SITUAÇÃO DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA EM UM MUNICÍPIO CERCADO POR VEGETAÇÕES NO INTERIOR DE MATO GROSSO Gabriella Bueno Sousa1 Patrícia Gelli Feres de Marchi2* Tatiana Lima de Melo2 RESUMO: A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma zoonose que acomete o homem, em regiões de pele e mucosas, causadas por protozoários do gênero Leishmania. A ocupação desordenada nas cidades adentrando as matas favorece o aparecimento dos casos. O objetivo foi avaliar as frequências de LTA em Barra do Garças – MT, com intuito de conhecer a situação local frente a doença. Para isso foi realizado um estudo epidemiológico, retrospectivo, com abordagem quantitativa, com investigação da frequência de indivíduos com LTA no Sinan NET, entre 2007 a 2011. Observou-se que, houve grande incidência de casos nos anos de 2009 e 2011, na faixa etária de 20 a 49 anos. Dos 512 casos notificados, 488 foram casos novos e a forma mais prevalente consistiu na LTA cutânea com 500 casos. Portanto, há necessidade de trabalhar ações educativas com a população visando reduzir os casos desta patologia. Palavras-chave: Leishmaniose; Tegumentar; Epidemiologia; Incidência; Zoonose. ABSTRACT: American cutaneous leishmaniasis (ACL) is a zoonosis that affects humans in areas of skin and mucous membranes, caused by protozoa of the genus Leishmania. The sprawl in cities entering the forest favors the appearance of cases. The objective was to evaluate the frequencies of LTA in Bar Herons - MT, in order to know the local situation facing the disease. Conducted an epidemiological retrospective study with a quantitative approach. The sample was characterized by investigating the frequency of individuals with ACL in Sinan NET, period 2007-2011. It was observed that there was a high incidence of cases in the years 2009 and 2011, aged 20-49 years. Of the 512 cases reported, 488 were new cases and the most prevalent form consisted of 500 cases with cutaneous LTA. Therefore, there is need for educational work with the population to reduce the cases of this disease. KEY-WORDS: Leishmaniasis; Cutaneous; Epidemiology; Incidence; Zoonosis. 1 Aluna de Enfermagem das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia Docentes das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. Rua R. Moreira Cabral, 1000 Jardim Mariano, Barra do Garças - MT 78600-000. * Contato: patrí[email protected]; (066) 3401-160 2 1. INTRODUÇÃO De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a leishmaniose é frequente em 88 países, mas apenas 30 deles tem notificação compulsória. Do total de casos registrados, 90% ocorreram em apenas seis países: Irã, Arábia Saudita, Síria e Afeganistão (Velho mundo), Brasil e Peru (GONTIJO; CARVALHO, 2003). A leishmaniose representa grande problema em saúde pública nas Américas Central e do Sul, em especial em países como o Brasil (COSTA et al., 1998). Nas duas últimas décadas os índices de leishmaniose tegumentar americana no Brasil vêm crescendo consideravelmente em todos os estados. O Ministério da Saúde registrou cerca de 35 mil casos nos últimos anos (GONTIJO; CARVALHO, 2003). A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma infecção zoonótica que além de acometer o homem, também afeta várias espécies de animais silvestres e domésticos. Consiste em uma doença infecciosa e não contagiosa, de transmissão vetorial com apresentação de manifestação polimórfica de pele e mucosas, é causada por diversas espécies de protozoários do gênero Leishmania, sendo as frequentes no Brasil Leishmania (Viannia) guyanensis, L. (Viannia) braziliensis, e L. (Leishmania) amazonensis. O ciclo de transmissão é heteroxeno, cujos vetores cruciais são insetos hematófagos pertencentes a subfamília Phlebotominae, sendo Lutzomya o gênero mais comum (MURBACK et al., 2011). A doença é transmitida pela picada do mosquito Phlebotominae fêmea contaminado no ser humano (BRASIL, 2006). O período de incubação da leishmaniose cutânea pode variar de uma semana