MEIO AMBIENTE NO ENSINO SUPERIOR: um olhar sobre a Licenciatura em Ciências Biológicas Monica Lopes Folena Araújo, Mestranda, Profa. UNIR/UFRPE, [email protected] Tereza França, Dra., Profa. UFPE Introdução Atualmente, os cursos superiores têm se voltado para a formação pedagógica do futuro professor por determinação do Ministério da Educação. Mas, segundo autores como Pereira (1999) e Goedert, Leyser e Delizoicov (2006), a estrutura conhecida como “esquema 3+1” ainda hoje tem influência na estruturação dos cursos de Licenciatura. Nesta perspectiva, o enfoque dado à formação de professores recai sobre conteúdos específicos da Biologia, sendo o Meio Ambiente um deles. E, dessa forma, a temática ambiental estaria condicionada a disciplinas específicas e poderia não estar contribuindo para que o futuro profissional desempenhe suas atividades docentes com a mesma. No estudo feito por Araújo e Oliveira (2008) com professores de Biologia da rede pública estadual de Recife/PE, foi constatado que a formação inicial não contribuiu para que os mesmos trabalhassem com a temática ambiental, ou, se contribuiu, foi de forma insipiente. Frente ao exposto, o presente trabalho foi realizado com licenciandos do Curso de Ciências Biológicas e teve como objetivo geral: analisar a formação inicial de professores de Biologia em relação à temática ambiental. E, nesse contexto, elegemos como objetivos específicos: identificar que disciplinas têm abordado o tema Meio Ambiente no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e de que forma essa abordagem é feita, verificar se os licenciandos gostam da forma de abordagem da temática ambiental em sua formação e verificar se os mesmos sentem-se preparados para trabalhar com a temática ambiental como docentes. Frente aos objetivos eleitos definimos como questão de pesquisa: “Como se dá a formação inicial do professor de Biologia em relação ao Meio Ambiente?” Referencial Teórico Vários autores têm destacado que a formação de professores é primordial para o efetivo trabalho com o Meio Ambiente na escola, entre eles estão Izuwa, Augusto e Rompaldi (1997), Sato (2003) e Sato e Zakrzevski (2003). Dessa feita, para garantir que a temática ambiental seja abordada na escola segundo recomendações de documentos oficiais como os Parâmetros 2 Curriculares Nacionais (1999, 2002) e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) é necessário investir na formação de professores. Neste contexto, Guimarães (2005) nos diz que as falhas identificadas na formação inicial de professores para o trabalho com a temática ambiental têm sido preocupações para os cursos de formação continuada, pois esses têm se constituído em formas de remediar essas lacunas e não de inserção e discussão de novas propostas. Uma consideração feita por Reigota (2002) nos ajuda a compreender uma das falhas na formação de professores para o trabalho com a temática ambiental: trata-se do não estabelecimento de diferença entre transmitir conhecimentos científicos próprios da Ecologia e desconstruir e/ou construir concepções sobre Meio Ambiente, qualidade de vida, consumo e outros, que são questões fundamentais para o trabalho com o Meio Ambiente. Metodologia A abordagem de investigação adotada é do tipo qualitativa e o questionário foi escolhido como fonte principal de dados. No mesmo foram utilizadas questões fechadas e abertas e seguimos sugestões de Carmo e Ferreira (1998) quanto ao cuidado a ser conferido à formulação de perguntas e à forma mediatizada de contatar com os inquiridos. Participaram desta pesquisa trinta e quatro alunos do oitavo período do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas de uma universidade pública localizada na cidade do Recife/PE. Para análise dos dados esses licenciandos foram nomeados utilizando-se letras e números, assim temos alunos identificados de A1 a A34. Resultados e Discussão Disciplinas e modos de abordagem da temática ambiental As respostas dadas pelos licenciandos pesquisados quanto às disciplinas que trabalham com a temática ambiental estão explicitadas no gráfico 1. No mesmo podemos verificar que há predomínio das disciplinas Ecologia Geral e Botânica Econômica. Ressaltamos que os resultados ultrapassam a porcentagem de 100% porque esta era uma questão aberta e, portanto, os licenciandos podiam citar mais de uma disciplina. A disciplina Ecologia tem sido relatada em estudos de Araújo e Oliveira (2008) e Guimarães (2005) como uma das únicas a contribuir na formação inicial de professores de Biologia para o trabalho com a temática ambiental, o que nos indica que a abordagem da mesma tem sido pontual e em disciplinas de conteúdo específico. 