) pelo nosso próprio corpo na interrelação com o corpo de outros sujeitos e com o corpo social. O corpo é imagem. O corpo é descrito, analisado, convertido e modificado nas pinturas, na fotografia, no vídeo. As imagens do corpo na história do dia-a-dia se materializam nas formas e nos modos de ver o corpo. O corpo pode ser visto de frente, de trás, de cima, de baixo, por fora e também por dentro. O corpo que se olha nessas instâncias é o corpo da mídia, ou me referindo ao estudioso alemão Hans Belting (2006), o corpo é mídia. Isso me leva a considerar o corpo em um regime de visibilidades, que é regido e controlado por uma gama de leis e regulamentos disciplinarizantes, dizendo ao corpo como ele deve ser, agir, se mostrar e que imagens deve produzir sobre si. O corpo é imagem uma vez que da sua constituição fazem parte o olhar e o ver de uma determinada posição de sujeito. O corpo aqui, portanto, é discurso, porque não existe fora da instituição da qual pode ser visto. O Corpo O corpo é materialidade. Os barulhos do corpo e as imagens que ele produz se cercam de uma existência histórica. Considerando a discussão de Michel Foucault em sua “Arqueologia do saber”, depreendo que o corpo se configura, primeiro, por meio de uma materialidade de documentos tais como livros, textos, coleções, registros orais, cartografias médicas, costumes e tradições, que se articulam entre si e se organizam de forma a compor uma gama de documentos que sustentam e fazem com que os corpos se movimentem em breves, pequenos e particulares movimentos históricos. Segundo, o corpo se confirma em uma existência histórica, pois apresenta espaço e volume. O corpo ocupa um espaço geográfico, institucional e biopolítico. O seu volume, a meu ver, é a substância que o transforma em um suporte daquilo que pode ser visto e ouvido, que está presente e se dá a ver em um lugar e uma data específicos. Essas possibilidades é que fazem com que o corpo seja investigado do lado de um regime de visibilidades no quadro da história e no campo do discurso. O corpo é um arquivo audiovisual. Som, imagem e materialidades compõem o canteiro daquilo que pode ser visto e enunciável. Tomando as discussões de Foucault (1977), ver e saber não são pares, são constituintes de um mesmo lugar histórico dos modos de se olhar para o corpo enquanto objeto de discurso. Para Deleuze (2004, p. 56) “o que Foucault espera da História é essa determinação dos visíveis e dos enunciáveis em cada época, que ultrapassam os comportamentos, as mentalidades, as ideias, e é isso que os torna possível.” Som e imagem fazem detonar um arquivo audiovisual ou, em outras palavras, as condições para o exercício do corpo em suas funções enunciativas no quadro de “coisas de um lado, acontecimentos de outro” (FOUCAULT, 2008 p.146). Do lado do áudio, observamos no corpo o que pode ser dito pela sua voz e, diferentemente de uma composição audiovisual que Edição n. 26 estabelece forçosamente a ligação entre objeto e som, como nos ensinou Chion (1993), o entrelaçamento de sons com o corpo faz parte de uma composição de justaposição, associação e dissociação intrínsecas ao estatuto do corpo enquanto dispositivo que enuncia o seu lugar no mundo. Do lado da imagem, podemos encontrar no visual a espessura histórica da constituição das modalidades do saber e a sua (in)visível produção de imagens que irrompem da genealogia familiar da história do cotidiano por meio de ecos de nossa cultura visual, como demonstra Courtine (MILANEZ, 2006) em seus estudos sobre a intericonicidade, noção que destaca a imagem em seus desdobramentos históricos a partir de cartadas e revelações de imagens sob as imagens, vistas e revisitadas nas memórias coletivas e seus quadros sociais (HALBWACHS, 1952, 2006). Nilton Milanez Ismara Tasso Suzy Lagazzi Referências BELTING, Hans. Imagem, mídia e corpo. Uma nova abordagem à iconologia. In: Revista Ghrebh. Número 8. Centro interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia – PUC/SP, 2006. CHION, Michel. La audiovisón: introducción a un análisis conjunto de la imagen y el sonido. Trad. Antonio López Ruiz. Barcelona, Espanha: Ediciones Paidós Ibérica, 1993. DELEUZE, Gilles. Foucault. Les Éditions de Minuit: Paris, 2004. FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. Trad. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1977. FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Trad. Walderedo Ismael de Oliveira. São Paulo: Ed. Centauro, 2006. HALBWACHS, Maurice. Les cadres sociaux de la mémoire. Paris: Les Presses universitaires de France, Nouvelle édition, 1952. MILANEZ, Nilton. O corpo é um arquipélago: memória, intericonicidade e identidade. In: NAVARRO, Pedro (org.) Estudos do texto e do Discurso. Mapeando Conceitos e Métodos: São Carlos: Claraluz, 2006, p. 153-179. Artigos A FIGURA GENEALÓGICA DO MONSTRUOSO: CORPOS DEFORMADOS, DESMEDIDOS E REPUGNANTES Alexandre Filordi de Carvalho “MEU CORPO, MEU PARTO”: CARTOGRAFIAS DO CORPO FEMININO NO YOUTUBE Aline Fernandes de Azevedo A PRÁTICA ASCÉTICA E O CORPO COM DEFICIÊNCIA: O DISPOSITIVO DA INTIMIDADE NA PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA-DOCUMENTAL Érica Danielle Silva (IN)VISIBILIDADES DOS CORPOS EM VIGÍLIA: REGIMES DE VERDADE SOBRE/EM POLÍTICAS AFIRMATIVAS E CINEMATOGRÁFICAS Ismara Tasso DO CORPO VERBAL AO CORPO AUDIOVISUAL: OS PERCURSOS DO CORPO SIGNIFICANTE NA OBRA DE MICHEL PÊCHEUX E O ÉDIPO LINGUAGEIRO Luiz Carlos Martins de Souza O CORPO COMO MATERIALIDADE DISCURSIVA Maria Cristina Leandro Ferreira PROJEÇÕES SENSÍVEIS DO/NO CORPO AUDIOVISUAL: PROCESSO OPERÁRIO/ CRIATIVO Nádia Régia Maffi Neckel O CORPO OUTRO DA VOZ NA DUBLAGEM DE TROPA DE ELITE I Pedro de Souza A IMAGEM DO CORPO NO FOCO DA METÁFORA E DA METONÍMIA Suzy Lagazzi Página 9 Entrevista com Consuelo de Paiva Godinho Costa Consuelo de Paiva Godinho Costa é doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas e professora do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, onde atua no curso de Letras e no Programa de PósGraduação em Linguística, lecionando e pesquisando sobre fonologia. Recentemente, a professora teve seu livro publicado na feira de Frankfurt, na Alemanha. Nesse sentido, O Corpo é discurso realizou uma pequena entrevista com a convite de lideranças indígenas, feito pelo meu, então, orientador prof. Dr. Wilmar D’angelis, no início de minha graduação na Unicamp. O campo de pesquisas com línguas indígenas tem aumentado nos últimos anos, apesar disso, ainda é pequeno no brasil. Um dos motivos é a falta de investimento do estado brasileiro para a descrição e análise das línguas desses povos. Além disso, temos que nos lembrar que as pesquisas que envolvem as comunidades indígenas inseremse em um contexto maior, que é a grande e tensa questão fundiária desses povos no brasil. Vários conflitos têm sido noticiados pela mídia, causados pela luta em torno da demarcação das terras tradicionais. Em resumo, não é muito fácil trabalhar com a questão indígena num país como o brasil, já que é um lugar de conflito e o índio, como sabemos, docente sobre temas presentes em é o lado mais fraco dessa corda. sua obra e recorrentes no univer- Isso torna as línguas indígenas, enquanto objetos de estudos, menos so da sua pesquisa. atrativas para estudantes de letras, que preferem as pesquisas de gabinete às viagens a campo e todas as questões de filiação sócio-políticas resultantes. O Corpo é discurso: Como funcionam as escolas nos postos indígenas onde a senhora pesquisou? Existe uma instituição semelhante à nossa para a transmissão da língua e da cultura ou eles aprendem por outros meios? Consuelo de Paiva Godinho Costa: A maioria das comunidades indígenas no Brasil têm escolas, instaladas já há muitos anos. A maioria é de ensino fundamental, mas existem algumas de ensino médio também, como é o caso da Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença (EEITO). O Corpo é discurso: Como andam as pesquisas linguísticas que utilizam como corpus o Guarani e dialetos indígenas de modo geral? ******* O Corpo é discurso: O que motivou a senhora a se debruçar sobre os estudos linguísticos em torno das línguas indígenas? Talvez, me parece, esse campo ainda não é muito atrativo para pesquisadores dos cursos de Letras e Linguística do país. Consuelo de Paiva Godinho Costa: A minha motivação inicial foi o Página 10 O Corpo Consuelo de Paiva Godinho Costa: Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas sobre a língua guarani. Um exemplo é a dissertação de mestrado de Ivana Pereira