XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" ANÁLISE DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO DA APICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE APODI – RN, NO ANO DE 2005 GENIVALDA CORDEIRO DA COSTA; JOÃO PAULO BEZERRA MONTENEGRO. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, MOSSORÓ, RN, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL COMERCIALIZAÇÃO, MERCADOS E PREÇOS AGRÍCOLAS ANÁLISE DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO DA APICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE APODI – RN, NO ANO DE 2005 Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas RESUMO O trabalho em questão tem por finalidade analisar e discorrer a respeito dos canais de comercialização praticados pelos produtores familiares do município de Apodi no ano de 2005. Para tanto, fez-se necessário recorrer a fatores primordiais para o entendimento de tal, como a identificação dos canais de comercialização utilizados por esses apicultores, o número de agentes envolvidos em cada um dos canais utilizados e as principais dificuldades enfrentadas por esses apicultores em cada um dos canais de comercialização. A realização deste trabalho teve como base à utilização de dados primários, que foram levantados através da aplicação de questionários e entrevistas junto aos produtores, varejistas, cooperativas etc. e dados secundários que foram obtidos através da exploração de livros, periódicos, sites afins da internet entre outros. A produção de mel dos produtores familiares destina-se principalmente ao mercado local. Verificou-se que a comercialização desta produção era praticada na grande maioria com a atuação de agentes intermediários como as cooperativas, atravessadores, entre outros. Porém as cooperativas locais aparecem como os principais agentes envolvidos no processo de comercialização. Mostrando que o canal de comercialização mais adequado as condições dos apicultores familiares de Apodi é o canal semi-direto. Palavras Chaves: Apicultura. Comercialização. Canal de comercialização. ABSTRACT The work at issue has for purpose analyze and run or flow over regarding the commercialization channels practiced by the municipal district family producers of 1 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Apodi in year of 2005. For so much, it did necessary to resort to primordial factors for the understanding of such, as the commercialization channels identification used for these beekeepers, agents' number involved in each one of the used channels and the main difficulties faced for these beekeepers in each one of the commercialization channels. The accomplishment of this work had like base to the primary data utilization, that were going lifted through the questionnaires and interviews application close to the producers, retailer, cooperative etc. and secondary data that were going obtained through the books exploration, periodic, internet similar sites among others. The honey family producers production it destines mostly to the local market. It verified that the commercialization of this production era practiced in the big majority with agents' intermediary performance as the cooperatives, atravessadores, among others. However the local cooperatives appear as the main agents involved in the commercialization process. Showwing that the more adequate commercialization channel beekeepers family conditions of Apodi is the channel semi-direct. Key words: Beekeeping. Commercialization. Commercialization channel. 1. INTRODUÇÃO Em determinadas regiões a apicultura tem se consolidado como uma das atividades mais importantes do ponto de vista econômico, social e ambiental, uma vez que ao empregar mão-de-obra familiar e proporcionar geração de fluxo de renda, reduz a dependência dos produtos agrícolas de subsistência e favorece a fixação do homem no campo. Além disso, por depender dos recursos naturais, favorece a preservação da flora. Estes fatores têm contribuído para o crescimento da atividade apícola, onde, milhares de famílias estão envolvidas direta ou indiretamente na atividade. Atualmente, devido ao interesse da população mundial por produtos naturais e pela escassez de mel no mercado, existe uma demanda crescente do mercado mundial o que vem favorecendo a comercialização do mel pelos apicultores, estimulando ainda mais o desenvolvimento da apicultura (IAGRAM, 2006). É neste cenário, que a apicultura tem se apresentado nos últimos anos como uma importante alternativa econômica para o meio rural da região Nordeste. Porém, segundo o Programa de Desenvolvimento da Apicultura do Rio Grande do Norte (2006), a improvisação e a distorção de técnicas apícolas tem sido notória e bastante comum na produção, bem como o desconhecimento por parte dos produtores das formas de organização da comercialização dos produtos. Diante deste fato, a produtividade, a qualidade, a diversificação dos produtos, a conquista de mercado e a rentabilidade da apicultura ficam comprometidas quando a atividade é praticada sem o devido conhecimento sobre o assunto. O despreparo dos produtores quanto à comercialização tem se tornado um dos principais obstáculos a serem enfrentados, para que esta atividade possa obter o espaço devido no mercado alimentício. Para tanto, se faz necessário apresentar qualidade e competitividade dentro deste mercado cada vez mais exigente. Diante deste contexto, uma análise dos canais de comercialização, torna-se algo relevante, para que se possa obter uma visão mais ampla de como se dá a relação de comercialização e o processo de expansão e fortalecimento do agronegócio do mel e seus derivados, de forma permanente e sustentável. 