Sobre os “super salários” na Unesp * Por Wellerson Rodrigo Scarano Os "super salários" transformados em manchete pela mídia são de pessoas que trabalharam e estudaram durante uma vida toda, e que, simplesmente foram expostos como se fossem "transgressores da lei" perante a sociedade. Dessa forma, passo a fazer algumas considerações, que, talvez, não sejam do conhecimento da imprensa e da população! Ninguém fala do investimento para se formar um professor universitário ou muito menos, do quão importante, a Unesp, por exemplo, é para o cenário da ciência nacional e internacional, sem falar no desenvolvimento regional vinculado à presença das unidades universitárias em todo o estado de São Paulo!! Um professor, na Universidade, não trabalha 44 horas semanais, contadas no relógio...seu trabalho intelectual vai com ele para casa, para as férias, para os finais de semana, para a lápide, pois os frutos desse trabalho se perpetuam por muitos anos através das descobertas e frutos científicos e dos profissionais que formamos durante toda uma vida!!! Se compararmos o salário inicial de um professor universitário (com graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado) a um salário inicial de um funcionário público do judiciário, apenas com graduação, veremos nitidamente que não temos "super salários", veremos ainda que, para conseguirmos chegar aos "super salários" citados pela imprensa, precisamos de 30 anos de dedicação ao ensino, à pesquisa, aos serviços comunitários e à gestão da universidade! Diferentemente de outras 22 unidades federativas do Brasil, cujo teto salarial dos servidores é o do Supremo Tribunal Federal, no estado de São Paulo o teto corresponde ao salário do governador, e nesse ponto cabe uma pausa. Os denominados "super salários" se referem ao teto no nosso governador que, ironicamente, recebe aproximadamente R$ 21.635,05...desde o primeiro mês de serviço público e por quatro anos de serviços prestados à “população”! Mas, alto lá...ele tem uma série de valores não somados aí...auxílio moradia, taxa de gabinete, auxílio transporte etc., e isso desde seu primeiro mês de trabalho no “Palácio do Governo”, e não após 30-40 anos de dedicação ao ensino, pesquisa e serviços à comunidade! Diferente do Sr. governador, se quisermos tomar um café na nossa sala, temos que, de forma justa, pagar por ele; se quisermos fazer pesquisa temos que buscar recursos fora da Universidade, em agências de fomento à pesquisa e às vezes usando recursos próprios para tal, pois não temos subsídios para pesquisa na Universidade; não temos assessores; não temos auxílio moradia; nem outros benefícios, e mesmo assim conseguimos levar as universidades públicas do estado de SP para os rankings internacionais, conferindo a elas selos de qualidade internacional. Mais do que isso, ajudamos a formar cidadãos e profissionais. Sinto-me ultrajado, triste e imensamente frustrado pela exposição fútil e tendenciosa que estão nos fazendo passar! Outro aspecto importante é o de que as folhas de pagamento publicadas pela Folha de São Paulo em 16/09 são exatamente de janeiro e setembro de 2014. Sabem o que isso significa? Eu posso dizer: Janeiro é o mês em que a maioria dos funcionários usufrui de suas férias e com isso a folha de pagamento engloba: férias, adiantamento, 1/3 e reflexos trabalhistas do período; e setembro de 2014 foi o mês em que a Universidade deu um abono ÚNICO de 28,6%, referente ao período do dissídio trabalhista da categoria, que deveria ter sido dado em maio e não foi! Algo estranho nisso? Provavelmente, sim!!! É de interesse particular para alguns acabarem com a educação pública, gratuita e de qualidade, que transforma vidas e forma pensadores. Porém, enquanto educadores, lutaremos incessantemente para que isso não aconteça, mesmo que tentem nos ultrajar expondo nossas vidas de forma irresponsável, descontextualizada e até juridicamente incorreta! * Prof. Dr. Wellerson Rodrigo Scarano, docente do campus da Unesp de Botucatu