SITUAÇÃO DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA EM UM MUNICÍPIO CERCADO POR
VEGETAÇÕES NO INTERIOR DE MATO GROSSO
Gabriella Bueno Sousa1
Patrícia Gelli Feres de Marchi2*
Tatiana Lima de Melo2
RESUMO: A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma zoonose que acomete o homem, em regiões de pele e
mucosas, causadas por protozoários do gênero Leishmania. A ocupação desordenada nas cidades adentrando as matas
favorece o aparecimento dos casos. O objetivo foi avaliar as frequências de LTA em Barra do Garças – MT, com intuito
de conhecer a situação local frente a doença. Para isso foi realizado um estudo epidemiológico, retrospectivo, com
abordagem quantitativa, com investigação da frequência de indivíduos com LTA no Sinan NET, entre 2007 a 2011.
Observou-se que, houve grande incidência de casos nos anos de 2009 e 2011, na faixa etária de 20 a 49 anos. Dos 512
casos notificados, 488 foram casos novos e a forma mais prevalente consistiu na LTA cutânea com 500 casos. Portanto,
há necessidade de trabalhar ações educativas com a população visando reduzir os casos desta patologia.
Palavras-chave: Leishmaniose; Tegumentar; Epidemiologia; Incidência; Zoonose.
ABSTRACT: American cutaneous leishmaniasis (ACL) is a zoonosis that affects humans in areas of skin and mucous
membranes, caused by protozoa of the genus Leishmania. The sprawl in cities entering the forest favors the appearance
of cases. The objective was to evaluate the frequencies of LTA in Bar Herons - MT, in order to know the local situation
facing the disease. Conducted an epidemiological retrospective study with a quantitative approach. The sample was
characterized by investigating the frequency of individuals with ACL in Sinan NET, period 2007-2011. It was observed
that there was a high incidence of cases in the years 2009 and 2011, aged 20-49 years. Of the 512 cases reported, 488
were new cases and the most prevalent form consisted of 500 cases with cutaneous LTA. Therefore, there is need for
educational work with the population to reduce the cases of this disease.
KEY-WORDS: Leishmaniasis; Cutaneous; Epidemiology; Incidence; Zoonosis.
1
Aluna de Enfermagem das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia
Docentes das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. Rua R. Moreira Cabral, 1000 Jardim Mariano, Barra do Garças - MT 78600-000.
* Contato: patrí[email protected]; (066) 3401-160
2
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), a leishmaniose é frequente em 88
países, mas apenas 30 deles tem notificação
compulsória. Do total de casos registrados, 90%
ocorreram em apenas seis países: Irã, Arábia Saudita,
Síria e Afeganistão (Velho mundo), Brasil e Peru
(GONTIJO; CARVALHO, 2003).
A leishmaniose representa grande problema
em saúde pública nas Américas Central e do Sul, em
especial em países como o Brasil (COSTA et al.,
1998). Nas duas últimas décadas os índices de
leishmaniose tegumentar americana no Brasil vêm
crescendo consideravelmente em todos os estados. O
Ministério da Saúde registrou cerca de 35 mil casos nos
últimos anos (GONTIJO; CARVALHO, 2003).
A Leishmaniose Tegumentar Americana
(LTA) é uma infecção zoonótica que além de acometer
o homem, também afeta várias espécies de animais
silvestres e domésticos. Consiste em uma doença
infecciosa e não contagiosa, de transmissão vetorial
com apresentação de manifestação polimórfica de pele
e mucosas, é causada por diversas espécies de
protozoários do gênero Leishmania, sendo as
frequentes no Brasil Leishmania (Viannia) guyanensis,
L. (Viannia) braziliensis, e L. (Leishmania)
amazonensis. O ciclo de transmissão é heteroxeno,
cujos vetores cruciais são insetos hematófagos
pertencentes a subfamília Phlebotominae, sendo
Lutzomya o gênero mais comum (MURBACK et al.,
2011). A doença é transmitida pela picada do mosquito
Phlebotominae fêmea contaminado no ser humano
(BRASIL, 2006).
