ENTREVISTA
ENTREVISTA
por RITA ASCENSO fotografia RICARDO POLÓNIO
“Temos que começar
por reduzir as necessidades
energéticas dos edifícios”
Hélder Gonçalves, Daniel Aelenei e Laura Aelenei integram o grupo de trabalho
da Agência Internacional para a Energia (AIE) SHC Task 40 - ECBCS Annex 52,
“Towards Net Zero Energy Solar Buildings”, cuja missão é estudar os edifícios
de balanço energético nulo ou quase nulo, abordando entre outros aspectos, a
definição do conceito e os métodos de concepção e demonstração associados.
Uma conversa sobre o desafio dos NZEB e a nossa realidade.
Quando se fala em NZEB existe alguma confusão
sobre o conceito. A Directiva para os edifícios que
os enquadra e obriga a partir de 2020 (novos) fala
em “nearly zero energy buildings”. Mas existe outra
designação que fala em “net zero energy buildings”. Não será preciso desmistificar este conceito
no sentido em que é visto como algo futurista que
ainda não se sabe muito bem o que é?
Hélder Gonçalves (HG): Existe uma grande comunidade de académicos e investigadores (onde o Daniel,
a Laura e eu nos incluímos) que está a debater este
assunto. Em Portugal, os edifícios tal como se estão
a construir hoje, de alguma maneira e até pode
parecer surpreendente, já são ou conceptualmente
caminham para o “nearly”, quase. Agora, não sabemos quando é esse “quase” porque, em termos da
legislação portuguesa, uma parte das necessidades
de consumo, e estou a falar das AQS (águas quentes
sanitárias) obrigatoriamente já têm que ter origem
solar ou seja, uma contribuição renovável. Neste
momento os edifícios novos residenciais têm o solar
como obrigatório.
Estamos a falar do RCCTE mas e se falarmos dos
NZEB num conceito mais alargado?
HG: Eu quis dar esta nota para destacar que nós até
já temos na nossa actual legislação esse conceito
incorporado. Nuns casos pode ter um valor significativo, noutros não.
O que significa que temos um bom RCCTE?
HG: Temos um RCCTE capaz de contabilizar já a contribuição das renováveis. Isto para não partirmos do
princípio de que estamos a criar a pólvora e que é
tudo novo de raiz. Nós temos uma legislação que
do ponto de vista da sua estrutura pode permitir a
evolução para os chamados NZEB.
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E que são o quê? O que é que se pretende com
estes NZEB?
HG: Para os “net zero energy buildings”, a sua tradução
literal aponta para edifícios de balanço zero.
Sabemos que não é fácil consegui-los, sobretudo
nos edifícios de serviços.
HG: Depende do edifício. Ser possível é. Temos uma
série de casos em todo o mundo que estão a ser estudados e a Laura e o Daniel estão muito empenhados
nisso. Estão a ser estudados casos de edifícios com
essas características nos países que participam neste
grupo da Agência Internacional da Energia, onde o
LNEG e a Universidade Nova de Lisboa colaboram. E
estamos a falar de edifícios residenciais e de serviços,
pequenos, grandes etc..
Estamos a falar de um edifício com balanço zero
mas onde existem necessidades e consumos energéticos.
Daniel Aelenei (DA): A tradução do “nearly zeroenergy building” para “edifício com necessidades
quase nulas de energia” (Art. 2.º da revisão EPBD)
pode provocar alguma confusão na interpretação
porque o que está em causa é um balanço energético
anual entre necessidades e produção.
Laura Aelenei (LA): Os NZEB existem, têm necessidades energéticas, e através da incorporação de sistemas
de energias renováveis, conseguem satisfazer ou
compensar esses consumos na totalidade ou quase.
É esta a sua definição correcta.
Essa é outra questão. Podemos ter um edifício
altamente consumidor mas se tivermos sistemas
renováveis que respondam e compensem esses
gastos, temos na mesma um NZEB?
HG: Essa questão é fundamental. A própria Directiva
Daniel Aelenei,
Hélder Gonçalves
Laura Aelenei
esclarece esse aspecto. Nós não podemos pegar num
edifício como hoje se constrói e querer à força que o
edifício seja “net” ou “nearly zero energy building”. Os
documentos legislativos que temos hoje apontam-nos
para necessidades energéticas tão grandes que não
faz sentido irmos colmatar essas necessidades com
renováveis. Ou seja, actualmente estamos a carregar os
edifícios com sistemas altamente consumidores e não
é possível balançar estas necessidades com sistemas
renováveis. Temos que começar por reduzir as necessidades energéticas dos edifícios. Este tem que ser o
primeiro passo. E a Directiva diz isso quando refere a
necessidade de serem revistos os requisitos.
