Brazilian Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology Brazilian Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology 1 (1) 23-32, 1995 Introdu^ao a Tecnica de Polissonografia Rogerio Santos da Silva Biologo Hospital das Clfnicas da Faculdade dc Medicina da Unjversidade de Sio Paulo - CIES - Centro Interdepartamental para Estudos do Sono; Instituto de Psiquiatria. - Hospital Israelita Albert Einstein - Centro de Disturbios do Sono; Service de Neurofisiologia CKnica. Resume E grande a importancia da polissonografia na avaliagao dos disttirbios do sono humano. Para tanto, a boa qualidade tdcnica do tragado € indispensaVel a qualquer tipo de estudo. Este artigo apresenta um breve hist6rico dos principals eventos relacionados com o estudo do sono e relaciona as principals variaVeis estudadas em polissonografia, dando substrato te'cnico para a preparacjao e monitorizac,ao do registro polissonogrSfico. Urdtermos: Polissonografia, Laborat6rio de Sono, T6cnicas PolissonogrSficas. iniciais do EEG ainda d empregada atualmente, com resultados talvez impossfveis de serem obtidos de outra forma. Loomis e cols. ^ ' definiram um sistema de classifica^ao para o EEG durante o sono, descrevendo cinco fases distintas, baseados na morfologia e freqiiencia dos potenciais. As cinco fases foram designadas com as letras A, B, C, D e E, no sentido dos est^gios mais superficiais para os mais profundos. Apesar da descrigao pormenorizada do que mais tarde se chamaria de sono sincronizado ou sono nao-REM (NREM), esses autores nao fizeram men^ao ao sono dessincronizado ou sono REM (sigla de "rapid eye movements" = movimentos r&pidos dos olhos). A presen$a dos movimentos oculares rSpidos for descrita, primeiramente, por Eugene Aserinski e Nathaniel Kleitman , em 1953. Esses abalos oculares fSsicos durante o sono estavam associados a um padrao eletroencefalogrdfico semelhante ao da vigilia e ao aumento dos batimentos cardiacos e da frequencia respirat6ria. Eles notaram, ainda, que quando os indivfduos eram acordados durante esse estdgio do sono, cerca de 80% indicava estar sonhando. Em 1958, Dement e Kleitman publicaram uma nova classifica<jao das fases do sono, composta por quatro est^gios de sono sincronizado (sono NREM), seguidas pelo sono dessincronizado (sono REM), os quais ocorrem de forma ciclica durante a noite. O sono dessincronizado, devido ao seu padrao semelhante ao do alerta, foi considerado como superficial atd 1959, quando Jouvet, Michel e Courjon " ', estudando o limiar para despertar, em gatos, caracterizarara esse estSgio como o mais profundo, denominando-o "sono paradoxal". Jouvet e Michel Abstract Polysomnography, a technique of utmost relevance for detection of sleep disturbances, requires that recording match the very best available standards. A brief history of the discovery of sleep stages and correlates is hereby described as well as the main procedures that have to be adopted for obtaining good quality recordings. Key Words: Polysomnography, Sleep Laboratory, Polysomnographic Techniques. Hist6rico O sono sempre foi uma das questoes que mais agugaram a curiosidade humana, talvez devido a alterac,ao do grau de consciencia de um individuo adormecido ou, ainda, & importante extensao do tempo que passamos dormindo. Essa curiosidade levou, primariamente, a abordagens puramente discursivas. Pore'tn, com o desenvolvimento de me'todos instrumentais adequados foi possfvel descrever, ainda que parcialmente, alguns aspectos