Visita Domiciliar VISITA DOMICILIAR: ESPAÇO PRIVILEGIADO PARA DIÁLOGO E PRODUÇÃO DE SABERES HOME VISIT: SPECIAL OPPORTUNITY FOR DIALOGUE AND EXPERIENCE Ellen Marcia Peres* Mario R. Dal Poz** Nuno R. Grande*** RESUMO: O presente artigo tem por objetivo abordar a visita domiciliar no contexto do Programa Saúde da Família (PSF) como espaço privilegiado para diálogo e produção de saberes à luz do pensamento de Boaventura Sousa Santos e de Edgar Morin. Os dados que apóiam esta constatação foram alcançados por uma pesquisa descritiva realizada no período entre 2001 e 2003 para avaliar a experiência de implantação do PSF em seis municípios do Estado do Rio de Janeiro, da qual participaram 78 médicos e 131 enfermeiros. Diante dos resultados alcançados sobre a abrangência da visita domiciliar na agenda dos profissionais e usuários do PSF é possível concluir que o caráter estratégico da mesma contribui para consolidar o Sistema Único de Saúde e superar desigualdades sociais. Também, a visita domiciliar incorporada à práxis profissional demonstra que o Pólo de Capacitação em Saúde da Família do Rio de Janeiro alcançou seu propósito na preparação de pessoal para atuar em equipes de saúde da família. Palavras-chave: Desigualdade social; modelo assistencial; saúde da família; visita domiciliar. ABSTRACT ABSTRACT:: This paper deals with the Home Visit in the context of the Family Health Program (PSF) in Brazil, as a special opportunity for dialogue and experience as expressed by the thinking of Boaventura Sousa Santos and Edgar Morin. Data supporting this view were obtained from a descriptive study accomplished between 2001 and 2003 on the experience of implantation of PSF in six municipalities in the state of Rio de Janeiro. Seventy-eight doctors and 131 nurses participated of the study. Considering the results that point out the inclusion of Home Visits into the routine of PSF professionals and users, it is possible to conclude that the characteristics of the program helps to consolidate Brazilian Health System (SUS) and to overcome social inequalities. Furthermore, the inclusion of Home Visits in the exercise of the health profession demonstrates that the Rio de Janeiro Family Health Training Centre (PCSF - RJ) has contributed to prepare health professionals to work in the Family Health Program. Keywords: Social inequality; health care model; family health; home visit. INTRODUÇÃO O Programa Saúde da Família (PSF), no contexto da consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) instituído pela Constituição Brasileira de 1988, é uma ação implementada pelo Ministério da Saúde1 (MS) com propósitos de promover impactos na realidade sanitária por meio da adoção de um novo modelo assistencial no campo da Atenção Básica e de contribuir no desafio do enfrentamento das desigualdades sociais. O texto constitucional, ao estabelecer saúde como direito de todos e dever do Estado visando promover eqüidade social, determina que a organip.208 • R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 abr/jun; 14(2):208-13. zação do SUS se estruture segundo os princípios do acesso universal, da atenção integral, da descentralização administrativa das ações, da coresponsabilização e do controle social. Desse modo, políticos, gestores, técnicos e usuários têm buscado implementar mudanças sistemáticas tanto do ponto de vista das leis como dos mecanismos de gestão. Vale destacar que o novo arcabouço jurídico-legal tem exigido uma ampla agenda de reformas que se estende desde a necessidade de substituição do modelo de assistência à lógica do financiamento, passando, sobre- Peres EM, Dal Poz MR, Grande NR tudo, pelo desafio da qualificação profissional (capacitação, formação e educação permanente). Nessa tarefa de qualificação, é importante mencionar o papel e a contribuição que se espera da academia, sobretudo porque esta é uma missão que lhe compete. Assim, os propósitos traçados no bojo do plano das atividades do Pólo de Capacitação em Saúde da Família do Rio de Janeiro (PCSF – RJ) são: promover análise crítica sobre a racionalidade do modelo assistencial vigente e enfatizar as bases teóricas e metodológicas do novo modelo centrado no conceito de Vigilância