2 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Com base nesta problemática apresentada anteriormente, o presente estudo tem como objetivo analisar os canais de comercialização utilizados pelos apicultores familiares de Apodi no ano de 2005, por ser considerada hoje uma área que desenvolve com bastante intensidade a atividade apícola. Esta análise dos canais de comercialização utilizados pelos produtores familiares busca identificar quais os mais viáveis para a prática da atividade. Para alcançar o objetivo proposto, se fez necessário neste trabalho: identificar os canais de comercialização utilizados pelos apicultores familiares; verificar o número de agentes envolvidos em cada um dos canais utilizados e identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos apicultores familiares em cada um dos canais de comercialização, e verificar se há diferença no preço pago ao produtor nos diferentes canais de comercialização. Para tanto, foi utilizado neste trabalho que possui um caráter de natureza tanto qualitativo como quantitativo dados, primários que foram obtidos através da pesquisa de campo, com base no uso de questionários e entrevistas com os 57 produtores familiares, ou seja, 30% de um total de 192 e com alguns agentes que esses produtores mantêm relação comercial, e dados secundários, oriundos de pesquisas bibliográficas, de sites da internet e de periódicos. 2. COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA, CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO E AGRICULTURA FAMILIAR 2.1 Comercialização Agrícola A agricultura sempre possuiu um papel de grande importância no desenvolvimento da economia do país. Porém existem algumas características que a difere dos demais setores da economia, como: o fator terra, que corresponde a suas qualidades e espaço, o clima, a quantidade de pequenos produtores, a posse da terra, a perecibilidade dos produtos entre outros, tornando tal atividade um investimento de risco. Devido ao grande crescimento da demanda, causada principalmente pela industrialização e urbanização, a produção agrícola é destinada quase que totalmente para o mercado interno e uma parcela para o mercado externo, fato que vem incentivando cada vez mais o investimento nas atividades agrícolas (HOFFMAN, 1978). Através deste crescimento a comercialização de produtos agrícolas torna-se cada vez mais uma atividade de fundamental importância para a satisfação dos desejos e as necessidades dos consumidores. Em termos gerais a comercialização pode ser entendida como: ...o desempenho de todas as atividades necessárias ao atendimento das necessidades e desejos dos mercados, planejando a disponibilidade de produção, efetuando transferência de propriedade de produtos, provendo meios para sua distribuição física e facilitando a operação de todo o processo de mercado (BRANT, 1980, p.11). Neste mesmo sentido: “... entende-se a comercialização agrícola como uma série de funções ou atividades de transformação e adição de utilidade, onde bens e serviços são transferidos dos produtores aos consumidores”, transformando bens e produtos agrícolas em estado bruto em bens e produtos capazes de proporcionar satisfação ao consumidor. A utilidade a que se refere o autor apresenta-se de quatro formas (BARROS apud MARQUES e AGUIAR, 1993, p.15-16): • Utilidade de forma: que se refere àqueles produtos agrícolas onde a forma é 3 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" modificada via processamento, padronização, classificação e até embalagem; • Utilidade de tempo: diz respeito ao período de tempo compreendido entre a produção e o consumo. • Utilidade de lugar: está relacionada com o deslocamento de produção desde o produtor até o consumidor final. • Utilidade posse: compreende as ações de compra e venda do produto. De acordo com Marques e Aguiar (1993, p.16), “quando essas utilidades são realizadas, os consumidores são atendidos nas suas necessidades e podem adquirir os produtos na época e na forma desejada”. Porém a comercialização de alguns produtos pode envolver apenas algumas dessas utilidades. Essas utilidades são decorrentes das funções da comercialização, enquanto um processo que faz a ligação entre o produtor e o consumidor final. Como conseqüência do caminho a ser percorrido entre o produtor e o consumidor pode-se identificar vários estágios de transação comercial, ou seja, vários tipos de mercados. Esses mercados são classificados como primário, atacadista e secundário. Os mercados primários são aqueles situados em áreas mais próximas aos produtores, podendo também ser chamados de mercados locais. Já os produtores vendem os seus produtos nos mercados primários, que por sua vez, os transacionam com os atacadistas, surgindo assim os mercados atacadistas. Os atacadistas constituem um pequeno número de indivíduos que operam com grandes quantidades da mesma mercadoria. São donos da mercadoria e compram e vendem para o seu próprio lucro. O estoque de produtos agrícolas existentes no mercado atacadista tem sua propriedade transferida para os agentes de mercado secundário, cuja distribuição pode ser feita tanto para os varejistas, como para os especuladores. Os varejistas correspondem a um grande número de indivíduos que operam com grande variedade de mercadoria, em pequenas quantidades, são donos das mercadorias e compram e vendem para o seu próprio lucro. Já os especuladores adquirem os produtos com o intuito de fazer revenda para diversos varejistas (REZENDE e GOMES, 2000; MARQUES e AGUIAR, 1993). 2.2. Canais de Comercialização Os diversos tipos de mercados fazem com que surja a esquematização dos segmentos intermediários dos canais de comercialização. Os intermediários que adquiriram a posse do produto são chamados de intermediários comerciantes. Quanto aos que operam no mercado, apenas como representantes dos proprietários, são denominados de intermediários agentes (corretores, comissários etc.), ou seja, não são donos das mercadorias com que operam, esses intermediários recebem porcentagem sobre o preço de venda da mercadoria (REZENDE e GOMES, 2000). A atuação desses indivíduos envolvidos no processo de comercialização contribui para a identificação dos canais de comercialização, que é: “...