Cosmovisão Reformada
Igreja Presbiteriana Metropolitana de Guarulhos
Aula 3
Características da Cosmovisão Reformada
Doutrina do Pacto
1) Está Baseada na Palavra de Deus
A doutrina do pacto estabelece a verdade de que
Deus se relaciona com o seu povo de maneira
pactual. Ele estabelece este pacto e ordena que
sigamos seus preceitos. Estes preceitos são
chamados de mandatos que pode ser
reconhecido de maneira tripla: 1) Mandato
cultural; 2) mandato social; 3) mandato espiritual.
Explicando mais detalhadamente o mandato
cultural diz respeito à maneira como devemos
lidar com as coisas que Deus criou (natureza,
conhecimento, tecnologia, ciência, etc); o
mandato social diz respeito ao relacionamento
com os outros seres humanos (família, filhos,
marido, mulher, amigos, próximo, ímpio, etc); o
mandato espiritual fala sobre o relacionamento
com o Criador de todas as coisas. Observe que, a
partir deste conceito nada pode escapar do
controle soberano de Deus e não se pode separar
um “domínio religioso ou espiritual” de um
“domínio secular”.
A Teologia Reformada envolve uma nova
cosmovisão, que, partindo da Palavra, afeta
obviamente todas as áreas de nossa existência,
não havendo compartimentos estanques do ser e
do saber onde a perspectiva teocêntrica não se
faça presente de forma determinante em nossa
epistemologia doutrinária e existencial.
DEUS
HOMEM
CRIAÇÃO
Anunciar todo o desígnio de Deus – At 20.27; Gl
1.8,9,11.
Quando usamos o termo Cosmovisão Reformada,
estamos claramente assumindo o termo como
sinônimo dos ensinos conhecidos como
Calvinismo. O Calvinismo, com sua ênfase na
centralidade das Escrituras, é mais do que um
sistema teológico, é, sobretudo, uma maneira
teocêntrica de ver, interpretar e atuar na história
O Cristianismo – de acordo com o pensamento
Reformado –, não é uma forma de acomodação
na cultura, pelo contrário, tendo como base a
Palavra de Deus, ele forma e transforma através
de uma mudança de perspectiva da realidade,
que, por sua vez, redundará necessariamente
numa mudança nas regras de comportamento,
alterando, também, as suas agendas e praticas. A
fé, portanto, tem compromissos existenciais
inevitáveis.
SOCIEDADE
O gráfico acima mostra como se dá este
relacionamento. Apesar do homem estar no
centro do gráfico, não queremos ensinar aqui que
ele é o centro de todas as coisas como se dá no
humanismo. Na verdade, queremos apenas
apresentar a posição do homem diante deste
pacto estabelecido pelo Deus soberano.
A Palavra de Deus é, assim, a fonte da
cosmovisão, o parâmetro de direção oferecendonos o escopo de nosso pensar e agir. Só ela pode
apresentar quem realmente Deus é, quem nós
somos, e o que é o mundo criado pelo Deus
invisível e soberano. Portanto, uma cosmovisão
Reformada é uma visão que se esforça por
interpretar a chamada realidade pela ótica das
Escrituras. Sem as Escrituras permanecemos com
nossas visões turvas e embaçadas, tornando-nos
incapazes de distinguir a realidade da fantasia e
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da mentira. Calvino reforça essa idéia quando usa
a seguinte figura: “Exatamente como se dá com
pessoas idosas, ou enfermas de olhos, e quantos
quer que sofram de visão embaçada, se puseres
diante deles até mui vistoso volume, ainda que
reconheçam ser algo escrito, mal poderão,
contudo, ajuntar duas palavras; ajudadas, porém,
pela interposição de lentes, começarão a ler de
forma mais distinta. Assim a Escritura, coletandonos na mente conhecimento de Deus de outra
sorte confuso, dissipada a escuridão, mostra-nos
em diáfana clareza o Deus verdadeiro”.
