HILDA IRENE GENTIL BASTOS ESTUDO DOS EFEITOS BIOLÓGICOS DE DIFERENTES SOLUÇÕES UTILIZADAS COMO CONSERVANTES EM AVULSÃO DENTÁRIA: UMA ANÁLISE IN VITRO 2008 Mestrado em Odontologia Av. Alfredo Baltazar da Silveira 580 cobertura 22790-710 - Rio de Janeiro, RJ Tels.: (0xx21) 2199-2200 ramal:2204 HILDA IRENE GENTIL BASTOS ESTUDO DOS EFEITOS BIOLÓGICOS DE DIFERENTES SOLUÇÕES UTILIZADAS COMO CONSERVANTES EM AVULSÃO DENTÁRIA: UMA ANÁLISE IN VITRO Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Estácio de Sá visando a obtenção do grau de Mestre em Odontologia (Endodontia). ORIENTADOR: Prof. Dr. Gláucio Diré Feliciano UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ RIO DE JANEIRO 2008 DEDICATÓRIA Este trabalho é dedicado ao meu Deus. Ao meu Deus e Senhor da minha vida, a Ti que és meu refúgio em horas difíceis, sua fidelidade é o meu escudo e sei que estás comigo em todos os momentos. A Ti dedico toda a minha vida. Faça de mim um instrumento para sua obra e para a sua glória. Amém. ii AGRADECIMENTOS A Jesus Cristo, único Senhor e Salvador da minha vida. Aos meus pais, Ricardo e Vera, pelo apoio e pelo amor e por terem tornado tudo possível. Ao meu amor, Gustavo, por suportar todas as minhas angústias, pelo seu carinho e amor incondicional sempre, pelo seu colo e seu abraço nos momentos que preciso, por me ajudar a caminhar os caminhos do Senhor e por ser como é. Ao professor e grande exemplo, Gláucio Diré, por ter sido meu orientador no sentido real da palavra, a este gênio que tive o prazer de conhecer agradeço por sempre ter me atendido tão prontamente, por ter feito o possível e impossível para me ajudar, por ter agido como um anjo em momentos difíceis e por ter me passado um pouco de seu vasto conhecimento. Aos meus sogros, Edson e Creyse, e às minhas cunhadas, Louise e Débora por serem minha segunda família, participando das derrotas e das vitórias da minha vida me apoiando. Aos meus parentes especiais que tanto ajudam e participam e participaram da minha vida (Obrigada Ricardinho, Tia Luzia, Cátia, Tio Valdo, iii Vô Benedicto e Vó Irene e In memoriam, Vô Zezé e Vó Hilda, Tia Floripes e Lucy e os demais). Aos professores e amigos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Ronald Bastos Freire, Hélcio Borba, Cleide, Aline, obrigada por terem tornado possível o meu trabalho e por todo o apoio e material cedido. Aos colegas do Mestrado por terem se tornado verdadeiros amigos. A equipe do Mestrado, professores e em especial ao Professor Hélio Pereira Lopes, grande fonte de conhecimento, e à Angélica, por terem me ajudado a crescer como profissional. A Dra. Helena Rosa Campos Rabang por ter me ensinado tanto já na especialização e participado de modo efetivo na minha formação profissional. Aos amigos por escutarem os lamentos e comemorarem as vitórias (Obrigada Meg, Poli e os demais). iv ÍNDICE Resumo:..............................................................................................................vi Abstract:.............................................................................................................vii Lista de Figuras:................................................................................................viii Introdução:.........................................................................................................11 Revisão de Literatura:........................................................................................13 Proposição:........................................................................................................36 Materiais e Métodos:..........................................................................................37 Resultados:........................................................................................................41 Discussão:.........................................................................................................51 Conclusões:.......................................................................................................60 Referências Bibliográficas:................................................................................61 Anexos:..............................................................................................................72 v RESUMO O tratamento recomendado em avulsão dentária é o reimplante dentário imediato e quando isto não for possível, deve-se colocá-lo em uma solução conservadora capaz de manter a viabilidade das células do ligamento periodontal e restabelecer a fisiologia do mesmo que é de fundamental importância para um prognóstico favorável. O meio de conservação ideal deve ser de fácil disponibilidade no momento do acidente, deve possuir pH e osmolaridade adequados e deve ainda ser capaz de manter a vitalidade e correto funcionamento celular com o mínimo de toxicidade bem como ser capaz de evitar a presença e proliferação de microorganismos. Dentre os diversos meios que têm sido utilizados com sucesso encontramos a solução salina balanceada de Hank, o leite e o própolis. O presente trabalho tem como objetivo avaliar quantitativamente e qualitativamente os efeitos citotóxicos de soluções conservantes, entre elas o própolis, água de coco, leite de coco, HBSS, solução fisiológica com antibióticos e leite, utilizadas em casos de avulsão dentária através da observação microscópica de alterações celulares sofridas em macrófagos. Neste estudo, a exposição dos macrófagos aos meios conservantes utilizados para avulsão dentária, possibilitou a partir da análise em microscopia de luz, avaliar a citotoxicidade, a partir do comportamento apoptótico das células submetidas aos referentes meios. A partir da análise dos resultados obtidos, podemos sugerir que o leite de coco pode ser considerado o melhor meio a ser utilizado como conservante em caso de avulsão dentária. Palavras-chave: leite de coco, macrófagos, avulsão dentária. vi ABSTRACT In case of dental avulsion the recommended treatment avulsion is an immediate reimplant. Yet when this is not possible, the tooth must be placed in a storage media capable of maintaining the viability of the cells of the periodontal ligament and restore their physiology, what is extremely important for a favorable prognosis. The ideal storage media should be readily available at the time of the accident, it must have an adequate pH and osmolality and should still be able to maintain the vitality and the proper functioning of the cell with minimal toxicity and be able to avoid the presence and proliferation of microorganisms. Among the various medias that have been successfully used, we may find HBSS, milk and propolis. This study aims to assess quantitatively and qualitatively the cytotoxic effects of storage medias, including propolis, coconut water, coconut milk, HBSS, saline with antibiotics and milk, used in cases of tooth avulsion through the microscopic observation of the cellular changes occurred in macrophages. In this study, the exposure of the macrophages to the storage medias used in dental avulsion, allowed the evaluation, through optical microscope, of the citotoxicitty based on the apoptotic behavior of the cells, that were subjected to these medias. Based on the analyses of the results, it may me suggested that the coconut milk was considered the best storage media in case of dental avulsion. Key words: coconut milk, macrophages, dental avulsion. vii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Análise gráfica da viabilidade celular diante de soluções conservantes......................................................................................................44 FIGURA 2 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com água de coco durante 30 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observam-se células mortas, degeneradas, presença de corpos apoptóticos. A coloração azul indica a morte celular. Nikon, aumento de 400 x..................................................................................................................44 FIGURA 3 - : Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 30 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observam-se células vivas. Nikon, aumento de 400x...................................................................................................................45 FIGURA 4 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 30 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observam-se células vivas juntamente com células degeneradas. O Própolis acarretou o aumento da célula por provável aumento da permeabilidade da membrana celular. Nikon, aumento de 400x...................................................................................................................45 FIGURA 5 - Controle negativo. Observa-se que todas as células apresentamse mortas. Nikon, aumento de 100x.................................................................46 FIGURA 6 - Controle positivo. Observa-se que todas as células apresentam-se vivas. Nikon, aumento de 100x..........................................................................46 viii FIGURA 7 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com água de coco durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se apoptose. Nikon, aumento de 400x.....................47 FIGURA 8 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com leite de coco durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se a presença de monócito. Nikon, aumento de 400x...................................................................................................................47 FIGURA 9 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com leite de coco durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observam-se células intactas com boa aparência, monócito com morfologia adequada, com núcleo em forma de rim. Nikon, aumento de 400x...................................................................................................................48 FIGURA 10 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se necrose, células degeneradas, observa-se apoptose com fragmentação nuclear. Nikon, aumento de 400x........................48 FIGURA 11 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se alteração citoplasmática; núcleo começando a se fragmentar; apoptose. Nikon, aumento de 400x................................................49 FIGURA 12 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Pode-se perceber necrose da célula. Ocorrem cicatrizes na ix célula, o que causa necrose. A necrose estimula o processo inflamatório. Nikon, aumento de 400x....................................................................................49 FIGURA 13 - Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com solução fisiológica durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se necrose celular e apoptose; figuras de apoptose (superior esquerdo); estágios diversos de apoptose; estágio avançado (inferior esquerdo). Nikon, aumento de 400x....................................50 x INTRODUÇÃO Com uma freqüência relativamente pequena entre as injúrias traumáticas, variando de 1% a 16%, a avulsão dentária é definida como o completo deslocamento do dente de seu alvéolo e pode ser considerada a pior destas injúrias traumáticas podendo levar a perda do elemento dentário. Quedas, colisões, acidentes automobilísticos, esportes e lutas são apenas alguns exemplos de fatores etiológicos comuns a este tipo de lesão traumática (ANDREASEN & ANDREASEN, 2001). O tratamento recomendado neste caso é o reimplante dentário imediato e quando isto não for possível, deve-se colocá-lo em uma solução conservadora capaz de manter a viabilidade das células do ligamento periodontal e restabelecer a fisiologia do mesmo que é de fundamental importância para um prognóstico favorável (LUSTOSA-PEREIRA et al., 2006). Tanto o tempo do dente fora do alvéolo quanto o tipo do meio de conservação utilizados podem afetar o prognóstico a longo prazo do dente reimplantado. Quanto maior o tempo em que o dente avulsionado permanecer em meio seco, pior o prognóstico. Por este motivo, os mais diversos meios de conservação tem sido estudados (ANDREASEN, 1993; CHAMORRO et al., 2008). O meio de conservação ideal deve ser de fácil disponibilidade no momento do acidente, deve possuir pH e osmolaridade adequados e deve ainda ser capaz de manter a vitalidade e correto funcionamento celular com o mínimo de toxicidade bem como ser capaz de evitar a presença e proliferação de microorganismos. Dentre os diversos meios que têm sido utilizados com 11 sucesso encontramos a solução salina balanceada de Hank, o leite e o própolis (TROPE, 2002; MARTIN & PILEGGI, 2004; LUSTOSA-PEREIRA et.al., 2006). A manutenção da morfologia celular após a exposição aos meios conservantes é outro item que deve ser verificado com cuidado. Soluções que apresentam alto nível de toxicidade podem danificar a regulação e correto funcionamento celular que irá afetar diretamente na capacidade de regeneração do local traumatizado após o acidente (CHAMORRO et al.; 2008). Diante destas observações, acredita-se ser oportuno o estudo in vitro de algumas soluções conservantes comumente utilizadas e outras recentemente utilizadas e testadas, bem como uma mistura daquelas que obtiveram sucesso em estudos anteriores para que se possa observar o nível de toxicidade destas substâncias e sua interferência ou não no correto funcionamento celular o que pode até mesmo levar à morte da célula. 12 REVISÃO DE LITERATURA 1) Traumatologia, avulsão e reabsorção dentária Lesões traumáticas em dentes permanentes anteriores são acidentes freqüentes que afetam muitas crianças na idade escolar, de 7 a 14 anos de idade, com intensa atividade física e sem noção de perigo. A maioria dos traumas, sejam em adultos ou crianças, normalmente são causados por quedas e colisões ou ainda acidentes automobilísticos, esportes e lutas e 13% dos escolares examinados na faixa etária de 18 anos já foram expostos a traumatismos dentários durante a adolescência. Fraturas dentárias parecem mais comuns na dentição permanente enquanto luxações e especialmente intrusões predominam na dentição decídua (ANDREASEN, 1970; ANDREASEN, 1985; ANDREASEN & ANDREASEN, 2001; LUSTOSAPEREIRA et al, 2006). Estas lesões podem acometer pequenas partes da coroa ou até causar o completo deslocamento do dente do seu alvéolo, caracterizando um caso de avulsão dentária, que danifica tanto os tecidos de suporte quanto a polpa dentária e que ocorre mais comumente entre 7 e 9 anos de idade devido a maior elasticidade do osso alveolar que gera uma mínima resistência às forças extrusivas. O papel do reparo do dente avulsionado após reimplante irá depender do potencial de reparo de cada componente celular dos tecidos envolvidos, do procedimento efetuado ao reimplante e de fatores específicos do indivíduo. A incidência de casos de avulsão varia de 1% a 16% de todas as injúrias traumáticas à dentição permanente e é considerada a pior dentre as injúrias dento-alveolares. O dente mais freqüentemente avulsionado é o incisivo central superior. O tratamento recomendado é o reimplante dentário 13 imediato que é o ato de recolocar o dente avulsionado no seu alvéolo; e quando isto não for possível, deve-se colocá-lo em uma solução conservadora capaz de manter a viabilidade das células do ligamento periodontal e restabelecer a fisiologia do mesmo. Considera-se como reimplante imediato quando a permanência do dente fora do seu alvéolo é de até 30 minutos. Sendo assim, o reimplante tardio tem se tornado uma realidade clínica para os dentistas considerando o momento que o paciente chega ao profissional para atendimento. Quando o dente avulsionado é imediatamente reimplantado ou colocado em uma solução capaz de preservar as fibras periodontais presas à raiz, as chances de sucesso no reimplante aumentam consideravelmente. O reimplante restaura a estética e a função oclusal logo após a injúria e o dente reimplantado pode manter sua função por alguns anos (CHO & CHENG, 2002; MARTIN & PILEGGI, 2004; LUSTOSA-PEREIRA et al., 2006; ÖZAN et. al., 2007; POI et al., 2007; CHAMORRO et al., 2008). Avulsão, portanto, resulta em completo deslocamento do dente do alvéolo. Em adição, o suprimento neurovascular é severamente comprometido, o que usualmente resulta em perda da vascularização da polpa. A nutrição da polpa é conseguida através de uma arteríola de 50 µm de diâmetro que penetra através do forame apical. Esta arteríola é envolta por várias camadas de células musculares que a protegem de ruptura. Entretanto, qualquer movimento dentário maior que duas vezes o diâmetro do vaso, pode causar seu rompimento. Isto poderia resultar em necrose pulpar em ápices abertos e fechados. Após avulsão, o sucesso pósreimplante é dependente do tratamento imediato seguinte à injúria. A revascularização pulpar é iniciada após quatro dias e geralmente está completa 14 após quatro a cinco semanas em dentes imaturos reimplantados. A revascularização é rara em dentes maduros que tenham um forame apical estreito (ANDREASEN, 1993; MARTIN & PILEGGI, 2004; LIN et al., 2007). Uma das conseqüências da avulsão dentária e posterior reimplante é a reabsorção radicular e sua ocorrência depende de fatores como período extraalveolar, solução conservadora, contaminação microbiana e estágio da formação radicular. Em 1925, a American Dental Association definiu reabsorção como a perda de produtos ou tecidos do próprio corpo. A reabsorção radicular iniciada por uma área de superfície mineralizada ou exposta pode ser prolongada por irritação mecânica do tecido, infecção da dentina e canal radicular e por certas doenças sistêmicas. Junto com estímulo adicional de células de reabsorção, esta se torna progressiva e pode levar à destruição da raiz. As maiores seqüelas que levam ao fracasso após reimplante são a reabsorção radicular inflamatória, anquilose e reabsorção por substituição. A presença de um ligamento periodontal intacto e viável na superfície radicular é o fator mais importante para assegurar a cicatrização do ligamento periodontal sem reabsorção radicular. As reabsorções dentárias representam o principal fator limitador envolvido na determinação do prognóstico das transplantações e reimplantações dentárias (TRONSTAD, 1988; ANDREASEN, 1993; KEUM et al., 2003; MARTIN & PILLEGI, 2004; CONSOLARO, 2005; LUSTOSA PEREIRA et al., 2006; MANFRIN et al., 2007; ÖZAN, 2007). Os tecidos mineralizados dos dentes permanentes não são normalmente reabsorvidos. Eles são protegidos no canal radicular pela pré-dentina e 15 odontoblastos e na superfície radicular pelo pré-cemento e cementoblastos. A pré-dentina, o pré-cemento e o tecido osteóide ajudam a proteger os tecidos mineralizados da ação reabsortiva. Nos traumatismos ocorrem deslocamentos focais de pré-dentina e da camada odontoblástica. Se a pré-dentina ou précemento se tornam mineralizados ou se o pré-cemento é danificado mecanicamente ou perdido, células multinucleadas irão colonizar a superfície mineralizada ou desprotegida e a reabsorção vai ocorrer. Este tipo de reabsorção pode ser referida como reabsorção radicular inflamatória. Esta pode ocorrer na parede do canal radicular (reabsorção interna) e na superfície da raiz (reabsorção externa) e pode ser transitória ou progressiva. Assim, em dentes permanentes humanos não existem reabsorções dentárias normais, sendo sempre patológicas (TRONSTAD, 1988; CONSOLARO, 2005). Em dentes que sofreram deslocamento, a reabsorção radicular externa pode se tornar extensa. Extrusão ou intrusão do dente bem como subseqüentes procedimentos de reposição, inevitavelmente causarão dano à raiz resultando em áreas desnudas da superfície da raiz que serão quimiotáticas para células de reabsorção de tecido duro. A reabsorção radicular irá seguir-se. Em adição, o deslocamento do dente leva ao rompimento de vasos sangüíneos no forame apical e à necrose pulpar isquêmica. Microorganismos irão depois ocupar o canal radicular através da junção esmalte-dentina e túbulos dentinários expostos e uma infecção se estabelecerá em um período de 2-3 semanas. Neste momento, a reabsorção radicular induzida por áreas desnudas da superfície radicular pode ter exposto dentina radicular tubular. Produtos bacterianos dos canais radiculares infectados irão 16 ocupar as lacunas de reabsorção na superfície radicular através dos túbulos dentinários e sustentar a reabsorção radicular (TRONSTAD, 1988; ANDREASEN, 1993; TROPE, 2002). Além disso, em dentes luxados, a reabsorção radicular é iniciada por trauma mecânico, resultando em remoção de cementoblastos, pré-cemento e às vezes cemento em áreas da superfície radicular. Com a perda do cemento, a resposta inflamatória resultará em reabsorção óssea e radicular. O processo de reabsorção é depois mantido por estímulo microbiano vindo dos canais radiculares infectados que provê o estímulo contínuo necessário das células de reabsorção. Após poucas semanas, a condição pode ser reconhecida radiograficamente como áreas radiolúcidas perirradiculares, usualmente envolvendo áreas da raiz e do osso alveolar adjacente. Se isto progredir, o processo de reabsorção poderá destruir o dente completamente em poucos meses. Em casos de avulsão o dano inicial à camada de cemento após o trauma é limitado. Entretanto, se as células remanescentes do ligamento periodontal na raiz permanecerem secas, estas irão ocasionar uma resposta inflamatória em toda a superfície radicular que resulta em dano à camada protetora de cemento. A reabsorção inflamatória pode se desenvolver uma semana após o reimplante e segue um trajeto progressivo, a menos que seja feito o tratamento endodôntico. Este tipo de reabsorção está relacionado ao dano associado às camadas mais internas do ligamento periodontal na superfície radicular e à presença de tecido pulpar necrótico infectado (ANDREASEN, 1993; TROPE, 2002). Anquilose dento-alveolar ocorre após extensa necrose do ligamento periodontal com formação de osso na área desnuda da superfície radicular. 17 Clinicamente, esta condição é vista mais freqüentemente como uma complicação à injúrias com luxação, especialmente em dentes avulsionados que estiveram fora da boca por um período longo o suficiente para as células da superfície radicular secarem e morrerem. Se menos de 20% da superfície radicular é envolvida, a reversão da anquilose pode ocorrer. Se não, o dente anquilosado é incorporado no osso alveolar e se tornará parte do processo normal de remodelação do osso. Conseqüentemente, ele gradualmente será reabsorvido e substituído por osso, daí o termo reabsorção por substituição (TRONSTAD, 1988). As células de reabsorção na reabsorção por substituição são os osteoclastos normalmente envolvidos em remodelação óssea. Entretanto, a reabsorção por substituição apesar de levar à completa destruição do dente, não deve ser entendida como um processo de doença. Isso ocorre como um “erro” pelas células envolvidas na remodelação do osso não serem capazes de distinguir entre cemento, dentina e osso. Os osteoclastos irão reabsorver o tecido dentário do mesmo modo como reabsorvem osso e como não são capazes de formar dentina ou cemento, os osteoblastos substituem as áreas reabsorvidas da raiz com osso. Se os cementoblastos continuam a cobrir a superfície radicular danificada, o processo de cicatrização irá ocorrer e o resultado será favorável. Por outro lado, se osteoblastos cobrem a superfície radicular, as condições para cicatrização serão desfavoráveis e ocorrerá anquilose. A anquilose pode ser demonstrada histologicamente duas semanas após o reimplante TROPE, 2002). 