da Saúde. Tradicionalmente, o termo racionalidade é associado à nossa capacidade de discernir propriedades, estabelecer relações e construir argumentos para apresentar e defender nossas crenças, exibindo uma dupla e mutuamente relacionada dimensão2:293. Nesse sentido, vale ressaltar que: racionalidade médica é todo construto lógica e empiricamente estruturado com as seguintes dimensões: morfologia, dinâmica vital doutrina médica, sistema de diagnose e sistema de intervenção terapêutica3:6. A pesquisa4 que avaliou a experiência de implantação do Programa Saúde da Família em alguns municípios do Estado do Rio de Janeiro, realizada pelo Pólo, foi apoiada pelo projeto da Organização Mundial de Saúde (OMS) designado Towards Unity for Health (TUFH)5. O presente artigo **** pretende abordar a essencialidade da preparação das Equipes de Saúde da Família (ESF), no contexto da transição paradigmática, segundo Santos 6-8 e Morin 9-14, enfatizando a visita domiciliar como espaço privilegiado para diálogo e produção de saberes, com vistas à transformação da realidade sanitária. Servem de base empírica para essa constatação alguns resultados da pesquisa4 já citada. REFERENCIAL TEÓRICO É preciso destacar que: nos encontramos numa fase de transição paradigmática, entre o paradigma da modernidade, cujos sinais de crise parecem evidentes, e um novo paradigma com um perfil vagamente descortinável, ainda sem nome e cuja ausência de nome se designa pósmodernidade8:34. Assim, Santos8 submete as principais correntes epistemológicas sobre a ciência moderna à análise, recorrendo a uma hermenêutica de suspeição e de recuperação visando contribuir na busca de soluções para as questões que se colocam no campo epistemológico e societário. Segundo Santos6, a discussão sobre a crise da ciência tem toda acuidade, na atualidade, e início marcado no imediato pós-guerra mundial. Apoiado em argumento epistemológico e sociológico, considera que nos encontramos numa fase de crise de degenerescência, que é caracterizada esta como aquela na qual, a práxis se reduz à técnica. Conclui que a natureza da crítica determina o tipo de reflexão epistemológica a ser privilegiada, e que a crise da ciência é, assim, também, a crise da epistemologia. Em obra mais recente intitulada A crítica da razão indolente – contra o desperdício da experiência, Santos7 questiona, já na introdução da mesma, por que é tão difícil construir uma teoria crítica. Respondendo a esta indagação, apontou como a maior dificuldade para este exercício a realidade, alegando que qualquer que seja o modo como é concebida, ela é considerada, pela teoria crítica, um campo de possibilidades. Lembra que a tarefa da teoria consiste precisamente em definir e avaliar a natureza e o âmbito das alternativas ao que está empiricamente dado. Conforme Santos6,8, o modelo de racionalidade científica atravessa uma crise profunda e irreversível, resultado interativo de uma pluralidade de condições, entre as quais se distinguem as sociais e teóricas. Sobre estas últimas, as aborda com ênfase em sua obra Introdução a uma ciência pósmoderna 6, alegando que o primeiro rombo no paradigma da ciência moderna se deu quando Einstein demonstrou, em sua tese, que a simultaneidade de acontecimentos não pode ser verificada, mas somente ser definida. Relata que a segunda condição teórica da crise do paradigma dominante ocorreu no domínio da microfísica, quando Heisenberg e Bohr demonstraram não ser possível observar ou medir um objeto sem interferir nele, sem o alterar, a tal ponto que o objeto que sai de um processo de medição não é o mesmo que lá entrou. Santos6:40, concebendo o reencontro da ciência com o senso comum, destaca: é forçoso concluir que caminhamos para uma nova relação entre ciência e senso comum, uma relação em que qualquer deles é feito do outro e ambos fazem algo de novo. Cioso da saturação negativa que recobre o senso comum em atmosfera de ilusão, falsidade, R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 2006 abr/jun; 14(2):208-13. • p.209 Visita Domiciliar superficialidade, enviesamento, o autor, numa perspectiva de desconstruir essa negatividade, o caracteriza assim: [...] o senso comum faz coincidir causa