útil como forma de ampliar a compreensão da organização da comercialização nos seus aspectos externos ou estruturais” (REZENDE e GOMES, 2000, p. 24). Com isso, entende-se por canais de comercialização, o caminho percorrido pela mercadoria desde o produtor até o consumidor final. A identificação desses canais pode “servir para dar uma visão mais ampla do sistema de comercialização, sua organização e funcionamento” (REZENDE e GOMES, 2000, p. 24). 4 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A característica dos canais de comercialização é obtida a partir dos estágios que passa o produto até chegar ao consumidor final. Pelo menos são três os estágios dos canais de comercialização: • Estágio direto, quando o produtor efetua a venda diretamente ao consumidor; • Estágio semi-direto, quando existe um intermediário entre o produtor e o consumidor; • Estágio indireto, que decorre da existência de dois ou mais intermediários. Como melhor pode ser representado nos exemplos ilustrativos a seguir (Figura 1). Canal de Comercialização direto. Produtor Consumidor Canal de Comercialização semi-direto. Produtor Consumidor Ata ca d is ta Canal de Comercialização indireto. Produtor Ata ca d is ta Vare jis ta Consumidor Figura 1 – Representação dos três tipos de canais de comercialização. Fonte: REZENDE e GOMES, 2000 Rezende e Gomes (2000) mostram que os canais de comercialização também podem ser caracterizados de acordo com o grau de desenvolvimento local, regional e nacional. Podendo ser classificados em: • Canal tradicional: onde operam as instituições intermediárias tradicionais de varejo e atacado. • Canal moderno: aquele que requer comercialização mais rápida e mais eficiente, produção mais organizada e produtos processados. • Canal avançado: aquele que surge da necessidade de atender ao comércio exterior. A Figura 2, a seguir passa uma idéia de como que funcionam esses três tipos de canais de comercialização. 5 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Canal Tradicional. Atacadista Da Capital Produtor Atacadista Varejista Consumidor Supemercado Consumidor Canal Moderno Cooperativa Produtor Agroindustria Canal Avançado Cooperativa Produtor Exportador Comércio Exterior Figura 2 – Representação dos canais tradicional, moderno e avançado. Fonte: REZENDE e GOMES, 2000 Essa esquematização permite compreender como se da a subdivisão desses canais em não-integrados e integrados. Os canais tidos como tradicionais, são tidos como canais nãointegrados, pelo fato dos agentes presentes negociarem um com o outro em operações isoladas. Já os canais modernos e avançados são tidos como canais integrados, por negociarem sob o controle de uma gerência central programada, buscando economia de operação e o máximo de impacto na comercialização (REZENDE e GOMES, 2000). A Figura 3 mostra, como que funciona um canal de comercialização integrado, ou seja, onde todos os elementos da cadeia produtiva estão interligados. Figura 3 – Canal de Comercialização Integrado Fonte: REZENDE e GOMES, 2000 2.3. Agricultura Familiar De acordo com o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAF (2006, p. 01) entende-se por agricultura familiar: ... uma forma de produção onde predomina a interação entre gestão e trabalho; são os agricultores familiares que dirigem o processo produtivo, dando ênfase na diversificação e utilizando o trabalho familiar, eventualmente complementado pelo trabalho assalariado. A agricultura tem conseguido aos poucos modificar os processos e os espaços da produção e dos seus segmentos. São novos processos de produção que se organizam. A agricultura familiar é um desses processos que possui grande importância para o setor agropecuário brasileiro. De um modo geral a agricultura familiar, volta-se para a produção de subsistência, porém tal fato vem mudando com o incentivo que os agricultores estão recebendo para produzir além dos produtos necessários a sua subsistência (PEREIRA, 2006). A atividade, segundo Pereira (2006), mobiliza milhares de pessoas no país, 6 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" equivalente a 60% dos trabalhadores da agricultura, e uma grande variedade de alimentos, que tem origem nas pequenas propriedades familiares. De acordo com Pereira (2006, p. 01), “...um dos grandes desafios que se coloca hoje é como fazer com que o conhecimento chegue ao pequeno produtor e, ainda mais, que chegue sem demora”. A agricultura familiar, além de fonte de produção de alimentos, de renda e geração de emprego é, sem dúvida, um importante meio para fixação de pessoas em sua terra de origem e de defesa do meio ambiente. Muitos dos pequenos produtores rurais familiares contribuem significativamente para o agronegócio. Dentro deste enfoque, o desafio se constitui em preservar a identidade social desta parcela da população brasileira e, ao mesmo tempo, atender o lado econômico dos pequenos produtores que, à margem da agricultura globalizada, engrossa a leva de migrantes nas periferias das cidades por não conseguirem o sustento de suas famílias na pequena propriedade rural (SCHNEIDER, 2006; PAIXÃO, 2006). Contudo, segundo o PRONAF (2006, p. 01): A agricultura familiar enquanto sujeito do desenvolvimento, é ainda um processo em consolidação. O seu fortalecimento e valorização dependem de um conjunto de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que necessitam serem emplementados de uma forma articulada por uma diversidade de atores e instrumentos. (...). Isso mostra o porque dos agricultores familiares ainda estar enfrentando dificuldades quando buscam a inserção no mercado. Porém, tal produtor, tem buscado minimizar tais problemas através da organização em associações, cooperativas etc. 2.4. Preço de Produtos Agrícolas O preço de um produto reflete de certa forma o nível de equilíbrio onde, o máximo que os consumidores estão dispostos a pagar ajusta-se com o mínimo que os produtores estão dispostos a receber por sua produção. Os preços agrícolas são bastantes instáveis e um pouco mais complexo de se entender devido a fatores que os caracterizam (WESSELS, 2002). A