PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PE LA LE ID E D IR EI TO AVM FACULDADE INTEGRADA AU TO R AL UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES QUALIDADE DE VIDA E A SAÚDE DO TRABALHADOR DE COZINHA DE D O C U M EN TO PR O TE G ID O RESTAURANTE Rio de Janeiro 2015 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA QUALIDADE DE VIDA E A SAÚDE DO TRABALHADOR DE COZINHA DE RESTAURANTE Tereza Cristina Magalhães Leite Rio de Janeiro 2015 3 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA QUALIDADE DE VIDA E A SAÚDE DO TRABALHADOR DE COZINHA DE RESTAURANTE Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão De Recursos Humanos. Por: Tereza Cristina Magalhães Leite Rio de Janeiro 2015 4 AGRADECIMENTOS Agradeço ао amor da minha vida Fábio, companheiro incansável, qυе dе forma especial mе dеυ força е coragem! Agradeço também à minha mãe Maria, meu irmão Paulo, meus filhos Gabriela, Rafael e Erick por tanto amor e incentivo. Agradecimento especial: Pedro Figueiredo, pessoa notável e extraordinária. Obrigada pelas dicas, pelo apoio e pelo carinho. Vocês foram momentos de fundamentais incerteza. obrigada e obrigada. nos Obrigada, 5 DEDICATÓRIA Essa conquista é dedicada ao homem da minha vida Fábio, obrigada pelo amor, compreensão, companheirismo e por estar sempre ao meu lado me incentivando a ir adiante. 6 “O que faz de qualquer número de pérolas um colar, é o fio invisível que as une todas numa certa ordem.” Dom Helder Câmara 7 RESUMO O presente trabalho busca analisar a qualidade de vida e de saúde do profissional que trabalha em cozinha de restaurante, uma vez que qualquer estabelecimento desse segmento necessita preocupar-se com a saúde dos funcionários que trabalham diretamente na cozinha, com a maneira de impedir o acontecimento de acidentes de trabalho e, também, com ações preventivas que minimizem gastos. A observância da questão relacionada à saúde do profissional da cozinha é importante em virtude de problemas corriqueiros em todo estabelecimento da área, como, por exemplo, condições inadequadas de trabalho, equipamentos em péssimas condições de uso, uniformes fora de padrão e ocorrência de doenças por movimentos repetitivos. Nesse contexto, torna-se fundamental averiguar-se a adoção de práticas simples e de menor custo ao empreendedor que evitem e/ou reduzam acidentes de trabalho. Palavras-chave: Qualidade de vida. Profissional da cozinha. Condições de trabalho. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 - Qualidade de vida ................................................................................. 11 1.1 Conceito .................................................................................................................... 12 1.3 Autores e suas definições .......................................................................................... 15 1.4 História...................................................................................................................... 17 CAPÍTULO II - Qualidade de Vida ................................................................................ 20 2.1 No Restaurante .......................................................................................................... 20 2.2 Conceito .................................................................................................................... 25 2.3 Autores e suas definições .......................................................................................... 27 2.4 História...................................................................................................................... 29 CAPÍTULO III - Estudo Analítico de Casos Práticos Bistrô Arantes e Restaurante do Passo ............................................................................................................................... 31 3.1 O conceito do empreendedor sobre o sonho de ter um restaurante X a realidade do negócio gastronômico. .................................................................................................... 32 3.2 Escolha de fornecedor e compra de equipamentos de cozinha: quando o empreendedor não tem outra escolha senão a entrega ao consultor................................ 35 3.3 Seleção, contratação e treinamento da mão de obra de cozinha e salão, desenvolvimento, retenção e saúde do trabalhador. ........................................................ 36 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 43 9 INTRODUÇÃO Qual é a preocupação com a saúde dos funcionários da cozinha que um proprietário de restaurante deve ter? De que forma a saúde dos funcionários representam custo? Como evitar acidentes de trabalho? E como convencer o proprietário que ações preventivas minimizam gastos? Neste trabalho, pretende-se esclarecer estas e outras perguntas. É notório que a cozinha é o núcleo central de funcionamento de um restaurante. E os funcionários dela são os grandes executores do produto final deste tipo de negócio. Sendo assim, a saúde deles deixa de ser uma questão individual e pontual e deve passar a ser motivo de preocupação para o bom funcionamento do estabelecimento. Diversos autores e a experiência prática nos mostram que o trabalho no setor de alimentação tem como característica principal jornadas longas e exaustivas com trabalho intensivo por parte dos funcionários. Pesquisas recentes e estudos publicados mostram que condições inadequadas de trabalho, equipamentos quebrados ou inexistentes, acidentes por uso de uniforme inadequado, doenças por movimentos repetidos constam são fatores comuns e corriqueiros nas cozinhas de restaurantes comerciais. Ao longo deste trabalho, pretende-se, a partir de uma revisão bibliográfica associada ao estudo de dois casos práticos, esmiuçar como os acidentes de trabalho em cozinhas de restaurante podem ser reduzidos, a partir de práticas simples e com custo menor ao empregador do que o afastamento do funcionário. O primeiro capítulo trata de conceitos de qualidade de vida do trabalhador. É possível encontrar as definições de LIMONGI-FRANÇA (2007), Ana Cristina que trata do tema com a abordagem de sustentabilidade socioeconômica e de WALTON (1974) que se baseia em compensação justa e adequada; condições de trabalho, uso e desenvolvimento de capacidades, chances de crescimento e segurança, integração social da empresa, constitucionalismo, trabalho e espaço total de vida e relevância total da vida no trabalho. 10 No segundo capítulo, aplica-se o conceito de qualidade de vida ao trabalhador de restaurante, mais especificamente do funcionário cujo ambiente de trabalho é a cozinha. Encontraremos importantes definições nos autores: ASSUNÇÃO, A.A. que trata das relações saúde e trabalho, OLIVEIRA S.A. que aborda a qualidade de vida na saúde do trabalhador e VASCONCELOS, A. F. que descreve a qualidade de vida no trabalho sua origem, evolução e perspectivas. No terceiro capítulo, estão disponibilizados dois estudos de caso, representando dualidades possíveis na realidade estudada. Os restaurantes Bistrô Arantes e Restaurante do Passo (nomes fictícios) representam uma realidade positiva e negativa, respectivamente diante da perspectiva da preocupação com a saúde do trabalhador de cozinha. Discutem-se os aspectos positivos e negativos apresentados pelo empregador, bem como possíveis soluções e o contraste verificado nos resultados daquele estabelecimento em que houve boas práticas e no que não obteve o mesmo sucesso. Por fim, na conclusão, será possível encontrar uma discussão sobre os resultados obtidos e suas possibilidades de aplicações práticas no cotidiano de possíveis empregadores e funcionários do ramo gastronômico. Pretende-se contribuir para a bibliografia já existente com sugestões e modelos de práticas eficazes na cozinha do restaurante que reduzam significativamente o número de acidentes e contribuam também para diminuir os custos com afastamento e licença médica de funcionários e aumento da produtividade desses trabalhadores. 