e intenção; subjaz-lhe uma visão do mundo assente na ação e no princípio da criatividade e das responsabilidades individuais... O senso comum é transparente e evidente; desconfia da opacidade dos objetos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princípio da igualdade do acesso ao discurso, à competência cognitiva e à competência lingüística. O senso comum é superficial porque desdenha das estruturas que estão além da consciência, mas, por isso mesmo, é exímio em captar a profundidade horizontal das relações conscientes entre as pessoas e as coisas. O senso comum é indisciplinar e imetódico; não resulta de uma prática especificamente orientada para o produzir; reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida. Por último, o senso comum é retórico e metafórico; não ensina, persuade6:40. Santos 8, enfatizando a transição de paradigmas epistemológicos, faz um convite ao enfrentamento de quaisquer que sejam os desafios, começando pelo contexto sociotemporal do qual emergem nossas perplexidades ou indagações. Julga mesmo que precisamos de utopia, tal como precisamos de pão para a boca. Lembrando Walter Benjamim, Santos8 reitera que nossas sociedades reclamam de uma hermenêutica de suspeição, sobretudo, hoje, quando a crise, a verdadeira crise, é continuar tudo como está. Este tema também é discutido por outros autores15-18. Morin9 aborda a transição paradigmática e suas crises propondo uma reforma do pensamento. Durante muito tempo, diz ele10:22, “no domínio das ciências, se pensava que o conhecimento, nessas condições, era o espelho da realidade e o espelho do mundo”. Esse domínio esteve sob a égide de três pilares, inabaláveis até o final do séc. XX: [...] a ordem (a regularidade, a constância), a separabilidade (como, por exemplo, um objeto e um corpo) e o valor da prova absoluta (fornecida pela indução e pela dedução), estes por sua vez ajudados pelos três princípios aristotélicos que estabelecem a unicidade da identidade e a recusa da contradição10:22. Morin10 enfatiza que Descartes fundou os progressos do conhecimento científico na capacidade de separar as dificuldades umas das outras, de resolvê-las sucessivamente, de maneira a solucionar bem um problema. Esse princípio de separação estava, de algum modo, confirmado no desenvolvimento das ciências, pela separação das disciplinas umas em relação às outras. Era inteiramente legítimo circunscrever um domínio disp.210 • R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 abr/jun; 14(2):208-13. ciplinar para fazer progredir o conhecimento sem levar em conta as interferências. Para Morin9, a inadequação é cada vez maior, profunda e grave, pois, de um lado, nossos conhecimentos são processados disjuntos, partidos, compartimentados entre disciplinas, e, de outro, a realidade e os problemas são cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários. Para se chegar à reforma do pensamento, Morin10 ressalta que há muitos caminhos dos quais muitos deles confluem e é preciso mesmo fazê-los confluir. Entre os mesmos, é pertinente mencionar a adoção do olhar hologramático. Holograma é, segundo Morin9:181: a imagem física cujas qualidades de relevo, de cor e de presença são devidas ao fato de cada um dos seus pontos incluírem quase todas informações do conjunto que ele representa. Na esteira do pensamento moriniano10, a chave do problema é a reforma paradigmática, uma vez que o paradigma diz respeito aos princípios fundamentais que devem governar todos os nossos discursos e teorias. Alega que o emprego em demasia da expressão paradigma, na atualidade, a torna muitas vezes banalizada e, ao adotá-la, procura fazer a partir do sentido que a lingüística estrutural lhe confere. Isto é, aquele sob o qual se encontra “o núcleo forte que comanda todos os pensamentos, idéias e conhecimentos que se produzem sob seu império”10:32. Ainda sobre o paradigma da ciência moderna, Morin10 ressalta que a força da disjunção e da redução, nele contida, tem nos levado a conhecer separando ou desunindo a ciência, a filosofia, a cultura literária, a cultura científica, as disciplinas, a vida, a matéria, o homem. Reforçando sua compreensão sobre esta maneira pela qual ainda agimos, afirma