ENTREVISTA ENTREVISTA por RITA ASCENSO fotografia RICARDO POLÓNIO “Temos que começar por reduzir as necessidades energéticas dos edifícios” Hélder Gonçalves, Daniel Aelenei e Laura Aelenei integram o grupo de trabalho da Agência Internacional para a Energia (AIE) SHC Task 40 - ECBCS Annex 52, “Towards Net Zero Energy Solar Buildings”, cuja missão é estudar os edifícios de balanço energético nulo ou quase nulo, abordando entre outros aspectos, a definição do conceito e os métodos de concepção e demonstração associados. Uma conversa sobre o desafio dos NZEB e a nossa realidade. Quando se fala em NZEB existe alguma confusão sobre o conceito. A Directiva para os edifícios que os enquadra e obriga a partir de 2020 (novos) fala em “nearly zero energy buildings”. Mas existe outra designação que fala em “net zero energy buildings”. Não será preciso desmistificar este conceito no sentido em que é visto como algo futurista que ainda não se sabe muito bem o que é? Hélder Gonçalves (HG): Existe uma grande comunidade de académicos e investigadores (onde o Daniel, a Laura e eu nos incluímos) que está a debater este assunto. Em Portugal, os edifícios tal como se estão a construir hoje, de alguma maneira e até pode parecer surpreendente, já são ou conceptualmente caminham para o “nearly”, quase. Agora, não sabemos quando é esse “quase” porque, em termos da legislação portuguesa, uma parte das necessidades de consumo, e estou a falar das AQS (águas quentes sanitárias) obrigatoriamente já têm que ter origem solar ou seja, uma contribuição renovável. Neste momento os edifícios novos residenciais têm o solar como obrigatório. Estamos a falar do RCCTE mas e se falarmos dos NZEB num conceito mais alargado? HG: Eu quis dar esta nota para destacar que nós até já temos na nossa actual legislação esse conceito incorporado. Nuns casos pode ter um valor significativo, noutros não. O que significa que temos um bom RCCTE? HG: Temos um RCCTE capaz de contabilizar já a contribuição das renováveis. Isto para não partirmos do princípio de que estamos a criar a pólvora e que é tudo novo de raiz. Nós temos uma legislação que do ponto de vista da sua estrutura pode permitir a evolução para os chamados NZEB. 28 E que são o quê? O que é que se pretende com estes NZEB? HG: Para os “net zero energy buildings”, a sua tradução literal aponta para edifícios de balanço zero. Sabemos que não é fácil consegui-los, sobretudo nos edifícios de serviços. HG: Depende do edifício. Ser possível é. Temos uma série de casos em todo o mundo que estão a ser estudados e a Laura e o Daniel estão muito empenhados nisso. Estão a ser estudados casos de edifícios com essas características nos países que participam neste grupo da Agência Internacional da Energia, onde o LNEG e a Universidade Nova de Lisboa colaboram. E estamos a falar de edifícios residenciais e de serviços, pequenos, grandes etc.. Estamos a falar de um edifício com balanço zero mas onde existem necessidades e consumos energéticos. Daniel Aelenei (DA): A tradução do “nearly zeroenergy building” para “edifício com necessidades quase nulas de energia” (Art. 2.º da revisão EPBD) pode provocar alguma confusão na interpretação porque o que está em causa é um balanço energético anual entre necessidades e produção. Laura Aelenei (LA): Os NZEB existem, têm necessidades energéticas, e através da incorporação de sistemas de energias renováveis, conseguem satisfazer ou compensar esses consumos na totalidade ou quase. É esta a sua definição correcta. Essa é outra questão. Podemos ter um edifício altamente consumidor mas se tivermos sistemas renováveis que respondam e compensem esses gastos, temos na mesma um NZEB? HG: Essa questão é fundamental. A própria Directiva Daniel Aelenei, Hélder Gonçalves Laura Aelenei esclarece esse aspecto. Nós não podemos pegar num edifício como hoje se constrói e querer à força que o edifício seja “net” ou “nearly zero energy building”. Os documentos legislativos que temos hoje apontam-nos para necessidades energéticas tão grandes que não faz sentido irmos colmatar essas necessidades com renováveis. Ou seja, actualmente estamos a carregar os edifícios com sistemas altamente consumidores e não é possível balançar estas necessidades com sistemas renováveis. Temos que começar por reduzir as