1 GRUPO DE TRABALHO 5 TRABALHO: TRANSFORMAÇÕES, DESAFIOS E POSSIBILIDADES TRABALHO E EDUCAÇÃO: OS EFEITOS DE EDUCAÇÃO SOBRE O PROCESSO DE ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL ENTRE BRANCOS E NÃO - BRANCOS NO BRASIL. Alânia Magalhães 1 2 TRABALHO E EDUCAÇÃO: OS EFEITOS DE EDUCAÇÃO SOBRE O PROCESSO DE ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL ENTRE BRANCOS E NÃO - BRANCOS NO BRASIL. Alânia Magalhães* Resumo: É possível apontar educação como tema central no estudo das desigualdades, na medida em que desigualdade educacional ocasiona disparidades na estrutura ocupacional. Afinal, pesquisas demonstram que a má distribuição educacional reflete a má distribuição de renda no país. E como pode ser observado através de analises empíricas, o nível de escolaridade da população não - branca é relativamente baixo em comparação ao da população branca. Desta forma, esse artigo tem por objetivo realizar uma analise teórica sobre o papel da educação no processo de estratificação social entre brancos e não - brancos no Brasil. A pretensão é observar de que forma a literatura demonstra que educação age no processo de estratificação social. Para tanto, o fundamento teórico tem por base autores que vislumbram a singularidade da discriminação racial brasileira e seus efeitos sobre as desigualdades no acesso á educação e consequentemente sobre a mobilidade ocupacional. Em suma, o acesso à educação é considerado um dos principais fatores associados à mobilidade social ascendente dos indivíduos. Sendo assim, torna-se necessário perpassar por narrativas explicativas que avaliam sobre em que medida a desigualdade ocupacional é mediada sobre a disparidade educacional, isto é, pesquisas que demonstraram como educação condiciona o estabelecimento de posições na hierarquia ocupacional entre brancos e não - brancos. 1- Introdução: Os estudos recentes, acerca das relações raciais no Brasil, mostram que a população não - branca tem sido sistematicamente excluída da sociedade brasileira ao longo da história. Isto significa dizer que, apesar do Brasil ser visto como um país modelo de democracia racial, a literatura recente sobre as desigualdades raciais demonstra um continuo processo de exclusão dos não-brancos em diversas esferas. Nos termos de Carlos Hasenbalg, um “processo de acumulação de desvantagens” (HASENBALG, 1979). Para a melhor apreensão desta discussão, coloca-se como necessário a conceituação do termo raça adotada neste artigo. O conceito de “raça” aqui adotado é o de “raça social”, conforme explicitado por Antônio Sérgio Guimarães, ou seja, não se trata de um dado biológico, mas de “construtos sociais, formas de identidade baseadas numa idéia biológica errônea, mas eficaz socialmente, para construir, manter e reproduzir diferenças e privilégios” (1999, p. 153). Analiticamente, se não ocorre à existência de raças no sentido biológico, contudo pode-se afirmar a existência de raça na realidade social, como maneiras de classificar e orientar as ações humanas. 2 3 Nas palavras de Telles raça é uma construção social mutável através do tempo e entre os contextos sociais, sustentada por uma ideologia racial (apud Figueiredo Santos, 2005, p. 24). Seguindo essa perspectiva teórica, Edward Telles em seu trabalho “Racismo á brasileira: Uma nova perspectiva sociológica” (2003) enfatiza o quanto critérios “não-físicos” afetam as características raciais dos brasileiros, que devem ser avaliados não como fatos objetivos e inquestionáveis, mas como um sistema cambiante, sujeito à percepção social, na qual o status socioeconômico tem um peso considerável. Telles chama atenção para o fato de que, apesar da discriminação e desigualdade raciais dependerem da classificação racial feita por terceiros, isso raramente é considerado nas análises sociológicas. “Embora a sociologia moderna amplamente aceite a idéia de que o conceito de raça é construído socialmente e é portador de ambigüidades, raramente essa idéia é incorporada na análise sociológica.” (p. 113). Contudo, no propósito desse trabalho é importante o fato de que no contexto brasileiro a classificação racial se apóia tanto na aparência (características fenotípicas), na ascendência, quanto no status sócio-econômico da pessoa. Como destaca Nelson do Valle e Silva, “a identificação racial brasileira é, em certa medida, influenciada pela posição sócio-econômica tanto do informante quanto da pessoa que está sendo classificada” (1999, pág.111). No Brasil, de forma distinta da classificação norte americana - baseada exclusivamente em regras de descendência e por um sistema rígido e dicotômico - a classificação racial é fluida e variável, pois a combinação fenótipica com o status sócio-econômico pode “embranquecer” ou “escurecer” o indíviduo, isto é, negro rico pode ser considerado branco, e branco pobre pode ser considerado negro. Em termos de miscigenação, a mistura