18 (TRONSTAD, 1988; Durante a avulsão e subseqüente reimplante ocorre a contusão do ligamento periodontal com necrose celular resultando em processos de reparo do ferimento onde o ligamento periodontal necrótico é removido por macrófagos ou por cemento pela atividade osteoclástica. Esta última levará à reabsorção de superfície ou inflamatória dependendo do estado da polpa, da idade do paciente e do estágio de desenvolvimento radicular. A reabsorção inflamatória pode ser demonstrada histologicamente uma semana após o reimplante e na raiz é mais comum em dentes imaturos reimplantados e dentes maduros jovens que em dentes maduros mais velhos. Quando grandes áreas do ligamento periodontal são traumatizadas, a cicatrização competitiva da ferida começa entre as células derivadas da medula óssea destinadas a formar osso e células derivadas do ligamento periodontal programadas para formar as fibras deste ligamento e cemento. O resultado dessa competição pode ser uma anquilose de transição ou permanente. A ausência de restos epiteliais de Malassez no ligamento periodontal ressecado por períodos extra-alveolares prolongados podem levar à ocorrência de anquilose porque ele é responsável por manter o espaço periodontal (ANDREASEN, 1993; LUSTOSA-PEREIRA et al., 2006). ANDREASEN (1970) estudou a etiologia e patogênese das injúrias dentais traumáticas através da coleta de dados de 1298 pacientes de um hospital (908 homens e 390 mulheres). Um total de 3026 dentes traumatizados foram tratados, incluindo 787 dentes decíduos e 2239 dentes permanentes. Traumatismos dentários repetidos foram encontrados em 24% dos casos. Todos os traumas foram classificados de acordo com o tipo de injúria afetando 19 lábios, mucosa oral, estruturas de suporte dentárias e tecidos dentários duros. O tipo de trauma parece estar relacionado à dentição, com traumas envolvendo as estruturas dentárias de suporte predominantemente na dentição primária. A origem do trauma foi distribuída em 9 grupos, de acordo com energia e resiliência do impacto. A análise estatística revelou diferenças significativas nas causas das injúrias entre os diferentes grupos de traumas. A relação entre injúrias nos lábios e injúrias ao dente ou estruturas de suporte foram analisadas separadamente. Parece através desta análise que o lábio pode atuar absorvendo o impacto, reduzindo a chance de fratura coronária e aumentando o risco de luxação e fratura do processo alveolar. ANDREASEN & RAVN (1972) estudaram a epidemiologia das injúrias traumáticas na dentição decídua e permanente em uma amostra da população dinamarquesa que consistia de 487 crianças, sendo 251 meninos e 236 meninas, com idade entre 9 e 17 anos. 30% das crianças sofreram traumas na dentição decídua, enquanto 22% sofreram traumas na dentição permanente. Os meninos sofreram traumas mais freqüentemente na dentição permanente quando comparado com as meninas, enquanto na dentição decídua foi achada muito pouca diferença. Indivíduos mostrando traumas na dentição decídua não exibiram uma freqüência significativamente maior de traumas na dentição permanente quando comparado ao grupo sem história de trauma na dentição decídua. A incidência anual de traumatismos foi determinada para a população examinada. Entre os meninos, as maiores incidências ocorreram nas seguintes faixas etárias: 2-4 anos e 9-10 anos. Nas meninas só foi vista uma alta incidência no grupo etário de 2-3 anos. 20 ANDERSON et al. (2006) estudaram o grau de conhecimento de escolares do Kwait, das medidas de emergência a serem tomadas em caso de avulsão dentária. Ao todo 221 escolares foram entrevistados. Foram avaliados os conhecimentos sobre princípios dos tratamentos em traumas, avulsão e reimplante dentário, avulsão de dente permanente e decíduo, limpeza de dente avulsionado antes do reimplante, período extra-alveolar e meio conservante. Crianças acima de 10 anos apresentaram um conhecimento maior do manejo de traumas, mas independente da idade, o sobre avulsão, reimplante, período extra-alveolar e meio conservante foi baixo. Pode-se concluir a partir deste estudo que o conhecimento em geral é baixo o que poderia afetar o prognóstico em casos de traumatismos. LUSTOSA-PEREIRA et al. (2006) avaliaram a eficácia do alendronato de sódio em evitar a ocorrência de reabsorção dentária em dentes avulsionados. Cinqüenta e quatro incisivos centrais superiores direitos de ratos foram divididos em três grupos com períodos extra-alveolares de 15, 30 e 60 minutos. O alendronato de sódio foi usado como substância tópica no tratamento da superfície radicular. Os resultados indicaram que o alendronato de sódio foi eficaz em reduzir a incidência de reabsorção radicular, mas não da anquilose dentária. Não houve diferença significante entre os períodos extra-alveolares. POI et al. (2007) avaliaram as alterações na cicatrização do ligamento periodontal de dentes reimplantados após o uso de Emdogain®. O incisivo central de 24 ratos Wistar foram extraídos e deixados a seco por 6 horas. Após isso, a papila dentária e o órgão do esmalte de cada dente foi seccionada para remoção pulpar por via retrógrada e o canal foi irrigado com hipoclorito de 21 sódio a 1%. Os dentes foram divididos em dois grupos: no grupo I, a superfície radicular foi tratada com hipoclorito de sódio a 1% por 10 minutos (trocando a solução após 5 minutos), enxaguada com solução salina por 10 minutos e imersa em flúor fosfato de sódio acidulado a 2% por 10 minutos; no grupo II, as superfícies radiculares foram tratadas do mesmo modo descrito, exceto pela aplicação de Emdogain® ao invés do fluoreto de sódio. Os dentes foram obturados com hidróxido de cálcio e reimplantados. Todos os animais receberam antibioticoterapia. Os ratos foram mortos por overdose anestésica 10 e 60 dias após o reimplante. As peças contendo os dentes reimplantados foram removidas, fixadas, descalcificadas e embebidas em parafina. Cortes seriados de 6µ foram obtidos e corados com hematoxicilina e eosina para análise histológica e histométrica. Observou-se que o uso de flúor fosfato de sódio acidulado gerou mais áreas de reabsorção por substituição e o uso de Emdogain® resultou em mais áreas de anquilose e não foi capaz de evitar anquilose dento-alveolar. Pode-se concluir que nem o flúor fosfato de sódio acidulado e nem o Emdogain® foram capazes de prevenir a reabsorção radicular em reimplantes tardios de dentes de ratos. 2) Soluções conservadoras após avulsão Na maioria dos casos clínicos, antes do reimplante os dentes avulsionados têm sido armazenados na cavidade bucal ou outros meios, tais como solução salina ou água de torneira. Uma vez que esses meios de armazenagem diferem consideravelmente, em especial com relação à concentração de eletrólito, pode-se presumir que a escolha do meio de armazenagem possa influenciar a cicatrização pulpar e o desenvolvimento de 22 diferentes tipos de reabsorção radicular. Um meio ideal de armazenamento seria aquele capaz de preservar a viabilidade e mitogenicidade do ligamento periodontal danificado de modo a facilitar a nova ocupação da superfície radicular desnuda prevenindo a reabsorção radicular. Em 1994, a ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ENDODONTISTAS recomendou a solução salina balanceada de Hank como o meio de escolha para dentes avulsionados. Foi encontrada uma forte relação entre o armazenamento a seco e o armazenamento em meios não-fisiológicos como a água de torneira e a cicatrização periodontal e reabsorção radicular (ANDREASEN, 1993). Parece que a revascularização pulpar depende das condições de armazenagem. Se os dentes avulsionados são armazenados úmidos, a revascularização acontece em aproximadamente um terço dos casos armazenados até três horas. A revascularização após armazenagem a seco ocorre, de modo geral, em cerca de metade dos casos, quando o período de armazenagem é menor que cinco minutos. Depois, a freqüência de revascularização cai para aproximadamente um terço, no período de seis a vinte minutos e depois continua a diminuir com o aumento dos períodos em que o dente fica a seco. Além disso, tem sido notado que a revascularização ocorre unicamente em dentes com um diâmetro apical do forame que excede a um milímetro (ANDREASEN, 1993; CHAMORRO et al., 2008). Tanto o tempo do dente fora do alvéolo quanto o tipo do meio de conservação utilizados podem afetar o prognóstico a longo prazo do dente reimplantado. O objetivo do tratamento do paciente que sofreu avulsão dentária é o reimplante imediato, mas como nem sempre isto é possível, colocar o dente 23 em soluções que preservam a vitalidade das células do ligamento periodontal ajuda a prevenir a reabsorção radicular inflamatória e a reabsorção por substituição. O ligamento periodontal remanescente na raiz após injúria, é dependente de um suprimento de metabólitos vitais, caso contrário a destruição celular começa. Para preservar o metabolismo celular ótimo, o suprimento deve ser renovado após 60 minutos do tempo da injúria. Se as células sobreviverem, elas irão promover a reprodução de novas células as quais podem se diferenciar e recompor os tecidos de suporte (TROPE, 2002; MARTIN & PILEGGI, 2004; LIN et al., 2007). Soluções conservadoras como leite, por exemplo, favorecem o sucesso do procedimento de reimplante, enquanto deixar o dente em um ambiente seco compromete o prognóstico significativamente. Dentes reimplantados com 30 minutos apresentam uma taxa de sucesso melhor que aqueles com um período extra-oral maior e com duas horas à seco, não é encontrada nenhuma célula do ligamento periodontal vital. Muitos métodos têm sido sugeridos para preservar a vitalidade das células do ligamento periodontal que variam desde colocar o dente embaixo da língua do paciente até meios como leite, solução salina ou mesmo a mais apropriada solução salina balanceada de Hank. A saliva se mostrou pior que o leite por causa da sua baixa osmolaridade e alto risco de contaminação bacteriana, apesar de conservar a vitalidade das células do ligamento periodontal por até 2 horas. Água da torneira, saliva e soro fisiológico são todos ineficazes em manter a viabilidade das células do ligamento periodontal. Esses meios não são recomendados pelas suas propriedades hipotônicas (água de torneira e saliva) e alta incidência de 24 contaminação bacteriana que levam à rápida morte das células do ligamento periodontal. Alguns estudos têm começado a sugerir o uso do Própolis como um meio conservador do dente avulsionado (TROPE, 2002; MARTIN & PILEGGI, 2004; ANDERSON et al., 2006). O Própolis é um produto resinoso da colméia da abelha com propriedades antibacterianas e anti-inflamatórias, antioxidantes, anti-fúngicas, anti-virais e reparadoras de tecidos, entre outras. Radicais de oxigênio e tensão de oxigênio modulam atividade de osteoblastos e osteoclastos. Dano