O período de incubação da leishmaniose
cutânea pode variar de uma semana a um mês,
enquanto que na leishmaniose mucosa geralmente
aparecem com um a dois anos após o início da infecção
(MURBACK et al., 2011). A manifestação clínica
inicial da LTA cutânea apresenta-se por uma pápula
eritematosa, podendo ser única ou múltipla,
normalmente localizada em região exposta do
15
tegumento, que evolui para úlcera com bordas
elevadas, apresenta contornos regulares e um fundo
com granulações grosseiras, podendo ser recobertas ou
não por exsudato sero-purulento (ALMEIDA;
SANTOS, 2011). A forma da LTA cutaneomucosa
caracteriza-se por lesões mucosas agressivas que
atingem as regiões nasofaríngeas e resulta de extensão
direta ou de metástase hematogênica de lesão cutânea
primária, tendo como principal agente etiológico a L.
(Viannia) braziliensis (MURBACK et al., 2011).
A leishmaniose tegumentar vem sendo
atualmente considerada uma doença negligenciada.
Devido acometer populações com baixo nível
socioeconômico, com pouca força política e ainda, ser
uma doença pouco atraente para a indústria
farmacêutica. Os medicamentos existentes na
atualidade para o tratamento dessa endemia causam
com frequência efeitos adversos (PENNA et al., 2011).
Os principais efeitos colaterais causados pela
medicação são diarreia em 60% casos, dor abdominal
em 28%, cefaleia e náuseas em 12% dos indivíduos
(SAMPAIO et al., 2009).
O homem é considerado um hospedeiro
acidental desta patologia, devido não ter um papel
importante na manutenção dos parasitas na natureza
(GONTIJO; CARVALHO, 2003). A proximidade das
habitações humanas com abrigos de animais
domésticos, a falta de condições favoráveis de higiene
no peridomicílio e sua localização próximo a pequenos
capões de mata são condições que propiciam o fluxo de
mamíferos silvestres reservatórios de Leishmania, nas
áreas rurais, tendo em vista que no peridomicílio,
normalmente há disponibilidade de alimento
(TEODORO et al., 2011).
O município de Barra do Garças estado de
Mato Grosso, está localizado no centro oeste brasileiro,
situado em região de cerrado, na divisa com o estado
de Goiás. Trata-se de uma cidade cercada por serras
com vegetação natural abundante e presença de rios. A
economia do município é baseada na pecuária e no
comércio. Segundo Hayashi (2004) o estado de Mato
Grosso, nas últimas décadas passou por um intenso
processo de ocupação desordenada, isto resultou em
um aumento dos índices de LTA.
Devido o município de Barra do Garças – MT
apresentar um intenso processo de ocupação e ter
condições ambientais favoráveis para o aumento de
casos de indivíduos com leishmaniose tegumentar e
alguns casos especiais de leishmaniose visceral, tornase necessário conhecer a realidade local, e através
destes dados formular ações que visam à redução dos
casos. As estratégias para o controle devem ser
específicas, daí a necessidade de se considerar o padrão
epidemiológico regional e o comportamento da
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transmissão em cada local. A realização do presente
estudo justifica-se em conhecer os índices de LTA no
município de Barra do Garças para verificar a situação
local na tentativa de chamar a atenção das autoridades
para que sejam implementadas ações emergenciais
visando a redução dos casos e ainda permitir que
através dos dados apresentados possa ser elaboradas
ações educativas com a população.
Portanto, o objetivo do trabalho consistiu em
avaliar os índices de frequências de leishmaniose
tegumentar americana no município de Barra do
Garças – MT, e ainda correlacionar esses dados com o
ano de notificação, a faixa etária, a forma da doença, a
raça, o sexo e o tipo de entrada do caso. Essas
informações são fundamentais no intuito de conhecer a
situação local frente à doença e estabelecer ações de
vigilância e controle desta endemia visando melhorar
os indicadores encontrados.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa configura-se em um estudo
epidemiológico,
descritivo,
retrospectivo,
não
probabilístico com abordagem quantitativa. A amostra
caracterizou-se pela investigação da frequência de
indivíduos com leishmaniose tegumentar americana de
acordo com os dados do Sistema Informação de
Agravos de Notificação (Sinan NET), no período de
2007 a 2011 no município de Barra do Garças – MT.