que “desunimos e separamos o inseparável, esquecendo que o homem tem um espírito que está ligado ao cérebro: tudo está relacionado”10:32. Para Morin10, o conhecimento sob o império do cérebro que separa ou reduz não é o problema, o problema-chave é não termos ainda um pensamento que una, por isso a idéia da complexidade, do pensar complexo, é essencial para promover a reforma do pensamento. Essa idéia nos remete ao termo complexus10:33, que significa “o que é tecido junto, aquilo que dá feição a uma tapeçaria; o pensamento complexo é aquele que se esforça para unir, não na confusão, mas operando diferencia- Peres EM, Dal Poz MR, Grande NR ções”. É absolutamente necessário, na era planetária, da qual somos contemporâneos, desenvolver um pensamento capaz de unir e diferenciar. Uma aventura, e muito difícil. Mas se não o fizermos, teremos a inteligência cega, a inteligência incapaz de contextualizar10:32. O Programa Saúde da Família: considerações relevantes Segundo a orientação do Ministério da Saúde, cada Equipe de Saúde da Família é constituída por um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde. A estes cabe a responsabilidade do atendimento de um grupo de 600 a 1000 famílias, e a cada agente, a tarefa de acompanhar aproximadamente 150 famílias. Para efetuar o diagnóstico sanitário e monitorar as condições de saúde das famílias, o Ministério desenvolveu o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), o qual compila também dados sobre a composição da família (número de pessoas, idade, escolaridade e doenças referidas por cada um de seus membros), condições de vida (tipo de material de construção da residência, instalações sanitárias, tratamento da água, destino do lixo e sistema de esgoto), serviços de saúde utilizados pela família, participação em grupos comunitários e meios de transporte utilizados. Em síntese, o SIAB é utilizado para avaliar, planejar, reavaliar e redirecionar o planejamento das ações das equipes. Vale destacar que a experiência acumulada na implementação de atividades educativas para o desenvolvimento de pessoal que atua em Equipes de Saúde da Família, no âmbito das Capacitações e dos Cursos de Especialização, permite constatar que o PSF se reveste de caráter estratégico para superação de desafios epistemológico-sociais, e que a visita domiciliar é um espaço privilegiado para o encontro e diálogo de saberes. METODOLOGIA C onstituem a base empírica desta constatação os resultados alcançados com a pesquisa descritiva4 realizada entre 2001 e 2003, em seis municípios do Estado do Rio de Janeiro, onde estão sediados os Núcleos do Pólo. O desenho investigativo contemplou três focos de avaliação, a saber: a produção das ESF e marcadores de saúde da população adscrita; a prática profissional dos médicos e enfermeiros integrantes dessas equipes, e a satisfação dos usuários na área de abrangência das mesmas. O primeiro foco avaliou o desempenho das ESF, tomando-se como referência os princípios do PSF para caracterizar a inserção do Programa no contexto social de cada município estudado. Foram coletados dados do SIAB referentes a indicadores capazes de expressar mudanças decorrentes da organização da assistência e marcadores de saúde que refletem efetividade das ações das equipes. No segundo foco caracterizou-se a prática dos médicos e enfermeiros das ESF, segundo as atividades que configuram um processo de trabalho, no campo da atenção básica, com clientela adscrita numa área georeferenciada. Foram estabelecidos como indicadores atividades constitutivas da abordagem conceitual-metodológica da Vigilância da Saúde, a saber: as visitas domiciliares, as atividades de educação em saúde, as ações intersetoriais, a participação em reuniões com líderes comunitários e no Conselho de Saúde Local. No terceiro foco, o objetivo foi conhecer a opinião dos usuários do PSF sobre o tipo e a qualidade do atendimento que recebem das ESF de sua área. Para cada foco se cumpriram as seguintes etapas: construção de indicadores com elaboração dos respectivos instrumentos; realização de prétestes; aplicação dos instrumentos; sistematização dos dados coletados, apresentação gráfica dos resultados, análise dos resultados e