oxidativo pode promover reabsorção da superfície radicular por efeitos tóxicos nas células do ligamento periodontal danificadas mecanicamente ou no cemento ou pelo aumento da atividade de reabsorção das células clásticas. Tem sido sugerido que colocar o dente avulsionado em um meio contendo um ou mais antioxidantes pode aumentar o sucesso do reimplante. O própolis tem uma grande capacidade anti-oxidante. Os componentes mais importantes do própolis são os flavanóides que são poderosos anti-oxidantes. Antibióticos mostram efeitos favoráveis tanto tópica quanto sistemicamente em evitar a reabsorção após o reimplante. A Penicilina diminui a ocorrência de reabsorção e a tetraciclina possui propriedades que atuam contra a reabsorção em adição aos seus efeitos antimicrobianos. O tratamento da superfície radicular com solução de fluoreto estanoso a 1% e tetraciclina também reduz a reabsorção. Como o própolis possui atividade antimicrobiana, isso faz dele um meio conservador favorável. O leite tem sido estudado extensivamente e tem ganhado aceitação como um meio capaz de manter a viabilidade das células do ligamento periodontal provavelmente por sua osmolaridade fisiológica que não é excessivamente danosa a estas 25 células, pH neutro e presença de nutrientes. Seu conteúdo de gordura afeta esta viabilidade, sendo o leite com baixo teor de gordura mais apropriado. É um meio prático e encontrado próximo a maioria dos locais dos acidentes (TROPE, 2002; ANDERSON et al., 2006). A ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ENDODONTISTAS (1995) aceita o leite como solução conservadora para transporte de dente avulsionado. A solução salina balanceada de Hank (HBSS) é a solução salina padrão usada largamente em pesquisa biomédica para permitir o crescimento de vários tipos celulares. Ela não apresenta toxicidade, apresenta osmolaridade ideal, o pH é balanceado e contém muitos nutrientes essenciais, preservando a vitalidade dos fibroblastos por 72 horas. Uma solução conservadora para transporte dental usando HBSS foi desenvolvida e comercializada com o nome Save-A-Tooth (Save-A-Tooth Inc., Pottstown, PA, EUA), mas ainda não se encontra disponível em farmácias ou drogarias no Brasil. Viaspan é um meio conservador usado no transporte de órgãos mas possui um tempo de validade de somente alguns meses que juntamente com seu alto custo tornam seu uso raro. Um recipiente chamado Dentosafe® foi introduzido e distribuído em escolas da Alemanha e Áustria. (TROPE, 2002; POHL et al., 2005; MARTIN & PILEGGI, 2004; LUSTOSA-PEREIRA et.al., 2006; ÖZAN et. al., 2007; LIN et al., 2007). BLOMLOF (1981) estudou diferentes tipos de meios conservantes em casos de avulsão dentária. As células do ligamento periodontal sobreviveram bem no leite, 50% das células se apresentaram vitais após 12 horas de exposição, enquanto nenhuma célula viável foi encontrada após 3 horas de 26 armazenamento em saliva. Breve armazenamento em saliva seguido de armazenamento em leite foi melhor que o armazenamento somente em saliva. BLOMLOF et al. (1983) avaliaram as condições periodontais após 8 semanas tendo sido expostos dentes de macacos tratados endodonticamente ao leite e à saliva por 2 ou 6 horas. Os dentes estocados em leite por 2 e 6 horas e os dentes estocados em saliva por 2 horas mostraram um reparo periodontal quase tão bom quanto os dentes reimplantados imediatamente. Os dentes estocados em saliva por 6 horas ou deixados à seco mostraram extensiva reabsorção por substituição. O leite, portanto, pode ser recomendado como um meio conservante para dentes avulsionados. MARINO et al. (2000) avaliaram a capacidade do leite longa vida servir como solução conservante para dentes avulsionados através da manutenção da viabilidade de células do ligamento periodontal expostas a este meio. As células foram colocadas em placas com meio de cultura por 24 horas e depois o meio foi substituído por leite pasteurizado (refrigerado), leite longa vida ou Save-A-Tooth. As placas foram incubadas a 37ºC por 1, 2, 4 ou 8 horas. Após 8 horas a viabilidade das células do ligamento periodontal no leite pasteurizado e no leite longa vida foi significantemente maior que no Save-A-Tooth. Não houve diferença estatística significante entre os leites. Esses resultados sugerem que o leite longa vida, que tem a vantagem de não necessitar refrigeração, é tão efetivo quanto o leite pasteurizado e mais efetivo que o Save-A-Tooth. SCHWARTZ et al. (2002) examinaram o efeito da temperatura de alguns meios de conservação de dentes em períodos variáveis de tempo de 27 acondicionamento sobre o ligamento periodontal e reparo pulpar após reimplante dentário em macacos. Incisivos laterais inferiores com formação radicular completa foram extraídos e deixados a seco a 22, 4 e -18º; em solução salina a 37, 22, 4 e -18º; ou em saliva a 37º por 60 ou 120 minutos antes do reimplante. Os animais foram sacrificados 8 dias após o reimplante e os 125 dentes reimplantados foram examinados histometricamente. Os parâmetros histológicos foram: ligamento periodontal normal, reabsorção de superfície, reabsorção inflamatória, reabsorção por substituição, profundidade de bolsa periodontal, mudanças periapicais inflamatórias e extensão da vitalidade pulpar. Acondicionamento em saliva a 37ºC mostrou quantidade similar de ligamento periodontal normal comparado à solução salina em 60 e 120 minutos. A solução salina por 60 ou 120 minutos não mostrou diferença na extensão do ligamento periodontal quando o meio foi comparado a 37, 22 e 4ºC. Entretanto, o meio a -18ºC mostrou significante menos perda de ligamento periodontal que meios em outras temperaturas. O meio seco por 60 minutos mostrou significante menor reabsorção dentária a 4ºC quando comparada a 22ºC. O meio seco a -18ºC mostrou significante menor perda de ligamento periodontal que o meio a 4ºC. O tempo em meio seco de 120 minutos, não mostrou diferença entre 22,4 e -18ºC. Conclui-se que a temperatura (acima de 0ºC) do meio de conservação é de importância somente para o meio seco e em situações de curtos períodos de tempo extra-alveolares até 60 minutos e não 120 minutos, quando extensa destruição do ligamento periodontal já ocorreu. Sugere-se que a temperatura de 4ºC pode resultar em menor evaporação do ligamento periodontal e menos danos às suas células. A cicatrização pulpar em 28 todos os casos foi limitada à entrada do canal e nenhum padrão foi encontrado entre o meio de conservação, tempo e temperatura. MARTIN & PILEGGI (2004) realizaram um ensaio com ColagenaseDispase para investigar o potencial de um novo meio de conservação dental , o Própolis, manter a viabilidade das células do ligamento periodontal em dentes avulsionados. Setenta dentes recém-extraídos foram divididos em cinco grupos experimentais e dois grupos controles. Este estudo comparou duas diferentes concentrações de Própolis (50% e 100%) ao HBSS, soro fisiológico e leite. O número de células viáveis foi contado com um hemocitômetro e analisado. Análise estatística mostrou que os grupos do Própolis mantiveram significativamente mais células do ligamento periodontal viáveis quando comparados ao leite, soro fisiológico ou HBSS mostrando ser uma melhor alternativa. O Própolis a 100% não foi significativamente diferente do Própolis a 50%, indicando que a concentração não mostrou diferença na toxicidade para as células do ligamento periodontal. HBSS, soro fisiológico e leite não foram significativamente diferentes entre si. POHL et al. (2005) estudaram a cicatrização após avulsão e reimplante. Foram avaliados 28 dentes permanentes em 24 pacientes. Logo após a avulsão, 6 dentes foram colocados em um recipiente contendo um meio de cultura e denominado Dentosafe® por 1-53 horas e o ligamento periodontal não estava comprometido, 16 dentes foram deixados em situação não-fisiológica temporariamente e 6 dentes em condições não-fisiológica por longos períodos. Em 14 dentes, terapia regenerativa anti-reabsorção (TRA) com aplicação local de glicocorticóides e derivado da matriz de esmalte e administração sistêmica 29 de doxiciclina foi usada. Em todos os dentes foi realizado tratamento endodôntico extra-oral com inserção de pino via retrógrada. Os dentes foram observados por cerca de 31 meses. Observou-se que a influência predominante na cicatrização foi o acondicionamento fisiológico imediato do dente avulsionado. Logo, para um bom prognóstico, o dente avulsionado deve ser acondicionado imediatamente em um meio celular compatível. Estes meios deveriam ser distribuídos em lugares de riscos de acidentes e o TRA só apresenta potencial de melhorar o prognóstico quando o ligamento periodontal não está comprometido. FAGADE (2005) fez uma revisão de literatura com o objetivo estudar os vários meios utilizados em transplantes e reimplantes. Entre os meios propostos na literatura encontram-se: Solução salina balanceada de Hank (HBSS), plasma do próprio paciente, soro fisiológico, água de torneira, saliva e leite pasteurizado. Os mais favoráveis foram: HBSS, plasma do próprio paciente, meio de cultura Eagle, leite pasteurizado e soro fisiológico. ÖZAN et al. (2007) avaliaram a efetividade do própolis como um meio conservante temporário para a manutenção da viabilidade das células do ligamento periodontal em dentes avulsionados. Células do ligamento periodontal foram obtidas de terceiros molares e cultivadas em DMEM. Os quatro grupos comparados foram: solução de própolis a 10%, solução de própolis a 20%, leite longa vida com baixo conteúdo de gordura, solução balanceada de Hank além da água de torneira como controle negativo e DMEM como controle positivo. As placas foram incubadas a 37ºC por 1, 3, 6, 12 e 24 horas. Os resultados indicaram que o própolis a 10% em 3, 6, 12 e 24 horas foi 30 significativamente melhor que HBSS e leite. Em 1 hora não houve diferença significativa entre eles. Em 1 hora o própolis a 20% foi pior que o HBSS ao contrário de 3 e 6 horas. O própolis a 20% foi significativamente melhor que o HBSS e o leite. Em 12 e 24 horas, o própolis a 20% foi melhor somente que o HBSS. Quando as soluções de própolis foram comparadas, não houve diferença significante em 1, 3 e 6 horas. Em 12 e 24 horas o própolis a 10% foi significativamente melhor que a 20%. Em geral, o própolis a 10% foi o meio mais efetivo e se concluiu que o mesmo pode ser recomendado como um meio adequado para transporte do dente avulsionado. CHAMORRO et al. (2008) investigaram in vitro o grau de apoptose de células do ligamento periodontal após diferentes condições de armazenamento. Células de ligamento periodontal humanas foram colocadas em meio de cultura em placas durante 24 horas. As células foram depois expostas por uma hora ao leite, solução salina balanceada de Hank (HBSS), solução Soft Wear para lentes de contato e Gatorade® à temperatura ambiente ou congeladas. O meio de cultura foi usado como controle negativo. O grau de apoptose foi avaliado após 24, 48 e 72 horas do tratamento através de imunoflurescência direta. Foram contadas o número total de células e o número total de células apoptóticas. Os resultados indicaram que em 24 e 72 horas, o ligamento periodontal tratado com Gatorade® e com solução para lentes de contato mostraram as mais altas porcentagens de células apoptóticas quando comparados com os outros grupos à temperatura ambiente. Finalmente, células tratadas congeladas mostraram significativamente mais baixos níveis de apoptose quando comparadas com tratamentos em temperatura ambiente. 