Maria Cecilia Perez de Souza e SILVA Samuel TAVARES Sonia Maria Prado de SOUZA Maria Jose MACHADO (PUC/SP) ABSTRACI': The works of this group are related to the project: "Discourse Analysis in the areas of business and technology" (FAPESPJ, the purpose of which is to analyse the language practices found in business companies. They refer to a joint research between PUC-SP and the University of Liverpool and they are also based on the works of the group "Analyse pluridisciplinaire des situations de Travair. KEY WORDS: Discourse, Interaction, Metaphor, Genre, Ideology. o objetivo dos quatro pesquisadores e 0 de descrever e analisar a linguagem utilizada pela e na empresa em diferentes contextos interacionais. o corpus escolhido por Tavares foi recolhido na area de servi~ de atendimento telefonico a clientes de uma companhia administradora de cartOes de credito no Brasil. Para a apresen~o neste G.T., 0 mestrando selecionou tres liga~s recebidas por tres atendentes difetentes, as quais contemplam, na opiniao de dois supervisores, os requisitos exigidos pela empresa no atendimento aos clientes, isto e, objetividade, cortesia e tempo dispendido. o instrumental te6rico que serviu de suporte a analise se assenta na n~ao de unidade de textora e de estrutora te:xtual. proposta por HaSan (1985). Segundo a autora, um texto e composto por eventos separados, mas relacionados, denominados de elementos constituintes, os quais silo dispostos em determinada ordem e formam a sua estrutura generica. A compara~o entre as varias estruturas genericas de textos relativos a determinada situa~o de usa, leva a autora a propor a n~o de estrutora generica potencial, que resume todas as possibilidades de estrutura para os textos produzidos naquela situaeao, servindo para defmir 0 genero a que pertencem esses textos. Para Tavares, a maior parte dos problemas enfrentados na interacao atendente/cliente tem origem na presenca desnecessaria ou na ausencia comprometedora de alguns desses constituintes. o primeiro passo na analise dessas intera~oes. foi identificar seus elementos constituintes e sua ordem de ocorrencia com 0 pr0p6sito de, ap6s compara-las entre si, extrair uma estrutura genc5ricapotencial. A analise da primeira interacao levou Tavares a propor uma estrutura generica constituida por saudacao, exposicao do problema, investigacao do problema, solucao do problema e saudaca.o, cuja formalizacao se manifesta na seguinte estrutura, na qual [ ] indica ordenacao na opcionalidade da seqiiencia [S] [EP] [IP] [SP] [Fl. A sauda~o, constituinte obrigat6rio pela Empresa, e constituida pela identificaeao da empresa, do atendente e pela f6rmula padronizada (Bom dia, boa tarde, boa noite). A exposi~o do problema e caraeterizada pela maneira pela qualo(a) cliente, a sua maneira, faz saber a Empresa sua necessidade. A clareza de sua exposicao depende da familiaridade no usa do cartao e de sua capacidade de verbalizacao. Ambos sao dados importantes para 0 atendente, que deve estar atento para adequar ~eu discurso ao do interlocutor tanto na obtencao quanto no fomecimento de informaeoes. Segundo a empresa, uma exposicao de problema deve contar com as inform.acoes referentes ao "0 qur, "como" e "quando". A investiga~o do problema se divide entre 0 entendimento da necessidade do cliente, ajudando-a a superar eventuais dificuldades de expressao e verificacao quanto a possibilidade ouDio de seu atendimento. A soIu~ do problema consiste em fomecer ao cliente informacao quanta a possibilidade ou nao do acatamento de sua solicitaea.o. Em caso positivo, a Empresa exige que a resposta contenha 0 "como" e "quando", a fun de evitar novo questionamento por parte do cliente quanto a uma infoemacao que deveria 1heter sido fornecida. Em caso negativo, duas possibilidades se abrem: negacao total ou parcial da solicitaea.o. No primeiro caso, e essencial a justificativa pelo nao acatamento da solicitacao; no segundo caso, alem da justificativa, e importante dizer "quando" e "como" se dad 0 acatamento parcial. Em ambos os casas, 0 objetivo em se fornecer essas informaeoes de maneira completa e evitar questionamento do cliente. Para terminar, tamhem a nnalim~io e urn elemento obrigat6rio e contem as seguintes partes: agradecimento pela ligacao do cliente e despedida formulaica (Bom dia, boa tarde, boa noite). Analisando 0 segundo atendimento, Tavares constatou que dois problemas podem ser expostos em uma mesma ligacao, 0 que 0 levou a revisar a estrutura proposta <-[S] [{EP IP SP}] [F] na qual < - indica a possibilidade de mais de uma ocorrencia dos elementos que se encontram