racial tende a embranquecer a população brasileira, ao contrário nos Estados Unidos a ascendência africana determina a negritude do individuo. Assim, a cor seria apenas um dos elementos de que se lança mão na construção social das relações raciais. E devido à complexidade do processo de classificação racial no Brasil é preciso atentar, para a situação social específica em que ele se desenrola e que lhe confere significado. A percepção social da cor e a escolha e/ou atribuição de categorias de cor é uma operação complexa que envolve não apenas uma apreensão de características fenotípicas, aqui imbuídas de valor e carregadas de significado, mas em que as categorias compõem um sistema e esta operação se processa num contexto de interação social. Como destacado por Figueiredo Santos, no Brasil a transformação de cor em uma marca de status envolve processos sutis e carregados de ambigüidades. (2005, pág.25). 3 4 Seguindo essa linha teórica Santos aponta que a realidade das relações raciais brasileiras apresenta distinções entre relações horizontais e verticais. As relações raciais de cunho horizontal são demonstradas na sociabilidade inter - raciais, enquanto as de cunho vertical podem ser observadas na constante desigualdade entre as raças. O autor ao definir diferenças entre os Estados Unidos e Brasil afirma que a desigualdade racial é maior no Brasil, porém a segregação racial é menor, contrariamente nos Estados Unidos ocorre o processo inverso, uma menor desigualdade e maior segregação. (2005, pág. 27). Ao falar de desigualdades racias em termos de educação, nota-se que o nível de escolaridade da população brasileira é relativamente baixo. Segundo estudo realizado por Henriques sobre a escolaridade média da população adulta em 1999, observa-se que o diferencial entre brancos e negros é de 2,3 anos de estudo. Essa situação se agrava ainda mais quando observamos o acesso ao nível superior, principalmente no que se refere aos não brancos. O diploma universitário é privilégio de 6,8% da população com mais de 25 anos; desses, 82,8% são brancos, 12,2% pardos, 2,1% pretos, e 2,9%, outros (F. Escócia, 03/12/2003). Segundo os dados do Censo Demográfico de 2000, a população auto declarada negra no Brasil é de 46%, dos quais 5,6% são pretos e 40,4%. Além disso, é visto que a desigualdade mais significativa entre os grupos de „cor‟/‟raça‟ no que tange a educação é no nível superior de ensino. Pesquisas comprovam que “ao avançarmos nos níveis de escolaridade formal da população adulta, as posições relativas entre brancos e negros são crescentemente punitivas em direção aos negros” (Henriques, 2001). Hoje, os negros correspondem a apenas 2% do contingente de universitários, apesar de representarem 46% dos brasileiros. Nesta discussão é possível observar que a variável raça ou cor, pode influenciar nas oportunidades que o indivíduo terá ao longo do ciclo de vida. Tais oportunidades relacionadas a ingresso no mercado de trabalho, desempenho educacional, acesso ao ensino superior, entre outras. Nos termos de Charles Tilly podemos falar em desigualdade categórica “formas de benefício desigual em que conjuntos inteiros de pessoas, de um lado e de outro da fronteira, não recebem o mesmo tratamento.” (Tilly, 2005). Nestes termos, discriminação pode ser avaliada como algo que está enraizado na estrutura social do país, uma reação racional ao conflito de grupos na disputa por recursos sociais e econômicos escassos. Em particular no que tange o objetivo deste artigo, a teoria sociológica tem demonstrado o papel da educação para a reprodução das desigualdades entre brancos e nãobrancos. Considerando esse fato, o presente texto pretende perpassar brevemente sobre os 4 5 estudos acerca da questão racial e educação. O objetivo é a partir da analise desses estudos, refletir sobre as desigualdades educacionais de brancos e não - brancos no Brasil e sobre os seus efeitos sobre o processo de estratificação social entre brancos e não – brancos. 2- Teorias sobre as relações raciais no Brasil: Para a melhor compreensão do tema proposto, inicialmente é necessário rever algumas teorias que tratam da questão racial no país. Isto é, se faz necessário visitar teorias sociológicas que procuram explicar o conceito de raça tanto pela perspectiva teórica representada pelo mito da democracia racial, como pelas teorias que postulam a desconstrução desse mito. É possível observar já em finais do século XIX trabalhos descritos como “estudo de negros”. Autores como Nina Rodrigues, João Batista Lacerda, Silvio Romero, entre outros se destacam nesse período. Esses pesquisadores trouxeram influencia para as atuais interpretações sobre a convivência racial no Brasil. Mas, suas teorias representavam o evolucionismo social, sob esse influxo o biológico era adotado no período como modelo epistemológico cientificamente legítimo de explicação da realidade