31 Como conclusão, os resultados indicaram que apoptose desempenha o papel principal na morte celular em células tratadas com Gatorade® e soluções para lentes de contato em comparação com as outras soluções de armazenamento e que o armazenamento por congelamento pode inibir a morte programada das células. GOPIKRISHNA et al. (2008) investigaram o potencial de um novo meio de conservação após avulsão dentária, a água de coco, em comparação com o própolis, solução salina balanceada de Hank (HBSS) e leite na manutenção da viabilidade das células do ligamento periodontal (PDL). Setenta dentes humanos recém-extraídos foram divididos em 4 grupos experimentais e 2 grupos controles. Os controles positivo e negativo corresponderam a 0 minutos e 8 horas de tempo em ambiente à seco. Os dentes dos grupos experimentais foram estocados secos por 30 minutos e depois imersos em um dos 4 meios (água de coco, própolis, HBSS e leite). Os dentes foram depois tratados com dispase grau II e colagenase por 30 minutos. O número de células viáveis do ligamento periodontal foi contado com um hemocitômetro e analisadas. A análise estatística mostrou que a água de coco apresentou maior quantidade significativa de células do ligamento periodontais viáveis comparada com própolis, HBSS ou leite. A água de coco pode, portanto, ser usada como um meio conservante de transporte para dentes avulsionados. 3) Reações celulares perante determinadas substâncias A função da célula normal requer um equilíbrio entre as exigências fisiológicas e as limitações da estrutura celular e da capacidade metabólica; o resultado é um estado estável ou homeostasia. As células podem alterar seu estado 32 funcional em resposta a um moderado estresse e manter seu estado estável. Estresses fisiológicos mais excessivos ou estímulos patológicos adversos (lesão) resultam em adaptações, lesão reversível ou lesão irreversível e morte celular. As adaptações ocorrem quando estresses fisiológicos ou patológicos induzem um novo estado que altera a célula, porém preserva sua viabilidade em resposta a estímulos externos, como hiperplasia, hipertrofia, atrofia e metaplasia. A lesão celular reversível denota alterações celulares patológicas que podem ser restauradas à normalidade se o estímulo for retirado ou se a causa da lesão não foi grave. A lesão irreversível ocorre quando o estímulo excede a capacidade da célula se adaptar e denota alterações patológicas permanentes que causam a morte celular. Existem dois padrões morfológicos e mecânicos de morte celular: necrose e apoptose (HORTELANO et al., 2001; AMARANTE-MENDES, 2003; TABAS, 2005; MITCHELL et al., 2006). A necrose é o tipo de morte celular mais comum, envolve grande edema celular, desnaturação e coagulação de proteínas, degradação de organelas celulares e ruptura de células, perda da integridade das membranas plasmáticas, desorganização citoplasmática e dissolução nuclear. Em geral, um grande número de células no tecido adjacente é afetado. A apoptose ocorre quando a célula morre devido à ativação de um programa de “suicídio” controlado internamente, que envolve um distúrbio orquestrado de componentes celulares; ocorre uma ruptura mínima do tecido adjacente. Morfologicamente, ocorre a condensação e a fragmentação da cromatina com degradação do DNA genômico em fragmentos oligonucleossomais, perda do volume e aumento da granulosidade celular, manutenção da estrutura das organelas, formação de 33 “pregas” na membrana plasmática e conseqüente fragmentação celular em corpos apoptóticos. Em diferentes populações celulares, observa-se uma grande similaridade no fenótipo da apoptose, mesmo em situações fisiológicas bastante distintas. Este fenótipo é resultante, principalmente, da ação em cascata de membros de uma família peculiar de cisteíno-aspartato proteases, denominada Caspases. Estas se dividem em dois grupos, sendo as executoras responsáveis pela execução do processo em si. Através das Caspases, vão ser gerados os fragmentos oligonucleossomais característicos da apoptose. As células podem morrer por apoptose ou mecanismos não-apoptóticos (HORTELANO et al., 2001; AMARANTE-MENDES, 2003; TABAS, 2005; MITCHELL et al., 2006). Caso o sinal de estresse seja muito violento, o que ocorre em geral em situações patológicas, uma dada célula não tem escolha, a não ser sofrer uma morte necrótica, impossível de ser controlada genética ou farmacologicamente, e rapidamente perder a integridade de sua membrana celular, liberando o seu conteúdo citoplasmático e induzindo uma resposta inflamatória no tecido comprometido. Por outro lado, quando o estresse é mais ameno, o sinal gerado irá ser analisado pelo conjunto de mitocôndrias, as quais atuam como um sensor e possuem a responsabilidade de decidir se esta célula irá continuar a viver ou deverá ser eliminada por mecanismos apoptóticos. Neste caso, as mitocôndrias sofrem um desacoplamento da cadeia respiratória o que ocasionará a liberação sobretudo do citocromo c para o citosol, o qual ativará a cascata de caspases que irão executar o programa de empacotamento celular conhecido como apoptose. Em certas situações onde as células apoptóticas não foram eliminadas por fagocitose, pode ocorrer 34 necrose celular chamada necrose secundária ou pós-apoptose. Neste caso, as membranas das células apoptóticas se rompem com liberação de componentes intra-celulares, como proteases, que induzem resposta inflamatória e dano tecidual. Em macrófagos, o fenótipo apoptótico mostra uma seqüência de alterações em vários parâmetros, como perda de adesão celular e assimetria da membrana plasmática, desorganização do citoesqueleto e fragmentação internucleossomal do DNA, juntamente com ativação das caspases. Propriedades físico-químicas gerais da célula são modificadas durante a apoptose (HORTELANO et al., 2001; AMARANTE-MENDES, 2003; TABAS, 2005; MITCHELL et al., 2006). 35 PROPOSIÇÃO O presente trabalho tem como objetivo avaliar quantitativamente e qualitativamente os efeitos citotóxicos de soluções conservantes, entre elas o própolis, água de coco, leite de coco, HBSS, solução fisiológica com antibióticos e leite, utilizadas em casos de avulsão dentária através da observação microscópica de alterações celulares sofridas em macrófagos. 36 MATERIAIS E MÉTODOS 1) Preparo do meio de cultura O presente trabalho foi realizado no laboratório de toxicologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Foram utilizados macrófagos obtidos de ratos Wistar (Rattus norvegicus albinus). Os animais utilizados neste trabalho foram obtidos da empresa Biocampo 2000 Produtos Biológicos Ltda (Bom Jardim, Rio de Janeiro). Primeiramente foi realizado o preparo do meio mínimo essencial de Eagle (MEM) cujo pH é 7. Foram pesados 9,60 g de MEM (GIBCO 145000-083) e colocado em um copo de Erlenmeyer. Foi colocada água desmineralizada até completar 900 mL. Dissolveu-se com uma barra e um agitador magnético. Ajustou-se o pH com bicarbonato de sódio e o volume até 100 mL com água destilada. Foi realizada filtração positiva do meio Eagle através de membrana estéril de porosidade 0,22 µm. Foram pesados 100 mg de penicilina G benzatina e 100 mg de sulfato de estreptomicina. Obteve-se no final 121 mg/l de penicilina e 230 mg/l de estreptomicina (ambos da marca comercial Sigma-Aldrich, St Louis, USA). Os antibióticos foram adicionados ao meio de cultura como medida adicional de segurança, de modo a evitar eventuais contaminações. Foi utilizada uma concentração de 1 ml do antibiótico para cada 50 ml do meio (concentração de 50 vezes). 2) Obtenção de macrófagos Após a obtenção do meio de cultura, os animais foram sacrificados por inalação de vapores de clorofórmio. Após a morte dos animais, foi realizada a aplicação do meio de cultura no peritônio dos ratos. O edema obtido através desta manobra atrai macrófagos. Os macrófagos foram aspirados com seringa 37 e transferidos para tubos cônicos estéreis com meio de cultura. Estes tubos foram condicionados em gelo. Alíquotas do conteúdo foram transferidas para uma lâmina para observação das células. Para a análise microscópica, foi usada a lâmina de Neubauer. A contagem foi realizada através de um hemocitômetro. Ao final obteve-se 25 ml de solução com macrófagos. Foram observadas 0,8 x 105 células/ml. Foram obtidas 2 x 107 células dos ratos em 5 minutos. Foi adicionado soro fetal bovino a 20%, que contém adesinas que facilitam a adesão dos macrófagos na placa. Foram colocadas alíquotas do meio de cultura contendo os macrófagos nos poços das placas para cultivo. As placas foram colocadas em um dessecador com ambiente de CO2 (água destilada, bicarbonato de sódio (Na2HCO3) e ácido sulfúrico) criando um ambiente de anaerobiose. O dessecador (Sciencor® Scientific, São Paulo, Brasil) foi deixado em estufa a 37ºC. Foram utilizadas 3 microplacas de teste para cultura celular com 6 orifícios (Zellkultur Testplatte da Biochrom AG, Berlim, Alemanha). 3) Procedimento experimental Em uma segunda etapa, partimos para a exposição dos macrófagos aos meios conservantes utilizados quando da avulsão dentária. Os meios conservantes utilizados foram: água de coco (1), leite (2), HBSS (3), leite de coco (4), própolis (5), solução fisiológica contendo antibióticos (6), controle positivo usou-se o meio de cultura com soro fetal bovino, controle negativo usou-se o meio de cultura contendo Antimicina A (substância letal). A água de coco foi obtida de coco fresco quebrando-o com facão. O leite utilizado no experimento foi da marca Elegê desnatado (Eleva Alimentos S/A, 38 Rio Grande do Sul, Brasil). Como conservante 3 foi empregada a solução salina balanceada de Hank. O conservante 4 foi o leite de coco comercial(Bom Coco, Rio de Janeiro, Brasil). O conservante 5 foi o própolis spray (Makrovit, Rio de Janeiro, Brasil). O conservante 6 consistiu de 10 ml de PBS estéril (solução salina tamponada) juntamente com 0,2 ml do meio contendo antibiótico (100 mg de penicilina G benzatina e 100 mg de sulfato de estreptomicina, ambos da marca comercial Sigma-Aldrich, St Louis, USA). Para o controle negativo, foi utilizada a Antimicina A (Sigma-Aldrich, St Louis, USA) que atua inibindo a oxidação celular, inibe o citocromo (complexo I, NADH desidrogenase) e portanto não há produção de ATP na respiração mitocondrial dos macrófagos, causando a morte celular. A dose tóxica da Antimicina A (C20H40N2O4) é de 2 µg/ml e a dose letal é 200DL50. As placas tiveram seus meios recolhidos e colocados em tubos de ensaio e os conservantes colocados nos poços numerados de 1 a 6 na própria placa respectivamente com os seus números pré-estabelecidos. Estas placas foram numeradas de 1 a 3 na parte superior e de 4 a 6 na parte inferior. Uma destas placas foi colocada por 30 minutos e a outra por 60 minutos no dessecador e deixada na estufa a 37ºC. A terceira placa continha os controles que foram colocados em 3 poços cada um e deixados por 120 minutos. Passados os tempos respectivos de 30, 60 e 120 minutos, os conservantes foram recolhidos e as placas lavadas com PBS rapidamente. O Azul de Tripan (SP Labor, São Paulo, Brasil) a 0,5%, foi adicionado em todos os poços e deixado por 1 minuto. Os poços foram lavados com água e posteriormente foi adicionado Metanol (Lab House, Belo Horizonte, Brasil) e 39 Panótico (Lab House, Belo Horizonte, Brasil) para fixar o corante. Após coradas e fixadas, as placas foram observadas ao microscópio. Como avaliação foi considerada que células pouco coradas ou mais claras apresentaram-se vivas e as mais coradas ou bem azuladas estavam mortas. 