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RESUMO: O presente estudo tem como objetivo relatar a experiência da utilização da visita
domiciliar como um instrumento para promover a educação em saúde junto a adolescentes
grávidas, multi e/ou primigestas. As ações foram desempenhadas com seis gestantes da área
de abrangência da UBSF Dr. José Fernandes de Melo em Mossoró-RN. Cada gestante
recebeu uma visita quinzenalmente, sendo totalizadas quatro visitas por gestante durante o
período de execução desse projeto. A educação em saúde durante a visita domiciliar mostrouse como um instrumento que contribuiu para a abordagem integral da saúde das gestantes e
suas famílias, em que foi possível observar o contexto social, econômico e cultural e a
dinâmica do funcionamento familiar a fim de discutir decisões para uma vida mais saudável.
Conclui-se, dessa forma, que a educação em saúde na visita domiciliar é de fundamental
importância para o serviço de saúde, em especial, para UBSF, sendo imperativa a participação
de cada profissional que a compõe.
Descritores: Gestantes; Educação em Saúde; Visita Domiciliar.
RESUMEN: El presente estudio tiene como objetivo describir el uso de las visitas a domicilio
como una herramienta para promover la educación para la salud entre las adolescentes
embarazadas, múltiples y / o embarazo en primer lugar. Las acciones se llevaron a cabo con
seis madres de la zona cubierta por el UBSF José Fernandes de Melo en Mossoró-RN. Cada
mujer embarazada tiene una visita cada dos semanas, por un total de cuatro visitas por
embarazada durante la ejecución de este proyecto. Educación para la salud durante las visitas
domiciliarias demostrado ser un instrumento que ha contribuido al enfoque integral de la
salud de las mujeres embarazadas y sus familias, fue posible observar la dinámica social,
económica y cultural de funcionamiento de la familia y para discutir las decisiones para una
vida más sana. Concluimos, por tanto, que la educación sanitaria en la visita a la casa es de
fundamental importancia para el servicio de salud, especialmente para UBSF, la participación
es imprescindible para todos los profesionales que lo componen.
Descriptores: Mujeres Embarazadas; Educación en Salud; Visita Domiciliaria.
ABSTRACT: The present study aims at describing the use of home visits as a tool to promote
health education among the pregnant adolescents, Multiple and / or first pregnancy. The
actions were carried out with six mothers in the area covered by the UBSF José Fernandes de
Melo in Mossoró-RN. Each pregnant woman had a visit every two weeks, and totaled four
visits per pregnant woman during the execution of this project. Health education during home
visits proved to be an instrument that contributed to the comprehensive approach to health of
pregnant women and their families, it was possible to observe the social, economic and
cultural dynamics of family functioning and to discuss decisions for a healthier life. We
conclude, therefore, that health education in the home visit is of fundamental importance for
the health service, especially for UBSF, participation is imperative that every professional
composes.
Descriptors: Pregnant Woman; Health Education; Home Visit.
INTRODUÇÃO
No Brasil, as políticas de saúde destinadas à mulher tiveram seu início nas primeiras
décadas do século XX. Nessa época, a atenção à saúde da mulher se voltava unicamente ao
2
bem-estar do processo reprodutivo, ou seja, ao acompanhamento das funções biológicas da
saúde materna.
Entretanto, em 1990, com a aprovação das leis orgânicas Nº 8.080 e 8.141 que
marcam a efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, muda-se o olhar sobre a
atenção à saúde, que se estende, então, para além da cura de agravos e da ênfase sobre os
aspectos biológicos, e a saúde passa a ser vista como um processo que também possui como
fatores condicionantes: a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais, 1
sendo os profissionais de saúde responsáveis por ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde.
Neste contexto de mudanças no Sistema de Saúde nacional, surge como espaço para se
trabalhar o novo olhar sobre a saúde, o Programa Saúde da Família (PSF), que tem por
objetivo atender ao indivíduo e a sua família de forma integral e contínua. Nesse espaço, os
sujeitos passam a ser entendidos a partir do ambiente em que vivem, sendo possível uma
compreensão ampliada do processo saúde-doença,
2
em que a mulher, por exemplo, é
apreendida em suas condições não só físico-biológicas, mas, sócio-culturais.
Mais adiante, surge também o Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento,
que buscava o resgate da atenção obstétrica integrada, qualificada e humanizada.
3
Nesse
âmbito, diante da necessidade de readequar a assistência à mulher em conformidade com as
novas políticas de saúde, resgata-se a educação em saúde, como uma ação que reorienta as
práticas executadas nos serviços de saúde, colaborando para a superação do biologicismo, da
desvalorização das iniciativas do doente e seus familiares e da imposição de medidas técnicas
restritas para problemas sociais globais, sendo um instrumento de construção de uma ação de
saúde integral e adequada à vida da população. 4
E, nesse foco de discussão acerca de práticas que podem colaborar para a revisão da
assistência voltada à mulher, apreende-se também a visita domiciliar, como um momento
fundamental para a realização da educação em saúde, sendo uma ação que propicia a
construção de vínculos, pois, favorece um ambiente e tempo emocional profícuo para um
atendimento mais humanizado, indo além das orientações, com intuito de promoção da saúde
e qualidade de vida das famílias. 5
Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência da vivência
da visita domiciliar como um instrumento para promover a educação em saúde junto a
adolescentes grávidas e/ou primigestas.
