Introdução às funções e à trigonometria Antes de dar prosseguimento ao estudo do movimento, a cinemática, precisamos rever alguns conceitos muito importantes da matemática. Mais especificamente, vamos relembrar o que é uma função, como representá-la no plano cartesiano, como trabalhar com ângulos, suas relações trigonométricas, os ângulos notáveis e o círculo trigonométrico. 1. Funções e sua representação no gráfico cartesiano O que é função? Uma função matemática (ou computacional) é um processo que gera um resultado a partir de uma ou mais entradas (argumentos da função). Pode-se encará-la como uma transformação: é um processo que “pega” o argumento inserido, segue uma regra de transformação, e fornece um resultado. x função f f ( x) Chama-se f(x) a resposta à entrada x, isto é, a entrada x transformada pela função f. Exemplo 2.1.1: Considere a função f ( x) = 3 x + 2 . Essa função “pega” uma entrada genérica x, multiplica-a por 3 e, por fim, soma 2 ao resultado. Podemos então calcular alguns pares entrada-saída dessa função: f (−2) = 3 × ( −2 ) + 2 = −4 f (−1) = 3 × ( −1) + 2 = −1 f (−0,5) = 3 × ( −0,5 ) + 2 = 0,5 f (0) = 3 × 0 + 2 = 2 f (0,5) = 3 × 0,5 + 2 = 3,5 f (1) = 3 ×1 + 2 = 5 f (2) = 3 × 2 + 2 = 8 Podemos ainda descobrir, por exemplo, qual entrada gerou um determinado resultado. Por exemplo, quanto vale a se f(a) é igual a 32? f (a ) = 32 3a + 2 = 32 3a = 30 a = 10 Observação importante: Em uma função, cada entrada gera uma e somente uma resposta da função. Por exemplo, não é possível existir uma determinada função na qual temos f (a ) = 3 e f (a ) = 5 . Já o contrário é possível, isto é, podemos ter um caso em duas entradas diferentes geram uma mesma saída. Podemos citar como exemplo f ( x ) = x 2 . Se tivermos f (a ) = 25 , ou seja, a 2 = 25 , conclui-se que a = 5 ou a = −5 . E, para completar, há ainda funções nas quais é impossível gerar-se uma determinada saída, ou seja, nenhuma entrada gera aquela saída. Ainda no mesmo exemplo, em que f ( x ) = x 2 , se tentarmos calcular a tal que f (a ) = −25 , concluiremos que a não existe no conjunto dos números reais. As funções para as quais, dada qualquer saída, não existe mais de uma entrada capaz de gerá-la são chamadas injetoras. Ou seja, para cada saída, há no máximo uma entrada que a gera, sendo possível também não haver nenhuma entrada que a gera. As funções para as quais, dada qualquer saída, sempre existe no mínimo uma entrada que a gera são chamadas sobrejetoras. Ou seja, é impossível haver uma saída tal que nenhuma entrada a gere. As funções para as quais, dada qualquer saída, sempre existe uma e somente uma entrada que a gera são chamadas bijetoras. Tais funções são necessariamente sobrejetoras e injetoras ao mesmo tempo. Em linguagem matemática, podemos dizer que as funções injetoras são aquelas em que f ( x1 ) = f ( x2 ) ⇒ x1 = x2 Analogamente, as funções sobrejetoras (definidas no conjunto dos números reais) são aquelas em que m ∈ » ⇒ ∃ x tal que f ( x) = m Traduzindo, se m pertence ao conjunto dos números reias, então existe x tal que x gera a saída m. Representação cartesiana de uma função real Como já vimos, um gráfico cartesiano corresponde a um conjunto de eixos orientados. Podemos utilizá-lo para representar funções reais. Nos casos mais simples, aos