Ivo, no IEL/Unicamp, uma ex-aluna da do curso de Letras da Uesb. Ela está concluindo um importante trabalho sobre a variedade mbyá-guarani. O Corpo é discurso: Além das próprias comunidades indígenas, quem mais se beneficia com estudos linguísticos acerca do Nhandewa? No seu livro, me parece que a senhora sugere que as universidades se favorecem mais desses estudos que os informantes. Que tipo de benefícios as universidades retiram dessas pesquisas? Consuelo de Paiva Godinho Costa: Não as universidades, mas alguns pesquisadores individualmente, vão até as comunidades indígenas interessados em desenvolver seus trabalhos de mestrado e doutorado e não se preocupam muito com a contrapartida desse conhecimento para as comunidades, nos programas de educação escolar indígena, por exemplo. O comprometimento com a autonomia e valorização dos povos e culturas indígenas é uma diretriz fundamental do meu trabalho e assim deve ser com qualquer pesquisador sério e ético. O Corpo é discurso: Existe hoje, no Brasil, algum projeto realEdição n. 26 mente comprometido e eficaz que vise a dar apoio e gerenciamento a essas culturas indígenas, como forma de preservar a língua e a cultura desses povos? Consuelo de Paiva Godinho Costa: Existem muitos trabalhos como o meu, desenvolvidos por pesquisadores comprometidos social e etnicamente, atuando em várias comunidades do país. Somente no estado da Bahia, eu mencionaria a professora América César, de Salvador e os professores Flávia Mello e Cazé, da Uesc. Porém, falta de apoio dos governos tanto estaduais como o federal a estas pesquisas limitam as possibilidades e dificultam nosso trabalho, certamente. O Corpo é discurso: Em termos fonológicos, qual a diferença marcante entre o nhandewa e o portu- São línguas de troncos linguísticos muito diferentes. Numa comparação, poderíamos dizer que essas duas línguas são tão diferentes quanto o são o português e o japonês ou o basco. Algumas questões chamam particularmente a atenção na fonologia do nhandewa: a harmonia nasal (processo que espalha a nasalidade por domínios que podem chegar até toda a frase), além de consoantes bastante diferentes das que conhecemos, como as oclusivas prénasalizadas [mb, nd...] e a oclusão glotal Lembremos que a própria teoria linguística frequentemente se reconstrói buscando resolver questões apresentadas pelas línguas indígenas, o que as tornam importantes também para a linguística, além da sua grande importância para seus próprios povos e, em última instân- guês? cia, para toda a humanidade. Consuelo de Paiva Godinho Costa: Página 11 Os gêneros do discurso em Bakhtin Clara Marques Dulce Pereira (PPGL/UERN/GEDUERN) Emias Oliveira da Costa (PPGL/UERN) A língua só se efetiva através de enunciados, os quais estão necessariamente atrelados a um campo específico da atividade humana, que, por sua vez, define-os quanto ao conteúdo, ao estilo e à constituição composicional. Todo enunciado é único e irrepetível enquanto enunciado, mas, por outro lado, pertence a um tipo relativamente estável, o qual Bakhtin chama gêneros do discurso. Esses tipos aumentam e se tornam cada vez mais heterogêneos à medida que se tornam mais complexas e intensas as relações comunicativas dentro de determinado campo (pp. 261-262). Tamanha heterogeneidade de gêneros do discurso parece sinalizar a falaciosa impossibilidade de abordá-los de maneira geral. Desde a Antiguidade, os gêneros nunca foram abordados em sua natureza verbal comum, mas apenas em suas especificidades, por isso se privilegiou o estudo dos gêneros literários sem relacioná-los com outros tipos de enunciados, mas apenas em suas propriedades artístico-literárias exclusivas. Contrariamente, Bakhtin propõe estudar os gêneros de maneira ampla, isto é, a partir de sua natureza universalmente linguística, o enunciado (pp. 262-263). Ao optar por esse caminho, Bakhtin não negligencia a distinção entre os diversos gêneros, os quais ele divide em gêneros primários e secundários. Exemplo paradigmático de gênero secundário é o romance, onde diversos gêneros primários, tais como a carta, a confissão, a réplica, podem ser encontrados não como anexo ou apêndice, mas totalmente integrados no todo enunciativo que o romance é. A análise dessa relação entre Página 12 gêneros