Os dados foram coletados no mês de maio de 2012 na
cidade de Barra do Garças – MT, onde obteve-se dados
referentes aos anos de 2007 a 2011 em relação a
frequência de notificação da leishmaniose tegumentar
americana.
A coleta de dados foi realizada através de
consulta na base de dados do Sinan NET onde permitiu
encontrar dados sobre a frequência de leishmaniose
tegumentar em relação ao ano, a faixa etária, ao tipo de
entrada, a forma clínica, a raça, ao sexo e a frequência
em relação a diferentes unidades de saúde espalhadas
pelo município. Os dados foram obtidos em conjunto
com a Secretária Municipal de Saúde com auxílio da
coordenadora da Vigilância Epidemiológica.
Os dados foram avaliados e calculados em
planilhas do Excel, sendo expressos em porcentagem e
apresentados em forma de figuras e tabelas.
Por se tratar de uma pesquisa onde foram
utilizados apenas dados secundários oficialmente
cedidos para a análise, e garantindo-se o sigilo das
informações fornecidas, com os resultados divulgados
no meio científico, este trabalho não teve implicações
éticas segundo a Resolução 196/96 do CNS/CONEP.
Neste estudo foi garantido o anonimato dos pacientes
conforme prevê a Resolução citada acima.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados obtidos permitiram analisar a
frequência da leishmaniose tegumentar americana
(LTA) no município de Barra do Garças e ainda
possibilitou correlacionar com aspectos da região. Para
Desjeux (2004) a urbanização, a migração, o
desmatamento, entre outros, são fatores que
contribuem com o aumento dos casos de leishmaniose.
Barra do Garças apresenta-se como uma
cidade endêmica em relação a leishmaniose tegumentar
americana, isto se confirma pela frequência de
notificação realizada durante os anos de 2007 a 2011,
totalizando 512 casos notificados, sendo os anos de
2009 (190 casos) e 2011 (129 casos) com maiores
índices, cerca de 37,11% e 25,20% respectivamente
(Figura 1).
leishmaniose tegumentar em indivíduos com idades
entre 20 a 49 anos durante os anos de 2007 a 2011.
Porém esta patologia acometeu também em menor
frequência crianças e idosos (Tabela 1). Resultados
semelhantes foram observados em um estudo na cidade
de Campo Grande (MS), com pessoas que a idade
variou entre seis a 85 anos, cerca de 8,5% dos
indivíduos tinham de 0 a 14 anos, 21,3% possuíam
idades entre 15 a 29 anos, 21,3% de 30 a 44 anos,
27,7% de 45 a 59 anos e 21,3% apresentaram idade
maior ou igual a 60 anos (MURBACK et al., 2011). A
leishmaniose tegumentar americana tem se manifestado
na população sob forma de surtos localizados em várias
regiões, atingindo todas as faixas etárias e ambos os
sexos (CORTE et al., 1996).
Referente ao tipo de entrada de indivíduos
com leishmaniose no banco de dados nota-se que a
maior frequência foi caracterizada por casos novos, o
que totalizou 488 casos. Os maiores valores de
porcentagem foram observados em 2009 (37,70%), por
outro lado, os menores em 2007 (7,79%) (Figura 2).
Além disso, observa-se na Figura 2, 21 casos de
recidiva, sendo em 2007, 10 casos (47,62%) e em 2001
e 2009 três casos cada (14,29%). No ano de 2009
alguns casos que não tiveram informação foram
tratados como ignorado/branco (Figura 2).
Figura 1 – Ano de notificação da Leishmaniose
Tegumentar Americana.
Em um estudo realizado entre os anos de 1994
e 2009 no município de Prudentópolis, situado no
estado do Paraná, foram registrados 156 casos de
leishmaniose, destes 84,6% (132 casos) eram de LTA,
sendo que os casos foram frequentes em localidades
rurais no município (TEODORO et al., 2011). Os
mesmos autores afirmam que o município possui uma
geografia com a presença de serras no entorno,
geografia esta semelhante à encontrada no município
de Barra do Garças. Os locais de mata são importantes
habitats para os flebotomíneos que alcançam as
residências quando estas se encontram nas
proximidades das matas ou quando há desmatamento
da vegetação nativa (APARICIO; BITENCOURT,
2004).