A Directiva fala num edifício “com um desempenho
energético muito elevado em que as necessidade
de energia quase nulas ou muito pequenas deverão
ser cobertas por renováveis”. Mas estes “nearly
zero” e “desempenhos energéticos elevados” não
são definidos na Directiva e a sua interpretação
passa para os Estados-Membros. Não estamos aqui
a criar um problema?
HG: Começa a haver um consenso em relação aos
limites e aos requisitos máximos. Começam a existir
quase que valores padronizados nesta nossa comunidade científica europeia. Estamos a falar de 50 ou
60KWh/m2ano? Ou estamos a falar de 15kWh/m2ano?
Todos os EM têm que fazer esses estudos. Os EM têm
que determinar que face às suas condições tipológicas
de construção, o seu clima...
LA: Há vários parâmetros condicionantes. A parte económica, o clima... Eu duvido que este conceito tenha
valores rigorosamente iguais para todos os países.
Existem trabalhos em conjunto mas há liberdade
para cada EM definir os seus limites?
HG: Cada EM vai fazer o seu plano de acção e isso é
muito claro. Existem acções muito grandes conjuntas
como é o caso da “Concerted Action” da EPBD que
junta os 27 EM onde se discutem estas questões
metodológicas e há representantes nacionais que
participam nestes trabalhos, que são coordenados
pela na pessoas do professor Eduardo Maldonado
onde se discutem os limites, os parâmetros, etc.. Estas
questões mais metodológicas e formais são discutidas.
Do ponto de vista institucional, cada EM tem que
apresentar o seu estudo e dizer no nosso plano a que
é que corresponde o edifício quase zero.
Existe alguma definição ou aproximação nesta nova
revisão da Regulamentação Térmica (RT) que se
espera que saia em breve?
HG: Não. Esta regulamentação está na sequência
destes conceitos. Os EM têm que rever os seus valores e Portugal já perspectiva este caminho na sua
legislação.
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de crise grande e quando todo este processo começou a ser desenhado foi noutro contexto e nós hoje
vemos que os estudos feitos a pedido da CE indicam
que o “quase” é qualquer coisa que anda entre os
60 a 90% e portanto há que afinar este aspecto. E
há outros factores que os países estão a entender
de forma diferente.
Como por exemplo?
HG: O que estamos a quantificar em termos de necessidades energéticas? Ou seja, para a Europa Central há
consenso porque têm que ter aquecimento ambiente
todo o tempo, ventilação e AQS.
DA: No caso do residencial…
HG: Nós, países do sul, temos uma parte importante
para o arrefecimento, aquecimento temos menos,
mas já há consumos adicionais. A iluminação entra?
E qual iluminação, a fixa ou a dos candeeiros? É aquilo
a que os ingleses chamam os consumos regulados.
Ou seja, só vai entrar neste balanço aquilo que são
os consumos regulados.
LA: Em relação à definição dos NZEB, para além dos
parâmetros que já estão definidos na Directiva europeia, nomeadamente, o tipo de energia (primária)
e o período do balanço energético (anual), há outros
que ainda necessitam de serem decididos, como por
“Os NZEB existem, têm necessidades energéticas, e através da incorporação de
sistemas de energias renováveis, conseguem satisfazer ou compensar esses
consumos na totalidade ou quase”.
Mas a nova Directiva está na base na nossa revisão
da legislação, da nova RT.
HG: Os NZEB não têm que lá estar neste momento. O
que a Directiva diz é que, a partir de 2020, os novos
edifícios precisam de ser NZEB e até lá os EM vão
ter que definir e escrever na legislação o que é que
entendem como “quase” zero.
A metodologia de custo óptimo que já foi apresentada por Bruxelas...
HG: Exactamente.
DA: Existe ainda muita coisa a definir e a questão
económica é fundamental.
De qualquer forma ainda estamos nessa fase e a
nova RT não fala dos NZEB.