A cosmovisão reformada (Calvinista) fornece-nos
óculos baseados na Soberania de Deus. Usandoos podemos interpretar a realidade, deixando de
ser meros espectadores inertes diante dos fatos
para nos tornarmos em transformadores da
criação feita pelas mãos dEle. É aí que atendemos
o chamado de Deus a viver dignamente com o
Evangelho que nos foi pregado e confiado,
anunciando todo o desígnio de Deus (At 20.27; Gl
1.8,9,11)
Esta Palavra se torna esta base verdadeira para
nós por causa de sua inerrância, infalibilidade e
imutabilidade. Seus princípios passam a nortear a
nossa perspectiva da realidade em todas as suas
dimensões: religiosa, social, política, econômica,
ética, profissional, familiar, etc. Portanto, uma
ética comprometida com as Escrituras.
que alguns possam pensar, a soberania de Deus
não indica apenas que ele é o supremo legislador,
mas que é a fonte suprema no que diz respeito à
verdade, às artes e à moral, à educação, à
ministração de sua graça e a todas as outras
áreas da existência.
Esta ênfase na soberania absoluta e majestosa de
Deus não desvaloriza o homem. Pelo contrário, é
no Deus soberano e absoluto que o homem por
ele criado encontra e conhece seu verdadeiro
valor. Sua dignidade não é inerente, mas
dependente.
Assim, a maneira como encaramos a Deus fará
com que encaremos correta ou incorretamente o
homem, a natureza, o conhecimento, a família,
ao próprio Deus e tudo que é base de nosso
conhecimento e da nossa crença compromissada.
3) Está Baseada na Real Condição do Ser Humano
A Bíblia – uma das bases de nossa cosmovisão –
aponta para a realidade de que o homem caiu em
pecado e que esse pecado manchou e atingiu
toda obra da criação de Deus, e, também, criou
uma verdadeira barreira espiritual e natural a fim
de que o homem cumpra da maneira que lhe foi
estipulada os mandatos do pacto do Deus
soberano (Ef 2.1; Rm 3.23; 5.12; 1 Co 15.21-22).
2) Está Baseada na Soberania Absoluta de Deus
4) Está Baseada na Suficiência da Obra de Cristo
Apesar de notarmos a idéia da soberania de Deus
entre os cristãos, na prática é somente na
cosmovisão reformada que veremos a defesa
desta soberania majestosa absoluta. Logo, não
apenas a teologia, mas a própria cosmovisão
reformada
é
teocêntrica
e
jamais
antropocêntrica.
De acordo com a perspectiva reformada, se Deus
não é soberano sobre a sua criação, tanto no que
diz respeito ao governo quanto à redenção da
mesma, então ele não é soberano de fato e,
conseqüentemente, não é divino. Ao contrário do
A cosmovisão Reformada sustenta a suficiência
da obra redentora de Cristo. Uma vez que o
propósito redentivo de Deus atinge o seu clímax
na pessoa e na obra de Cristo, a fé reformada
tem sido consistente em ressaltar a cristologia
bíblica. Uma vez que o pecador encontra-se em
um estado de rebeldia e inimizade contra Deus e
sua condição é de morte espiritual, ele necessita
de um Mediador para reconciliar Deus com ele.
Cristo, então, é o Mediador entre Deus e o
homem; aquele que reina para todo o sempre e
sobre todas as coisas e, para ser o cabeça sobre
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todas as coisas, o Pai o deu à igreja (Ef 1.22-23).
Assim, a tarefa da igreja é tornar visível o reinado
invisível de Cristo.
A cosmovisão reformada tem como base três
dimensões fundamentais: criação, queda e
redenção (esta última pode também ser
chamada, ainda que de maneira não tão
apropriada, de restauração ou recriação).
Criação
Nada é preexistente ou eterno, exceto Deus. Ele é
a fonte exclusiva de toda criação, cada parte da
criação traz em si impressões digitais dEle. Não
apenas isso, mas reflete o seu bom caráter na
forma criada e original (Sl 24.1; Gn 1.4, 10, 12).
Por conseqüência não existe nada que foi criado
por Deus que seja ruim por natureza (1 Tm 4.4).
