MINISTRO DA PRESIDÊNCIA PEDRO SILVA PEREIRA Quero começar por saudar o trabalho do British Council e do Migration Policy Group, o envolvimento da Comissão Europeia e o da Fundação Calouste Gulbenkian na divulgação deste trabalho e quero garantir que este estudo é muito útil para a reflexão e para o desenho das políticas públicas. Este trabalho apresenta-nos uma avaliação independente e pública. E é muito importante que isto aconteça, isto é, que as políticas públicas sejam sujeitas a avaliação, que essa avaliação seja independente e que seja tornada pública. Por outro lado, trata-se de uma avaliação que permite uma comparação internacional das políticas o que é, também, muito importante. Todavia, devemos ter sempre em conta a situação social concreta dos diferentes países, na medida em que as respostas, mesmo as respostas legislativas, se devem adequar a uma situação social concreta. Seja como for, a existência de um estudo sobre o desempenho das políticas públicas para a integração dos imigrantes também nos auxilia na troca de experiências, fazendo as políticas de integração dos imigrantes caminhar no sentido de uma concensualização mais alargada sobre quais as respostas concretas face ao problema da imigração nas sociedades contemporâneas. Quanto à avaliação de Portugal, que surge em 2º lugar no ranking, quero afirmar que estou satisfeito com os resultados divulgados neste estudo. Satisfeito e não inteiramente surpreendido, na medida em que as experiências das nossas políticas públicas na área da integração dos imigrantes vêm sendo apontadas nos manuais de boas práticas da Comissão Europeia como tendo medidas de referência que podem e devem serem consideradas por outros países. Penso que Portugal deve registar este resultado como o reconhecimento de um trabalho feito, como um registo de boas práticas que são relevantes para melhorar as condições de vida concretas dos imigrantes na sociedade portuguesa e como um sinal de que, felizmente, o país não está agora apenas a obter melhores lugares nos “rankings” da modernização tecnológica e do desempenho económico, antes vai ocupando também melhores lugares nos “rankings” relativos a políticas sociais como são as políticas de integração dos imigrantes. Este estudo, quero dizê-lo claramente, constitui uma homenagem àqueles que, todos os dias, fazem a política de integração dos imigrantes em Portugal e que devem ter aqui uma palavra de reconhecimento: o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, aqueles que com o Alto Comissariado estabeleceram parcerias para o desenvolvimento das políticas públicas, designadamente, as organizações não governamentais, as associações de imigrantes, as instituições particulares de solidariedade social e, também, as fundações. Todos aqueles, afinal, que ajudam a construir a nossa política de integração dos imigrantes merecem hoje uma palavra de reconhecimento. Quero, ainda, acrescentar que este “ranking” significa para Portugal um estímulo a fazer mais e melhor. O bom lugar de Portugal neste “ranking” não pode significar um menor dinamismo no futuro das nossas politicas de integração dos imigrantes, bem pelo contrário. Muitas das recentes alterações que introduzimos nas políticas significaram um salto qualitativo nas condições de integração dos imigrantes. Embora se diga que, por vezes, há alterações legislativas que não têm consequências práticas, quero recordar que também é verdade que há alterações legislativas que, pelo simples facto de existirem, provocam uma alteração na prática. Exemplo disto são a nova lei da nacionalidade e a nova lei de imigração, leis que foram sublinhadas nesta comparação internacional e que mudaram para melhor a vida concreta de muitos imigrantes em Portugal. De facto, a lei da nacionalidade provocou uma alteração na realidade - em poucos meses de aplicação da nova lei da nacionalidade tiveram acesso à nacionalidade portuguesa mais de 5500 pessoas, que não teriam acesso a esse estatuto com o quadro jurídico anterior. Portanto, estas alterações legislativas operam uma transformação na realidade e nas condições de integração. Quero, ainda, chamar a atenção para o facto de que, se alguma coisa aconteceu também nestes últimos tempos na nossa política de imigração, é a aproximação da realidade à lei. E dou dois exemplos: reagrupamento familiar e abono de família. Embora com um quadro legal mais fechado, nós tínhamos na nossa lei anterior condições de acesso ao reagrupamento familiar que estavam verdadeiramente bloqueadas porque os processos administrativos ficavam pendentes e a verdade é que a cooperação entre diferentes instituições públicas permitiu, com grande investimento de recursos, recuperar esse atraso, colocando os processos em dia. Isto é aproximar a prática daquilo que era o quadro legal vigente. O mesmo aconteceu com o acesso por parte dos imigrantes ao abono de família, porque apesar de a lei geral conceder àqueles que tinham descontos para a segurança social o acesso às prestações familiares, a verdade é que, na prática, isso estava a ser-lhes negado. Portanto, houve alterações muito importantes para a vida concreta dos imigrantes, exactamente no sentido de aproximar a prática daquilo que já era o quadro legal mas que não estava efectivamente a ser respeitado. Relativamente à nossa agenda futura para a integração dos imigrantes, chamo a atenção para o Plano para a Integração dos Imigrantes, que o Governo aprovou. Portugal é um dos poucos países europeus que tem um plano integrado para a integração dos imigrantes, um conjunto de 122 medidas com calendários, indicadores e metas. Este plano é o reconhecimento de que ainda temos muito a fazer para a boa integração dos imigrantes na sociedade portuguesa, designadamente no domínio do ensino da língua portuguesa, da formação, do combate ao insucesso e abandono escolar e do acesso pleno aos direitos sociais, como seja o direito à saúde ou o direito à habitação. Finalmente, é muito importante frisar como as respostas das politicas públicas aos problemas de integração dos imigrantes têm podido ser desenvolvidas em Portugal na base de um consenso social e politico muito alargado. Aliás, este estudo dá conta de que os Portugueses são um dos que mais apoiam a igualdade de direitos sociais dos imigrantes, na casa dos 69%, e os que mais apoiam o direito ao reagrupamento familiar, com valores acima dos 72%. Isto significa que há condições favoráveis na sociedade portuguesa para que a integração possa acontecer. Porventura, isso é o reverso da nossa condição de país de emigração mas é, sem dúvida, um consenso social muito positivo, que tem tido também tradução política. Na verdade, a lei da nacionalidade e a lei de imigração foram aprovadas no nosso Parlamento com um consenso político muito alargado e se alguma coisa devemos fazer é garantir que esse consenso político alargado em torno das políticas de integração dos imigrantes se mantém. Termino deixando uma nota sobre os desafios para a Europa. Este índex revela que a Europa precisa de fazer mais em matéria de politica de integração dos imigrantes. E é exactamente essa a mensagem da Presidência Portuguesa em matéria de imigração: precisamos de consolidar na Europa uma politica de imigração assente em três pilares fundamentais - o pilar da regulação dos fluxos migratórios e do controlo das fronteiras, onde a Europa deve ser solidária com aqueles países que experimentam mais dificuldades; o pilar da cooperação com os países de origem (e, também por isso, Portugal inscreveu na sua agenda da Presidência uma cimeira com os países do Mediterrâneo e uma cimeira com África) - mas também o pilar da integração dos imigrantes. É, portanto, muito compreensível que, no momento em que a Presidência Portuguesa tem esta mensagem sobre o que deve ser o futuro da política de imigração, acolhamos com especial satisfação o “ranking” que coloca Portugal no segundo lugar no âmbito das politicas de integração, porque isso dá credibilidade a esta mensagem que é uma mensagem que a Europa precisa de escutar.