quais vamos nos ater, em que trataremos de funções de uma variável e respostas únicas, usamos apenas dois eixos cartesianos e, portanto, a representação dessas funções ocorre em um plano. y x 0 Antes de mais nada, vamos definir o que é um par ordenado, e como representá-lo no plano. Um par ordenado são dois números reais, dispostos em uma determinada ordem. Dizemos que (a, b) é um par ordenado, em que a, b ∈ » . Um par ordenado, em um gráfico cartesiano, corresponde a um ponto no plano. Por padrão, esse ponto é fixado de forma que sua projeção no eixo x (eixo das entradas) seja em a, e no eixo y (eixo das saídas), em b. Veja abaixo: y b ( a, b) x 0 a Repare que a e b são pontos dos eixos x e y, respectivamente, contados a partir da origem. Convencionalmente, o eixo x é orientado para a direita, isto é, os valores tomados à direita da origem são positivos; e à esquerda, negativos. Também por convenção, o eixo y é orientado para cima, ou seja, os pontos localizados acima da origem são positivos; e abaixo, negativos. Dizemos que a e b são as coordenadas do ponto (a, b). Quando representamos uma função no plano cartesiano, marcamos os pontos da forma (x, f(x)), ou seja, os pontos tais cuja coordenada em y é a resposta da função f à coordenada em x como entrada. Isto significa que se, por exemplo, o ponto (a, b), representado acima, pertence à função f, podemos dizer que f(a) = b. Exemplo 2.1.2: Vamos ver um exemplo de uma função f representada abaixo. y 3 1,5 −3,5 −2 1 x 0 4 5 −6 A curva desenhada é a união de todos os pontos no gráfico que fazem parte da representação da função f. Pelo que definimos, podemos ver no gráfico o ponto (4, 1,5), isto é, um ponto cuja projeção no eixo x é 4, e no eixo y, 1,5. Isso quer dizer que a resposta da função f à entrada 4 é igual a 1,5. Em termos matemáticos, f (4) = 1,5 . Podemos, a respeito da função f representada, propor algumas perguntas. P: Qual é a resposta da função f à entrada −2 ? R: Pelo gráfico, vemos o ponto ( −2 , 1), isto é, a resposta à entrada −2 é 1. f (−2) = 1 P: Qual(ais) é (são) a(s) entrada(s) que geram a resposta 1? R: Identicamente, −2 , −3,5 e algum número entre 4 e 5 geram resposta 1. f (−2) = 1 , f ( −3,5) = 1 e f ( x) = 1, em que, 4<x<5 P: Quanto vale f (0) ? R: O único ponto do gráfico cuja projeção em x ocorre em 0 é (0, 3), portanto podemos concluir que f (0) = 3 . P: Determine x tal que f ( x) = 0 R: Os pontos cuja projeção em y ocorrem em 0 são ( −6 , 0) e (5, 0). Logo, x = 5 ou x = −6 Exemplo 2.1.3: Vamos agora construir passo a passo o gráfico cartesiano de uma função. Seja f ( x ) = 2 x − 1 . Para termos uma noção de como será esse gráfico, vamos escolher alguns pontos próximos da origem, calcular suas coordenadas e representá-los no gráfico. De forma mais sistemática, construiremos a seguinte tabela: x f(x) –2 f (−2) = 2 × ( −2 ) − 1 = −5 –1 f (−1) = 2 × ( −1) − 1 = −3 0 f (0) = 2 × ( 0 ) − 1 = −1 1 f (1) = 2 × (1) − 1 = 1 2 f (2) = 2 × ( 2 ) − 1 = 3 3 f (3) = 2 × ( 3) − 1 = 5 y 5 3 −2 −1 1 0 x 1 −1 2 3 −3 −5 Parece que nessa função os pontos alinharam-se de forma colinear. Não devemos nos esquecer que pegamos apenas uma amostra de alguns pontos. Mesmo entre um ponto e outro, existem infinitos pontos. Por exemplo, entre (1, 1) e (2, 3), existe (1,5, 2), (1,2, 1,4) etc. De forma a unir esses infinitos pontos, dizemos que a representação gráfica dessa função é uma reta. y 5 3 −2 −1 1 0 x 1 −1 2 3 −3 −5 Observação importante: Verifica-se que toda função da forma f ( x) = ax + b , isto é, que “pega” a entrada, multiplica-a por um número qualquer e, ao resultado, soma um outro número, é representada graficamente por uma reta. São as chamadas funções afins, ou de primeiro grau. A denominação “primeiro grau” refere-se ao que chamamos de ordem da função. Isso quer dizer que o maior expoente de x que “aparece” na função é 1. Em uma função do segundo grau, ou de ordem 2, temos algo da forma f ( x ) = ax 2 + bx + c , pois o maior expoente de x é 2. Essa função é também chamada de função quadrática, e é representada por uma curva chamada parábola. Analogamente, em uma equação de terceiro grau, ou ordem 3, temos f ( x ) = ax 3 + bx 2 + cx + d . Essa função é representada por uma hipérbole. E assim ocorre sucessivamente. 2. Trigonometria Dado um triângulo qualquer, sabe-se que a soma de seus ângulos internos é 180º. β α + β + γ = 180º α γ Denomina-se triângulo retângulo aquele que possui um ângulo reto, isto é, um ângulo de 90º. α + β + 90º = 180º α α + β = 90º h (Hipotenusa) Cateto a β Cateto b ângulo de 90º A soma de α e β é 90º e, por isso, são chamados complementares. Cada triângulo retângulo é formado por um ângulo de 90º e um par de ângulos complementares. Denominamos cateto adjacente a um ângulo como o lado do triângulo localizado entre o vértice correspondente e o ângulo reto. O lado oposto ao ângulo reto é chamado hipotenusa. O terceiro lado é o chamado cateto oposto. O cateto a é adjacente a α e oposto a β. O cateto b é adjacente a β e oposto a α. Relação de Pitágoras Apesar de ser comprovado que os egípcios já trabalhavam com as relações entre os lados do triângulo retângulo muitos séculos antes dos gregos, a fórmula mais notável é conhecida como a relação de Pitágoras. Aliás, sabemos que sem vários conceitos de cálculo avançado, os quais a ciência ocidental só desenvolveu nos últimos séculos, os egípcios não teriam capacidade de construir as pirâmides. Sendo h a hipotenusa do triângulo retângulo, a e b os seus catetos, temos que: h2 = a 2 + b2 Costuma-se dizer também que “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos”. Triângulos semelhantes Dois triângulos são semelhantes se e somente se têm os mesmos ângulos. Isso equivale também dizer que eles têm lados proporcionais. Por exemplo, vamos considerar dois triângulos semelhantes, com fator de semelhança igual a k. β c β a a’ c’ α γ b α γ b’ Temos então que: a' b' c' = = =k a b c Pode-se provar que a razão entre as áreas dos triângulos é k2. Relações trigonométricas Em um triângulo retângulo, podemos definir as seguintes relações trigonométricas para um ângulo qualquer θ: cateto oposto a θ sen θ = hipotenusa cateto adjacente a θ cos θ = hipotenusa cateto oposto a θ tg θ = cateto adjacente a θ Essas funções são chamadas seno, co-seno e tangente, respectivamente. A tangente de θ pode ser reescrita como a razão entre seno e co-seno: cateto oposto a θ (cateto oposto a θ) ÷ ( hipotenusa) sen θ tg θ = = = cateto adjacente a θ (cateto adjacente a θ) ÷ ( hipotenusa) cos θ No exemplo inicial de triângulo retângulo, tínhamos: a = cos α = sen β h b = sen α = cos β h 1 b = tg α = tg β a 1 a = tg β = tg α b Dica: Para lembrar: • O seno de um ângulo é a razão entre o cateto separado e a hipotenusa. • O co-seno de um ângulo é a razão entre o cateto colado e a hipotenusa. • A tangente é a razão entre os dois anteriores. Repare que o seno de um ângulo é igual ao co-seno do ângulo complementar a ele. Além disso, a tangente de um ângulo é igual ao inverso da tangente do ângulo complementar a ele. Exprimimos essas relações da seguinte forma: sen θ = cos ( 90º −θ ) cos θ = sen ( 90 − θ ) α b' tg θ = As funções seno, co-seno e tangente são associadas unicamente ao ângulo, independentemente do triângulo em que eles se encontram. a’ α Vamos tomar como exemplo dois triângulos retângulos semelhantes. Vamos colocá-los sobrepostos, como mostra a figura ao lado: a b c −1 1 = ( tg ( 90º −θ ) ) tg ( 90º −θ ) β β Chamando de k o fator de semelhança, temos: a ' = ka b ' = kb c ' = kc c' Para o triângulo menor temos: sen α = c a Para o triângulo maior temos: sen α = c ' k.c c = = a ' k .a a Isso mostra que o seno é função exclusiva do ângulo. De forma análoga, pode-se mostrar o mesmo para as funções co-seno e tangente. Outra relação importante pode ser mostrada a partir da equação de Pitágoras. Vamos considerar o triângulo menor do exemplo acima: b2 + c 2 = a2 Vamos multiplicar ambos os lados da igualdade por 1 2 : a 1 ( b2 + c 2 ) × a 2 = a 2 × a12 No segundo termo, ocorre o cancelamento. No primeiro, faremos a distribuição: b2 c2 + =1 a2 a2 2 2 b c + =1 a a E, portanto: sen 2 β + cos 2 β = 1 Isso vale para qualquer ângulo. O triângulo 90º - 45º - 45º Consideremos um quadrado de lado L, e sua diagonal d. A diagonal “corta” o ângulo de 90º em dois pedaços iguais de 45º cada. L 45º 45º L d 45º L 45º L Vamos “recortar” a metade do quadrado. Teremos: 45º d L 45º L Por Pitágoras, podemos calcular d em função de L: d 2 = L2 + L2 = 2.L2 d=L 2 Agora podemos calcular para o ângulo de 45º: L sen 45º = cos 45º = L 2 sen 45º =1 tg 45º = cos 45º = 1 2 = 2 2 O triângulo 90º - 30º - 60º 30º 30º L L h 60º Consideremos um triângulo eqüilátero (lados iguais e ângulos de 60º) de lado L, e a altura h, que “corta” o ângulo superior de 60º em dois pedaços iguais de 30º cada, e que divide o lado oposto (a base do triângulo) em dois segmentos iguais a L 2 cada. 60º L 2 L 2 Vamos recortar a metade do triângulo. Teremos: Por Pitágoras, podemos calcular a altura h: 2 L2 L L2 = h 2 + ∴ L2 = h 2 + 4 2 2 2 L 3L = h 2 = L2 − 4 4 3 h=L 2 As relações trigonométricas para esse triângulo são as seguintes: 3 L h 3 2 sen 60º = cos 30º = = = 2 L L L2 1 h cos 60º = sen 30º = L = 2 sen 60º = cos 30º = = L h sen 60º = = 3 tg 60º = cos 60º L 2 30º L h 60º L 2 tg 30º = sen 30º 1 1 3 = = = cos 30º tg 60º 3 3 O triângulo limite 90º - 90º - 0º Vamos considerar um triângulo retângulo, como a seguir: α a b β c Procuraremos diminuir a abertura de α e, ao mesmo tempo, estaremos aumentando β. Isso se dará “fechando” o lado a, conforme indica a seta. Faremos isso, até que α fique bem próximo de 0º e, obviamente, β fique bem próximo de 90º. α a b β c Repare que no caso limite, isto é, quando α estiver infinitamente próximo de 0º e, portanto, β estiver infinitamente próximo de 90º, se mantivermos o lado b