a um mês, enquanto que na leishmaniose mucosa geralmente aparecem com um a dois anos após o início da infecção (MURBACK et al., 2011). A manifestação clínica inicial da LTA cutânea apresenta-se por uma pápula eritematosa, podendo ser única ou múltipla, normalmente localizada em região exposta do 15 tegumento, que evolui para úlcera com bordas elevadas, apresenta contornos regulares e um fundo com granulações grosseiras, podendo ser recobertas ou não por exsudato sero-purulento (ALMEIDA; SANTOS, 2011). A forma da LTA cutaneomucosa caracteriza-se por lesões mucosas agressivas que atingem as regiões nasofaríngeas e resulta de extensão direta ou de metástase hematogênica de lesão cutânea primária, tendo como principal agente etiológico a L. (Viannia) braziliensis (MURBACK et al., 2011). A leishmaniose tegumentar vem sendo atualmente considerada uma doença negligenciada. Devido acometer populações com baixo nível socioeconômico, com pouca força política e ainda, ser uma doença pouco atraente para a indústria farmacêutica. Os medicamentos existentes na atualidade para o tratamento dessa endemia causam com frequência efeitos adversos (PENNA et al., 2011). Os principais efeitos colaterais causados pela medicação são diarreia em 60% casos, dor abdominal em 28%, cefaleia e náuseas em 12% dos indivíduos (SAMPAIO et al., 2009). O homem é considerado um hospedeiro acidental desta patologia, devido não ter um papel importante na manutenção dos parasitas na natureza (GONTIJO; CARVALHO, 2003). A proximidade das habitações humanas com abrigos de animais domésticos, a falta de condições favoráveis de higiene no peridomicílio e sua localização próximo a pequenos capões de mata são condições que propiciam o fluxo de mamíferos silvestres reservatórios de Leishmania, nas áreas rurais, tendo em vista que no peridomicílio, normalmente há disponibilidade de alimento (TEODORO et al., 2011). O município de Barra do Garças estado de Mato Grosso, está localizado no centro oeste brasileiro, situado em região de cerrado, na divisa com o estado de Goiás. Trata-se de uma cidade cercada por serras com vegetação natural abundante e presença de rios. A economia do município é baseada na pecuária e no comércio. Segundo Hayashi (2004) o estado de Mato Grosso, nas últimas décadas passou por um intenso processo de ocupação desordenada, isto resultou em um aumento dos índices de LTA. Devido o município de Barra do Garças – MT apresentar um intenso processo de ocupação e ter condições ambientais favoráveis para o aumento de casos de indivíduos com leishmaniose tegumentar e alguns casos especiais de leishmaniose visceral, tornase necessário conhecer a realidade local, e através destes dados formular ações que visam à redução dos casos. As estratégias para o controle devem ser específicas, daí a necessidade de se considerar o padrão epidemiológico regional e o comportamento da On-line http://revista.univar.edu.br p. 14 - 18 ISSN 1984-431X transmissão em cada local. A realização do presente estudo justifica-se em conhecer os índices de LTA no município de Barra do Garças para verificar a situação local na tentativa de chamar a atenção das autoridades para que sejam implementadas ações emergenciais visando a redução dos casos e ainda permitir que através dos dados apresentados possa ser elaboradas ações educativas com a população. Portanto, o objetivo do trabalho consistiu em avaliar os índices de frequências de leishmaniose tegumentar americana no município de Barra do Garças – MT, e ainda correlacionar esses dados com o ano de notificação, a faixa etária, a forma da doença, a raça, o sexo e o tipo de entrada do caso. Essas informações são fundamentais no intuito de conhecer a situação local frente à doença e estabelecer ações de vigilância e controle desta endemia visando melhorar os indicadores encontrados. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa configura-se em um estudo epidemiológico, descritivo, retrospectivo, não probabilístico com abordagem quantitativa. A amostra caracterizou-se pela investigação da frequência de indivíduos com leishmaniose tegumentar americana de acordo com os dados do Sistema Informação de Agravos de Notificação (Sinan NET), no período de 2007 a 2011 no município de Barra do Garças – MT. Os dados foram coletados no mês de maio de 2012 na cidade de Barra do Garças – MT, onde obteve-se dados referentes aos anos de 2007 a 2011 em relação a frequência de notificação da leishmaniose tegumentar americana. A coleta de dados foi realizada através de consulta na base de dados do Sinan NET onde permitiu encontrar dados sobre a frequência de leishmaniose tegumentar em relação ao ano, a faixa etária, ao tipo de entrada, a forma clínica, a raça, ao sexo e a frequência em relação a diferentes unidades de saúde espalhadas pelo município. Os dados foram obtidos em conjunto com a Secretária Municipal de Saúde com auxílio da coordenadora da Vigilância Epidemiológica. Os dados foram avaliados e calculados em planilhas do Excel, sendo expressos em porcentagem e apresentados em forma de figuras e tabelas. Por se tratar de uma pesquisa onde foram utilizados apenas dados secundários oficialmente cedidos para a análise, e garantindo-se o sigilo das informações fornecidas, com os resultados divulgados no meio científico, este trabalho não teve implicações éticas segundo a Resolução 196/96 do CNS/CONEP. Neste estudo foi garantido o anonimato dos pacientes conforme prevê a Resolução citada acima. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º10 Vol – 2 16 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados obtidos permitiram analisar a frequência da leishmaniose tegumentar americana (LTA) no município de Barra do Garças e ainda possibilitou correlacionar com aspectos da região. Para Desjeux (2004) a urbanização, a migração, o desmatamento, entre outros, são fatores que contribuem com o aumento dos casos de leishmaniose. Barra do Garças apresenta-se como uma cidade endêmica em relação a leishmaniose tegumentar americana, isto se confirma pela frequência de notificação realizada durante os anos de 2007 a 2011, totalizando 512 casos notificados, sendo os anos de 2009 (190 casos) e 2011 (129 casos) com maiores índices, cerca de 37,11% e 25,20% respectivamente (Figura 1). leishmaniose tegumentar em indivíduos com idades entre 20 a 49 anos durante os anos de 2007 a 2011. Porém esta patologia acometeu também em menor frequência crianças e idosos (Tabela 1). Resultados semelhantes foram observados em um estudo na cidade de Campo Grande (MS), com pessoas que a idade variou entre seis a 85 anos, cerca de 8,5% dos indivíduos tinham de 0 a 14 anos, 21,3% possuíam idades entre 15 a 29 anos, 21,3% de 30 a 44 anos, 27,7% de 45 a 59 anos e 21,3% apresentaram idade maior ou igual a 60 anos (MURBACK et al., 2011). A leishmaniose tegumentar americana tem se manifestado na população sob forma de surtos localizados em várias regiões, atingindo todas as faixas etárias e ambos os sexos (CORTE et al., 1996). Referente ao tipo de entrada de indivíduos com leishmaniose no banco de dados nota-se que a maior frequência foi caracterizada por casos novos, o que totalizou 488 casos. Os maiores valores de porcentagem foram observados em 2009 (37,70%), por outro lado, os menores em 2007 (7,79%) (Figura 2). Além disso, observa-se na Figura 2, 21 casos de recidiva, sendo em 2007, 10 casos (47,62%) e em 2001 e 2009 três casos cada (14,29%). No ano de 2009 alguns casos que não tiveram informação foram tratados como ignorado/branco (Figura 2). Figura 1 – Ano de notificação da Leishmaniose Tegumentar Americana. Em um estudo realizado entre os anos de 1994 e 2009 no município de Prudentópolis, situado no estado do Paraná, foram registrados 156 casos de leishmaniose, destes 84,6% (132 casos) eram de LTA, sendo que os casos foram frequentes em localidades rurais no município (TEODORO et al., 2011). Os mesmos autores afirmam que o município possui uma geografia com a presença de serras no entorno, geografia esta