11 CAPÍTULO 1 - Qualidade de vida Podemos afirmar que a qualidade de vida é o termo utilizado para se referir às condições vitais do homem, estas condições dependem de diversas áreas envolvidas e referem-se tanto a questões físicas e mentais, quanto a questões de cunho psicológico e das emoções. Englobam ainda questões de cunho social, relacionadas à família e aos amigos, saúde e educação. Enfim, estes seriam os principais elementos que influenciam, afetando ou revigorando, a qualidade de vida e eles estão diretamente ligados a um negativo ou positivo padrão de vida. Conhecido e utilizado mundialmente, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é o responsável por medir comparativamente a qualidade de vida de determinado país. Este índice é considerado em inúmeras nações. De maneira condensada, é possível afirmar que tal índice faz uso de comparações que englobam o grau geral de alfabetização de determinado país, bem como considera o desenvolvimento da educação da nação avaliada, entre tantos outros. O IDH também considera a quantidade de riqueza presente, a quantidade em anos da esperança de vida média, grau de natalidade, como também diversos outros fatores sociais. Para que se possa garantir uma qualidade adequada de vida, torna-se necessário manter hábitos que sejam saudáveis, isso ainda se aplica a ter cuidado com o corpo, uma alimentação que seja equilibrada, mas também são muito importantes outros itens relacionados ao cotidiano, como relacionamentos que não sejam conturbados e sim saudáveis. O tempo empenhado para o lazer traz benefícios que contribuem para uma boa saúde. Enfim, são diversos hábitos que agem fortalecendo o indivíduo, possibilitandoo melhorias ao seu bem-estar. Por sua vez, esse bem-estar garante consequências positivas ao ser humano, como um bom humor e afasta-o cada vez mais do estresse excessivo e contínuo. Todos esses fatores permitem que o indivíduo tenha tempo para organizar e ter controle sobre sua vida como um todo, desta forma, ele poderá, cada vez mais, traçar objetivos positivos para o seu futuro. 12 1.1 Conceito Para início, é necessário estabelecer que padrão de vida é diferente de qualidade de vida, esta diferenciação é essencial para que comecemos a definir o que seria a qualidade de vida propriamente dita. Os estudiosos Campbell e Converse (1976) se empenharam em traçar dificuldades acerca da conceituação da terminologia qualidade de vida. Em sua obra, eles traziam a premissa de que ainda não havia definição estabelecida e clara sobre o que ela seria. Em sua obra eles afirmam que as primeiras concepções sobre a qualidade de vida datam de 1930, mas somente após uns 40 anos que elas passariam a ser instrumentalizadas e passíveis de serem analisadas com bases de dados mais concretas e bem definidas. Essa dificuldade de conceituação levou a revisões de literatura científica até os anos 1990 para que se pudessem enfim formar bases conceituais firmes sobre o que significaria, de fato, a qualidade de vida. Desta forma, torna-se possível afirmar que, atualmente, duas conceituações chaves são relacionadas, uma estaria direcionada a um conceito amplo, influenciada por estudos na área da sociologia. Sobre esta concepção, existe a análise do indivíduo sobre seu modo de vida, onde valores culturais, pessoais e expectativas seriam determinantes ao corpus analisado, nesse caso, os indivíduos avaliados para determinação da qualidade de vida. A outra conceituação maior estaria relacionada a aspectos vitais relacionados à qualidade da saúde. Neste conceito, as bases se fixariam mais em critérios de enfermidade (sintomas e limitações ocasionadas por ela), ou acompanhamento e até intervenção na saúde do cidadão. 1.2 Principais abordagens Algumas abordagens passaram a ser chaves no estudo da Qualidade de ida e merecem ser levadas a destaque nesse momento. No livro Qualidade de vida na promoção da saúde e reabilitação (tradução livre), Day e Jankey (1996) publicam um artigo que classifica alguns dos estudos que abordam a qualidade de vida, eles destacam quatro abordagens principais que seriam 13 determinantes: fatores econômicos, psicológicos, relacionados à biomedicina e aspectos gerais. Os fatores econômicos possuem estão relacionados aos estudos de meados dos anos 1960 nos Estados Unidos, nesse momento, a qualificação sobre a vida do cidadão fora movida por questões políticas, utilizado esse índice como plataforma para promoção de políticas públicas. Inicialmente, os indicadores da economia neste país foram um parâmetro de cunho primordial para que se pudesse realizar uma avaliação da qualidade de vida. Realizada a avaliação, em seguida seus estudos também consideraram os indicadores sociais como renda nacional bruta, saúde, entre outros. Ainda assim, alguns estudos consideram fatores externos da qualidade de vida, tal qual instrução, quantidade de renda e locais de moradia (DAY; JANKEY, 1996). Outra principal abordagem considera os fatores psicológicos para determinação deste índice, a vertente psicológica abstrai as reações subjetivas apresentadas por um indivíduo, que são itens que influenciam diretamente na vivência do ser humano. Neste sentido, elas consideram a qualidade de vida como um fator subjetivo às pessoas e desconsideram o contexto ambiental de seus indicativos (DAY;JANKEY, 1996). Conforme apontam Day e Jankey (1996), os estudiosos da modalidade psicológica afirmam que todos indicadores sociais estariam limitados, estes seriam fatores indiretos aos reais indicadores da qualidade de vida. Uma qualidade de vida bem definida deveria considerar uma análise entre o real atual a um padrão predeterminado, somente assim ela poderia ser comparada (MICHALOS; ZUMBO; HUBLEY, 2000). Sobre a terceira abordagem que destacaremos, traremos para discussão à determinação de qualidade de vida associada a significados na área médica. Nesse rol, a qualidade de vida estaria visceralmente atrelada às condições de saúde. 14 Esta abordagem resulta do alcance e preocupação da comunidade médica sobre o assunto. Ela afirma que os tratamentos médicos e intervencionais (cirúrgicos) podem reduzir a qualidade de vida. Entretanto, a longo prazo, eles são considerados um benefício direto ao ser humano. Desse modo, saúde de qualidade de vida possuem conceitos diferentes. Ambas estão estreitamente relacionadas e focam-se no bem-estar de seus pacientes e indivíduos. Considerando ainda a abordagem médica, as avaliações de cunho qualitativo foram utilizadas com o intuito de justificar ou negar tratamentos. Entretanto, essas mesmas avaliações apresentaram o já esperado, isto é, as características positivas da medicina para com o indivíduo e para a qualidade de vida dele (DAY & JANKEY , 1996). Dentre estas principais abordagens, destaca-se ainda um tipo que estabelece e compara a qualidade de vida avaliada à melhor qualidade existente no passado, estariam relacionados aos aspectos gerais que abordaremos agora. Alguns estudos científicos evidenciaram as contribuições da qualidade de vida tanto para o cidadão quanto para as populações. Os resultados são positivamente favoráveis à preocupação com este índice, tornando-o de essencial importância para um significativo desenvolvimento mundial. Desse modo, é possível destacar o caráter multidimensional que os indicadores da qualidade de vida oferecem ao considerá-la um modo organizacional complexo e dinâmico, essa afirmação é evidenciada por seus componentes e estão fortemente atreladas a minuciosos aspectos, podendo variar inclusive de indivíduo para indivíduo. Algumas características relacionadas às pessoas são determinantes, como valores pessoais, a inteligência, bem como interesses desses indivíduos. Além do mais, a qualidade de vida é o índice decisivo para que seja possível ter referências de uma boa saúde, ou seja, no local que houver boa qualidade de vida, provavelmente haverá pessoas saudáveis, como afirmam Renwick e Brown (1996). Eles ainda dão exemplos do que seria o significado da qualidade de vida em estudos anteriores ao deles. Seriam, a exemplo, a 15 capacidade de aproveitar a vida, a possibilidade de escolher o que fazer, enfim, estariam relacionadas ao controle que determinado indivíduo poderia ter sobre a própria vida. Em outro viés de abordagem sobre os aspectos gerais que seriam determinantes à qualidade de vida é o de autores como Minayo, Hartz e Buss (2000). Eles focam-se em citar o estudo dos parâmetros subjetivos que possibilitam uma boa qualidade vital. Nesse sentido, características emocionais seriam englobadas nesse rol, como o amor, o bem-estar, a felicidade, o prazer, como também a realização pessoal. Elas agiriam como determinantes no estudo. Destarte, primariam pela a realização satisfatória das necessidades básicas, bem como das necessidades referentes ao nível de desenvolvimento social e econômico da sociedade analisada. Os mesmos estudiosos (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000) ainda lançam outras abordagens com bases teóricas para discussão. Eles afirmam que a qualidade de vida possa ser relacionada a três pilares bases, esses seriam importantes pois abordam de diferentes vieses as concepções da qualidade vital. Seriam as referências históricas (que considera em sua análise o desenvolvimento da sociedade nos quesitos econômicos, sociais, bem como a tecnologia de uma sociedade em determinado recorte temporal), culturais (atrelada às diferenças entre os povos, como crenças, festividades, artes, literatura, entre outros) e de classes sociais (nesse estaria a qualidade de vida atrelada à condição de renda, poder aquisitivo e, consequentemente, ao bemestar dos mais bem posicionados nas camadas sociais). 