SUMÁRIO – RELATÓRIO WIND FORCE 12
“OS IMPACTOS DO AQUECIMENTO GLOBAL SÃO DE TAL MAGNITUDE QUE EU NÃO
HESITARIA EM CONSIDERÁ-LOS UMA ARMA DE DESTRUIÇÃO EM MASSA”.
Sir John Houghton, The Guardian, 28 de julho de 2003
SEGURANÇA GLOBAL A PARTIR DO VENTO
O grande desafio que enfrentamos hoje no setor energético é lidar com as ameaças
apresentadas pelas mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, atender a demanda
crescente de eletricidade e assegurar a segurança das fontes energéticas. A energia
eólica é uma das tecnologias mais eficazes disponíveis hoje para adoção em escala
global, com eficácia em magnitude suficiente para responder a esses problemas. Sua
instalação é muito mais rápida do que as demais opções. E esse é um fator crucial em
economias que apresentam rápido crescimento na demanda energética.
A energia eólica é um recurso importante e poderoso. Além de ser segura e limpa, é
abundante. Ao contrário das fontes energéticas convencionais, a eólica é uma
gigantesca fonte energética disponível permanentemente em praticamente todos os
países. Garante a segurança energética por não haver custos de aquisição de
combustíveis e nem riscos relacionados ao preço do combustível em longo prazo. Além
disso, está protegida contra os riscos econômicos e logísticos relacionados à
dependência de combustíveis importados e à dependência de outros países.
O relatório Wind Force 12 demonstra que não há barreiras técnicas ou econômicas
para o suprimento de 12% das necessidades globais de energia a partir de uma matriz
eólica até 2020 - isso levando em conta inclusive as projeções de um aumento de dois
terços na demanda por eletricidade até esse ano. Até 2020 será possível instalar 1250
GW de energia eólica. A indústria eólica de hoje tem o potencial de se tornar, até
2020, um empreendimento dinâmico e inovador, que movimentará 80 bilhões de euros
anualmente, ajudando a satisfazer as demandas globais por energia e a deslanchar
uma nova era de crescimento econômico, progresso tecnológico e proteção ambiental.
É um dos setores que mais crescem no segmento energético e oferece a melhor
oportunidade para iniciar a transição para uma economia global baseada em uma
matriz energética sustentável.
“ATRASAR A IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES EM UMA DÉCADA, OU ATÉ MESMO EM
POUCOS ANOS, NÃO É UMA OPÇÃO A SER LEVADA A SÉRIO”
Sir David King, Science, 9 de janeiro de 2004
PROGRESSOS NO SETOR
A tecnologia eólica percorreu uma longa trajetória desde os protótipos desenvolvidos
há apenas 25 anos. Duas décadas de avanços tecnológicos resultaram nas turbinas
que dispomos hoje, que representam o estado da arte da tecnologia moderna - são
modulares e de rápida instalação. Uma única turbina eólica pode produzir 200 vezes
mais energia do que o seu equivalente de duas décadas atrás.
Em 2004, mais de 8000 Megawatts de energia eólica eram gerados mundialmente. A
maquinaria das turbinas, que sozinhas representam 8 bilhões de euros, geraram
eletricidade suficiente para abastecer o equivalente a 19 milhões de moradias na
Europa. O setor eólico inclui algumas das maiores indústrias de energia no mundo. Ao
contrário das outras “soluções” para a geração de energia limpa e para a proteção
climática, a energia eólica não precisa ser inventada. Nem tampouco há necessidade
de uma “reviravolta científica”. A tecnologia já está disponível para implementação em
escala global. Fazendas eólicas modernas já estão sendo construídas para
fornecimento de energia em escala equivalente às usinas de fontes convencionais.
ABRINDO NOVOS MERCADOS
O sucesso da indústria eólica até o presente momento foi impulsionado pelos esforços
de poucos países, liderados por Alemanha, Espanha e Dinamarca. É evidente que se
outros países empenhassem os mesmos esforços, o impacto seria muito maior. No
entanto, novos atores, como os Estados Unidos (que poderão ser um dos maiores
mercados para a energia eólica em 2005) e a China, estão começando a entrar com
peso no mapa global da indústria eólica.
O fato de que três países sozinhos conseguiram gerar a maior parte do progresso no
setor eólico até o presente momento ressalta o fato de que a tecnologia que dispomos
hoje é apenas a ponta do iceberg, havendo um imenso potencial ainda a ser explorado.
A energia eólica poderá dar continuidade a essa história bem-sucedida ao longo das
próximas duas décadas se for criada uma conjuntura política e regulatória que remova
os obstáculos e as distorções do mercado que atualmente emperram o verdadeiro
potencial da indústria.
O relatório de 2005 foca em 13 países que poderão assumir um papel de liderança na
tentativa de por em prática a estratégia de mercado estabelecida nesse projeto. Esses
mercados se encontram em um estágio inicial - porém em ascensão - nesse processo e
fornecem algumas idéias sobre onde essa estratégia poderá ser implementada. São
eles Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Índia, Itália, Japão, Filipinas, Polônia,
Turquia, Inglaterra e Estados Unidos. A geração de energia em plataformas marítimas
foi incluída, pois representa um recurso internacional significativo.