das manifestac.6es e dos mecanismos da vigilia e do sono. Richard Caton ' fez os primeiros registros da atividade ele'trica cerebral de gatos, coelhos e macacos usando um rudimentar sistema de registro. Seus achados foram apresentados, em 1875, para a "British Medical Society". Em 1929, Hans Berger "' fez os primeiros registros das oscilacpes de potencial do c6rtex em humanos, dando-lhes o nome de eletroencefalograma (EEG). Ainda que com problemas te'cnicos na amplifica^ao de sinais, Berger identificou muitos padroes em EEG, incluindo o ritmo alfa. A influencia dessas descobertas sobre o estudo do ciclo vigflia-sono foi de inestimaVel valor, sendo que a metodologia derivada dos estudos Copyrigth O Uga Brasilrua de Epilrpeia e Sodedade Brasileiri de Neurofiiiologia CHmca 23 R. S. da Silva ', ainda em 1959, observaram que havia um marcado declmio no t6nus muscular durance o sono dessincronizado. A combinagao desses achados e" agora utilizada como base para o estudo polissonografico: o eletroencefalograma, o eletrooculograma e o eletromiograma. tes, pode-se mostrar alterada devido ao fato de estarem dormindo em uma cama estranha, pelo desconforto gerado pelos fios ou, ainda, pela apreensao causada pelo fato de terem seu sono monitorizado durance a noice coda. Esses problemas, chamados de "efeitos da primeira noice", foram invescigados Tabela 1 - Apresentacao da sensihilidade e dos filtros freqttentemente utilizados em polissonografia. Setuibilidade Filtro de AlU (uV/mm)** Frequencia (Hi) Filtro de baixa Frequencia (Hz) de Tempo (s) EEC 7 70 0,5 0,3 EOO 7 70 0,5 0,3 EMG (queixo) 2 70 5-10 0,03 EMG (tibial ant.) 10 70 10 0,03 Fluxo Ae'reo 75* 15 1 0,1 ECG 75* 15 (35) 0,1 1 Constance EEC = eletroencefalograma; EOG = eletromiograma; ECO = eletrocardiograma. * variavel (deve ser ajustado para cada paciente); ** para sinal de calibrate de 50 uV. por muitos autores * . A "aclimacasao" do pacience ao Iaborac6rio de sono, fazendo-se o registro em duas ou mais noices consecutivas, pode eliminar esses "arcefatos" causados pelos efeitos da primeira noice. No laboraC(5rio de sono, a escolha do equipamento adequado para monitorizar as variaveis bioeMtricas 6 muito Em 1968, o "Brain Information Service" publicou um manual de estagiamenco de sono e tdcnicas polissonogrSficas ', que € amplamente ucilizado como base para escagiamento por muitos Iaborac6rios, e, em 1971, publicou um similar, padronizando o escagiamenco do sono em criangas . A "Association of Sleep Disorders Centers" (ASDC), em 1978, publicou um sistema de classificasao padrao para diagn6stico dos disturbios do sono ' ' e um guia basico para o uso em polissonografia em centres de disturbios do sono ' '. Em 1979, foi publicada pelo ASDC/APSS a "Diagnostic Classification of Sleep and Arousal Disorders" ™. Atualmente, o diagn6stico dos disturbios do sono € baseado numa nova classiftcasao ' , mais completa em rela^ao a anterior. to<v. 10% 20°'. | 20% 120Q'« I 20% Aspectos T6cnicos A polissonografia 6 um termo gene'rico que se refere ao registro simultaneo de algumas variaVeis fisioldgicas durante o sono, tais como: eletroencefalograma (EEC), eletrooculograma (EOG), eletromiograma (EMG), eletrocardiograma (ECG), fluxo ae"reo (nasal e oral), esforcp respirat6rio (toraxico e abdominal), outros movimencos corporals (atrave's do EMG), gases sangufneos (saturac.ao de oxigenio, concentrac.ao de di6xido de carbono), temperatura corporal, tumesc^ncia peniana, entre outras. Assim, a elaboragao