1.3 Autores e suas definições Por seu um tema que abrange diversas áreas de estudo e, consequentemente, diferentes contextos de análise, a definição de qualidade de vida é um conceito difícil de ser estabelecido. Diversos autores buscaram classificar os estudos sobre o assunto abrangendo variadas vertentes diferentes. Entre os trabalhos desenvolvidos é necessário citar como os de Day e Jankey. 16 A grande representatividade de seus estudos está na proposta feita por Day e Jankey (1996) de classificar os estudos sobre a qualidade de vida separando-os em quatro formas de abordagens gerais, que acabaram por ser a base para o desenvolvimento das teorias de diversos outros autores. A primeira abordagem que propõem é a abordagem socioeconômica, tendo como principal elemento os indicadores sociais. Segundo os autores, o termo qualidade de vida se insere nesse contexto e começa a ser aplicado no âmbito social através do discurso político em época de campanha, onde era abordado o compromisso de garantir à população as estruturas sociais mínimas para que estes pudessem perseguir a felicidade. O uso constante deste conceito foi o maior incentivo ao desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, passando a se considerar os indicadores sociais como críticos para determinar o bem estar da nação. A segunda abordagem apresentada, a psicológica, considerava, por sua vez, a reação subjetiva dos indivíduos, sendo limitada por desconsiderar o contexto ambiental. Michalos (2000), no entanto, postulou que esta análise deveria ser feita por meio da comparação de um padrão e da vida atual do indivíduo. Em um segundo estudo acerca do tema, Day e Jankey (2006) afirmam que esta segunda abordagem é a combinação de seis outras dimensões e passam a em seus estudos considerar o objetivo-realização do indivíduo, o ideal real de vida que ele possui, as melhorias na qualidade de vida que pretende obter, as melhorias já conquistadas, as posses de um indivíduo em comparação a um grupo de referência, e a importância do esclarecimento do prazer de se ajustar ao ambiente em que o indivíduo está inserido. A terceira abordagem é a abordagem médica. Ela trata das condições de vida dos enfermos fazendo referência, na literatura médica, não só às condições de saúde, mas também às condições de funcionamento, como nos dia Minayo, Hartz e Buss (2000). Esta abordagem é complementada pelas teorias de Gill e Feinstein (1994), que dizem que os conceitos de qualidade de vida ligados à saúde e ao estado subjetivo se relacionam não só com as avaliações subjetivas do 17 paciente, mas também com o impacto que seu estado de saúde tem em sua forma de viver. Segundo Buss (2000), a saúde contribui diretamente para a qualidade de vida, considerando necessário, além de um serviço de assistência médica de qualidade, mas a qualidade da saúde em toda sua amplitude, requerendo a colaboração entre os setores do poder público, uma população mobilizada, e boas políticas públicas. A ultima abordagem proposta por Day e Jankey (1996) é a abordagem geral ou holística, que parte da premissa de que o conceito de qualidade de vida é multidimensional que difere de pessoa para pessoa. Além desta premissa, temos que a a qualidade de vida é um aspecto fundamental, como nos garante Renwick e Brown (1996), para se alcançar uma boa saúde, e não o contrário. Uma outra visão apresentada por Minayo, Hartz e Buss (2000), ainda dentro da abordagem geral, é a da qualidade de vida como representação social, abrangendo então parâmetros subjetivos como o bem-estar, a felicidade, o amor, o prazer e a realização social, associados com parâmetros mais objetivos referentes a necessidades básicas e outras criadas pelo modelo social e econômico vigente. As diversas análises existentes na literatura mostram o leque de interpretações possíveis para os paradigmas definidores do conceito de qualidade de vida. As diversas subjetividades que nos são apresentadas pelos autores apenas provam a dificuldade em se encontrar um conceito objetivo que consiga abarcar todos os aspectos da existência humana para a formação de um conceito que seja tido como o correto. 1.4 História A história do surgimento da ideia de qualidade de vida vem acompanhada de diversas tentativas de se tentar encontrar uma definição e conceituação apropriada para um termo usado nas diversas áreas de conhecimento, como dito anteriormente. 18 Em uma primeira tentativa de encontrar uma definição, é comum recorrer à etimologia do termo qualidade, buscando, através dele, esclarecer um pouco as características associadas a ele. O termo qualidade é derivado do termo em latim qualis, em seu significado encontramos a acepção que o define como o modo de ser característico de algo, de alguma coisa. Esta definição é ampliada por acrescentar que este algo pode ser tanto quando se considera característica de si, quanto quando se considera característica relacionada a outro grupo, assumindo tanto o lado positivo quanto o negativo dessa caracterização. Qualidade de vida é um termo que aparece pela primeira vez na década de 30 na literatura médica, em um levantamento de estudos que procuravam já buscar concretizar seu conceito e determinar suas influências na saúde dos pacientes. O primeiro registro de seu uso no âmbito social data de 1964, tendo sido utilizado no discurso do então presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, ao abordar os interesses das pessoas uma vida melhor, com mais qualidade. A dificuldade em encontrar uma definição foi também alvo de estudos na década de 70 e incentivou, como resultado dos estudos de Campbell (1976) sobre o assunto, em uma ênfase no estudo da controvérsia criada pelo termo principalmente no que dizia respeito ao trabalho empírico. Avançando um pouco na história, podemos ver que em períodos anteriores a 1995, começam a serem percebidas as lacunas e desafios teóricos e metodológicos que deveriam ser enfrentados para direcionar os esforços apresentados para definir e validar esta presença sem conceitos concretos da qualidade de vida na área da saúde. A partir deste momento a analises de trabalhos sobre o assunto começam a mostrar que um grande volume de estudos apresentava pelo menos um dos três focos: a tentativa de definir conceitualmente o termo, explicar a razão e justificativa da escolha de determinados instrumentos de avaliação ou a falta de clareza e de consistência nas explicações do significado 19 do termo e de sua mensuração. Este último é analisado principalmente nos trabalhos de Gill et al. (1994). Outro foco de análise que surge nos primeiros anos da década de 1990 é o de Farquhar (1995) que executa uma revisão da literatura e divide o tema em 4 tipos de definição segundo seu surgimento. No primeiro tipo encontramos as definições globais, que trata das primeiras definições apresentadas na literatura e que, em sua grande maioria, se concentram na satisfação ou insatisfação com a vida. Esse perfil teórico se estende até meados da década de 80. O segundo tipo, chamado de definição com base em componentes, tem seu surgimento nos anos 80 e se refere ao período em que tem início o fracionamento da teoria global. Tem diversos componentes e dimensões mais focados nos estudos empíricos e operacionais. No tipo seguinte temos a definição focalizada. Nesta definição, Farquhar (1995) não apresenta datas, mas específica a valorização de componentes voltados para habilidades funcionais e de saúde, aparecendo principalmente na literatura específica dessa área com ênfase em aspectos empíricos e operacionais. É o conjunto de trabalhos que acaba por desenvolver instrumentos diversificados para a avaliação da qualidade de vida em diferentes quadros clínicos. A última definição apresentada pelo autor, chamada de combinada, abarca as características dos tipos anteriores, principalmente da definição focalizada e com base de componentes. Mantém a característica dos aspectos empíricos e operacionais, mas, com base em diversas dimensões abrangidas, acaba por desenvolver também instrumentos de avaliação global e fatorial. Vemos então que a evolução histórica da conceituação da qualidade de vida foi uma coleção de novas bases de pesquisa que ainda não conseguiram garantir a determinação de um conceito específico para o termo. 20 CAPÍTULO II - Qualidade de Vida A qualidade de vida é uma concepção proeminentemente do homem. Tem sido assemelhada ao nível de contentamento na vida social, familiar, afetuosa e nos próprios princípios existenciais, podendo demonstrar o distanciamento entre perspectivas pessoais e a realidade. De uma forma em geral, a qualidade de vida refere-se ao rendimento que tem capacidade de atender as expectativas individuais e da sociedade, à autoestima; à constância entre o trabalho e o lazer. Ela é influenciada, ainda, por muitas razões, tais quais: remuneração, condição de trabalho, benefícios, etc. Na esfera da saúde, as questões relacionadas à qualidade de vida estão ligadas à concepção de melhoria da boa disposição física e metal. 