demanda pelos produtos agrícolas geralmente comporta-se de maneira inelástica em relação ao preço deles. A redução da quantidade ofertada de um determinado produto agrícola produz um aumento no preço recebido pelo produtor, que por conseqüência, provoca aumento na renda dos agricultores. Já no caso de um aumento da quantidade ofertada, a resposta dos preços será de redução, que por sua vez provoca o inverso, em relação à renda do agricultor, ou seja, uma diminuição na renda (MARQUES E AGUIAR, 1993). Contudo pode-se dizer que os preços dos produtos agrícolas possuem grande influência na produção e no consumo dos mesmos, causando a seguinte reação: quando os preços estão a um nível desejado, provoca um encorajamento a produzir mais por parte dos produtores agrícolas, por outro lado, os consumidores passam a consumir menos esses produtos. No caso de uma redução no preço dos produtos agrícolas, a reação dos produtores e consumidores é inversa à situação anterior.Portanto, pode-se dizer que os preços são resultados das forças de oferta e de demanda do mercado (MARQUES E AGUIAR, 1993). 3. CENÁRIO APÍCOLA NACIONAL 7 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" O Brasil atualmente e desde o início da prática da apicultura reúne condições favoráveis para se tornar um dos maiores produtores e exportadores de mel do mundo. A começar pelo chamado pasto apícola, variado e abundante em todo o país. São flores de plantios diversos, e também uma infinidade de plantas silvestres existentes nas fronteiras agrícolas do Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Além do fator genético da abelha encontrada aqui, como já foi mencionado, onde suas vantagens são a resistência a doenças que normalmente afetam as européias e, sua alta produtividade. A combinação desses fatores resulta em um mel de alta qualidade e em grande quantidade (CASTRO, 2006). O Brasil é atualmente o sexto maior produtor de mel, atrás da China, dos Estados Unidos, da Argentina, do México e do Canadá. Entretanto, é de conhecimento das autoridades que lidam com tal atividade, que existe um grande potencial apícola a ser explorado, e possibilidades de se maximizar a produção, incrementando o agronegócio apícola. O potencial de crescimento da produção apícola brasileira também depende do consumo doméstico, considerado ainda muito baixo em relação aos padrões mundiais. Em média o consumo per capita nacional é de 130 gramas, enquanto em outros países como o Canadá, o consumo médio per capita chega a 900 gramas, na Alemanha atinge a marca de 2,4 quilos per capita ao ano. Isso mostra que a população brasileira ainda não possui o hábito de consumir o mel e seus derivados. A produção brasileira de mel, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do ano de 1999 ao ano de 2002, aumentou cerca de 21,49%. Tal incremento na produção brasileira de mel foi derivado da expansão da atividade apícola na região Nordeste, que obteve um crescimento bastante significativo neste período, modificando sua posição em termos participativos da produção total do país de 14% para um total de 23,18%. Já a contribuição da região sul para o quadro nacional apícola foi bastante modesta, com uma expansão de apenas 3,44%, fato que fez com que sua participação diminuísse de 60% para 51,17% no quadro geral nacional (MOTTA, 2005). O quadro 1, mostra o desempenho que cada região obteve neste período de expansão da atividade apícola nacional. Quadro 1: Produção de mel nas Regiões, de 1999 a 2002 Kg/Ano Variação (%) Regiões 1999 2000 2001 2002 2002/1999 Norte 185.229,00 301.696,00 317.515,00 371.143,00 100,37 Nordeste 2.795.039,00 3.748.108,00 3.799.504,00 5.562.006,00 99 Sudeste 4.291.387,00 4.513.538,00 4.686.222,00 5.101.275,00 18,87 Sul 11.869.525,00 12.670.098,00 12.745.601,00 12.277.442,00 3,44 609.917,00 631.704,00 670.833,00 683.466,00 12,06 Centro-Oeste Fonte: IBGE (apud Motta, 2005, p. 44). E o quadro 2, mostra como se deu a formação desse quadro nacional produtivo de mel natural: 8 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Quadro 2: Produção de mel natural por Estado, de 1999 a 2002 Estados Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal Kg/Ano 1999 104.384,00 1.500,00 370,00 3.515,00 51.570,00 0,00 23.890,00 21.374,00 1.586.541,00 521.119,00 158,60 17.140,00 101.324,00 17.298,00 17.062,00 354.585,00 1.884.749,00 183.259,00 418.410,00 1.804.969,00 2.540.425,00 3.344.334,00 5.984.766,00 280.393,00 202.012,00 117.272,00 10.240,00 2000 164.619,00 1.800,00 498,00 4.720,00 83.354,00 0,00 46.705,00 132.478,00 1.862.739,00 654.791,00 171.084,00 30.036,00 344.325,00 13.941,00 17.806,00 520.908,00 2.100.982,00 176.655,00 405.556,00 1.830.345,00 2.870.955,00 3.983.695,00 5.815.448,00 302.786,00 191.547,00 117.371,00 20.000,00 2001 174.865,00 3.305,00 505,00 4.720,00 78.285,00 0,00 55.835,00 133.026,00 1.741.078,00 671.873,00 160.749,00 32.364,00 320.109,00 21.200,00 31.000,00 688.105,00 2.068.024,00 179.725,00 385.255,00 2.053.218,00 2.925.432,00 3.774.749,00 6.045.420,00 340.363,00 188.188,00 128.222,00 14.060,00 2002 192.352,00 3.300,00 600,00 12.530,00 91.621,00 0,00 70.740,00 158.076,00 2.221.510,00 1.373.377,00 247.048,00 41.228,00 577.016,00 14.513,00 55.960,00 873.278,00 2.408.189,00 275.957,00 359.672,00 2.057.457,00 2.843.995,00 3.828.784,00 5.604.663,00 334.428,00 174.845,00 155.133,00 19.060,00 Variação (%) 2002/1999 84,27 120 62,16 256,47 77,66 0 196,11 639,57 40,02 163,54 55,77 140,54 469,48 -16,1 227,98 146,28 27,77 50,58 -14,04 13,99 11,95 14,49 -6,35 19,27 -13,45 32,28 86,13 Fonte: IBGE apud Motta (2005,p. 44). 