primários e secundários, bem como a formação histórica dos gêneros secundários, constitui uma estratégia bastante eficaz para se chegar à natureza complexa e profunda do enunciado, à sua configuração geral, a saber: o dialogismo. Só a partir da prévia compreensão dessa natureza geral do enunciado, pode-se empreender o estudo não menos importante dos diversos tipos de enunciados, isto é, dos gêneros do discurso (p. 264). Além de seu caráter dialógico, e em relação com ele, o enunciado possui também como característica o fato de ser individual, já que é produzido por um Bakhtin propõe o enunciado como unidade real de análise, em contraposição à oração, a qual só pode ser corretamente compreendida pelo estudo do enunciado sujeito. Há, todavia gêneros que permitem a manifestação da individualidade e gêneros avessos a ela. Àqueles servem de exemplo os gêneros poéticos, onde o estilo individual é um de seus objetivos; a esses últimos pertencem os gêneros que requerem uma forma padronizada, marcados não propriamente por um estilo individual, mas por um estilo de linguagem ou funcional, o qual se caracteriza por determinadas unidades temáticas e unidades compo- sicionais. Bakhtin critica a ausência de uma classificação geral dos estilos de linguagem, construída a partir de uma visão geral dos gêneros. (pp. 265-267). Essa classificação ou caracterização dos estilos de linguagem não literários ofertam contribuições decisivas: (1) para a compressão da linguagem literária, em especial o romance, onde diversos estilos de linguagem (vozes sociais) compõem um sistema complexo e organizado, uma vez que o tom da linguagem é dado pela sua relação com outros gêneros do discurso; (2) para a investigação das mudanças sociais, tendo em vista que os gêneros discursivos estão intrinsecamente ligados à história da sociedade (p. 268). Partindo de uma síntese dialética entre gramática e estilística, cujas divergências encontram um lugar comum no estudo do sintagma, Bakhtin propõe o enunciado como unidade real de análise, em contraposição à oração, a qual só pode ser corretamente compreendida pelo estudo do enunciado (p. 269). Essa categoria, o enunciado, central para os estudos de Bakhtin, não encontrou solo frutífero na linguística do século XIX: em Humboldt, porque sua investigação sobre a relação pensamento de linguagem negligenciava os aspectos da comunicação; em Vossler, porque a linguagem era vista exclusivamente enquanto função expressiva da consciência, ou seja, centrada no falante exclusivamente. Em ambas, não interfere o fator intersubjetividade, e o ouvinte é um passivo entendedor; há distinção radical entre emissor e receptor; este último só compreende (pp. 270-271). O Corpo Para Bakhtin o receptor não recebe, mas sim compreende responsivamente; a compreensão não é apreensão, é já uma resposta, mesmo que seja, como nos gêneros líricos, uma resposta silenciosa, ao contrário dos gêneros militares, onde a compreensão é uma ação. O próprio emissor está em atividade de compreensão responsiva, pois ele não é o primeiro a falar. A compreensão passiva, a apreensão é apenas um momento dentro de um conjunto mais complexo; as linguísticas gerais o tomam como momento único. (pp. 272-273). Da mesma maneira, tomando um momento como único, as linguísticas gerais lidam com as noções de fonema, sílaba, oração e não chegam a compreender todo um vasto campo além dessas noções, campo este que elas denominam de ‘fluxo da fala’, definição imprecisa e sem qualquer limite. Indo além da oração, mas, diferentemente, estabelecendo uma definição precisa, Bakhtin concebe os limites do enunciado a partir a alternância entre sujeitos do discurso e da sua conclusibilidade. Essas marcas do limite dos enunciados são mais fáceis de serem percebidas nas réplicas de um diálogo, onde os interlocutores se alternam e cada réplica, por mais curta que seja, possui uma conclusibilidade (pp. 274, 275). Nos gêneros secundários do discurso, essa alternância de sujeitos é mais complexa e as relações entre enunciados se dão dentro do próprio discurso; intervém, no caso do romance, para definição dos limites do enunciado, a individualidade no estilo, capaz de fornecer a unidade da obra e de tornar perceptível, no seu plurilinguismo, sua visão de