2.1 No Restaurante Os primeiros pensamentos sobre a administração focalizavam, especialmente, questões como o que fazer, como dividir o trabalho e como elaborar ou adotar um manual de técnicas e procedimentos dentro de um determinado campo trabalhista. A qualidade de vida no trabalho dentro do contexto organizacional tem sido estudada sob diferentes abordagens no âmbito da saúde. Desta forma, considera-se relevante elucidar os fundamentos epistemológicos do estudo da saúde nas organizações Para Peçanha (2005), tal elucidação justifica-se pela necessidade de uso consciente e fundamentado de conceitos. Assim, procura-se evitar equívocos como o de conjugar conceitos e metodologias provenientes de paradigmas antagônicos sem a necessária fundamentação e justificativa. A teoria clássica de Taylor (1895) e Fayol (1916) envolvia um planejamento para prever, organizar, coordenar, comandar e controlar, em que se estabelecia a subordinação de um indivíduo a outro e de um serviço a outro, para que o sistema funcionasse. Passou a existir também, segundo Goulart (2002), a preocupação com os aspectos psicológicos e sociológicos, ou seja, o homem no trabalho e o grupo de trabalho. Essa teoria surge para determinar a necessidade de humanização e de democratização na administração de pessoal dentro de 21 empresas. O relacionamento do indivíduo com o chefe interfere na produtividade do trabalhador, e essa integração no grupo social torna-se muito importante para que o trabalho se realize segundo padrões de qualidade, eficiência e eficácia. A teoria das relações humanas passou a tratar, entre outros, de temas relativos a motivação humana, liderança, comunicação e dinâmica de grupo. Os conceitos clássicos de autoridade, hierarquia e racionalização do trabalho, por exemplo, passaram a ser contestados. Os estudos de Mayo (1927) foram planejados com o intuito de estabelecer a existência de alguma relação entre as condições de trabalho e a incidência de fadiga ou monotonia entre os empregados. Entretanto, provou-se que a atenção dada ao trabalhador conseguia influir na sua produtividade. Foi o passo inicial para que, por volta de 1950, se reiniciassem sérios estudos sobre o processo motivacional. O tema qualidade de vida no trabalho tem sido visto, devido à constante busca pela satisfação, como um meio de humanização do trabalho. Os programas desse setor visam modificar aspectos do ambiente ocupacional por meio de promoções e investimentos para os funcionários, tais como: perspectiva de crescimento; participação nas tomadas de decisão da empresa; opção de liberar a criatividade individual; e maior reconhecimento quando alcançado uma meta. Esses investimentos são promovidos para que os funcionários possam exercer com maior satisfação a contribuição que cada um tem a oferecer à organização. A determinação dessa qualidade de vida foi estudada por diversos autores nacionais e internacionais, e vários modelos foram propostos, na tentativa de avaliar a satisfação dos indivíduos em relação a seus trabalhos. Um dos mais utilizados é o modelo das dimensões básicas da tarefa, de Hackman e Oldham (1975), que delimita da tarefa e o contexto organizacional em que elas são realizadas, consideradas variáveis importantes da satisfação no trabalho. Um dos pontos que mais pecam, hoje em dia, é o desgaste do trabalhador e suas consequências. Aspectos presentes na sociedade moderna, como questões relacionadas às condições de trabalho, ao mercado 22 altamente competitivo, à ameaça iminente da perda de emprego e a outras dificuldades do dia a dia, fazem os trabalhadores vivenciarem cada vez mais situações estressantes no ambiente de trabalho. Como o stress tem várias causas e afeta muitas pessoas, de formas diferentes, não há um método simples e eficaz para preveni-lo ou combatê-lo. Existem apenas medidas que podem ser adotadas: enriquecimento de tarefas, tornando-as mais interessantes ao funcionário; mudanças no posto de trabalho; treinamento; práticas de ginásticas etc. Um dos principais motivos do surgimento desse stress é o capitalismo exacerbado e a tamanha necessidade que as pessoas sentem em fazer tudo rápido. Algumas empresas lidam de forma maquinal com seus funcionários e isso é muito prejudicial. Sennett (1999),faz uma reflexão sobre as consequências pessoais do trabalho no capitalismo. O comportamento humano está relacionado ao comportamento do mundo neocapitalista, em que as pessoas se perdem em virtudes estáveis como lealdade, confiança, comprometimento e ajuda mútua, fatores que fazem o sucesso do trabalhador. A opinião trazida pelo teórico traduz a essência da falta de consistência diante das relações sociais e de trabalho que tanto prejudicam muitas empresas. Uma vez que o trabalho pode ser visto como um fator de equilíbrio e de desenvolvimento para possibilitar a um indivíduo aliar o desejo de executar uma tarefa e esta ser prazerosa em si, independentemente de suas naturezas e das condições que o realiza, o stress no trabalho provém do temor quanto à falta de tempo ou de condições para concluir as tarefas a seu encargo, comenta França (2004). Albrecht (1988), explica que, para ocorrer um equilíbrio entre as necessidades individuais e organizacionais, algumas condições devem ser respeitadas. Essas condições caracterizam uma zona de conforto, que permite ao indivíduo desempenhar bem o seu trabalho e, assim, satisfazer as suas necessidades. Volume de trabalho, condições físicas, status, nível de controle, variedade de tarefas, relacionamento interpessoal e tarefas desafiantes são 23 algumas dessas condições que desempenham papel importante nessa zona de conforto. Com esse conceito geral de qualidade de vida no trabalho, podemos afunilar o assunto para o foco, que é a qualidade de vida em restaurantes. No geral, não deve haver qualquer tipo de diferença em ambientes de trabalho distintos em relação ao respeito, à confiança, ao profissionalismo etc, mas os setores possuem suas características próprias. A história da culinária se confunde com a história do homem. Com a descoberta do fogo, os alimentos passaram a ser mais bem digeridos, momento em que a cozinha ganha suas principais orientações sobre a preparação dos alimentos. Gradativamente, a descoberta de vários tipos de utensílios e ingredientes e o uso de especiarias usadas na cozinha fizeram surgir técnicas culinárias cada vez mais bem elaboradas, até chegar à cozinha comercial e industrial. No setor da alimentação, o contato do serviço com o cliente é o momento no qual as maiores interações entre ambos podem ser feitas; é onde os desejos e preferências são expostos de maneira mais explícita e reverberados de forma positiva ou negativa, definindo, em essência, a percepção mais forte do consumidor sobre o serviço realizado e a sua satisfação pessoal. É nesse ponto que o cliente define sua preferência pelos serviços, opina Schmenner (1995). No entanto, nota-se, de forma generalizada, que há um grande desafio em atingir e manter padrão de qualidade que os clientes desejam e esperam das empresas. Desta forma, muitas delas adotaram o modelo de administração de serviços com o seu antigo conceito, enquanto que outras estão procurando melhorar seu desempenho de maneira que se tornem mais eficazes no emprego de seus. O trabalho é um dos aspectos essenciais para a vida do ser humano, configurando, muitas vezes, a participação do indivíduo em meio à sociedade, tendo sua importância embasada na produção de riqueza. Comumente, as pessoas buscam trabalhar em uma área que possuem mais afinidade ou que a 24 prática profissional lhes forneça alguma satisfação, como verificado em alguns estudos no campo (Bom Sucesso, 2000; Mourão, Kilimnik e Fernandes, 2005). A temática "qualidade de vida no trabalho" (QVT) tem sido cada vez mais abordada, principalmente por conta da procura pela satisfação laboral como forma de humanização do trabalho. Os programas de QVT almejam transformar diversos fatores do ambiente de trabalho por meio de estímulos e investimentos para os funcionários, a saber: perspectiva de crescimento; envolvimento nas tomadas de decisão da organização; liberdade criativa; e maior reconhecimento e gratificação. Esses estímulos são provocados a fim de que os funcionários exerçam com maior satisfação pessoal o serviço prestado à empresa em que atuam (Honório, 1998; Paiva, 1999; Mourão, Kilimnik e Fernandes, 2005). Autores como Mourão, Kilimnik e Fernandes (2005) destacam que, embora existam diferentes perspectivas e abordagens teóricas acerca da QVT, a satisfação no trabalho é o principal fator benéfico à produção para as empresas. O conceito de QVT foi desenvolvido por diversos autores, tanto nacionais quanto internacionais, tendo sido apresentados diversos modelos, a fim de tentar avaliar a importância da satisfação pessoal do funcionário em relação a sua atuação profissional. Um dos mais famosos e utilizado modelo foi proposto por Hackman e Oldham (1975), o qual define as