necessidades energéticas dos edifícios. Este tem que ser o primeiro passo. E a Directiva diz isso quando refere a necessidade de serem revistos os requisitos. A Directiva fala num edifício “com um desempenho energético muito elevado em que as necessidade de energia quase nulas ou muito pequenas deverão ser cobertas por renováveis”. Mas estes “nearly zero” e “desempenhos energéticos elevados” não são definidos na Directiva e a sua interpretação passa para os Estados-Membros. Não estamos aqui a criar um problema? HG: Começa a haver um consenso em relação aos limites e aos requisitos máximos. Começam a existir quase que valores padronizados nesta nossa comunidade científica europeia. Estamos a falar de 50 ou 60KWh/m2ano? Ou estamos a falar de 15kWh/m2ano? Todos os EM têm que fazer esses estudos. Os EM têm que determinar que face às suas condições tipológicas de construção, o seu clima... LA: Há vários parâmetros condicionantes. A parte económica, o clima... Eu duvido que este conceito tenha valores rigorosamente iguais para todos os países. Existem trabalhos em conjunto mas há liberdade para cada EM definir os seus limites? HG: Cada EM vai fazer o seu plano de acção e isso é muito claro. Existem acções muito grandes conjuntas como é o caso da “Concerted Action” da EPBD que junta os 27 EM onde se discutem estas questões metodológicas e há representantes nacionais que participam nestes trabalhos, que são coordenados pela na pessoas do professor Eduardo Maldonado onde se discutem os limites, os parâmetros, etc.. Estas questões mais metodológicas e formais são discutidas. Do ponto de vista institucional, cada EM tem que apresentar o seu estudo e dizer no nosso plano a que é que corresponde o edifício quase zero. Existe alguma definição ou aproximação nesta nova revisão da Regulamentação Térmica (RT) que se espera que saia em breve? HG: Não. Esta regulamentação está na sequência destes conceitos. Os EM têm que rever os seus valores e Portugal já perspectiva este caminho na sua legislação. 29 ENTREVISTA de crise grande e quando todo este processo começou a ser desenhado foi noutro contexto e nós hoje vemos que os estudos feitos a pedido da CE indicam que o “quase” é qualquer coisa que anda entre os 60 a 90% e portanto há que afinar este aspecto. E há outros factores que os países estão a entender de forma diferente. Como por exemplo? HG: O que estamos a quantificar em termos de necessidades energéticas? Ou seja, para a Europa Central há consenso porque têm que ter aquecimento ambiente todo o tempo, ventilação e AQS. DA: No caso do residencial… HG: Nós, países do sul, temos uma parte importante para o arrefecimento, aquecimento temos menos, mas já há consumos adicionais. A iluminação entra? E qual iluminação, a fixa ou a dos candeeiros? É aquilo a que os ingleses chamam os consumos regulados. Ou seja, só vai entrar neste balanço aquilo que são os consumos regulados. LA: Em relação à definição dos NZEB, para além dos parâmetros que já estão definidos na Directiva europeia, nomeadamente, o tipo de energia (primária) e o período do balanço energético (anual), há outros que ainda necessitam de serem decididos, como por “Os NZEB existem, têm necessidades energéticas, e através da incorporação de sistemas de energias renováveis, conseguem satisfazer ou compensar esses consumos na totalidade ou quase”. Mas a nova Directiva está na base na nossa revisão da legislação, da nova RT. HG: Os NZEB não têm que lá estar neste momento. O que a Directiva diz é que, a partir de 2020, os novos edifícios precisam de ser NZEB e até lá os EM vão ter que definir e escrever na legislação o que é que entendem como “quase” zero. A metodologia de custo óptimo que já foi apresentada por Bruxelas... HG: Exactamente. DA: Existe ainda muita coisa a definir e a questão económica é fundamental. De qualquer forma ainda estamos nessa fase e a nova RT não fala dos NZEB. HG: Mas não está alheia ao conceito. A legislação que está em preparação não vai definir o que são os NZEB e nenhum EM vai fazê-lo neste momento. Há uma identificação de um caminho para os NZEB. Portanto a primeira questão tem a ver com os requisitos e parâmetros. Eu defendi nesta comissão de revisão que não deveríamos fazer uma definição exaustiva sobre o que é o NZEB porque estamos a caminhar