APLICAÇÃO DA FLOTAÇÃO POR AR DISSOLVIDO PARA REMOÇÃO DE TURBIDEZ E DQO DE EFLUENTES DE UASB. Ronaldo Luís Kellner (PAIC/F.A), Carlos Magno de Sousa Vidal (Orientador – Dep. de Engenharia Ambiental/UNICENTRO). e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste, Setor de Ciências Agrárias e Ambientais, Departamento de Engenharia Ambiental, Irati - Paraná. Palavras-chave: esgoto sanitário, flotação por ar dissolvido, pós-tratamento. Resumo O objetivo do presente trabalho foi avaliar a aplicabilidade do processo de flotação por ar dissolvido para o tratamento de efluentes de reatores anaeróbios de manta de lodo. Para a realização dos ensaios, as amostras de efluente do UASB, foram testadas em reator de bancada flotatest em diferentes condições operacionais. A melhor condição operacional obtida nesta pesquisa foi para dosagem de 40 mg/l de FeCl3; velocidade de flotação de 24 cm/mim e tempo de mistura lenta de 7 minutos. As eficiências de remoção para esta configuração operacional foram: 95% de turbidez e 77% de DQO, o que comprovou a elevada eficiência de remoção de turbidez e DQO de efluente de UASB por sistema de flotação por ar dissovido. Introdução Os reatores anaeróbios do tipo UASB são detentores das seguintes vantagens: baixo custo de implantação e operação, pouco ou nenhum gasto de energia e ainda reduzida produção de lodo, sendo este estabilizado. Porém, o tratamento apenas com este reator não é completo, uma vez que a redução de material orgânico não supera 70%, não remove nutrientes com eficiência e é ineficaz na inativação de patogênicos. Aliado a isso, ainda necessita de remoção complementar de sólidos em suspensão. Fica assim clara a necessidade de um póstratamento visando a melhoria da qualidade do efluente final gerado nestes reatores. Uma das possibilidades de pós-tratamento deste efluente é por flotação por ar dissolvido. A flotação é uma operação unitária utilizada para separar partículas líquidas ou sólidas da fase líquida. A separação é obtida introduzindo-se bolhas finas de ar na fase líquida, provocando a ascensão de partículas para a superfície, mesmo as com maior densidade que o líquido (METCALF; EDDY, 1991). O presente trabalho tem como objetivo estudar o pós-tratamento de efluentes de UASB por flotação por ar dissolvido, mais especificamente para remoção de DQO e turbidez. Material e Métodos Este experimento foi realizado no Laboratório de Saneamento Ambiental e Anais da II SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 27 a 29 de setembro de 2011 - ISSN – 2236-7098 Qualidade da água, que pertence ao Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Campus de Irati, no estado do Paraná. A ETE Rio das Antas, da qual coletou-se o efluente do UASB para esta pesquisa, está localizada em Irati, PR, operada pela Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR), possui capacidade nominal total de tratamento de 80 L.s -1, atendendo 70% da população municipal. O Fluxograma da referida ETE é apresentado na figura 1 (MARCON, 2006). Figura 1 - Fluxograma da ETE Rio das Antas. Para os ensaios laboratoriais, foram coletadas amostras do efluente final do reator UASB. As coletas foram realizadas às oito horas da manhã, sendo recolhidos 60 litros de efluente e encaminhados ao laboratório. Na caracterização do efluente do UASB e na análise do flotado nas diferentes condições operacionais, os parâmetros utilizados neste trabalho foram turbidez e DQO. Os ensaios de flotação por ar dissolvido foram realizados em um equipamento em escala de bancada, denominado “flotatest”, de acordo com DI BERNARDO, DI BERNARDO e CENTURIONE FILHO (2002). Neste experimento foram testadas três dosagens de cloreto férrico: 20, 40 e 60 mg/L. Para cada dosagem em separado foram empregadas as seguintes condições operacionais: mistura rápida com gradiente médio de 500s -1 e tempo médio de 60 segundos; mistura lenta com gradiente médio de 40 s -1 e tempos médios de 7 e 14 minutos. Os tempos de coleta empregados foram de 20 e 40 segundos que resultaram nas velocidades de flotação de respectivamente de 12 e 24 cm/min. Foram mantidas fixas em todos os ensaios a recirculação de 10% e tempo de mistura rápida de 60 segundos e pressão de saturação de 5 bar. O tempo de pressurização da água na câmara de saturação foi de 15 minutos. Os métodos analíticos empregados para a realização das analises físicoquímicas foram de acordo com o STANDARD METHODS FOR THE EXAMINATION OF WATER AND WASTEWATER (APHA, 1998). Resultados e Discussão Antes do início do experimento, foi realizada a caracterização do efluente bruto do UASB, o qual apresentou turbidez de 17,2 uT e DQO de 81 mg/L. Os resultados obtidos através do processo de flotação são apresentados na Tabela 2. Tabela 2 – Valores de DQO e Turbidez obtidos nas amostras do flotado nas Anais da II SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 27 a 29 de setembro de 2011 - ISSN – 