mundo. (p. 279). Nos gêneros retóricos, o Edição n. 26 outro é representado dentro do discurso; a partir disso é que se pode compreender, por exemplo, as objeções que o sujeito do enunciado faz a si mesmo, refutando-as em seguida. Há sempre responsividade, mesmo nos discurso aparentemente monológicos, pois os enunciados sempre se relacionam com outros enunciados e com outros sujeitos; é justamente por isso que a oração não pode ser enunciado: ela só se relaciona com outras orações do mesmo discurso, e também porque pode haver alternância de orações sem que haja alternância de sujeito (pp. 276, 277). O aprendizado da língua materna está intrinsecamente relacionado ao aprendizado de gêneros. Além da alternância dos sujeitos e da conclusibilidade, outro requisito define o enunciado: ele é uma posição. Sua completude semântica é capaz de provocar uma posição responsiva de outro falante. Enquanto a oração não se relaciona com a realidade imediata, o enunciado é um posicionamento dentro dessa realidade. O enunciado é uma unidade da comunicação discursiva, ao tempo em que a oração é uma unidade da língua: ambos são compreensivos, mas a oração ainda não tudo; o enunciado possui uma inteireza determinada: (1) pela exauribilidade semântica-objetal do tema; (2) pelo projeto de discurso; (3) pelas formas típicas composicionais. (pp. 278-281). Quanto à exauribilidade, ela é quase plena nos gêneros do discurso de natureza padronizada, com pouco espaço para a criação. Nos gêneros científicos, o objeto é inexaurível, podendo-se falar apenas de um acabamento relativo, definido a partir dos objetivos do autor. A inteireza do enunciado se torna perceptível também quando se consegue identificar o seu projeto de discurso, a sua intenção discursiva, sua vontade verbalizada. A exauribilidade do objeto e o projeto de discurso estão relacionados na medida em que é a intenção quem restringe, recorta e trata o objeto, definindo o posicionamento do enunciado (pp. 281-282). Quanto às formas típicas composicionais, ou formas estáveis de gêneros do enunciado, Bakhtin afirma que o aprendizado da língua materna está intrinsecamente relacionado ao aprendizado de gêneros. O projeto de discurso do falante, isto é, sua intenção discursiva, orientase necessariamente para uma adaptação a um gênero escolhido, uma vez que a vontade individual, a vontade de dizer, só se manifesta através de um gênero. Isso não significa que os gêneros sejam imutáveis e inflexíveis: há aqueles mais estereotipados e outros mais criativos; uns com entonação expressiva mais calorosa, outros mais frios; alguns próprios à comunicação oficial, outros típicos da intimidade; e, ainda, gêneros reacentuados. (pp. 282-284) Mesmo as esferas da comunicação humana que trabalham com a criação livre não criam um novo gênero a cada novo enunciado. Também não há recriação, a cada encontro, no gênero conversa mundana, o qual possui suas propriedades e exige destrezas, tal como, por exemplo, a habilidade de tomar a palavra rapidamente. Os gêneros, portanto, não são como a parole saussuriana, vista como criação individual do falante. O enunciado não é livre, e o sujeito só consegue colocar nele a sua individualidade à medida que o conhece e o domina mais profundamente. (pp. 284-285) Página 13 Se, por um lado, a concepção estruturalista reconhece a forma social da oração, reconhecendo que ela não é totalmente individual e obedece a princípios de gramaticalidade, por outro, o estruturalismo deixa à vontade individual do falante a definição da quantidade de orações no que chamam de ‘fluxo da fala’. Ora, o tamanho de um enunciado é definido pelo gênero escolhido, bem como a forma da oração utilizada. A oração, portanto, obedece a especificidades que lhe são superiores, as especificidades do gênero; ela possui um significado linguístico, mas é impossível saber tudo o que o falante quis dizer sem o conhecimento do gênero do enunciado. Apenas no conjunto enunciativo a oração possui o significado pleno. (pp. 286-288) Para que uma oração figure como enunciado pleno, ela deve possuir certa exauribilidade, atender a uma vontade de discurso e possuir uma forma de acabamento. Caso contrário, a oração terá apenas um significado abstrato e neutro, pois não terá autor; nela não se