“OS MINISTROS E REPRESENTANTES DE GOVERNOS REAFIRMAM SEU COMPROMISSO
DE AUMENTAR SUBSTANCIALMENTE, EM CARÁTER DE URGÊNCIA, A PARTICIPAÇÃO
DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS NA MATRIZ ENERGÉTICA GLOBAL. COMPARTILHAM A
VISÃO DE QUE AS ENERGIAS RENOVÁVEIS, ASSOCIADAS AO AUMENTO DA
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA, TORNAR-SE-ÃO A FONTE ENERGÉTICA MAIS IMPORTANTE E
DISPONÍVEL E OFERECERÃO NOVAS OPORTUNIDADES PARA COOPERAÇÃO ENTRE
TODOS”.
154 ministros e representantes de governos, Declaração da Conferência Internacional
para as Energias Renováveis, Bonn, Alemanha, junho de 2004.
AUMENTO DA DEMANDA ENERGÉTICA
A Agência Internacional de Energia estima que, seguindo os padrões atuais, se nada
for feito para reverter essa tendência, a demanda mundial por eletricidade poderá
dobrar entre 2002 e 2030, correspondendo a 60% de investimentos novos em
fornecimento energético nesse período. O setor energético precisará gerar, no mundo
todo, 4800GW a mais – sendo 2000 GW desse total no OECD - para atender ao
aumento da demanda e à substituição de uma infraestrutura antiquada, a um custo de
10 bilhões de euros para a geração, transmissão e distribuição de energia. Até 2030, o
setor energético poderá ser responsável por 45% das emissões globais de carbono. As
decisões sobre investimentos em energia tomadas hoje irão determinar o nível de
emissões de dióxido de carbono durante muitas décadas. O relatório Wind Force 12
mostra que caminhos alternativos são possíveis e que a instalação de usinas eólicas
em escala global até 2030 poderá gerar 2700GW.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
O governo da Inglaterra priorizou a questão das mudanças climáticas na sua gestão
este ano na presidência da União Européia e do G8. Tanto a Força Tarefa Internacional
contra as Mudanças Climáticas, convocada pelo primeiro ministro Tony Blair, quanto o
Conselho Europeu confirmaram que uma política climática responsável significa buscar
manter o aumento da temperatura média global em menos de 2°C. Para atingir esse
objetivo, são necessárias medidas urgentes para diminuir as emissões além do
estipulado pelo Protocolo de Kyoto para o período de 2008-2012.
Em janeiro, o relatório “Meeting the Climate Challenge - Recommendations of the
International Climate Change Task Force” apoiou muitas das recomendações do Wind
Force 12, como:
“Estabelecimento de um objetivo a longo prazo para prevenir o aumento da
temperatura média global em 2°C acima dos níveis pré-industriais”;
“Estabelecimento pelos governos do G8 de padrões nacionais de energias renováveis
para a geração de pelo menos 25% da eletricidade a partir de fontes renováveis até
2025, sendo necessárias metas mais altas para alguns países do G8”;
“Ação governamental para eliminação de barreiras e aumento dos investimentos em
energias renováveis e em tecnologias para eficiência energética, juntamente com a
eliminação dos subsídios para combustíveis fósseis”.
O papel central desempenhado por fontes renováveis como a energia eólica no
combate às mudanças climáticas é reconhecido. O relatório Action on Climate Change
Post 2012, da Comissão Européia, publicado em fevereiro deste ano, afirma que “as
energias renováveis deverão desempenhar um papel muito maior no futuro”. A
avaliação de 2004 sobre emissões de gases estufa na Europa feita pela Agência
Ambiental Européia concluiu que “a promoção de fontes renováveis terá o maior
impacto na redução das emissões na maioria dos estados membros da UE”.
“AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS AFETAM TODOS OS ASPECTOS DE NOSSA SOCIEDADE.
REPRESENTAM UMA AMEAÇA NÃO APENAS AO MEIO AMBIENTE, MAS TAMBÉM À
ECONOMIA E, EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, À NOSSA PRÓPRIA SEGURANÇA.”
Stavros Dimas, Comissário para o Meio Ambiente, 18 de abril de 2005
Atualmente, as usinas eólicas já instaladas na Europa eliminam a emissão de mais de
50 milhões de toneladas de CO2 por ano. Em termos de entrega de carbono, a energia
eólica supera muitas outras soluções propostas. A meta pouco ambiciosa da
Associação Européia para a Energia Eólica para 2010 de 75GW, que corresponde à
duplicação da capacidade instalada em seis anos, atenderia a um terço dos
compromissos da UE com o Protocolo de Kyoto.
