Leishmaniose Tegumentar Americana em paciente portador de SIDA Michelle Gralle-Botelho, Adriana Abuchar, Mariana L H Teixeira, Maria Elisa Ribeiro Lenzi, Beatriz Moritz Trope Ambulatório de Dermatologia e Imunossupressão Serviço de Dermatologia e Curso de Pós-Graduação HUCFF-UFRJ e Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro A Introdução B Figura 1: Lesão única, ulcerada, de 3,3cm no maior diâmetro, recoberta por crosta rupióide, com bordas elevadas, avermelhadas, infiltradas, “em molduras”, localizada na região do tríceps no braço esquerdo. Visão frontal (A). Visão lateral (B) A leishmaniose tegumentar é uma infecção causada pelos protozoários do gênero Leishmania. A Leishmania viannia braziliensis é o principal agente etiológico no Brasil. A leishmaniose tem um amplo espectro de apresentação clínica, dependendo de uma complexa interação entre o parasito e o status genético e imunológico do hospedeiro. Portanto, a susceptibilidade do indivíduo à infecção e a forma clínica de leishmaniose que se instalará vão depender do tipo de resposta imunocelular que ocorrerá após a inoculação do parasita. Figura 2. Lesão após 7 dias de tratamento História e Manifestações Clínicas Paciente de 42 anos sabidamente HIV positivo desde 1995, em tratamento com zidovudina, lamivudina, efavirenz, lopinavir e ritonavir há um ano e três meses; referia surgimento de lesão ulcerada com crescimento progressivo em membro superior esquerdo com dois meses de evolução. Ao exame clínico, apresentava uma única úlcera de 3,3cm de diâmetro recoberta de crosta rupióide e bordas elevadas eritematosas infiltradas “em moldura” em região tricipital de membro superior esquerdo. Figura 3. Lesão após 18 dias de tratamento Exames Teste de Montenegro - positivo (14 mm); CD4 289 cél./mm3; Carga viral < 80 cópias/ml; VDRL negativo. Histopatologia Infiltrado histiolinfoplasmocitário compatível com leishmaniose. Não foi detectada a presença de amastigotas. Terapêutica e Resultados Logo após a confirmação diagnóstica de LTA, o paciente foi internado e tratado com antimonial pentavalente intravenoso (Glucantime) na dose de 850mg/dia durante 20 dias. Houve resposta satisfatória ao tratamento com diminuição progressiva da lesão cutânea. Conclusão Figura 4. Lesão após 20 dias do primeiro ciclo de tratamento. Pode-se observar melhora importante, com involução e cicatrização da lesão Justificativa para Apresentação Este caso tem grande interesse para apresentação devido ao limitado número de casos descritos em pacientes HIV+ e à apresentação clínica típica e boa resposta terapêutica. Bibliografia Figura 5. Após término do tratamento (dois ciclos de 20 dias de tratamento com Glucantime®), evidenciando melhora completa da lesão com mácula eritematosa residual 1. Sampaio RNR, Salaro CP, Resende P, Paula CDR. Leishmaniose tegumentar americana associada à AIDS: relato de quatro casos. Rev Soc Bras Med Trop 2002;35(6):651-4. 2. Hepburn NC. Cutaneous Leishmaniasis. Clin Exp Dermatol 2000;25:363-70. 3. Borges AS, Machado AA, Ferreira MS, Figueiredo JFC, Silva GF, Cimerman S, Bacha HÁ, Teixeira MCL. Concomitância de leishmanioses e infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV): estudo de quatro casos. Rev Soc Bras Med Trop 1999;32(6):713-9. 4. Mattos M, Caiza A, Fernandes O, Gonçalves AJS, Pirmez C, Souza CSF, Oliveira-Neto MP. American cutaneous leishmaniasis associated with HIV infection: report of four cases. J Eur Acad Dermatol Venereol 199810(3):218-25. 5. Trope BM. AIDS e Dermatologia Tropical. In: Talhari S, Neves R. Dermatologia Tropical. Rio de Janeiro: MEDSI, 1995:335-49. E-mail: [email protected] Apoio: HUCFF-UFRJ TECNOARTE (21) 2286-7657 Mesmo com o aumento do número de casos de HIV, a A susceptibilidade ao parasita depende do tipo de resposta associação de leishmaniose cutânea e HIV é rara. imunocelular do hospedeiro. Esta resposta depende da espécie do parasita, da predisposição genética e do estado de Apesar de ser HIV positivo, o quadro clínico apresentado por imunosupressão do hospedeiro. Neste caso apresentado, o este paciente não difere do que é observado em hospedeiros paciente possuía boa resposta imunocelular, como pode ser visto pelos níveis razoáveis de CD4 e de carga viral, o que imunocompetentes. permitiu uma boa resposta terapêutica.