HG: Mas não está alheia ao conceito. A legislação que
está em preparação não vai definir o que são os NZEB
e nenhum EM vai fazê-lo neste momento. Há uma
identificação de um caminho para os NZEB. Portanto
a primeira questão tem a ver com os requisitos e
parâmetros. Eu defendi nesta comissão de revisão
que não deveríamos fazer uma definição exaustiva
sobre o que é o NZEB porque estamos a caminhar
para algo que não está consolidado entre os EM. Há
a questão do custo óptimo. Estamos num momento
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exemplo, os itens do balanço do lado das necessidades
(energia para aquecimento, arrefecimento, AQS, etc.)
e os itens do lado da produção (energia produzida no
local e/ou nas proximidades).
E tendo em conta que mais de 60% da nossa electricidade já é renovável, saber se este factor é tido
em conta...
LA: Exactamente. De acordo com as estatísticas recentes, aproximadamente 50% da energia eléctrica
é produzida a partir de fontes renováveis.
HG: Temos meses em que é 60%, outros 70%.
LA: Essas são questões que os EM têm que definir,
ou seja, se a energia renovável fornecida pela rede
pode ser considerada no balanço energético dos NZEB
ou não.
Quem está a fazer esse trabalho em Portugal?
HG: Naturalmente são as instituições que estão envolvidas na RT mas institucionalmente quem tem que
dar o passo é a DGEG (Direcção Geral de Energia e
Geologia), que terá que comunicar com Bruxelas e
fazer esta interacção.
Mas ficou por esclarecer um aspecto importante
para evitar confusão nas pessoas. A Directiva, nomeadamente quanto ao espírito em que foi escrita
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de pensar na questão dos transportes ou uma rede
para alimentar os carros no estacionamento da sua
habitação? Há um projecto dinamarquês que tem
todas as contas feitas nesse sentido e que já está
concluído onde no balanço é contabilizada a energia
fornecida aos veículos eléctricos. No norte e centro
da Europa já havia uma tradição na utilização de
redes de aquecimento urbano e muitos dos bairros
funcionam com energia fornecida pela biomassa.
Aqui, por exemplo e com a integração de sistemas
fotovoltaico, como acontece na Alemanha e Áustria,
esses edifícios já conseguiram alcançar um balanço
energético positivo. Ou seja uma produção superior
às necessidades. E essa diferença é aproveitada para
outros fins.
HG: Este é um assunto ainda difícil para os EM, sobretudo agora pela nossa situação e indicadores económicos. Em 2018 os edifícios públicos deverão ter no
seu projecto de concepção/construção este conceito,
o que não é fácil.
“Na grande massa dos edifícios residenciais, 80% não vão ter intervenção. Nada vai
acontecer porque os milhões de habitantes não vão fazer nada nas suas casas”.
e em relação aos NZEB, podemos considerar que são
edifícios de baixo consumo energético. E sabemos
que no nosso sector residencial já são baixos. Aqui
há outra questão que tem a ver com os consumos
regulados de que os ingleses falam. Nós temos baixos
consumos porque a generalidade da população não
usa o aquecimento nem o arrefecimento. Temos um
défice de conforto muito grande. Se fizéssemos as
contas víamos que vivemos miseravelmente deste
ponto de vista. O que a Directiva diz é que é preciso
ter edifícios que garantindo as condições de conforto,
minimizem os consumos. E é neste espírito que isto
tem que ser visto.
Logo os edifícios muito consumidores caem fora
deste conceito.
HG: Esses edifícios, que são os de serviços e mais
problemáticos, vão ter muitas dificuldades para cumprirem este conceito.
Quando a Directiva foi escrita, falava em contribuições na proximidade do edifício. O que é a proximidade?
HG: Exactamente. O que é a proximidade? Existem
neste momento opiniões muito diversas nos EM. Os
holandesas dizem que a proximidade são 10km o
que significa que eu posso ter uma produção descentralizada de district heating (redes de aquecimento
urbano) a 10km e conto-a no balanço do meu edifício.
Os ingleses dizem que ainda têm melhor. Para eles
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tanto faz, é a rede nacional. Os noruegueses produzem 97% de energia eléctrica renovável e portanto
tudo o que vão buscar à rede eléctrica é renovável e
pode ser contabilizada. Os ingleses dizem que estão
a fazer um esforço nacional para colocarem electricidade renovável na rede e não a podem contabilizar?