dimensões do trabalho e do contexto em que este é realizado, considerando as variáveis importantes para a satisfação do trabalho. Ainda existem outras variáveis estabelecidas como responsabilidades com as situações do funcionário no trabalho, interligadas em diversas camadas. Para além dos aspectos físicos das organizações, também os aspectos biológicos, sociológicos e psicológicos impactam na satisfação pessoal dos funcionários em relação à atividade desempenhada (Rodrigues, 1994; Honório, 1998; Limongi-França, 2004). Os aspectos físicos das empresas relacionadas à ergonomia, à disposição do espaço físico do trabalho em que há barulho excessivo, às atividades repetitivas e à má organização do layout, entre outros problemas, 25 causam tanto a ineficiência das atividades como uma maior disposição para contrair doenças decorrentes da atividade laboral. Em relação aos fatores biológicos, é cabível afirmar que cada pessoa possui características físicas herdadas ou adquiridas ao longo da vida, incluindo diversos aspectos tais como: metabolismo; resistências; e fragilidades dos órgãos ou dos sistemas. O aspecto sociológico se relaciona aos valores, às crenças, à participação familiar, à atividade laboral e aos grupos e comunidades nos quais cada indivíduo pertence e participa, bem como do meio ambiente e do ponto geográfico de sua dimensão social. Por sua vez, a condicionante psicológica está ligada aos processos afetivos, emocionais e racionais, tanto conscientes quanto inconscientes, os quais constituem a personalidade de cada pessoa (HONÓRIO, 1998; PAIVA, 1999; LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2007). Na ocasião em que esses aspectos entram em conflitam como as vontades e aspirações humanas, aparecem as doenças. O processo de desenvolvimento da doença, ao longo da história da humanidade, está associado a causas que vão desde fatores biológicos – tais como vírus, bactérias e fatores genéticos – a causas físicas, como frio, calor, poluição e intoxicações; a até mesmo psicológicas, relacionadas a emoções e conflitos, e as sociais, provindas do cenário socioeconômico e da organização do trabalho (MOLINA, 1996; TITTONI, 1997; LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2007). 2.2 Conceito De uns anos pra cá, a indústria de restaurantes desenvolveu uma reputação de condições de trabalho pobres e de cargas horárias pesadas. Diante disso, diversas companhias estão buscando filosofias administrativas cujo foco são as necessidades dos trabalhadores, uma vez que sua capacidade deve ser mais importante que o lucro e a produtividade. Se faz cada vez mais necessário assegurar a energia e o compromisso das pessoas com novas formas de trabalho e de comportamento incentivadas por um ambiente de trabalho mais excitante, recompensador e positivo. Há um interesse dentro do setor alimentício de estabelecer programas eficazes de retenção de empregados quanto de utilizar eficientemente seu 26 trabalho. Nesse sentido, as empresas que mantenham seus funcionários satisfeitos dentro do ambiente de trabalho, consequentemente terão clientes satisfeitos com seus produtos e com a qualidade do serviço. Um componente importante desta estratégia é o incentivo às pessoas para novos hábitos saudáveis, tornando-os capazes e muito bem dispostos a realizarem suas atividades diárias e ainda, ter reserva de energia para qualquer eventualidade. Um trabalho é suportável desde que se previna exageros e solicitações inadequadas, ou seja, adaptar o trabalho para o homem e não uma máquina. Cabe ao trabalhador preparar-se tecnicamente e buscar adequação física dentro de seus limites. À empresa, cabe adaptar em ritmo e intensidade às exigências humanas. Uma das principais críticas que as empresas alimentícias recebem é de que não respeitam exatamente isso, e fazem com que as pessoas trabalhem mais do que conseguem ou necessário, visando lucro. Com as constantes modificações dos padrões e graus de exigência do mercado consumidor e a luta pela competitividade e pela garantia de disponibilizar produtos e serviços aos clientes, a qualidade, a avaliação e a prática no uso de seus indicadores passam a assumir aspectos referenciais na concepção de estruturas que buscam identificar os meios para alcançar o sucesso necessário à sobrevivência do negócio. Neste aspecto, a quantificação de dados levantados no uso de indicadores poderá gerar uma série de informações importantes a ser utilizada na avaliação desses setores, empresas e instituições, com o objetivo de evitar a repetição de falhas detectadas, direcionando sua correção e, sendo, portanto, essencial ao planejamento e controle de processos produtivos em quaisquer níveis organizacionais. Conforme afirma Paladini (1997), os indicadores de qualidade são elementos operacionais no processo da qualidade. Expõe que são informações e dados colhidos a partir da rotina. Devem ser organizados de tal forma que permitam a visualização fácil e segura dos resultados da empresa, tais como vendas, lucros, produção, produtividade, desperdícios e outras perdas, pontualidade e absenteísmo, grau de satisfação dos colaboradores e clientes, nível de acidentes de trabalho, etc. 27 Baseando-se em pesquisas em vários restaurantes, inclusive universitários, chegaram a esses indicadores de qualidade: cardápio, condição de ambiente físico, preço e tempo de atendimento. Empresas exigem de seus funcionários rapidez no atendimento e na cozinha, para que esses itens sejam categorizados como ótimos e isso pode ocasionar uma pressão alarmante no funcionário eo foco é o cozinheiro. Com o passar dos tempos, um conceito estético da função do cozinheiro ganhou espaço na mídia. Junto com a psicologia e as ideias do marketing de atendimento ao cliente, a intenção de um bar ou restaurante é fazer com que as pessoas encontrem um momento de tranquilidade, de relaxamento, para se sentirem bem vindas e confortáveis. Com base nos ensinamentos de Neirink e Poullain (2001), independentemente do motivo (almoço, jantar ou uma festa) ou da denominação de uma cozinha (comida italiana, japonesa, mediterrânea), não resta dúvida que cozinhar leva, ao mesmo tempo, à reflexão e ao prazer. Cada experiência é única, cada visitante de um restaurante também o é, como se tudo fosse, a cada dia, a fosse a primeira vez. Nota-se, desse modo, que a primeira regra do cozinheiro é servir com humildade até ser conhecido pelo seu trabalho, dedicação e talento. A profissão exige dedicação total e grandes desafios, pois numa cozinha não há monotonia. Assimilar disciplina e os fundamentos clássicos para a criatividade pessoal torna a profissão muito bela, principalmente por permitir trabalhar com produtos de qualidade, conhecer pessoas interessantes, comer bem, ter sucesso e reconhecimento financeiro, segundo Suaudeau (2004). 2.3 Autores e suas definições Alguns estudiosos opinaram sobre trabalhadores em seus ambientes de trabalho no ramo alimentícios e vamos conhecer alguns. Para Suaudeau (2004), algumas regras de comportamento valem para todos os integrantes da equipe, sem exceção. Uma postura de liderança do chefe é primordial para saber passar e demonstrar que tem condições de executar aquilo que ordena aos outros para fazerem. A equipe precisa ser respeitada, sem jamais alguém se sentir menosprezado. Tais situações exigem 28 do chefe lembrar-se de que tudo tem seu limite. O lado paternalista, no Brasil, muitas vezes, é justificado por hábitos culturais, mas é preciso haver uma reeducação para evitar falhas. Para Atala e Dória (2008), ferramentas tecnológicas por si só não garantem qualquer resultado dentro de uma cozinha, por mais precisas que sejam. O estado de espírito do profissional conta muito para o sucesso de um prato. As tendências atuais na gastronomia valorizam a criatividade. Um chefe seria, portanto, aquele capaz de criar um novo conceito. Clientes e veículos de comunicação cobram e valorizam esse aspecto. Isso quer dizer que o chefe está ancorado numa cultura partilhada pela sociedade e, especialmente, pela comunidade dos profissionais de cozinha. É no interior dessa cultura especializada que sua criatividade é julgada. Neste contexto, o profissional de cozinha precisa ter um perfil adequado para a realização de todas as tarefas inerentes ao seu trabalho. O serviço de alimentação caracteriza-se por trabalho intensivo onde frequentemente é exigido muito do funcionário, como já foi citado no texto. Além disso o ambiente de trabalho não ajuda. Um cozinha com muito movimento e é pequena é prejudicial à saúde do indivíduo. Tais condições acabam levando à insatisfação, cansaços excessivos, queda de produtividade, problemas de saúde e até mesmo acidentes de trabalho. Dito isso, Santana (1997) apoia que a qualidade de trabalho no ambiente alimentício deve ser melhorada, e muito. Reichemback (2007) discute um pouco sobre os fast-food, restaurantes de, como o próprio nome já diz, comidas