Conforme os dados colhidos em relação à
faixa etária, percebe-se uma maior frequência de
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Figura 2 – Tipo de entrada dos casos de leishmaniose
tegumentar americana.
Segundo Silva e Muniz (2009), os resultados
encontrados para o Estado do Acre são semelhantes aos
encontrados em Barra do Garças, pois, no período de
2001 a 2006 91% dos registros eram casos novos,
enquanto que recidiva representou 7,6%. Um fator
importante observado no estudo dos autores
supracitados foi o aumento real do número de casos
novos o que pode vir a sugerir como melhoria do
sistema de notificação da doença.
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Tabela 1 – Frequência da leishmaniose tegumentar americana segundo a faixa etária em relação aos anos de
2007 a 2011.
2007
2008
2009
2010
2011
Faixa etária
(anos)
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
Menor de 1
0
0,00
1
1,61
5
2,66
1
1,20
1
0,78
1a4
1
2,08
4
6,45
8
4,26
4
4,82
4
3,10
5a9
0
0,00
2
3,23
15
7,98
5
6,02
11
8,53
10 a 14
0
0,00
2
3,23
8
4,26
7
8,43
19
14,73
15 a 19
4
8,33
8
12,90
5
2,66
8
9,64
13
10,08
20 a 29
9
18,75
7
11,29
26
13,83
9
10,84
25
19,38
30 a 39
8
16,67
10
16,13
41
21,81
13
15,66
21
16,28
40 a 49
16
33,33
11
17,74
47
25,00
13
15,66
21
16,28
50 a 59
7
14,58
8
12,90
12
6,38
9
10,84
5
3,88
60 a 69
2
4,17
5
8,06
16
8,51
6
7,23
5
3,88
70 a 79
1
2,08
2
3,23
4
2,13
4
4,82
3
2,33
80 e mais
0
0,00
2
3,23
1
0,53
4
4,82
1
0,78
Total
48
62
Com relação à forma clínica dos casos notificados,
a leishmaniose cutânea foi a mais prevalente durante todos
os anos, totalizando 500 casos, porém no ano de 2009 cerca
de 186 pessoas foram notificadas gerando um percentual de
37,2%. Em contrapartida, a leishmaniose mucosa teve maior
prevalência no ano de 2009 com quatro casos e 2010 com
três casos de um total de 12 casos, sendo um percentual,
respectivamente, de 33,3% e 25,00% em relação aos outros
anos (Figura 3). Um estudo similar foi realizado e
observaram que a forma cutânea foi observada em 68,1%
dos casos, a forma mucosa em 27,7% dos indivíduos e a
cutaneomucosa em apenas 4,3% (MURBACK et al., 2011).
Outro estudo permite ainda reforçar a ideia de que a maioria
dos casos registrados em relação a LTA, foram
diagnosticados como cutânea (75%; n = 6.386) e mucosa
(25%; n = 2.128) (SILVA; MUNIZ, 2009).
188
83
129
Em relação à raça das pessoas notificadas com
leishmaniose tegumentar americana, os brancos foram mais
acometidos com 190 casos, seguidos pelos pardos (174
casos) e indígenas (114 casos), respectivamente (Figura 4).
Outro estudo também observou que dos indivíduos
acometidos 29 eram brancos, 11 pardos e dois eram da raça
negra (RIVITTI, 1981). Os dados epidemiológicos dos
povos indígenas no Brasil são pouco conhecidos, devido à
falta de investigações, de censos e de outros inquéritos
regulares, além do fato da precariedade dos sistemas de
registro de informações sobre morbidade, mortalidade e
cobertura vacina (MACIEL; MISSAWA, 2009).
Figura 4 - Número de casos por ano de leishmaniose
tegumentar americana, segundo a raça.
Figura 3 – Frequência de casos de leishmaniose em relação à
forma clínica.