Nós temos meses em que 70% da energia eléctrica
que consumimos já é renovável. A questão está em
saber porque é que devemos fazer um esforço extra para dinamizar sistemas locais se o país já está
comprometido com esse objectivo. Eu não estou
a defender esta visão. Apenas considero que são
questões importantes para discussão e que o decisor
político vai ter que ponderar embora não seja esse o
espírito da Directiva quando foi redigida. Os EM não
sabem bem como resolver estas questões mas vão
ter que o fazer a tempo para que em 2018 já tenham
edifícios nessas condições.
A tendência como exemplo a seguir aponta para
a descentralização da energia. Quase ao nível do
bairro, do condomínio. Algumas cidades já estão a
ajustar-se nesse sentido. Não será esta a lógica que
está na base dos NZEB?
DA: Existem países com tradição em projectos e casos
bem sucedidos nessa matéria, como a Áustria, Alemanha, etc.. Há quem tenha aproveitado este comboio
para dar um passo ainda maior. Em vez de incluirmos
no balanço os consumos associados ao aquecimento,
arrefecimento, AQS e iluminação, porque não havemos
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Mas provavelmente em 2018 haverá muito pouca
construção. Vamos ter que acelerar a reabilitação. A
criação deste conceito refere-se aos edifícios novos.
Os NZEB encaixam na reabilitação? Que desafios
1temos
11/04/18
a esse13:40
nível?
DA: A reabilitação energética pretende criar condições
que eventualmente não existiam na altura em que
os edifícios foram construídos e em que não havia
preocupações ao nível do conforto térmico, ou seja,
pretende aumentar os padrões de qualidade. Aqui,
terão que se ponderar as soluções técnicas e económicas possíveis para minimizar o défice de conforto
associado às questões da eficiência energética.
HG: A reabilitação tem factores muito específicos
que vão dificultar ainda mais a aplicação do conceito. Porque o layout já está definido mas isso leva a
que a reabilitação deva ser mais perspectivada ao
nível da eficiência energética do que na inclusão das
renováveis. Os parâmetros construtivos dos edifícios
que precisam de ser reabilitados, são muito débeis e
tudo o que tem a ver com o aumento da qualidade da
envolvente, quer opaca, quer os vãos envidraçados,
coberturas etc. têm que ser uma prioridade.
Temos que começar pela base.
HG: Exactamente. Preocupa-me mais estes aspectos
do que tentar perceber onde vou colocar os sistemas
em cima disto. Não faz sentido colocar sistemas se a
estrutura não estiver devidamente acautelada. Temos
que ponderar muito bem onde devem começar as
obrigações. Repare, o custo que as renováveis estão
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“Nós não podemos pegar num edifício como hoje se constrói e querer à força que
o edifício seja ‘net’ ou ‘nearly zero energy building’. Os documentos legislativos que
temos hoje apontam-nos para necessidades energéticas tão grandes que não faz
sentido irmos colmatar essas necessidades com renováveis”.
a ter para o país e como são repartidos entre as
partes. Tem que haver prudência e por isso é que,
ao contrário de várias pessoas, defendi que só para
2015 a 2016, quando estes assuntos estiverem mais
consolidados, estudos feitos etc. é que vale a pena
criarmos uma base sobre como vamos actuar. Não era
nada desejável definirmos para já o que deve ser o
nosso balanço. Fala-se em 60 a 70% mas os estudos
ainda estão por fazer e não sabemos quanto é que
isso custa. Uma coisa sei: o caminho será sempre
e em primeiro lugar via eficiência energética. Não
podemos começar pelo telhado.
fazíamos o cálculo para perceber se havia grandes
necessidades de aquecimento ou arrefecimento. Mas
sabemos que temos muitos casos em que podemos viver sem ar condicionado, por exemplo. O que
a nova metodologia vai permitir é dizer que esta
casa é suportável sem ar condicionado e portanto
esse valor das necessidades fica fora do balanço. A
compreensão que as pessoas têm do RCCTE é a de
que têm que existir sistemas, o que não é verdade.
Há edifícios que mesmo com boas de condições de
envolvente ainda precisam mais de aquecimento do
que de arrefecimento.
Mas a eficiência energética também é um conceito
alargado?
HG: Mas o nível que nós temos de ineficiência no
nosso país é gritante.
Quais são os nosso desafios perante estas metas?