mais rápidas. Esse tipo de negócio tem uma fama populacional não muito boa, já que as refeições são ditas como não saudáveis e as cargas horárias geralmente são exorbitantes, porém é uma das redes que mais cresce no mundo. Ele diz que, nesse setor, cada funcionário fica em um determinado lugar, preso no ambiente, executando sempre a mesma tarefa, condicionados a um processamento rápido e repetitivo, à eficiência, à centralização e ao controle. Às vezes, as práticas de cunho taylorista, nestes restaurantes, podem ser encontradas encobertas por uma roupagem de outro modelo, denominado 29 toyotismo, assumindo, desta forma, características mais adequadas, às demandas do mercado e às novas formas de acumulação de capital. De todo modo, não consegue evitar as críticas e é um dos focos da teoria de melhoria na qualidade de trabalho em restaurantes. Muitas pesquisas dentro desse ambiente foram feitas e mostraram que muitos funcionários entrevistados diziam pontos positivos (amizade, convivência com pessoas novas) e, mas sua maioria eram pontos negativos (atitudes grosseiras de clientes, cobrança permanente e o fato de, às vezes, a empresa transmitir a ideia de que os procedimentos eram extremamente automatizados, fazendo quase que os funcionários se sentirem como robôs). Alguns pesquisadores, de maneira geral, dizem que atendentes acreditam que é indispensável muita disposição pro trabalho e o consideram cansativo, devido ao grande ritmo de trabalho e o fato de muitos gerentes o fazerem “correr”. Neste sentido, autores como Di Pietro (2008) e Pizam (2008) acreditam que as redes de fast-food são os ambientes com mais rotatividade de funcionários e isso os cansa drasticamente, principalmente em mercados que esse tipo de trabalho é grande, como nos Estados Unidos. Como já dito, a qualidade de vida dentro de restaurantes deve ser melhorada e tratada com mais respeito urgentemente em muitos desses e outros setores alimentícios que não respeitam seus funcionários. 2.4 História Em relação às variáveis demográficas e ocupacionais, pode-se concluir que a atividade proporcionando de novas cozinhar profissionalmente oportunidades de vem emprego aumentando no setor e de alimentação.Como uma opção de carreira, ser um profissional de cozinha vem atraindo indivíduos de todas as idades, que, diante de seus interesses e talentos para a gastronomia, iniciam cursos sobre culinária e se empregam em bares e restaurantes com o objetivo de chegarem a ser um chefe de cozinha. O trabalho do cozinheiro torna-se, dessa forma, não apenas um passatempo ou um hobby, mas, sobretudo, uma profissão digna de reconhecimento social, que demanda certos cursos, como de garçom, barman, 30 cozinha prática e de cozinha segmentada e etc. Neste contexto, o aprendizado de um cargo leva à questão da qualidade, imprescindível para a atividade. Sugere-se, então, a possibilidade de realizar mais estudos relacionados com a qualidade de vida com enfoque no caminho de um profissional que inicia sua carreira como ajudante de cozinha, passa a auxiliar de chefe de cozinha, até chegar a ser um chefe de cozinha, em que as questões poderiam ser assim contextualizadas. Com relação a organização do trabalho e a saúde do trabalhador, os métodos muito simples e altamente repetitivos, com ocorre nesse setor em específico, têm a desvantagem de exigir sempre a contração dos mesmos perfis e a utilização das mesmas posturas possibilitando, dessa forma, uma imensa sobrecarga física, cognitiva e psíquica em tais funcionários. Uma forma de prevenir e/ou diminuir essa fadiga e outros problemas que tenham relação com as tarefas que cozinheiros e afins executam, seria mesmo adotar o que algumas empresas já estão fazendo: incentivo às práticas de ginásticas, melhor tratamento psicológico no ambiente de trabalho e educação gerencial. Assim, entende-se que todas essas sugestões estão intrinsecamente relacionadas com a gestão de pessoas no sentido de proporcionar segurança e conforto no ambiente de trabalho. Melhorias nesse ambiente, segundo Santos (2008) desempenham um importante papel na prevenção do estresse no trabalho, fomentando saúde organizacional e bem-estar para todos os indivíduos. 31 32 CAPÍTULO III - Estudo Analítico de Casos Práticos Bistrô Arantes e Restaurante do Passo Os dados apresentados neste capítulo foram resultado de uma coleta quantitativa e qualitativa do trabalho empírico de duas consultorias feitas por mim em restaurantes abertos em dois bairros no Rio de Janeiro, capital. Para que seja possível comparar os dois universos, farei a breve descrição do perfil de cada estabelecimento. A descrição irá detalhar as diferenças na estruturação de cada restaurante, desde a sua concepção, passando pela montagem estrutural, equipagem e contratação de mão-de-obra até chegar a elaboração do cardápio e treinamento da equipe para a execução de toda operação. Ao final será possível perceber nitidamente como essas diferenças foram fundamentais para o sucesso de um e para o fracasso do outro empreendimento. O primeiro restaurante a ser analisado é o Bistrô Arantes, onde prestei um trabalho de consultoria desde a concepção do projeto. A peculiaridade desse objeto de estudo se encontra justamente no fato de como é fundamental uma visão especializada no primeiro passo para montar um restaurante. Outra facilidade de iniciar esse processo está no fato de não haver necessidade do trabalho de convencimento de mudanças de conceitos, processo e operação já estabelecida pelo dono do restaurante e seus funcionários. Esse exemplo ficará claro no segundo estudo de caso, o restaurante do Paço, onde todo o projeto foi feito com base no que já estava estabelecido numa operação anterior do restaurante que se encontrava deficitário. Localizado no bairro da Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, o Bistrô Arantes tinha 200 metros quadrados de salão, havia varandas, 80 lugares e estacionamento próprio para 50 carros. O horário de funcionamento: jantares de 19h às 2h. O quadro funcional de cozinha era constituído por quatro mulheres e cinco homens, com idade média de 33 anos. Já o segundo objeto de estudo deste trabalho, o restaurante do Passo, localizado no Centro da cidade do Rio de Janeiro, tinha 180 metros quadrados de salão, onde eram dispostos 60 lugares, e não possuía estacionamento 33 próprio. O horário de funcionamento para almoço de 11:30m às 15h e happy hour de 17h às 23h. O quadro funcional de cozinha era constituído por duas mulheres e quatro homens, com idade média de 30 anos. Para facilitar o entendimento dos conceitos delimitadores desses estudos de casos, destacarei a seguir três tópicos que ajudarão na melhor apresentação dos problemas, virtudes e características de cada empreendimento e como o meu trabalho de consultoria apontava as melhores práticas, levando em conta não só a legislação mas a boa gestão do bem estar das pessoas: 3.1 O conceito do empreendedor sobre o sonho de ter um restaurante X a realidade do negócio gastronômico. Independente do empreendedor, mas quando falamos de consultoria de restaurantes, lidamos com o sonho, o imaginário de quem está investindo. Não apenas no que tange uma perspectiva de faturamento, mas o restaurante como uma extensão da cozinha da casa do dono, como ele acha que receberia as pessoas para confraternizar em torno da boa comida. E esse é um dos obstáculos quando tratamos da realidade de montar um restaurante como negócio. O trabalho já inicia aí. Na tentativa de alinhar o pensamento com as possiblidades reais. A diferença vai estar no propósito de cada empreendedor e no grau de interferência dele no trabalho do consultor. No meu caso, quando o dono do Restaurante do Passo me contratou – na ocasião ele ainda comandava um restaurante com outro nome – o propósito era mudar o conceito, criar um novo cardápio e aumentar o faturamento tendo como base o caixa do empreendimento que ainda funcionava. A análise inicial e uma entrevista com o dono foram fundamentais para ter a noção do problema a ser enfrentado. A base da mudança era feita no que estava pronto, em conceitos equivocados do empreendimento anterior. Não só que dizia respeito ao espaço físico, como na disposição dos equipamentos, no desrespeito a legislação vigente, mas no bem estar dos funcionários, o coração de qualquer restaurante. 