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Quando foi investigado o número de casos
relacionado ao gênero, pode-se perceber que durante os anos
de 2007 a 2011, com exceção de 2010, os indivíduos mais
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atingidos foram homens, gerando um total de 312 pessoas
do gênero masculino, o que em porcentagem consistiu em
2007 (11,2%), 2008 (14,7%), 2009 (38,8%), 2010 (12,8%) e
2011 (22,4%) (Figura 5). Em relação ao gênero feminino, de
um total de 200 casos, apenas o ano de 2010 apresentou
maior índice em relação aos homens. A porcentagem dos
200 casos gerou em 2007 (6,5%), 2008 (8,0%), 2009
(34,5%), 2010 (21,5%) e 2011 (29,5%) (Figura 5).
Figura 5 – Número de casos por ano de Leishmaniose
Tegumentar Americana, segundo sexo.
Com o passar dos anos a LTA, comportou-se como
uma doença caracteristicamente profissional, acometendo de
forma típica homens adultos trabalhadores expostos a
regiões de mata. Contudo, tem-se demonstrado, nos últimos
anos, mudanças em relação ao comportamento
epidemiológico, diante do enorme processo de urbanização,
com crescente acometimento de mulheres e crianças
(CORTE et al., 1996). Outro fator importante consiste na
mudança da vegetação original pelas diversas culturas
existentes, dentre elas café, soja, milho, algodão e pastagens,
proporcionando assim que todos os grupos etários e de
ambos os sexos sejam acometidos (MONTEIRO et al.,
2008).
A grande incidência de casos com LTA envolvendo
jovens e mulheres permite sugerir que os mesmos
adquiriram a infecção no peridomicílio e domicílio, devido à
existência do ciclo de transmissão domiciliar e
peridomiciliar em regiões com serras. Apesar de que a
vulnerabilidade a doença não parece estar ligada ao trabalho
agrícola, já que a proporção de pessoas com atividades
domésticas foi semelhante as pessoas envolvidas com o
trabalho rural (MONTEIRO et al., 2009).
A Tabela 2 apresenta os dados dos casos
notificados nas Unidades Básicas de Saúde do Município,
onde se pode perceber o elevado índice nas unidades
situadas próximo as matas. Os resultados permitem
identificar que houve altos índices nos PSF São Sebastião
(55 casos), Santo Antônio I (41 casos), Jardim Araguaia (36
casos) e Jardim Ouro Fino (23 casos), no período de 2007 a
2011 em relação aos demais. Em um estudo para delimitar
as zonas de risco da leishmaniose tegumentar americana, os
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ISSN 1984-431X
resultados mostraram que em 50% dos casos as residências
ficavam a menos de 200 metros de algum fragmento de mata
(APARICIO; BITENCOURT, 2004).
Tabela 2 – Casos notificados em Unidades Básicas de
Saúde.
Unidades Básicas
de Saúde
2007
2008
2009
2010
2011
Total
PSF Anchieta
N
0
N
1
N
7
N
8
N
4
N
20
PSF Campinas
1
0
3
2
6
12
PSF Centro
0
0
4
0
7
11
PSF Dr. João
Bento Maria Lúcia
0
0
6
3
3
12
PSF Jardim
Araguaia
1
1
16
12
6
36
PSF Jardim das
Mangueiras
1
0
1
2
2
6
PSF Jardim Nova
Barra
0
0
4
1
8
13
PSF Jardim Ouro
Fino
0
2
2
2
17
23
PSF Jardim
Palmares
1
0
6
4
4
15
PSF Santo Antônio
I
1
2
20
11
7
41
PSF Santo Antônio
II
1
0
9
5
4
19
PSF São Sebastião
33
1
7
4
10
55
PSF Sena Marques
0
2
0
0
10
12
PSF Vila Maria
0
2
0
0
10
12
As habitações humanas com poucos recursos e em
locais inadequados, a construção exacerbada de abrigos de
animais domésticos no ambiente peridomiciliar e a falta de
condições mínimas de saneamento básico são fatores
comuns em áreas rurais e periféricas de centros urbanos e
podem vir a aumentar os casos de leishmaniose tegumentar
(MUNIZ et al., 2006). Assim, a leishmaniose pertence ao
grupo das patologias que requer melhoramento no controle
epidemiológico da doença (DESJEUX, 2004).