para algo que não está consolidado entre os EM. Há a questão do custo óptimo. Estamos num momento 30 exemplo, os itens do balanço do lado das necessidades (energia para aquecimento, arrefecimento, AQS, etc.) e os itens do lado da produção (energia produzida no local e/ou nas proximidades). E tendo em conta que mais de 60% da nossa electricidade já é renovável, saber se este factor é tido em conta... LA: Exactamente. De acordo com as estatísticas recentes, aproximadamente 50% da energia eléctrica é produzida a partir de fontes renováveis. HG: Temos meses em que é 60%, outros 70%. LA: Essas são questões que os EM têm que definir, ou seja, se a energia renovável fornecida pela rede pode ser considerada no balanço energético dos NZEB ou não. Quem está a fazer esse trabalho em Portugal? HG: Naturalmente são as instituições que estão envolvidas na RT mas institucionalmente quem tem que dar o passo é a DGEG (Direcção Geral de Energia e Geologia), que terá que comunicar com Bruxelas e fazer esta interacção. Mas ficou por esclarecer um aspecto importante para evitar confusão nas pessoas. A Directiva, nomeadamente quanto ao espírito em que foi escrita ENTREVISTA ENTREVISTA de pensar na questão dos transportes ou uma rede para alimentar os carros no estacionamento da sua habitação? Há um projecto dinamarquês que tem todas as contas feitas nesse sentido e que já está concluído onde no balanço é contabilizada a energia fornecida aos veículos eléctricos. No norte e centro da Europa já havia uma tradição na utilização de redes de aquecimento urbano e muitos dos bairros funcionam com energia fornecida pela biomassa. Aqui, por exemplo e com a integração de sistemas fotovoltaico, como acontece na Alemanha e Áustria, esses edifícios já conseguiram alcançar um balanço energético positivo. Ou seja uma produção superior às necessidades. E essa diferença é aproveitada para outros fins. HG: Este é um assunto ainda difícil para os EM, sobretudo agora pela nossa situação e indicadores económicos. Em 2018 os edifícios públicos deverão ter no seu projecto de concepção/construção este conceito, o que não é fácil. “Na grande massa dos edifícios residenciais, 80% não vão ter intervenção. Nada vai acontecer porque os milhões de habitantes não vão fazer nada nas suas casas”. e em relação aos NZEB, podemos considerar que são edifícios de baixo consumo energético. E sabemos que no nosso sector residencial já são baixos. Aqui há outra questão que tem a ver com os consumos regulados de que os ingleses falam. Nós temos baixos consumos porque a generalidade da população não usa o aquecimento nem o arrefecimento. Temos um défice de conforto muito grande. Se fizéssemos as contas víamos que vivemos miseravelmente deste ponto de vista. O que a Directiva diz é que é preciso ter edifícios que garantindo as condições de conforto, minimizem os consumos. E é neste espírito que isto tem que ser visto. Logo os edifícios muito consumidores caem fora deste conceito. HG: Esses edifícios, que são os de serviços e mais problemáticos, vão ter muitas dificuldades para cumprirem este conceito. Quando a Directiva foi escrita, falava em contribuições na proximidade do edifício. O que é a proximidade? HG: Exactamente. O que é a proximidade? Existem neste momento opiniões muito diversas nos EM. Os holandesas dizem que a proximidade são 10km o que significa que eu posso ter uma produção descentralizada de district heating (redes de aquecimento urbano) a 10km e conto-a no balanço do meu edifício. Os ingleses dizem que ainda têm melhor. Para eles 32 tanto faz, é a rede nacional. Os noruegueses produzem 97% de energia eléctrica renovável e portanto tudo o que vão buscar à rede eléctrica é renovável e pode ser contabilizada. Os ingleses dizem que estão a fazer um esforço nacional para colocarem electricidade renovável na rede e não a podem contabilizar? Nós temos meses em que 70% da energia eléctrica que consumimos já é renovável. A questão está em saber porque é que devemos fazer um esforço extra para dinamizar sistemas locais se o país já está comprometido com esse objectivo. Eu não estou a defender esta visão. Apenas considero que são questões importantes para discussão e que o decisor político vai ter que ponderar embora não seja esse o espírito da Directiva quando foi