semelhante à encontrada no município de Barra do Garças. Os locais de mata são importantes habitats para os flebotomíneos que alcançam as residências quando estas se encontram nas proximidades das matas ou quando há desmatamento da vegetação nativa (APARICIO; BITENCOURT, 2004). Conforme os dados colhidos em relação à faixa etária, percebe-se uma maior frequência de On-line http://revista.univar.edu.br p. 14 - 18 ISSN 1984-431X Figura 2 – Tipo de entrada dos casos de leishmaniose tegumentar americana. Segundo Silva e Muniz (2009), os resultados encontrados para o Estado do Acre são semelhantes aos encontrados em Barra do Garças, pois, no período de 2001 a 2006 91% dos registros eram casos novos, enquanto que recidiva representou 7,6%. Um fator importante observado no estudo dos autores supracitados foi o aumento real do número de casos novos o que pode vir a sugerir como melhoria do sistema de notificação da doença. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º10 Vol – 2 17 Tabela 1 – Frequência da leishmaniose tegumentar americana segundo a faixa etária em relação aos anos de 2007 a 2011. 2007 2008 2009 2010 2011 Faixa etária (anos) N % N % N % N % N % Menor de 1 0 0,00 1 1,61 5 2,66 1 1,20 1 0,78 1a4 1 2,08 4 6,45 8 4,26 4 4,82 4 3,10 5a9 0 0,00 2 3,23 15 7,98 5 6,02 11 8,53 10 a 14 0 0,00 2 3,23 8 4,26 7 8,43 19 14,73 15 a 19 4 8,33 8 12,90 5 2,66 8 9,64 13 10,08 20 a 29 9 18,75 7 11,29 26 13,83 9 10,84 25 19,38 30 a 39 8 16,67 10 16,13 41 21,81 13 15,66 21 16,28 40 a 49 16 33,33 11 17,74 47 25,00 13 15,66 21 16,28 50 a 59 7 14,58 8 12,90 12 6,38 9 10,84 5 3,88 60 a 69 2 4,17 5 8,06 16 8,51 6 7,23 5 3,88 70 a 79 1 2,08 2 3,23 4 2,13 4 4,82 3 2,33 80 e mais 0 0,00 2 3,23 1 0,53 4 4,82 1 0,78 Total 48 62 Com relação à forma clínica dos casos notificados, a leishmaniose cutânea foi a mais prevalente durante todos os anos, totalizando 500 casos, porém no ano de 2009 cerca de 186 pessoas foram notificadas gerando um percentual de 37,2%. Em contrapartida, a leishmaniose mucosa teve maior prevalência no ano de 2009 com quatro casos e 2010 com três casos de um total de 12 casos, sendo um percentual, respectivamente, de 33,3% e 25,00% em relação aos outros anos (Figura 3). Um estudo similar foi realizado e observaram que a forma cutânea foi observada em 68,1% dos casos, a forma mucosa em 27,7% dos indivíduos e a cutaneomucosa em apenas 4,3% (MURBACK et al., 2011). Outro estudo permite ainda reforçar a ideia de que a maioria dos casos registrados em relação a LTA, foram diagnosticados como cutânea (75%; n = 6.386) e mucosa (25%; n = 2.128) (SILVA; MUNIZ, 2009). 188 83 129 Em relação à raça das pessoas notificadas com leishmaniose tegumentar americana, os brancos foram mais acometidos com 190 casos, seguidos pelos pardos (174 casos) e indígenas (114 casos), respectivamente (Figura 4). Outro estudo também observou que dos indivíduos acometidos 29 eram brancos, 11 pardos e dois eram da raça negra (RIVITTI, 1981). Os dados epidemiológicos dos povos indígenas no Brasil são pouco conhecidos, devido à falta de investigações, de censos e de outros inquéritos regulares, além do fato da precariedade dos sistemas de registro de informações sobre morbidade, mortalidade e cobertura vacina (MACIEL; MISSAWA, 2009). Figura 4 - Número de casos por ano de leishmaniose tegumentar americana, segundo a raça. Figura 3 – Frequência de casos de leishmaniose em relação à forma clínica. On-line http://revista.univar.edu.br p. 14 - 18 ISSN 1984-431X Quando foi investigado o número de casos relacionado ao gênero, pode-se perceber que durante os anos de 2007 a 2011, com exceção de 2010, os indivíduos mais Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º10 Vol – 2 16 atingidos foram homens, gerando um total de 312 pessoas do gênero masculino, o que em porcentagem consistiu em 2007 (11,2%), 2008 (14,7%), 2009 (38,8%), 2010 (12,8%) e 2011 (22,4%) (Figura 5). Em relação ao gênero feminino, de um total de 200 casos, apenas o ano de 2010 apresentou maior