JORNAL DA associação médica Junho/Julho 2013 • Página 3 ENSINO Formação médica preocupa AMMG A Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) tem acompanhado de perto a situação do curso de medicina da Universidade Vale do Rio Verde (Unincor), em Belo Horizonte, e de todo ensino médico. Em março deste ano, a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), do Ministério da Educação (MEC), fechou o campus localizado no bairro Luxemburgo. Falta de professores e de hospital escola estão entre as alegações. O MEC abriu um processo administrativo para fechar o curso no início deste ano, depois de verificar que o que foi constatado em anos anteriores havia piorado. Foram avaliadas as condições de ensino, o corpo docente, as instalações físicas e a organização didático-pedagógica. Há anos, a universidade é avaliada no Índice Geral de Cursos com nota um, figurando entre as piores do estado. Esta situação preocupa os alunos, tanto que Mateus Félix, atualmente no 10º período, se transferiu para o Centro Universitário de Caratinga (Unec). Félix afirma que a decisão foi difícil, pois o MEC liberou pouco mais de 400 vagas para transferência e apenas 12 contemplavam o período que está cursando. “A princípio, não tive vontade de sair, mesmo com os problemas de falta de professor, pois as aulas foram repostas. Mas, para me garantir, pedi a transferência, apesar da mensalidade da Unec ser mil reais mais cara.” Tereza Cristina da Silva, aluna do 7º período, revela que o campus foi fechado, porém as aulas continuam a ser ministradas no prédio do curso de odontologia, também localizado na capital mineira. “Meu pensamento neste momento é o de defender a reestruturação do curso dentro dos requisitos exigidos pelo MEC para uma formação digna e de qualidade.” Silva considera que um dos pontos fortes da escola é o fato do curso ser voltado para a saúde pública. No entanto, explica que com a atitude do Ministério sentiu-se prejudicada moral e financeiramente: “Quando o nome da instituição é denegrido, com ele, todo o nosso esforço de anos de aprendizado também estará denegrido. Toda essa situação pode levar ao atraso na conclusão do curso e uma elevação de custos muito superior ao previsto para a minha formação médica”, avalia. Alexandre Guzanshe Campus no bairro Luxemburgo, desativado em março, abrigava o curso de medicina da Unincor Para o vice-presidente da AMMG, Gabriel de Almeida Silva Júnior, a expansão das escolas médicas privadas vem sendo feita sem planejamento. “Os protestos das entidades médicas não foram suficientes para barrar a abertura de cursos de medicina que, desde o seu início, traziam consigo carências dos mais elementares recursos para o ensino”, relata. O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM MG), João Batista Gomes Soares, contou que a entidade foi desfavorável a abertura do curso. “Na época, verificamos as condições da universidade e não aprovamos. Abrir um curso de medicina é matéria de alta responsabilidade. O fechamento traz graves consequências. Então por que abrir sem o acerto total das condições necessárias?” A reitora da Unincor, Gleicione Aparecida Dias Bagne de Souza, afirma que a escola já estava sob supervisão e provendo melhorias no curso. “A desativação do curso nos pegou de surpresa. Estamos muito esperançosos com a reversão deste quadro. O atual campus de medicina está todo remodelado e adaptado, com instalações e infraestrutura adequadas para melhor atendimento aos alunos e professores”, garante a reitora. Por e-mail, a Assessoria de Imprensa do MEC esclarece que “a Unincor recorreu e o recurso será julgado pelo Conselho Nacional de Educação, que poderá confirmar ou reformar a decisão. No entanto, o recurso não tem efeito suspensivo, então a situação atual do curso é desativado”. De acordo com o Ministério da Educação, os alunos que não foram absorvidos por outras instituições correm o risco de não terem a esperada graduação. Incertezas Faltando pouco mais de um ano para a formatura, alunos do 10º período estão firmes no propósito de terminar o curso na Unincor. Conforme informações desses estudantes, sem autorização do MEC, a escola parou de encaminhar as aulas práticas para o Hospital Luxemburgo que funciona em prédio anexo ao campus desativado da Unincor. A aluna Ana Célia Pereira de Abreu analisa que a saída da universidade do Hospital Luxemburgo teria sido a gota d’água para o MEC decidir pelo fechamento do curso. Na opinião de Abreu, toda universidade deve atender aos requisitos do MEC, como hospital escola, antes de abrir as portas: “Infelizmente, só tomei conhecimento dos problemas da instituição quando eu já estava estudando”, lamenta. “Ainda estou indecisa se formarei ou não nessa faculdade. Se ficarmos, precisaremos brigar para formar? Se formos transferidos, as matérias e as notas serão aproveitadas?”, desabafa a estudante que até o período passado era representante de sua turma.