3
Escolhemos trabalhar com esses dois grupos de mulheres pelo fato da gestação ser
permeada de angústias, dúvidas, descobertas e pelos riscos inerentes a essa condição, gerados
não somente pelo fator idade, mas também, pela inexperiência em torno da condição
gestacional e por fatores psíquicos e sociais relevantes.
A gravidez na adolescência, no Brasil e nos países em desenvolvimento, é considerada
um risco social e, um grave problema de saúde pública, devido a problemas que dela
resultam: o abandono escolar, o risco durante a gravidez, em razão da não realização de um
pré-natal de qualidade, pelo fato de a adolescente esconder a gravidez ou os serviços de saúde
não estarem qualificados para tal assistência; conflitos familiares associados à confirmação da
gravidez; a discriminação social e; o afastamento dos grupos de sua convivência,
6
entre
outros.
Assim, concebemos que desenvolver a educação em saúde durante a visita domiciliar
possibilita trabalhar com esses dois grupos de mulheres, de forma preventiva e promocional,
possibilitando intervir juntamente com a família e o companheiro numa perspectiva de
atendimento integral e humanizado.
METODOLOGIA
O projeto de educação em saúde com adolescentes grávidas e/ou primigestas foi
desenvolvido a partir da disciplina Estágio em Prática de Ensino I, ministrada no 6º período
da Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, campus de
Mossoró.
As ações foram desempenhadas com o número de 06 (seis) gestantes, em que cada
uma recebeu uma visita quinzenalmente, sendo totalizadas 04 (quatro) visitas para cada
gestante durante o período de execução do projeto. As visitas foram realizadas no período
vespertino, em que houve mais aceitação das atividades pelas mulheres.
Na primeira visita foram feitas as devidas apresentações e discutidos os objetivos e as
datas das visitas, sendo aberto espaço para que cada gestante expusesse a sua opinião sobre os
encontros e os temas que elas gostariam que fossem abordados. Para isso, foi disponibilizada
uma caixa para as “Dúvidas na minha gestação”, onde elas poderiam colocar as dúvidas que
porventura surgissem entre as visitas. Além disso, foi preenchido um pequeno questionário
sócio-econômico, visando caracterizar as participantes.
Dessa forma, as temáticas foram surgindo de acordo com a idade gestacional e o
interesse da gestante. Foram abordados os temas: importância do aleitamento materno
4
exclusivo até os seis meses de vida do bebê; cuidados com os seios; preparo para o parto;
cuidados após o parto (incentivando o retorno ao serviço de saúde); cuidados com o recémnascido; planejamento familiar; atividade sexual durante a gestação; entre outros.
Para exposição de cada tema, utilizamos recursos, como: cartazes, slides e vídeos
exibidos através do datashow, bonecos e amostras de anticoncepcionais. Trabalhamos cada
temática a partir do conhecimento das gestantes sobre o assunto, desenvolvemos rodas de
conversa e construímos novos saberes que contribuíram para potencializar o processo de
ensino/aprendizagem dos atores envolvidos nessa dinâmica, ou seja, gestantes e suas famílias,
e os próprios acadêmicos.
RESULTADOS
Inicialmente, é necessário destacar a importância da articulação Universidade e
Serviço de Saúde, que viabiliza a problematização dos saberes apreendidos na Universidade,
os quais deverão permear as práticas do futuro profissional inserido nos serviços. A
integração ensino-serviço acontece a partir do trabalho coletivo, pactuado e integrado de
alunos e professores dos cursos da área da saúde com trabalhadores que compõem as equipes
dos serviços de saúde. 7
Com a articulação, foi possível a aproximação com o território e com os sujeitos
inseridos no mesmo, permitindo a visualização das principais necessidades de saúde que as
gestantes apresentavam para junto com elas, intervir de forma efetiva nas situações que
demandavam cuidado.
Percebeu-se o interesse dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) em trabalhar o
projeto junto com os discentes, desde o reconhecimento da área, planejamento das visitas, até
a contribuição com a troca de saberes promovida nos encontros. Com isso, houve o
fortalecimento do papel do ACS dentro da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) e o
reconhecimento da importância desse profissional. Os ACS tornaram-se co-partícipes das
ações, ficando evidenciada a importância dessa parceria, visto que foi a partir deles que
compreendemos as histórias de vida das gestantes e que se criou o vínculo com as mesmas.
A visita domiciliar mostrou-se como um instrumento que contribuiu para a abordagem
integral das gestantes e de suas famílias, tendo-se observado o contexto sócio econômico e
cultural da comunidade e a própria dinâmica familiar. Dessa forma, buscamos superar o
emprego da visita domiciliar como uma ferramenta restrita ao acompanhamento técnico de
5
situações específicas e reforçamos a visita domiciliar como uma importante ferramenta no
entendimento dos ciclos de vida que constituem aquela área de abrangência.