34 Depois, era preciso adequar a visão dos sonhos de cardápio do empreendedor a uma realidade racional de um conceito de tipo de comida, a base operacional da cozinha e possibilidades de uso da mão de obra, sempre respeitando a racionalidade de custos. Neste caso, não só ficar atento a desperdícios como elaborar um cardápio no qual o tíquete médio daquela região não ultrapasse a capacidade do cliente em poder consumir a comida vendida no Passo. No que diz respeito aos equipamentos, o cenário era o de reutilização do que já havia na cozinha. O trabalho de elaborar o cardápio deveria ser feito de forma inversa, segundo o que desejava o cliente, mesmo sendo apontada a dificuldade do pensamento inverso nesse tipo de trabalho. Quando falo do pensamento inverso é justamente conceber num novo conceito de gastronomia para o novo restaurante pensando nos equipamentos já disponíveis. No caso, o empreendedor havia acabado de fazer um investimento numa chapa para grelhados, mas não pensou em contratar mão de obra especializada, muito menos onde deveria instalar o equipamento: ele ficava posicionado na entrada da cozinha, um risco para os cozinheiros e auxiliares que trabalhavam naquele ambiente. A dificuldade seguia com relação à escolha do cardápio, bem como petiscos e pratos a serem servidos. As sugestões do proprietário quase sempre estavam relacionadas ao seu gosto pessoal, quando não aparecia a dica de algum “amigo” que havia experimentado algum tipo de comida “espetacular” em algum lugar da cidade. Esse sonho do cardápio infinito, o dos sonhos, sempre vai de encontro as boas práticas da elaboração de um conceito gastronômico para o empreendimento, obedecendo não só um tipo de culinária, mas como o treinamento ideal dos funcionários da cozinha, a operação da cozinha e do salão e, por fim, os custos de cada prato em seu valor real. Neste caso, foi impossível convencer o dono do empreendimento no alinhamento de todo o manual de boas práticas da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), conforme recomendado por uma nutricionista indicada 35 por mim. E as boas práticas não tratam apenas da questão higiênica, mas do ambiente de trabalho dos funcionários da cozinha. No restaurante do Passo, por exemplo, foi infrutífera a tentativa de mudar o piso da cozinha para o modelo antiderrapante, conforme manda a legislação. O funcionário era exposto a um ambiente de trabalho hostil, no que se refere ao espaço físico, correndo risco diário de sofrer um acidente. Péssimo para o chef e seus auxiliares, e também ruim para o próprio dono, que além de ficar exposto a multas de uma fiscalização, ter seu restaurante interditado, sofrer ações trabalhistas, fazendo com que tenha que arcar com um grande prejuízo que não é orçado quando decide abrir o negócio. O próprio uniforme até então utilizado não condizia com o que preconiza o Manual de Boas Práticas da Anvisa. Foi difícil fazer o dono entender a necessidade de investir na compra de uniformes que protegessem os funcionários da cozinha, que custava 25% mais caro. O trabalho no Bistrô Arantes foi o inverso. É o modelo ideal de como um restaurante deve ser pensado desde o ponto zero. Neste caso, todo o sonho do empreendedor era baseado no novo negócio. E toda estruturação privilegiou não só a boa gastronomia, como a visão de que funcionários bem treinados, com qualidade de vida laboral, impacta positivamente no que vai para a mesa do cliente e nos resultados operacionais do restaurante. No Bistrô Arantes foi possível implementar um ambiente na cozinha que privilegiasse a boa qualidade de vida dos funcionários: tudo feito dentro das normas, como a compra de utensílios certos, a arquitetura privilegiando a segurança na operação, equipamentos e uniformes. O cardápio obedecia o conceito do bistrô, com operação sustentável para o funcionário e intervalos durante o trabalho para descanso e exercícios físicos para evitar as lesões por esforço repetitivo. A facilidade encontrada no Bistrô Arantes, para implementar as melhores práticas laborais não foi a mesma no Passo. Lá, foi impossível estabelecer os intervalos para descanso e exercício. Apenas a troca de sapatos por modelos antiderrapantes foi possível. O piso era escorregadio e os funcionários quase sempre beiravam o acidente o que acarretaria em uma 36 licença médica. No Arantes, em todo período da consultoria não houve baixa por licença médica. 3.2 Escolha de fornecedor e compra de equipamentos de cozinha: quando o empreendedor não tem outra escolha senão a entrega ao consultor. Escolher o tipo de equipamento a ser utilizado na produção do restaurante do Passo não foi possível. Toda a concepção do novo cardápio foi baseada na chapa para grelhados que o proprietário já havia comprado. A condição colocada por ele no início da consultoria era justamente aproveitar o material existente. Nem mesmo o posicionamento dentro da cozinha – a chapa ficava na entrada – poderia ser mudado. Era o que ele não abria mão, pois considerava que havia montado a melhor disposição para a operação. Nem mesmo o meu alerta sobre os riscos para o bem estar físico dos funcionários fez com que ele mudasse de ideia. A solução foi convencê-lo a pelo menos contratar um especialista no manuseio da chapa. Outro ponto que causou problema foi na instalação de uma exaustão adequada para o ambiente. No restaurante do Passo havia instalado apenas uma coifa que não era suficiente para o ambiente. O resultado era um ambiente com muita fumaça e alta temperatura, pois não havia arcondicionado. Os funcionários sofriam com aquela exposição a um clima interno de altas temperaturas, totalmente inadequado. Era comum o afastamento de auxiliares e cozinheiros por problemas na garganta e resfriados. A licença médica era uma realidade que comprometia o bom andamento da linha de produção, impactando diretamente no resultado do negócio. Sem falar no que diz respeito ao outro tipo de clima: o dos funcionários, que não se sentiam valorizados ou dignos. A ideia de melhorar o ambiente com a instalação de equipamentos adequados não foi adiante. A única mudança, ou melhor, interferência que consegui na parte de equipamentos e utensílios foi a compra de material que faltava e tornava a linha de produção caótica. Para se ter uma ideia da dificuldade, uma simples 37 preparação que dependia apenas de bater clara em neve era feita na “mão” pela chef. Isso não seria problema se ela não tivesse que bater dezenas de claras em neve todos os dias, o que seria muito facilitado com uma simples batedeira. Ao final, consegui mostrar que aquele tipo de economia, causava um esforço repetitivo para a funcionária e poderia acabar chegando a um afastamento por causa médica com uma Lesão por Esforço Repetitivo (LER). A batedeira acabou sendo comprada para a alegria dos funcionários da cozinha. A realidade no Bistrô Arantes foi construída dentro das melhores práticas de cozinha, seja pelos equipamentos, ou pela valorização de um ambiente menos hostil e mais salubre para o funcionário. Sem falar no cuidado com o uniforme. Desde o início, cada detalhe e espaço foi pensado para que o ambiente fosse o ideal para os funcionários que suportariam várias horas em pé, produzindo e sendo responsáveis pela qualidade do que ia para a mesa do cliente. Consegui implantar ali uma qualidade de vida no ambiente do trabalho. Comecei pelo uniforme com tecido especial: só molhava após dois segundos de contato com o líquido. No caso de um acidente com água quente, daria mais tempo para tirar o uniforme evitando a queimadura. A exaustão era perfeita e evitava o ambiente esfumaçado. A temperatura da cozinha, então, era a ideal para qualquer tipo de preparação graças ao ar-condicionado. Tudo isso fazia com que o coração da cozinha, o chef de cozinha e os auxiliares, tivessem o melhor ambiente para produzir uma comida de alta qualidade. 3.3 Seleção, contratação e treinamento da mão de obra de cozinha e salão, desenvolvimento, retenção e saúde do trabalhador. Na escolha da mão de obra, o restaurante do Passo só teve que contratar mais duas pessoas. Toda equipe já estava formada e atuava junta na operação do restaurante que iria acabar semanas depois. O trabalho ali consistia mais em desenvolver uma nova operação dentro do cardápio, treinar a equipe dentro das melhores práticas e fazer com que eles começassem a aumentar a própria auto-estima. 