no colchete. Finalmente, observando a terceira ligacao, Tavares verificou que ha situaeoes nas quais a solueao do problema nao e aceita pelo cliente, 0 que gera o aparecimento de dois novos constituintes: QS (questionamento da solueao) e RQ (re~ta ao questionamento). Em geral, quando 0 cliente questiona, sua argumenmcao vai no sentido de recusar 0 Ilio acatamento de sua solicitaea.o e/ou de sugerir urn tratamento de excecao. A analise da contra-argumentaelio do cliente pode levar a manutencao da decido anterior, au a proposta de uma solucao alternativa, que deve conter novamente explic~oes referentes ao "por que", "como" e "quando"; ou ainda, ao acatamento total da proposta do cliente que passa a ser tratada, entio, como caso se excecao. Casos como esse, levaram Tavares a reformular a proposta anterior, incluindo os novos elementos: <-- <-- [S] ({EP IP SP]) ({QS RQ}] [F] Com base nos dados coletados e na opinilio dos supervisores e atendentes que colaboraram na pesquisa, essa estrutura representa a estrutura generica potencial em que se encaixam, parcial ou totalmente, a' grande maioria das ligacoes a area de servi~ de atendimento telef6nico a clientes. A pesquisa de Souza tern como objetivo analisar os significados veiculados pela linguagem das cartas de pedidos de emprego (CPE), escritas em ingles e portugues, por falantes nativos, em resposta aos anUncios de empregos (AE) publicados por jornais de grande veicula~liono Brasil e Inglaterra. Para esta apresenta~ao, 0 corpus foi restrito a sete amostras de CPE escritas em portugues em resposta a solici~o de dois AE publicados em "0 Estado de Silo Paulo", nas quais Souza analisou a organizacao textual das CEP e a prese~a da modalidade como indicadora do tipo de rela~lioentre os candidatos nesse evento comunicativo. o modele de anMise seguido por Souza baseia-se nos pressupostos de Swales (1990, 1992), relativos aos cri~rios de defini~lio de genero e a caracterizacao dos textos segundo a anMise dos "movimentoslpassos" e na abordagem funcional adotada por Halliday (1985), particularmente em sua teoria das funcoes da linguagem (ideacional, interpessoal e textual) e a anMiseda modalidade). Em rel~o a org~o textual das cartas, os resultados apontam algumas regularidades na sua constituicao, 0 que implica dizer que tal estrutura esquematica e mais variavel e flexfvel do que a proposta pelos manuais didaticos. Alguns movimentos foram comuns na amostra (oferta de candidatura, apresentacao de credenciais, solicitaeao de contato), as vezes recorrentes e nem sempre claramente delimitados e seqiiencialmente apresentados. Neste aspecto, 0 modele de Swales, voltado a anMise de artigos de pesquisa, apresenta limitaeoes quando aplicado a esse tipo de documento. No entanto, Dio invalidam sua proposta; ao contrario, mostra algumas tendencias ou regularidades na estrutura esquematica das cartas que, por caracterizarem urn discurso situado entre 0 profissional e 0 pessoal, abrem simultaneamente esp~s ao uso de conven¢es genericas e pessoais, impedindo, ou dificultando, uma apresentaCio de modele uniforme de organizacao textual. Por outrolado, a aplic~o do mode10funcional de Halliday, aqui voltado.apenas a anMiseda modalidade, permitiu uma compreensao mais abrangente dos significados da linguagem das cartas: pode-se observar que as escolhas lexicais e sintaticas usadas pelos diferentescandidatos foram motivadas pelo contexto social, cultural, educacional e de situacao em que se encontram. Como candidato, ele tenta, atraves da autopromocao, atribuir valores (sempre positivos) aos seus desempenhos, compativeis com as credenciais (sempre positivas) da empresa. Na realidade, a CPE 010 deixa de ser a venda de urn produto de experiencias, escolaridade e requisitos pessoais. adquiridos por sujeitos socialmente construfdos. Isto implica dizer que, apesar dos inUmeros recursos lingilisticos disponiveis, 0 candidato tende a explorar praticas discursivas comuns em termos de forma e ~o para 0 alcance de seus objetivos. Assim, 0 uso do passado simples esta relacionado ao relata de desempenhos.·e experiencias profissionais anteriores, ja concluidas. 