redigida. Os EM não sabem bem como resolver estas questões mas vão ter que o fazer a tempo para que em 2018 já tenham edifícios nessas condições. A tendência como exemplo a seguir aponta para a descentralização da energia. Quase ao nível do bairro, do condomínio. Algumas cidades já estão a ajustar-se nesse sentido. Não será esta a lógica que está na base dos NZEB? DA: Existem países com tradição em projectos e casos bem sucedidos nessa matéria, como a Áustria, Alemanha, etc.. Há quem tenha aproveitado este comboio para dar um passo ainda maior. Em vez de incluirmos no balanço os consumos associados ao aquecimento, arrefecimento, AQS e iluminação, porque não havemos anuncioA5.pt..pdf C M Y CM MY CY CMY K Mas provavelmente em 2018 haverá muito pouca construção. Vamos ter que acelerar a reabilitação. A criação deste conceito refere-se aos edifícios novos. Os NZEB encaixam na reabilitação? Que desafios 1temos 11/04/18 a esse13:40 nível? DA: A reabilitação energética pretende criar condições que eventualmente não existiam na altura em que os edifícios foram construídos e em que não havia preocupações ao nível do conforto térmico, ou seja, pretende aumentar os padrões de qualidade. Aqui, terão que se ponderar as soluções técnicas e económicas possíveis para minimizar o défice de conforto associado às questões da eficiência energética. HG: A reabilitação tem factores muito específicos que vão dificultar ainda mais a aplicação do conceito. Porque o layout já está definido mas isso leva a que a reabilitação deva ser mais perspectivada ao nível da eficiência energética do que na inclusão das renováveis. Os parâmetros construtivos dos edifícios que precisam de ser reabilitados, são muito débeis e tudo o que tem a ver com o aumento da qualidade da envolvente, quer opaca, quer os vãos envidraçados, coberturas etc. têm que ser uma prioridade. Temos que começar pela base. HG: Exactamente. Preocupa-me mais estes aspectos do que tentar perceber onde vou colocar os sistemas em cima disto. Não faz sentido colocar sistemas se a estrutura não estiver devidamente acautelada. Temos que ponderar muito bem onde devem começar as obrigações. Repare, o custo que as renováveis estão ENTREVISTA ENTREVISTA “Nós não podemos pegar num edifício como hoje se constrói e querer à força que o edifício seja ‘net’ ou ‘nearly zero energy building’. Os documentos legislativos que temos hoje apontam-nos para necessidades energéticas tão grandes que não faz sentido irmos colmatar essas necessidades com renováveis”. a ter para o país e como são repartidos entre as partes. Tem que haver prudência e por isso é que, ao contrário de várias pessoas, defendi que só para 2015 a 2016, quando estes assuntos estiverem mais consolidados, estudos feitos etc. é que vale a pena criarmos uma base sobre como vamos actuar. Não era nada desejável definirmos para já o que deve ser o nosso balanço. Fala-se em 60 a 70% mas os estudos ainda estão por fazer e não sabemos quanto é que isso custa. Uma coisa sei: o caminho será sempre e em primeiro lugar via eficiência energética. Não podemos começar pelo telhado. fazíamos o cálculo para perceber se havia grandes necessidades de aquecimento ou arrefecimento. Mas sabemos que temos muitos casos em que podemos viver sem ar condicionado, por exemplo. O que a nova metodologia vai permitir é dizer que esta casa é suportável sem ar condicionado e portanto esse valor das necessidades fica fora do balanço. A compreensão que as pessoas têm do RCCTE é a de que têm que existir sistemas, o que não é verdade. Há edifícios que mesmo com boas de condições de envolvente ainda precisam mais de aquecimento do que de arrefecimento. Mas a eficiência energética também é um conceito alargado? HG: Mas o nível que nós temos de ineficiência no nosso país é gritante. Quais são os nosso desafios perante estas metas? HG: No que diz respeito à energia nos edifícios e nas cidades, neste balanço todo, temos compromissos com a UE. E quando falamos em eficiência ou ineficiência energética nos edifícios falamos em quê? LA: Da qualidade da construção (envolvente), dos sistemas e sua utilização. HG: Grande parte do nosso parque edificado é muito débil em termos de qualidade térmica e isso será um dos aspectos a reforçar. O RCCTE fez isso e a nova RT também. Mas estamos a