Motivações de retalhistas portugueses para a adopção de rotulagem nutricional simplificada na frente das embalagens: uma análise qualitativa. Caldeira, Mónica1; Sottomayor, Miguel1; Souza Monteiro, Diogo2 1 - Universidade Católica Portuguesa, Porto. 2 - Kent Business School, University of Kent, UK. (Golan et al 2000) • Talvez respondendo a esta necessidade a indústria e distribuição agro-alimentares Europeias adoptaram, de forma voluntária, os rótulos nutricionais na frente das embalagens (Feunekes et al 2008; Van Camp et al 2010). • A decisão sobre o tipo de informação a incluir nesses rótulos, bem como a forma de apresentação e qual a referência utilizada, tem sido liderada pelas empresas agro-alimentares. • Embora estejam publicados diversos estudos sobre as atitudes, percepções e uso dos rótulos nutricionais pelos consumidores, pouco se conhece sobre o que motiva as empresas a revelar esta informação (Caldeira et al, 2011). • Assim, o objectivo deste estudo é averiguar a percepção que as empresas de distribuição têm sobre as atitudes dos consumidores em relação aos rótulos nutricionais e o que as motiva a adoptar estes rótulos. • Na ausência de orientações ou regras especificas, as empresas adoptarão o formato que melhor se enquadre nos seus objectivos. • A decisão de rotulagem da informação nutricional por parte de uma empresa alimentar não terá necessariamente em consideração apenas o interesse dos consumidores. • Antes, é esperado que esta decisão resulte de uma análise de benefícios vs custos sobre o impacto deste rótulos nas empresas (Golan et al 2000) • Compreender as suas atitudes e percepções das empresas poderá permitir conhecer melhor o processo de decisão o seu impacto e a avaliação das empresas e a necessidades de legislar. • Como? Entrevistas semi-estruradas realizadas entre Fevereiro e Maio. • A Quem? Responsáveis pelas decisões de rotulagem nutricional dos produtos de marca própria de 6 empresas de distribuição (cerca de 80% da cota de mercado (Kantar, 2010)). • Transcrição da gravação das entrevistas (excepto 1). Validação das transcrições pelas empresas do estudo. • Análise qualitativa de conteúdos realizado utilizando software específico - programa Nvivo®. Este é um método que permite ao investigador de forma objectiva e sistemática identificar temas e categorias comuns das mensagens transmitidas (Hosti 1969). • Foi realizada de forma independente por dois investigadores. Foram apenas consideradas as mensagens cuja categorização foi consensual. 1. Vantagens e desvantagens da adopção de rótulos simplificados identificadas pelos retalhistas Desvantagens • Falta de competência do consumidor para interpretar o rótulo • Rótulo sobrecarregado, confuso para consumidor • Revela características nutricionais desfavoráveis • Custos de adaptação de rotulagem • Conflito de espaço de comunicação nas embalagens • Definição de porções pode ser irrelevante 2. Motivações para adopção de rótulos simplificados Motivos Quando (nº empresas) Categorias de produtos • Decisão tomada a nível estratégico • Pressão competitiva • Antecipação de legislação eminente • Responsabilidade social das empresas • 2007 (1) ; 2008 (3); 2010 (1); 2011 (1) • Adopção em todas as categorias de produtos. • Abordagem diferenciada para refeições prontas (2) • Excepções: produtos frescos (peixe, carne, frutos, legumes), especiarias, água, vinho, vinagre, açúcar. Parâmetros nutricionais apresentados Formatos adoptados Resultados Vantagens • Facilita escolhas alimentares • Promove o desenvolvimento de produtos mais saudáveis. • Mais-valia para o produto • Acesso imediato a informação nutricional essencial e de mais fácil interpretação face à informação no verso. • Acompanhar a concorrência Exemplos de rótulo Açúcar, gorduras, saturadas, sal + energia Açúcar, gorduras, saturadas, sal + energia OU apenas energia Seleccionados 2 a 3 parâmetros entre: açúcar, gorduras, saturadas, sal e fibra + energia (sempre presente) Açúcar, gorduras, saturadas, sal + energia (80%), OU Açúcar, gorduras, saturadas, sal + energia + 1 ou todos os parâmetros adicionais (proteína, fibra, cálcio e ferro), OU apenas energia. 3. Fonte da informação subjacente aos rótulos nutricionais Conclusão • Valores Diários Recomendados – seguidas recomendações da indústria (FIPA) ou de entidades de referência (WHO, FSA) • Definição de porções – na maioria definidas pelas empresas de distribuição. • Caracterização nutricional – realizada pelos fornecedores (5/6), sob supervisão/validação das empresas de distribuição. • A percepção do consumidor relativamente ao valor nutricional dos alimentos é uma questão muito relevante as empresas de distribuição. • Acompanhar as tendências do mercado, antecipar legislação e servir os interesses dos consumidores são os principais motivos para a adopção de rótulos simplificados. • Compreender as motivações das empresas alimentares para a adopção de rotulagem nutricional fornece informação sobre a dinâmica do mercado e poderá ter implicações nas politicas de desenvolvimento e avaliação dos rótulos. • A definição das porções tem um papel central na informação que é apresentada. A rotulagem nutricional simplificada permite estimular a melhoria do perfil nutricional de algumas categorias de produtos. • A existência no mercado de diferentes esquemas nutricionais simplificados pode prejudicar a eficácia da informação nutricional dos produtos na orientação das escolhas alimentares. • O próximo passo deste trabalho seria a validação dos resultados numa população mais alargada da indústria através de um estudo quantitativo. Referências: Caldeira, M., M. Sottomayor and D. Souza Monteiro. 2011. Portuguese Retailers´ Motivations to Adopt Front of Pack Nutrition Labels: A Qualitative Analysis. Paper prepared for presentation at the FSN track session “Front of Package Nutrition Labels – EU and USA Industry and Consumer Response” Agricultural & Applied Economics Association´s 2011 AAEA & NAREA Joint Annual Meeting, Pittsburgh, Pennsylvania, July 24-26, 2011; Feunekes, G. I. J., Gortemaker, I. A., Willems A. A., Lion, R., van den Kommer M. 2008 “Front-of-pack nutrition labelling: Testing effectiveness of different nutrition labelling formats front-of-pack in four European countries.” Appetite 50(1): 57-70 ; Golan, E., F. Kuchler, and L. Mitchell. 2000. Economics of Food Labeling. Economic Research Service (ERS), U.S. Department of Agriculture. Agricultural Economic Report, No. 793, Washington DC (USA); Hosti, O. R. 1969.Content analysis for social sciences and humanities.Reading, MA: Addison-Wesley.; KantarWorldpanel Portugal. 2010. O Grande Consumo em Portugal; Van Camp D., Hooker N. H. and Souza-Monteiro D. M. 2010.Adoption of Voluntary Front of Package Nutrition Schemes in UK Food Innovations. British Food Journal, 112(6): 580-591. Agradecimentos: Eng. José Castro, Dr. José Cordeiro, Dra Otília Costa, Engª Ana Delfina Sousa, Engª Teresa Curião , Dra. Susana Pasadas, Dr. Ricardo Mateus, Dra. Ana Rita Marques, Dra. Mayumi Delgado, Dra. Sara Dias, Dra. Rute Medeiros, Engª Flávia Gaspar pelo tempo e valiosa informação disponibilizados. Metodologia Introdução •O aumento da obesidade e de doenças associadas à alimentação motivou a necessidade de informar melhor os consumidores sobre os aspectos nutricionais dos alimentos que consomem