40 RESULTADOS No presente trabalho foi possível obter resultados que permitiram uma análise quantitativa e qualitativa. Quantitativamente obteve-se uma determinada porcentagem de células vivas em cada poço da placa a ser submetido a cada solução. Estes valores foram submetidos ao teste estatístico não paramétrico Kruskal-Wallis. Após esta análise foi feita uma observação qualitativa através das imagens obtidas ao microscópio óptico que possibilitou a observação das alterações celulares de forma direta. Primeiramente foram observados os 6 poços da placa de 30 minutos. Observou-se que no intervalo de 30 minutos o poço contendo água de coco apresentou 17% de células vivas; o poço contendo leite apresentou 69% de células vivas; o poço contendo a solução de Hank (HBSS) apresentou 40% de células vivas; o poço contendo leite de coco apresentou 93% de células vivas; o poço contendo o própolis apresentou 71% de células vivas; e o poço contendo solução salina com antibióticos apresentou 83% de células vivas (tabela 1). Nos primeiros 30 minutos, pôde-se observar que a água de coco apresentou um resultado insatisfatório com grande número de células mortas, mostrou características de apoptose, fragmentação de DNA através da fragmentação nuclear que induz a morte natural (figura 1). O leite preservou a conformação celular dos macrófagos que se apresentaram intactos e bem visíveis com uma porcentagem de células vitais razoáveis. A solução de Hank (HBSS) proporcionou uma quantidade mediana de células vitais. O leite de coco apresentou um resultado surpreendente, com 93% das células vitais e 41 com conformação celular adequada. O própolis nos primeiros 30 minutos apresentou quantidade considerável de células vitais e arquitetura celular adequada com a normalidade (figura 2). A solução salina contendo antibióticos apresentou nos primeiros 30 minutos uma grande quantidade de células vitais. Logo após, foram observados os 6 poços da placa de 60 minutos. Observou-se que em 60 minutos o poço contendo água de coco apresentou-se com 34% de células vivas (aumento da amostra em relação aos 30 minutos provavelmente obtido pelo campo de visualização diferenciado), O poço contendo leite se apresentou com 64% das células vitais, o poço contendo HBSS com 37% das células vitais, o poço contendo leite de coco com 90% das células vitais, o própolis com 37% das células vitais e a solução fisiológica com antibióticos com 46% das células vitais (tabela 1). Após 60 minutos, pôde-se observar que a água de coco continuou apresentando resultado insatisfatório, com apoptose, degeneração celular e fragmentação de DNA (figura 7). O leite gerou uma pequena diminuição na quantidade de células (macrófagos) vivas, mas não houve uma alteração considerável, o padrão celular permaneceu dentro da normalidade. O HBSS gerou também pequena diminuição na quantidade de células vivas, mas manteve as mesmas características dos 60 minutos. O leite de coco se manteve ainda com alta porcentagem de células vivas (90%) e surpreendente manutenção das características celulares (figuras 8 e 9). O própolis e a solução fisiológica com antibióticos demonstraram uma queda muito grande na porcentagem de células vivas o que os torna de pouca utilidade após 60 minutos de exposição (figuras 10, 11, 12 e 13). 42 Tabela 1- Efeito dos diversos conservantes em macrófagos. Porcentagem de células vitais após cada exposição. Meios conservantes 30 min 60 min _____________________________________________________________________ Controle positivo (soro fetalbovino) 100% 100% Água de coco 17% 34% Leite 69% 64% HBSS 40% 37% Leite de coco 93% 90% Própolis 71% 37% Soro fisiológico e antibióticos 83% 46% 0% 0% Controle negativo (Antimicina A) A análise estatística mostrou diferença estatística significativa (p<0,05) somente entre o controle positivo e a água de coco tanto após 30 minutos quanto após 60 minutos e entre a água de coco e o leite de coco após 30 minutos. Entre os demais intervalos de tempo e as demais substâncias não houve diferença estatística significativa. 43 viabilidade celular diante de soluções conservantes células vivas 120 Série1 100 Série2 80 Série3 60 Série4 40 Série5 20 Série6 0 Série7 1 2 Série8 tempo Figura 1: Análise gráfica da viabilidade celular diante de soluções conservantes. Séries: 1- Água de coco; 2- Leite; 3- HBSS; 4- Leite de coco; 5Própolis; 6- Solução salina com antibióticos; 7- Controle positivo; 8- Controle negativo. Intervalo de tempo 1- 30 minutos e 2- 60 minutos. Figura 2: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com água de coco durante 30 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observam-se células mortas, degeneradas, presença de corpos apoptóticos. A coloração azul indica a morte celular. Nikon, aumento de 400 x. 44 Figura 3: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 30 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observam-se células vivas. Nikon, aumento de 400 x. Figura 4: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 30 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observam-se células vivas juntamente com células degeneradas. O Própolis acarretou o aumento da célula por provável aumento da permeabilidade da membrana celular. Nikon, aumento de 400x. 45 Figura 5: Controle negativo. Observa-se que todas as células apresentam-se mortas. Nikon, aumento de 100x. Figura 6: Controle positivo. Observam-se que todas as células apresentam-se vivas. Nikon, aumento de 100x. 46 Figura 7: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com água de coco durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se apoptose. Nikon, aumento de 400x. Figura 8: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com leite de coco durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se a presença de monócito. Nikon, aumento de 400x. 47 Figura 9: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com leite de coco durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se célula intacta com boa aparência, monócito com morfologia adequada, com núcleo em forma de rim. Nikon, aumento de 400x. Figura 10: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se necrose, células degeneradas, observa-se apoptose com fragmentação nuclear. Nikon, aumento de 400x. 48 Figura 11: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se alteração citoplasmática; núcleo começando a se fragmentar; apoptose. Nikon, aumento de 400x. Figura 12: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com Própolis durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Pode-se perceber necrose da célula. Ocorrem cicatrizes na célula, o que causa necrose. A necrose estimula o processo inflamatório. Nikon, aumento de 400x. 49 Figura 13: Fotomicrografia de macrófagos de ratos Wistar tratados com solução fisiológica durante 60 minutos e submetidos ao ensaio de sobrevida frente ao Azul de Trypan. Observa-se necrose celular e apoptose; figuras de apoptose (superior esquerdo); estágios diversos de apoptose; estágio avançado (inferior esquerdo). Nikon, aumento de 400x. 50 DISCUSSÃO No presente estudo foram avaliadas quanto à capacidade de manutenção da viabilidade celular de macrófagos, seis soluções (água de coco, leite, HBSS, leite de coco, própolis e solução fisiológica contendo antibióticos) utilizadas como conservantes após avulsão dentária. SIM et al. ( 2008) descreveram que a água de coco contém elevados níveis de ribosídeos zeatínicos capazes de expressar atividade proteolítica possivelmente relacionada com a esterilidade da mesma. GOPIKRISHNA et al. (2008) relataram que a água de coco é biologicamente pura e estéril, com rica presença de aminoácidos, proteínas, vitaminas e minerais e a análise estatística do trabalho mostrou que a água de coco foi capaz de manter significativamente mais células do ligamento periodontal viáveis quando comparado com o própolis, HBSS e leite e que a água de coco pode ser usada como um meio de transporte adequado para dentes avulsionados. No presente estudo experimental, entretanto, encontrou-se uma pequena quantidade de células viáveis quando expostas à solução de água de coco. Nos tempos de 30 e 60 minutos, a quantidade de células viáveis encontradas não foi maior que 34% das amostras dos poços. Houve grande ocorrência de células mortas, degeneradas e presença de corpos apoptóticos indicando a indução de apoptose pela água de coco em macrófagos. Este fato contra-indicaria a água de coco como meio de transporte para dentes avulsionados como descrito por GOPKRISHNA et al. (2008). Quanto ao fato da água de coco ser biologicamente pura e estéril, isto poderia ser especulado. Durante sua manipulação, a água de coco pode ser facilmente contaminada e como descrito 51 por PRABAKARAN et al. (2008) é um meio de fácil proliferação de Bacillus thuringiensis var. israelensis bem como apresenta uma excelente condição biológica para o desenvolvimento de outros tipos de microorganismos contaminantes. Em outro estudo, ABARA et al. (2007) descreveram o efeito protetor hepático da água de coco mostrando que a ingestão de leite de coco e água de coco aumentaram os valores das taxas de proteína e proteína/RNA e um decréscimo de atividade da alanina e aspartato amino transferase (ALT e AST). Estes efeitos aumentaram a indução do metabolismo de enzimas resultando em aumento de depuração e eliminação de cafeína pelo corpo reduzindo o efeito tóxico no fígado. Em adição, ISMAIL et al. (2007), demonstraram que a ingestão de água de coco otimizou um melhor equilíbrio hidro-eletrolítico em comparação com as demais bebidas comerciais. Possivelmente o efeito depurador poderia estar relacionado com a estimulação das células de Kupffer, as quais poderiam expressar uma maior produção de óxido nítrico e de proteína quimiotáxica de monócitos. De acordo com a análise dos resultados encontrados no presente trabalho, os níveis de apoptose observados parecem estar relacionados com o aumento da atividade depurativa conforme, SANDHYA & RAJAMAHAN (2006), descreveram um aumento das taxas de conversão de colesterol em ácidos biliares e aumento da excreção destes ácidos e esteróis neutros observados em ratos tratados com água de coco, a partir de estudos histopatológicos, que revelaram menor acúmulo de gordura nos tecidos avaliados. Eles observaram que o tratamento com água de coco resultou em aumento plasmático de L-arginina, nos níveis urinários de nitrito e 52 na atividade da oxido-nítrico sintase. Estes resultados indicam os efeitos benéficos da água de coco analisando os níveis séricos e os parâmetros lipídicos tissulares. Conforme sugerido por SOMERS et al. (2008), a calcineurina está relacionada com a produção da óxido-nítrico sintase induzida, sabendo-se que a água de coco induz o aumento da síntese protéica e da taxas proteína/RNA, este fato poderia estar relacionado com o aumento da atividade da óxido-nítrico sintase juntamente com o nível de L-arginina, que potencialmente poderiam ser mecanismos considerados responsáveis pelo efeito apoptótico nos macrófagos isolados conforme observado em nosso estudo in vitro. HAN et al. (2008) sugerem que o aumento na síntese de óxidonítrico sintase induzida seja um fator indutor de apoptose. De acordo com BHUSHAN et al. (2007), o triterpenediol (TPD), isolado de Boswellia serrata induz a um aumento de espécies reativas de oxigênio bem como de óxido nítrico tanto pela sinalização de cascata