constante, o lado c tenderá a valer zero, ao passo que o lado a tenderá a valer o mesmo que b. Assim, temos: c 0 sen α = cos β = ≈ = 0 ∴ sen 0º = cos 90º = 0 a a b b cos α = sen β = ≈ = 1∴ sen 90º = cos 0º = 1 a b Relações trigonométricas dos ângulos notáveis Vamos ver agora uma forma simples de lembrar das funções trigonométricas dos ângulos notáveis entre 0º e 90º (ângulos agudos, ou ângulos do 1º quadrante), como um resumo do que vimos até agora. Construa a seguinte tabela: 0º 30º 45º 60º 90º sen cos tg Comece preenchendo-a, em todas as células das duas primeiras linhas, com o seguinte: um espaço dentro da raiz, ele será completado depois. Deve ficar assim: 0º 30º 45º sen 2 2 2 cos 2 2 2 tg 2 . Deixe 60º 90º 2 2 2 2 Agora, na linha dos senos, preencha as lacunas, da esquerda para a direita, com 0, 1, 2, 3 e 4. Na linha dos co-senos, faça o mesmo, porém da direita para a esquerda. Teremos o seguinte: sen cos 0º 30º 45º 60º 90º 0 1 2 3 4 4 2 2 3 2 2 2 2 2 1 2 2 0 2 2 tg Agora, simplifique as expressões e calcule a tangente de cada ângulo como a razão entre o seu seno e o seu co-seno. 0º 30º 45º 60º 90º 0 1 sen 1 3 2 2 2 2 1 0 cos 1 3 2 2 2 2 0 1 tg 3 ∃ tg 90º 1 = 3 3 3 Repare que para calcular a tangente de 90º, precisamos realizar uma divisão por zero. indeterminado, se x = 0 x = 0 indefinido (não existe), se x ≠ 0 Portanto, a tangente de 90º não existe. Você pode perceber, no entanto, através do triângulo limite de 90º - 90º - 0º, que conforme aumentamos o ângulo β e mais próximo ele fica de 90º, mais sua tangente cresce, tendendo ao infinito. O círculo trigonométrico Com os métodos dos quais dispomos até agora, não nos seria possível calcular o valor de qualquer uma das três relações trigonométricas principais para ângulos maiores que 90º. Para isso, precisamos criar um método mais genérico, capaz de englobar mais casos. Dessa forma, vamos construir um círculo de raio 1, com centro na origem de um par de eixos cartesianos, conforme a figura ao lado. Ao longo do círculo, distribuiremos os ângulos de 0º a 360º. Teremos, portanto, a seguinte localização dos ângulos: • Para 0º, x = 1 e y = 0 • Para 90º, x = 0 e y = 1 • Para 180º, x = –1 e y = 0 • Para 270º, x = 0 e y = –1 • Para 360º, x = 1 e y = 0 (o que coincide com 0º) y 90º 1º quadrante 2º quadrante R=1 180º x 0º ≡ 360º 0 3º quadrante 4º quadrante 270º Vamos começar usando o círculo trigonométrico para calcular o seno e o co-seno de ângulos do primeiro quadrante. Inicialmente, vamos construir uma abertura de ângulo α a partir do ponto definido como 0º. Construímos também um triângulo retângulo com essa abertura, onde o raio é a hipotenusa (= 1). Repare que o ponto do círculo que representa α tem coordenadas x0 e y0 tais que: • x0 é equivalente à medida do cateto adjacente a α • y0 é equivalente à medida do cateto oposto a α. y Isolando o triângulo retângulo da figura, podemos obter as seguintes relações: 90º α y0 1 y0 1 α 180º x α 0 x0 0º ≡ 360º x0 y0 = y0 1 x cos α = 0 = x0 1 y0 tg α = x0 sen α = Ou seja, ao inserirmos um ângulo qualquer no círculo trigonométrico, “abrindo” a hipotenusa do triângulo 270º retângulo a partir do ponto 0º, teremos o seno (projeção em y) e o co-seno (projeção em x) do mesmo. Por isso, chamamos o eixo y de eixo dos senos e o eixo x de eixo dos