198 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo, Cosenza & cols. imediatos, mas as cartas com perdas são mais frequentes ou as perdas são mais vultosas. Escolher mais vezes os baralhos A e B conduz a uma prejuízo global. Já as cartas dos montes C e D levam a ganhos pequenos em curto prazo, mas trazem perdas menos frequentes e de menor magnitude. Escolher mais vezes os baralhos C e D conduz a um ganho global. Os sujeitos não são informados dessa regra, devendo descobrir à medida que jogam. A tarefa termina quando o sujeito escolhe a centésima carta. Diversas patologias neurológicas e psiquiátricas têm sido estudadas a partir desse paradigma (Dunn, Dalgleish e Lawrence, 2006). Um padrão de escolhas desvantajosas (que leva a ganhos imediatos e perdas expressivas de longo prazo) tem sido associado a um padrão específico de impulsividade referido por Bechara como impulsividade cognitiva ou por nãoplanejamento, que reflete inabilidade em planejar as ações tendo como referência as consequências de curto, médio e longo prazo. Existe uma adaptação brasileira da tarefa autorizada pelo autor (Malloy-Diniz et ai., 2007). Tanto a parte A quanto a parte B do teste estão relacionadas a habilidades cognitivas de percepção, atenção e rastreamento visual, velocidade e rastreamento visuomotor, atenção sustentada e velocidade de processamento. A parte B incorpora mais complexidade ao teste, avaliando também a flexibilidade cognitiva. A ambas as partes do teste o sujeito deve desempenhar o mais rápido que conseguir. A principal medida que o teste fornece é a do tempo gasto para completar cada uma das partes. Alguns autores, como Mitrushina e colaboradores (2006), sugerem que seja feita a comparação entre o tempo gasto na parte B e na parte A (dividindo o tempo gasto em B pelo tempo gasto em A). Nesse tipo de análise, tanto proporções altas quanto baixas podem indicar um desempenho ruim no teste. Por exemplo, os autores sugerem que o escore ideal seria o equivalente à proporção 2 < x < 3. Escores menores que dois indicariam dificuldades relacionadas à parte A do teste. Já escores maiores que três indicariam dificuldades na parte B. Além do cálculo da velocidade de processamento, alguns autores sugerem que seja computada a quantidade de erros cometidos ao longo do teste. Os principais FLEXIBILIDADE COGNITIVA tipos de erros que têm sido sugeridos são erros de omissão (quando um determinaA flexibilidade cognitiva implica a cado elemento não é conectado) e erros de pacidade de mudar (alternar) o curso das perseveração (quando, na parte B, o sujeiações ou dos pensamento não alterna entre letos de acordo com as exitras e números). Tanto o A flexibilidade cognitiva implica a gências do ambiente. aumento da quantidade capacidade d No teste das trilhas curso dos ações ou dos pensade tempo gasto na parte mentos de acordo com as''"' *' (Reitan, 1958) e o teste B quanto erros cometidos cias do ambiente. :~ ri, ':«;,»*i-5de seleção de cartas de nessa etapa do teste são Winsconsin (Heaton et indicativos de inflexibiliai., 2004) são exemplos de testes utilizadade cognitiva. No entanto, Ruffolo, dos para avaliação dessa habilidade cogGuilmette e Willis (2000) sugerem cautenitiva. No teste das trilhas o sujeito deve la na interpretação dos erros no teste das inicialmente (parte A) unir números em setrilhas. Número excessivo de erros pode ser quência crescente. Posteriormente (parte indicativo de simulação de desempenho deB) o sujeito deve alternar entre números e ficitário visando alcançar algum tipo de beletras em sequência crescente. nefício. 199 Neuropsicologia No Brasil existe um estudo sobre propriedades do teste das trilhas em adultos normais comparando-o com uma versão verbal do teste (Oliveira-Souza et ai., 2000). O teste de seleção de cartas de Winsconsin - WCST (Heaton et ai., 2004) é um dos mais utilizados instrumentos para avaliação das funções executivas. Nele são apresentadas aos sujeitos 128 cartas (uma de cada vez), que devem ser agrupadas a uma dentre quatro cartas-alvo. Para isso, o sujeito deverá escolher um determinado critério de categorização (que pode ser cor, forma ou número). Esse critério não é mencionado para o sujeito, cabendo a ele descobrir ao longo de suas escolhas. Cada vez que o probando escolhe uma carta, o examinador apenas assinala se a escolha foi "certa" ou "errada". Quando o probando acerta 10 vezes consecutivas em um mesmo critério, esse é alterado, de forma que a resposta considerada "correta" passa a ser "errada". O sujeito deverá então mudar o critério de escolha após o feedback dado pelo examinador. Quando o sujeito insiste no critério anteriormente correto, comete o erro perseverativo. Esse tipo de erro é uma medida indicativa de inflexibilidade cognitiva. O teste fornece as medidas de total de categorias completas, total de acertos/ erros, total de erros perseverativos/nãoperseverativos, total de respostas perseverativas (incluindo erros e acertos), número de tentativas até completar a primeira categoria de 10 acertos, falha na manutenção do cenário (falha em completar uma categoria com 10 acertos após cinco acertos consecutivos), e o escore de "aprender a aprender" (aumento da eficácia em concluir as categorias de 10 acertos ao longo do teste). Além de ser considerado uma importante medida de flexibilidade cognitiva, o WCST também fornece informações sobre processos de categorização, impulsividade e atenção. No Brasil existe a versão do tes- te para aplicação em crianças e adolescentes (Heaton et ai., 2004). Existem versões reduzidas do WCST com 64 e 48 cartas que também são amplamente utilizadas em contextos específicos, como os de pesquisa. MEMÓRIA OPERACIONAL A memória operacional é um sistema temporário de armazenamento de informações que permite a sua monitoração e o seu manejo. Esse componente das funções executivas (descrito detalhadamente no Capítulo 10) é responsável por manter ativado um delimitado volume de informações durante um determinado período de tempo, fornecendo inclusive base para outros processos cognitivos. A memória operacional se faz notar em diversas tarefas comuns do dia-a-dia, como, por exemplo, na resolução mental de contas matemáticas ou na manutenção temporária de um número do telefone para em seguida efetuar uma ligação. Provas de repetição de dígitos (p. ex., as escalas de inteligência Wechsler) em que o sujeito deve repetir sequências crescentes de algarismos são medidas tradicionais dessa habilidade cognitiva. Outras, como o Paced Auditory Serial Addition Test (PASAT) e os blocos de Corsi, também fornecem medidas do funcionamento da memória operacional. É importante, na avaliação dessa função cognitiva, conciliar medidas verbais e visuoespaciais. O PASAT (Gronwall, 1977) consiste em uma série aleatória de 61 dígitos apresentados ao probando por meio de um audio-tape, sendo que a tarefa consiste em somar o último algarismo ouvido ao algarismo que o precedeu. Por exemplo, se o algarismo reproduzido foi 5 e o anterior a ele foi l, o sujeito deve responder 6 (5 + 1). Se em seguida for apresentado o algarismo 4, a resposta correta do probando deve ser 9 (5 + 4). O teste tem quatro eta-