do programa para o registro polissonografico deve ser definida previamente, com base nos dados clfnicos do paciente e nos me'todos de registro disponfveis no Iaborat6rio. Por exemplo, um registro, quando a hist6ria clfnica sugere apn6ia, deve ter moncagem diferente da usada para verificac.ao de impote'ncia sexual. Al6m disso, alguns pacientes necessitam de uma avalia^ao polissonogrSfica de, pelo menos, duas noites consecucivas. A avalia^ao da arquicetura do sono, em alguns pacien- .10% FIgura 1 - Sistema Intemacional 10-20decolocacaodeele'trodos. A: medida longitudinal feita a 10 ou 20% do nasion at£ o iriion; B: medida transversal feita a 10 ou 20% do ponto prt-auricular esquerdo at6 o ponto prt-auricular direito; C: medida circunferencial feita a partir das marcas encontradas em A e B; D: esquema de todos os pontos ligados a 10 ou 20%. 24 Brazilian Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology 1 (1) 23-32, 1995 BOO) EUUJ Flgura 2 - PosicSo dos el£trodos para registro polissonograflco. Ld: perfil direito do indivfduo; Le: perfil esquerdo do indivfduo; C3: eldtrodo para registro do eletroencefalograma da regiSo central esquerda: C4: ele'trodo para registro do eletroencefalograma da regiSo central direita; EOGE: el^trodo para registro dos movimentos oculares colocado no canto extemo do olho esquerdo; EOGD: eldtrodo para registro dos movimentos oculares colocado no canto externo do olho direito; EMG1, EMG2 e EMG3: ele'trodos utilizados para registro da atividade eletromiograTica da regiSo submentoniana; A1: eldtrodo utilizado como referdncia, colocado sobre o lobo da orelha esquerda ou sobre a mast6ide esquerda; A2: eldtrodo utilizado como referenda, colocado sobre o lobo da orelha direita ou sobre a mast6ide direita; t: ele'trodo "terra". dos, em func.ao do tempo. Dependendo da velocidade de variac,ao do sinal a ser registrado deve-se usar um sistema de amplificadores de corrente contfnua (DC) ou de corrente alternada (AC) * ' 23'. O sistema DC £ capaz de detectar variances muito lentas do sinal bioele"trico, sendo utilizado para registro da satura$5o de oxigenio, tumescSncia peniana, temperatura corporal, por exemplo. Os potentials do EEC, EMG, EOG e ECO sao suficientemente rapidos para registro importante. Para isso devem-se conhecer e entender os princfpios basicos envolvidos no registro desses sinais ele'tricos. Em cada canal de um polfgrafo existe um amplificador, que aumenta milhares de vezes a diferenga de potential entre dois pontos e que iri reproduzir um sinal ele'trico proportional ao original. Este 6 transformado num sinal mecanico dado pela impressao da pena no papel. O trac,ado representa, pois, a diferenga de potencial entre dois pontos, captada pelos ele'tro- 25 R.S.daSilva N*ySwN*VVfi/VV*'1^ Q2-A1 CM KG E BOGD EM: lG Figura 3 - Tra^ado mostrando o aparecimento do ritmo alfa, predominantc em regifles occipitais quando o indivfduo fecha os olhos. C3-A2: registro eletroencefalogra'fico da regiao central esquerda, utilizando-se como referenda a mastdide direita; O2-A1: registro eletroencefalogrdfico da regiao occipital direita, utilizando-se como referenda a masttiide esquerda; EOGE: registro dos movimentos do olho esquerdo; EOGD: registro dos movimentos do olho direito; EMG: registro eletromiograTico da regiao submentoniana; OF: olhos fechados; OA: olhos abertos. Velocidade do papel = 10 mm/s. A escolha da velocidade do papel tamb^m deve ser feita criteriosamente. Uma velocidade muito baixa pode