social, configurando, assim, a idéia de hierarquia natural entre raças superiores e inferiores. Assim, pode-se dizer que raça aparece como uma forma de explicar a hierarquia social, o negro é percebido como inferior ao branco. Partindo dessa premissa, a miscigenação levaria à esterilidade biológica, cultural e além disso, a inviabilidade do país frente a qualquer esforço de civilização. No entanto, por volta dos anos de 1930, a miscigenação passa a ser um dos aspectos importantes na construção da identidade nacional. Esse fato se deve em grande parte a publicação de Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre em (1933). Segundo Telles, “Freyre expressou, popularizou e desenvolveu por completo a idéia da democracia racial que dominou o pensamento sobre raça dos anos 30 até o começo dos anos 90” (2003, p.50). A obra colocava o conceito de miscigenação como uma característica da nação brasileira, um símbolo cultural. Surgia assim, uma nova ideologia da nação. Nesse sentido, o estudo de Freyre serviu para promover a unidade nacional. As idéias de Freyre sobre fusão racial e cultural ajudaram a transformar a cultura brasileira e promover a unidade nacional e a brasilidade. (TELLES, 2003, p. 54). A noção de que o Brasil seria um país de democracia racial passa a ser difundida pelos Estados Unidos e pela Europa. 5 6 Além dos trabalhos de Freyre, datam desse período estudos de pesquisadores como: Donald Pierson, Charles Wagley, dentre outras. Lilia Schwarcz sustenta que esses pesquisadores destacaram o branqueamento nacional, assim como o caráter benigno das relações raciais que se estabeleciam no país. (1999, p. 278). Entretanto apesar das demonstrações de convivência racial, ainda era evidente as profundas desigualdades entre brancos e negros. Em busca da compreensão da especificidade das relações raciais no Brasil, foram mobilizadas diversas pesquisas sobre essa temática. Florestan Fernandes nomeado principal pesquisador brasileiro do projeto da Unesco, em suas conclusões contestou o mito de democracia racial. Edward Telles expõe que Fernandes concluiu o racismo como algo difundido na sociedade brasileira, apesar de culpar os próprios negros pelos efeitos da escravidão, dada a sua inabilidade em competir com os brancos no recém - industrializado mercado de trabalho. (2003, pág. 59) A tese de Fernandes atribui uma nova perspectiva teórica para as relações raciais, uma perspectiva embasada no tema da modernização do país. Fernandes considera que com o avanço das relações capitalistas e modernização da sociedade, as desigualdades raciais, tenderiam a desaparecer. A partir dos estudos desse autor, surgiu uma ampla discussão de classes sociais no Brasil. Dessa maneira, a ideologia de democracia racial, foi sendo desconstruída. Mas o argumento de Florestan Fernandes, em que as relações raciais são, em última análise, relações de classe, onde o avanço das relações capitalistas criaria incorporação do conflito de raça sobre o de classe, foi revisto por uma nova série de pesquisas entre os anos 80 e 90. Nos termos de Lilia Schwarcz, retomando as teses de Fernandes, uma nova série de pesquisas quantitativas investiu na analise das diferenças entre brancos e não - brancos racializando novamente a questão. (1999, pág.287). Esses estudos sociológicos preconizam a tese de que a desigualdade racial não está exclusivamente atrelada a desigualdades econômicas e sociais. Nesta perspectiva teórica, estão presentes estudos de Carlos Hasenbalg, Nelson do Valle e Silva, Edward Telles, Antônio Sérgio Guimarães, dentre outros. Tais autores observam a singularidade da discriminação racial brasileira enfocando seus efeitos sobre as desigualdades no acesso à educação, se preocupam em estabelecer em suas teorias o elo entre discriminação e desigualdades raciais. Ao estabelecer diferenças entre grupos de cor, classes sociais e posições sociais, como é destacado por Schwarcz esses critérios levaram os pesquisadores, a ampliar estudos de 6 7 distribuição de renda, do acesso à educação e ao emprego, como a reintroduzir a categoria raça como variável explicativa. (1999, pág. 293). No que tange a sociologia internacional sobre Raça, a questão racial no Brasil recebeu destaque a partir de pesquisas de sociólogos como Pierre Bourdieu e Herbert Gans. Segundo Telles, apesar desses autores possuírem o objetivo comum de avaliar as relações raciais brasileiras em comparação com a questão racial dos Estados Unidos suas respectivas interpretações do Brasil são opostas ( 2003, pág. 23-24) . Bourdieu e Loic Wacquant (1999) sugerem que as recentes publicações lidando com raça, desigualdade racial, e mobilização racial no Brasil representam a transposição de um problema estrangeiro (dos EUA) para uma sociedade em que a noção de "raça" não faz sentido. Ao contrário Herbert Gans encontrou em sua pesquisa semelhanças entre as relações raciais do Brasil e dos Estados Unidos. Em geral, Bourdieu e Wacquant foram influenciados pelas teorias que defendiam o mito de democracia racial, enquanto Gans toma como base trabalhos que argumentam ser a discriminação racial estrutural e persistente. Em suma, cabe destacar que o mito de democracia racial aparece ancorado na cultura da sociedade brasileira. Embora esse mito tenha perdido sua oficialidade cíentifica, essa crença continua arraigada e internalizada no pensamento de muitos brasileiros. Na realidade, o Brasil é um país onde coexiste mestiçagem de um lado e de outro um racismo invísivel e uma profunda desigualdade entre raças. 