elaboração de relatórios. A amostra de sujeitos incluídos no 2° foco desta pesquisa, objeto deste artigo, foi constituída por 209 profissionais (78 médicos e 131 enfermeiros) que realizaram o treinamento introdutório ministrado pelo Pólo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos questionários analisados, 63,5% dos participantes informaram que o treinamento que realizaram ocorreu em 2001. Destes, apenas 1% considerou que o mesmo não contribuiu para sua prática profissional no contexto da ESF4. A Figura 1 mostra as freqüências das visitas domiciliares realizadas pelos participantes - 78 médicos e 131 enfermeiros - e o espaço que essa atividade ocupa na agenda dos profissionais em sua relação com os usuários. O valor médio do R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 2006 abr/jun; 14(2):208-13. • p.211 Visita Domiciliar número de dias que os médicos responderam a este item foi de 7,1 dias e dos enfermeiros foi de 8,1 dias, os quais podem ser interpretados também como correspondendo a uma média de duas vezes por semana. Vale ainda mencionar que, embora todos os profissionais tenham afirmado realizar as referidas visitas, 10,3% de médicos e 14,5% de enfermeiros deixaram de informar a freqüência com que a faziam. Isto sugere a existência de um conjunto importante de profissionais que ainda não as realiza ou não quer revelar essa situação, o que merece ser investigado em novo estudo. Diante do caráter relacional e intimista que a visita domiciliar proporciona aos profissionais e usuários, do expressivo número de dias atribuídos a visitas domiciliares realizadas pelos médicos e enfermeiros, bem como a centralidade que a visita ocupa no Programa Saúde da Família, é possível considerá-la como uma ação de natureza estruturante. A incorporação da referida visita domiciliar à práxis das equipes inclui também os processos educativos implementados pelo Pólo, os quais alcançaram êxito4,5. 73,0% 61,8% 15,3% 9,0% 1,3% 1,5% 5,1% 8,4% 2,3% 9,0% 10,7% 2,6% FIGURA 1: Distribuição dos profissionais segundo o número de dias por mês em que realiza visitas domiciliares. Rio de Janeiro, 2003. CONSIDERAÇÕES FINAIS Compartilhando com Santos as críticas e reflexões que emergem de sua compreensão sobre transição paradigmática em curso e também de sua proposta de revisão da posição dicotomi-zada e distanciada entre a ciência e o senso comum, atribuímos à visita domiciliar, no contexto do PSF, um papel de natureza estruturante. Um caminho de superação, entre os quais destacamos o de promover o encontro de saberes, por exemplo, o acadêmico e o leigo. Ponto de partida para o desenvolvimento de um círculo virtuoso, por meio do qual novos e ne- p.212 • 6-8 R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 abr/jun; 14(2):208-13. cessários saberes podem ser produzidos, ressignificando a ciência e, também, o senso comum. Apoiados na proposta de re-encontro dos saberes9-14, acreditamos que o enfoque da complexidade nos ajuda a reconhecer a práxis em saúde como uma ferramenta capaz de contribuir no enfrentamento da desigualdade social. Também, que o olhar hologramático moriniano tem, em nosso juízo, expressiva acuidade no PSF, uma vez que a concepção teórico-metodológica do Programa propõe, como unidade de intervenção, a família. Um coletivo que reúne, ao mesmo tempo, os atributos de partes e de todo de uma sociedade. Peres EM, Dal Poz MR, Grande NR REFERÊNCIAS 1. Ministério da Saúde (Br). Reduzindo as desigualdades e ampliando o acesso à assistência à saúde no Brasil. Brasília (DF): SUS; 2002. 2. Regner AC. Uma nova racionalidade para a ciência? In: Boaventura SS, organizador. Conhecimento prudente para uma vida decente: um discurso sobre as ciências revisitado. São Paulo: Editora Cortez; 2004. 3. Luz M. Estudo comparativo das medicinas ocidental, contemporânea, homeopática, tradicional chinesa e ayurvédica em programas públicos de saúde. Anais do 6º Seminário do Projeto Racionalidades Médicas; 1996 out 710; Rio de Janeiro, Brasil. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 1996. 4. Andrade A, Varella T, Peres EM. A prática de médicos e enfermeiros de equipes de saúde da família: estudo avaliativo em municípios do Estado Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Pólo de Capacitação em Saúde da Família do Rio de Janeiro; 2005. 