poderá reconhecer o verdadeiro ou o falso, pois lhe faltam condições empíricas e pragmáticas; faltalhe ainda expressividade, pois tal atributo só existe num enunciado concreto. A oração é neutra, enquanto o enunciado é valorativo; a oração é apenas uma possibilidade linguística de expressão, ao tempo em que o enunciado é expressividade efetiva. (pp. 288-290) Mas de onde vem essa expressividade? Possuem as palavras expressividade? A expressividade não é um atributo da palavra, que, enquanto parte de uma langue, possui significado neutro. A expressividade é, verdadeiramente, uma relação; ela não provém da palavra e alcança o enunciado, mas sim o contrário, vai do enunciado à palavra. O falante não escolhe as palavras de Página 14 dentro da langue, mas as tira de outros enunciados congêneres. Dentro de um enunciado, de um gênero, a palavra não é neutra, pois passa a integrar certa prática discursiva. Na langue, a palavra é uma força de coerção (unidade linguística, força centrípeta); no gênero, a palavra é uma normatividade mais livre, exposta a diversos matizes valorativos (força centrífuga). (pp. 291-293) Se a expressividade provém do gênero, nada sobra para o individuo? Bakhtin afirma que, empiricamente, só existe enunciado individual; mas um enunciado individual se desenvolve dentro de uma tradição. Qualquer palavra existe para o falante nas formas de palavra-neutra, palavra-alheia e palavra-minha: a primeira garante a intersubjetividade da língua; a segunda garante a concretude da língua; e a terceira garante a posição valorativa única de todo enunciado. A entonação expressiva de um enunciado, portanto, não é uma relação entre falante e objeto, e sim uma relação entre palavra-minha e palavra-alheia. Entre dois enunciados sobre o mesmo objeto não existe apenas relação com o objeto, mas entre os dois enunciados; essas relações não são puramente indefinido e não concretizado, está presente. Nas correspondências interpessoais o outro está categoricamente marcado, enquanto em determinados gêneros o outro é apenas um fundo aperceptível, a partir do qual se fazem previsões, suposições e adiantamentos. Alguns gêneros caracterizam-se por seu forte apelo ao destinatário; mas já nos gêneros marcados pela hierarquia, o destinatário exerce pouca influência. (pp. 300-304) Resumidamente, Bakhtin apresenta, nesse texto, critérios para a caracterização do enunciado. Alternância de sujeitos, exauribilidade temática, conclusibilidade, responsividade, autoria, concretude pragmática e expressividade dialógica são atributos do enunciado, os quais, por estarem inapelavelmente associados a uma realidade empírica, assumem gêneros discursivos diversos. O falante não escolhe as palavras de dentro da langue, mas as tira de outros enunciados congêneres. sintáticas, são dialógicas (pp. 294-298). O outro é uma presença constante em todo enunciado, no qual ele interfere tanto de dentro quanto de fora. Até no diário pessoal, o outro, apesar de Referências BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: _________. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. O Corpo SELED – Seminário de Estudos em Linguagem e Educação, evento bianual, promovido pelo Grupo de Pesquisa Linguagem e Educação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Letras, Programa de Pós-Graduação em educação, contando com apoio da FAPESB e instituições parceiras. O III SELED terá como temática geral para esta edição de 2013 III SELED: rede de discursos, práticas e saberes a se realizar na UESB campus de Vitória da Conquista no período de 10 a 13 de Dezembro de 2013. O SELED neste ano em sua terceira edição já é aguardado em reconhecido em Vitória da Conquista e no estado da Bahia como um espaço de interlocução provocativo necessário à socialização de investidas teórico-metodológicas com vistas a (re)tematizações e (re)dimensionamentos de questões que permitam uma melhor compreensão das complexas e intricadas relações entre linguagem e(m) educação. O Evento configura-se ainda localmente como um momento oficial e institucional de revitalização de uma rede de interlocução presencial entre professores do Grupo de Pesquisa em Linguagem e Educação (GPLED CNPQ/UESB) que acolhe professores pesquisadores formadores do Programa de