3 Quanto à forma de abordagem, verificamos que há predomínio de aulas teóricas, expositivas e voltadas ao conteúdo específico da disciplina, mas também foram citadas aulas de campo, debates, filmes e textos. Algumas respostas que exemplificam essa análise são: Usando exemplos do contexto da disciplina, como ecologia de populações, fatores ecológicos, etc. (A4) Aulas teóricas com data-show. (A5) Através de aulas expositivas, vídeos e textos. (A8) Aulas expositivas e debates. (A15) O Meio Ambiente foi abordado de forma bastante teórica, sem muita relação da realidade atual com as teorias clássicas. Não foi proveitoso. (A22) Através de textos com discussão em sala de aula. (A16) Gráfico 1 Disciplinas que abordam a temática ambiental Ecologia Geral Botânica Econômica Sistemática de Criptógamas Fisiologia Vegetal Biofísica Satisfação com o modo de abordagem da temática ambiental Vinte licenciandos gostaram da forma de abordagem da temática ambiental nas disciplinas. Algumas respostas que nos revelaram esse fato são: Gostei, porém a abordagem poderia ser mais implícita e envolver aulas práticas que facilitassem a compreensão de alguns assuntos. (A5) Gostei porque os professores fizeram várias reflexões sobre o tema. (A10) Gostei porque o trabalho foi interativo. (A12) Gostei de como o assunto foi abordado porque os professores são muito capacitados. (A18) Já quatorze alunos alegaram não gostar do modo como as disciplinas abordam o Meio Ambiente. Um dos motivos de maior insatisfação dos licenciandos foram a falta de aulas dinâmicas, práticas e contextualizadas. Segundo os mesmos: Não houve dinamização. (A6) Muitas vezes o assunto é passado de uma forma que não vemos aplicabilidade nas aulas que vamos ministrar. (A17) As aulas foram muito gerais e com a utilização de somente um recurso didático. Enfim, pouco estimulante. (A33) As aulas de campo foram insuficientes. (34) Podemos identificar que, ao mesmo tempo em que os licenciandos enaltecem o trabalho interativo e a capacitação dos professores que atuam na formação inicial com o Meio 4 Ambiente, há a necessidade de mais inovação pedagógica para dinamizar as aulas. Constatamos assim, a importância de conteúdos específicos e pedagógicos caminharem juntos na formação de futuros professores. Preparo para o trabalho docente com o Meio Ambiente Verificamos que 55,8% dos licenciandos não se consideram preparados para atuar com a temática ambiental enquanto docentes; 35,3% se consideram preparados diante do que foi abordado em seu curso de formação inicial e 8,9 % acham que estão preparados, mas não pelas contribuições recebidas na formação inicial. O gráfico 2 ilustra esses resultados. Gráfico 2 Preparo dos licenciandos Não Sim Sim, mas não por contribuição da formação inicial Esses resultados vão ao encontro dos dados encontrados por Araújo e Oliveira (2008) em pesquisa feita com professores de Biologia. Considerações Finais Com este trabalho foi possível compreender que as disciplinas que mais têm abordado a questão ambiental no curso de licenciatura investigado são Ecologia Geral e Botânica Econômica. Assim, identificamos que a temática tem sido trabalhada em disciplinas de conteúdo específico e não em disciplinas voltadas à formação pedagógica do professor. Parte significativa dos licenciandos não gosta da forma como é feita a abordagem do Meio Ambiente nas disciplinas, o que nos faz destacar a necessidade de aulas mais dinâmicas e contextualizadas em substituição a aulas expositivas. O elevado porcentual de licenciandos que alegaram não se sentirem preparados para o trabalho com a temática é preocupante porque os mesmos estão há dois semestres para concluir o curso de graduação, ou seja, em um ano esses licenciandos estarão devidamente certificados a trabalhar em escolas. Frente ao exposto, defendemos que na formação do professor de Biologia, os conteúdos específicos e pedagógicos devam constituir uma unidade para prepará-los a trabalhar com o 5 Meio Ambiente. Se houver prevalência dos específicos, corremos o risco de ter professores detentores de conhecimento, mas sem habilidades e competências para lidar com situações decorrentes do ensino da temática ambiental. Assim, concordamos com Gatti (2000) que há limitações quanto à efetividade dos cursos de Licenciatura no preparo de docentes. No presente trabalho identificamos algumas dessas limitações referentes ao Meio Ambiente e achamos coerente que outros estudos sejam feitos em outros locais e em relação a outros temas para mapear a real situação das Licenciaturas nas universidades brasileiras. Referências ARAÚJO, M.L.F.; OLIVEIRA, M.M. de. Formação de professores de Biologia e Educação Ambiental: contribuições, deficiências e estratégias. REMEA, v. 20, pp. 256-273, jan. - jun. 2008. Disponível em: <http://www.remea.furg.br/edicoes/vol20/art18v20.pdf> BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec). Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Brasília: MEC/Semtec, 1999. ______. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec). 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