9 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Desde seu início, a apicultura brasileira já passou por várias dificuldades, que resultaram em impactos negativos e positivos. Nesse sentido, pode-se dividir a História da Apicultura Brasileira basicamente em três etapas distintas: a primeira etapa, o período de implantação da apicultura no país, que corresponde ao período entre 1839 a 1955 e que, portanto, antecede a chegada das abelhas africanas (Apis mellifera scutellata) ao Brasil em 1956; a segunda etapa, o período de africanização dos apiários e das colônias na natureza, que se iniciou intensamente a partir dos primeiros enxames africanos ocorridos em 1956, continuando ao longo dos anos e ultimamente com menos intensidade até os dias atuais; e uma terceira fase muito marcante que foi o “período de recuperação e expansão da apicultura brasileira”, iniciado em 1970. Pode-se dizer que o Brasil é um país com um enorme potencial apícola, que apesar dos esforços públicos e privados para expansão desta atividade, ainda tem muito a ser explorado a respeito desta atividade, e muito a ser divulgado a respeito dos benefícios que o mel natural de abelha propicia a sociedade, economia e ao meio ambiente. 4. CENÁRIO APÍCOLA NORDESTINO E NORTE-RIOGRANDENSE Por ser uma atividade relativamente nova, na região Nordeste, a apicultura é desconhecida pela maioria da população, inclusive dos técnicos responsáveis pela assistência técnica e desenvolvimento regional. Como conseqüência deste fato, a distorção de técnicas apícolas são práticas comuns e o resultado tem sido aquém do real potencial apícola que a região Nordeste pode oferecer (APICULTURA, 2006). O grande potencial da região, juntamente com incentivos governamentais para o desenvolvimento desta atividade, tem tornado a prática da apicultura uma das grandes opções para a agricultura familiar, por proporcionar o aumento de renda, através da oportunidade de aproveitamento da potencialidade natural de meio ambiente e de sua capacidade produtiva (APICULTURA, 2006). De acordo com Freitas et al (2004) apud Motta (2005), “...incentivos financeiros para investimento impulsionaram em grande parte a atividade apícola no Nordeste, que cresceu intensa e rapidamente na década de 1990”. Onde “ o principal agente financeiro é o Banco do Nordeste, assim como o Banco do Brasil, através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)...”. Que serviram de estímulo à apicultura para explorar o que de melhor a região nordestina pode oferecer neste segmento e, fez com que surgissem apoios de entidades como Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Projeto Piloto de Qualidade de Produtos Apícolas, Projeto de Apicultura do Piauí (PROAPI), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) (Motta, 2005). O quadro 3 mostra em termos percentuais a participação de cada região na produção apícola, no período de 1999 a 2002. Quadro 3: Participação regional na produção total nacional, 1999 a 2002 Regiões 1999 2000 2001 2002 Norte 0,94 1,38 1,43 1,55 Nordeste 14,15 17,14 17,10 23,18 Sudeste 21,73 20,64 21,09 21,26 Sul 60,10 57,95 57,36 51,17 Centro-Oeste 3,09 2,89 3,02 2,85 Brasil 100,00 100,00 100,00 100,00 10 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Fonte: IBGE apud Motta (2005,p. 44). Observa-se o crescimento gradativo da região Nordeste no período de 1999 a 2002, na participação do quadro nacional de produção de mel. Tal período de ascensão nordestina no quadro nacional, coincide com o decréscimo no quadro nacional no mesmo período, das duas maiores regiões produtoras de mel do Brasil, a região Sul e Sudeste. Essas sucessivas diminuições na participação no quadro nacional pela região Sul e Sudeste, não significaram reduções em seu quadro produtivo. O quadro 3 mostra como se deu o desempenho produtivo dessas regiões no mesmo período de tempo que aqui se refere. Com isso, a região nordestina brasileira, além de ser uma das poucas regiões do mundo com a capacidade de produzir mel em grande quantidade, devido a grande diversidade da flora e de climas, aliado às vastas extensões ainda inexploradas e isentas de atividade agropecuária, e a existência de extensas áreas onde não se utilizam agrotóxicos nas lavouras, possui um dos maiores potenciais apícolas não só do Brasil, mas como de todo o mundo (MAGALHÃES, 2006). A partir da década de 1980 a apicultura foi encarada como atividade com cunho profissional no Rio Grande do Norte. A partir de então, a busca por qualificação e conscientização por parte dos apicultores, para poder desenvolver a atividade de forma adequada foi intensa. A crise da atividade algodoeira no mesmo período, fez com que a apicultura passasse a interessar a números cada vez maiores de agricultores (VILELA e PEREIRA, 2002). Porém só a partir de 1993 é que a apicultura obteve um crescimento bastante significativo no Estado do Rio Grande do Norte. Segundo Vilela e Pereira (2002, p.25), o crescimento mais significativo da atividade ocorreu a partir de 1996, em média 10,43% ao ano. Entretanto, foi em 2000 que grande quantidade de produtores se iniciaram na apicultura, havendo um crescimento na ordem de 25,40%. Após esse período, o desenvolvimento foi mais lento, havendo um aumento na atividade de 18,25% e 10,13% nos anos de 2001 e 2002. Com o grande potencial natural para a exploração apícola a partir de sua vegetação com grande diversidade de floras, condições climáticas favoráveis, número consideráveis de apicultores e grande quantidade de meleiros e, pelo aproveitamento das abelhas como agentes polinizadores nas culturas para exportação, como manga, melão, caju, etc.; aumentando a produtividade destas culturas, e o incentivo gerado pela demanda do exterior pelo consumo do mel, a apicultura passou a ser uma das atividades agropecuárias dos mais rentáveis aos agricultores e apicultores da região. Isso faz com que, inúmeros agricultores comecem a ver na apicultura uma atividade cheia de perspectivas animadoras para um futuro próximo e mais palpável as suas realidades. 