3- Pesquisas sobre desigualdades raciais na Educação: No campo das desigualdades educacionais entre brancos e não - brancos no Brasil é possível destacar inúmeras pesquisas que comprovem as diferenças no desempenho escolar entre alunos discriminados por raça nos distintos níveis de ensino. Fúlvia Rosemberg (1998), através de analise dos dados da PNAD, mostra que além da diferença na realização educacional os alunos negros freqüentam sempre escolas de pior qualidade. Rosemberg aponta que a expansão do sistema de ensino utilizou critério discriminatório, e que a produção da desigualdade inicia-se na educação infantil, com desigualdades de custeio, de nível educacional dos profissionais, de condições gerais de atendimento. Para a autora, classes de educação infantil de baixo investimento governamental foram utilizadas como alternativas para crianças pobres e negras, e as políticas de expansão da educação infantil imprimiram, contraditoriamente, um componente de discriminação racial. 7 8 Além disso, Rosemberg demonstra que a comparação do desempenho escolar de crianças negras e brancas, com o mesmo nível de renda familiar e de participação no mercado de trabalho, aponta o atraso escolar significativamente maior dos negros, o que leva à conclusão de que o sistema de ensino discrimina a população negra. (Rosemberg, 1998). Em pesquisa sobre discriminação educacional Henriques (2001) ao considerar os indivíduos com 25 anos, em todo o período analisado, comprova a existência de uma diferença média de 2,3 anos de estudo dos brancos em relação aos não-brancos. Segundo o autor essa disparidade não é pequena se considerarmos o fato da escolaridade média do brasileiro adulto ser de 6 anos. (2001, pág. 26) Nesse estudo é possível observar que ao longo do século XX ocorre uma estabilização das gerações no que tange a disparidade entre brancos e não brancos no aspecto educacional. Afinal, a escolaridade média de ambas as raças cresce ao longo do século, mas o diferencial nos anos de escolaridade entre brancos e negros, mantém-se absolutamente estável entre as gerações. Através de dados estatísticos, o autor apresenta o fato de que durante o período 1992 e 1999, houve um progresso nos indicadores tanto de jovens negros e brancos. Destacando aspectos referentes ao acesso à escola expresso na redução do número de jovens que não freqüentam o ambiente escolar, a queda na quantidade de jovens de 8 a 14 anos que não completaram a primeira série do ensino fundamental. Entretanto, ao ser analisado separadamente o desempenho de jovens brancos e negros, ao longo do período, é relatado uma crescente heterogeneidade entre as raças. Na realidade, os negros possuem melhoria exatamente nos grupos em que ocorre o melhor desempenho para a média do país. Em geral, os dados dessa pesquisa demonstram que os jovens brancos obtiveram uma melhoria relativa mais intensa do que os negros entre os grupos de 11 a 17 anos que não completaram a quarta série do ensino fundamental, de 15 a 21 anos que não completaram a oitava série do ensino fundamental, e de 18 a 23 anos que não completaram o ensino secundário. Mesmo, sendo indicado certa evolução na década de 90 e uma melhoria em todos os indicadores é nítido que em todos os anos da série e para todos os segmentos,os jovens negros apresentam, níveis de desempenho inferiores aos jovens brancos. Os níveis de freqüência à escola e de analfabetismo, por exemplo, são piores entre os jovens negros do que entre os jovens brancos. Henriques verifica que, ao longo dos anos 90, apesar de haver uma melhoria contínua de todos os indicadores gerais de escolarização, os brancos, em qualquer recorte que se faça, 8 9 alcançam sempre níveis superiores de realização educacional na comparação com os negros, principalmente nos níveis mais avançados do ensino formal. Na mesma perspectiva, Hasenbalg e Silva (2000) ao examinarem a evolução das desigualdades educacionais e as mudanças nos determinantes extra-escolares do desempenho escolar no ensino fundamental, visando separar a contribuição das melhorias no sistema educacional stricto sensu daquelas atribuíveis às melhorias das condições sociais da clientela escolar, verificam a ocorrência de grande divergência entre brancos e não-brancos em termos de média de