38 Outro ganho dentro da operação do novo restaurante, que teria como principal estrela no cardápio o grelhado, foi contratar um chapeiro, pessoa especialista e focada na parte principal da preparação. Isso desafogava o trabalho da chef, e liberava os outros funcionários para as demais preparações da cozinha, que contava ainda com dois auxiliares. A solução indicada por mim sofreu resistência do proprietário no início, tendo em vista que uma nova contratação onerava a folha de pagamento do restaurante. Para os demais funcionários, isso significou uma melhoria no ambiente de produção e menos estresse na operação. O que mais chamava atenção nos funcionários existentes no Restaurante do Passo era a qualidade e o conhecimento do que era certo e errado numa cozinha. Isso facilitou o treinamento, assim como aplicar com a nutricionista as melhores práticas do Manual de Boas Práticas da Anvisa. Para o dono do negócio, isso era a garantia que a equipe havia comprado a ideia de melhoria na execução do trabalho da cozinha, o resultado era uma operação um pouco mais eficiente do que era feita até então. As demais correções, infelizmente dependiam de mudanças físicas e de equipamento, como já ressaltei. Começar uma equipe do zero, como foi no Bistrô Arantes, tem suas facilidades e dificuldades. Treinar e formar uma equipe sem vícios é sempre melhor dentro da concepção da consultoria de gastronomia, na montagem da operação do restaurante. A liberdade em desenhar um perfil profissional e operacional facilita na escolha, no treinamento e na formação de um profissional que poderá se tornar um especialista dentro do formato do negócio que está se formando. No Bistrô Arantes, consegui ainda estabelecer todos as bases necessárias para o desenvolvimento saudável da equipe. Com o pensamento a longo prazo, consegui instituir todas as premissas que norteiam a saúde dos trabalhadores na área de gastronomia, no trabalho de quem atua na cozinha. No que diz respeito ao uniforme, foi possível fazer com que o proprietário entendesse a necessidade de fornecer o uniforme para cada cozinheiro, auxiliar e chef: tecido impermeável, qualquer líquido só adere ao 39 tecido após dois segundos de contato, e sapatos de couro especial, fechados e com salto de dois centímetros. Ficava a cargo do restaurante a manutenção do uniforme, como lavagem e reparo. Se o funcionário saísse da equipe por algum motivo, ele era devolvido. Sobre o preparo físico durante o horário de trabalho, consegui implantar durante o horário de trabalho a pausa para descanso e exercício de forma a evitar lesões dos funcionários. Eles aproveitavam a pausa para alongar e fazer exercícios de postura. E o investimento na parte física de cada funcionário não estava restrito apenas ao período do trabalho. O proprietário deu como benefício o pagamento pela empresa de academia de ginástica e musculação para os funcionários da cozinha. O preparo muscular é fundamental para quem atua na profissão, pois são muitas horas diárias em pé na cozinha. O benefício não prevê apenas a mudança de hábito para fins de trabalho. O funcionário acaba mudando seu estilo de vida criando um hábito da prática de exercício físico, diminuindo os riscos de doenças provenientes do sedentarismo. O investimento no funcionário e no seu bem estar não foi uma coisa decidida por acaso. O que difere os dois estudos de caso é o profissionalismo que cada empreendedor tratou o seu negócio. No caso do João VI, o proprietário fez as mudanças sem elaborar primeiro um plano de negócios de um restaurante. A medida facilita e ajuda na previsão de cada etapa do processo de abertura do negócio e de investimento a ser feito em todo âmbito do restaurante, inclusive em tudo que envolve recursos humanos. Já no Bistrô Arantes, o empreendedor tratou o investimento que ia fazer de forma mais profissional. Elaborou um plano de negócios com uma equipe especializada, pensou em cada etapa e tratou a parte de recursos humanos com uma atenção especial. Todo custo foi pensado, em troca do benefício de ter uma equipe motivada e praticando hábitos de uma vida saudável. Até mesmo a alimentação especial para toda a equipe consegui implementar. O cardápio balanceado para os funcionários era elaborado pela nutricionista e por mim, chef de cozinha do restaurante. Nós buscávamos segui a risca o que coloquei como meta: “Educar os funcionários a respeito de riscos 40 de saúde, como pressão sanguínea elevada, obesidade derivada de dieta pobre em nutrientes e muita calórica.” Os custos com as medidas eram minimizados por meio de parcerias do restaurante com empresas e profissionais que prestavam serviços. Dessa forma, as despesas reduziam e tornava possível de forma menos onerosa oferecer para os colaboradores uma série de incentivos para uma vida melhor e mais saudável. Foi dessa forma que conseguimos manter os trabalhadores distantes das doenças do trabalho, mais saudáveis e motivados. Infelizmente, não obtive o mesmo sucesso no Restaurante do Passo, em convencer o proprietário a adotar essa série de medidas. O principal argumento dele era como esses benefícios iriam onerar o restaurante. Ele não conseguia perceber que o investimento nas pessoas iria impactar diretamente na qualidade do que elas produziam: a comida. Pensava nos vinte e cinco por cento a mais no custo de cada uniforme, e não na proteção que o tecido dava para quem usava, construindo mais uma barreira de forma a evitar licenças médicas por acidentes na cozinha. Os sapatos foram o único ganho que consegui. Os utensílios remendados ou inadequados eram a porta de entrada para problemas de saúde laboral. Mas consegui verba no investimento em novos equipamentos de baixo custo, mas que já tornavam o trabalho de cada cozinheiro e auxiliar de cozinha mais seguro. Esses estudos de casos do Bistrô Arantes e Restaurante do Passo comprovam que a atitude e o pensamento do empreendedor sobre todas as questões que envolvem o negócio fazem diferença na vida do funcionário. Até mesmo o alinhamento com arquiteto responsável pelo projeto do restaurante. O Bistrô Arantes virou o melhor exemplo de como um dono de restaurante deve investir na saúde de seu funcionário. É um passo importante para o processo de evolução e crescimento do empreendimento. Uma forma de conseguir o comprometimento e o crescimento profissional de cada pessoa envolvida no trabalho da cozinha. Isso faz a diferença. 41 CONCLUSÃO O presente trabalho teve como finalidade realizar considerações a respeito da qualidade de vida do profissional que atua nas cozinhas dos restaurantes de qualquer lugar, tendo-se observado, especificamente, dois casos concretos ocorridos em dois restaurantes localizados no Rio de Janeiro, um com aspecto positivo e outro com aspecto negativo, para que pudesse ser feito um estudo comparativo. No primeiro capítulo, tratou a presente pesquisa dos conceitos sobre a qualidade de vida de um trabalhador da área gastronômica, relacionados à sustentabilidade socioeconômica, às condições de trabalho, à integração social da empresa e ao uso e desenvolvimento de capacidades. Por ser a qualidade de vida um tema bastante abrangente, a sua conceituação foi considerada através de diferentes abordagens, tendo sido, inicialmente, observada a abordagem socioeconômica em razão dos indicadores sociais. Após, considerou-se uma abordagem psicológica, em virtude da reação subjetiva de cada indivíduo, sendo limitada por desconsiderar o contexto ambiental. Realizou-se também, uma abordagem médica, intrinsecamente relacionada às condições de saúde das pessoas. Por último, realizou-se uma abordagem geral, denominada de holística, que refere que a qualidade de vida é um aspecto multidimensional diferente de pessoa pra pessoa. No segundo capítulo abordou-se a relação direta entre saúde do profissional e o trabalho desenvolvido por ele dentro do ambiente de uma cozinha de restaurante, observando-se a questão da qualidade de vida desde a sua origem, a sua evolução e as suas perspectivas. Em razão de ser o trabalho na cozinha altamente repetitivo e muito específico, algumas atitudes podem ser executadas para que haja uma prevenção ou, ao menos, uma diminuição dos problemas que corriqueiramente ocorrem, que são abordadas nesse capítulo, a fim de proporcionar maior segurança no ambiente de trabalho. Quanto ao terceiro capítulo, são observados os casos apresentados nos restaurantes Bistrô Arantes e Restaurante do Passo, apresentando-se a realidade positiva ou negativa de cada um deles. São debatidos, nesse 42 sentido, os aspectos relacionados ao empregador e às soluções desenvolvidas em cada local. Cada um dos estabelecimentos é analisado separadamente, observando-se as características e as virtudes de cada um para se chegar a um estudo comparativo, como, por exemplo, o modo de contratação dos profissionais, o treinamento dos trabalhadores dentro da cozinha do restaurante e o modo de gestão de pessoas de cada empreendedor. Para tanto, utilizou-se como procedimento metodológico a revisão bibliográfica sobre o tema e, também, o estudo de dois casos concretos contrastantes, relativos a dois restaurantes localizados no Estado do Rio de Janeiro. 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBRECHT, K. O gerente e o estresse: faça o estresse trabalhar para você. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. ASSUNÇÃO, A. A., PEREIRA, P. V. A. & REZENDE, M. C. V. (2001). Quando trabalhar solicita habilidades para ladear uma situação conflituosa: o caso dos oficiais de justiça. In Associação Brasileira de Ergonomia (Org.), Anais do XI CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, [Anais eletrônicos...]. CDROM ATALA, A.; DÓRIA, C.A. Com unhas, dentes e cuca. São Paulo: SENAC, 2008. Awad G, Voruganti LNP. Intervention research in psychosis: issues related to the assessment of quality of life. Schizophr Bull 2000; 26:557-64. BOM SUCESSO, Edina. Relações interpessoais e qualidade no trabalho. São Paulo: Qualimark, 2000. BUSS, P. M. 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