Espiritualidade, então, nada tem a ver com evitar
certas partes e aspectos das coisas criadas. Ainda
que o pecado seja odioso e manche aquilo que
Deus fez – e que fez bom – temos que
demonstrar profunda apreciação e amor por este
mundo como obra de Deus. Devemos apreciar a
beleza da natureza e as maravilhas da
criatividade humana.
Calvino afirmou que a palavra de Deus – seu
decreto criativo - fez surgir o mundo. A
identidade ou natureza de cada coisa é dada pela
palavra Divina: o homem é governado pela lei
moral e o mundo físico pelas leis da natureza. A
diferença é que os homens têm de escolher
obedecer à lei moral e a natureza não tem essa
escolha.
Queda
domínio, em virtude da queda, contaminou tudo
aquilo que Deus criou. A autoridade corrupta
corrompera os que lhe se submetem.
A queda é uma clara maneira de mostrar que o
mal que existe no mundo não é intrínseco à
criação boa feita por Deus. A desordem, o caos, a
maldade são fruto do homem decaído que usa a
criação de Deus não para a glória dEle, mas para
seu próprio prazer e propósitos maus (Rm 14.14).
As coisas se tornam imundas quando pecadores
as usam para expressar sua rebeldia a Deus. O
coração humano é a linha delimitadora entre o
bem e o mal. Como exemplo, podemos citar a
música que pode ser usada para a perversão
moral; a arte que pode ser usada em filmes e
livros que transmitem cosmovisões não-bíblicas e
promovem a decadência da sociedade; a
sexualidade que foi criada por Deus, mas pode
ser usada com propósitos egoístas e depravados;
; o Estado; o trabalho e a própria natureza
(quando ela é deificada e sobrepuja o valor do
homem, como fui informado que está
acontecendo na região do Mato Grosso, onde a
onças estão se multiplicando de tal maneira que
estão matando pessoas que não podem matá-las
para preservar sua própria vida). Os
reformadores dividiram esta ideia na seguinte
estrutura:
Estrutura
Caráter
criado
do
mundo
Direção
Modo como as coisas
são conduzidas (para
glorificar e servir a
Deus ou para servir
aos ídolos
Assim como a Criação tem uma extensão
cósmica, da mesma maneira, a queda tem a
mesma extensão. Mesmo o mundo natural foi
atingido por este evento (Gn 3 e Rm 8). Como a
doutrina do pacto nos ensina, o homem foi criado
para ser um vice-gerente da criação, um
representante de Deus no mundo criado. Este
Obviamente, quando os reformadores se
referiram aos ídolos não estavam apenas falando
sobre as imagens de escultura, mas sobre
qualquer ser ou coisa que colocamos no lugar de
Deus para no final satisfazer e adorar.
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Com isto em mente cabe uma pergunta: uma
atividade dita espiritual pode ser dirigida para o
pecado? O que temos visto na vida de muitos
supostos líderes evangélicos?
Sem dúvida, podemos fazer coro a voz de
Alexander Solzhenitsyn (Arquipélago Gulag): A
linha que separa o bem e o mal não passa por
estados, nem entre classes, nem entre partidos
políticos, mas pelo coração humano.
Redenção
Da mesma maneira que o alcance da Criação de
Deus e da Queda são universais, todas as coisas
serão redimidas (restauradas). A promessa de
Deus para tudo que Ele fez é de santificação e
purificação e não de destruição para fazer tudo
novamente. Isto seria um atestado de que a obra
de Satanás e o mal que se instalou no mundo são
superiores ao poder de Deus e que o derrotaram.
O céu não será um lugar de seres sem corpo e
com uma mente irreal. Nosso corpo físico e a
terra com toda sua natureza serão restaurados (1
Co 15). A eternidade não significa ócio:
continuaremos a cumprir – só que perfeitamente
– o mandato cultural de Deus. Logo, toda vocação
válida terá seu equivalente no novo céu e na
nova terra.Será um engrandecimento, uma
intensificação, uma glorificação desta vida. Nossa
vocação lícita aqui e agora é um prenuncio do
que Deus tem para nós no porvir e depois. O
mandato gerencial de Deus para Adão e Eva será
retomado de maneira perfeita. Na redenção,
tudo será nosso (1 Co 3.21)
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