0 infinitivo serve a expressAode objetivos e de pedidos (javor entrarem em contalO... '), enquanto 0 presente se presta veiculacio de 'verdades' a respeito de sua formacio acac:temica e vida profissional e caracteristicas pessoais ('Sou formado em... , trabalho na base de relacionamento a duradouro... , tenho grande vivencia em negocif4oes ... , sou umprojissional orientado para resultados... , etc.) como tambem para expressar 'certezas' e 'determinf4iJes'de atitudes e visOes de mundo. Para a diminuicioda for~ de algumas proposi~s, principalmente as relativas a julgamentos do falan~ a respeito de &uas pr6prias qualific~s ('Considero-me um projissional gabari'tado... ', •... sentindo-me•.. em condiroes de ... '), os candidatos tendem a optar pelouso estraregico das metAforas modais. Yamamoto e Machado deb~aram-se sobre urn mesmo corpus, isto e, tres relat6rios anuais (1988-1989-1990) da Souza Cruz, subsidiaria b~ileira da British American Tobaco (B.A.T.), norteadas pela mesma pergunta de pesquisa: como uma corporacao cria uma ideologia de legitimac10 da empresae de seus produtos? Como instrumentalte6rico, Yamamoto recorre, sobretudo, a I..akoff & Johnson (1980) para os quais 0 sistema conceitual humano e metaf6rico por natureza e desempenha papel central na defmicao de nossas realidades diar'ias; ja Machado centra-se nas tres fun~ da ideologia propostas por Ricoeur (1988). Na analise efetuada por Yamamoto, a metafora e entendida no sentido generico de mudanca de sentido, sintetizando todas as figuras de.linguagem (Cohen, 1966:94; Searle, 1979:119) e Paschoal (1990:4). Procedendo a um levantamento explorat6rio, as metaforas mais recorrentes nos tres relawrios foram as ontol6gicas: aquelas que permitem abordar experiencias como objetos fisicos', isto e, implicam projetar caracteristicas de entidade, substAncia, recipiente ou pessoa sobre algo que 010 tem essas caracteristicas de maneira inerente. Dada a limitac10 fisica desta exposicio, selecionou-se a analise sobre 0 relat6rio de 1988, cuja transcric10 ja traz sublinhados e numerados os conceitos metaf6ricos. RELAT6RIO ANUAL SOUZA CRUZ - 1988 o VIGOR DAS NOSSAS RAiZES Um tema percorre este Relat6rio Anual em companhia das demonstracoes financeiras e do relat6rio da administracao. Numa palavra: raizes. Ao eleger nossas raizes comeassunto; proeuramos ser fieis a .~ -de-umempreendimento de base agroindustrial que, ao longo de seus 85 anos de Brasil, nunca abandonou ~ natural de suas atividades1. Esta publica~o e urn convite a urn passeio pelas terras e pela gente em que il Souza Cruz plantou raizes2. Nas paginas seguintes contamos a histaria do encontro dos imigrantes portugueses, italianos, poloneses e alemaes com produtos nativos como o furno, as arvores e as frutas. Mas essas taizes tambem tern Q dom3 de se projetar em dir~o ao futuro, irriaando pesQUisase projetos4 em areas que 0 conhecimento tecnol6a;jco mal comeca a desbravarS. E 0 caso, por exemplo, das pesquisas de biotecnologia vegetal desenvolvidas pela Bioplanta, a mais jovem empresa do Grupo. Coerencia com a tradi~o, sintonia com 0 futuro, estes sao os temas deste Relat6rio Anual que tenho 0 prazer de lhes apresentar. A partir desse levantamento, Machado mostrou que a metafora tem tambem a ~o. de mediadora no momenta da cri~o de uma ideologia de legi~o. Como outras grandes empresas fumageiras mundiais, a B.A.T. tem sido profundamente afetada pelos problemas relacionados 80 babito de fumar, sintetizados na queslio jumo e saUde", que tern sido fator determinante das estrategias empresariais da indUstriade cigarros e furno. Segundo Ricoeur, a ideologia tern a ~o de medi~o, domina~o e deforma~lio. A ideologia, comomediadora na integr~o e coesio social e dinimica e motivadora, mas simplificadora e esquematica. E um c6digo para se dar uma visio de conjunto do grupo, da hist6ria e do mundo. Assim, uma ideologia e operat6ria e nao tematica. A possibilidade de dissimul~o e distor~o, que se vincula, desde Marx, procede dela. A ideologia interpreta e justifica a rela~lio com a autoridade, que procura legitimar-se atraves da cre~a dos indivfduos nessa legitimidade. Assim, quando 0 papel mediador da ideologia encontra 0 fenomeno da do~ao, 0 carater de distor~o e de dissimul~o passa ao primeiro plano. Finalmente, e no conceito de deforma~o que Ricoeur cruza com Marx: ele incorpora esse conceito 80S dois anteriores e amplia a conce~o marxista, atenuando os tr~os de dissimul~lio e mascaramento que eslio estreitamente ligados a fun~o de deforma~o da ideologia. RESUMO: Os trabaUws deste G. T. estao vinculados ao projeto "Analise do Discurso da area de neg6cios e tecnologia" (FAPESP), cujo objetivo e analisar as prdticas de linguagem na empresa. Trata-se de pesquisa conjunta entre PUC/SPlUniversidade de Liverpool; conta com a cOlabort4Do do grupo "Analyse pluridisciplinaires des situations de Travail". PALAVRAS-CHAVE: Discurso, Genre, Metd/ora, Ideologia,lnterafDo. SWALES, I.M. (1990). Genre AntJlysis: english in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.