anos de estudo. Demonstram que nos últimos anos o Brasil tem se aproximado da universalização do acesso ao ensino fundamental, e que são inegáveis as melhorias educacionais conseguidas nas últimas décadas, como diminuição na taxa de analfabetismo, aumento de matriculas nos vários níveis de ensino, principalmente no ensino fundamental. No entanto, é revelado que as melhorias quantitativas do sistema educacional não foram acompanhadas pela eliminação dos problemas do fluxo escolar, qualidade do ensino, repetência e evasão escolar. Utilizando dados das PNADs de 1976, 1986 e 1998, os autores no intuito de descrever o nível educacional das pessoas de 15 anos ou mais de idade e a evolução das desigualdades educacionais entre grupos de cor, gênero, regiões e de renda per capita familiar no período 1976-1998, acabam por comprovar que a expansão educacional das últimas duas décadas elevou o nível de instrução da população e diminuiu a desigualdade educacional entre regiões, grupos de cor, gênero e estratos de renda. Mas, essa realidade se deve a fatores como mudança nas condições de vida e distribuição geográfica das famílias, decorrente da urbanização e da transição demográfica, além de melhorias efetivas no desempenho do sistema educacional. Na verdade, a diminuição das desigualdades educacionais não garantiu aumento e melhor distribuição nos níveis de renda. Sobre a disparidade educacional entre raças é relatada uma discriminação racial persistente, que reflete a desigualdade de desempenho de brancos e não - brancos nos diversos níveis de escolarização, sendo a desigualdade de acesso ao ensino superior a mais acentuada. Os autores descrevem que em 1976 a escolaridade média da população branca era quase dois anos maior que a do grupo não-branco apresentando 4,53 e 2,67 anos de estudo, respectivamente. Ao longo do período considerado, se constata em 1998 um aumento dessa diferença para 2,12. 9 10 Os dados apresentam uma ligeira convergência educacional entre brancos e nãobrancos ao longo do período analisado, pois a média de escolaridade dos não-brancos, que representava 59% da dos brancos em 1976, passa a ser de 69% em 1998. No entanto, é destacado que as diferenças educacionais dos grupos de cor não serão eliminadas até que ocorra uma igualação das oportunidades de acesso de brancos e não-brancos aos níveis de ensino mais elevados. Afinal, em 1998, a proporção de jovens de 15 a 19 anos de idade que cursavam o ensino médio era de 34,9% para brancos e 19,2% entre os não-brancos. Em relação ao nível superior a desigualdade é bem mais gritante. Sendo que no grupo de 20 a 24 anos de idade as proporções dos que cursavam ensino superior eram 2,4% entre os nãobrancos e 12,2% entre os brancos (2000, pág. 6). A partir dessa constatação cabe destacar o paradoxo da educação brasileira, como observa Guimarães os negros mais pobres não tem acesso à universidade e grande parte dos jovens negros que não freqüentam colégios de elite, têm que pagar por seus estudos universitários. (2002, pág. 68.) Assim, é perceptível a grande influencia do sistema educacional brasileiro na reprodução das desigualdades raciais. Os negros que em sua maioria possuem baixo poder aquisitivo estudam em escolas do setor público de baixa qualidade, como demonstrado em pesquisas anteriores tendem a evasão escolar, consequentemente a grande maioria da população não branca nem chega a disputar as vagas no ensino superior. Como pontua Costa Soares em dissertação sobre Ações afirmativas e Acesso ao Ensino Superior, as vagas nas universidades públicas de ensino gratuito se destinam para a elite branca, aos negros restam às vagas oferecidas no mercado pelas faculdades particulares, nem sempre de boa qualidade e de custo elevado para a população não-branca. Nesse contexto, a estrutura educacional no Brasil tende a construir não apenas desigualdades educacionais entre raças, mas incentiva o circulo das desvantagens raciais. (2007, pág. 44). Nestes termos, podemos observar o peso de diversos fatores no desempenho educacional dos não-brancos, fatores como origem familiar, recursos econômicos, dentre outros. Sobre o peso da origem familiar é possível utilizar como referência pesquisas como de Coleman, que destacam o papel da família para determinar o sucesso do estudante. O foco principal da pesquisa de Coleman foi a verificação se as escolas que atendiam aos diferentes grupos sociais e étnicos eram equivalentes. Nesse estudo ocorreu uma ampla analise sobre a associação do desempenho escolar com o fator raça ou cor. Os dados dessa pesquisa comprovaram que a origem social determina sistematicamente o desempenho escolar dos alunos. Além disso, alunos não-brancos apresentavam desempenho escolar inferior aos brancos dentro dos mesmos estratos sociais. Nessa perspectiva teórica, a escola não consegue 10 11 por si só assegurar a igualdade de aprendizado entre os