obscurecer dados relevantes para o estudo e impedir o estagiamento do sono. For outro lado, velocidades muito altas tendem a ser pouco economicas para o Iaborat6rio de sono. A com sistema AC de amplificagao de sinais. Para melhor identificac,ao do sinal bioele'trico, o poligrafo permite, pela escolha adequada dos filhos, atenuar dados nao relevantes ao estudo 1 ' '. A tabela 1 mostra os filtros normalmente utilizados para registros de algumas variaVeis fisiol6gicas. it^^\^ Flgura 4 - Trafado mostrando a deflexSo fora-de-fase das penas do polfgrafo duranie movimentos oculares. Observar a grandc contaminacao do registro eletroencefalogrifico em regifles centrais da cabeca dada pelo campo el£trico dos globos oculares. C3-A2: registro eletroencefalograTlco da regiao central esquerda, utilizando-se como refer6ncia a mastdide direita; O2-A1: registro eletroencefalograTlco da regiao occipital direita, utilizando-se como referenda a mas(6ide esquerda; EOGE: registro dos movimentos do olho esquerdo; EOGD: registro dos movimentos do olho direito; EMG: eletromiografla da regiSo submentoniana; OD: movimento ocular para direita; OE: movimento ocular para esquerda; OC: movimento ocular para cima; OB : movimento ocular para baixo; P4x: piscamento dos olhos por quatro vezes. Velocidade do papel = 10 mm/s. 26 Brazilian Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology 1 (1) 23-32, 1995 unnnnumTnnun muminniiiiiiiiiiiup u Is C3-A2 ^^i/^\A^^^ UH-A1 /V^v^^AJN^^ GOG E me D BC Figura S - Tracado mostrando o aumento da amplitude do sinal do registro eletromiogritfico da regiSo submentoniana (EMG) quando o indivfduo engole (E) e tosse (T). C3-A2: registro eletroencefalograTlco da regiao central esquerda, utilizando-se como referenda a mastdide direita; O2-A1: registro eletroencefalograTlco da regiao occipital direita, utilizando-se como referenda a mas«6ide esquerda; EDGE: registro dos movimentos do olho esquerdo;EOGD: registro dos movimentos do olho direito. Velccidade do papel = 10 mm/s. C3-A2 r^^u^^^^ Cf-AI /vw\JvA((^^^>^/^U>v^^ GOG E Tu FtaC Figura 6 - Tratado mostrando o aumento da amplitude do registro eletromiografico do miisculo tibial anterior (Ta) quando o indivfduo levanta o p& esquerdo (PeC), abaixa o p6 esquerdo (PeB), levanta o pd direito (PdC) e abaixa o p6 direito (PdB). C3-A2: registro eletroencefalograTlco da regiSo central esquerda, utilizando-se como referenda a mast6ide direita; O2-A1: rcgistro eletroencefalograTlco da regiao occipital direita, utilizando-se como referenda a mast6ide esquerda; EOGE: registro dos movimentos do olho esquerdo; EOGD: registro dos movimentos do olho direito; EMG: registro eletromiogrdfico da regiao submentoniana. Velocidade do papel = 10 mm/s. 27 RS.daSilva C3-A2 OE-A1 ituj4^^ U^444^M4^^^ KG E HOG 0 ^^^^ BC Ta AID BOG vv—v\_-t/\—l'\^l>\^'>--vv-4/\-4A-4/v--4'^--4/v-^ Figure 7 - Trafado mostrando a deflexSo em fase das penas dos canais do polfgrafo que registram o fluxo adreo nasal e oral simultaneamente (FAI), o esforfo respirat6no toracico (T6RAX) ; o esfor90 respiratorio abdominal (ABD), quando o indivfduo faz uma inspiracSo forcada (I), quando faz uma expira^Jo forcada (E) e quando faz uma pausa respiratoria (A). C3-A2: registro eletroencefalograTlco da regiSo central esquerda, utilizando-se como referencia a masttfide direita; O2-A1: registro eletroencefalograTlco da regiSo occipital direita, utilizando-se como referenda a mast6ide esquerda; EOGE: rcgistro dos movimentos do olho esquerdo; EOGD: registro dos movimentos do olho dircito; EMG: registro eletroencefalograTlco da regiSo submentoniana; Ta: registro eletromiograTico dos musculos tibiais anteriorcs; SaO2: registro da saturacSo arterial de oxig6nio; ECG: eletrocardiograma. Velocidade do papel = 10 mm/s. velocidade mfnima recomendada pelo manual padrao ' ' 6 de 10mm por segundo. externa) e os pontos preauriculares esquerdo e direito. Desta forma, os ele'trodos sao colocados de modo absolutamente sime'trico e a medida do couro cabeludo 6 especifica para cada indivfduo. A figura 1 ilustra o sistema 10-20 de colocagao de el6trodos. Para o estudo do sono nao sao rotineiramente utilizados todos os el^trodos incluidos no sistema 10-20. Entretanto, suas localizagoes e nomes devem ser bem conhecidos pelo te'cnico, pois hi casos em que 6 necessSria sua coloca^ao (para registro do sono em pacientes com epilepsia, por exemplo). Os sinais el^tricos utilizados para estagiamento do sono sao bem visualizados nas regioes centrais do ce'rebro, particularmente quando a amplitude do sinal 6 otimizada com a utilizac,ao de um aumento relative da distancia entre os el^tro- Eletroencefalogratna (EEG) O registro do EEG 6 considerado como parSimetro de fundamental importancia em polissonografia. rl por meio dessa variaVel que os estigios do sono podem ser distingviidos. Para coloca5ao dos el6trodos i utilizado, por muitos laboratories, o "sistema internacional 10-20 de colocagao de el6trodos". Tal sistema foi desenvolvido por Jasper ' ', em Montreal, e baseia-se na medigao feita em intervalos de 10% ou 20% da distSncia total de pontos pre'-estabelecidos no escalpo. Estes pontos sao quatro: o nation, o fnion (protuberlncia occipital 28 Brazilian Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology 1 (1) 23-32, 1995 iiiiiuiiiiiiiiuiiiiiiiruiiniiiiuiiiiiiiiuiiiiiiiiu C3-A2 uiiiiiiiiuiiiniiruiiiiiiiajniiiiiruniirnpjmnnrunrmipiiiiirraiimim |^^W*^ 00-Al HOG E ^^^^i^^ HI; o BC Ta KAI TUIAX All) BOG \^-\^J^\^^ Flgura 8 - Trajado de um registro polissonognSfico de um indivfduo relaxado, mostrando a deflexSo em fase das penas dos canais do polfgrafo que registram o fluxo aereo nasal e oral simultaneamente (FAI), o esforco respiraWrio torfcico (TORAX) e o esforco respiratoiio abdominal (ABD). C3-A2: registro eletroencefalogrSfico da regiSo central esquerda, utilizando-se como referenda a mastrjide direita; O2-A1: registro eletroencefalograTico da regiSo occipital direita, utilizando-se como referenda a mastrjide esquerda; EOGE: registro dos movimentos do olho esquerdo; EOGD: registro dos movimentos do olho direito; EMG: registro eletromiogrifico da regiao submentoniana; Ta: registro eletromiogrifico dos musculos tibiais anteriores; SaO2: registro da satura9So arterial de oxigenio; ECG: eletrocardiograma. Velocidade do papel = 10 mm/s. dos, dado pela referenda contralateral. Estas atividades incluem as ondas do vertex, os fusos de sono e o complexo K, os quais apresentam seu maximo em CZ, C3 e C4; as ondas lentas de alta voltagem dos estagios 3 e 4, cujo valor maximo ocorre em regioes frontais, sao bem captadas rjelos ele'trodos centrals e, ainda, a atividade alfa, caracterfstica de regioes occipitais, podem ser observadas em C3 e C4 em muitos indivfduos. Assim, o manual padrao * ^ recomenda a colocasao de C3 e C4 para registro do sono, embora o registro de apenas um desses pontos seja suficiente para o seu estagiamento, enquanto o outro pode ser utilizado em caso de problemas te'cnicos com