índice em relação aos homens. A porcentagem dos 200 casos gerou em 2007 (6,5%), 2008 (8,0%), 2009 (34,5%), 2010 (21,5%) e 2011 (29,5%) (Figura 5). Figura 5 – Número de casos por ano de Leishmaniose Tegumentar Americana, segundo sexo. Com o passar dos anos a LTA, comportou-se como uma doença caracteristicamente profissional, acometendo de forma típica homens adultos trabalhadores expostos a regiões de mata. Contudo, tem-se demonstrado, nos últimos anos, mudanças em relação ao comportamento epidemiológico, diante do enorme processo de urbanização, com crescente acometimento de mulheres e crianças (CORTE et al., 1996). Outro fator importante consiste na mudança da vegetação original pelas diversas culturas existentes, dentre elas café, soja, milho, algodão e pastagens, proporcionando assim que todos os grupos etários e de ambos os sexos sejam acometidos (MONTEIRO et al., 2008). A grande incidência de casos com LTA envolvendo jovens e mulheres permite sugerir que os mesmos adquiriram a infecção no peridomicílio e domicílio, devido à existência do ciclo de transmissão domiciliar e peridomiciliar em regiões com serras. Apesar de que a vulnerabilidade a doença não parece estar ligada ao trabalho agrícola, já que a proporção de pessoas com atividades domésticas foi semelhante as pessoas envolvidas com o trabalho rural (MONTEIRO et al., 2009). A Tabela 2 apresenta os dados dos casos notificados nas Unidades Básicas de Saúde do Município, onde se pode perceber o elevado índice nas unidades situadas próximo as matas. Os resultados permitem identificar que houve altos índices nos PSF São Sebastião (55 casos), Santo Antônio I (41 casos), Jardim Araguaia (36 casos) e Jardim Ouro Fino (23 casos), no período de 2007 a 2011 em relação aos demais. Em um estudo para delimitar as zonas de risco da leishmaniose tegumentar americana, os On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X resultados mostraram que em 50% dos casos as residências ficavam a menos de 200 metros de algum fragmento de mata (APARICIO; BITENCOURT, 2004). Tabela 2 – Casos notificados em Unidades Básicas de Saúde. Unidades Básicas de Saúde 2007 2008 2009 2010 2011 Total PSF Anchieta N 0 N 1 N 7 N 8 N 4 N 20 PSF Campinas 1 0 3 2 6 12 PSF Centro 0 0 4 0 7 11 PSF Dr. João Bento Maria Lúcia 0 0 6 3 3 12 PSF Jardim Araguaia 1 1 16 12 6 36 PSF Jardim das Mangueiras 1 0 1 2 2 6 PSF Jardim Nova Barra 0 0 4 1 8 13 PSF Jardim Ouro Fino 0 2 2 2 17 23 PSF Jardim Palmares 1 0 6 4 4 15 PSF Santo Antônio I 1 2 20 11 7 41 PSF Santo Antônio II 1 0 9 5 4 19 PSF São Sebastião 33 1 7 4 10 55 PSF Sena Marques 0 2 0 0 10 12 PSF Vila Maria 0 2 0 0 10 12 As habitações humanas com poucos recursos e em locais inadequados, a construção exacerbada de abrigos de animais domésticos no ambiente peridomiciliar e a falta de condições mínimas de saneamento básico são fatores comuns em áreas rurais e periféricas de centros urbanos e podem vir a aumentar os casos de leishmaniose tegumentar (MUNIZ et al., 2006). Assim, a leishmaniose pertence ao grupo das patologias que requer melhoramento no controle epidemiológico da doença (DESJEUX, 2004). A adaptação dos vetores flebotomíneos e dos reservatórios silvestres do gênero Leishmania em locais de mata próximo ao peridomicílio de zonas rurais e urbanas tem permitido a cadeia de transmissão em ambientes com elevado grau de antropia (MUNIZ et al., 2006). Além disso, os hábitos culturais comuns entre as populações, como a produção e estocagem de alimentos na periferia das cidades, podem propiciar um ambiente favorável à procriação de vetores flebotomíneos, sendo que estes hábitos propiciam o acúmulo de matéria orgânica e a umidade do solo (MONTEIRO et al., 2009). Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º10 Vol – 2 p. 14 - 18 17 Quando observados as outras unidades de saúde (Tabela 3) percebe-se que houve um elevado número de casos notificados no Centro de Referência (202 casos) em relação às demais unidades de atendimento, podendo ser ela de nível secundário ou terciário. Esses dados subentende-se que este centro de saúde está sendo eficiente em notificar os casos encontrados na região. Tabela 3 – Casos notificados em diversas unidades de saúde. 