falar a um nível que tem mais a ver com o promotor, construtor, engenheiro ou arquitecto. O novo RCCTE tem a possibilidade metodológica de não incluir sistemas no residencial. Antes Andamos a reboque dos compromissos? HG: Andamos e onde é mais fácil mexer é nos edifícios novos mas estes também estão a acabar. O nosso parque está muito degradado mas a reabilitação ainda é ligeira. O foco deveria estar na reabilitação da envolvente e pelo menos nas coberturas e vãos envidraçados e por isso concordei muito com as medidas que foram apresentadas pela Adene para a janela eficiente, etc.. Depois, temos aqueles sistemas que todos usamos que são muito inocentes e onde pode haver uma melhoria: águas quentes, substituição 34 35 ENTREVISTA das caldeiras... Comecemos por aí. A grande questão está nos edifícios de serviços existentes porque aqui podemos estar a falar de centenas de MWh ou GW/h. A escala é outra e aqui a falha foi grande. O SCE não foi lá. É aí que está o maior desafio. Mas em termos globais, o consumo no residencial é muito superior ao dos serviços. Os serviços não chegam a 20% do consumo global dos edifícios. HG: Isso é verdade em termos numéricos globais. Mas o que se passa é que na grande massa dos edifícios residenciais, 80% não vão ter intervenção. Nada vai acontecer porque os milhões de habitantes não vão fazer nada nas suas casas. Temos então que actuar onde é possível e rápido? HG: E os edifícios de serviços representam esse potencial mesmo estando a falar em cerca de 14% do consumo global. A industria já está estável ao nível dos planos de racionalização energética. Como poderia ser um NZEB português? Este edifício Solar XXI é um caso feliz mas quase “irreal” pelas condições que tem. LA: Construir um edifício residencial ou um edifício de serviços com o conceito dos NZEBs não é difícil e nem tem que ser necessariamente caro. A questão está na mudança de paradigma, na forma como se ENTREVISTA ventiladores estejam sempre a funcionar. Para os holandeses isso é muito incómodo porque o ruído é constante. Vários colegas ingleses dizem que acaba por ter um consumo significativo porque os ventiladores não param de funcionar. Eu diria que há soluções e soluções e temos que ter muito cuidado em adoptá-las no nosso país. É possível sem grandes exageros, no residencial, conceber e construir um NZEB sem grande dificuldade e assumindo que o NZEB é um edifício com poucas necessidades para aquecimento e arrefecimento. Que as águas quentes já consideramos que já são supridas pelo solar e ou fazemos o balanço de um lado ou de outro mas é razoavelmente fácil chegarmos a este conceito. Nos edifícios de serviços, pelos seus ganhos internos e outras dificuldades, vamos ter mais dificuldades numa situação de verão. DA: Concordo plenamente. Em relação ao residencial, temos conhecimento de vários estudos desenvolvidos por diferentes grupos de investigação e sediados ou agregados a Universidades e de facto é relativamente simples obtermos estas performances. E cá em Portugal também é simples por duas razões. Temos várias vantagens porque beneficiamos de um clima ameno, onde, com algumas excepções, os Invernos são pouco rigorosos. A Passivhaus guia-nos para isolamentos térmicos com espessuras de 30cm (exemplo da Suécia) valores quase surreais para o nosso país. Por outro lado, “Os parâmetros construtivos dos edifícios que precisam de ser reabilitados, são muito débeis e tudo o que tem a ver com o aumento da qualidade da envolvente, quer opaca, quer os vãos envidraçados, coberturas etc. têm que ser uma prioridade”. olha para o edifício. O Edifício Solar XXI é um exemplo de sucesso, conseguido através da conjugação de soluções e estratégias integradas com uma utilização consciente dos mesmos. DA: Não há uma receita escondida ou universalmente válida para todos os casos. Também não seria justo dizer que cada caso é um caso. Há um conjunto de soluções adequadas para um determinado tipo de clima e padrão de utilização. Os edifícios são condicionados em função do local onde se encontram e o enquadramento quanto à sua utilização (equipamentos e pessoas). O conceito Passivhaus alemão é uma solução entre outras? HG: A padronização muito rígida traz-me algum desconforto. O Passivhaus alemão padroniza um valor de 15KW/h/m2ano que é bom em