HG: No que diz respeito à energia nos edifícios e nas
cidades, neste balanço todo, temos compromissos
com a UE.
E quando falamos em eficiência ou ineficiência
energética nos edifícios falamos em quê?
LA: Da qualidade da construção (envolvente), dos
sistemas e sua utilização.
HG: Grande parte do nosso parque edificado é muito
débil em termos de qualidade térmica e isso será um
dos aspectos a reforçar. O RCCTE fez isso e a nova RT
também. Mas estamos a falar a um nível que tem
mais a ver com o promotor, construtor, engenheiro ou
arquitecto. O novo RCCTE tem a possibilidade metodológica de não incluir sistemas no residencial. Antes
Andamos a reboque dos compromissos?
HG: Andamos e onde é mais fácil mexer é nos edifícios
novos mas estes também estão a acabar. O nosso
parque está muito degradado mas a reabilitação
ainda é ligeira. O foco deveria estar na reabilitação
da envolvente e pelo menos nas coberturas e vãos
envidraçados e por isso concordei muito com as medidas que foram apresentadas pela Adene para a janela
eficiente, etc.. Depois, temos aqueles sistemas que
todos usamos que são muito inocentes e onde pode
haver uma melhoria: águas quentes, substituição
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das caldeiras... Comecemos por aí. A grande questão
está nos edifícios de serviços existentes porque aqui
podemos estar a falar de centenas de MWh ou GW/h.
A escala é outra e aqui a falha foi grande. O SCE não
foi lá. É aí que está o maior desafio.
Mas em termos globais, o consumo no residencial
é muito superior ao dos serviços. Os serviços não
chegam a 20% do consumo global dos edifícios.
HG: Isso é verdade em termos numéricos globais. Mas
o que se passa é que na grande massa dos edifícios
residenciais, 80% não vão ter intervenção. Nada vai
acontecer porque os milhões de habitantes não vão
fazer nada nas suas casas.
Temos então que actuar onde é possível e rápido?
HG: E os edifícios de serviços representam esse potencial mesmo estando a falar em cerca de 14% do
consumo global. A industria já está estável ao nível
dos planos de racionalização energética.
Como poderia ser um NZEB português? Este edifício
Solar XXI é um caso feliz mas quase “irreal” pelas
condições que tem.
LA: Construir um edifício residencial ou um edifício
de serviços com o conceito dos NZEBs não é difícil e
nem tem que ser necessariamente caro. A questão
está na mudança de paradigma, na forma como se
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ventiladores estejam sempre a funcionar. Para os
holandeses isso é muito incómodo porque o ruído é constante. Vários colegas ingleses dizem que
acaba por ter um consumo significativo porque os
ventiladores não param de funcionar. Eu diria que há
soluções e soluções e temos que ter muito cuidado
em adoptá-las no nosso país. É possível sem grandes
exageros, no residencial, conceber e construir um
NZEB sem grande dificuldade e assumindo que o
NZEB é um edifício com poucas necessidades para
aquecimento e arrefecimento. Que as águas quentes
já consideramos que já são supridas pelo solar e ou
fazemos o balanço de um lado ou de outro mas é
razoavelmente fácil chegarmos a este conceito. Nos
edifícios de serviços, pelos seus ganhos internos e
outras dificuldades, vamos ter mais dificuldades
numa situação de verão.
DA: Concordo plenamente. Em relação ao residencial,
temos conhecimento de vários estudos desenvolvidos
por diferentes grupos de investigação e sediados ou
agregados a Universidades e de facto é relativamente
simples obtermos estas performances. E cá em Portugal também é simples por duas razões. Temos várias
vantagens porque beneficiamos de um clima ameno,
onde, com algumas excepções, os Invernos são pouco
rigorosos. A Passivhaus guia-nos para isolamentos
térmicos com espessuras de 30cm (exemplo da Suécia)
valores quase surreais para o nosso país. Por outro lado,
“Os parâmetros construtivos dos edifícios que precisam de ser reabilitados, são
muito débeis e tudo o que tem a ver com o aumento da qualidade da envolvente,
quer opaca, quer os vãos envidraçados, coberturas etc. têm que ser uma prioridade”.
olha para o edifício. O Edifício Solar XXI é um exemplo
de sucesso, conseguido através da conjugação de
soluções e estratégias integradas com uma utilização
consciente dos mesmos.