extrínseca e intrínseca. NAKAMURA et al. (2008) relataram que lipopolissacarídeos (LPS) isolados de raízes de algumas plantas estudadas, de acordo com a concentração dependente, expressaram potente efeito inibidor na expressão de óxido-nítrico sintase. Poderia se sugerir que o efeito apoptótico relacionado com a água de coco seria resultado do balanço de TPD/LPS em relação à expressão da óxidonítrico sintase nos macrófagos estudados. Quanto ao própolis, HUANG et al. (2007) descreveram que o isolamento e caracterização da propolina G do própolis Taiwanês demonstrou pela primeira vez que este componente é um potente indutor de apoptose em células cancerígenas do cérebro e que este componente e seu extrato 53 mostraram um efeito protetor contra estresse oxidativo em neurônios corticais de rato. Complementando, INOKUSHI et al. (2006) descreveram que o própolis brasileiro possui um efeito neuroprotetor contra dano à retina in vitro e in vivo, e que a inibição do estresse oxidativo induzido pelo própolis pode ser parcialmente responsável por estes efeitos neuroprotetores. O própolis é uma substância resinosa usada pelas abelhas para reparo e manutenção de suas colméias. Ele possui mais de 180 componentes incluindo flavanóides, ácidos fenólicos e seus ésteres que apresentam efeitos antiinflamatórios, antibacterianos, antivirais, imuno-modulatórios, antioxidantes e antiproliferativos. O própolis mostrou inibir a divisão celular e a síntese de proteína, entretanto, o exato mecanismo por trás do efeito anti-tumoral não está claramente descrito. De acordo com GUNDUZ et al. (2005) o efeito apoptótico do própolis poderia estar relacionado com a inibição da expressão de telomerases. HERNANDEZ et al. (2007) sugeriram que amostras de própolis apresentaram uma forte atividade anti-proliferativa em células cancerígenas. De acordo com CHEN et al. (2004a) o própolis é rico em propolinas A, B, C, D, E e F, as quais foram capazes de induzir apoptose em células humanas com fenótipo de melanoma; este efeito estaria relacionado com os elevados níveis de propolinas. CHEN et al. (2004b) demonstraram que duas prenilflavononas, a propolina A e B induziram apoptose em células melanômicas humanas bem como significante inibição da atividade da xantina oxidase. O isolamento e a caracterização da propolina C do própolis de abelha permitiu se avaliar que este composto é um excelente indutor de apoptose em células melanômicas 54 humanas. ONCAG et al. (2006) revelaram que o própolis apresenta uma excelente atividade antibacteriana, sugerindo que o mesmo possa ser usado como medicação intra-canal alternativa. SABIR et al. (2005) sugeriram que o capeamento pulpar direto com flavonóides do própolis em ratos podem retardar a inflamação pulpar e estimular a formação de dentina reparadora. De acordo com HAYACIBARA et al. (2005) os componentes cariostáticos do própolis tipo 3 e 12 são apolares e H-fr é a fração de escolha para identificar novos agentes anti-cariogênicos. BOTUSHANOV et al. (2001) descreveram que o própolis é uma substância produzida pelas abelhas com pronunciado efeito anti-inflamatório. É um ingrediente para muitas drogas e adicionado às pastas de dente como um componente profilático para doenças periodontais onde estas pastas de dentes mostraram uma excelente remoção de placa, efeito inibidor e anti-inflamatório da placa. Artepillina C possui atividade antibacteriana e quando aplicada em células tumorais malignas de humanos e camundongos in vitro e in vivo, artepillina C exibiu um efeito citotóxico e o crescimento das células tumorais foi claramente inibido. Os efeitos citotóxicos da artepillina C foram mais documentados em carcinomas e melanomas. Apoptose, paralização de mitoses e necrose foram identificadas através de observação histológica após injeção intra-tumoral de artepillina C. Foi indicado por KIMOTO et al. (1998) que a artepillina C ativou o sistema imune e possui direta atividade antitumoral. Ela é um ingrediente ativo do própolis brasileiro e quando aplicada às células leucêmicas humanas in vitro exibiu potente efeito citotóxico e induziu 55 marcados níveis de apoptose em todas as células. Os maiores efeitos ocorreram nas células T. Houve indução nas células de formação de corpos apoptóticos e fragmentação do DNA. A síntese de DNA nas células leucêmicas foi claramente inibida e a desintegração celular foi confirmada microscopicamente. Os resultados sugerem que artepellina C, um ingrediente ativo do própolis brasileiro apresenta efeitos anti-leucêmicos. Pinocenbrim é o flavonóide mais abundante no própolis e tem sido comprovado apresentar propriedades anti-oxidantes, anti-bacterianas e antiinflamatórias. De acordo com GAO et al. (2008), Pinocembrim poderia também regular a expressão de protína p53 e inibir a liberação do citocromo c da mitocôndria para o citosol. AVCI et al. (2007) verificaram os efeitos apoptóticos e citotóxico do CAPE (caffeic acid phenethyl ester). CHEN et al. (2007) sugeriram que propolina A e propolina B podem ativar apoptose mitocôndria-mediada, sendo potentes anti-oxidantes. MISHIMA et al. (2005) documentaram que extrato de própolis brasileiro inibiu o crescimento de células leucêmicas humanas, o que foi em parte atribuído à indução de apoptose associada à diferenciação granulocítica. GOPIKRISHNA et al. (2008) demonstraram uma grande quantidade de células do ligamento periodontal viáveis após exposição ao própolis por 30 minutos. No presente trabalho apesar da análise quantitativa no mesmo intervalo de tempo nos indicar resultados semelhantes, a análise qualitativa já indica ocorrência de apoptose. 56 ÖZAN et al. (2007) testaram a capacidade do própolis na manutenção da vitalidade das células do ligamento periodontal em diferentes intervalos de tempo encontrando uma alta taxa de células viáveis até 3 horas após exposição o que não condiz com o presente trabalho. MARTIN & PILEGGI (2004) demonstraram uma significante maior capacidade de manutenção da viabilidade das células do ligamento periodontal quando expostas ao própolis ao se comparar com leite, solução salina ou HBSS tendo sido o tempo de exposição de 45 minutos. No presente trabalho, embora inicialmente (nos primeiros 30 minutos), a análise quantitativa de apoptose não tenha sido significativa, a análise morfológica qualitativa indica a capacidade do própolis induzir apoptose em macrófagos. Após 60 minutos a quantidade de células mortas como conseqüência da apoptose aumentou drasticamente. Quanto ao leite, ele é aceito pela Associação Americana de Endodontistas (1995) como meio de transporte para dentes avulsionados. ÖZAN et al. (2007) concordam com trabalhos anteriores que indicam o leite como meio adequado de manutenção da viabilidade das células do ligamento periodontal, sendo indicado o leite com baixo teor de gordura. MARTIN & PILEGGI (2004) obtiveram resultados semelhantes a trabalhos anteriores com o leite como meio de transporte para dentes avulsionados, não apresentando diferença estatística significante com relação ao HBSS. MARINO et al. (2000) demonstraram que o leite longa vida, que tem a vantagem de não requerer refrigeração, é tão efetivo quanto o leite 57 pasteurizado e mais efetivo que o meio Save-A-Tooth como meio de transporte de dentes avulsionados na manutenção da viabilidade das células do ligamento periodontal. Em estudo semelhante, PEARSON et al. (2003) comparando alguns tipos comerciais e diferentes formulações de leite quanto à capacidade de manutenção da viabilidade das células do ligamento periodontal, concluíram que o Enfamil, uma formulação para bebês rica em suplementos, se mostrou mais efetivo que as demais formulações pelo menos após 4 horas de exposição. BLOMLOF et al. (1980) demonstraram que o leite é capaz de promover melhor conservação do ligamento periodontal que a saliva ou a solução salina em macacos. Novamente BLOMLOF (1981) demonstrou que as células do ligamento periodontal em humanos sobreviveram adequadamente em leite, com 50% das células vitais após 12 horas de armazenamento e a combinação de breve armazenamento em saliva e subseqüente armazenamento em leite, foi melhor que somente em saliva. BLOMLOF et al. (1983) demonstraram que após exposição do ligamento periodontal ao leite por 2 ou 6 horas este sofreu um adequado reparo semelhante aos que foram submetidos ao reimplante imediato. RAM & COHENCA (2003) atentam para o fato do leite ser um meio recomendado e fácil de ser achado em qualquer local. No presente trabalho, o grupo tratado com o leite apresentou uma quantidade significativa de células vitais em 30 minutos e este resultado se manteve após 60 minutos o que indica que o leite é um meio estável na manutenção da vitalidade celular com uma variação de tempo de exposição, além disso, a conformação celular se apresentou adequada de um modo geral. 58 Quanto à solução salina (ou soro fisiológico), RAM & COHENCA (2003) indicam que esta seria a terceira opção após a solução salina balanceada de Hank (HBSS) e o leite, mas não é tão facilmente encontrado como o leite. De acordo com MARTIN & PILEGGI (2004) a solução salina demonstrou piores resultados que o própolis. De acordo com TANOMARU et al. (2003) a solução salina não interferiu na atividade inflamatória demonstrando que não houve indução de apoptose, diferentemente do observado no presente estudo. Quanto à solução salina balanceada de Hank (HBSS), KHADEMI et al. (2008) demonstraram que tanto o ovo quanto o HBSS apresentaram melhores resultados na manutenção das células do ligamento periodontal que o leite e a água, o que diferiu do presente trabalho pois a quantidade de macrófagos vitais foi maior após exposição ao leite que ao HBSS tanto após 30 quanto após 60 minutos. Quanto ao leite de coco, de acordo com NNELI & WOYIKE (2008), foi relatado que o leite de coco exerceu um efeito citoprotetor maior em comparação com a água de coco, em nível de mucosa gástrica de ratos, em nosso estudo, pudemos observar que, de fato, o grupo de células tratado com o extrato de leite de coco apresentou uma maior viabilidade ao longo dos diferentes tempos de tratamento quando comparado com o grupo tratado com a água de coco. De acordo com PRYARDARSHANI & CHANDRIKA (2007), o leite de coco apresenta carotenóides, os quais exibem efeito anti-oxidante e exercem uma possível atividade anti-apoptótica. 59 CONCLUSÕES De acordo com a metodologia empregada neste trabalho, podemos sugerir, com base nos resultados obtidos, que com relação à análise quantitativa, houve diferença significante somente entre o grupo controle positivo e o grupo de células expostas à água de coco tanto após 30 como após 60 minutos e entre o grupo de células expostas à água de coco e ao leite de coco após 30 minutos. Com relação à análise qualitativa, o grupo de células exposto à água de coco apresentou apoptose e grande quantidade de células mortas; o grupo de células expostas ao própolis e à solução fisiológica com antibióticos apresentaram uma grande quantidade de células com vitalidade nos primeiros 30 minutos porém em 60 minutos demonstraram um grande declínio na quantidade de células vitais, o que as torna de pouca utilidade nos casos que necessitam de períodos mais longos de conservação; o leite embora tenha mantido menor quantidade de células vitais que as duas últimas soluções, em 60 minutos manteve os mesmos padrões, se mostrando mais estável. O grupo exposto à solução salina balanceada de Hank apresentou níveis baixos de células vitais em ambos os intervalos e o leite de coco foi a melhor solução em 30 e 60 minutos tanto na manutenção da vitalidade celular quanto na manutenção da conformação celular. 