co-senos. Simplificando, para calcular o seno e o co-seno de um ângulo α, basta fazer as projeções, como a seguir: sen 90º α sen α 1 180º cos α 0 0º ≡ 360º cos α 270º sen 90º α sen α 1 180º cos cos α < 0 0º ≡ 360º 0 270º Exercício 2.2.1: Determine o seno e o co-seno de 150º. Solução: Repare que “abrir” 150º a partir de 0º no sentido anti-horário (convencional) é o mesmo que “abrir” 30º a partir de 180º no sentido horário. Veja: Esse exemplo mostra claramente a utilidade do uso do círculo trigonométrico. Como não é possível construir um triângulo retângulo com um ângulo de 150º, plotamos esse ângulo no gráfico e vemos qual é sua projeção sobre o 1º quadrante. Nesse caso, o eixo dos senos serve como um espelho. Os senos de 150º e 30º são iguais e seus co-senos são simétricos. Assim, temos: Repare que quando “fechamos” α até fazer com que valha 0º, seu co-seno aumenta até 1 e seu seno diminui até zero. O processo inverso, “abrindo” α até que valha 90º, faz com que seu seno aumente até que valha 1 e seu co-seno diminua até que valha 0. Vamos agora continuar aumentando α de forma que ele seja maior que 90º. O seno volta a ser menor que 1 e, agora, a projeção sobre o eixo dos cosenos fica à esquerda da origem. Como tomamos como pressuposto que a reta está orientada para a direita, os valores à direita de 0 são positivos e à sua esquerda são negativos. Por isso, quando α começa a ser maior que 90º, o co-seno começa a ficar negativo. Quando mais α se afasta de 90º e, portanto, se aproxima de 180º, mais o seno diminui, aproximando-se de 0, e mais negativo fica o co-seno, aproximando-se de -1. Veja como isso fica representado na figura ao lado. Podemos, portanto, dizer que sen180º = 0 e cos180º = −1 . Analogamente, podemos fazer α > 180º. Para ângulos do terceiro quadrante, tanto os senos (abaixo da origem) quanto os cosenos (à esquerda da origem) são negativos. Assim, sen 270º = −1 e cos 270º = 0 . No quarto quadrante, os senos continuam negativos e os co-senos voltam a ser positivos. sen 90º 150º 180º 30º 30º 30º 0 270º cos 0º ≡ 360º sen150º = sen 30º = 1 2 cos150º = − cos 30º = − 3 2 Podemos tomar a seguinte regra geral: sen (180º −θ ) = sen θ cos (180º −θ ) = − cos θ Exercício 2.2.2: Determine o seno e o co-seno de 300º. Solução: Repare que “abrir” 300º a partir de 0º no sentido anti-horário (convencional) é o mesmo que “abrir” 60º a partir de 360º no sentido horário. Veja: sen 90º 180º 60º 60º 0 cos 0º ≡ 360º 60º 300º Agora, temos um ângulo do 4º quadrante, que novamente projetamos para 1º. O eixo dos co-senos serviu como espelho e, portanto, os ângulos 60º e 300º têm o mesmo co-seno, e senos simétricos. Por isso, podemos escrever: cos 300º = cos 60º = 1 2 sen 300º = − sen 60º = − 3 2 Podemos tomar a seguinte regra geral: cos(360º −θ) = cos θ sen(360º −θ) = − sen θ 270º Exercício 2.2.3: Determine o seno e o co-seno de 225º. Este exercício será deixado para a prática do leitor. 3. Conclusão Nesse capítulo, não prosseguimos com o estudo da física propriamente dito. Fomos obrigados a concretizar alguns conceitos matemáticos essenciais para a continuidade da teoria do movimento. No próximo capítulo, colocaremos em prática algumas das idéias expostas anteriormente, ao abordar a cinemática escalar através dos gráficos cartesianos.