DA: Não há uma receita escondida ou universalmente
válida para todos os casos. Também não seria justo
dizer que cada caso é um caso. Há um conjunto de
soluções adequadas para um determinado tipo de
clima e padrão de utilização. Os edifícios são condicionados em função do local onde se encontram e o
enquadramento quanto à sua utilização (equipamentos
e pessoas).
O conceito Passivhaus alemão é uma solução entre
outras?
HG: A padronização muito rígida traz-me algum
desconforto. O Passivhaus alemão padroniza um
valor de 15KW/h/m2ano que é bom em termos de
fixação de objectivos mas as soluções que refere
podem não ser adequadas para todos os países.
Eu estive agora em Inglaterra e esse foi um dos
pontos abordados e a recuperação de calor do ar
de exaustão desta solução alemã obriga a que os
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temos um grande potencial para o aproveitamento
da energia solar e da ventilação natural. Um edifício
passivo deverá sempre aproveitar essas valências e
não há razão para não o fazer: aproveitar a radiação
solar para o aquecimento passivo e a ventilação natural
para o arrefecimento passivo.
A trigeração solar é uma solução? Estamos perto?
HG: Não estamos ainda perto ao ponto de dizer que se
vai generalizar. A oferta e procura determina muito a
oferta tecnológica e provavelmente ainda não chegou
a hora de termos produção de calor, frio e electricidade
através do solar. Temos um potencial de melhoria
de eficiência energética porque o que gastamos na
Europa só em desperdícios é enorme. Uma parte tem
a ver com os comportamentos das pessoas que não
são eficientes. O desperdício é a parte mais visível
da ineficiência energética e é uma componente difícil
porque mexe connosco, com milhões de pessoas.
Outro aspecto é a ineficiência dos sistemas de gestão
nos edifícios de serviços. Os sistemas centralizados
de gestão de energia dos edifícios são uma peça
fundamental na eficiência energética. Se as pessoas
não actuam têm que entrar em funcionamento
os “building energy management “ e é aqui que
se pode poupar muito.
Talvez estejam já criadas as condições para as
pessoas ponderarem os seus comportamentos
energéticos. A factura da energia é muito grande
para as famílias.
HG: Eu tenho algumas dúvidas. Somos um país
muito particular e em termos de custos energéticos, se perguntar às famílias, e vimos isso num
inquérito recente, o que gastamos em energia
é muito pouco. Eu estive numa apresentação
de uma tese de mestrado e um dos trabalhos
mostrava que uma família no Porto gasta umas
dezenas de euros por mês. Não estou a generalizar, mas umas dezenas de euros não têm
significado. Os resultados deste estudo nacional
mostram que as famílias gastam mais energia
em transportes do que energia na habitação, o
que é uma coisa extraordinária.
Mas isso é porque não “ligam” o aquecimento
numa lógica de poupança.
HG: Gastamos muito pouco em energia nas habitações.
DA: É só fazer as contas e ponderar os gastos com
os transportes (gasolina ou gasóleo consumido
pelo carro) juntamente com as facturas de gás
e electricidade.
HG: É por isso que sou um pouco céptico quando
digo que vai acontecer muito pouca coisa na reabilitação energética no sector residencial. Estes
sinais dizem-nos que as famílias não dão valor a
estas mudanças e possíveis melhoramentos.
Não seria mais fácil se as pessoas soubessem,
como nos outros países, o que estão a gastar
realmente. Ou seja, hoje ninguém sabe qual
a fatia para o aquecimento, arrefecimento,
electricidade, águas quentes...
HG: Parecia-me muito importante diferenciar
esses usos de energia. Em Inglaterra toda a gente
sabe até porque ligam o calor em Setembro e só
desligam em Março do ano seguinte.
DA: Estamos a falar de coisas diferentes mas
repare que na maioria das habitações quando a
factura com águas quentes sanitárias é da ordem
de dezenas de euros, torna-se muito difícil promover o investimento num sistema solar térmico.
Deveria existir uma maior intervenção do Estado
ao nível da sensibilização das pessoas para
além de incentivos?
HG: Antes disso deveria haver mecanismos para
percebermos o que se está a passar no mercado.
Depois da última medida para incentivar o solar
térmico que deixámos de ter informação. 
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Competência
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tecnologia. Equipa técnica
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