Estimativas do Greenpeace mostram que, para manter viável a opção de permanecer
abaixo de um aumento da temperatura média global de 2°C, seria necessário reduzir
as emissões de países industrializados em até 30% até 2020. Embora isso pareça uma
meta difícil, nem se compara à tarefa de convencer e possibilitar que países com
economia em crescimento acelerado como a China e a Índia tomem as medidas
urgentes e necessárias para descarbonizar suas economias ao ponto em que poderão
discutir limites de emissões e, eventualmente, reduções. E o importante é fazer isso
sem sacrificar o crescimento econômico e o desenvolvimento que suas populações com
toda a razão exigem. Parte dessa tarefa será estabelecer mecanismos financeiros e de
transferência de tecnologia que permitirão que investimentos maciços nos seus setores
energéticos se dêem principalmente para o desenvolvimento das energias renováveis.
A energia eólica pode e deve desempenhar um papel importante nesse processo.
FORÇA GLOBAL
A energia eólica é um candidato de ponta como tecnologia capaz de diminuir as
emissões de carbono, ajudar a atender a demanda crescente de energia e assegurar
segurança energética. A energia eólica é uma das poucas tecnologias de geração de
energia que têm maturidade e força para atingir cortes importantes de emissões de
CO2 e, ao mesmo tempo, fornecer uma defesa contra as flutuações nos preços dos
combustíveis e reduzir a dependência das importações.
O Wind Force 12 apresenta uma estratégia prática de ações que os governos podem
implementar e demonstra o que é possível fazer com apenas uma das tecnologias
renováveis. A mensagem é clara: a energia eólica é uma tecnologia de escala global
que poderá satisfazer as necessidades de energia e de desenvolvimento da
humanidade sem destruir o planeta. Também irá desempenhar um papel crucial no
futuro do fornecimento de energias sustentáveis.
Corin Millais
Diretor Executivo
Associação Européia de Energia Eólica
Sven Teske
Diretor de Energias Renováveis
Greenpeace Internacional
Relatórios Nacionais – BRASIL
Entre os países da América do Sul, o Brasil emergiu como o mercado mais promissor
para o desenvolvimento da energia eólica. Como maior país do continente, atualmente
obtém 70% de sua energia de grandes usinas hidrelétricas. O restante provém de
usinas termelétricas (14%), nucleares (2%), pequenas renováveis - solar, biomassa e
pequenas hidrelétricas (5%) - e de importações (9%). Apenas 29 MW de capacidade
de produção eólica já foram instalados.
Essa situação está prestes a mudar com a introdução do Proinfa, programa
governamental que promove novas fontes renováveis de energia. Independentemente
das considerações ambientais, um fator importante que impulsionou o Proinfa foi a
crise energética enfrentada pelo Brasil após um período de chuvas escassas e
conseqüentemente um mau desempenho das grandes usinas hidrelétricas do País,
resultando em cortes de eletricidade. O objetivo do Proinfa é apoiar a instalação de
3300 MW de capacidade renovável até o final de 2006, uma das metas mais
ambiciosas do mundo. Espera-se que aproximadamente 1100 MW desse total venha de
biomassa, 1100 MW de pequenas hidrelétricas e 1100 MW de energia eólicas. O Centro
Brasileiro para Energia Eólica espera que sejam instalados até 1350 MW de capacidade
eólica até o final de 2006.
Em uma segunda etapa do Proinfa, o governo brasileiro estabeleceu uma meta de que
10% da eletricidade do País será proveniente de fontes renováveis (vento, biomassa e
pequenas hidrelétricas) até 2022. Isso poderá significar algo entre 100 e 200 MW de
capacidade eólica sendo instalados a cada ano.
SITUAÇÃO ATUAL
Até o outono de 2004, acordos para compra de energia já tinham sido assinados para
uma quantidade muito superior a 1000 MW de capacidade eólica. Dentre os projetos
propostos, 483 MW eram localizados no litoral da região Nordeste do País e 454 MW no
extremo Sul. Pelo Proinfa, produtores de energia eólica recebem um valor prêmio,
além de contratos de compra de energia com duração de 20 anos.
O preço acordado para a energia gerada nesses projetos é de 6,25 centavos de euro
por KWh, desde que o seu fator de capacidade seja inferior a 32,4%. Projetos
relacionados a energias renováveis também se beneficiam de taxas para empréstimos
atraentes para até 80% do custo total do investimento. Uma das regras aplicadas à
primeira fase do Proinfa é que 60% do investimento total deve ser em componentes e
serviços executados no Brasil.
Na segunda fase do Proinfa, a proporção de insumos domésticos deverá aumentar para
90%. O financiamento e a demanda de nacionalização dos componentes do maquinário
foram identificados como uma barreira inicial ao sucesso do programa. Uma grande
vantagem da energia eólica no Brasil é que sua produção tem fácil integração com a
grande capacidade hidrelétrica. Assim que os obstáculos iniciais sejam superados, a
energia eólica deverá se estabelecer como uma importante fonte de energia e
estimular o desenvolvimento de outros mercados na América Latina.
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Sir John Houghton, The Guardian, 28 de julho de 2003