o primeiro eldtrodo. Como referenda sao colocados el^trodos sobre o lobo da orelha ou a mast6ide contralatrais: C3/A2 ou C4/A1 (figura 2). Entretanto, alguns laboratories, dependendo da disponibilidade de canais para registro do sono, utilizam os eldtrodos frontais para auxilio no 29 R. S. da Silva O globo ocular forma um campo ele'trico, produzido pela diferenc,a de potencial existente entre a c6rnea e a retina, sendo a primeira positiva em relac.ao a segunda. As variances desse campo ele'trico, produzidas pelos movimentos oculares, podem ser registradas utilizando-se um ele'trodo colocado sobre cada canto externo dos olhos. De acordo com o manual padrao , o ele'trodo esquerdo (EOG-E) € colocado cerca de 1cm abaixo do piano horizontal e o direito (EOG-D) 6 colocado cerca de 1cm acima (figura 2). Essa disposic,ao dos ele'trodos permite a identificac.ao dos movimentos horizontals, verticals e obliquos . O registro 6 feito utilizando-se como referenda o lobo da orelha ou mast6ide contralaterais (EOGE/A2 e EOG-D/A1) (6). Os elettodos podem ser fixados por fita adesiva, esparadrapo ou com col6dio elastico, desde que tomando-se cuidado para evitar o contato com os olhos, pois podem provocar sua imtac,ao. estagiamento do sono delta (estlgios 3 e 4) e os ele'trodos occipitais (O1/A2 ou O2/A1) para uma boa avaliacao do comedo do sono. A utilizagao da derivac,ao CZ-OZ pode pennitir a observac,ao da atividade alfa posterior e da atividade central do sono. O ele'trodo terra i normalmente colocado na posic,ao FZ (figura 2). De maneira geral, os ele'trodos sao colocados de forma nao invasiva sobre a pele fntegra. Pore'm, a pele deve receber um prepare preVio, uma vez que apresenta uma carnada c6mea, de espessura variaVel conforme a localizac,ao, que atua como isolante. Ale'm disso, a oleosidade presente na pele tambe'm atua como isolante, atrapalhando o bom contato do ele'trodo e prejudicando a transmissao da atividade ele'trica. Para contomar esses problemas pode-se seguir os seguintes passes: 1) desengordurar a pele com alcool ou acetona; 2) promover ligeira abrasao da pele com uma pasta abrasiva, lixa d'£gua ou pequeno chumac.o de palha de a$o com malhas finas (ex. "Bombril"). Deve-se sempre lembrar que a abraSao nao pode lesar a pele do paciente, uma vez que, al6m de nao trazer melhora ao registro, o ardor provocado tornarS o paciente inquieto, com dificuldade de relaxamento; 3) utilizar pasta condutora para fazer a "ponte" entre a pele e o ele'trodo. O prepare da pele deve ser feito antes da colocac.ao de qualquer ele'trodo. Para o caso especffico dos eletrodos colocados sobre o couro cabeludo, deve-se separar muito bem os cabelos da area, uma vez que eles aumentam muito a impedancia local. Muitos aparelhos para registros eletrofisiol6gicos dispoem de sistemas embutidos para medic.ao das impedancias, sendo que muitos Iaborat6rios requeretn preparac.6es que apresentem impedancias inferiores a 5 kiloohms. Como o registro do sono i geralmente feito durante toda a noite, i muito importante que os ele'trodosfiquembem firmes para que nao caiam durante os movimentos corporals. Ale'm disso, a entrada no quarto para arrumar um ele'trodo pode despertar o paciente, atrapalhando o estudo da arquitetura do sono. Pode-se tentar prevenir esse problema com a colocac,ao de el^trodos de reserva e, ainda, com a utilizagao de col6dio eleistico na fixa^ao dos el^trodos. Para isso, utiliza' se uma pequena gaze dupla (2cm ), embebida em col6dio, que € secada com ar comprimido, em movimentos centrifuges, tomando-se o cuidado para que nao se formem bolhas de ar. Estas bolhas normalmente resultam em instabilidade do ele'trodo e, portanto, em grande quantidade de artefatos. O col6dio eleistico utiliza 6ter como solvente que, devido ao seu alto grau de volatilizac.ao, permite a secagem r^pida. Sua remoc.ao pode ser feita facilmente com 6ter, acetona ou benzina. Eletromiograma (EMG) Como descrito pelo grupo de Jouvet , em 1959, a atonia muscular € um dos fen6menos caracteristicos do sono dessincronizado. Desse modo, em um registro polissonograTico padrao, o EMG do queixo € usado como crit6rio de avaliac.ao do sono REM * '. Tres ele'trodos sao colocados no queixo (figura 2), sendo o terceiro utilizado como reserva, caso haja qualquer falha em um dos outros dois, o que possibilita um registro de boa qualidade. O registro do EMG de outros grupos musculares i utilizado para a avaliacao de certos distiirbios de sono. Por exemplo, o EMG do musculo tibial anterior € importante na avalia$ao de individuos com movimentos peri6dicos do sono. O EMG intercostal pode ser usado como monitor do esforc,o respirat6rio. Para monitoriza5ao de bruxismo colocam-se eldtrodos sobre o mass^ter. Os ele'trodos para EMG sao fixados utilizando-se fita adesiva, esparadrapo ou colddio eldstico. Eletrocardiograma (ECG) Outra variaVel normalmente monitorizada durante o registro polissonogr<ifico 6 o ECG . Os el^trodos sao colocados diretamente sobre o t6rax do paciente, podendo-se utilizar el^trodos especfficos para esse tipo de registro ou, ainda, ele'trodos comuns fixados por fita adesiva, esparadrapo ou col6dio eleistico. Outras Varidveis Fisiol6gicas Para avaliacao de distiirbios respirat6rios durante o sono, sao utilizados sensores denomihados termistores para registro do fluxo a^reo. Estes sao capazes de detectar as variances na temperatura do ar por variac,ao da sua resistencia ele'trica. Alguns termistores combinam sensores capazes de determinar o fluxo adreo de ambas as fossas nasals e da boca, simultaneamente. Sao colocados imediatamente abaixo do nariz e fixados por fita adesiva ou esparadrapo. A distinc,ao entre apndias do tipo obstrutiva, central ou mista pode ser feita com a utilizagao de cintas para monitoriza^ao do esfor5O torScico e abdominal. Muitos Iaborat6rios utilizam, ainda, Eietrooculograma (EOG) Em polissonografia registram-se os movimentos oculares para detecc,ao dos movimentos rSpidos dos olhos que ocorrem durante o sono dessincronizado, sendo um indicador indispensaVel para sua identiftcac.ao. Ale'm disso, durante a transic.ao vigflia/sono, muitos indivfduos apresentam movimentos oculares lentos, os quais podem ser titeis na avaliac.ao do comecp do sono. 30 Brazilian Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology 1 (1) 23-32, 1995 As instrucpes para o paciente sao: a) "Feche os olhos". Nessa condigao pode-se, normalmente, observar o ritmo alfa no tragado da regiao occipital e, muitas vezes, da regiao central (figura 3). b) "Abra os olhos...sem mover a cabe^a, olhe para a direita...olhe para a esquerda...olhe para cima... olhe para baixo...pisque quatro vezes". Observar a defiexao das penas (fora-de-fase) do registro dos EOG em cada movimento (figura ele'trodos colocados sobre os miisculos responsaveis pela respirac,ao (intercostais, esternocleidomast6ideos), ap6s a devida preparacao da pele, para a avaliacao do esforcp respirat6rio ' '. Para se avaliar a severidade dos