Pós-graduação em Letras: Cultura, Educação e Linguagens (PPGCEL/UESB) e do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários (DELL) das áreas AMPE (Área de Metodologia e Prática de Ensino) e ALEL (Área de Línguas Estrangeiras e suas Literaturas) e seus pares: pesquisadores e professores formadores de diferentes instituições de ensino do país com quem se dialoga frequentemente a distância, e do Programa de Pós-graduação em Educação – PPGED da UESB e ProfLetras. Acesse o site do evento clicando na imagem. Com o tema “Para onde vai a Literatura?”, o X Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários, do Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Ceará (UFC), será realizado entre os dias 10 a 13 de dezembro de 2013. O objetivo é discutir as seguintes temáticas: a criação literária com todos os desafios que esta ação empreende; o ensino da literatura e suas atribuições para docentes e pesquisadores; e, por fim, a crítica literária e o seu papel para os estudos literários. As atividades do X Inter deverão elevar e promover a qualidade da formação docente e científica, incentivando, assim, a melhoria da produção acadêmica sobre estudos literários, em diálogo com as demais áreas do conhecimento, como, por exemplo, a medicina, a música, a filosofia, a história, a psicologia, a sociologia, a antropologia, a linguística, as artes visuais, a comunicação, entre outras. O Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários é um evento nacional e, este ano, chega à sua décima edição consolidando-se como o maior e principal evento do curso de Letras da UFC. Sua relevância acadêmica pode ser evidenciada por meio do Sistema Nacional de Pós-Graduação e também pelo bom êxito das recentes avaliações realizadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para o corpo discente do programa, responsável pela produção e execução das atividades do evento. Entre no site no evento para obter maiores informações: www.xinterdisciplinar.blogspot.com.br. Vale destacar ainda o alcance do Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários para as pesquisas em Literatura, pois reúne e congrega pesquisadores, professores e escritores de todo o país em torno da reflexão e difusão da produção científica, incentivando, a geração de conhecimentos. Para celebrar os 10 anos do Encontro, foi articulada uma programação especial, que inclui, além das sessões de comunicação oral, minicursos, mesas-redondas, palestras, conferências, lançamentos literários e atividades culturais. Edição n. 26 Página 15 Dica de O Corpo Leitura do livro “Nhandewa Aywu - Fonologia do Nhandewa-Guarani”, de Consuelo de Paiva Godinho Costa. Esta obra apresenta um estudo fonológico do dialeto Nhandewa, da língua Guarani abreviadamente: Nhandewa -Guarani; família Tupi-Guarani), fundamentada na perspectiva da Escola de Praga, mas lançando mão, também, de recursos formais e de análise da Fonologia Autossegmental. A originalidade e importância do trabalho de Consuelo Costa está, por um lado, em constituir-se na primeira publicação de uma descrição fonológica científica desse dialeto; e por outro lado, por apresentar uma interpretação bastante inovadora no conjunto das análises fonológicas de línguas da mesma família. Dica de O Corpo Leitura do livro “Michel Foucault - Sexualidade, corpo e direito”, organizado por Luís Antonio Francisco de Souza, Thiago Teixeira Sabatine e Bóris Ribeiro de Magalhães. A presente coletânea é o resultado dos debates ocorridos no Seminário Michel Foucault: corpo, sexualidade e direito, que ocorreu na Faculdade de Filosofia e Ciências, a Universidade Estadual Paulista, em junho de 2010. As investigações de Michel Foucault sobre as tecnologias e dispositivos que modelam o corpo modernidade têm sugerido um profícuo debate multidisciplinar entre pesquisadores brasileiros que exploram as intersecções entre corpo, sexualidade e direito. Colaboradores O Corpo é Discurso é o primeiro jornal eletrônico de popularização científica da Bahia. Popularização da Ciência A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que beneficiam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhecimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os benefícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.