estudantes, isto significa que para esse autor a principal causa do baixo desempenho escolar estaria no background dos alunos. Podemos realizar uma analogia entre esses argumentos e as teses de Bourdieu, autor que sustenta as teorias de capital social e cultural ao analisar os fatores que promovem desigualdades raciais na educação. Bourdieu também baseado em dados de pesquisas empíricas de avaliação educacional postula a idéia de que o sistema escolar seria um dos mais eficientes mecanismos de conservação social. Para este autor capital cultural é um mecanismo de classe que transfere vantagens de uma geração para outra. É preciso salientar que essa tese possui extrema influência na analise dos diversos destinos educacionais de brancos e não brancos e são pontos de partida para estudos acerca da estratificação social. Em geral, a partir da analise de estudos diversos sobre as acentuadas desigualdades raciais na educação cabe salientar que em todos os níveis de ensino as desigualdades são significativas, e aumentam exponencialmente nos níveis de ensino mais elevados. Os resultados das pesquisas aqui descritas apontam grande desvantagem da população negra em relação à branca. É visto a ocorrência de um progresso tanto nos anos de estudo da população brasileira, quanto nas taxas de analfabetismo, porém fica em destaque o fato que as disparidades educacionais entre brancos e não - brancos se mantiveram. Afinal ocorreu uma diminuição dos índices totais, mas as diferenças entre os grupos de cor se mantêm. 4- Desigualdades Raciais na Educação e suas implicações sobre o processo de estratificação social: É possível dizer que os estudos sobre as relações raciais no Brasil dentro da perspectiva das desigualdades sociais e econômicas sofreram um grande avanço nas últimas décadas, com a produção de trabalhos com foco no tema da estratificação social relacionada à variável raça ou cor. Através destes trabalhos que se baseiam principalmente nos dados obtidos junto à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), é demonstrado a ocorrência de constantes desigualdades na realização educacional entre brancos e não brancos. Consequentemente, é nítido a proposição de que as desigualdades educacionais podem afetar em diferentes domínios outro campo da vida do grupo em desvantagem. Como a teoria sociológica tem demonstrado, a educação possui importante papel para a reprodução das desigualdades entre brancos e não-brancos. Assim, o propósito aqui é além de refletir sobre as desigualdades educacionais de brancos e não - brancos no Brasil, apontar a contribuição de educação nesta área da 11 12 desigualdade, reforçando a afirmação de sociólogos de que o gap educacional provoca a manutenção de desigualdades raciais, ou seja, a carência educacional dos não brancos reproduz mais desigualdades, como: no mercado de trabalho, nas condições de vida (moradia, saúde, e etc.). Isto significa dizer que as desigualdades raciais na educação afetam as recompensas que negros iriam obter ao alcançar mais escolaridade. Nesta medida, pode-se afirmar que a desigualdade educacional possivelmente ocasiona disparidades na estrutura ocupacional. Pesquisas demonstram que a distribuição educacional reflete à má distribuição de renda no país. Em pesquisa acerca das desigualdades raciais no Brasil, o autor Ricardo Henriques postula que as diferenças de escolaridade da população adulta brasileira refletem grande parte da desigualdade de renda do país. Destaca que os estudos sobre desigualdade racial no mercado de trabalho concedem importância significativa ao papel da educação. Dessa forma, a analise dos níveis e da qualidade do sistema educacional brasileiro, possibilitam uma compreensão das formas de solucionar as desigualdades raciais tanto em aspectos educacionais quanto econômicos (2001, pág. 26). Sendo educação considerada pela literatura recente como fator que desempenha extrema influência no processo de realização sócio-econômica e de mobilidade ocupacional dos indivíduos, cabe destaque para as teorias que estudam a educação e que realizam conexão entre este domínio e o campo do trabalho. Pode-se assim, destacar a teoria da meritocracia e a teoria do credencial. Nos termos de Costa Soares, a teoria da meritocracia defende que os empregados agem racionalmente selecionando pela qualificação educacional, já os estudantes, agem racionalmente investindo em seu próprio capital humano. No Brasil, a teoria da meritocracia tende a reforçar mais as desigualdades raciais na educação, pois os negros não se lançam na competição em condições iguais, como os brancos para acessar boas colocações no mercado de trabalho. Essa teoria imputa aos negros a responsabilidade por seus insucessos, a localização inferior se deve a falta de mérito. Consequentemente ocorrem mais desvantagens e desigualdades (2007 págs. 46-47). Já para a teoria credencialista os participantes do