A adaptação dos vetores flebotomíneos e dos
reservatórios silvestres do gênero Leishmania em locais de
mata próximo ao peridomicílio de zonas rurais e urbanas
tem permitido a cadeia de transmissão em ambientes com
elevado grau de antropia (MUNIZ et al., 2006). Além disso,
os hábitos culturais comuns entre as populações, como a
produção e estocagem de alimentos na periferia das cidades,
podem propiciar um ambiente favorável à procriação de
vetores flebotomíneos, sendo que estes hábitos propiciam o
acúmulo de matéria orgânica e a umidade do solo
(MONTEIRO et al., 2009).
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Quando observados as outras unidades de saúde
(Tabela 3) percebe-se que houve um elevado número de
casos notificados no Centro de Referência (202 casos) em
relação às demais unidades de atendimento, podendo ser ela
de nível secundário ou terciário. Esses dados subentende-se
que este centro de saúde está sendo eficiente em notificar os
casos encontrados na região.
Tabela 3 – Casos notificados em diversas unidades de saúde.
2007
2008
2009
2010
2011
N
N
N
N
N
C R M MT
95088D
0
0
1
0
0
1
Centro de
Reabilitação e
Fisioterapia
0
1
1
0
0
2
Centro de
Referência
Regional
7
49
100
20
26
202
Centro de Saúde
de General
Carneiro
1
0
0
0
0
1
CTA SAE
0
2
0
0
1
3
Hospital Cristo
Redentor
0
0
0
0
1
1
Unidade de
Saúde
Total
Hospital
Municipal Dr.
Kleide Coelho de
Lima
1
0
2
1
0
4
Policlínica
Deputado
Alencar Soares
Filho
0
1
0
1
5
7
Policlínica Santo
Antônio
0
0
1
2
0
3
os índices da doença, bem como uma expansão populacional
desordenada.
A leishmaniose é uma doença de notificação
compulsória, e isto trás grandes benefícios, pois possibilita
conhecer os índices reais de acometimento dos indivíduos,
tendo em vista que o medicamento só é fornecido pela rede
pública, garantindo assim maior controle do uso do
medicamento. Lembrando que isso é fundamental, pois a
patologia em questão apresenta poucos medicamentos e
estes por sua vez causam com frequência reação adversas.
Então, torna-se necessário um eficiente sistema de
vigilância epidemiológica. Porém a qualidade de vida da
população dificulta o controle da doença e isso foge da
amplitude da área da saúde e, muitas vezes, apresenta como
obstáculo para o controle desta doença.
Por fim, o município apresenta altos índices de
leishmaniose tegumentar, isto remete a necessidade de que
sejam elaboradas atividades educativas com a população,
buscando reduzir o número de casos e ainda fornecer
conhecimento aos indivíduos acometidos. O conhecimento
facilita a adesão do indivíduo ao tratamento e ainda
possibilita maior aceitação, tendo em vista que é uma
doença que pode apresentar lesões destrutivas, desfigurantes
e também incapacitantes, com repercussão psicossocial no
indivíduo.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Olga Laura Sena; SANTOS, Jussamara Brito.
Avanços no tratamento da leishmaniose tegumentar do novo
mundo nos últimos dez anos: uma revisão sistemática da
literatura. An. Bras. Dermatol, v. 86, n. 3, p. 497-506,
2011.
De acordo com Basano e Camargo (2004), há um
longo período entre o início da lesão e o diagnóstico da
doença, este fato pode estar relacionado à ineficiência da
capacidade diagnóstica ou mesmo pela falta de capacitação
técnica dos profissionais de saúde. Existem algumas técnicas
que ainda estão em teste para diagnóstico rápido, porém
ainda não são aplicáveis para o sistema básico de saúde. Há
a necessidade de um sistema de referência para a realização
de exames mais complexos para casos clínicos específicos,
como em lesões crônicas, recidivas ou em diagnósticos
difíceis.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho permite concluir que a
leishmaniose tem uma forte associação com áreas
desmatadas e que o município em estudo apresenta muitas
vegetações e rios o que pode ter contribuído para aumentar
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AGRADECIMENTOS
À Secretária Municipal de Saúde de Barra do
Garças – MT pelo fornecimento de dados para elaboração
do presente estudo.
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a leishmaniose é frequente em 88 países, mas apenas 30