5. Peres EM. Rio de Janeiro’s Training Center in Family Health: impact evaluation of its educative interventions upon primary health care services delivery. In: Managing a sucessful TUFH Field Project Mini Symposium; May 2001, Rockford. Genebra (Sw): World Health Organization, 2001. p. 25-26. 6. Santos BS. Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro: Editora Graal; 1989. 7. Santos BS. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática. São Paulo: Editora Cortez; 2002. 8. Santos BS. Pela mão de Alice: o social e o político na pósmodernidade. São Paulo: Editora Cortez; 2003. 9. Morin E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil; 2003. 10. Morin E. Por uma reforma do pensamento. In: PenaVega A, Nascimento EP, organizadores. O pensar complexo Edgar Morin e a crise da modernidade. Rio de Janeiro: Editora Garamond; 1999. 11. Morin E. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios necessários. São Paulo: Editora Cortez; 2002. 12. Morin E. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução de Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil; 2004. 13. Morin E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Editora Cortez; Brasília (DF): UNESCO; 2004. 14. Morin E. Para sairmos do século XX. Tradução de Vera Azambugi Harvey. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira; 1986. 15. Freire P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra; 1988. 16. Freire P. Pedagogia da autonomia - saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra; 1996. 17. Russ J. Pensamento ético contemporâneo. Tradução de Marcondes Cesar. São Paulo: Editora Paulus; 1999. 18. Boff L. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis (RJ): Editora Vozes; 1999. VISITA DOMICILIARIA: ESPACIO PRIVILEGIADO PARA DIÁLOGO Y PRODUCCIÓN DE SABERES RESUMEN: Este estudio enfoca la visita domiciliaria en el contexto del Programa Salud de la Familia (PSF) como espacio privilegiado para diálogo y producción de saberes a la luz del pensamiento de Boaventura Sousa Santos y de Edgar Morin. Los datos que basan esa constatación fueron obtenidos a través de una investigación descriptiva que, en el período de 2001 a 2003, evaluó la experiencia de implantación del PSF en seis municipios del Estado de Rio de Janeiro-Brasil, teniendo como participantes 78 médicos y 131 enfermeros. Delante de los hallazgos logrados sobre la abarcadura de la visita domiciliaria en la agenda de los profesionales y usuarios del PSF es posible concluir que su carácter estratégico contribuye para consolidar el Sistema Único de Salud y superar desigualdades sociales. También, la visita domiciliaria agregada a la praxis profesional demostra que el Polo de Capacitación en Salud de la Familia de Rio de Janeiro-Brasil atingió su propósito en la preparación de personal para actuar en equipos de salud en el Programa Salud de la Familia. Palabras Clave: Desigualdad social; modelo asistencial; salud de la familia; visita domiciliaria. Recebido em: 12.07.2005 Aprovado em: 10.01.2006 Notas * Professora Adjunta do Departamento Enfermagem Médico-Cirúrgica da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Mestre pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Livre-Docente pela UERJ, Doutoranda da Universidade do Porto / Portugal. Av. Santo Antônio n° 99, Itaipu, Niterói, RJ. CEP: 24 355 - 200. E-mail: [email protected]. ** Professor Adjunto do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil; Coordenador no Departamento de Recursos Humanos em Saúde da Organização Mundial de Saúde, Genebra; Doutor em Ciências de Saúde Publica pela Fundação Oswaldo Cruz. E-mail: [email protected]. *** Professor Emérito da Universidade do Porto, Portugal. E-mail: [email protected]. **** Cumprimento de exigência acadêmica que antecede o ato de defesa da tese – O Programa Saúde da Família, estratégia para enfrentamento de desigualdade social – a qual finalizará o Doutorado que a autora realiza no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, Portugal. R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 2006 abr/jun; 14(2):208-13. • p.213