mercado de trabalho usam os recursos educacionais para acesso a melhores ocupações e altas rendas. A diferença entre as duas teorias é que para os credencialistas ocupar as melhores posições não significa maior mérito, nem tampouco os menos escolarizados são considerados menos dignos. (Bills 2004, apud Costa Soares, 2007, pág. 48) 12 13 Assim, para competir pelas melhores colocações no mercado de trabalho, a educação representa um fator que condiciona que os não-brancos se posicionem em colocações de menor remuneração e prestigio dentro do mercado de trabalho. Os não-brancos que ocupam a base da pirâmide educacional possuem desvantagens consideráveis, pois o diploma universitário pode ser considerado uma credencial chave para o acesso a melhores empregos. Valle e Silva (1999, pág.199) em trabalho sobre diferenças raciais de rendimentos, apresenta dados que revelam que as vantagens dos brancos se referem a melhor ocupação e mobilidade, e que esse fato seria o núcleo do fenômeno de discriminação no mercado de trabalho. O autor descreve significativas diferenças raciais de rendimento e postula os processos pelos quais essas diferenças são geradas. A esses processos Valle Silva denomina discriminação ocupacional e discriminação salarial. O primeiro se refere a casos em que não brancos independentes da qualificação assumem cargos que pagam menos, ou são impedidos de assumir cargos que pagam mais. No segundo tipo de discriminação, os não - brancos recebem menos embora ocupem os mesmos cargos e possuam a mesma qualificação. Na tentativa de decompor discriminação racial no mercado de trabalho em discriminação ocupacional e salarial, Valle Silva observa que a realização ocupacional é condicionada expressivamente pela escolaridade dos indivíduos. Todavia, essas diferenças de escolaridade podem sofrer alterações de outros fatores como recursos familiares. As conclusões desse estudo comprovam como dito anteriormente as múltiplas desvantagens que sofrem a população não-branca. Demonstram acima de tudo que esse grupo não converte escolaridade em melhor remuneração e possuem menores possibilidades de carreira e mobilidade. (1999, pág. 208). Também sobre educação e mobilidade ocupacional, é possível analise de trabalho de Carlos Hasenbalg e Nelson do Valle e Silva. Nesta pesquisa os autores propõem uma discussão sobre o papel da variável “raça” ou cor no processo de estratificação da sociedade brasileira. Enfatizam ser a discriminação racial instrumento que desqualifica determinados grupos sociais no processo de competição por benefícios simbólicos e materiais. (1999, pág. 217) Concomitantemente, postulam a ocorrência de um continuo processo de vantagens para o grupo branco em relação aos grupos não-brancos na disputa por benefícios. Nesta perspectiva, preconceito racial é fator decisivo nas disparidades entre os grupos de cor no processo de mobilidade social, na medida em que está interligado a competição por posições na estrutura social. 13 14 Na análise desse trabalho Carlos Hasenbalg e Nelson do Valle e Silva utilizam os dados sobre mobilidade da PNAD de 1996. Adotam para tanto no que se refere aos estratos ocupacionais a mesma metodologia proposta por Pastore e seguem a tradição dominante nos estudos de mobilidade social no brasileira , detento a amostra apenas a homens entre 20 e 64 anos. Os resultados comprovam o fato de que brancos têm uma vantagem significativa em termos de mobilidade ocupacional ascendente; entre os brancos (52,5%) aparecem em grupos ocupacionais mais elevados que a geração anterior, contrariamente entre os não-brancos pardos e pretos isso ocorre respectivamente com 43,9% e 45,5%. Além disso, os dados acerca de imobilidade revelam que quase 10% dos não-brancos permanecem no mesmo status dos pais. (1999, pág. 223). Em geral, os dados revelam que em todos os grupos ocupacionais tomados como referência a distribuição ocupacional atual dos não-brancos está mais concentrada nos estratos inferiores, e que não - brancos possuem menores chances de ascensão, além de ocorrer maior possibilidade de descendência na mobilidade ocupacional. Assim, os autores examinam a forma como a escolaridade adquirida reflete o posicionamento dos indivíduos na hierarquia ocupacional. Fica claro através da análise desses estudos, o fato das diferenças socioeconômicas entre brancos e não - brancos expressarem o contínuo processo de desvantagens que sofre a população não - branca. Em geral, a literatura sociológica sobre desigualdades raciais demonstra o significativo papel de educação no processo de estratificação social. 