5. CENÁRIO APÍCOLA DO MUNICÍPIO DE APODI O município de Apodi, localizado na região Oeste do estado do Rio Grande do Norte, tem desenvolvido desde o ano de 2002 a atividade extratora de mel de abelha. A apicultura é trabalhada com maior ênfase em áreas ocupadas por projetos de assentamento. São centenas de famílias destinadas à produção de mel e seus derivados. Com o afinco mostrado por esses produtores familiares do município de Apodi nos últimos anos, a apicultura vem se tornando como umas das principais atividades agrícolas do município. Tal fato não se consolida apenas pela determinação dos produtores de mel e 11 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" derivados, fatores importantes que estão levando o município de Apodi ao lugar de destaque na produção regional e nacional de mel é sua ótima posição geográfica, o clima e vegetação que dão condições extremamente favoráveis para a prática e o desenvolvimento da atividade. Além dos fatores naturais favoráveis e da mão-de-obra dedicada a prática da atividade apícola, a produção de mel de boa qualidade só foi possível devido aos recursos destinados aos assentamentos através do PRONAF, e de uma boa assistência técnicas aos produtores familiares dos assentamentos. Até o ano de 2007, o município de Apodi conta com duas entidades locais que ajudam os produtores familiares de mel, em seu processo de comercialização, distribuição, assistência técnicas, entre outros. Tais entidades foram formadas por produtores rurais do próprio município de Apodi. São elas: COOAFAP - Cooperativa da Agricultura Familiar de Apodi e a COOPAPI – Cooperativa Potiguar de Apicultura. Esses esforços, por parte de entidades e dos próprios produtores familiares, mudaram de maneira considerável a produção de mel. A média de produção de mel dos produtores familiares dos assentamentos de Apodi, durante o ano de 2004 foi a cerca de 74kg por colméia, fator de grande notoriedade para a produção local, uma vez que, a média nacional de mel em Kg por colméia foi inferior neste mesmo período, ou seja, uma média nacional por colméia de 65kg. Tal fato tem modificado notoriamente a qualidade de vida desses produtores, uma vez que sua renda tem sido complementada e em certos casos tem se tornado a principal fonte de renda, levando em consideração que a grande maioria dos produtores de mel do município de Apodi, possui outra atividade agrícola em paralelo a apicultura (SEBRAE, 2006). 6. CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO DA APICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE APODI Os tópicos a seguir têm por finalidade responder os objetivos designados neste trabalho. Através da elaboração de questionários e entrevistas desenvolvidos no processo de pesquisa visando a obtenção de dados que pudesse tornar possível a análise e a compreensão dos canais de comercialização praticados pelos produtores familiares de mel do município de Apodi durante o ano de 2005. 6.1. Destino da produção apícola familiar do município de Apodi em 2005 Segundo Motta (2005, p.15), “a logística existe para tornar produtos e serviços disponíveis ao cliente, no momento em que ele deseja e na quantidade que ele necessita, pelo menor custo possível”. A ausência de uma logística de distribuição na atividade apícola dos produtores familiares de Apodi tem sido algo bastante relevante e determinante no momento de escoar a produção gerada em um determinado período. A tabela 1, mostra de acordo com o levantamento feito com os produtores como ocorreu a distribuição da produção gerada por esses apicultores de Apodi no ano de 2005. Tabela 1 – Destino da produção apícola em 2005 Local Regional Estadual Nacional (Apodi) (Nordeste) Internacional Total 57 47 6 3 1 0 82,46% 10,53% 5,26% 1,75% 0,00% 100,00% 12 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Fonte: Pesquisa de Campo (11/2006) Do total de produtores que foram questionados a respeito, 82,46% destes tem como fonte de escoamento de sua produção o mercado local, e apenas 17,54% não tem como principal fonte de escoamento da produção o mercado local. O resultado fornecido pelos dados levantados mostra uma forte tendência, enquanto a questão da logística não for melhor discutida entre os produtores familiares, do escoamento da produção apícola destes, continuar no mesmo patamar, ou seja, abrangendo-se em sua grande maioria para o mercado apícola local. Isso significa em muitos casos a perda de oportunidades e de possibilidades de explorar outros mercados, fator que pode se tornar um grande problema para os produtores uma vez que possam passar a sofrer conseqüências de uma variação negativa da demanda. A entrada em outros mercados iria contribuir de forma bastante intensa para a tranqüilidade desses produtores, em períodos não favoráveis à comercialização de sua produção, mantendo ou até mesmo aumentando o nível de renda desses produtores apícolas e ajudando de propagação do mercado apícola. 6.2. Agentes Compradores Uma vez questionados a respeito dos agentes compradores da produção de mel gerada no ano de 2005, os apicultores familiares de Apodi, forneceram os seguintes dados que podem ser analisados na tabela 2. Tabela 2 – Agentes compradores da produção apícola em 2005 Agentes Nº. De Agenetes (%) Consumidor Final 7 12,28% Atacado 0 0,00% Varejo 3 5,26% Atravessador 10 17,54% Cooperativas 43 75,44% Internacional 0 0,00% Indústria de grande porte 1 1,75% Indústria de médio porte 0 0,00% Indústria de pequeno porte 0 0,00% Fonte: Pesquisa de Campo (11/2006) Percebe-se que, a grande maioria dos produtores tem como seu principal agente consumidor com um total de 75,44% as cooperativas locais, que são a COOPAPI e a COOAFAP, e apenas 24,56% dos produtores possuem relações comerciais com outros agentes além das cooperativas. Tal fato mostra de certa forma a dependência que esses produtores possuem de uma instituição, no caso as cooperativas locais, para que suas produções possam ser comercializadas. Fato considerado positivo, uma vez que, a ausência de uma logística e as diversas dificuldades encontradas pelos produtores para sua comercialização, eles encontram nas cooperativas uma fonte de amenizar essas ausência e dificuldades encontradas no processo produtivo e de comercialização. 