COLÉGIO X Alunos: Turma: 7ª série Professora: Disciplina: ROTEIRO (script) de uma peça de teatro para três/quatro personagens Título DAR OU NÃO ESMOLAS, eis a questão. Curitiba/PR - 2010 ROTEIRO (script) de uma peça de teatro para três/quatro personagens Título DAR OU NÃO ESMOLAS, eis a questão. Personagens: 1. MENDIGO: (Criança) não tem voz, só estende a mão 2. RAZÃO: Menina que desenrola e conduz o diálogo. 3. EMOÇÃO: Menina secundária que causa o diálogo. 4. GRILO FALANTE (alter ego da EMOÇÃO) significa pensamento. É uma voz feminina somente ouvida. o CENA única Abrem-se as cortinas enquanto toca uma música de fundo. Pode ser a versão da música I Dreamed a Dream (Eu sonhei um sonho), da cantora escocesa Susan Boyle, composta por Alain Boublil. Tal música faz parte do espetáculo musical Les Misérables, baseado na fantástica obra de Vitor Hugo, em cartaz há 23 anos, em Londres. I Dreamed a Dream There was a time when men were kind When their voices were soft And their words inviting. There was a time when love was blind And the world was a song And the song was exciting. There was a time ... then it all went wrong I dreamed a dream in time gone by When hopes were high and life worth living, I dreamed that love would never die I dreamed that God would be forgiving. That I was young and unafraid, When dreams were made and used and wasted. There was no ransom to be payed, No song unsung, no wine untasted. But the tigers come at night, With their voices soft as thunder, As they tear your hope apart As they turn your dreams to shame He slept a summer by my side. He filled my days with endless wonder, He took my childhood in his stride, But he was gone when autumn came. And still I dreamed he'd come to me And we would live the years together, But there are dreams that cannot be And there are storms we cannot weather. I had a dream my life would be So different from this hell I'm living So different now from what it seemed Now life has killed the dream I dreamed. x-x-x-x-x-x Houve um tempo em que os homens eram bons Suas vozes eram doces e suas palavras encorajadoras Houve um tempo em que o amor era cego E o mundo era uma canção E essa canção era excitante Houve um tempo... e então tudo deu errado. Eu sonhei um sonho num tempo que se foi Quando as esperanças eram grandes e a vida valia ser vivida, Eu sonhei que o amor nunca morreria Eu sonhei que Deus poderia perdoar. Então eu era jovem e destemido, Quando os sonhos eram sonhados, realizados e desperdiçados. Não havia preços a serem pagos, Nem canção não cantada, nem vinho não provado. Mas os tigres vêm à noite, Com sua voz suave como o trovão, Como se despedaçassem suas esperanças Como se transformassem seus sonhos em vergonha. Ele dormiu por um verão comigo Ele preencheu meus dias com amor sem fim Ele levou minha juventude em sua correia Mas ele se foi quando o outono chegou. E ainda sonhava com ele vindo a mim E nós viveríamos os anos juntos, Mas há sonhos que não podem ser E há tempestades que não podemos prever. Eu tive um sonho de como minha vida seria Tão diferente deste inferno que estou vivendo Tão diferente agora daquilo que parecia Agora a vida matou o sonho Que eu sonhei. Narrador: Uma menina, de nome RAZÃO, passa diante de um supermercado onde há uma criança mendigando. A Razão deduz que seguramente será para comprar drogas ou bebida alcoólica e não com aquele intuito. E segue adiante. Logo em seguida vem outra menina, de nome EMOÇÃO. Entra em cena de áudio o Grilo Falante, começa a ler. Puritanismos à parte, dia desses, lendo um site, a charge nº 01, abaixo, me chamou a atenção: Lê: O BICHO de Manuel Bandeira Vi ontem um bicho Na imundice do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa; Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem ! MENDIGO, BETTLER, PORDIOSERO, BEGGAR (Português, alemão, espanhol, inglês) Charge nº 01 EMOÇÃO – Por que você não deu esmolas ? Você não tem coração ? RAZÃO – Não é esse o caminho, minha amiga. Que isso é chocante, não resta a menor dúvida e toca o coração. Mas se eu der esmolas ele nunca ficará satisfeito. É igual dar milho pra bode. Essa criança está aqui mendigando enquanto um adulto está ali ao lado, esperando para recolher. É o pai/mãe adulto criminoso e sem coração. EMOÇÃO – Mas a Bíblia diz para dar esmolas. Jesus Cristo fez isso... RAZÃO – Fez. Não faz mais. A mendicância configura ato de indignidade humana. Se dar esmolas fosse a salvação do mundo, Jesus Cristo estaria vivo até hoje, multiplicando pães e peixes para alimentar a humanidade. EMOÇÃO – Mas coitado dele, olha só coitadinha dela... RAZÃO – Certo, mas essa criança é inocente e não têm culpa do descuido ou erro dos pais. E com aquele pai-mestre, e naquele aprendizado, jamais quererá trabalhar honestamente. EMOÇÃO – Mas ela só está pedindo comida diante do supermercado... RAZÃO – Minha amiga, quando se vêem tantos mendigos e crianças à porta dos supermercados, pedindo comida, pense bem: dar comida só ajuda a perpetuar a situação. Não basta dar o peixe, tem que ensinar a pescar. E isso é dever do Poder Público. EMOÇÃO – Ahn. Explique melhor... RAZÃO – Você já leu O Contrato Social de Jean Jacques Rosseau ? A Origem da desigualdade ? EMOÇÃO – Não ? RAZÃO – Pois bem, se o lesse entenderia que só há esmoleiros se houver esmoleres. É a lei da procura e da oferta. EMOÇÃO – Nossa ! Esmoleres ? ! ? ! Eu não sabia que existia essa palavra. Me explique melhor... RAZÃO – Pois bem, então leia mais. Se o cidadão dá esmolas, o Poder Público, a Assistência Social, se exime de fazer a parte que lhe cabe. EMOÇÃO – Ahn ...ainda não entendi... Como assimO RAZÃO – Você está amadurecendo e usando o bom senso. Pelo menos está procurando entender. Você já leu O Bicho, de nosso ilustre poeta pernambucano, Manuel Bandeira? EMOÇÃO – Não.. Pelo visto você lê muito, Razão. RAZÃO – Então vamos ler, juntas: O BICHO Vi ontem um bicho Na imundice do pátio Catando comida entre os detritos. É muito pra minha cabeça. Quando achava alguma coisa; Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem ! EMOÇÃO - Que poema bonito para tema tão feio ... RAZÃO – Questão de formação, questão de educação... É um tema feio e espinhoso para a nossa sociedade, mas ao mesmo tempo tocante e constrangedor. Valendo-se de cadeiras de rodas, muletas, moléstias, deformidades físicas, velhos barbudos, mulheres com crianças ao colo e outro na barriga apelam para a comiseração alheia. São mendigos profissionais. Algumas pessoas já são especialistas em fazer malabarismos e macaquices em frente dos carros, nos semáforos. E essa criança está se profissionalizando. EMOÇÃO - Pensando bem, sabe que você tem Razão ? Mais políticas públicas de inclusão e menos desigualdade social implicam em não ter que esconder a sujeira debaixo do tapete, correto ? RAZÃO – Correto. Agora você amadureceu, usou o bom senso e chegou ao Xis da questão. Não adianta apelar para a nossa formação cristã e eximir o poder público de sua responsabilidade social.