5- Conclusão: Este artigo teve por objetivo perpassar por pesquisas que descrevem desigualdades raciais na educação nos distintos níveis de ensino em uma tentativa de compreensão das causas de tais desigualdades e dos efeitos de escolaridade para o acesso à posições na estrutura ocupacional. De um modo geral, a analise de tais pesquisas permite observar distintas explicações para a desvantagem da população negra e parda nos indicadores educacionais e sociais. É possível dizer que de um lado aparece o argumento de autores que definem que as relações raciais são relações de classe. Essa perspectiva teórica postula que com o avanço das relações capitalistas de produção e a modernização da sociedade, não só as desigualdades raciais, como também o preconceito, tenderiam a desaparecer, com incorporação do conflito de raças no conflito de classes. 14 15 Tal argumento foi defendido por autores como Florestan Fernandes, nesta tese as relações racias são subestimadas pelo conflito social e a questão econômica. Isto significa que nesta explicação a desvantagem educacional dos não-brancos é um mero resultado das condições econômicas desse grupo. Distintamente, é possível destacar autores que defendem raça como fator explicativo das chances de vida dos indivíduos. Essa tese se baseia na idéia de persistência da discriminação racial no Brasil, apesar dos avanços das relações capitalistas, do crescimento econômico e da modernização da sociedade. Esse tipo de interpretação da realidade racial brasileira encontra-se presente em trabalhos de autores como Carlos Hasenbalg e Nelson do Valle e Silva. Esses autores através de análise de dados das PNADS demonstram empiricamente o fenômeno da disparidade de realizações educacionais e de mobilidade ocupacional entre brancos e não-brancos. Em diversos aspectos essas pesquisas comprovam as limitadas oportunidades educacionais que os não - brancos possuem em relação à população branca, mesmo em casos em que esses grupos se encontrem na mesma origem social. Nesta linha teórica, raça aparece como elemento relacional sustentado por interesses simbólicos e materiais a qual a população branca é dominante. Nestes termos, esses autores defendem a existência de uma discriminação racial na sociedade brasileira onde as distintas oportunidades educacionais seriam solucionadas por políticas públicas que incluíssem a parcela da população não branca. É possível destacar que os estudos de avaliação educacional acerca do desempenho entre brancos e não brancos receberam grande impulso e inovação a partir da implementação de resultados de pesquisa de natureza quantitativa. Estes estudos empíricos se interessavam em compreender as desigualdades de desempenho considerando fatores socioeconômicos, culturais, geográficos e as conseqüências destes fatores para o processo de estratificação social. Atualmente a crescente universalização do ensino e a expansão do ensino superior tornam cada vez mais evidentes as desigualdades educacionais entre raças. Afinal, no Brasil, investimento no nível superior de ensino só favoreceu aos brancos. É possível perceber o paradoxo da educação brasileira, onde negros que em sua maioria estudaram em escolas publicas tendem a evasão e nem chegam a disputar as vagas no ensino superior. Já os brancos que estudaram em escolas particulares tomam as vagas nos melhores cursos do ensino superior gratuito. Esse paradoxo, representa a desvantagem dos não-brancos em relação a 15 16 população branca no que tange a competição por benefícios simbólicos e materiais. Afinal, anos a mais de escolaridade possuem efeitos no mercado de trabalho. Em suma, é observado que em relação à discriminação educacional as pesquisas aqui descritas partem dos resultados desiguais entre negros e brancos. No entanto, o foco importante para a compreensão das causas dessas desigualdades educacionais, é perceber a quais fatores estão associadas, isto é, se são provenientes da discriminação racial ou de outros fatores como origem social. É importante observar que a desigualdade em determinado nível não é devida de um único fator em isolado, pois todos os fatores possuem influência na produção, reprodução e acumulação das desigualdades. Assim, o status ocupacional de um indivíduo não é apenas uma função de escolaridade, o efeito de educação não é único, somado a divisões sociais como raça, pode ser mais perverso. 16 17 Referências Bibliográficas: FERNANDES, F. A Integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1965. FIGUEIREDO SANTOS, José Alcides. (2005 a), “Efeitos de Classe na Desigualdade Racial no Brasil”. Dados – Revista de Ciências Sociais, vol. 48, nº. 1. GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Raça e os estudos de relações raciais no Brasil. Novos Estudos Cebrap. São Paulo, n. 54, p.147-156, jul. 1999. _______________________________ Classes, Raças e Democracia. São Paulo, Editora 34,2002. ___________________________ Acesso de Negros às Universidades Públicas. Temas em Debate, Ação Afirmativa, Cadernos de Pesquisa, n.118, p.247-268, março/2003. HASENBALG, C. A. (1979). Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro, Graal. 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