epis6dios de apne'ia, pcxie-se registrar o grau de saturagao de oxigfinio, por meio de instrumentos nao invasivos, para oximetria transcutanea. Esses aparelhos apresentam dispositivos que sao colocados sobre um dedo ou no lobo da orelha. Uma luz vermelha detecta o estado de oxigenac,ao das mole'culas de hemoglobina. Assim, pela comparacao da porcentagem de luz transmitida, € calculado um valor percentual da satura$ao de oxigenio. Dessa forma, a monitorizac,ao da saturacao de oxigfinio pode ser feita continuamente durante o registro polissonogrSfico. Como j4 foi mencionado, esse tipo de sinal € caracteristicamente lento, devendo-se utilizar umsistema DC de amplificac.ao para seu registro. 4). c) "Engula...tussa...relaxe". Este procedimento permite verificar o aumento da amplitude do registro do EMG e de artefatos musculares nos canals de EEG e EOG^figura 5). d) Os canais de EMG do musculo tibial anterior podem ser avaliados, pedindo para o paciente: "Levante o p£ esquerdo (direito)...relaxe...abaixe o p£ esquerdo (direito)...relaxe" (figura 6). e) Se a respiragao estiver sendo registrada, pedir: "inspire...expire...inspire novamente e segure a respira^ao...respire normalmente". Pode-se, entao, acertar a sensibilidade dos amplificadores de modo adequado e/ou acertar os movimentos abdominals e toracicos que normalmente ocorrem com relac.ao de fases bem definidas (figuras 7 e 8). Ap6s todos esses procedimentos, deve-se fazer uma ultima inspegao do paciente, desejar-lhe boa noite, apagar a luz.e fechar a porta. Nesse momento tern infcio o registro polissonogra'fico. O te'cnico deve, entao, ficar atento ao tragado, zelando pela sua boa qualidade e anotando todos os fatos relevantes que ocorram durante a noite. Preparacao do Paciente Na tentativa de aliviar o desconforto causado pelos fios durante o registro do sono, pode-se amarrS-los na parte posterior da cabec.3, como um "rabo de cavalo". Essa estrate"gia permite que o paciente tenha os movimentos mais livres durante a noite. A colocagao dos ele'trodos nao deve ser feita no quarto onde o paciente ir£ dormir. Assim, ap6s todos os ele'trodos serem colocados, deve-se acomodar o paciente na cama. Antes, por6m, deve-se perguntar se o paciente deseja ir ao banheiro, tomar dgua, etc. Mostra-se o sistema de intercom.urucac.ao ao paciente, pedindo para que chame caso queira levantar-se ou tenha algum problema durante a noite. Deve-se explicar-lhe que serS submetido a algumas tarefas para verificar se os ele'trodos e sensores estao funcionando satisfatoriamente. Pede-se-lhe para que fique relaxado e que obedega as instrucoes. Esses procedimentos pertnitem ao t^cnico determinar os artefatos e problemas imediatos, que podem ser resolvidos antes do infcio do exame. Ale"m disso, permitem identificar o tragado "basal" do paciente, para comparac.ao com o registro durante a noite. Agradecimentos O autor agradece & Dra. Stella M&rcia A. Tavares, ao Dr. FlaVio Al6e, ao Dr. Francisco Jos6 C. Luccas, ao Prof. Cesar Timo laria e ao Leonardo Paiva, pelas valiosas sugestoes e criticas sobre o artigo. Referencias Bibliograficas 1. AGNEW, HJr.; W1LSE, B.; WILL1ANS, R. The First Night Effect - an EEG Study of Sleep. Psychophysiology, 1966, 2:263-266. 6. CARSKADON, M.A. Basics for Polygraphic Monitoring of Sleep. In GUILLEMINAULT, C. (ed). Sleeping and Walking Disorders: Indications and Techniques. Addison-Wesley Publishing Company, California, 1982,1-16. 2. 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