2236-7098 diferentes condições operacionais estudadas. Cloreto Férrico (mg/L) Tempo de mistura lenta (mim) 20 7 40 7 60 7 20 14 40 14 60 14 EFLUENTE DO UASB Velocidade de flotação (cm/min) 12 24 12 24 12 24 12 24 12 24 12 24 DQO (mg/L) 56 38 26 18 23 22 39 29 37 31 25 24 81 Turbidez (uT) 6.54 3.84 1.61 0.92 0.97 1.34 9.01 6.02 5.54 3.28 4.49 2.46 17,2 No que se refere a remoção de turbidez, a mesma foi elevada em todas configurações operacionais, evidenciando-se a elevada capacidade de remoção de partículas pela flotação, que resultaram em baixos valores residuais de turbidez ≤ a 9,01 uT. Todavia, verifica-se na Tabela 1 que a melhor eficiência de remoção de turbidez (95%) obtida foi para 40 mg/L de cloreto férrico, 7 minutos de mistura lenta e velocidade de flotação de 18 cm/mim, resultado em turbidez residual de 0,92 uT. A elevada eficiência de remoção da turbidez está relacionada com a conversão de colóides em partículas gerando flocos que foram eficientemente flotados. Na concentração de 60 mg/L, a formação do floco também foi eficiente, resultando em bons resultados de remoção de turbidez, porém a maior quantidade de coagulante neste caso não se justifica uma vez que implicaria em sistemas mais custosos. PENETRA et al. (1999), estudou a desempenho de uma unidade de flotação por ar dissolvido em escala de laboratório (flotatest) com a coagulação previa de efluente de reator anaeróbio tipo UASB. As dosagens de cloreto férrico variaram de 30 a 110 mg/L. Os melhores resultados verificados por PENETRA et al (1999) foram obtidos quando aplicado a dosagem de 65 mg/L de FeCl3. Nestas condições, as eficiências obtidas pela unidade de flotatest foram entre 96 e 97% para turbidez. As eficiências de 96 e 97% são muito próximas das obtidas pelo presente trabalho (95%), porém os estudos de PENETRA et al. (1999) utilizaram maior concentração de coagulante, ocasionando maior custo ao sistema. Com relação a remoção de DQO, a melhor configuração obtida foi a mesma para boa remoção de turbidez, culminando em eficiência de remoção de 77% e residual de 18 mg/L. Verifica-se na Tabela 1 que a adoção de menor velocidade de flotação sempre foi mais vantajosa para remoção de turbidez e DQO, uma vez que isto implica em Anais da II SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 27 a 29 de setembro de 2011 - ISSN – 2236-7098 maior tempo para ascensão de flocos resultando em flotados de melhor qualidade. Por sua vez, no que se refere ao tempo de mistura lenta com 14 minutos o desempenho em geral não foi superior a 7 minutos, o que em escala plena confere vantagens competitivas uma vez que para tempos menores os reatores resultaram em volumes também menores. Conforme estudos de ARIANO (2009), que estudou flotação com cloreto férrico na coagulação, a dosagem de 24,38 mg/L de coagulante resultou em 55.94% de remoção de DQO, o que é compativel com o presente trabalho, pois com concentração de 40 mg/L de coagulante, a remoção foi da ordem de 77%. PENETRA et al. (1999) também estudou a remoção de DQO. Em seus estudos, com 65 mg/L de FeCl3, a eficiêncida de remoção por ele obtida foi de 95 e 96%. Estes valores são superiores aos obtidos no presente trabalho (77%), o que nos indica que com uma maior concentração de coagulante oferece melhor remoção de DQO. Conclusões A partir das eficiências de remoção e concentrações residuais de DQO e turbidez obtidas foram obtidos bons resultados, concluindo-se que o processo de flotação por ar dissolvido foi muito eficiente na remoção de turbidez e DQO. Obtivemos também uma boa remoção dos parâmetros com utilização de pouca quantidade de coagulante e tempo de mistura lenta reduzido. A melhor configuração operacional foi para 40 mg/L de FeCl3, 7 minutos de mistura lenta e velocidade de flotação de 24 cm/min, resultando em concentrações residuais de turbidez de 0,92 uT e 18,0 mg/L de DQO, concentrações estas muito difíceis de serem obtidas em processos biológicos destinados ao pós-tratamento de efluentes de UASB. Referências: METCALF & EDDY, Inc. “Wastewater Engineering: Treatment, Disposal, Reuse”. McGraw-Hill International Editions, 3rd ed., New York, 1991. MARCON, L.R.C.; Desinfecção de esgoto sanitário com radiação ultravioleta: estudo realizado para a ETE Rio das Antas, Irati/PR. DI BERNARDO et al. Emprego de flotação por ar dissolvido para tratamento de despejos líquidos Industriais Provenientes de Laticínios. Revista DAE, São Paulo. CENTURIONE FILHO, P. L. (2002). Desenvolvimento e Operação de uma Instalação de Flotação de Bancada para Águas de Abastecimento. 313 p. Dissertação (Mestrado), Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, SP. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (APHA), Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. Washington: APHA / AWWA / WEF, 1998. Anais da II SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 27 a 29 de setembro de 2011 - ISSN – 2236-7098