2007 2008 2009 2010 2011 N N N N N C R M MT 95088D 0 0 1 0 0 1 Centro de Reabilitação e Fisioterapia 0 1 1 0 0 2 Centro de Referência Regional 7 49 100 20 26 202 Centro de Saúde de General Carneiro 1 0 0 0 0 1 CTA SAE 0 2 0 0 1 3 Hospital Cristo Redentor 0 0 0 0 1 1 Unidade de Saúde Total Hospital Municipal Dr. Kleide Coelho de Lima 1 0 2 1 0 4 Policlínica Deputado Alencar Soares Filho 0 1 0 1 5 7 Policlínica Santo Antônio 0 0 1 2 0 3 os índices da doença, bem como uma expansão populacional desordenada. A leishmaniose é uma doença de notificação compulsória, e isto trás grandes benefícios, pois possibilita conhecer os índices reais de acometimento dos indivíduos, tendo em vista que o medicamento só é fornecido pela rede pública, garantindo assim maior controle do uso do medicamento. Lembrando que isso é fundamental, pois a patologia em questão apresenta poucos medicamentos e estes por sua vez causam com frequência reação adversas. Então, torna-se necessário um eficiente sistema de vigilância epidemiológica. Porém a qualidade de vida da população dificulta o controle da doença e isso foge da amplitude da área da saúde e, muitas vezes, apresenta como obstáculo para o controle desta doença. Por fim, o município apresenta altos índices de leishmaniose tegumentar, isto remete a necessidade de que sejam elaboradas atividades educativas com a população, buscando reduzir o número de casos e ainda fornecer conhecimento aos indivíduos acometidos. O conhecimento facilita a adesão do indivíduo ao tratamento e ainda possibilita maior aceitação, tendo em vista que é uma doença que pode apresentar lesões destrutivas, desfigurantes e também incapacitantes, com repercussão psicossocial no indivíduo. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Olga Laura Sena; SANTOS, Jussamara Brito. 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CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho permite concluir que a leishmaniose tem uma forte associação com áreas desmatadas e que o município em estudo apresenta muitas vegetações e rios o que pode ter contribuído para aumentar On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X APARICIO, C.; BITENCOURT, M.D. Modelagem espacial de zonas de risco da leishmaniose tegumentar americana. Rev. Saúde Pública, v. 38, n. 4, p. 511-6, 2004. BASANO, Sergio de Almeida; CAMARGO, Luís Marcelo Aranha. Leishmaniose tegumentar americana: histórico, epidemiologia e perspectivas de controle. Rev. Bras. Epidemiol., v. 7, n. 3, p. , 2004. BRASIL. Ministério da saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana. 2. ed., Brasília, Editora do Ministério da Saúde, 2006. CORTE, Antônio Ângelo, et al. Aspectos ecoepidemiológicos da leishmaniose tegumentar americana no Município de Campinas. Cad Saude Publ. v. 12, p. 465472, 1996. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º10 Vol – 2 p. 14 - 18 18 COSTA, Jackson M. L. et al. Estudo comparativo da leishmaniose tegumentar americana em crianças e adolescentes procedentes das áreas endêmicas de Buriticupu (Maranhão) e Corte de Pedra (Bahia), Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 31, n. 3, p. 279-288, 1998. DESJEUX, P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comparative Immunology, Microbiology & Infectious Diseases, v. 27, p. 305-318, 2004. GONTIJO, Bernardo; CARVALHO, Maria de Lourdes Ribeiro. Leishmaniose tegumentar americana. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 36, n. 1, p. 71-80, 2003. HAYASHI, Emília Emiko. Estudo da leishmaniose tegumentar americana no estado do mato grosso, no período de 1994 a 1999. 2004. 67p. Dissertação (Mestrado em Saúde na Comunidade) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004. MACIEL, Giovana Belém; MISSAWA, Nanci Akemi. 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