6.3. Dificuldades enfrentadas na comercialização do mel 13 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Por serem produtores da agricultura familiar, as dificuldades enfrentadas no ato da comercialização da produção, em muitos casos são fatores determinantes para a concretização da mesma. Tabela 3 – Dificuldades enfrentadas na comercialização do mel pelos produtores Dificuldade Produtores (%) 35 61,40% Preço Baixo 1 1,75% Mercado saturado 3 5,26% Processamento do mel 30 52,63% Falta de incentivo governamental 15 26,32% Ausência de indústria do gênero 35 61,40% Dificuldade de obter selo 4 7,02% Demanda 0 0,00% Distribuição Outros 3 5,26% Fonte: Pesquisa de Campo (11/2006) A tabela 3 apresenta as principais dificuldades enfrentadas pelos apicultores, dentre as quais se destacam. O preço baixo e a dificuldade em obter o selo referente ao padrão de qualidade do mel, foram citados por 61,40% dos questionados, como as duas maiores dificuldades enfrentadas no ato da comercialização do mel. Por serem produtores familiares, o poder de barganha sobre o preço do mel em relação ao preço praticado no mercado apícola é praticamente nulo. Isso faz com que os produtores acabem comercializando seu produto a um preço não desejado por eles. A dificuldade em obter o selo que certifica a qualidade e a procedência do mel, o SIF1, tem se apresentado entre esses produtores uma grande barreira para a comercialização da produção, uma vez que os consumidores encontram-se cada vez mais exigentes em relação ao padrão de qualidade e procedência do mel. O acesso ao selo é algo de extrema dificuldade para esses produtores, uma vez que, a ausência de tecnologias que possibilitam quantificar e qualificar sua produção é bastante notória no meio. 6.4. Dificuldades enfrentadas pelos produtores com os agentes que mantém relação comercial As dificuldades encontradas por esses produtores com os agentes que possuem relações comerciais, estão discriminadas na tabela 4. Tabela 4 - Dificuldades enfrentadas com os agentes que mantém relação comercial Dificuldades Produtores (%) Quebra de contrato 4 7,02% Atraso no pagamento 8 14,04% Exigência de selos 32 56,14% Qualidade do Mel 34 59,65% 1 SIF - Selo de Inspeção Federal. 14 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Fonte: Pesquisa de Campo (11/2006) A qualidade do mel produzido por esses produtores foi citada por 59,65% dos questionados. Os apicultores consideram este item como fator decisivo em suas relações comerciais, seguido da exigência de selos que certificam a qualidade e procedência do mel, com um percentual de 56,14%. A preocupação do consumidor com problemas relacionados à presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos e no ambiente tem se tornado um fator decisivo na decisão de escolha do produto. A falta de manejo sanitário adequado e direcionado para atender às exigências do mercado, juntamente com a falta de convivência com um mercado exigente, e a falta de condições financeira por parte desses produtores para implantar um programa produtivo que adquira uma melhor qualificação técnica que possibilite uma produção que de origem a um mel de melhor qualidade, é o que dar origem a esses dois fatores que foram citados como os itens que mais contribuem de forma negativa no ato da comercialização da produção. 6.5. Relação canais de comercialização e preço pago aos apicultores No decorrer do processo de pesquisa foram identificados quatro tipos de mercados praticados pelos apicultores familiares de Apodi no ano de 2005. Três desses mercados possuíam a figura do intermediário, e apenas em um deles não possuía tal. A importância do intermediário nesses processos de comercialização do mel é de grande notoriedade, uma vez que, a dificuldade dos apicultores em comercializar sua produção por vias próprias é algo bastante complicado como já foi mencionado anteriormente. O gráfico 1 mostra como se deu a relação preço médio pago entre produtores e agentes que mantinham relação comercial, durante o ano de 2005. Gráfico 1 – Preço pago pelos agentes R$ 7,00 R$ 6,00 R$ 5,00 R$ 4,00 R$ 3,00 R$ 2,00 R$ 1,00 R$ Preço pago pela Cooperativa Preço pago pelo Atravessador Preço pago pelo Consumidor final Preço pago no varejo Fonte: Pesquisa de Campo (11/2006) De acordo com os dados obtidos e como pode ser observado no Gráfico 1, o valor recebido pelos apicultores dos agentes é distinto em todas as suas relações. O preço médio pago pelo Kg de mel pelas cooperativas, atravessadores, consumidor final e pelo varejo respectivamente foram: R$2,74, R$ 2,41, R$ 6,86 e R$ 3,30. 15 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A figura quatro esquematiza de forma a fornecer uma idéia de como se pode dar a relação produtores e diversos agentes compradores de sua produção. Produtor Produtor Produtor Produtor Produtor Cooperativa Cooperativa Atacadista Produtor Varejista Atravessador Atravessador Con. Final Varejista Atacadista I. G. Porte Produtor Con. Final Varejista Atacadista I. G. Porte Produtor Con. Final Varejistal Cooperativa Cooperativa Produtor Con. Final Varejista Con. Final Con. Final Con. Final Varejista Atacadista Con. Final Varejista Con. Final Figura 4 – Canais de comercialização praticado pelos produtores Fonte: Pesquisa de Campo (11/2006) É perceptível através da figura 4, que o produtor possui relações comerciais mais diretas quando se trata de transações comerciais sem a presença de intermediários, ou seja, utilizando-se do estágio direto de comercialização, e relações comerciais menos direta, quando se trata de transações com a presença de intermediários, ou seja, utilizando-se do estágio semi-direto quando existe apenas um intermediário, e o estágio indireto, quando decorre da existência de dois ou mais intermediários. Um maior ou menor ganho no preço do Kg de mel por parte do produtor, está diretamente ligado a presença desses intermediários em maior ou menor número em suas relações comerciais. Tomando como preço médio do produtor o preço pago pela cooperativa a este, uma vez que, a cooperativa não insere margens de comercialização sobre o preço adquirido ao