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abara AE, Obochi GO, Obi-Abang M, Malu SP, Ekam VS, Uboh FE, Edu FE (2007). Effect of caffeine-coconut products interactions on induction of microsomal drug-metabolizing enzymes in Wistar Albino rats. Niger J Physiol Sci; 22(1-2):75-81. Amarante-Mendes, GP (2003). Apoptose: Programa molecular de morte celular. Einstein, 1: 15-18. American Association of Endodontists (1995). Recommended guidelines for the treatment of the avulsed permanent tooth. Chicago, I.L: American Association of Endodontists. Anderson L, Al-Asfour A, Al-Jame Q (2006). Knowledge of first-aid measures of avulsion and replantation of teeth: an interview of 221 Kuwaiti schoolchildren. Endod Dent Traumatol; 22: 57-65. Andreasen JO (1993). Atlas de reimplante e transplante de dentes. 1ª ed. Editora Panamericana; 40-125. Andreasen JO (1985). Challenges in clinical dental traumatology. Endod Dent Traumatol, 1: 45-55. 61 Andreasen JO (1970). Etiology and pathogenesis of traumatic dental injuries. Scand J Dent Res, 78: 329-342. Andreasen JO, Andreasen FM (2001). Texto e atlas colorido de traumatismo dental. 3ª ed. Editora Artmed; 383-419. Andreasen JO, Ravn JJ (1972). Epidemiology of traumatic dental injuries to primary and permanent teeth in Danish population sample. Int. J. Surg, 1: 235239. Avci CB, Sahin F, Gunduz C, Selvi N, Aydin HH, Oktem G, Topcuoglu N, Saydam G (2007). Protein phosphatase 2A (PP2A) has a potential role in CAPE-induced apoptosis of CCRF-CEM cells via effecting human telomerase reverse transcriptase activity. Hematology; 12(6):519-25. Bhushan S, Kumar A, Malik F, Andotra SS, Sethi VK, Kaur IP, Taneja SC, Qazi GN, Singh JA (2007). Triterpenediol from Boswellia serrata induces apoptosis through both the intrinsic and extrinsic apoptotic pathways in human leukemia HL-60 cells. Apoptosis; 12(10):1911-26. Blomlof, L (1981). Storage of human periodontal ligament cells in combination of different media. J Dent Res; 60(11): 1904-1906. 62 Blomlof L, Lindskog S, Andersson L, Hedstrom KG, Hammarstrom L (1983). Storage of experimentally avulsed teeth in milk prior to replantation. J Dent Res; 62(8): 912-916. Blomlof L, Lindskog S, Hedstrom KG, Hammarstrom L (1980). Vitality of periodontal ligament cells after storage of monkey teeth in milk or saliva. Scandinavian J Dent Res; 88: 441-445. Botushanov PI, Grigorov GI, Aleksandrov GA (2001). A clinical study of a silicate toothpaste with extract from propolis. Folia Med (Plovdiv);43(1-2):28-30. Chamorro MM, Regan JD, Operrman LA, Kramer PR (2008). Effetc of storage media on human periodontal ligament cell apoptosis. Dent Traumatol; 24:11-16. Chen CN, Weng MS, Wu CL, Lin JK (2004a). Comparison of radical scavenging activity, cytotoxic effects and apoptosis induction in human melanoma cells by Taiwanese Propolis from different sources. Evid Based Complement Alternat Med; 1(2):175-185. Chen CN, Wu CL, Lin JK (2007). Apoptosis of human melanoma cells induced by the novel compounds propolin A and propolin B from Taiwenese propolis. Cancer Lett; 245(1-2):218-31. 63 Chen CN, Wu CL, Lin JK (2004b). Propolin C from propolis induces apoptosis through activating caspases, bid and cytochrome c release in human melanoma cells. Biochem Pharmacol.; 67(1):53-66. Cho S, Cheng AC (2002). Replantation of an avulsed incisor after prolonged dry storage: a case report. J Can Dent Assoc, 68 (5): 297-300. Consolaro A (2005). Reabsorções dentárias nas especialidades clínicas. 2ª ed. Editora Dental Press; 1-53. Fagade OO (2005). Extra-alveolar storage media for tooth autotransplants and replants. The Int J Dent Science, 2; 2: 1-9. Gao M, Zhang WC, Liu QS, Hu JJ, Liu GT, Du GH (2008). Pinocembrin prevents glutamate-induced apoptosis in SH-SY5Y neuronal cells via decrease of bax/bcl-2 ratio. Eur J Pharmacol Jun 24. [Epub ahead of print] Gopikrishna V, Baweja P, Venkateshbabu N, Thomas T, Kandaswamy D (2008). Comparison of Coconut water, Propolis, HBSS, and Milk on PDL cell survival. J Endod, 34: 587-589. 64 Gunduz C, Biray C, Kosova B, Yilmaz B, Eroglu Z, Sahin F, Omay SB, Cogulu O (2005). Evaluation of Manisa propolis effect on leukemia cell line by telomerase activity. Leuk Res; 29(11):1343-6. Han W, Fu S, Wei N, Xie B, Li W, Yang S, Li Y, Liang Z, Huo H (2008). Nitric oxide overproduction derived from inducible nitric oxide synthase increases cardiomyocyte apoptosis in human atrial fibrillation. Int J Cardiol; Jun 26. [Epub ahead of print] Hayacibara MF, Koo H, Rosalen PL, Duarte S, Franco EM, Bowen WH, Ikegaki M, Cury JA (2005). In vitro and in vivo effects of isolated fractions of brazilian propolis on caries development. J Ethnopharmacol;101(1-3):110-5. Hernandez J, Goycoolea FM, Quintero J, Acosta A, Castañeda M, Dominguez Z, Robles R, Vazquez-Moreno L, Velazquez EF, Astiazaran H, Lugo E, Velazquez C (2007). Sonoran propolis: chemical composition and antiproliferative activity on cancer cell lines. Planta Med; 73(14):1469-74. Hortelano S, García-Martín ML, Cerdán S, Castrillo A, Alvarez AM, Boscá L (2001). Intracellular water motion decreases in apoptotic macrophages after caspase activation. Cell Death & Differentiation, 10:1022-1028. 65 Huang WJ, Huang CH, Wu CL, Lin JK, Chen YW, Lin CL, Chuang SE, Huang CY, Chen CN (2007). Propolin G, a prenylflavanone, isolated from Taiwanese propolis, induces caspase-dependent apoptosis in brain cancer cells. J Agric Food Chem; 55(18):7366-76. Inokuchi Y, Shimazawa M, Nakajima Y, Suemori S, Mishima S, Hara H (2006). Brazilian green propolis protects against retinal damage in vitro and in vivo. Evid Based Complement Alternat Med; 3(1):71-7. Ismail I, Singh R, Sirisinghe RG (2007). Rehydration with sodium-enriched coconut water after exercise-induced dehydration. Southeast Asian J Trop Med Public Health; 38(4):769-85. Keum K, Kwon O, Spängberg LS, Kim C, Kim J, Cho M, Lee S (2003). Effect of dexamethasone on root resorption after delayed replantation of rat tooth. J Endod; 29: 810-813. Khademi AA, Atbaee A, Razavi SM, Shabanian M (2008). Periodontal healing of replanted dog teeth stored in milk and egg albumen. Dent Traumatol; 24(5):510-4. 66 Kimoto T, Arai S, Kohguchi M, Aga M, Nomura Y, Micallef MJ, Kurimoto M, Mito K (1998). Apoptosis and suppression of tumor growth by artepillin C extracted from Brazilian propolis. Cancer Detect Prev; 22(6):506-15. Lin S, Zuckerman O, Fuss Z, Ashkenazi M (2007). New emphasis in the treatment of dental trauma: avulsion and luxation. Endod Dent Traumatol; 23: 297-303. Lustosa-Pereira A, Garcia RB, de Moraes IG, Bernardineli N, Bramante CM, Bortoluzzi EA (2006). Evaluation of the topical effect of alendronate on the root surface of extracted and replanted teeth. Microscopic analysison rats’ teeth. Endod Dent Traumatol; 22:30-35. Manfrin TM, Boaventura RS, Poi WR, Panzarini SR, Sonoda CK, Sundefeld MLMM (2007). Analysis of procedures used in tooth avulsion by 100 dental surgeons. Endod Dent Traumatol; 23:203-210. Marino TG, West LA, Liewehr FR, Mailhot JM, BuxtonTB, Runner RR, McPherson IIIJC (2000). Determination of periodontal ligament cell viability in long shelf-life milk. J Endod; 26:699-702. Martin MP, Pileggi R (2004). A quantitative analysis of Propolis: a promising new storage media following avulsion. Endod Dent Traumatol; 20: 80-85. 67 Mishima S, Inoh Y, Narita Y, Ohta S, Sakamoto T, Araki Y, Suzuki KM, Akao Y, Nozawa Y (2005). Identification of caffeoylquinic acid derivatives from Brazilian propolis as constituents involved in induction of granulocytic differentiation of HL-60 cells. Bioorg Med Chem; 13(20):5814-8. Mitchell RN, Kumar V, Abbas AK, Fausto N (2006). Fundamentos de Patologia. 7ª ed. Editora Elsevier. Nakamura T, Kodama N, Kumamoto T, Higuchi Y, Chaichantipyuth C, Ueno K, Ishikawa T, Yano S (2008). Inhibitory effect of the extracts from Thai medicinal plants on iNOS expression in mouse macrophage RAW 264.7.Nat Med (Tokyo); Jul 15. [Epub ahead of print]. Nneli RO, Woyike OA (2008). Antiulcerogenic effects of coconut (Cocos nucifera) extract in rats. Phytother Res; 22(7) 970-2. Oncag O, Cogulu D, Uzel A, Sorkun K (2006). Efficacy of propolis as an intracanal medicament against Enterococcus faecalis. Gen Dent; 54(5):319-22. Özan F, Polat ZA, Er K, Özan U, Deger O (2007). Effect of Propolis on survival of periodontal ligament cells: new storage media for avulsed teeth. J Endod; 33: 570-573. 68 Pearson RM, Liewehr FR, West LA, Patton WR, McPherson JC, Runner RR (2003). Human periodontal ligament cell viability in milk and milk substitutes. J Endod 29: 184-186. Pohl Y, Fillippi A, Kirschner H (2005). Results after replantation of avulsed permanent teeth. II. Periodontal healing and the role of physiologic storage and antiresorptive-regenerative therapy. Endod Dent Traumatol; 21: 93-101. Poi WR, Carvalho RM, Panzarini SR, Sonoda CK, Manfrin TM, Rodrigues TS (2007). Influence of enamel matrix derivate (Emdogain®) and sodium fluoride on the healing process in delayed tooth replantation: histologic and histometric analysis in rats. Endod Dent Traumatol; 23: 35-41. Prabakaran G, Hoti SL, Manonmani AM, Balaraman K (2008). Coconut water as a cheap source for the production of delta endotoxin of Bacillus thuringiensis var. israelensis, a mosquito control agent. Acta Trop; 105(1):35-8. Priyadarshani AM, Chandrika UG (2007). Content and in vitro accessibility of pro-vitamin A carotenoids from Sri Lankan cooked non-leafy vegetables and their estimated contribution to vitamin A requirement. Int J Food Sci Nutr; 58(8): 659-67. 69 Ram D, Cohenca N (2003). Therapeutic protocols for avulsed permanent teeth: review and clinical update. Pediatr Dent; 26:251-255. Sabir A, Tabbu CR, Agustiono P, Sosroseno W (2005). Histological analysis of rat dental pulp tissue capped with propolis. J Oral Sci; 47(3):135-8. Sandhya, VG, Rajamohan, T (2006). Beneficial effects of coconut water feeding on lipid metabolism in cholesterol-fed rats. J Med Food.; 9(3):400-7. Schwartz O, Andreasen FM, Andreasen JO (2002). Effects of temperature, storage time and media on periodontal and pulpal healing after replantation of incisors in monkeys. Endod Dent Traumatol; 18: 190-195. Sim GE, Goh CJ, Loh CS (2008). Induction of in vitro flowering in Dendrobium Madame Thong-In (Orchidaceae) seedlings is associated with increase in endogenous N(6)-(Delta(2)-isopentenyl)-adenine (iP) and N(6)-Delta(2)- isopentenyl)-adenosine (iPA) levels. Plant Cell Rep; 27(8):1281-9. Somers JR, Beck PL, Lees-Miller JP, Roach D, Li Y, Loken S, Zhan S, Semeniuk L, Duff HJ (2008). iNOS in Cardiac Myocytes Plays a Critical Role in 70 Death in a Murine Model of Hypertrophy Induced by Calcineurin. Am J Physiol Heart Circ Physiol Jul 11. Tabas I (2005). Conseqüences and therapeutic implications of macrophage apoptosis in atherosclerosis. The importance of lesion stage and phagocytic efficiency. Arteriosclerosis, Thrombosis, and Vascular Biology 2005; 25: 22552264. Tanomaru JM, Leonardo MR, Tanomaru Filho M, Bonetti Filho I, Silva LA (2003). Effect of different irrigation solutions and calcium hidroxide on bacterial LPS. Int Endod J, 36 (11): 733-9. Tronstad L (1988). Root resorption- etiology, terminology and clinical manifestations. Endod Dent Traumatol; 4: 241-252. Trope M (2002). Root resorption due to dental trauma. Endod Topics; 1: 79100. 71