A educação em saúde mostrou-se como uma prática totalmente adequada à dinâmica
da visita domiciliar, devido ao seu caráter dialógico e com fins de emancipação do sujeito,
sendo ideal para a prática da prevenção e promoção à saúde.
As gestantes se mostraram interessadas e sempre participativas nos encontros, tendo
sido possível a criação de vínculos que ultrapassaram a abordagem dos assuntos programados.
Conforme
mencionado
anteriormente,
foi
realizada
uma
caracterização
socioeconômica das gestantes participantes (QUADRO 1).
G1
G2
G3
G4
G5
G6
Idade
19 anos
20 anos
17 anos
17 anos
15 anos
28 anos
Escolaridade
Sexto ano
Sexto ano
Sexto ano
Sexto ano
Sétimo ano
Ensino
médio
completo
Cômodos e
4 pessoas
6 pessoas
6 pessoas
3 pessoas
5 pessoas
4 pessoas
pessoas
em casa de
numa casa
numa casa
numa casa
numa casa
numa casa
residentes
1 quarto
de 2
de 1 quarto
de 1 quarto
de 2
de 2
quartos
quartos
quartos
Renda
280,00
1.100,00
560,00
420,00
510,00
622,00
Primigesta
3 gestações
3
Primigesta
Primigesta
Primigesta
(2
Gestações(1
filhos(a))
Aborto, 1
Familiar
Gestações
parto
cesárea)
QUADRO 1: Caracterização das gestantes participantes
O primeiro ponto a ser observado no quadro acima é a idade. A gravidez na
adolescência é um problema de saúde pública de caráter crescente mundialmente. A
escolaridade e a renda familiar são consideradas como fatores determinantes para essa
6
realidade, visto que adolescentes com maior escolaridade e maiores oportunidades de
obtenção de renda são menos propensas à gravidez não planejada. 8
A falta de orientação pelos pais quanto à sexualidade, relacionada a dificuldades em
discutir essa temática e até ao distanciamento entre pais e filhos nas relações atuais, associada
ao atendimento no serviço público, principalmente, no que se refere à falta de acesso aos
métodos contraceptivos, também se caracterizam como fatores de risco para a gravidez na
adolescência. 8
Desta forma, as práticas desenvolvidas pelos acadêmicos buscaram compensar essas
barreiras de acesso e de diálogo e levaram proposta de ações de saúde, visando conhecer a
real condição dos sujeitos, seu contexto social e cultural, para propor intervenções quanto à
saúde da mulher acerca dos cuidados com sua saúde sexual e reprodutiva e com a saúde dos
futuros recém-nascidos.
A educação em saúde mostrou-se, então, uma ação efetiva, visto ter sido realizada,
buscando-se visualizar as vulnerabilidades socioeconômicas e culturais das jovens, a maioria
com nível de escolaridade e renda familiar baixos, com fins de fazê-las refletir sobre as
decisões saudáveis para sua vida. Reforça-se, assim que o processo educativo para a
promoção da saúde na adolescência deve ser sistemático e pode contribuir para a tomada de
decisão, em nível individual e coletivo, na perspectiva de uma vida mais saudável. 9
Assim, foi possível observar o desejo das gestantes em continuar atividades
interrompidas pela gravidez, como trabalho e estudo, confirmando-se mais ainda o papel
primordial da família para que a mãe adolescente realize tais sonhos, já que é um importante
elemento facilitador para que essa última sinta-se mais tranquila, fortalecida e supere os
obstáculos nos cuidados do filho. 10
Por último, a boa aceitação demonstrada pelas gestantes durante as visitas, o vínculo
construído entre elas, os discentes e ACS demonstram que a comunidade está aberta a esse
tipo de ferramenta de promoção e prevenção à saúde, a educação em saúde através da visita
domiciliar, desde que se respeitem os conhecimentos construídos culturalmente e socialmente,
problematizando os conhecimentos científicos apresentados pelos profissionais de saúde e se
construindo alternativas de superação das dificuldades para dar respostas significativas às
necessidades de saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7
É importante ressaltar que esse relato não esgota as possibilidades da educação em
saúde durante a visita domiciliar às adolescentes gestantes e/ou primigestas e a outros tipos de
usuários.
Entretanto, a partir das ações realizadas, compreende-se que a prática educativa
inserida na dinâmica da visita é de fundamental importância para os serviços de saúde, em
especial, para UBSF, sendo imperativa a atuação de cada profissional que compõe esta última,
e que essa proposta de trabalho seja utilizada de acordo com as diretrizes estabelecidas na
conformação atual do SUS, como por meio da territorialização, da criação de vínculos
mutuamente colaborativos entre usuários e profissionais, atuação nos determinantes do
processo saúde-doença, intersetorialidade, sempre em consonância com as demais atividades
de promoção, prevenção e recuperação da saúde, desenvolvidas no âmbito das Unidades de
Saúde.
8
REFERÊNCIAS
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3
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4
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Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. - Brasília: Ministério
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http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen
9
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Desenvolvimento de habilidades: estratégia de promoção da saúde e prevenção da
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realizado e expectativas quanto ao futuro. Rev Gaúcha Enferm. 2009; 30(4):662-8.
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