produtor, verifica-se através do gráfico 1 que, na medida em que a presença do agente intermediário é de maior participação no processo de comercialização o preço recebido pelo produtor é cada vez menor, como é o caso do preço pago pelo atravessador e pelo varejista. Em contra partida a ausência no processo de comercialização de um atravessador resulta em preços mais elevados para os produtores, com é o caso do preço médio pago pelo consumidor final. O número de agentes envolvidos em cada processo de comercialização é fator determinante para uma maior ou menor renda que o produtor venha adquirir com a venda de sua produção. A pesar da ciência de que uma transação comercial sem a participação de intermediários é mais rentável para o produtor, as dificuldade citadas anteriormente em manter tais relações por vias próprias, faz com que esses produtores busquem escoar sua 16 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" produção através do canal de comercialização semi-direto, ou seja, com a participação de intermediários. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através dos dados obtidos com a aplicação de questionários e entrevista junto aos apicultores familiares de mel de Apodi, buscando responder a problemática proposta, isto é, identificar quais os canais de comercialização mais adequados à realidade dos apicultores familiares do Município de Apodi, pode-se afirmar após todo processo de pesquisa, que a comercialização dos produtos apícolas por esses produtores é algo bastante intenso, porém ainda deixa bastante a desejar. É notório no município de Apodi o incentivo que os agricultores e apicultores têm recebido de associações, cooperativas, governo etc., para produzir além dos produtos necessários a sua subsistência. Com isso a atividade apícola tem se mostrado além de fonte de produção de alimentos e fixação de pessoas em sua terra de origem, como uma atividade que vem gerando renda, emprego e como conseqüência disto, melhorias na qualidade de vida dos produtores familiares e membros da família que participam do processo produtivo. A pesquisa identificou que os 57 produtores pesquisados, obtiveram uma produção média de 457,5 kg de mel no ano de 2005. O escoamento dessa produção foi feito principalmente para o mercado local, devido à ausência de uma logística de distribuição e comercialização da produção por parte desses produtores. A maioria dos produtores teve como principal agente comprador de sua produção as cooperativas locais. Tal fato mostra de certa forma a dependência que esses produtores possuem de uma instituição, no caso as cooperativas locais, para que suas produções possam ser comercializadas. Por serem produtores da agricultura familiar, dificuldades enfrentadas no ato da comercialização da produção, em muitos casos tornam-se fator determinante para a concretização da mesma. A questão da qualidade do mel e a obtenção do selo que certifica a qualidade e procedência do mel, o SIF, foram citadas como as principais dificuldades enfrentadas pelos apicultores. Devido a estas dificuldades encontradas nas diversas etapas do processo produtivo e de comercialização, é de grande notoriedade o uso de agentes intermediários por esses produtores, ou seja, foi a forma encontrada para que a produção pudesse ser escoada mesmo que tenha sido a um preço não desejado pelos apicultores. Através de uma análise comparativa feita com os dados obtidos, o preço pago ao apicultor pelo Kg do mel quando não há a presença do intermediário, ou seja, quando o apicultor se responsabiliza pela comercialização, principalmente com o consumidor final, o resultado em termos de preço é bem mais satisfatório para ele. Em suma, os apicultores familiares do município de Apodi, utilizam vários canais de comercialização. O número de agentes envolvidos em cada canal de comercialização é fator determinante para uma maior ou menor renda que o produtor venha adquirir com a venda de sua produção. Com base nesses aspectos identificados no decorrer da pesquisa em cada um dos canais de comercialização praticado pelos apicultores familiares de Apodi, o canal de comercialização semi-direto apresentou-se como o mais adequado à realidade desses apicultores, para a prática da comercialização dos produtos derivados da apicultura familiar. Diante deste fato, um maior suporte, por parte das instituições locais de Apodi, que tem suas atividades direcionadas a atividade apícola, poderia acarretar mais benefícios uma vez que seus esforços também se destinam com mais ênfase na capacitação dos produtores 17 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" familiares do município. Um processo de capacitação na produção e na comercialização possibilitara a tais produtores o conhecimento e o domínio de técnicas como a de agregação de valor de seu produto, no caso o mel, que ampliará as oportunidades de mercado, e técnicas no que diz respeito à questão da comercialização da produção gerada, tendo como objetivo mostrar ao apicultor quais os canais de comercialização, mais adequados a sua realidade. A soma dessas medidas poderá acarretar em uma redução na flutuação de preços e um aumento significativo na renda desses produtores. 18 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" REFERÊNCIAS APICULTURA. Disponível em: <http://www.sebraern.com.br/apicultura/programa.htm>. Acesso em: 02/09/2006 BATALHA, M. O (org.). Gestão agroindustrial. GEPAI: Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997. BRANT, S. A. Comercialização agrícola. Piracicaba: Livroceres, 1980. CASTRO, G. Doce potencial. Disponível em:< www.deere.com.br>. Acesso em: 20/10/2006. CICCO, L. H. S. Disponível em: <http://www.saudeanimal.com.br/abelha9.htm />. Acesso em: 08/09/2006. ESCÓRCIO, J. R.; DENARDI, R. A. Comercialização de produtos agrícolas. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1993. FREITAS, B. B. et al. Revista Mensagem Doce: São Paulo, APACAME, nº 77, julho/2004. IAGRAM. 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