termos de fixação de objectivos mas as soluções que refere podem não ser adequadas para todos os países. Eu estive agora em Inglaterra e esse foi um dos pontos abordados e a recuperação de calor do ar de exaustão desta solução alemã obriga a que os 36 temos um grande potencial para o aproveitamento da energia solar e da ventilação natural. Um edifício passivo deverá sempre aproveitar essas valências e não há razão para não o fazer: aproveitar a radiação solar para o aquecimento passivo e a ventilação natural para o arrefecimento passivo. A trigeração solar é uma solução? Estamos perto? HG: Não estamos ainda perto ao ponto de dizer que se vai generalizar. A oferta e procura determina muito a oferta tecnológica e provavelmente ainda não chegou a hora de termos produção de calor, frio e electricidade através do solar. Temos um potencial de melhoria de eficiência energética porque o que gastamos na Europa só em desperdícios é enorme. Uma parte tem a ver com os comportamentos das pessoas que não são eficientes. O desperdício é a parte mais visível da ineficiência energética e é uma componente difícil porque mexe connosco, com milhões de pessoas. Outro aspecto é a ineficiência dos sistemas de gestão nos edifícios de serviços. Os sistemas centralizados de gestão de energia dos edifícios são uma peça fundamental na eficiência energética. Se as pessoas não actuam têm que entrar em funcionamento os “building energy management “ e é aqui que se pode poupar muito. Talvez estejam já criadas as condições para as pessoas ponderarem os seus comportamentos energéticos. A factura da energia é muito grande para as famílias. HG: Eu tenho algumas dúvidas. Somos um país muito particular e em termos de custos energéticos, se perguntar às famílias, e vimos isso num inquérito recente, o que gastamos em energia é muito pouco. Eu estive numa apresentação de uma tese de mestrado e um dos trabalhos mostrava que uma família no Porto gasta umas dezenas de euros por mês. Não estou a generalizar, mas umas dezenas de euros não têm significado. Os resultados deste estudo nacional mostram que as famílias gastam mais energia em transportes do que energia na habitação, o que é uma coisa extraordinária. Mas isso é porque não “ligam” o aquecimento numa lógica de poupança. HG: Gastamos muito pouco em energia nas habitações. DA: É só fazer as contas e ponderar os gastos com os transportes (gasolina ou gasóleo consumido pelo carro) juntamente com as facturas de gás e electricidade. HG: É por isso que sou um pouco céptico quando digo que vai acontecer muito pouca coisa na reabilitação energética no sector residencial. Estes sinais dizem-nos que as famílias não dão valor a estas mudanças e possíveis melhoramentos. Não seria mais fácil se as pessoas soubessem, como nos outros países, o que estão a gastar realmente. Ou seja, hoje ninguém sabe qual a fatia para o aquecimento, arrefecimento, electricidade, águas quentes... HG: Parecia-me muito importante diferenciar esses usos de energia. Em Inglaterra toda a gente sabe até porque ligam o calor em Setembro e só desligam em Março do ano seguinte. DA: Estamos a falar de coisas diferentes mas repare que na maioria das habitações quando a factura com águas quentes sanitárias é da ordem de dezenas de euros, torna-se muito difícil promover o investimento num sistema solar térmico. Deveria existir uma maior intervenção do Estado ao nível da sensibilização das pessoas para além de incentivos? HG: Antes disso deveria haver mecanismos para percebermos o que se está a passar no mercado. Depois da última medida para incentivar o solar térmico que deixámos de ter informação. Qualidade e Competência Campanha de lançamento para as novas gamas: Sistemas solares de alta tecnologia. Equipa técnica com 30 anos de experiência. Sistemas para Água Quentes, Aquecimento Central, Piscinas, Ar-condicionado. Energia Solar para usos : Domésticos, Hotelaria, Industriais. C U ID A R D O FU TU RO Uma empresa do grupo Vajra Novo site da Rigsun Com as certificações: SOLAR KEYMARK ECONÓMICA E AMIGA DO AMBIENTE Usufrua de uma energia limpa e inesgotável. Poupe dinheiro com a utilização da energia solar térmica 37 Conforis, Lda. - Lot. Industrial de Loulé, Lote 39, 8100-272 Loulé Tel: 289 401 040 Fax: 289 432 357 [email protected] | www.rigsun.pt